EXPOSIÇÃO
LIBERDADE (a SÉRIO) A paz, o pão, habitação, saúde, educação CARTAZES ARTESANAIS DE PROTESTO
Arquivo EPHEMERA
16 DEZ 2021 16 FEV 2022
FICHA TÉCNICA Título | LIBERDADE (a SÉRIO). A paz, o Pão. Habitação, Saúde, Educação* Edição | Coordenação Editorial | SBID - Serviços de Biblioteca e Informação Documental da Universidade de Évora UÉ Co-Coordenação Geral | José Pacheco Pereira, Associação Cultural EPHEMERA Assessoria Ephemera | Rita Maltez Produção Editorial | Rute Marchante Pardal Textos Associação Cultural EPHEMERA, José Pacheco Pereira, Rute Marchante Pardal Revisão Textos | SBID - Serviços de Biblioteca e Informação Documental UÉ Design Gráfico | Divisão de Comunicação Universidade de Évora Fotografia e edição de imagem | Divisão de Comunicação Universidade de Évora, SBID - Serviços de Biblioteca e Informação Documental da Universidade de Évora UÉ Curadoria de Imagem | Rute Marchante Pardal Figurantes fotografias | Antónia Pereira, Patrícia Melicias, Cidália Pisco Curadoria Exposição | Associação Cultural EPHEMERA, Rute Marchante Pardal Vídeo | Voluntários do Arquivo EPHEMERA Créditos das Fotografias | Divisão de Comunicação Universidade de Évora, Arquivo EPHEMERA (quando indicado nas legendas), Rute Marchante Pardal Execução Montagem da Exposição | SBID - Serviços de Biblioteca e Informação Documental da Universidade de Évora, Serviços Técnicos UÉ Transportes | Serviços Técnicos UÉ Contactos Gerais | Universidade de Évora- SBID, Largo dos Colegiais, 2. 7000 Évora Telefone dinamização cultural SBID | 266 740 813 E-mail | din-cultural@bib.uevora.pt ISBN | 978-972-778-217-8
AGRADECIMENTOS | Reitora da UÉ, Administradora da UÉ. Agradecimentos a todas as pessoas envolvidos no projeto, em particular a José Pacheco Pereira que nos continua a demonstrar, através do seu valiosíssimo trabalho na Ephemera - Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira, ser possível preservar, salvaguardar, organizar, inventariar, investigar, disponibilizar, e publicar muitas das memórias coletivas, e individuais de um país (e de um povo). Com o recurso a diferentes acervos literários, e a partir da doação de diferentes papéis, coleções, Manifestos e iconografias de natureza diversa, com espólios constituídas pelo próprio, mas sobretudo a partir da doação de diversas personalidades e indivíduos da sociedade portuguesa do século XX e XXI, o trabalho na Ephemera só é possível graças à ação de muitos associados/voluntários que efetuam esse tratamento de dados na Associação. Especial agradecimento, também, a Rita Maltez, e todos os associados/voluntários da Ephemera, que com grande companheirismo, paixão, voluntarismo, solidariedade, e muitas horas dedicadas ao voluntariado cultural dentro da associação, nos permitem, hoje e amanhã, recuperar uma memória que foi, e é de todos. *Especial agradecimento, também, ao cantautor Sérgio Godinho, a quem gentilmente agradecemos, e com quem celebramos, a (re)utilização do título, e parte do refrão da sua canção, LIBERDADE, para o título da nossa Exposição.Repartidos agradecimentos à Direção da Associação Cultural do Imaginário, ao Maestro Luís Pereira das Vozes do Imaginário, que produziu um arranjo para o tema, LIBERDADE de Sérgio Godinho (interpretado pelo coro feminino), e a todas as coralistas que se juntaram a nós, na sua interpretação do tema, na inauguração da exposição. Por último, um estimado agradecimento à Empresa MRÔLO living character, acessível em https://mrolo.com/ que gentilmente, e a título de empréstimo, estabeleceu uma parceria connosco, cedendo, pelo período de dois meses, dois dos seus manequins para a nossa exposição, que seriam para venda.
O presente Catálogo foi publicado por ocasião da Exposição, "LIBERDADE (a SÉRIO). A Paz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação", inaugurada a 16 de dezembro de 2021, e patente até 16 de fevereiro de 2022, em três espaços expositivos do Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora: Octógono - Centro do Mundo, corredor de acesso à Sala das Belas Artes da Biblioteca , e Sala de Exposições do Arquivo e Cisterna.
