Relatos de Viagem - desigualdade 2018

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AKIN



Produto final do Estudo de Campo em Ouro Preto 2018

Relatos de Viagem - Texto Antigo Grupo Desigualdade Obra ficcional que contempla conteúdos das áreas de Ciências, Geografia, História e História da Arte

Grupo: Arthur Malta, Cauê Santos, Gabriel Seabra, Mariana Dantas, Pedro Carlucci, Pedro Pessolo, Pedro Sanches e Victor Melo - 8º ano B Escola Miró - Ribeirão Preto/SP



Estou escrevendo esse diário para contar-lhes a história da minha, provavelmente, curta vida. Quando você estiver lendo, eu já estarei morto. Mas não se sinta triste, lute conosco contra essa brutalidade em que vivemos.

Me chamo, ou ao menos me chamava, Akin, agora sou Francisco. Assim como Adejola, Babatunji, Ghalib e todos os outros,que como eu, viajaram no “Navio da Morte” até essa terra desconhecida, chamada Brasil.


Um dia, enquanto eu ainda estava no navio, fomos acordados aos gritos por portugueses. Eles pediam para que separรกssemos as mulheres, crianรงas e velhos, todos foram jogados ao mar. O navio estava afundando e, para eles, os vinhos, especiarias e tecidos eram mais importantes que nossas vidas.


Depois desse massacre, Galanga, filho do antigo rei de nossa tribo – que havia sido jogado no oceano -, chamou-nos e pediu para que jurássemos lealdade a ele, assim como fizemos a seu pai na África. Ele lutaria até sua última gota de sague e de suor para nos libertar.


Hoje cheguei ao Brasil, terra linda, mas perigosa. Todos nós fomos comprados pelo major Augusto, que fez questão de deixar bem claro que se tivesse problemas, um escravo a menos não faria diferença. À noite, o canto dos pássaros é calado pelos gritos de dor e sons de tiros.


Aqui, dormimos 100 homens em uma senzala. O chĂŁo, feito de pedras geladas e pontiagudas, era nossa cama; nosso banheiro, um buraco na parede.


Major Augusto me colocou para trabalhar na Mina da Encardideira, junto a Galanga e Hurani. Quando ele estĂĄ de bom humor, sĂŁo apenas 13 horas de trabalho por dia.


Às vezes conseguíamos colocar, sob ordem de Galanga, um pouco de ouro em nossas unhas ou em nosso cabelo. ‘Um dia, Hurani, desgastado pelo trabalho excessivo, deu seu último suspiro e caiu no chão. Major Augusto simplesmente descartou seu corpo, mas na senzala fizemos várias homenagens a ele.


Haidar substituiu Hurani na mina, mas na maioria do tempo, apenas nós dois fazemos o trabalho, pois o major sempre chama Galanga para conversar. Sem dúvidas, nós somos a mina mais eficaz da região. Mas sentimos extremo cansaço, dor, fome e medo do que nos espera no futuro.


Quando vamos fazer cocô, fazemos em um buraco e no fimal as fezes são revistadas por um escravo que possui a confiança do major. Se ele encontra ouro que nós havíamos engolido para pegar depois, ele conta para o senhor e nós somos castigados. Esse escravo tem a confiança de Augusto, dorme em um lugar separado e se alimenta melhor, mas entre nós ele é visto com ódio como um traidor.


Eu e vários outros escravos, começamos a construir uma igreja para os pretos. Ela fica no topo de um morro íngreme, são mais de 10km de caminhada para ter acesso a ela. Manuel Francisco Lisboa é o arquiteto da coroa portuguesa responsável por controlar nosso trbalho.


Como os portugueses nĂŁo nos deixam colocar coisas de nossa cultura na igreja, nĂłs as escondemos entre os detalhes, como conchas e outras coisas.


Nós temos que construir nossas igrejas; pegamos o material, carregamos, e construímos, ok. Mas somos nós também que fazemos isso com as igrejas dos brancos, suas casas, as escolas, as ruas, os bancos e com tudo que eles precisam. Enquanto o trabalho deles é apenas olhar e bater. Apesar disso, Galanga ficou muito amigo de Major Augusto e conseguiu sua carta de alforria.


Ele está trabalhando para tentar comprar nossa liberdade também, assim como o prometido, mas as coisas começaram a ficar complicadas. Alguns escravos da tribo começaram a roubar, beber e fumar. Sem contar que a produção baixou, e com isso, as torturas que sofremos aumentaram. Hoje, 4 de meus amigos pegaram o major desprevenido e o espancaram, deixando-no em estado terminal.


