Amnésia 1

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AMNÉSIA 1 www.bethbarone.com.br “O trabalho Amnésia 1 foi executado com uma ampliação de uma foto de álbum de família desgastada pela ação do tempo. Nota-se na parte inferior da imagem um apagamento, além de um tom amarelado produzido pela acidez e/ou ação de fungos ou bactérias sobre o papel, provocado pelas más condições de armazenamento, encobrindo parte do jardim e das figuras humanas ali presentes. Na escolha desta foto, foi considerada também a posição do bebê que tenta escapar da cena e aponta para fora da fotografia, bem como a presença das linhas paralelas na parte superior que também remetem o olhar para fora da área impressa, dirigindo-se tanto para a esquerda quanto para a direita. Como procedimento, a fotografia original, tirada em 1960, foi escaneada em alta definição e ampliada no tamanho de 100 x 100cm em papel de algodão Velvet da HP. A escolha do papel se deu pela sua aparência texturizada semelhante a muitas fotos antigas encontradas em álbuns de família. A presença do apagamento e do amarelamento da foto demonstram que o registro da memória está se desvanecendo, dia após dia. Pelas pistas sugeridas pelo entorno pode-se tentar imaginar o que havia no lugar desse vazio, entrando aqui o pensamento lógico e a imaginação nessa reconstituição mental, assim como fazemos quando temos lembranças parciais de algum acontecimento. Vemos em Freud (1899) que, tudo aquilo que se vive se inscreve na memória, porém nem tudo volta à lembrança. Ele afirma que o recalcamento faz com que a memória sempre contenha restos perdidos, parcelas inacessíveis à consciência, algo de invisível nas imagens, já que muita coisa se perde ou se transforma no percurso de nossas existências. A escolha do tamanho da ampliação é inusitada para uma foto de família. Foi assim escolhido para tornar público, de maneira escancarada, aquilo que habitualmente as pessoas mantêm na esfera privada, por conta do caráter mais intimista que esse tipo de fotografia trata: um tipo de imagem que articula questões afetivas pessoais. Essa ampliação foi emoldurada com madeira escura e vidro brilhante, cuja refletividade excessiva faz o espectador eventualmente se ver refletido no vidro, criando uma sobreposição de imagens. A moldura e o vidro também trazem à fotografia o sentido de guarda e de proteção, tentando conservar a memória, lutar contra o esquecimento, como se assim, fosse possível o resgate do passado. O apagamento e o amarelamento indicam que essa tentativa será em vão, já que, por se tratar de foto, além dela ser vítima da ação do tempo, ela já carrega em si, como diz Dubois (1994), o registro de uma realidade para sempre desaparecida, feita de distância na proximidade, de ausência na presença e de imaginário no real.” Beth Barone para a monografia “Fotografia e memória: a presença de uma ausência” (2013). “Gosto particularmente da sugestão de que a fotografia de família remete o espectador a uma familiaridade com a fotografia enquanto forma, ainda que em estranhamento com os referentes presentes na imagem. Reconhecemos assim que aquela é uma imagem memorial para alguém que não nós mesmos e poderíamos pensar nesse senso de familiaridade com a forma memorial da fotografia como um resíduo simbólico de universalidade, onde somos todos uma mesma família com antecedentes simbólicos que nos permitem reconhecer coisas comuns na diferença – aliás, essa me parece uma metáfora da arte por excelência, o espectador deve olhar para uma obra de arte e reconhecer ali uma forma artística, mesmo que o objeto seja tão diferente do que ele alguma vez já viu.” Bruno Melo Monteiro, mestre em História e Crítica de Arte pela UERJ.



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