SINOPSE
1
LIBERDADE (a SÉRIO). A Paz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação
ARQUIVO EPHEMERA - DEZ ANOS AOS PAPÉIS José Pacheco Pereira
A PAZ
6
Manifestações Ambientalistas Reivindicações LGBT e Igualdade de Género- Interseccional Reivindicações pelo Direito dos Refugiados/Emigrantes, Racismo/BlakeLivesMatter Marchas Feministas e Manifestações contra Violência Doméstica e Sexual Manifestações de Protesto Internacional
13 15 26 34 43 51
O PÃO
59
HABITAÇÃO
71
SAÚDE
80
EDUCAÇÃO
84
AS TOUPEIRAS
93
AS T-SHIRTS da EPHEMERA
102
Bibliografia
115
Fontes e Referências consultadas online
116
LIBERDADE (a SÉRIO). A paz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação 1
Passado “o dia inicial inteiro e limpo” , numa altura em que muitos de nós (geração-filhos do 25 de abril) ainda não nascera, num período em que ecoava pelas rádios locais e nacionais, e pelas casas e palcos de muitos portugueses a célebre canção, Liberdade, de Sérgio Godinho, e passados estes 47 anos em que a chamada democrática continua a prosseguir o seu caminho, procurando levar ao espaço público uma cidadania ativa, com os valores da democracia livre e participativa, apelando às mais básicas condições de vida, por numa sobrevivência digna, que dignifique a condição humana, e o mundo; frases como: “Só 2 há liberdade a sério quando houver, liberdade de mudar e decidir (…) ”, continuam a ecoar e a perpetuar os valores humanistas, multiplicando os ideais democráticos, sem os quais as sociedades não se humanizariam. LIBERDADE (a SÉRIO) com “(…) seus conceitos - paz, pão, habitação, saúde e educação – poderiam ser 3 inscritos num mural tingido a grafite. (…) . Os conceitos e os ideais democráticos, por detrás da 4 Liberdade , revolucionaram, de facto, a vida de cada um dos portugueses e dos povos das ex-colónias no último quartel do séc. XX, determinando profundas alterações nas principais estruturas socioeconómicas, e políticas do país, desafiadas pelas novas dinâmicas e pelas novas formas de organização política, social e coletiva, já alguma vez vista no Portugal do séc. XX. Contudo, se “(…) é 5 preciso que tudo mude para que tudo se mantenha” , e apesar das mudanças evidentes, os conceitos e os ideais da Liberdade continuaram o seu percurso, com o espaço, suficientemente, aberto para que a tomada do exercício democrático se fizesse sentir, também, através dos cartazes de protesto, e dos
1 Excerto do poema “25 de Abril” de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX, e a primeira mulher portuguesa a receber o mais alto galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. 2 Excerto da canção, Liberdade, de Sérgio Godinho, do álbum À Queima Roupa, 1974. 3 IN artigo do Jornal BLITZ Expresso, de 25 de abril de 2021, “25 de Abril. 'Liberdade', por Sérgio Godinho. Esperar tantos anos torna tudo mais urgente” por Jorge Cerejeira. Acessível em: h ps://blitz.pt/principal/update/2021-04-25-25-de-Abril.-Liberdade-por-Sergio-Godinho.-Esperar-tantos-anos-torna-tudo-mais-urgente-7df9e796 4 Retratada por Sérgio Godinho (1945 -) no já referido tema, Liberdade, de 1974. 5 Célebre frase de Giuseppe Tomasi di Lampedusa veiculada no seu mais célebre romance, Il Gattopardo, de 1958. Obra que narra a decadência da nobreza na Itália do XIX, no contexto do Risorgimento. A frase original: «Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi.»
murais grafitados e esculpidos por essas paredes de casas, bairros, ruas e vielas gastas e consumidas pelo tempo. Palavras, imagens gráficas-visuais, vozes e manifestos que foram denunciando, não apenas, o estado e a natureza das coisas, e a sua efetiva trajetória histórica, como, também, as grandes 6 Inquietações na Primeira Pessoa . Inquietações que se foram manifestando ao longo destas últimas décadas de um século que passou, quase meio século de História Democrática, que continuam a interrogar e a inquietar quem sente e narra um mundo, em permanente construção. Através de extricadas e ténues tiradas de papel e cartão, alicerçadas por paus e hastes, e mãos em punho, os cartazes artesanais de protesto, que nos chegam pelas mãos da Associação Cultural 7 EPHEMERA - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira , convidam-nos a uma observação expositiva de LIBERDADE (a SÉRIO)! Fazendo eco das vozes que refletem algumas dessas memórias do protesto coletivo, nascidas no seio dos movimentos de contestação sociopolítica, económica, ativista e ambientalista das primeiras décadas do século XXI, em Portugal, (e algumas no Mundo), serão retratados e explorados, por meio dos conteúdos expositivos agora expostos, temas tão vastos, como: A Paz, o Pão, Habitação, Saúde, 8 Educação . Estes, apresentam-nos as cores e as demais nuances da LIBERDADE, numa trajetória que é de ontem, mas também de hoje, dada a contemporaneidade dos temas. Trajetórias que nos revelam, nalguns casos, tragédias há muito anunciadas. Umas, são tragédias líricas. Outras, desfraldam o radicalismo. Muitas tendem a ser soltas, rebeldes, apelativas, verdadeiras e, jocosamente, divertidas. Algumas são mais ideológico-partidárias e diretas, apelando ao partidarismo democrático, o que em democracia, «bate tudo certo!». Outras, são tragédias tímidas, assertivas, viscerais, e tão sinceras pela dor que transportam. No entanto, todas elas nos ressaltam a olhos nus com imensa profundidade e
6 Subtítulo retirado da edição da Revista MAMUTE que tem, precisamente, Inquietações na Primeira Pessoa, como subtítulo nas suas edições. Acessível em h ps://www.revistamamute.pt/sobre 7 Que chegam pelas mãos das próprias pessoas envolvidas nas manifestações, que os produzem para o efeito, e que a EPHEMERA recolhe, e salvaguarda no seu acervo documental. 8 Ilustradas no tema e refrão da célebre canção (já referida) de Sérgio Godinho, LIBERDADE, do álbum À Queima Roupa, 1974.
