FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE – FAINOR CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
EMANUELA DANTAS NEVES
CENTRO CULTURAL DIADEMA DE PEDRA: UMA VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE E CULTURA DA CIDADE DE ITARANTIM-BA
VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2018
EMANUELA DANTAS NEVES CENTRO CULTURAL DIADEMA DE PEDRA: UMA VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE E CULTURA DA CIDADE DE ITARANTIM-BA
Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Professora Orientadora: Alícia Abreu
VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2018
EMANUELA DANTAS NEVES
CENTRO CULTURAL DIADEMA DE PEDRA: UMA VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE E CULTURA DA CIDADE DE ITARANTIM-BA
Projeto Apresentado à Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Professora Orientadora: Alícia Abreu
Aprovado em ___/___/______
Banca examinadora: _____________________________________________________ Alícia Souza Abreu Santos Arquiteta e urbanista Faculdade Independente do Nordeste - Bahia
_____________________________________________________ Fernando Salgado Bernardino Arquiteto e Urbanista Faculdade Independente do Nordeste - Bahia
_____________________________________________________ Júnior Andrade Arquiteto e Urbanista
VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, DEZEMBRO DE 2018
RESUMO
Toda comunidade tem para si hábitos, costumes e valores que as tornam únicas e as diferem de outras comunidades. Essas características são importantes pois por meio delas é possível conhecer o modo de vida, sua identidade e suas contribuições para o desenvolvimento de um povo ou civilização. Por essas, dentre outras características, denominamos de cultura. Por meio dela surgem muitas possibilidades e avanços individuais ou coletivos que contribuem de forma significativa na vida do ser humano e em sua relação com o meio em que vive. Assim, o presente trabalho busca justificar a implantação de um Centro Cultural para a cidade de Itarantim, localizada no centro sul da Bahia. Sua necessidade se dá pelo número considerável de artistas existentes no município sem representatividade e pela falta de espaços urbanos de incentivo à cultura e interação social na cidade e região. Para tanto, a pesquisa visa analisar o conceito e origem dessa temática assim como a relevância dos espaços culturais para a sociedade como agente capaz de difundir conhecimento, criar relações, ampliar percepções e transformar uma sociedade. Palavras-Chave: Cultura. Identidade. Centro Cultural. Arquitetura.
ABSTRACT Every community has habits, customs and values that make them unique and differ from other communities. These characteristics are important because through them it is possible to know the way of life, its identity and its contributions to the development of a people or civilization. To these, among other characteristics, we call culture. Through it arise many possibilities and individual or collective advances that contribute significantly in the life of the human being and in his relationship with the environment in which he lives. Thus, the present work seeks to justify the implementation of a Cultural Center for the city of Itarantim, located in the southern center of Bahia. Its necessity is due to the considerable number of artists existing in the municipality without representation and the lack of urban spaces to encourage culture and social interaction in the city and region. For this, the research aims to analyze the concept and origin of this theme as well as the relevance of cultural spaces to society as an agent capable of spreading knowledge, creating relationships, expanding perceptions and transforming a society. Keywords: Culture. Identity. Cultural Center. Architecture.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 8 2 EXPLORAÇÃO TEÓRICA DO TEMA ...................................................................................................... 10 2.1 Teorias e Conceitos .......................................................................................................... 10 2.1.1 O Conceito e História da Cultura .................................................................................. 10 2.1.2 Importância da Cultura para a Formação da Sociedade............................................... 13 2.1.3 Espaços de Cultura ........................................................................................................ 14 2.1.4 A Cidade de Itarantim e sua Produção Cultural ............................................................ 17 2.2 Projetos Referenciais ....................................................................................................... 24
2.2.1 Centro Cultural El Tranque - Lo Barnechea, Santiago, Chile. .......................... 24 2.2.2 Centro Comunitário Social - Rapa Nui, La Serena,Chile.................................. 27 2.2.3 Centro Cultural São Paulo - São Paulo, Brasil. ................................................. 29 3. APRESENTAÇÃO DA ÁREA ................................................................................................................. 31 3.1 Inserção do empreendimento ......................................................................................... 32 3.2 Localização ....................................................................................................................... 33 3.3 Usos e atividades do entorno .......................................................................................... 34 3.4 Indicação de Infraestrutura urbana ................................................................................. 35 3.5 Condicionantes Físicos ..................................................................................................... 36 3.6 Legislação ......................................................................................................................... 41 3.6.1 Saídas de Emergência ................................................................................................... 43 3.6.2 Acessibilidade ............................................................................................................... 46 3.6.3 Cálculo de reservatório ................................................................................................. 46 4 CONCEITO E PARTIDO ........................................................................................................................ 47 5 PROGRAMA DE NECESSIDADES .......................................................................................................... 48 6 FUNCIONOGRAMA ............................................................................................................................. 52 7.1 Iluminação e Ventilação natural ...................................................................................... 58 7.2 Conforto visual e acústico ............................................................................................... 59 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 62 APÊNDICES ............................................................................................................................................ 64 Apêndice A- Formulário online para a população de Itarantim-Bahia e região....................................65 Apêndice B - Questionário realizado com o ator e coordenador da Casa de Cultura de Itarantim-Bahia ................................................................................................................................................................69
Apêndice C- Termo de autorização de uso de uso de imagem e/ou depoimento ........74
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1 INTRODUÇÃO O presente trabalho diz respeito a uma proposta de projeto arquitetônico de um Centro Cultural para a cidade de Itarantim-Bahia, buscando atender a carência de um espaço de cultura, lazer e sociabilidade que o município e região possuem. Para tanto, o projeto conta com espaços de interação, criação, produção e apresentação cultural, com intuito de integrar a comunidade de todas as faixas etárias de modo que haja uma relação de troca de vivências e conhecimento entre a população para que ela se aproprie melhor do seu bem e permita o reconhecimento de sua identidade. Atualmente, o Brasil é um país onde o acesso à educação e cultura é limitada para algumas classes sociais, a minoria da população. À maioria, é destinada somente a educação básica, precária e insuficiente, gerando na maioria das vezes pessoas despreparadas e desmotivadas na busca de um crescimento pessoal, profissional e social. Desse modo, é importante observar o papel da cultura no processo de formação cidadã, no modo de pensar e viver, na construção de uma identidade e, consequentemente, na organização de uma sociedade justa e igualitária (VILUTIS, 2009). Portanto, a produção de espaços que contribuam e incentivem a disseminação da cultura se faz necessária e deve ser feita de forma que inclua, sempre que possível, todas as classes, idades e gêneros, promovendo a educação por meio de atividades que capacitem os participantes e assegure uma oportunidade de inserção na vida em comunidade. Diante disso, surgiu o interesse pelo tema desse trabalho. Um Centro Cultural para Itarantim, cidade do interior da Bahia que, de acordo com o ultimo censo do IBGE (2010) possuiu 18.539 habitantes com uma estimativa de 20.314 pessoas no ano de 2017. Sua economia é baseada na agropecuária, pequenas indústrias, serviços e agricultura familiar. A educação pública é garantida até o ensino médio, onde é limitado o número de alunos que ingressam no ensino superior e pouco é o incentivo a arte e cultura. Em consequência, os jovens que não possuem oportunidade financeira de fazer um curso técnico ou superior se deparam com uma limitação no mercado de trabalho. Com a falta de qualificação profissional, também não há o interesse em investimentos e tudo isso interfere consequentemente no desenvolvimento econômico do município. Outro fator que pode ser observado é a quantidade de artistas e produção cultural existente no município sem valorização e reconhecimento da própria comunidade. Diante disso, a proposta do projeto arquitetônico de um Centro Cultural tem como objetivo principal, atender o público com estrutura adequada para suas atividades
9 proporcionando aos usuários um ambiente funcional, confortável e prazeroso de permanecer e realizar atividades. Além disso, o projeto visa promover além de um espaço de cultura, espaços de cursos e oficinas para qualificação e aprimoramento de atividades já existentes na cidade, contribuindo com a promoção da valorização da identidade cultural, reforçando o laço comunitário e a noção de pertencimento com a cidade. À princípio, o estudo se fundamentou com o método de abordagem dialético, onde foram analisadas as causas da cidade de Itarantim necessitar de um centro cultural, tendo em vista a falta de oportunidades na cidade e a desvalorização cultural e de artistas existentes na região. A partir disso, percebeu-se os benefícios que o centro poderá proporcionar, oportunizando uma maior interação da população com a sua cultura, difundindo-a e permitindo novas perspectivas de crescimento pessoal, social e econômico para a comunidade. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica exploratória por meio de livros, dissertações, artigos e outras publicações para refinamento do significado de Cultura, sua relevância e como se deu a origem do Centro de Cultura destacando sua importância para a sociedade. Para obter um levantamento de dados, foi realizada uma coleta documental direta intensiva por meio de uma pesquisa de campo sobre a cidade e artistas de Itarantim, local onde será implantada a proposta. Com o intuito de melhor compreender a atual situação da cultura na cidade, foi realizada uma visita à Casa de Cultura para conhecer o espaço e adquirir mais informações sobre os artistas e a produção cultural existente no município. Posteriormente, por meio da técnica de pesquisa de observação direta extensiva, foi realizado um questionário para ser encaminhado ao coordenador da Casa Hudson Rocha. Ainda com essa técnica, realizou-se outro questionário aplicado via plataforma online junto aos moradores para identificar se a população sente a falta de um espaço cultural no município e como este deverá ser para melhor atendê-los. O questionário contribuiu para complementar o programa de necessidades, levando em consideração a afirmação de Renata Neves de que “a programação do centro cultural e suas características físicas devem ser definidas, através do meio onde ele será construído e o perfil de público que ele atenderá, cujas atividades culturais não devem ser realizadas para as pessoas, mas com elas” (2013, pg. 5). Ao final, essas informações foram utilizadas como embasamento no processo de desenvolvimento do projeto arquitetônico para que este atenda às necessidades da população com excelência.
10 2 EXPLORAÇÃO TEÓRICA DO TEMA 2.1 Teorias e Conceitos 2.1.1 O Conceito e História da Cultura O vocábulo cultura teve sua origem no latim Colere que significa cultivar. No século XIII esse termo era usado para expressar o cuidado a algo como animais ou plantações. Somente no século XVI surge a definição de cultura como capacidade de desenvolvimento intelectual (CANEDO, 2009). “Mas este sentido figurado será pouco conhecido até a metade do século XVII, obtendo pouco reconhecimento acadêmico e não figurando na maior parte dos dicionários da época” (CUCHE, 1999, p. 19). No século XVIII, a cultura é empregada no singular e ganha sentido figurado. Quase sempre acompanhada de um complemento como “cultura das artes”, “cultura das letras” está associada à necessidade de expor o que está sendo cuidado (CUCHE, 1999). A partir disso, a cultura ganha significados distintos em países como Alemanha e França. Analisando o sentido francês, já que a palavra era antiga em seu vocabulário e foi a partir dele que expandiu seu significado durante o iluminismo, o termo cultura para os pensadores iluministas franceses são os saberes adquiridos e expressados pela humanidade associadas a evolução e razão que são características centrais do pensamento da época. “Cultura se inscreve então plenamente na ideologia do iluminismo: a palavra é associada às ideias de progresso, de evolução, de educação, de razão que estão no centro do pensamento da época” (CUCHE, 1999, p.21). Com o passar do tempo muitos antropólogos e filósofos se interessaram pelo tema, trazendo novas interpretações de acordo com cada ramo das ciências. Na visão das ciências sociais, a cultura é um complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade. São padrões de comportamento típicos de uma sociedade e capazes de modelar a ação do indivíduo e rede de significados que os indivíduos tecem em suas interações cotidianas, que funcionam como um código que informa o comportamento (um texto que nos ajuda a interpretar nossas vidas, um mapa para a ação) (ROCHA, 2010, p. 10).
