Controle e subversão em Ouro Preto Relatos de viagem Produto final do estudo de campo de Ouro Preto 2017 Giovana, João Víctor, Rafa, Elena e Alexandre
Texto antigo Históra, História da Arte, Geografia e Ciências Escola Miró – Riberão Preto
22 de maio de 1768 - Aprovação de minha mina de ouro Olá, meu nome é Dom Luiz Carlos, e hoje a Coroa portuguesa aprovou a abertura de minha mina de ouro no Brasil. Os escravos chegarão em breve, comprei os melhores que podia. A Coroa portuguesa está exigindo que todo ouro retirado das minas seja enviado diretamente para a Casa de fundição, depois disso é retirado 1/5 do ouro e transformado em barra, com o selo da Coroa. Acho que eles estão desconfiando de mim.
28 de dezembro de 1768 Chegada dos escravos Hoje pela manhã, finalmente, meus escravos chegaram. Eles estavam cansados e com fome e, por isso, dei comida e descanso a eles, para que amanhã comecem o trabalho. Esses negros não podem se acostumar com o sossego. Amanhã cedo irei à cidade contratar um feitor, afinal os escravos precisam de ordem.
2 de junho de 1770 - O Quinto Ultimamente minha mina tem produzido muito ouro. Porém, quando meu ouro é levado para a Casa de fundição - onde retiram 1/5 como pagamento à Coroa portuguesa -, ele retorna com muito menos quantidade e estou começando a desconfiar disso. Um de meus escravos morreu ontem cedo.Ele tentou fugir! Isso que acontece com esses negros nojentos. O feitor levou o escravo ao tronco e deu cinquenta chibatadas, depois colocou nele uma máscara até morrer.
Barra de ouro com o selo da Coroa portuguesa, após passar pela Casa de fundição
10 de julho de 1770 - Subversão Hoje fui a uma reunião dirigida por Joaquim José da Silva Xavier – muito conhecido pelo codinome Tiradentes -, o sujeito é contra todos os impostos da lei portuguesa. Ele juntou um grupo de militares, proprietários rurais, intelectuais, padres e donos de mina, para negociar com o rei um reajuste nas leis.
Bandeira da InconfidĂŞncia mineira
16 de agosto de 1770 -Construção de uma igreja Hoje, assim que acordei, fui perguntar ao feitor se tínhamos muito ouro estocado no porão da casa e a resposta foi a mais surpreendente: “Sim, meu senhor, temos o suficiente para construir uma igreja.” Então, essa frase me deu uma ideia brilhante! Minha mulher frequenta uma irmandade aqui perto, irei conversar com eles sobre a abertura e construção de uma nova igreja.
Contratarei os melhores arquitetos e pintores de Vila Rica, pois quero uma igreja impecรกvel. Verei o que minha mulher pensa da ideia.
20 de setembro de 1770 - Vou construir uma igreja
Hoje começo o trabalho de contratar os arquitetos e pintores para a igreja. Ouvi falar em um ótimo arquiteto chamado Aleijadinho, que trabalha junto com um ótimo pintor, o Mestre Ataíde. Depois do almoço, eles virão em minha propriedade para conversarmos sobre o projeto, junto ao pessoal da irmandade.
23 de outubro de 1770 Importação de materiais e escravos Aleijadinho e Mestre Ataíde gostaram da ideia de construirmos uma nova igreja e apresentaram um lindo projeto. As matérias-primas chegarão em breve e, enquanto isso, vou escolher os melhores escravos para ajudar no trabalho junto a Aleijadinho e seus discípulos.
30 de maio de 1771 – Santo do pau-oco Hoje, descobri que quando a igreja ficar pronta poderei esconder meu ouro em orifícios nas paredes e, então, não pagarei o quinto. Existe também uma forma de levar o ouro da mina para a igreja: com o santo do pau-oco, que são os santos de madeira com buracos atrás para o ouro ser escondido.