dissenso, despojando desejos, anseios e frustrações que, ousadamente, acabam por desmascarar alguns dos sentimentos e dos afetos, que são bem demonstrativos desses grandes inquietantes dilemas que teremos pela frente, por resolver. Na ausência de empatia, o peso das grandes opções de hoje conduz e transporta, inevitavelmente, estes grandes dilemas para as próximas gerações. E esse é um sentimento difícil de entender para as gerações que herdam, no futuro, as opções de hoje. Nesse sentido, por detrás dos ideais e dos conceitos que, nevralgicamente, dignificam (ou não) as nossas democracias, os cartazes artesanais de protesto do núcleo documental da EPHEMERA anunciam ao mundo, não apenas, os ideais da Liberdade democrática e 9 participativa, que geram, (re)produzem, e humanizam no presente as sociedades livres contemporâneas, como também refletem o seu profundo e sistémico processo de desumanização, em curso. Face ao progressivo consumo do imediatismo/distopia, em que as sociedades contemporâneas se movimentam, mas motivados, também, pelas circunstâncias de uma produção artesanal, e pelo uso de um material expositivo bastante frágil, efémero, que nos impele à sua salvaguarda e divulgação, pretendemos, por um lado, através destes documentos históricos artesanais, dar a conhecer ao publico académico, e em geral, um documento histórico de arquivo que nos dá conta de uma parte significativa do tecido socioeconómico da população portuguesa das primeiras décadas do XXI, mas por outro lado, prolongar-lhes a sua vida, para lá da sua génese. Desse modo, ao serem preservados, e divulgados, os cartazes artesanais de protesto da EPHEMERA tornam-se objetos de análise e interpretação histórica e sociológica (e antropológica), uma vez que nos permitem, com toda a “Liberdade a sério”, observar e
9 No que respeita a contribuição da Nova História, implícita nos conceitos de longa duração, História global e História total, ver o trabalho desenvolvido por Jacques Le Goff (19242014) na década de 1970, em torno da investigação da nova antropologia histórica, que partia do presente para interpretar o passado (no contexto da História Medieval). Uma ideia já defendida pela crítica que fez a Marc Bloch (1886-1944) - e ao conceito de origem, analisando e interpretando, para o efeito, na Nova História, a seleção de novos objetos, ignorados até então pela história mais tradicional. Le Goff capta e entrevê, também, através do diálogo e da crítica que Michael Foucault (1926-1984) estabelecia com a Psicanálise (com as suas teorias que abordavam a relação entre o poder e o conhecimento, e como estes eram usados como uma forma de controle social pelas instituições sociais), uma análise que recupera, no fundo, uma das mais importantes lições para a História: e que tem que ver com a própria Inquietude do Ser.
analisar o percurso e as mutações de temas tão vastos, como: A PAZ - Cartazes relacionados com a Climática estudantil, as questões Ambientais, as Reivindicações LGBTI e de Igualdade de Género-Interseccional, as Reivindicações pelo Direito dos Refugiados e dos Emigrantes, o Racismo estrutural e a BlakeLivesMatter, as Marchas Feministas, as Manifestações contra a Violência Doméstica e Sexual, de Injustiça Patriarcal e Sexista, e as Manifestações de Protesto internacional O PÃO - Cartazes relacionados com Troika e a Austeridade, a Precariedade Laboral, a Cultura, os Protestos contra as medidas Governamentais, a Concertação Social e a Concentração da Riqueza, as Greves Nacionais HABITAÇÃO - Cartazes relacionados com as Questões Urbanísticas dos centros históricos, e as medidas de Habitação Social, e de Gentrificação SAÚDE – Cartaz da Pandemia -Covid 19 e da Saúde Mental EDUCAÇÃO – Cartazes relacionados com as Lutas Estudantis, e com os Profissionais da Educação, e as medidas governamentais Contra a ausência de empatia, na dificuldade de olhar o outro (nós próprios), e uma vez que é possível convocarmos a história no presente, e resgatarmos algumas dessas tensões e contradições, proporemos, através dos conteúdos expositivos, refletir sobre estas que são já as grandes questões fraturantes que assombram e dividem as nossas sociedades. Questões bastante polarizadas, que poderão acabar por agudizar no perigo de uma passividade se generalizar, e nos deixarmos cair cúmplices nos caminhos incertos das narrativas de ódio. Reféns de uma comunicabilidade e de uma dialética que, ao invés de privilegiar o substrato e a essência do outro, procura antes uma base de confronto, que estabelece padrões de comportamento que visam acentuar, não o que, efetivamente, o outro propõe, mas aquilo que desejamos e queremos, por força, que lá esteja. Em suma, contra a ausência de alteridade, com os cartazes artesanais de protesto da EPHEMERA – Biblioteca e Arquivo de
José Pacheco Pereira, agora expostos pelos corredores e cisterna da Universidade de Évora, procuraremos, precisamente, estimular esse espaço privilegiado de uma Universidade, onde o Saber não se apresenta segmentado em gavetas, mas é antes compartilhado e confrontado, através do diálogo e do debate transdisciplinar, na esperança de traduzir uma participação crítica de todos, sobre os diferentes níveis da vida em sociedade. O resultado é bem demonstrativo, tendo em conta que os impulsos subjetivos, éticos, ideológicos e morais dos cartazes de protesto acabam por dialogar e confrontar um núcleo de princípios e valores, diferentes entre si, que na realidade nos permitem percecionar a palavra no seu sentido mais lato, 10 através da simbiose ação/pensamento , como uma arma para transformar o mundo, que procura captar a esperança e a coragem. Ou a falta destas. RuteMarchantePardal Novembro 2021 Dinamização Cultural | SBID - Serviços de Biblioteca e Informação Documental
10
Para a tradição do pensamento político, ver ARENDT, Hannah (ed.). (2001). A Condição Humana. Relógio D'Água, abril de 2001 Relógio d'Água, Lisboa.