Conforme Laraia (1932), o conceito científico de cultura foi criado no século XIX por Edward Tylor, importante antropólogo britânico que definiu que “Cultura e civilização, tomadas em seu sentido etnológico mais vasto, são um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade” (TYLOR, 1871, apud
11 ROCHA, 2010, p. 10). Segundo Taylor, a cultura era um fenômeno natural onde a mente humana adquire o conhecimento e cultura de acordo com suas vivências e o meio onde está inserido. Na contemporaneidade, o significado mais aceito é que cultura é toda produção humana como expressões, vivências sociais, arte, dança, leis, costumes, crenças entre outros (CANEDO, 2009), que os diferencie de outros povos criando uma identidade. Para Cuche (1999, p. 9) “o homem é essencialmente um ser de cultura [...]”. Em cada lugar do mundo o ser humano habita de modo diferente, adaptando sua forma de agir, pensar e fazer de acordo as suas necessidades. Em vista disso, a cultura não está limitada somente ao grau de estudo, sofisticação ou à produção artística, pelo contrário, está ligada a todo hábito, tradições e costumes produzidos por uma comunidade. No Brasil a noção de cultura surgiu juntamente com a política, durante o período da chegada da família real. Naquela época, só tinha acesso à cultura a população mais abastada, como manifestação de superioridade. Clarissa Cavalheiro (2010, p.8) ressalta que nesse período “a Cultura era vista somente como justificação do poder, para os que tinham os melhores salários e para os mais “esclarecidos” podemos dizer assim” e os indígenas eram tidos como um povo “sem cultura”. Principalmente no Rio de Janeiro, onde a família real vivia, os hábitos e atividades culturais para as pessoas mais abastadas se tornara reflexo dos seus colonizadores. Não se valorizavam os artistas brasileiros, tentava-se imitar os costumes europeus, modelo de modernidade. “[...] a cultura brasileira é profundamente desvalorizada pelas elites, tomando-se em seu lugar a cultura europeia [...] como modelo de modernidade a ser alcançada” (OLIVEN, 2001, p.3). Posteriormente, já no século XX, a reação na busca pelo reconhecimento partiu justamente dos próprios artistas brasileiros, buscando levantar discussões sobre a identidade nacional a fim de recuperá-la. Realizou-se nesse intuito a Semana de Arte Moderna de 1922. Nesse contexto, Sérgio Costa (2012, no prelo1) ressalta que “as reivindicações do modernismo agiram como marco reflexivo e decisório para se interpretar e construir o mito brasileiro, capitular nossa história, resgatar suas gêneses e alçarlhe ao devido patamar de patrimônio do país.” A Semana de 22 reavivou a cultura brasileira e
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COSTA, Sérgio de Melo. Políticas culturais no Ceará: Estudo sobre a criação do Centro Cultural Banco do Nordeste. Ceará, Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, 2012. Disponível em: <http://www.cienciassociais.ufc.br/wpcontent/uploads/2017/05/2012-sergio-costa.pdf>. Acesso em maio de 2018.
12 aproximou os artistas do Estado. Com isso, o país passa a observar com maior consciência a cultura e a rever as necessidades dessa área. Despertada a preocupação com a identidade cultural, em 1930 no governo de Getúlio Vargas foram criadas políticas públicas originando o primeiro Conselho Nacional de Cultura. Alguns anos mais tarde, criou-se o Ministério de Cultura, no governo de José Sarney no ano de 1985, para o reconhecimento da importância da área. Cinco anos depois o ministério se transformou em Secretaria de Cultura. Em 1990, por meio da Lei 8.028 de 12 de abril daquele ano, o Ministério da Cultura foi transformado em Secretaria da Cultura, diretamente vinculada à Presidência da República, situação que foi revertida pouco mais de dois anos depois, pela Lei 8.490, de 19 de novembro de 1992 (Ministério da Cultura, 2013).
Essa iniciativa se deu pela necessidade de alterações tanto da estrutura física quanto administrativa para conseguir recursos que contribuísse na produção cultural. Dentro dessa secretaria foram criados alguns programas e ações como, por exemplo, o Cultura Viva, que de acordo com o Ministério de Cultura, “[...] foi criada em 2014 para garantir a ampliação do acesso da população aos meios de produção, circulação e fruição cultural a partir do Ministério da Cultura, e em parceria com governos estaduais e municipais e por outras instituições, como escolas e universidades”. Esse programa é até hoje o mais reconhecido e promove eventos nas mais diversas áreas da cultura em todo o Brasil. Aliados ao programa Cultura Viva, surgiram os Pontos de Cultura, entidades culturais apoiadas pelo Estado escolhidos por meio de editais com o objetivo de difundir ações culturais já existentes que tenham relevância para a sociedade. Além deste programa, existem também o Pontinho de Cultura, que visa a preservação da cultura infantil promovendo atividades lúdicas; e os Pontões de Cultura, que são entidades certificadas pelo Ministério da Cultura com o papel de acompanhar e articular atividades junto aos Pontos de Cultura em nível municipal, regional ou estadual, ou por áreas de interesse. Como característica importante, o Ponto de cultura tem como objetivo englobar públicos de diferente faixa etária, sexo, raça ou crença e produzir atividades como museus, bibliotecas, centro culturais, cinema, rádios comunitárias, centro de preservação patrimonial, entre outros. Esses projetos não possuem atividades padrão, cada um se adequa às atividades existentes na região onde será implantado, mas todos possuem o objetivo de valorizar e propagar as atividades culturais existentes.
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2.1.2 Importância da Cultura para a Formação da Sociedade Em cada lugar e em cada período, a população constrói hábitos, costumes e crenças que as diferem de outros grupos e as identificam. Essas características são passadas para as futuras gerações e se tornam importantes pois refletem a cultura local e influenciam no desenvolvimento do seu povo e, consequentemente, na construção de uma identidade. Desse modo, a cultura possui um papel fundamental de difundir conhecimento, criar relações, ampliar percepções e transformar uma sociedade. Como contribuição social, a cultura evoca o respeito à diversidade, seja geográfica, social ou étnica, promove ainda a interação e a socialização das pessoas de diferentes grupos, quebrando barreiras e preconceitos, mediante o acesso à informação de forma que os envolvidos busquem debater e discutir sobre as temáticas e evoluam sua percepção de mundo. A cultura oferece elementos para os sujeitos se apropriarem de sua história, terem consciência de seu passado e poderem projetar o futuro. Dessa forma, a cultura reúne os fundamentos para os cidadãos reivindicarem novos e outros direitos, para abrirem espaços de participação e exercerem sua cidadania ativa (VILUTIS, 2009, p. 23).
Destaca-se ainda a cultura como direito à cidadania. Além da criação, produção e consumo, os indivíduos que usufruem da cultura se tornam agente políticos, influenciadores e modificadores do espaço, que lutam pelos direitos e acesso aos bens, resguardando a liberdade de usos e difusão de sua cultura. Ainda no contexto de relevância da cultura, ressalta-se a econômica. A medida que oportuniza o conhecimento e produção de atividades possíveis de se tornarem uma atuação profissional. Célio Turino afirma que “Ao adotar uma nova atitude cultural podemos modificar as relações econômicas, abrindo caminho para uma economia solidária, com consumo consciente, comércio justo e trabalho colaborativo” (2010, p.80). Segundo ele, a economia deve ser trabalha junto com a ética e a estética. A junção desses três e “[...] é essencial para a organização da vida humana e pode cimentar uma nova significação para a cultura e para a própria sociedade” (2010, p.80). A cultura forma relações e transforma sociedades, relaciona pessoas, cria oportunidades, progride civilizações e constrói identidades.
14 2.1.3 Espaços de Cultura De acordo com Ramos (2007, apud NEVES, 2013), possivelmente a origem dos espaços de cultura se deu na antiguidade clássica, com a construção da Biblioteca de Alexandria. Criada para guardar toda a produção de conhecimento da época, era um lugar de estudo, reflexão e culto de adoração aos deuses. A biblioteca possuía espaços para armazenagem de materiais cirúrgicos, objetos de arte, estátuas, anfiteatro, observatório, salas de leitura e jardins. Tempos depois, no século XIX, a criação de centros foi instigada pela construção do Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris, fundado em 1977. Criado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, a edificação abriga um dos maiores museus do mundo além de institutos de pesquisa, espaços para shows, cinema, uma grande biblioteca, restaurantes e jardins. Figura 1 – Fachada do Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris.
Fonte: Dicas de Paris. Disponível em: < https://www.dicasparis.com.br/2015/06/centro-museu-georgespompidou-em-paris-franca.html >. Acesso em maio de 2018.
Através dessa obra, a França impôs um novo estilo e deu um salto qualitativo no que se considera realmente um trabalho cultural. Tendo sido a responsável pela propagação de um novo conceito de centro cultural, concretizado no George Pompidou, atribuído à sua grandiosidade física e à qualidade das ações ali realizadas. Inspirando no mundo inúmeros centros culturais [...] (NEVES, 2013, p. 4).