10 de junho de 1771 - Começo da construção Hoje, Aleijadinho começou a construção da igreja, que será feita em homenagem à minha esposa, devota de São Francisco de Assis. Aleijadinho começou a levantar as paredes junto com meus escravos. A igreja será bem grande!
27 de junho de 1789 - Acabamento das paredes, dos santos e dos ornamentos em ouro Hoje, eu e a irmandade nos reunimos para ver como está ficando nossa igreja que se chamará Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis. A construção já está na metade, só faltando a criação dos santos, o entalhe do altar-mor e a finalização da ornamentação em ouro. Minha mulher está cada dia mais feliz.
Ontem, descobrimos que minha esposa está grávida! Estou extremamente feliz pois finalmente terei alguém para deixar o meu legado.
Fachada da Igreja São Francisco de Assis
Apesar desta grande alegria, uma coisa me preocupa. Tiradentes mandou avisar que teremos uma reunião amanhã à noite. Adiantounos que a Coroa portuguesa está muito desconfiada em relação às nossas reuniões. Se dermos algum passo errado, certamente sofreremos represália e morreremos, como aconteceu com os motins de Mariana (1769), Sabará (1775) e Curvelo (1776). Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga também estarão presentes.
29 de junho de 1789 - A Coroa portuguesa chegou Ontem à noite, Tiradentes organizou uma reunião em que ficamos sabendo da chegada de representantes da Coroa portuguesa em Vila Rica. Ela veio pois fomos denunciados por Joaquim Silvério dos Reis – que teve em troca o perdão de suas dívidas com a Coroa. Diante de tudo isso, eu e minha família iremos fugir.
A mina de Dom Luiz Carlos
Controle e subversĂŁo em Ouro Preto
Texto atual
29/09/2016 - Ouro Preto Meu
nome
é
Miguel,
sou
historiador do estado São Paulo e vim para Ouro Preto-MG para conhecer a história do meu tataravô Dom Luiz Carlos. Ele era um dono de uma mina de extração de ouro no século XVIII. Vim conhecer melhor a história dele porque ninguém sabe ao certo quem foi ou o que aconteceu com ele. Existe um boato de que meu tataravô tinha uma igreja, mas é só um boato.
Ao chegar em Ouro Preto, deixei minha Kombi estacionada próximo à rodoviária e vim andando até o hotel. Era final de tarde e, então, deu para
ver a cidade toda iluminada e cheia de igrejas. Deu para ver também o pico do Itacolomi,
que
referência
era
para
um
os
ponto
de
bandeirantes
chegarem na região do ouro. Isso pode ser útil na hora de procurar a mina do meu tataravô. Quando guardei
cheguei
minhas
no
coisas
hotel, e
fui
descansar. Amanhã será um longo dia….
30/09/2016 - Conjuração Mineira e a descoberta da mina Hoje eu acordei bem cedo. Depois de tomar o café da manhã no hotel, passei pela Praça Tiradentes, que é o ponto central da cidade, onde no centro há um obelisco com uma estátua do Tiradentes, de um lado o Museu de Mineralogia e do outro o Museu da Inconfidência - no qual decidi entrar. Ao chegar na área de arquivos históricos, encontrei uma caixa toda empoeirada e dentro desta caixa
tinha
um
livro
caindo
aos
pedaços com o nome do meu tataravô!
Escondi o livro debaixo da blusa e fui embora. Depois guardei-o na bolsa e vim para o hotel para ler. Porém, quando estava tirando-o da
bolsa, alguém bateu na porta do quarto e eu rapidamente o escondi e fui atender à porta. Era o Rafa, um grande amigo
meu, que estava de passagem e descobriu
que
eu estava
ali.
Eu
expliquei tudo e agora ele vai me ajudar! Eu e o Rafa analisamos o livro e descobrimos que a história do meu tataravô é real!
