como os Balés de Repertório são abordados é apenas uma das maneiras de detectar as falhas desse processo de ensino. Ao visitar as salas de aula de Balé Clássico é possível perceber que os alunos dominam a técnica, mas costumam não ser capazes de questioná-la e compreendê-la historicamente. Em face do panorama descrito e das questões levantadas, proponho outro modo de abordar os Balés de Repertório dentro do ensino da dança, na tentativa de ampliar sua utilização como conteúdo em sala de aula. Para tanto, recorro à Teoria da Transposição Didática proposta por Yves Chevallard e à Abordagem Triangular proposta por Ana Mae Barbosa.
1.3. A Transposição Didática
O termo Transposição Didática foi utilizado pela primeira vez pelo sociólogo francês Michel Verret em 1975, na sua tese de doutorado Le temps des études. “Nesse trabalho, Verret propõe-se a fazer um estudo sociológico da distribuição do tempo das atividades escolares, visando contribuir para a compreensão das funções sociais dos estudantes”. (LEITE, 2007, p.45). Porém quem se dedicou a sistematizar o conceito e desenvolver uma teoria sobre a Transposição Didática foi outro francês, o matemático e didata Yves Chevallard. Segundo Chevallard, a transposição didática acontece em todo processo de ensino, uma vez que existe uma transformação necessária e inerente ao processo educativo que distingue o saber, tal qual ele foi concebido no universo científico, do saber a ser ensinado nas salas de aula.
Um conteúdo de saber que tenha sido definido como conteúdo a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O 'trabalho' que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino é chamado de transposição didática. (CHEVALLARD apud LEITE, 2007, p.:43)
Para o matemático, a transposição didática ocorre no deslocamento do saber de uma instituição à outra, ou seja, o saber necessariamente se transforma no caminho entre a universidade e a escola. Nessa análise, não há por parte do didata nenhuma menção ou juízo de valor a respeito desta transformação, ele afirma apenas que ela é necessária. Chevallard, segundo Leite, acredita que sua teoria apresenta-se como uma oportunidade de corrigir um equívoco comum da tradição das reflexões pedagógicas: a 14