Ele, jรก em leito de morte, chamou Galanga e o disse para comprar sua mina, o mesmo resistiu, mas foi convencido. Ele me libertou, libertou seus filhos e libertou as outras pessoas de sua tribo. Ganhou respeito na cidade e ficou conhecido como Chico Rei. -AKIN






Produto final do Estudo de Campo em Ouro Preto 2018

Relatos de Viagem - Texto Novo Grupo Desigualdade Obra ficcional que contempla conteúdos das áreas de Ciências, Geografia, História e História da Arte

Grupo: Arthur Malta, Cauê Santos, Gabriel Seabra, Mariana Dantas, Pedro Carlucci, Pedro Pessolo, Pedro Sanches e Victor Melo - 8º ano B Escola Miró - Ribeirão Preto/SP



Meu nome é Luís Guimarães, tenho 24 anos e sou português. Há uma semana, achei um diário em uma gaveta de minha casa. Parecia velho e estava cheio de poeira. Ao examinar com mais cuidado, percebi um contorno de uma mão na capa. Comecei a lê-lo, falava de Akin, um escravo que foi levado da África ao Brasil, e como eram horríveis as condições em que ele vivia.


Depois de ler isso, fiquei comovido, como pessoas, portugueses como eu, poderiam ser tão maldosos e tão desumanos? Meu sonho quando criança era de um dia poder ajudar as pessoas. Agora, já adulto, tenho a chance de realizá-lo e de alguma forma, me “desculpar” pelas ações de meus antepassados. Como vou começar minha pós-graduação no Brasil, achei que era uma boa hora pra ajudar pessoas e realizar meu sonho.


Comecei a pesquisar, descobri que ainda existem trabalhadores que vivem em situação parecida com a escravidão no Brasil. Crianças trabalhando em fábricas e carvoarias e homens trabalhando no campo.


Mais tarde, conversei com meu amigo sobre criar uma ONG, com o objetivo de acabar com a péssima condição em que as pessoas trabalhavam, pessoas que são exploradas como Akin foi. Ele gostou da ideia e começamos a organizar um projeto para arrecadar dinheiro para fundá-la. Tivemos o apoio de nossa faculdade e conseguimos mais de 5.000 euros. Rumo ao Brasil!


Aqui nossa ONG recebeu o nome de “Akin”, que significa herói em sua língua, em homenagem ao escravo que escreveu o diário que me inspirou. Conseguimos muitos voluntários e nosso trabalho já começou.

AKIN


Já se passou um ano desde que eu comecei a escrever esse diário. Hoje, no Brasil, já construímos vários centros de ajuda para os resgatados serem abrigados, contamos com a ajuda de muitos. O índice de pessoas trabalhando naquelas condições está diminuindo, mas ainda é alto. Continuei meu curso em Ouro Preto. Essa cidade colonial mineira, foi quiçá, a mais importante para o Brasil na corrida do ouro.


Há muitas coisas aqui que demonstram como era a escravidão antigamente, como a Casa dos Contos, que foi muitas coisas importantes para a cidade. Ela já foi uma Prefeitura, um correio, a Casa da Moeda, casa de fundição, biblioteca, Secretaria da Fazenda e um casarão.

Aqui também pode ser vista uma senzala, com vários instrumentos de tortura.


A situação que as pessoas viviam aqui é surreal, até hoje pode se sentir um clima ruim. Esses são alguns dos instrumentos de tortura usados na época:


O Museu da Inconfidência foi outro lugar que eu visitei. Lá há vários documentos e itens que os inconfidentes (ricos mineradores, militares e profissionais liberais que tramaram contra coroa) usaram. Lá, também estão enterrados os corpos de todos os mineradores, exceto o de Tiradentes, que foi morto e esquartejado em praça pública, e o de Joaquim Silvério dos Reis, que traiu seus companheiros inconfidentes, delatando-os para a coroa portuguesa.


A praça onde Tiradentes foi assassinado existe até hoje, e recebe o nome de Praça Tiradentes em sua homenagem. Lá também foi feita uma estátua dele, no local onde sua cabeça havia sido pendurada. Como Akin disse em seu diário, ele trabalhou na Mina do Chico Rei (antiga Mina da Encardideira). Hoje funciona como museu e restaurante e você também pode visitá-la.


É louco pensar que uma mina desse tamanho de extensão foi feita à mão.


A Igreja de Santa Efigênia (igreja dos pretos) fica no alto de um morro e, para chegar até lá, apenas com uma caminhada longa. Enquanto todas as outras igrejas da cidade foram construídas no centro, ou perto dele. Além disso, a Igreja de Santa Efigênia não possui muito ouro em sua construção, enquanto a Basílica de Nossa Senhora do Pilar possui mais de 400kg de prata e ouro em seu interior.


Uma coisa interessante que aprendi aqui é que as pessoas que davam dinheiro para ajudar na construção das igrejas, eram enterradas nelas. Quem pagava mais, era enterrado mais perto do altar, e quanto menos você houvesse doado, mais longe do altar você era enterrado.


Hoje faz três anos que criei a ONG. Através dela, já ajudamos mais de 500 pessoas e fechamos mais de 32 empresas por envolvimento nesse tipo de exploração do trabalho. Ainda há muita coisa para se fazer, afinal há um país inteiro para ser vasculhado, na verdade, um mundo, planejamos no futuro ampliar o serviço de nossa ONG para outros países. No fim, um Diário empoeirado de alguém que não conhecida me deu uma nova vida. Akin é mesmo um herói.




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