Crédito da Fotografia © Orlando Almeida/Global Imagens. Armazéns da Ephemera Ephemera – Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira, no Barreiro. In reportagem, "Não deite nada fora!" Pacheco Pereira guarda todos os papéis”, de Maria João Caetano, 22 FEV 2020. Acessível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22fev-2020/nao-deite-nada-fora-pachecopereira-guarda-todos-os-papeis11848327.html
ARQUIVO EPHEMERA - DEZ ANOS AOS PAPÉIS "THE TWO OFFICES OF MEMORY ARE COLLECTION AND DISTRIBUTION." (SAMUEL JOHNSON)
1. O Arquivo-Biblioteca Ephemera há dez anos que “anda aos papéis”. Tem mais de 200.000 títulos de livros e brochuras, dezenas de milhares de periódicos, vários milhares de cartazes, posters, imagens, faixas, outdoors, panos, cartazes artesanais de manifestações e de protesto, fotografias, milhares de objetos, centenas de milhares de panfletos, folhetos, tarjetas, etc., milhares de emblemas e pins, dezenas de milhares de autocolantes, mais de 6 quilómetros lineares de estantes e armários. Compreende um conjunto de espólios, coleções e acervos única pela sua dimensão e pela importância dos seus fundos, sendo, sem dúvida, o maior arquivo privado em Portugal e um dos maiores da Europa. 2. É uma coleção nacional e internacional com cerca de 100 países representados, embora este número nalguns casos seja pouco mais do que um pin. Mas há boas coleções de Espanha, da Irlanda, do Brasil, dos PALOPs, etc. e, dado que não existe paralelo em arquivos nacionais, é o único sítio onde, por exemplo, um estudioso da propaganda política pode encontrar cartazes eleitorais do Irão ou da Colômbia, de Angola ou da Noruega. Tudo isto se encontra em seis casas adaptadas e um armazém na Vila da Marmeleira, dois armazéns no Barreiro e mais depósitos nos nossos locais de recolha. Neste momento há postos de recolha em Viana do Castelo, Porto, Lamego, Guarda, Coimbra, Figueira da Foz, Santarém, Lisboa, Barreiro, Lagoa, e nos próximos meses abrirão Viseu, Portalegre, Leiria, Braga. Há dois locais de recolha fora de Portugal, no Luxemburgo e em Luanda em Angola.
3. O impacto público do Arquivo é considerável. Estão publicadas online mais de 24.000 pastas de documentação, com mais de 100.000 imagens e textos, quer no blogue e no site Ephemera, quer na página do Facebook que divulga as publicações e as atividades do arquivo, quer no canal do
YouTube (311 vídeos). Nas redes sociais há quase 15.000 seguidores (cerca de 10.023 no Facebook + 4.941 no Twitter), e mais de 4.000.000 visitas ao blogue. Os filmes produzidos em colaboração com a TVI24, de que já foram exibidos 45 episódios, têm boas audiências. Exposições organizadas pelo Arquivo tiveram milhares de visitantes, em Viana do Castelo, Porto, Óbidos, Coimbra, Lamego, Ponte de Sor, Torres Vedras, Barreiro, Lagoa, Condeixa, Lisboa, Barreiro, etc. Vários livros, artigos e trabalhos académicos usaram materiais do Arquivo, no qual estão a decorrer atualmente várias investigações. Artigos e reportagens na imprensa portuguesa e espanhola foram feitos sobre o Arquivo e os seus fundos. Em colaboração com a editora Tinta da China, existe uma coleção gerida pelo Arquivo com sete livros publicados, e estão editados três Cadernos do Ephemera, com edição própria. 4. O arquivo é gerido pela Associação Cultural Ephemera, uma associação cultural sem fins lucrativos fundada em 2017, a quem foi reconhecida a utilidade pública em 2019. A associação tem hoje cerca de 450 associados. Foram assinados protocolos de colaboração com o Museu de Lamego, a Câmara Municipal do Barreiro, a Baía do Tejo, o Museu de Peniche e outros estão em fase de assinatura. 5. O Arquivo tem uma prioridade: salvar, salvar, salvar tudo o que faz parte da nossa memória coletiva. Depois de salvar há que conservar, organizar, inventariar, disponibilizar, investigar, publicar. Toda esta sequência é importante, mas primeiro há que salvar e, embora não pareça, nem sempre esta é a prioridade noutros arquivos. Acreditamos que, aconteça o que acontecer, salvo a peste, a fome e a guerra, o que cá entra está mais seguro do que o que fica em casa, que o interesse ou a falta dele, os recursos ou a falta deles, a morte, os divórcios, as mudanças de casa, ou os dias de destruição coletiva como as segundas-feiras depois das eleições, ajudam a eliminar. E todos os dias milhares de fragmentos da nossa memória coletiva desparecem, cartas, fotos, papéis, manuscritos, objetos, cartazes. Daí uma política ativa de recolhas, assente numa pedagogia da memória (que compreende os programas de televisão, artigos, palestras, exposições, etc.), numa rede fina de recolhas por todo o país e fora dele, e na ação dos voluntários assente na ideia de que “não deite nada fora”. Não se preocupem, nós, se for caso disso, deitamos. 6. O Arquivo é omnívoro, come de tudo. Compreendemos que tal não possa ser feito pelos grandes arquivos, que têm que ser seletivos, mas a nossa experiência diz-nos que surge sempre alguma coisa de único no que recebemos, mesmo que se perca mais tempo na triagem. Foi assim
que encontramos uma fotografia de Camilo Pessanha, um diário de uma herança, uma humilde carta de amor, milhares e milhares de “cunhas”, uma gravação feita às escondidas de uma reunião importante, ou uma pilha de manuscritos escondidos da Pide dentro de jornais. Sabemos que seria loucura pensar que podíamos ter tudo, mas tentamos. É, digamos, uma forma mais mansa de loucura. É uma humana forma de lutar contra o esquecimento, ou seja, a morte. 7. O Arquivo é holístico, não é parcial e disperso, mesmo que o pareça. Comunica com uma biblioteca e uma espécie de museu, ao estilo da “rapid response collection” do Museu Victoria e Alberto. São coerentes entre si e servem-se uns aos outros. Do comunicado à lona de um outdoor, à fotografia de uma ação de rua, ao vídeo de uma intervenção, ao “brinde” eleitoral, podemos construir o contínuo de imagens, textos, ações, de que se faz a intervenção ativista na sociedade, a ecologia do protesto ou, mais prosaicamente, e a vida quotidiana das pessoas.
