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Vergílio Ferreira em Évora

Nos finais dos anos 40 tive o privilégio de ter sido aluno do professor Vergílio Ferreira, durante dois anos letivos, no Liceu André de Gouveia, instituição de ensino residente nos espaços da atual Universidade de Évora, que, muito justamente, criou o Prémio com o nome do consagrado Escritor e Pedagogo.

Fiquei a dever-lhe preciosos ensinamentos na Literatura, e recebi dele provas de estima, sublinhadas por saber que eu era um estudante muito pobre envolvido na capa e batina que alguém me oferecera.

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Foi ele que me indicou ao Sº Reitor dr. Bartolomeu Gromicho, para que me responsabilizasse pela organização do jornal académico “O Corvo”, e foi Vergílio Ferreira — meu saudoso Professor, que me dispensou aos exames de acesso à Universidade, na área de Direito e História Filosófica. Nesse dia deu-me conselhos úteis para os estudos que iria seguir.

O Professor Vergílio Ferreira era uma figura de Mestre, que ensinava com larga abundância de exemplo e com diálogo aberto aos seus alunos.

Gostava da sua Escola e da cidade de Évora, onde tinha um núcleo de amizades, em que se destacava o médico dr. Alberto Silva, Francisco José Caeiro, o diretor da Biblioteca Pública de Évora, dr. Armando Nobre Gusmão, notável Poeta, o eng. Reis Pereira, e os pintores António Charrua e Henrique Ruivo. Vergílio Ferreira, pela sua postura, tinha uma particular auréola entre os seus colegas de Ensino.

Devo-lhe conselhos literários e portas que me abriu, quando fundei em 1951 a Revista Horizonte, e em 1956 quando fundei o Jornal Literário dom Quixote e, já muitos anos depois, quando dirigi o Jornal de Évora e me foi atribuído o Prémio Nacional de Reportagem, pelo Diário Popular.

Guardei sempre religiosamente as cartas em que respondia às minhas dúvidas, com aquela sua letra miudinha terminada com o seu ex-corde, do teu velho Professor Vergílio Ferreira, que em Évora já preparara alguns dos seus Livros, foi depois daqui acrescentando as mais notáveis obras que o tornaram no mais prestigiado escritor da sua geração

Várias foram as vezes que evocou a Évora-Cidade Branca e Monumental, enaltecendo figuras do seu passado e das grandezas universitárias desta urbe.

Não foi apenas na “Aparição”, que Évora foi lembrada, porque vinte anos depois vinha até cá ver amigos, visitar as ruas e praças, e o seu velho Liceu André de Gouveia.

A sua passagem de vários anos a ensinar em Évora deixou um marco de saudade entre os seus alunos e colegas.

Pela sua independência de carácter deixou marca na cidade que o homenageou, com uma merecida artéria citadina, porque a sua presença valorizou muito o prestígio histórico e cultural de Évora.

Pela sua ética, antes e depois do 25 de Abril, demonstrou a sua fidelidade aos princípios democráticos que sempre defendeu.

Ex-aluno anos 40

M. M. Piçarra

JAN 2023

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