VIAJANTE ANTIGO
Carolina, Heloísa, Júlia, Maria Eduarda e Pedro H.D. Produto Final do Estudo de Campo Ouro Preto – 2016 8°ano – Ciências, Geografia, História e História da Arte Escola Miró – Ribeirão Preto/SP
Eu sou ClĂĄudio Manoel da Costa e estou aqui para contar as minhas experiĂŞncias em Villa Rica, a cidade que eu moro. Sou advogado, formado pela Universidade de Coimbra, e poeta, apaixonado pela escrita e pela leitura.
Hoje em dia, Villa Rica cresceu e está habitada por muitos estrangeiros e suas famílias, por conta da grande extração de ouro que está no seu auge. Além disso, os portugueses trouxeram muitos escravos que trabalham nas casas dos senhores e nas minas retirando ouro.
É um trabalho muito duro que requer muito esforço, além de serem torturados e viverem em condições precárias. Eles passam o dia todo nas minas e a noite vão para as senzalas, um lugar em que vivem mais ou menos 45 escravos. Imagino que seja bastante desconfortável, e nas épocas de frio não possuem cobertores.
Quando desobedecem seu senhor são torturados de vários modos, entre eles chicotes e palmatórias. Quando vão trabalhar usam mordaça para não engolirem ouro. Existe muita desigualdade social pois, enquanto muitos escravos morrem, muitas pessoas enriquecem com o esforço e exploração deles.
Aqui em Villa Rica existem muitas igrejas, umas em construção e outras já construídas: as da Coroa portuguesa, as dos escravos, as dos negros libertos e a igreja dos comerciantes não ligados à Coroa. Se a fé é a mesma, por que devemos rezar separados?
Por que nas igrejas ligadas Ă Coroa os negros nĂŁo podem entrar e devem assistir a missa no fundo perto da porta? Todas as igrejas esbanjam ouro, umas mais, outras menos. Por que isso acontece? Os escravos levam ouro no cabelo, escondido, para a sua igreja e lavam-no na pia batismal para poderem recolher o pĂł.
Na época em que vivemos podemos notar desigualdade logo ao andar pelas ruas. Por que as casas são tão diferentes umas das outras?
No caminho para o chafariz vemos casas de pessoas influentes acompanhadas de eira, beira e tri beira, muitas portas e janelas, adornos e em ótima localização, enquanto vemos casas mais simples de pessoas não influentes junto à população, e também mais afastadas do centro, em uma pior localização.
Começou uma época muito complicada na cidade. Estamos em um período de revolta anticolonialista, contra a Coroa portuguesa. ** (A Inconfidência Mineira, também referida como Conjuração Mineira, foi uma possível conspiração de natureza separatista que poderia ocorrer na, então, capitania de Minas Gerais contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português. Foi abortada pela Coroa portuguesa em 1789.)
Eu, como participante do movimento, me encontro preocupado com o futuro de Villa Rica, pois a partir de agora nĂŁo sei o que pode acontecer. Eu e meus colegas estamos buscando uma melhor qualidade de vida. Por que devemos tanto a Portugal, sendo que nĂŁo fizemos nada?
Faz um mês que não volto ao meu hábito: escrever. Muitas coisas aconteceram por aqui durante esse tempo em que estive fora. Confesso que agora estou com medo, pois minha vida pode mudar a qualquer momento e não sei se vou continuar escrevendo.
Já faz oito dias que estou preso. As coisas só pioraram depois que fomos traídos e descobertos. Todos nós fomos presos e julgados. Acho melhor parar por aqui, sinto que meu fim está próximo e se eu morrer espero que outras pessoas possam ler esse diário e saber tudo o que eu vi e vivi. Ainda tenho esperanças de que tudo possa se resolver aqui em Villa Rica. Ficarei por aqui. Adeus. Cláudio Manoel da Costa