8. O Arquivo é patrimonial, físico, biológico, analógico. Parte, é também digital, mas é a materialidade das coisas que consideramos mais importante, mais conforme com os nossos sentidos e até, em muitos casos, mais duradouro. Vive do papel, do cartão, do tecido, da lona, do barro, do metal, antes, durante e depois dos eletrões. O Arquivo faz parte de uma “cultura do papel”, que não vive da nostalgia, nem das saudades do pó dos livros ou do cheiro do papel, nem se afirma melhor do que a cultura digital. Afirma-se diferente. E nas suas diferenças é, às vezes, único e, para certas tarefas humanas, melhor. 9. O Arquivo não compete com outros arquivos, nem com nenhuma outra iniciativa ou instituição do mesmo género. Quando nos perguntam o que fazer a um espólio ou acervo, explicamos as vantagens e inconvenientes de o entregar a um outro arquivo ou ao nosso. Quando temos coleções que completam as de um outro arquivo, estamos sempre disponíveis para as trabalhar ou disponibilizar em conjunto. A tarefa de fazer uma rede da memória é coletiva e ganha com a diversidade de olhares e experiências. 10. O Arquivo pertence ao que se chama “sociedade civil”. É autónomo, independente, e pertence aos que nele trabalham e à Associação que o gere. Não temos o fetichismo do público como a melhor forma de salvaguardar o património coletivo. Conhecemos bem demais muitas instituições públicas que, por falta de recursos ou de dinamismo, estão efetivamente mortas e
que custam muito dinheiro a manter. O Arquivo funciona melhor, salva mais, organiza mais, inventaria mais, publica mais do que muitos arquivos públicos com orçamentos cem vezes maiores. Fazemos coisas que ninguém faz, nem ninguém conseguiria fazer. Um exemplo, foi o acompanhamento das eleições autárquicas de 2017 em que cerca de 1600 campanhas locais foram objeto de recolha a nível nacional. Mesmo assim, é pouco mais de metade. 11. O Arquivo tem uma identidade própria e, por isso, entendemos que é errada a excessiva centralização de todo o património da memória num só arquivo, perdendo-se muitas vezes a identidade da sua fundação, do seu fundador, dos seus fundos, do estilo dos que nele trabalham, e do olhar que transportam sobre a memória. Não há dois olhares iguais, não se dá a importância às mesmas coisas, não se guardam as mesmas coisas. 12. O Arquivo vive dos grandes e dos pequenos, dos principais e dos secundários, nada do que é humano nos é alheio. Por isso tem espólios relevantes para a história portuguesa (Sá Carneiro, Sousa e Castro, Vítor Crespo, Nuno Rodrigues dos Santos, Hattenberger Rosa, coleção da Direita Radical, revista Mundo da Canção, José Fonseca e Costa, movimento estudantil, vários sindicatos, Pedro Ramos de Almeida, comandante Covas, etc.) e uma correspondência amorosa entre uma costureira e um empregado de escritório, ou os papéis de personagens secundárias da ditadura. A nossa experiência mostra que muitas personagens tidas como secundárias são muito mais importantes do que o que parecem.
13. O Arquivo é sustentável. Sustentável para que não nos aconteça o que aconteceu a outros, criando uma desconfiança sobre os arquivos privados e o seu papel diferenciado dos arquivos públicos. Vive das contribuições dos seus associados, neste momento cerca de 400, e é uma regra básica para nós nunca gastarmos para além dos recursos que temos, nem termos despesas fixas acima das nossas possibilidades. Por isso, quem quiser ajudar-nos, pode e deve associar-se e pagar uma quota conforme as suas possibilidades. 14. O Arquivo é o resultado de uma atividade de amadores, com todas as vantagens e inconvenientes dessa circunstância. Por isso é visto com alguma compreensível desconfiança por parte de alguns profissionais, uns de boa-fé, outros que estão á frente de arquivos mais mortos do que uma múmia e que se ressentem do nosso dinamismo. Não cumprimos todos os
standards e as melhores práticas, por falta de conhecimento e de recursos. Mas estamos a aprender depressa, e muito do que fazemos já tem em conta as regras arquivísticas. Por exemplo, temos práticas de conservação bastante eficazes, controlo da temperatura e humidade relativa, controle de pragas, etc. Digitalizamos com a resolução recomendada para os arquivos e as nossas bases de dados são feitas de modo a serem exportadas para software mais profissional, sem se perder o trabalho anterior. Seguimos as regras de prudência, confidencialidade e proteção de dados, quando tal se justifica. Mas não nos consideramos peados pela regulação burocrática europeia, com enormes absurdos por exemplo quanto aos direitos de autor, que está a permitir a algumas firmas rapaces registar milhares de documentos, anúncios, imagens, etc., como sendo suas, que passam de “órfãos” a terem “pais” que fazem negócio com o registo de paternidade. Não as seguimos porque não concordamos com elas e porque prejudicam, e muito, a divulgação pública, por exemplo, na Internet, de informação de interesse público. E vamos evoluir, quer do ponto de vista da organização do que temos e do que vamos recebendo, quer do ponto de vista tecnológico, sempre com a ajuda e contributo dos nossos amigos. Possuímos já uma pequena estrutura administrativa, um embrião de departamento editorial, uma pequena equipa que prepara exposições, voluntários tendencialmente responsáveis por áreas, como a música, a fotografia, a arte, a literatura, o desporto, o “tempo”, a gastronomia, ou espólios concretos, uma eficiente logística que se ocupa das recolhas, das arrumações, das compras, etc., etc. 15. O Arquivo vive dos seus voluntários, a sua força e capacidade de realização vem dos cerca de 150 mulheres e homens, em todo o país e não só, pois temos os nossos fiéis amigos Espanhóis, Irlandeses e portugueses a viver, nos mais diversos países, que dedicam parte do seu tempo e esforço a recolher papéis, a salvar espólios, a fotografar campanhas, a ir a manifestações, a registar tudo, a inventariarem documentos, a digitalizar, a fazer trabalho físico, como se diz no cartaz “se acha que o trabalho intelectual é leve, venha trabalhar connosco”. Nem sempre é fácil, há quem não queira ser fotografado mesmo estando numa manifestação pública, há quem fique desagradado pelo que documentamos do “interior” da ação política, há quem ache que um Arquivo desta natureza deve ter anátemas e censuras, - por exemplo, não recolher elementos sobre a direita radical, - há quem corra riscos para mostrar o que está a acontecer. Por exemplo, suportar o gás lacrimogénio, e as cargas da polícia para mostrar como são as manifestações dos Gilets Jaunes em Paris.