Os centros culturais foram criados para a disseminação da cultura, com atividades diversas que convidem a participação da comunidade conferindo também espaços de lazer, eles devem fomentar a produção e difundir o conhecimento. Apesar das obras citadas acima, esses espaços não precisam ser monumentais. Segundo Renata Neves (2013, p.2) “Existe a precisão de assegurar a relação entre centro de cultura e a realidade local, não havendo a
15 possibilidade de se fazer cultura distanciada e fora da realidade onde se encontram os grupos sociais, deve-se, portanto, obter vínculos com a comunidade e os acontecimentos locais”. Esses espaços devem conter alguns fatores característicos de um espaço de cultura: a criação, circulação e preservação. A criação, buscando estimular os usuários à produção; a circulação de conhecimento tendo em vista a formação intelectual; e a preservação, promovendo a construção de uma identidade e consequentemente a preservação dos seus bens culturais. No Brasil, embora já se falasse sobre a importância da cultura, os primeiros centros foram construídos nos anos 80, o centro cultural do Jabaquara e o Centro Cultural São Paulo, ambos na cidade de São Paulo. A partir daí houve um crescimento relevante até os dias atuais, talvez pelas condições de incentivos fiscais às empresas investidoras. O Incentivo Fiscal, também chamado de renúncia fiscal ou mecenato, é uma forma de estimular o apoio da iniciativa privada ao setor cultural. O proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e, caso seja aprovada, é autorizado a captar recursos junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real visando à execução do projeto (Ministério da cultura, 2016)
Dessa forma, pessoas físicas ou jurídicas que investem em projetos culturais podem aplicar parte do imposto de renda como doações ou patrocínios à essas atividades, por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), conforme Art. 18, capítulo IV da Lei Nº 8.313 mais conhecida como Lei Rouanet: Art. 18. Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do Imposto sobre a Renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de natureza cultural, como através de contribuições ao FNC, nos termos do art. 5o, inciso II, desta Lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos no art. 1o desta Lei (BRASIL, 1991).
Dentre os centros culturais brasileiros é possível identificar quatro tipos de estrutura: a grande construção; a restauração; o remendo; e a mistura grossa (NEVES, 2013). A grande construção se caracteriza por sua arquitetura, investimentos elevados, grandes dimensões e um amplo programa de serviços. A restauração se destaca pela relevância da própria edificação, por ser um bem histórico de importância para a cidade. A esse tipo, o novo uso deve ser cautelosamente estudado visando a preservação e conservação. O remendo, é quando o centro cultural é instalado em um espaço que não foi pensado para esse fim, como uma casa por exemplo, sendo adequado por meio de reformas que possibilite o novo uso. E a mistura
16 grossa está relacionada a falta de recursos, onde as atividades são instaladas em qualquer lugar. Os centros culturais são criados no Brasil cada um a seu modo e com suas possibilidades. Ainda assim, em qualquer forma, eles possuem a necessidade de garantir uma relação entre o lugar e seu usuário. As características do centro cultural e as atividades a serem desenvolvidas devem ser escolhidas de acordo o perfil do público e do lugar onde será implantado. Dessa forma, as pessoas não serão somente espectadores, mais atuantes no espaço por se identificarem com o mesmo. A qualidade dos ambientes e sua funcionalidade depende do modo como será inserido e integrado com as outras áreas. A setorização deve ser feita de acordo com sua função: informar, discutir e criar. As atividades do setor de informação são: bibliotecas, galerias de exposições, teatro e cinema. O setor de discussão é composto por auditórios, salas de reuniões, espaços de convivência e pátios. Já o setor de criação é composto pelas salas de cursos, oficinas e ateliês. Existe também o setor que dá apoio às outras áreas como os sanitários, almoxarifado, administrativo, depósito, entre outros. Aliados a esses, também deve haver o setor comercial, onde ficam os restaurantes, lojas, livrarias e lanchonetes. Neves (2013, p.6) cita que os principais atributos relacionados à um centro de cultura são: “possibilidade de vários acessos, democratização dos espaços, integração das diversas atividades através de visuais livres, adequação ambiental nas salas de exposições, integração do público”. A possibilidade de vários acessos permite que o visitante não se intimide e se sinta mais acolhido, a acessibilidade também é importante e deve ser considerado em todo o espaço para a continuidade do passeio sem empecilho. A democratização dos espaços se dá com a localização dos ambientes em torno de um espaço de convívio onde todos participem fortalecendo ainda mais a ideia de acolhimento e união. A adequação ambiental nas salas de exposições está relacionada a harmonia visual dos ambientes e suas atividades. Esse fator é importante pois identifica os espaços e se torna atraente provocando a participação do público. Igualmente, devem ser analisados o dimensionamento dos espaços, circulação, iluminação e ventilação para que haja funcionalidade e conforto. Em especial, é preciso analisar com cuidado a funcionalidade e iluminação das salas de exposições, pois a iluminação é responsável por realçar as obras deixando-as mais atraentes e delimitar os espaços onde for necessário. Outro fator importante na organização dos espaços é como reunir o público espalhado durante os intervalos por meio de áreas de convivência (como pátios, praças, restaurantes e lanchonetes) que permitam o bate papo, a leitura, o estudo e a contemplação. É interessante que esses ambientes funcionem independente do horário do centro cultural para que sirva também como ponto de encontro de lazer para a população.
17 Todas essas análises colocadas em prática, atribuem qualificação ao centro cultural de forma que sua verdadeira função seja desempenhada e não se torne somente uma edificação intitulada de centro cultural sem ser apropriado pela população. 2.1.4 A Cidade de Itarantim e sua Produção Cultural A origem da cidade de Itarantim se deu a partir do interesse do senhor Antônio Guedes, proprietário da fazenda Três Pontas, em fundar um arraial na sua propriedade, localizada na cidade de Macarani, no interior da Bahia. Foi então criado no ano de 1946 e se denominou Arraial Nova Esperança. Em 1961, o Arraial foi desmembrado do município de Macarani, vindo a se tornar, posteriormente, a cidade de Itarantim que significa na língua tupi-guarani Diadema de Pedra. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010), “Inicialmente, o arraial Nova Esperança foi agregando famílias que pretendiam explorar comercialmente a região – ao todo quatorze famílias – que em sua maioria estão até hoje no município”. O município possui uma população estimada para 2017 de 20.314 habitantes em uma área de 1.674,051 km² segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010). Figura 2 - Vista panorâmica da cidade de Itarantim-Ba
Fonte: Cidade Acontece. Disponível em: < http://www.cidadeacontece.com.br/itarantim-comemora-69-anos/>. Acesso em março de 2018.
Com uma economia baseada na agropecuária, pequenas indústrias e serviços, a cidade se desenvolve a passos lentos. A educação pública é garantida somente até o ensino médio e a oportunidade de um ensino superior se dá por meio de uma instituição particular que disponibiliza cursos de licenciatura e graduação com aula uma vez por semana ou para quem tenha oportunidade de sair para cidades que possuam ensino superior na região. Quem não tem condições de pagar pelo ensino superior infelizmente se depara com uma limitação
18 no mercado de trabalho. Em vista disso, percebe-se uma necessidade de aperfeiçoamento nas áreas de mercado já existentes que gere renda contribuindo para o crescimento da produção, de empregos e da economia no município. Outra necessidade, é no que se refere a espaços de lazer de qualidade, visto que hoje em dia a população só possui praças para este fim. Em se tratando de cultura, Itarantim possui artistas em diversas áreas e que boa parte da população não conhece, a começar pelo grupo de teatro Plus Artes Cênicas que deu o ponta pé inicial na busca por um espaço físico para a realização das atividades culturais. Ainda nas artes cênicas existe o Grupo de Teatro Diadema de Pedra, o grupo de Teatro Adorart e o Grupo Companhia de Dança. Além dos grupos, Itarantim também conta com o ator Edlan Costa, primeiro ator da região formado e que possui registro profissional. Partiu dele o interesse para a criação do grupo de teatro Adorat, se tornando uma referência por incentivar e contribuir com o desenvolvimento artístico na cidade.2 O graffite é representado por Mr. Júlio Ferreira, que começou a desenvolver seu trabalho em São Paulo, sua terra natal, onde aprimorou suas técnicas de Graffite em WildStyle ( estilo de letras entrelaçadas e coloridas), 3D (técnica em três dimensões que formam a imagem dando impressão de realismo), Bomb (técnica elaborada onde muitas vezes só quem entende são os profissionais envolvidos no graffite) e Produção (Painéis ou murais em grandes dimensões) e se especializou em Peace (técnica que usa cores vivas e mensagens, muitas vezes de paz ou protesto) e Personagem (pintura de bonecos de autoria do artista. Figura 3- Graffite feito por Julio Ferreira
Fonte: Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=894611860625929&set=pb.100002313705201.2207520000.1527775437.&type=3&theater>. Acesso em maio de 2018.
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Todo material sobre os artistas da cidade foi disponibilizado pelo artista e influenciador de cultura Leandro Ferreira Nascimento.
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Figura 4- Graffite feito por Julio Ferreira em parceria com outros graffiteiros da cidade.
Fonte: Facebook. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=148739284688514&set=pb.100002313705201.2207520000.1527775339.&type=3&theater>. Acesso em maio de 2018.
Júlio também é Bboy (dançarino que se expressa por meio de batidas de hip hop) e já participou de vários festivais e eventos ligados ao estilo. Se mudou para a Bahia em 2001 e anos depois atuou como educador em Itarantim dando aulas de graffite e danças urbanas para crianças e jovens do município. Júlio foi selecionado 3 vezes consecutivas entre os melhores grafiteiros de América do Sul para o festival Internacional Bahia de Todas as Cores-BTC, participando até a última edição realizada no ano passado - BTC 2018. Na capoeira, o mestre Paulo Gonçalves, conhecido como Faísca é referência pelo seu legado. Com 32 anos de experiência, Faísca já participou de eventos nacionais e internacionais. Devido a vivência de uma infância difícil, ele encontrou na capoeira motivos para vencer as adversidades da vida e se apoiou nessa ideia ao decidir trabalhar com projeto voluntários ensinando crianças e jovens de baixa renda, criando atualmente a escola Humildade. Foram mais de 1000 alunos formados pelo mestre Faísca. Atualmente, ele desenvolve projetos na região e em Itarantim, exerce atividades no Centro de Referência e Assistência Social - CRAS, além de promover eventos nesse segmento há 22 anos. Alguns alunos dão continuidade a essa manifestação cultural com o grupo chamado Voo de Liberdade onde se destaca o contramestre Dija, que realiza atividades em parceria com a Pastoral da Família para educar jovens e crianças da comunidade por meio da capoeira.
20 Figura 5- Apresentação do grupo Voo de liberdade na Praça
Fonte: Territorialização da cultura. Disponível em:< https://territoriosculturaisbahia.wordpress.com/2015/08/16/secult-promove-integracao-com-artistas-domunicipio-de-itarantim-no-medio-sudoeste-da-bahia/>. Acesso em maio de 2018.
Destaca-se ainda na música a Orquestra Filarmônica 15 de Junho, regida pelo Maestro Almir, que desenvolve um projeto educando jovens por meio da música e instrumentos. A filarmônica é vinculada à Secretaria de Educação do Município e já se apresentou em várias cidades da Bahia. Já no artesanato, a diversidade de técnicas usadas impressiona e são inúmeros artistas que se destacam. É o caso do artesão Willian Alcântara na pintura em tela, Nadma Neves no corte e costura, Dona Isabel com crochê e pintura, Léo Ferreira com artesanato em cerâmica, Gilmar Palmeira com arte em madeira e Robério Rios também com arte em madeira, argila, machê e reciclagem. Figura 6- Arte em madeira feita por Gilmar Palmeira
Figura 7- Exposição de arte na Feira Social de Teatro, Arte e Som em 2015
Fonte: Acervo do artista.
