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1. PELA LUZ DOS OLHOS MEUS O ensino da arte está cada vez mais próximo de ser reconhecido pela sociedade em função das forças econômicas, políticas e culturais perceberem nessa disciplina um terreno fértil para a produção de um sujeito que se autogoverna e que se atenta, como diria Foucault, à “trama infinitamente cerrada de processos panópticos” (FOUCAULT, 2012, p.190), ou seja, um sujeito sensível e questionador das “tecnologias
humanas”1(ROSE, 2001). Não basta por tanto dizer que todo o esclarecimento do intelecto só merece respeito na medida em que se reflecte no caráter; também ele emana de certo modo do caráter, uma vez que o caminho par a cabeça tem de ser aberto através do coração. A formação da capacidade de sentir constitui assim a mais urgente carência do tempo, não apenas porque se torna num meio para tornar eficaz para a vida essa forma aperfeiçoada de perspiciência, mas precisamente porque suscita o aperfeiçoamento da perspiciência (SCHILLER, 1993, p. 45- Grifo meu).
Este trecho que escolhi para pulsar este capítulo é para mim extremamente atormentante. Atormentante por seu conteúdo em si e porque este discurso de Schiller, mesmo pertencendo ao século XVIII, ainda se faz atual e necessário. A partir do século XVIII2, o cientificismo se torna o foco das cenas, de tal maneira que os sentidos se tornaram motivo de chacota. As cenas do “Século das Luzes” não foram iluminadas com uma “iluminação geral3”, dito em outras palavras, mostradas com imparcialidade, ao contrário disso, os iluminadores daquela época colocaram no foco – a racionalidade científica – tornando-a verdade absoluta, de maneira que os demais [discursos das cenas] foram enubladas para o segundo plano4, ou levadas para a coxia5, ou talvez ainda, empurradas para o camarim6 e a grande maioria dos espectadores7 ali presentes não conseguiram mais percebê-las.
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“As tecnologias humanas são montagens híbridas de saberes, instrumentos, pessoas, sistemas de julgamento, edifícios e espaços, orientados, no nível programático, por certos pressupostos e objetivos sobre os seres humanos” (ROSE, 2001, p. 38) 2 Nesta monografia utilizarei séculos e datas pontuais com o objetivo didáticos de facilitar a compreensão do leitor. Entretanto, é importante ter em vista que modificações e transformações, por exemplo, de conceitos e pensamentos não acontecem de um dia para outro e/ou em um lugar específico e demarcado. 3 Iluminação Geral: “É iluminação que incide sobre a cena vinda de diversos ângulos proporcionando uma massa homogênea em toda a área utilizada.” (ALVARENGA, 2014) 4 Segundo plano: “É uma região de menor destaque na cena por questões de localização e ou iluminação.” (ALVARENGA, 2014). 5 Coxia: “Local onde o ator aguarda a sua em cena.” (ALVARENGA, 2014). 6 Camarim: “Local onde o ator se prepara para entrar em cena.” (ALVARENGA, 2014). 7 Espectador: “É aquele que constrói o espetáculo a partir do que recebe.” (ALVARENGA, 2014).