16. O Arquivo não depende das circunstâncias da sua formação, nem da vida do seu fundador. É hoje um trabalho de uma equipa completamente capaz de lhe dar continuidade. E tem plano B. E, se for preciso, tem plano C. No entanto, precisa de ter um enquadramento institucional que em Portugal não existe, nem em muitos países europeus, mas que existe na tradição anglo-saxónica. Precisa de uma nova lei que compatibilize a solidez patrimonial das fundações com a flexibilidade das associações culturais sem fins lucrativos, que permita manter o património seguro e usar a grande força do trabalho voluntário e da dedicação pro bono. Precisa também de uma lei das fundações que não seja feita a pensar no fisco, nem nas grandes fundações, mas seja amigável com as pequenas e médias que estão em extinção. E que efetivamente puna as fundações fraudulentas que estão a ocupar indevidamente o espaço cívico de quem está a dar a todos aquilo que era privado. Precisa, naturalmente, de mais recursos, e, para isso, conta com as contribuições dos associados. Por tudo isto, mais do que um arquivo e uma biblioteca, o EPHEMERA é um movimento, um movimento pela memória, logo, um movimento pela democracia. José Pacheco Pereira Outubro de 2020
Crédito da Fotografia © Orlando Almeida/Global Imagens. Armazéns da Ephemera Ephemera – Biblioteca e Arquivo José Pacheco Pereira, no Barreiro. In reportagem, "Não deite nada fora!" Pacheco Pereira guarda todos os papéis”, de Maria João Caetano, 22 FEV 2020. Acessível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-fev-2020/nao-deite-nada-forapacheco-pereira-guarda-todos-os-papeis-11848327.html
A PAZ
“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”. ALBERT EINSTEIN (1879-1955) No tema da PAZ estão ilustrados diferentes subtemas, com diferentes cartazes artesanais, que se subdividem em cinco subtemas.
. Manifestação Portugal contra os Incêndios em Viana do Castelo/outubro 2017 . Marcha Mundial do Clima em lisboa/abril 2017 e setembro 2018 . Greve climática estudantil no Porto/15 março 2019
.Marcha Constroem Muros, Aprendemos a Voar em Lisboa/março 2017 . Manifestação Machismo Não é Justiça, É crime em Lisboa/outubro 2017 .19ª Marcha de Orgulho LGBTI+ em Lisboa/junho 2018
. Manifestação do 25 de abril. d'As Toupeiras em Lisboa/2016 . Manifestação pelos Direitos dos Emigrantes em Lisboa/outubro 2016 . Manifestação contra o Racismo em Lisboa/junho 2020
. Manifestação Machismo Não É Justiça, É Crime em Lisboa/outubro 2017 . Manifestação Mexeu com Uma, mexeu com Todas- Não à Cultura de Violação no Porto/setembro 2018 . Greve Feminista Internacional no Porto/08 de março de 2019
. Marcha das Mulheres – Não sejas Trump! no Porto/janeiro 2017.