Fonte: Itarantim agora. Disponível em: <http://itarantimagora.blogspot.com/2015/12/foium-sucesso-o-festas-feira-social-de.html>. Acesso em maio de 2018.
21 Outra expressão cultural da cidade é o Reisado, cortejo de caráter religioso que comemora o nascimento de Jesus e a visita dos três reis magos. Realizado entre os dias 25 de dezembro e 6 de janeiro, o grupo sai pela cidade cantando e visitando igrejas, praças e casas da comunidade anunciando a chegada do Messias. Elieuza Fernandes (no prelo)3 relata que as folias de santos Reis, no Brasil, têm origem no catolicismo com os costumes e as práticas religiosas feitas por meio de procissões, de fazer proximidade entre as expressões de fé e as experiências vividas pelo povo. Nas procissões de cunho significativo, representando a caminhada do povo pela passagem da vida, introduziram as danças, também manifestações corporais, salientando poder louvar ao Deus Criador da vida com a mente, por meio das orações e práticas da caridade, mas também com o corpo, templo do Espírito Santo (2015, p. 17). Figura 8- Apresentação do grupo Terno de Reis
Fonte: Itarantim Agora. Disponível em: <itarantimagora.blogspot.com/2013/08/a-conferencia-municipal-decultura-de.html>. Acesso em maio de 2018.
Em Itarantim, o grupo Terno de Reis é liderado por dona Maria Pereira dos Santos mais conhecida como dona Totinha, que assumiu o posto após a morte de seus pais, mantendo viva a tradição até hoje. O grupo já circulou por várias cidades do sul da Bahia e norte de Minas Gerais disseminando a cultura popular. Além disso, existe no município a produção de aguardente artesanal, uma prática comum na Bahia considerada como o segundo maior patrimônio cultural brasileiro, de acordo com o Estudo de Mercado para Cachaça da Bahia (SEBRAE, 2016), que se tornou tradição e identidade cultural da cidade conhecida nacionalmente pela sua qualidade. A atividade possui
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FERNANDES, E. B. Reisados: O Legado Cultural para a Sociedade Canabravense. Bralília, Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do título de especialista em Educação em e para os Direitos Humanos e Diversidade Cultural na Universidade de Brasília, 2015. Disponível em:< http://bdm.unb.br/bitstream/10483/14709/1/2015_ElieuzaBispoFernandes_tcc.pdf>. Acesso em maio de 2018.
22 uma Associação de produtores e já participou de ações como cursos sobre técnicas de produção, seminários e palestras realizados em diversas cidades, desenvolvidas pelo Governo do Estado com o Programa de Aproveitamento Integral da cana-de-açúcar (Pro-Cana). Desse modo, é interessante que haja um espaço no Centro de Cultura que incentive e propicie encontros de conhecimento sobre essa temática. Atualmente, o único espaço cultural existente é a Casa de Cultura Plus Artes Cênicas4, criada recentemente no município e ainda em formação. A Casa é uma proposta selecionada no Edital de Premiação Calendário das Artes 2017 1ª Chamada da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e propõe um projeto de produção cultural e atividades que permeiam diversas linguagens artísticas (Artes Visuais, Capoeira, Circo, Culturas tradicionais, Dança, Literatura, Música e Teatro) por meio de exposições de artistas da cidade, espetáculos, ensaios, discussões e palestras. É relevante dizer que o projeto conta com toda equipe atuando como voluntária e o valor recebido pela premiação do edital será destinado somente para custear a manutenção da Casa (aluguel, material de divulgação, materiais para as oficinas, entre outros). É uma tentativa de valorizar os artistas da cidade de forma que possuam um espaço físico para a produção de sua arte e ao mesmo tempo, fazer com que a comunidade participe e também se aproprie melhor de sua cultura. Como afirma Célio Turino, Os grupos sociais, quaisquer grupos, precisam e querem ver-se no espelho e saber que a imagem refletida é aquela que desejam refletir, seja por meio audiovisual, exposição, dança, literatura, música ou na política. Reconhecerse no espelho é vital para a formação da personalidade humana, quanto mais de sociedades (2010, pg. 16).
Nesse contexto, é importante destacar também a Escola Municipal de Artes Domésticas de Itarantim – EMADI. Fundada por volta de 1970 na cidade, a EMADI tinha o intuito de incentivar as atividades artísticas às mulheres da época, principalmente às com menor condição financeira, para que essas atividades pudessem vir a ser uma fonte de renda para suas famílias. A escola oferecia cursos de corte, pintura em tela, molde vazado, tricô, bordado à máquina, bordado à mão e datilografia, possuía turmas no período matutino e vespertino, todas com grande número de alunas. De acordo com a antiga professora da EMADE Valdívia Alves de Oliveira, anos depois a instituição foi fechada em virtude de um incêndio, mas ficou marcada na lembrança da população por ser um espaço de difusão da arte
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As informações sobre a Casa de Cultural foram adquiridas por meio de uma visita realizada na Casa e um questionário feito para o coordenador da Casa. (ver apêndices)
23 e de contribuição social. As mulheres que passaram por lá ensinaram as gerações seguintes e a atividade se tornou parte da identidade cultural do município, sendo produzido até os dias atuais como forma de expressão, hobby e para muitas mulheres, também como contribuição na fonte de renda. Dessa forma, pretende-se assegurar um espaço como a EMADI no centro cultural, no intuito de reunir antigas alunas e professoras para ensinar os jovens que tenham interesse, buscando uma relação de troca de experiências entre diferentes faixas etárias, reforçando a interação das pessoas na busca da valorização da identidade e da arte local. Figura 9- Aula de costura na EMADI
Fonte: Acervo pessoal da professora Valdívia Alves de Oliveira Figura 10- Encerramento de turma na EMADI
Fonte: Acervo pessoal da professora Valdívia Alves de Oliveira
Tendo em vista os aspectos observados, a necessidade de um Centro de Cultura na cidade de Itarantim se dá pela falta de um espaço apropriado para a realização de atividades culturais, levando em consideração o número de artistas que o município possui, pela necessidade de mais áreas de lazer e de conhecimento de qualidade para a comunidade. Além de tudo, o centro cultural será um meio para a construção de relações, conhecimentos, oportunidades, reconhecimento de uma cultura e na formação de uma sociedade melhor.
24 2.2 Projetos Referenciais 2.2.1 Centro Cultural El Tranque - Lo Barnechea, Santiago, Chile. O centro está localizado na comunidade Lo Barnechea, aos pés da Cordilheira dos Andes em uma zona residencial. O projeto nasceu de uma proposta do programa estatal de levar centros culturais para comunidades do Chile com mais de 50.000 habitantes que não possuem esse tipo de edificação. O terreno possui uma área de 1.400m² e tem como arquitetos responsáveis Pedro Bartolomé e José Spichiger. Foi levada em consideração como sentido cultural para o projeto a praça no terreno vizinho, os vales e montanhas, as tipologias construtivas e a diversidade sócio econômica (ARCHDAILY, 20185). Figura 11- Fachada Principal do Centro de Cultura
Fonte: Site Archdaily.Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-cultura-furman-huidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018. Figura 12- Fachada Principal do Centro de Cultura
Fonte: Site Archdaily.Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-cultura-furmanhuidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018.
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Arch Daily, 2018. Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/887710/centro-cultural-eltranque-bis-arquitectos>. Acesso em Abril de 2018.
25 A proposta conta com átrio no edifício para interação das pessoas (figura 14 e 15)), onde atividades culturais ocorram de forma espontânea no dia a dia e uma praça onde todos atuam e participam. A edificação é composta por dois volumes que se interligam pela praça (figura 13). De um lado, um volume térreo que convida o visitante à exploração; de outro, um volume suspenso, que delimita a praça com sua sombra e expressa uma fachada contemporânea. A edificação se abre para a praça vizinha e para a rua (figura 12), intensificando a proposta de um espaço público. Cada edifício recebe atividades específicas, no pavimento térreo ficam as atividades de maior público (auditório, sala de exposições, cafeteria, etc.), em sua cobertura está a praça pública, que também funciona como pátio para oficinas ao ar livre. A praça se apoia no volume superior onde estão as salas de oficinas (artes musicais, plásticas, cênicas, culinárias, etc) dando a sensação de amplitude no espaço. Figura 13- Vista do vazio (Praça)
Fonte: Site Archdaily.Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-culturafurman-huidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018. Figura 14-Vista do pátio
Fonte: Site Archdaily.Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-cultura-furman-huidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018.
26 O volume térreo é de concreto armado revestido com pedras e o volume superior é uma ponte de estrutura metálica e laje pós-tensionada. O seu conjunto de pilares simboliza as pessoas que usufruem do espaço, como se a edificação fosse sustentada por elas. Figura 15- Vista interna da Praça Central
Fonte: Site Archdaily.Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-cultura-furman-huidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018. Figura 16- Vista do volume superior e Praça
Fonte: Site Archdaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/876036/centro-de-arte-e-cultura-furman-huidobro-arquitectos-asociados>. Acesso em março de 2018.
O centro de cultura El Tranque se torna uma referência por ter uma proposta parecida com o Centro de Cultura de Itarantim. O dimensionamento do centro já é um ponto relevante, levando em consideração o porte da edificação. Os espaços de interação como as praças também é um elemento importante à medida que convida e abraça o público e os leva para os espaços interno. Outro fator que chama atenção é a ligação das salas de oficinas com a praça, visto que a forma como o usuário percebe o ambiente irá definir a interação usuário/espaço e o resultado dessa relação. Portanto, a integração com a natureza traz benefícios tanto aos usuários provocando estímulos que melhoram a concentração, a respiração e a qualidade das aulas quanto na temperatura do ambiente tornando as atividades mais agradáveis.
27 2.2.2 Centro Comunitário Social - Rapa Nui, La Serena,Chile. O Centro Comunitário Social foi projetado em 2011 como o objetivo de modificar a situação social e espacial da área e melhorar a qualidade de vida dos moradores que viviam em vulnerabilidade social, visto que a região possui favelas e muitos espaços vazios ocupados ilegalmente ou com aterros sanitários. O terreno possui 613m² e possui declive acentuado possibilitando a construção da edificação em 3 pavimentos. O acesso se dá por três ruas, uma na parte de baixo que está ligada diretamente ao prédio e dois acessos principais que chegam ao terraço (figura 18). A edificação foi dividida em 3 níveis principais: setor educacional, administração e espaço para eventos. Por meio de uma praça, pretendeu-se modificar a imagem urbana encorajando o uso e ocupação do espaço para a integração das pessoas com as novas atividades do centro usufruindo da edificação. (ARCHDAILY, 20176). Figura 17- Vista da fachada do centro social
Fonte: Archdaily. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centro-social-comunitario-slash-3-arquitectos>. Acesso em abril de 2018. Figura 18- Vista do Terraço/Praça
Fonte: Archdaily. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centro-social-comunitarioslash-3-arquitectos>. Acesso em abril de 2018.Acesso em abril de 2018.
