Amnésia 2

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AMNÉSIA 2 www.bethbarone.com.br “O trabalho Amnésia 2 (…) é um objeto composto por uma caixa de madeira antiga que possui o desgaste do uso, dentro da qual foi colocada uma fotografia da década de 1950 (…). Essa fotografia foi fixada com cantoneiras de época num pedaço de madeira que permanece em posição inclinada dentro da caixa escondendo um sistema sonoro composto por um aparelho de MP3 e um alto-falante que reproduzem ininterruptamente, uma trilha sonora composta por Sérgio Pinto. A trilha sonora soa constantemente em volume baixo, não invadindo o espaço expositivo. Para ser ouvida, portanto, é necessário que o espectador faça uso de um estetoscópio (…). Em sua composição foram mixados sons de sinos de igreja, num chamamento fúnebre, com chiados e ruídos típicos de um disco de vinil. Finalmente, em cima do vidro, há duas fitas pretas que sinalizam o luto. A fotografia retrata a sala de uma casa, em cujo centro há a figura de um homem trajado socialmente. Na parede, próximo à poltrona, há um buraco que desfaz, de alguma maneira, a imagem de lar perfeito. Observa-se também uma iluminação excessiva que cria uma forte sombra preta atrás do homem, ao mesmo tempo em que parte dele desvanece, começando a se dissolver fantasmaticamente. Na pesquisa teórica observamos que uma das regras para a mnemotecnia envolve a criação de imagens em lugares (como uma casa, por exemplo) e, para haver a retenção da memória, algo de incomum deveria estar presente para a memorização se dar. Nesse aspecto temos na foto a sala de visitas e o buraco na parede. Outra regra seria a da repetição, representada pela trilha sonora em loop infinito. A sombra preta e a porção dissolvida pela luz reforçam a ideia de que a fotografia, enquanto índice, nos mostra uma cena que, de fato, ocorreu. Porém, logo após a captura, já se inicia imediatamente a morte desse acontecimento, tornando-se, como disse Dubois (1994), um mero traço registrado em papel que se apresentaria atualmente como único elemento palpável. Entretanto, a presença do vidro, impede também esse contato físico com a fotografia, tornando sua consistência real visível, porém intocável. O resultado esperado é que o espectador viva uma espécie de experiência particular. A imagem com a presença do disco de vinil e do toca-discos indica que o que será ouvido é a música contida nele, porém a trilha sonora pretende estimular uma escuta interior, introspectiva, que joga com suas lembranças pessoais. Nessa interação, a caixa também pode ser vista como aquela caixa de fotografias que pertence ao seu próprio universo. Já o estetoscópio, usado por médicos para auscultar as manifestações sonoras do corpo humano, terá aqui um novo significado, mais ligado aos afetos e àquilo que não mais está presente.” Beth Barone para a monografia “Fotografia e memória: a presença de uma ausência” (2013). “Aqui pode-se observar o intimismo quando se pede ao espectador que escute através do estetoscópio, essa tecnologia antiga e ainda amplamente utilizada, no interior da caixa. Aqui também há um simbolismo sutil: caixinhas de música são elementos muito comuns nas narrativas ficcionais para remeter o leitor ao peso de uma consciência passada. Na fotografia, um homem segurando um vinil, mais uma tecnologia de registro que tem a questão da memória como central. A caixa é uma metáfora da consciência, que pode estar aberta (lembrança) ou fechada (esquecimento).” Bruno Melo Monteiro, mestre em História e Crítica de Arte pela UERJ.



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