MANIFESTAÇÕES AMBIENTALISTAS
REIVINDICAÇÕES LGBTI E IGUALDADE DE GÉNERO-INTERSECCIONAL
Crédito da fotografia. Rita Maltez. Associação Cultural EPHEMERA. Agosto 2021
REIVINDICAÇÕES PELO DIREITO DOS REFUGIADOS E DOS EMIGRANTES, RACISMO E BLAKELIVESMATTER
MARCHAS FEMINISTAS E MANIFESTAÇÕES CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL
MANIFESTAÇÕES DE PROTESTO INTERNACIONAL
O PÃO
“Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado, Saborear, enfim, O pão da minha fome. Liberdade, que estais em mim, Santificado seja o vosso nome” MIGUEL TORGA (1907-1995)
Os cartazes que ilustram o tema do PÃO estão relacionados com a TROIKA e a Austeridade, a Precariedade laboral, a Cultura, os Protestos contra as Medidas Governamentais, a Concertação Social e a Concentração de Riqueza, e as Greves Nacionais. Por entre estes cartazes viajaremos até diversas Manifestações, que ocorreram entre 2012 e 2020, num contexto posterior àqueles que ficariam conhecidos para a história, como os Protestos da Geração à Rasca, de 2011. . Manifestação Que se lixe a troika! Queremos as Nossas Vidas no Porto/setembro 2012 . Manifestação pela Cultura e contra o Governo em Lisboa/outubro 2012 . Manifestação Que se lixe a troika! O Povo é Quem Mais Ordena! no Porto/março 2013 . Manifestação Derrube do Governo de Passos Coelho.As Toupeiras em Lisboa/novembro 2015 . Myday Porto na cidade do Porto/maio 2016 . Manifestação O porto não se vende, Ponto! na cidade do Porto/setembro 2017 . Manifestação do 25 de Abril em Lisboa/2018 . Manifestação Stop Censura em Lisboa/julho 2018 . Manifestação Cultura Acima do Zero em Lisboa/abril 2018 . Manifestação do 1º de Maio Contra as Precariedades no Porto/2019 .Concentração Évora pela Liberdade em Évora/18 setembro 2020
HABITAÇÃO
^ "Nós nos dedicamos `a resistência coletiva. Resistência contra a bilionária especulação imobiliária e sua gentrificação. (…)"
ANGELA DAVIS (1944 - )
No tema da HABITAÇÃO estão ilustrados os cartazes relacionados com as questões urbanís cas e paisagís cas, e as medidas de habitação social, mas, sobretudo, relacionados com a gentrificação que tem vindo, gradualmente, a ocorrer e a intensificar-se nas grandes capitais e centros históricos do País. Com a crescente deslocação dos residentes com menor rendimento para outros locais periféricos, de mais baixo custo, e com a crescente transformação das grandes capitais em centros de entrada de residentes com um maior poder económico, devido ao boom imobiliário gerado pela pressão imobiliária nas grandes zonas urbanas e históricas. Através destes viajaremos até três Manifestações. . Concentração do Dia das Trabalhadoras Precárias e Desempregadas no Porto/ 1º de Maio 2017 . Manifestação, O porto não se vende, Ponto! na cidade do Porto/setembro 2017 . Manifestação do 25 de Abril em Lisboa/2018
Cartaz produzido no contexto da atual pandemia Covid-19. Da autoria de Kim Ki Duk (Filipe Correia de Oliveira). Crédito da Fotografia, Arquivo EPHEMERA
SAÚDE
“A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence `a patologia.” FRIEDRICH NIETZSCHE (1844 – 1900) Com apenas três cartazes retratamos a SAÚDE na sua mais extensa atualidade. A Pandemia da Covid-19. Com um cartaz criado pelo autor Kim Ki Duk (Filipe Correia de Oliveira), e outros dois de autoria desconhecida, usados na Greve Feminista Internacional no Porto, a 08 de março de 2019, pretendemos, no atual contexto pandémico, centrarmo-nos em duas grandes preocupações, pelas quais as populações mundiais se têm deparado (de um modo muito desigual, aliás, mas de uma forma bastante trágica, no geral), e que decorrem, inevitavelmente, destes novos procedimentos instalados nas sociedades, à escala mundial. A primeira preocupação prende-se com a corrida às vacinas que, neste momento, em Portugal avança para uma 3ª dose, mas que na generalidade de outros países europeus e mundiais, e em subdesenvolvimento, estão ainda muito aquém. A outra tem que ver com uma das mais preocupantes e severas, mas invisível, repercussão que a pandemia veio intensificar, no que respeita a Saúde Mental, e em grande medida ocasionada pelos vários e sucessivos confinamentos, decorridos dos Estados de Emergência declarados pelos diversos governos a nível mundial, desde março de 2020, altura em que se instalou esta nova era pós-pandémica. Ficará por retratar (quiçá, em futuros cartazes de protesto nas próximas movimentações e contestações sociais), aquele que é já, no contexto da pandemia, um dos mais gravosos flagelos para maioria das populações à escala mundial, e que tem que ver com a deterioração dos diversos, e diferentes sistemas nacionais de saúde, com a perda de autonomia, a perda de equipamentos, mas sobretudo com a perda e a falta de recursos humanos nos Hospitais, e com a profunda crise na ajuda Humanitária para quem, infelizmente, essa já vem tarde. Ou, tarda em chegar.