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ARCHDAILY,2013 Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centro-social-comunitarioslash-3-arquitectos >. Acesso em março de 2018.
28 O programa de necessidades foi pensado para atender atividades diferentes em um mesmo espaço, por isso foi inserido um espaço multiuso e uma sala multiuso além de sala de oficinas, sala de reunião, sala de administração, cozinha, banheiros, pátio coberto e praça. A proteção e manutenção foi uma preocupação inicial por se tratar de um ambiente público. Para isso, a escolha de materiais foi de grande importância. A estrutura é de concreto aparente (figura 17) criando uma ligação com as edificações existentes, o cobogó foi o material escolhido para as fachadas proporcionando ventilação e iluminação adequada nos ambientes e para barrar o vento e a poeira foram utilizadas janelas de vidro em lugares estratégicos. Os cobogós também foram utilizados na parte externa das janelas para proteção conta vandalismo. Figura 19- Sala multiuso
Fonte: Archdaily. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centro-social-comunitario-slash-3-arquitectos>. Acesso em abril de 2018. Figura 20- Vista da rua de baixo do Centro Social
Fonte: Archdaily. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centro-social-comunitario-slash-3-arquitectos>. Acesso em abril de 2018.
No paisagismo foram preservadas as plantas nativas e acrescentadas algumas vegetações rasteiras e arbustos regionais visando a pouca manutenção das mesmas.
É
importante ressaltar que para proteção dos espaços o Centro é fechado com cadeado todas as
29 noites. Esse centro se tona uma referência pelos elementos utilizados na construção de um edifício social, no custo, na funcionalidade dos ambientes e no cuidado do uso dos materiais. 2.2.3 Centro Cultural São Paulo - São Paulo, Brasil. O Centro Cultural São Paulo está localizado entre a Rua Vergueiro e a Avenida 23 de Maio, em São Paulo e foi o primeiro centro cultural multidisciplinar do país. Foi projetado em 1979 pelos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles. Com área de 46.500 m² se integra a paisagem local e se torna ponto de encontro para pessoas que buscam a diversidade. De acordo com Eduardo Souza (2007) “É um exemplo de urbanidade e diversidade, um espaço democrático, projeto cultural bem-sucedido” (ARCHDAILY, 20177). Figura 21- Vista Aérea do Centro de Cultura
Fonte: Prefeitura municipal de São Paulo. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/comunicacao/noticias/?p=10658>Acesso em março de 2018. Figura 22- Vista Cobertura do Centro de Cultura
Fonte: Site Viajante Brasileiro. Disponível em: <http://www.viajantebrasileiro.com.br/roteiro/centro-culturalsao-paulo-cultura-e-lazer-no-centro-da-cidade>. Acesso em março de 2018.
O projeto foi elaborado com 4 pavimentos, entretanto o volume que se vê pela avenida é a cobertura, discreta e baixa. O programa de necessidades conta com salas de
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Arch Daily, 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centrocultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles Acesso em março de 2018.
30 espetáculo e espaços expositivos, amplas bibliotecas e acervos, discoteca, jardins e áreas livres, áreas de convivência e restaurantes. O Centro possui uma rua longitudinal que distribui os fluxos e as circulações. As passarelas conduzem as pessoas aos espaços fazendo com que o caminho seja de apreciação, em contribuição das divisórias transversais que proporcionam visibilidade integrando todos os espaços e o jardim interno. Figura 23- Vista das Passarelas
Fonte: Brazil Travel. Disponível em <http://www.braziltravelbuddy.com/Sao_Paulo/picture/Centro_Cultural_Sao_Paulo_Picture_3>. Acesso em março de 2018. Figura 24-Vista da biblioteca Alfredo Volpi
Fonte: Site Guia melhores destinos. Disponível em : <https://guia.melhoresdestinos.com.br/centro-cultural-sao-paulo-173-4429-l.html>. Acesso em março de 2018.
A estrutura da edificação é de concreto e aço, com passarelas e pilares metálicos que fazem parte do cenário. Em contrapartida, quebrando essa solidez, projetou-se um jardim central preservado as árvores existentes no terreno, além de uma laje jardim que hoje também cedeu espaço para uma horta comunitária, se tornando espaço de contemplação em meio ao caos urbano.
Hoje, o Centro Cultural São Paulo é um espaço de diversidade artística,
apropriado pela população que participa ativamente e se sente pertencente a este lugar. E é por isso que ele se torna referência para esse trabalho, a boa localização e distribuição dos
31 ambientes e a integração com a natureza contribuíram para que os espaços fossem usados realmente, cada um com sua especificidade.
Figura 25- Vista jardim interno do Centro Cultural
Fonte: Guia melhores destinos. Disponível em: <https://guia.melhoresdestinos.com.br/centro-cultural-sao-paulo-173-4429-l.html>. Acesso em março de 2018. Figura 26-Vista do jardim e horta.
Fonte: CAU/SP. Disponível em: < http://www.causp.gov.br/boletins-de-gt-abordam-importancia-da-arquitetura-paisagistica/>. Acesso em março de 2018.
3. APRESENTAÇÃO DA ÁREA A cidade de Itarantim está localizada no Centro Sul da Bahia e possui uma área de 1.674,051 km² e altitude de 259 m. Faz fronteira com a cidade de Maiquinique pela BA 270, com Potiraguá pela BA 251, faz divisa com Minas Gerais pelo município de Jordânia. Está situada nas coordenadas 15,66º sul de latitude e 40,07º oeste de longitude. O clima é tropical com temperatura média anual de 24° C e precipitação média anual de 800 mm. O relevo é predominantemente plano, com 20% de topografia montanhosa e os principais canais de
32 drenagem são os córregos do Nado, Jundiá e Laranjeiras (MONTEIRO, 20058). A economia da cidade é baseada em agropecuária, pequenas indústrias, serviços e agricultura familiar. Figura 27 - Localização da cidade de Itarantim-Ba
Fonte: Disponível no google maps, editado pela autora, 2018.
3.1 Inserção do empreendimento A inserção desse empreendimento na região se torna relevante por trazer novas perspectivas de crescimento cultural, social e econômico. Crescimento cultural, à medida que é um espaço que produz e dissemina a cultura; social, por proporcionar uma interação da comunidade de forma que ela participe e desenvolva senso crítico; e econômico por possibilitar aos usuários cursos de capacitação e aprimoramento em atividades que podem se tornar uma profissão, já que a cidade não possui muitas opções de emprego. Outro fator importante é que, levando em consideração que a região não possui nenhum empreendimento desse tipo, o espaço terá um público não só de Itarantim, mas também das cidades circunvizinhas, que consequentemente irão consumir produtos e serviços do comércio da cidade.
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MONTEIRO, E. A. Projeto Cadastro de Abastecimento por Águas Subterrâneas, Estados de Minas Gerais e Bahia: diagnóstico do município de Itarantim, BA. Belo Horizonte: CPRM, 2005. Disponível em:< http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/16237/rel_cadastro_aguas_sub_itarantim.pdf?sequence=1>. Acesso em maio de 2018.
33 Como relevância para o bairro, destaca-se o fato de não possuir espaços públicos de lazer, aumentando o risco de violência nesses locais. O Centro também tem o papel de atrair e resgatar jovens de maior vulnerabilidade social, além de proporcionar mais segurança por trazer atividades durante a maior parte do dia, o que ocasiona também um tráfego maior de pessoas tornando as ruas mais movimentadas. Tudo isso já denota a importância do Centro de Cultura. Figura 28- Vista aérea da cidade de Itarantim-Ba
Fonte: Cidade Acontece. Disponível em:< https://www.cidadeacontece.com.br/itarantim-comemora-69-anos/ >. Acesso em maio de 2018.
3.2 Localização Com área de 4.380 m², o terreno está situado no bairro Tancredo Neves na cidade de Itarantim-Bahia, entre as ruas Macarani, Alameda das Acácias e Travessa Maria Quitéria. Ocupa uma quadra e tem acesso direto ao bairro Centro, pela rua Padre Arnaldo; e ao bairro Nova Esperança pela rua Alameda das Acácias. O acesso regional é dado pela Avenida Itapetinga para quem vem das cidades de Maiquinique ou Potiraguá e pela Rua Padre Arnaldo para quem vem de Jordânia. Todas as ruas que circundam o terreno são caracterizadas como vias locais de mão dupla, com fluxo de baixa intensidade, fator levado em consideração devido a possibilidade de o empreendimento vir a ser um polo gerador de tráfego na região. Já as ruas Padre Arnaldo e Avenida Itapetinga são vias coletoras com fluxo de média intensidade. A escolha da área se deu por ser acessível tanto para os outros bairros quanto para quem vem de fora da cidade. Outro fator relevante pela escolha foi o fato do terreno estar localizado em uma área com muitas instituições de ensino, hospital próximo e instituições que
34 possuem uma relação com o centro cultural, como o Centro de Referência e Assistência Social-CRAS. Figura 29 - Mapa de fluxos de vias
Fonte: Produzido pela autora via google maps, 2018.
3.3 Usos e atividades do entorno O entorno imediato é de uso predominantemente residencial, entretanto as quadras próximas possuem edificações de atividades comerciais, de serviço e institucionais. Como relevância, a proximidade do Hospital Regional se torna fundamental em caso de emergências, destacando-se ainda as escolas públicas e privadas como: Creche Tia Geni, Instituto Educacional Kiarelly, Complexo Educacional Municipal Lourival Souto e Colégio Estadual Naomar Soares Alcântara que poderão ter relação direta com o empreendimento promovendo a educação cultural e incentivando os estudantes a frequentarem esse espaço. As instituições próximas como Centro de Referência e Assistência Social - CRAS e a Casa de Cultura também estão ligadas ao Centro por promoverem atividades culturais podendo ser trabalhadas em parceria. Além disso, o Centro Cultural também tem a função de dar suporte às essas instituições, reforçando esses laços em benefício da disseminação cultural. Mesmo com essas edificações no entorno, a área que envolve o terreno não possui movimentação constante de pessoas ou de veículos, o que ocasiona um risco no período noturno nesse local, fator este que justifica a inserção do empreendimento nessa área trazendo mais visibilidade, movimentação e consequentemente, mais segurança. Ainda como impacto positivo, o empreendimento proporcionará ao bairro o aumento no tráfego de pessoas que
35 consequentemente irão usufruir dos serviços oferecidos pelo comércio, contribuindo com a economia local. No entanto, considera-se a possibilidade de congestionamento de trânsito em dias de eventos um fator de possível impacto negativo para a vizinhança tendo em vista que o entorno imediato é residencial. Dessa forma, o projeto conta com acessos distintos de entrada e saída para desafogar o trânsito nas vias além de possuir estacionamento próprio exigido pela lei complementar Nº 2.043 do Código de Obras do município de Vitória da Conquista para atender funcionários e visitantes, diminuindo ou anulando esse impacto. 3.4 Indicação de Infraestrutura urbana O bairro Tancredo Neves possui a infraestrutura básica para as necessidades do empreendimento. As ruas são calçadas com pedras paralelepípedo, com exceção de uma estrada do lado mais alto do terreno (parte superior no mapa) que atualmente serve como passagem de pedestres. A iluminação é fornecida em toda a cidade pela empresa Companhia de Eletricidade da Bahia - Coelba, o abastecimento de água e esgoto é fornecido pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento - Embasa e a coleta de lixo é feita 3 vezes por semana (segunda, quarta e sexta) pela empresa responsável. Como a cidade é de pequeno porte não existe a necessidade de linhas de transporte coletivo. A região também conta com edificações importantes para dar suporte aos usuários do centro de cultura como pousadas, supermercados, farmácias, lojas e caixa lotérica, atendendo às necessidades da população e visitantes. Figura 31- Mapa de Indicação de Infraestrutura Urbana
Fonte: Produzido pela autora via google maps, 2018.