Consta que a mina dele produzia muito
ouro,
e
ele,
junto
a
uma
irmandade, criou uma igreja - a Igreja de São Francisco de Assis! Fomos almoçar e depois tentar achar
a
mina
que
meu
tataravô
explorou. Não sabíamos muito bem onde era,
então
seguimos
as
pistas
deixadas no livro: fomos em direção ao
Pico do Itacolomi e então, com mais algumas coordenadas, chegamos a uma
parede
cheia
de
plantas.
Pensamos que era só uma parede,
mas quando encostamos nela sem querer, ela tombou e descobrimos que
a mina existia. Não
tínhamos
lanternas,
nem
equipamentos para entrar ali. Então,
com
alguns
galhos,
tampamos a entrada da mina e viemos para o hotel.
Amanhã iremos de novo lá. Já que a mina ainda não foi descoberta, não corremos nenhum risco.
01/10/2016 - Mina do meu tataravô Hoje
acordamos
bem
cedo,
pegamos capacetes, lanternas e as câmeras para entrar na mina. Tomamos café e fomos direto pra a
mina.
Durante
o
caminho,
observamos cada detalhe de Ouro Preto: as casas são coloniais, com estruturas da época, portas coloridas e baixas, e o centro não tem nenhum poste elétrico aparente. As ruas ainda são de pedras, colocadas na época pelos escravos.
Quando chegamos, retiramos os galhos e fechamos para ninguém nos ver. A mina é bem apertada e um pouco
úmida.
correntes
no
Lá
haviam
chão,
várias
picaretas
e
martelos, todos com muita poeira e ferrugem. Juntamos todos aqueles objetos em uma caixa para guardar. Como
será
que
os
escravos
trabalhavam ali? Era um lugar tão desconfortável.
Encontramos mais adentro em uma galeria (galerias são áreas da mina) vários esqueletos, colocados todos em uma pilha. O que será que aconteceu aqui? O livro não havia sido terminado. O último registro parou na última reunião com Tiradentes, será que o que aconteceu com o Luiz Carlos tem a ver com isso, com a Conjuração mineira? Exploramos recolhemos “histórico”
a
tudo lá.
mina que
Então
toda
havia
e de
guardamos,
trancamos tudo e fomos embora.
03/10/2016 – O que é controle e subversão Hoje pela manhã, eu e o Rafa estávamos lendo o diário do meu tataravô e vimos que ele fala muito sobre controle e subversão do ouro no Brasil. Expliquei que controle era o que a Coroa portuguesa tinha em relação às minas no Brasil e subversão é o que
Tiradentes
e
os
conjurados
fizeram: uniram um grupo que era contra o controle da Coroa para manifestar-se. Acabou que não deu muito “certo”.
04/10/2016 – Um museu na mina Olá, pela tarde eu e o Rafa fomos à prefeitura de Ouro Preto para saber se existe um proprietário da mina do
meu tataravô hoje em dia. Minha ideia é que se não tiver, gostaria de criar um museu na mina, para que os turistas possam conhecer o passado
da cidade. Com o livro do meu tataravô e meus
documentos,
conseguimos
comprovar que ele é meu parente.
Depois almoçamos e voltamos para a prefeitura, com a esperança de que a resposta já tivesse saído. Felizmente a mina não tem um dono e já que queremos criar um museu, a prefeitura disponibilizará o terreno. Temos
que
anunciar
para
a
cidade inteira e arrumar a mina: colocar
iluminação,
capacetes
e
dar
comprar
segurança
aos
futuros visitantes. Faremos tudo isso até segunda-feira.
06/10/2016 - Tudo deu certo A liberação e os documentos já foram assinados, tudo está correndo bem para a abertura do museu na mina amanhã. Irei ficar por aqui.
O Rafa irá me ajudar nesse começo,
em
breve
exploraremos
novas galerias da mina. Ela tem aproximadamente
300
quilômetros
registrados. Alguns historiadores que gostaram da ideia irão me ajudar também. Finalmente achei meu lugar no mundo e uma coisa que gosto de fazer: preservar o passado. FIM