EDUCAÇÃO
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” PAULO FREIRE (1921 – 1997)
No tema da EDUCAÇÃO os cartazes apresentados estão relacionados com as lutas estudantis e com os profissionais da educação. Estão, duramente, direcionados para os efetivos Governos, e respetivos Ministros da Educação. São cartazes, alguns deles, de diferentes Manifestações Estudantis de 2019, que acabaram por ser, posteriormente, oferecidos à EPHEMERA pelos próprios estudantes, não sendo por isso possível identificar todos os locais de onde provêm. Evidenciam aquelas que são as dores mais sintomáticas de uma dura realidade, para muitos dos alunos que desejam prosseguir com os seus estudos e que, devido a muitos constrangimentos e profundos antagonismos socioeconómicos, não o consegue. Através destes cartazes podemos viajar pelos meandros de duas Manifestações, identificadas. . Manifestação Nacional dos Professores e Educadores, em Lisboa/05 outubro 2018 . Greve climática estudantil, em Viana do Castelo/15 março de 2019
AS TOUPEIRAS
“Eu vou ser como a toupeira Que esburaca Penitência, diz a hidra Quando `a seca Eu vou ser como a gibóia Que atormenta Não há luz que não se veja Da charneca E não me digas agora Estás a espera Penitência diz a hidra Quando `a seca E se te enfias na toca
És como ela Quero-me `a minha vontade Não na tua O hidra, diz-me a verdade Nua e crua Mais vale dar numa sarjeta Que na mão De quem nos inveja a vida E tira o pão” LETRA E MÚSICA DE ZECA AFONSO (1929 – 1987)
Os Cartazes artesanais de protesto d'AS TOUPEIRAS foram realizados por um grupo de 4 amigas, para as Manifestações do 25 de Abril, em Lisboa. Tudo começou em torno ao 25 de Abril de 2014, ano em que se comemoraram os 40 anos da Revolução portuguesa de 1974. Ano em que um grupo de 4 amigas-ar stasplás cas: Bárbara Assis Pacheco, Teresa Dias Coelho, Margarida Dias Coelho, e Piedade Gralha, decidiram juntar-se para descer e “animar a manifestação da Avenida”11. Com cartazes a transbordar de cria vidade, este grupo de 4 amigas con nuou a desenvolver, ao longo destes úl mos anos, uma linha artesanal de cartazes de protesto para as manifestações do 25 de abril. Com uma intenção gráfica, es lis camente, bastante singular, os cartazes resultaram numa esté ca que foi cumprindo essa ideia de imagem e mensagem forte, veiculada por um cartaz de protesto. Mensagens fortes e diretas que falam connosco, com imagens que falam por si! Todos os Cartazes que se seguem são da Manifestação do 25 de abril. d'As Toupeiras, em Lisboa, do ano de 2017. 11
IN vídeo do PUBLICO, de 25 de abril de 2018, por Leonete Botelho e Carolina Pescada. Acessível em https://www.publico.pt/2018/04/25/politica/video/a-triumph-a-cultura-osdespejos-e-por-isso-que-as-toupeiras-saem-da-toca-20180424-221633
AS T-SHIRTS DA EPHEMERA Arquivo Ephemera. Sem indicação de data e/ou local. Crédito da Fotografia, Rita Maltez.
“A inumanidade que se causa a um outro destrói a humanidade em mim”. IMMANUEL KANT (1724- 1804)
As T-Shirts são já o outro legado de memória reivindica va, preservada pela EPHEMERA. São t-shirts recolhidas em diferentes momentos, e em diferentes manifestações. As que apresentamos foram recolhidas pela EPHEMERA, nalguns casos, às portas das próprias manifestações onde foram usadas, e outras foram doadas pelas próprias pessoas que, efe vamente, as usaram nesses momentos de protesto reivindica vo. Algumas destas T-Shirts foram, também, compradas pela EPHEMERA, após as Manifestações, entre as quais, o primeiro conjunto apresentado, em fotografias do Arquivo EPHEMERA. O segundo conjunto de T-Shirts foi recolhido após a Manifestação, 10 Minutos de Barulho no Porto, em fevereiro de 2019.
T-shirt utilizada em manifestação ambientalista, no contexto do movimento de defesa do ambiente e património do Alto Minho. Arquivo Ephemera. Sem indicação de data e/ou local. Crédito da Fotografia, Rita Maltez.
Arquivo Ephemera. Sem indicação de data e/ou local. Crédito da Fotografia, Rita Maltez.
T-shirt utilizada em Manifestação Antifascista - Évora - Arquivo Ephemera. Sem indicação de data e/ou local. Crédito da Fotografia, Rita Maltez.
Arquivo Ephemera. Sem indicação de data e/ou local. Crédito da Fotografia, Rita Maltez.
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IN Artigo, Ação e Pensamento em Hannah Arendt, por Theresa Calvet de Magalhães, publicado em Filosofia do Direito e o Tempo. Estudos em Homenagem ao Professor Nuno M. M. S. Coelho. Cleyson de Moraes Mello e Luciana Maciel Braga (Coordenação Geral). Juiz de Fora (MG): Editar, 2011, pp. 25-30,. Acessível em h ps://www.fafich.ufmg.br/~tcalvet/A%E7%E3o%20e%20Pensamento%20em%20Hannah%20 Arendt.pdf
IN Artigo da RevistaBula, Algo deve mudar para que tudo continue como está”, por Salatiel Soares Correia, 18 JUN 2023. Acessível em h ps://www.revistabula.com/552-algo-deve-mudar-para-que-tudo-con nue-comoesta/
IN Vídeo do PUBLICO, por Leonete Botelho e Carolina Pescada, 25 ABR 2018. Acessível em h ps://www.publico.pt/2018/04/25/poli ca/video/a-triumph-a-cultura-os-despejos-e-por-isso-que-as-toupeirassaem-da-toca-20180424-221633
IN Blog do ISAD News, O QUE FAZ FALTA É AGITAR A MALTA - CARTAZES DO ARQUIVO EPHEMERA, 29 JUN 2019. Acessível em h ps://esad.pt/pt/news/o-que-faz-falta-e-agitar-a-malta-cartazes-do-arquivo-ephemera
IN Reportagem do EXPRESSO, “O arquivo Infinito”, por Cristina Margato, 21 JAN 2018. Acessível em h ps://expresso.pt/sociedade/2018-01-21-O-arquivo-infinito
IN Reportagem (online) Renascença, CARTA DOS DIREITOS DIGITAIS. Nova censura? “Não há um verdadeiro espírito de liberdade”, diz Pacheco Pereira, por Filipe d'Avillez, 01 JUN 2021. Acessível em h ps://rr.sapo.pt/no cia/pais/2021/06/01/nova-censura-nao-ha-um-verdadeiro-espirito-de-liberdade-dizpacheco-pereira/241032/
IN Reportagem, DIÁRIO DE NOTÍCIAS, "Não deite nada fora!" Pacheco Pereira guarda todos os papéis”, por Maria João Caetano, 22 FEV 2020. Acessível em h ps://www.dn.pt/edicao-do-dia/22-fev-2020/nao-deitenada-fora-pacheco-pereira-guarda-todos-os-papeis-11848327.html