36 3.5 Condicionantes Físicos O terreno possui topografia irregular, com área de 5.047 m², perímetro de 312,70 metros e aclive total de 3,5m a partir do nível da Rua Macarani até a extremidade superior, não existindo calçada no lote em questão. Na visita foi possível perceber que se formou uma bacia central no terreno, provavelmente devido a retirada de terra para uso dos moradores do entorno. A vegetação é rasteira, com algumas árvores nativas na lateral Leste do terreno. Figura 32 – Mapa deTopografia e condicionantes físicos do terreno
Fonte: Produzido pela autora via Google Earth, 2018.
37 Figura 33 – Rua Alameda das Acácias
Fonte: Acervo Pessoal Figura 34 – Travessa Maria Quitéria
Fonte: Acervo Pessoal.
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Figura 35 â&#x20AC;&#x201C; Rua Macarani
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 36â&#x20AC;&#x201C; Vista pelo lado Norte do terreno
Fonte: Acervo Pessoal.
39 Figura 37 â&#x20AC;&#x201C; Trecho de Passagem de Pedestre
Fonte: Acervo Pessoal
Figura 36â&#x20AC;&#x201C; Vista pelo lado Norte do terreno
Fonte: Acervo Pessoal.
40 Figura 39 â&#x20AC;&#x201C; Vista lado Oeste do terreno
Fonte: Acervo Pessoal. Figura 38 â&#x20AC;&#x201C; Vista pelo lado Sul do terreno
Fonte: Acervo Pessoal.
41 Figura 40 – Vista lado Leste do terreno
Fonte: Acervo Pessoal.
3.6 Legislação Como a cidade não possui plano diretor, as legislações a serem aplicadas serão baseadas nas Normas ABNT que regem o projeto de arquitetura, Plano Diretor Lei nº 1.481/2007 e Código de Obras Lei Municipal n° 118 da cidade de Vitória da Conquista, tendo em vista que o plano de Itapetinga (cidade mais próxima que possui essa legislação) não possui normas específicas para um Centro de Cultura. De acordo com o Anexo II do plano diretor que categoriza o uso e ocupação do solo, o empreendimento se caracteriza como S-8.11 (figura 41) e está como um empreendimento de atividade local para até 200 lugares. Tabela 1: Anexo II- Quadro 2.1 – Atividades/empreendimentos que configuram o uso do solo e Quadro 2.2 - Uso do solo por área de influência.
GRUPO S-8 Serviços de Esportes, Lazer e Diversão
DIVISÃO S-8.11 Outros serviços de diversão, cultura, recreação, reunião e afluência de púbico não classificados.
ÁREA DE INFLUÊNCIA LOCAL: Atividades e Empreendimentos de até 200 lugares
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo Código de Obras do município de Vitória da Conquista. Set, 2018.
Para os critérios e restrições aplicáveis às zonas de uso, foram analisados quais bairros que se enquadravam com uso até o nível local permitido. Dentre as possibilidades, considerou-se o bairro Recreio por ser um bairro próximo ao centro assim como o bairro escolhido na cidade de Itarantim, além de possuir um empreendimento semelhante ao da proposta. Diante disso, encontrou-se os seguintes dados.
42 Tabela 2: Anexo II - Quadro 3.1- Critérios e restrições aplicáveis às zonas e corredores de usos.
ZONA DE USO ZR-1
LOCALIZAÇÃO
Recreio, Candeias I, Brasil, Jurema
USOS PERMITIDOS (1) CA,CV, S – até o Nível Local
CA Cab 1,0
CO
CP
0,60
0,15
Cam 3,0
RECUOS MÍNIMOS (m) 3,0 1,5
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo Lei Complementar Nº 2.043, DE 26 de junho de 2015 do Código de Obras do município de Vitória da Conquista. Set, 2018.
Levando em consideração que o projeto conta com salas de aula em umas das edificações, respeitou-se também como recuos mínimos para esse bloco o exigido no Art. 249° do capítulo XIX – Das edificações para fins culturais, recreativos e religiosos do Código de Obras de Vitória da Conquista, que considera um recuo 5,50 m (cinco metros e cinquenta centímetros) em relação ao alinhamento de gradil, com aproveitamento desta área para uso de estacionamento e de 3,00 m (três metros) em relação a qualquer ponto das divisas do terreno, quando servir de área de iluminação e ventilação de sala de aula. Para o dimensionamento do estacionamento, de acordo com o porte (área construída), edificações classificadas como serviço e acima de 750 m² de área construída precisam de 1 vaga de estacionamento a cada 30 metros de área útil. Entretanto levando em consideração o porte da cidade e a proximidade do terreno com os outros bairros, para esse cálculo, adotou-se como parâmetro somente a área útil do auditório, por ser o espaço destinado à maior quantidade de público. Além da área, analisou-se também o horário de funcionamento dos espaços, sendo que o auditório não possui uso diário e seu funcionamento geralmente é em horário oposto ao restante do Centro Cultural. Encontrou-se então o número de 23 vagas, acrescentando-se duas para PCD e uma para idoso. Foi reservado também uma vaga para carga e descarga com acesso direto ao depósito do auditório. Essas informações podem ser conferidas no quadro de áreas na planta de situação. Devido ao posicionamento das edificações e a dimensão do terreno, dividiu-se o estacionamento para facilitar o acesso aos ambientes. Foram destinadas 14 vagas ao estacionamento lateral próximo ao auditório, e 12 vagas sendo duas vagas para PCD e uma vaga para Idoso, próximo ao acesso principal e setor administrativo.
43 Tabela 3: ANEXO IV – QUADRO 3.4 - Critérios e restrições relativos a pólos geradores de tráfego - pgt e vagas para estacionamento.
CATEGORIAS DE USOS (1)
PORTE (Área Construída ou Fração)
S - 8.11
Acima de 750m²
NÚMERO MÍNIMO DE VAGAS ESTACIONAMENTO OU GARAGENS 01 vaga para cada 30 m² de Área Útil ou fração
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo Lei Complementar Nº 2.043, DE 26 de junho de 2015 do Código de Obras do município de Vitória da Conquista. Set, 2018.
Em relação à iluminação e ventilação, a Lei Municipal n° 118 traz no Capítulo XII Art. 180° que todos os ambientes deverão conter aberturas em plano vertical abrindo diretamente para rua, área ou poço de iluminação. As aberturas deverão respeitar as áreas mínimas de 1/10 da superfície do piso para ambientes de permanência prolongada e 1/12 para ambientes de permanência eventual. Todas as aberturas do projeto foram calculadas de acordo com esses parâmetros. Para o projeto do auditório, utilizou-se da Lei Municipal n° 118 que trata no capítulo XIX- Das Edificações para fins Culturais, Recreativos e Religiosos.
I. II.
Art. 248° – As edificações destinadas a reuniões culturais e recreativas deverão satisfazer as seguintes condições, além das exigências desta Lei: ante-sala com área mínima equivalente a 1/6 (um sexto) da área total do salão ou salões de reuniões; disporem no mínimo, de duas saídas para logradouros, ou para corredores de largura não inferior a 2,00m (dois metros), sendo vedada a abertura de folhas de porta para dentro do recinto ou sobre o passeio;
III.
Para o cálculo de sanitários do auditório, foram utilizados os parâmetros do livro Neufert para teatro, já que o auditório também receberá apresentações artísticas e teatrais. Para o bloco das salas de aula, os sanitários foram baseados de acordo com o Caderno Técnico 4, volume 2 da Funde Escola.
3.6.1 Saídas de Emergência Para o projeto ser concebido, foram utilizados os requisitos da NBR 9077 que trata de saídas de emergência. Para dimensionamento das saídas de emergência, a edificação foi dividida em Escola e Auditório, e classificada em dois grupos (E e F) da tabela de classificação quanto à sua ocupação. A partir disso, foram analisados outros requisitos mostrados nas figuras abaixo.
44 Tabela 4 : Classificação das edificações quanto à sua ocupação
GRUPO
OCUPAÇÃO/U SO Educacional e cultura física
E
DIVISÃO
DESCRIÇÃO
E-2
Escolas especiais
Locais de reunião de público
EXEMPLOS Escolas de artes e artesanatos, de línguas, de cultura geral, de cultura estrangeira.
Teatros em geral, cinemas, óperas, F-5 auditório de estúdios de rádio e televisão e outros. Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com a NBR 9077. Set, 2018.
F
Locais para produção e apresentação de artes cênicas
Tabela 5: Classificação das edificações quanto à altura
Alturas contadas da soleira de entrada ao piso do último pavimento, não consideradas edículas no ático destinadas a casas de máquinas e terraços descobertos (H)
Tipo de edificação Código
Denominação
M
Edificações de média altura
6,00 m< H <12,00 m Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com a NBR 9077. Set, 2018.
Tabela 6: Classificação das edificações quanto às suas características construtivas
Código
Tipo
Especificações
Exemplos
Z
Edificações em que a propagação do fogo é difícil
Prédios com estrutura resistente ao fogo e isolamento entre pavimentos
Prédios em concreto armado calculado para resistir ao fogo, com divisórias leves, com parapeitos de alvenaria sob as janelas ou com abas prologando os entrepisos e outros
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com a NBR 9077. Set, 2018. Tabela 7: Dados para o dimensionamento das saídas
Ocupação Grupo
Capacidade da U. de passagem
Divisão População (A)
E-1 A E-4 F-2, F-5, F-8
Uma pessoa por 1,50m² de área (F) Uma pessoa por m² de área (E) (G)
Acessos e descargas
Escadas e rampas(B)
Portas
100
60
100
100
75
10
45 (E) Por "área" entende-se a "área de pavimento" que abriga a população em foco, conforme 3.7; quando discriminado o tipo de área. (p.ex.: "área de alojamento"), é a área útil interna da dependência em questão. (F) Auditórios e assemelhados, em escolas, bem como salões de festas e centros de convenções em hotéis são considerados nos grupos de ocupação F-2, F-6 e outros, conforme o caso. (G) As cozinhas e suas áreas de apoio, nas ocupações F-6 e F-8, têm sua ocupação admitida como no grupo D, isto é, uma pessoa por 7 m2 de área.
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com a NBR 9077. Set, 2018.
De acordo com a tabela 5, foram calculadas as populações das duas edificações e dimensionadas as saídas de emergência, encontrando valores descritos na figura 48. O cálculo da população foi feito de acordo as dimensões e layout dos ambientes considerando todos os ambientes de permanência prolongada. Para a edificação do setor de ensino a rampa e escada não tem objetivo de saída de descarga e sim de ligação entre os pavimentos, já que os mesmos possuem saídas independentes e estas permitem o escoamento fácil de todos os ocupantes do prédio. Tabela 8: Cálculo populacional e dimensionamento das saídas de emergência
População
Acessos e descargas
Escadas e rampas(B)
Portas
189
189/100=1,89 ≅ 2 2*0.55=1,10
189/60=3,15 ≅ 4 4*0,55=2,40
189/100=1,89 ≅ 2 2*0.55=1,10
229/70=3,27 ≅. 4 4*0,55=2,20
229/100=2.29 ≅ 3 3*0.55=1,65
Escola
Teatro
180 lugares para público + (6 pessoas 229/100=2.29 ≅ por camarim*2)= 3 229 3*0.55=1,65
Fonte: Elaborado pelo autor. Set, 2018.
Para definição da quantidade de saídas de emergência da edificação que abriga o auditório foi considerada a distância máxima percorrida de 40m entre a poltrona mais distante até os limites da edificação, que nesse caso possui mais de uma saída. Para a edificação do setor de ensino também foi adotado a distância máxima de 40m, considerando duas saídas no pavimento inferior e duas saídas pelos dois corredores de acesso aos ambientes do pavimento superior. Tabela 9: Distâncias máximas a serem percorridas
Sem chuveiros automáticos Tipo de edificação
Com chuveiros automáticos
Grupo e divisão de ocupação Saída única
Mais de
Saída
Mais de
46
Z
C, D, E, F, G-3, G-4, G-5, H, I
30,00 m
uma saída
única
40,00 m
45,00 m
uma saída
55,00 m
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com a NBR 9077. Set, 2018.
Por fim, a aplicação das informações aqui encontradas pode ser conferida nas plantas do projeto arquitetônico anexadas ao trabalho. 3.6.2 Acessibilidade A acessibilidade é um dos fatores principais do projeto, portanto houve uma preocupação em atender as medidas exigidas pela NBR 9050 e Plano Diretor Lei nº 1.481/2007.
Dessa forma, o empreendimento atende ao dimensionamento de portas,
corrimãos, acessos, inclinação de rampas, vagas de estacionamento e assentos destinados para idoso, P.M.R. e cadeirante. Será previsto a utilização de placas em braile para pessoas com deficiência visual. O centro cultural deve ser um espaço sem barreiras físicas, de modo que qualquer pessoa possa transitar por todos os espaços e o projeto pretende atender a todas ou a maioria das necessidades possíveis. 3.6.3 Cálculo de reservatório Para o cálculo de dimensionamento dos reservatórios, baseou-se na NBR 5626 e no livro Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura, de Roberto de Carvalho Júnior publicado em 2013. Como mencionado anteriormente, a edificação se dividiu em duas classificações também para dimensionamento do reservatório por possuir necessidades diferentes conforme demonstra Figura 49. Tabela 10: Consumo predial diário (valores indicativos)
Prédio
Consumo (litros/dia)
Cinemas e Teatros
2 por lugar
Escolas (externatos))
50 per capita
Fonte: Elaborado pelo autor de acordo com o livro Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura. Set, 2018.
O cálculo foi feito com o consumo diário multiplicado por 2, considera-se esse valor para um caso de interrupção de fornecimento da embasa, assegurando dois dias de consumo independente. Encontrada a capacidade de cada reservatório, dividem-se as capacidades com
47 o reservatório subterrâneo (60%) e acrescenta-se 10% aos reservatórios superiores para reserva técnica de incêndio. A tabela abaixo, figura 50, mostra a capacidade mínima encontrada para cada reservatório. Tabela 11: Cálculo de capacidade dos reservatórios
Escola
189
Consumo diário per capita 50 l
Teatro
192
2l
População
Reservatório Subterrâneo
Consumo Diário total x 2 dias 9.450 l x 2= 18.900 l 384 l x 2= 768 l
Capacidade mínima dos Reservatório (litros) 40% +10% reserva téc.= 8.316 l 40% +10% reserva téc.= 337,90l
60% dos demais
11.340 l
Fonte: Elaborado pelo autor. Set, 2018.
4 CONCEITO E PARTIDO A premissa para escolha do conceito desse trabalho levou em consideração a principal função de um centro cultural: ser um espaço de interação social em prol da disseminação da cultura, possuindo um papel importante no processo de formação cidadã e na construção de uma identidade. Seu papel é principalmente social, pois evoca o respeito à diversidade, quebrando preconceitos e promovendo relações incentivando a inclusão e o desenvolvimento do ser humano em comunidade. Diante disso, o projeto se baseia no conceito da inclusão social. Um dos significados atribuídos a esse conceito é de um conjunto de ações que procuram dar acesso aos benefícios da vida em sociedade para indivíduos que, por algum motivo
(classe
social,
educação,
deficiência,
opção
sexual,
raça),
encontram-se
desfavorecidos em relação ao sistema vigente na sociedade. Dessa forma, o projeto busca oferecer condições para que todos tenham acesso aos ambientes e às atividades oferecidas de modo que a comunidade participe e se sinta acolhido e pertencente à esse lugar. No que se refere ao partido arquitetônico, as primeiras formas de expressão artística aqui no Brasil vieram dos índios, que até os dias atuais se manifestam de diferentes maneiras. Essas expressões estão ligadas aos hábitos do dia a dia e rituais onde forma e função estão sempre associadas. A arte indígena é antes de tudo uma arte utilitária, criada para uma finalidade e não como algo que foi pensando para ser esteticamente belo, mas valorizada pela riqueza de detalhes, acabamentos e materiais utilizados. A partir dessas expressões artísticas se concebeu o partido arquitetônico. Aliado a soluções que garanta o conceito de inclusão social, como a acessibilidade, o uso de espaços de convivência que fortaleçam a ideia de acolhimento, a funcionalidade e ligação dos ambientes de forma que os espaços sejam
48 apropriados e o uso de materiais que contribuam para o conforto térmico e acústico; propõe-se o uso de alguns elementos que representam e homenageiam a arte indígena, como o bambu e a palha a serem utilizados em elementos construtivos que trazem aconchego, as tintas extraídas de plantas na cor vermelha, azul e preto, representadas em grafismos indígenas nas paredes, a cerâmica pontualmente aplicada na decoração e, sobretudo a arquitetura, refletida no acesso principal do Centro Cultural que se dá a partir da praça central, espaço que acolhe o público e se torna um espaço de encontros, remetendo a praça no centro da aldeia, utilizada para cerimônias e rituais. Ainda nesse contexto, a escolha do partido teve como relevância a memória afetiva que Itarantim possui em relação aos índios, por ser uma região que foi habitada por eles, nos arredores da Pedra de Três Pontas. O nome Itarantim também teve origem indígena, que no tupi guarani significa Diadema de Pedra. Visto que os primeiros habitantes brasileiros já expressavam cultura e destacando a relação da cidade com esse povo, o partido se torna uma forma de valorização dessa cultura e afirmação de sua identidade. Todos esses elementos se complementam em uma arquitetura contemporânea, de linhas simples e formas geométricas que se harmonizam com a paisagem urbana da cidade.
5 PROGRAMA DE NECESSIDADES Para a definição do programa de necessidades levou-se em consideração as necessidades da cidade e estudos de programas de outros Centros Culturais. Desse modo, o programa foi divido em setores de serviço, administrativo, setor destinado ao público, ensino e convivência. A estimativa populacional foi feita de acordo com os números encontrados em eventos já existentes na cidade totalizando um público máximo de 450 pessoas. Tabela 12: Programa de necessidades - setor de serviço SETOR
FUNÇÃO/ JUSTIFICATIVA
MOBILIÁRIO/ EQUIP.
Copa
Destinada as refeições dos funcionários
Bancada com pia, fogão, e geladeira, mesas e cadeiras.
Sanitários /Vestiário Funcionário s Fem.
Troca de roupas e usos dos funcionários
Conjunto de sanitários, banco de apoio e escaninho
ESPAÇO
ÁREA
QUANT
POP. FIXA
POP. VAR.
11.35m²
1
-
10 a 15
20.60m²
1
6
49
SERVIÇO
Sanitários /Vestiário Funcionário s Masc.
Troca de roupas e usos dos funcionários
Conjunto de sanitários, banco de apoio e escaninho
23.95m²
Casa de lixo
Armazenagem do lixo
Baldes de lixo
5.85m²
1
-
-
Gerador
Espaço destinado para guardar o gerador de energia Depósito para guardar material de limpeza Depósito para guardar material de limpeza
8.15m²
1
-
-
Tanque, amário e carro de limpeza
7m²
1
-
-
Tanque, armário e carro de limpeza
10.60m²
1
-
-
DML Térreo DML Pav. Superior
1
8
-
Fonte: Produzido pela autora, 2018
Tabela 13: Programa de necessidades - setor administrativo SETOR
ESPAÇO Recepção
MOBILIÁRIO /EQUIP. Cadeiras, mesa para café agua e balcão de atendimento Mesas, cadeiras e escaninho.
ÁREA
QUAN T. 1
POP. FIXA 1
POP. VAR. 5
11.35 m²
1
2
4
40.85 m²
Secretaria
Espaços para funções administrativas
Diretoria
Espaço para o administrador geral, responsável pelos serviços de apoio ao funcionamento do edifício. Área destinada ao produtor de eventos.
Mesa, cadeiras e escaninho.
16.20 m²
1
1
2
Mesas, cadeiras e escaninho.
9.20m²
1
1
10
Área para estoque de materiais básicos de escritório. Sala de reuniões
Armazenagem de materiais
7m²
1
-
-
Mesa ,cadeiras e armário Araras, armários e prateleiras
19.45 m²
1
-
9
12.05m²
1
-
-
Mesa, cadeiras, escaninho, telas.
8.50m²
1
2
0
Conjunto de sanitários Conjunto de sanitários e barras de
13.95m²
1
-
3
2.55m²
1
-
Sala do produtor ADM.
FUNÇÃO/ JUSTIFICATIVA Espaço de atendimento ao público
Almoxarif ado Sala de reunião Depósito teatro Sala de Monitoramento Sanitários Masc. Sanitários Masc. PCD
Área destinada para guardar materiais de produção teatral Área destinada ao monitoramento via câmeras de segurança Uso do público Uso do público
1
50 segurança Sanitários Fem
Uso do público
Sanitários Fem/PCD
Uso do público
Conjunto de sanitários
10.50m²
1
-
Conjunto de 2.55m² sanitários e barras de segurança Fonte: Produzido pela autora, 2018.
1
-
3
1
Tabela 14: Programa de necessidades - setor público
SETOR
ESPAÇO Foyer/guich ê de informações
PÚBLICO
FUNÇÃO/ JUSTIFICATIVA Espaço de convivência
Área da plateia (Teatro)
Área de palestras e espetáculos
Palco (coxias, palcos e proscênio) Sala de apoio/ Camarim Sanitário PCD Camarim Chuveiro PCD Camarim Sala Multimídia
Área destinada à preparação e apresentação dos atores e (ou) palestrantes. Área destinada para produção dos artistas
Biblioteca
Área destinada ao acervo de livros e pesquisa.
Sanitários Masc. Sanitários Masc. PCD Sanitários Fem Sanitários Fem/ PCD
Uso dos atores e (ou) palestrantes Uso dos atores e (ou) palestrantes
MOBILIÁRIO/ EQUIP. Bancos, balcão de atendimento, cadeira, escaninho. Poltronas, equipamentos de áudio e vídeo, mesa, cadeiras.
QUANT . 1
POP. FIXA 1
POP. VAR. 217
1
-
217
108.75 m²
1
-
Até 20 pessoas
Mesa, cadeira, araras, sofá.
26m²
2
-
10
Louças, metais e barras de segurança Louças, metais e barras de segurança Cadeiras, mesa e retroprojetor
2.55m²
-
1
Mesas, cadeiras, estantes e balcão de atendimento Louças e metais
-
ÁREA 127,70 m²
380.90 m²
1/ camarim -
1
1/ camarim 1
-
61
118.75 m²
1
1
44
30m²
1
-
10
2.55m²
1
11.30 m²
1
Louças, metais e barras de 2.55m² segurança Fonte: Produzido pela autora, 2018.
1
Sala de projeções e palestras.
2.55m²
81.85 m²
Uso do público Uso do público
Louças, metais e barras de segurança Louças e metais
Uso do público Uso do público
1
6 1
51 Tabela 15: Programa de necessidades - setor de ensino
SETOR
ENSINO
ESPAÇO
FUNÇÃO/ JUSTIFICATIVA
MOBILIÁRIO /EQUIP.
ÁREA
QUANT
POP. FIXA
POP. VAR.
Salas multiuso Sala de teatrodança Sala de musica
Espaço de para aulas diversas Espaços para ensaios de grupos de dança Espaços para ensaios de grupos de musica
23.20m²
1
1
18
28.55m²
1
-
10
27.20m²
1
-
10
Ateliê de corte e costura
Sala destinada a aulas com maquinário específico
Cadeiras e mesa Espelho, barra de dança Equipamento de musica e armários Máquinas de costura, cadeiras, mesas e armários.
34.10m²
1
1
12
1
1
9
Ateliê de pintura e bordado
Sala destinada a aulas de pintura e bordado a mão
Mesas, cadeiras, armários e suporte para telas Fonte: Produzido pela autora, 2018.
37.15m²
Tabela 16: Programa de necessidades - setor público
SETOR
ESPAÇO
FUNÇÃO/ JUSTIFICATIVA
Cafeteria
Espaço de convivência Espaço para armazenagem dos alimentos terceirizados
Cozinha
CONVIVEN CIA
Praça Loja
Espaço de convivência Espaço de venda da produção cultural
MOBILIÁRIO / EQUIP. Mesas, cadeiras Bancadas, pia, balcão de atendimentos, freezers e geladeira Equipamentos urbanos Balcão e estantes
ÁREA
QUANT.
POP. FIXA
POP. VAR.
125m²
2
2
60 -
32.60m ²
1
2
466.15 m² 17.55
1
-
-
1
-
1
m² Estacionamento
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
356.70 m²
1
52 6 FUNCIONOGRAMA Para iniciar o projeto do Centro Cultural foi necessário criar um funcionograma relacionando os ambientes de acordo com sua funcionalidade. Isso permitiu uma melhor distribuição dos setores de acordo com os usos de cada ambiente e sua interação com os demais. Figura 41 – Funcionograma
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
53 7 DESCRIÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO A princípio, ao se pensar no projeto do um Centro Cultural foi necessário analisar e estabelecer quais as necessidades de acordo com o local a ser implantado e a população. Viuse então a necessidade de além de ter espaços de difusão da cultura, possuir também ambientes de produção e ensino permitindo aos artistas da cidade a possiblidade de ter um local para suas atividades, além de poder passar o conhecimento e ajudar pessoas que se interessem pela arte ou artesanato por meio de cursos e oficinas. Isso se torna necessário à medida que além de possibilitar a inserção das pessoas no meio cultural e social, incentiva também a capacitação para que essas atividades possam vir a ser um meio de geração de renda. A partir disso, o projeto foi dividido em setores de criação, produção e ensino onde ficam as salas de curso e oficinas, setor de informação e apresentação composto pelo auditório, biblioteca e sala multimídia, setor de apoio composto pela administração e serviços e o setor comercial com a loja, praça e café. Esses setores foram distribuídos em dois blocos de acordo com a funcionalidade de cada ambiente. Como o terreno escolhido para a implantação ocupa uma quadra, foi possível implantar 3 acessos à edificação para uso público e um quarto com controle de entrada para carga e descarga próximo ao depósito do auditório. Dois dos acessos principais estão localizados no centro do terreno, um pela rua Alameda das Acácias no lado leste e o outro pela Travessa Maria Quitéria, lado oeste, que permitem a chegada de pedestres à praça principal. Figura 42 - Planta de setorização
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Para permitir uma maior amplitude e integração da rua com a praça, foi pensado em dois portões com gradil central removível que fazem essa integração durante o funcionamento
54 do Centro Cultural, e para segurança da edificação, quando não estiver em funcionamento, os portões são recolocados no lugar. Não houve necessidade de guarita visto que será previsto a disponibilização de segurança 24 horas para o empreendimento e em dias de evento, o controle de pessoas será feito na bilheteria do auditório e os portões da praça serão fechados permitindo somente um acesso pelo portão da Travessa Maria Quitéria. A terceira entrada foi implantada para permitir a entrada direta ao setor administrativo e de funcionários. O estacionamento foi dividido nas duas extremidades do lado leste do terreno para facilitar e diminuir a distância até umas das entradas para a praça e a entrada para o setor administrativo. Analisou-se também a implantação do estacionamento na área externa da edificação para ser um espaço de uso independente e além de atender sua função convencional, ser também um local de uso público para pequenas feiras e eventos sem interferir no funcionamento do Centro Cultural. A praça foi projetada para recepcionar o público em um espaço acolhedor e convidativo ao uso de diversas maneiras, seja para um bate papo, ler um livro ou para atividade culturais, como uma roda de capoeira. É nela também que o fluxo se distribui direcionando o público para o auditório (ao norte) ou para o setor de ensino (ao sul). Figura 43 – Vista superior do Centro Cultural
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Nesse bloco, a população é recepcionada em uma grande varanda que integra o café e um loja de artesanato ao espaço de circulação, coberto com um pergolado de madeira que traz conforto e amplitude. A partir daí, tem-se a circulação de acesso à esquerda, para as salas de teatro, dança, sanitários, DML, e biblioteca; e à direita, para as salas de corte e costura, pintura e bordado e sala multi uso, todas equipadas com mobiliário de acordo suas
55 necessidades. Uma escada próxima à entrada da circulação dá acesso à administração no pavimento inferior. Outra possibilidade de acesso a esse setor é pela rampa lateral na fachada leste, projetada para permitir a acessibilidade de deficientes ou pessoas com mobilidade reduzida entre esses pavimentos. Figura 44 – Planta baixa do Setor de Ensino
Fonte: Produzido pela autora, 2018. Figura 45 – Planta baixa do Setor de Ensino
Figura 47 – Vista da entrada da Biblioteca
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Figura 46 – Vista dos corredores das salas de aula
Figura 48 – Área de estudo individual
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
56 Já na recepção, que também pode ser acessada externamente pela fachada sul, o público é direcionado para a sala multimídia (projetada para palestras e apresentações de menor público), sanitários e para a área privada composta pela administração do Centro Cultural, destinada às atividades administrativas, financeiras do empreendimento, com secretaria, sala de reunião, sala de monitoramento, diretoria, sala do produtor com depósito de material de produção e almoxarifado; e setor de serviço e de funcionários, com copa, DML e sanitário vestiário de funcionários. A entrada de funcionários se dá por uma porta com acesso direto ao corredor do setor. Figura 49 – Planta baixa Setor Administrativo
Fonte: Produzido pela autora, 2018. Figura 50 – Acesso Administrativo (Fachada Sul)
Figura 52 – Recepção do setor administrativo
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Figura 51 – Acesso Setor Administrativo
Figura 53 – Circulação Sala Multimídia
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
57 O auditório, localizado do lado oposto ao módulo de ensino, foi projetado para receber além de palestras e seminários, apresentações artísticas. Para tanto, foram feitos estudos de visibilidade, acústica e estrutura de teatros para melhor atender as necessidades das apresentações. No foyer estão a bilheteria, sanitários e a cabine técnica. A área do público possui capacidade para 184 pessoas e o palco tem estrutura com varanda para iluminação e montagem cênica, camarins, coxia e depósito. Figura 54 – Planta baixa Auditório
Fonte: Produzido pela autora, 2018. Figura 55 – Fachada do Auditório
Figura 57 –Vista do acesso aos sanitários
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Figura 56 –Entrada do foyer e bilheteria
Figura 58 –Vista da área da platéia
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
58 Figura 59 –Vista do auditório pela platéia
Figura 60 –Vista lateral da platéia
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
É importante ressaltar que o projeto se baseou nas necessidades do público a ser atendido na cidade de Itarantim, justificando assim a adaptação do auditório para apresentações artísticas, e não colocando um teatro, tendo em vista o custo e viabilidade do mesmo. 7.1 Iluminação e Ventilação natural O estudo de insolação e ventilação foram fatores importantes em algumas decisões do projeto. Os acessos principais da edificação foram posicionados no lado leste e sul devido à posição dos ventos que são predominantemente do sudeste e à posição solar, que recebe o sol nascente nessas fachadas. Como dito anteriormente, a edificação foi disposta em dois blocos com uma praça central no nível intermediário que permite que os ventos circulem entre as edificações sem barreiras, visto que os ventos predominantes na região são provenientes do Sudeste e as edificações estão locadas no sentido Norte-Sul. Para aproveitamento da ventilação, foram utilizados cobogós na parede lateral leste da edificação do setor de ensino, além de janelas na fachada lateral sul da biblioteca possibilitando uma maior circulação dos ventos dentro da edificação diminuindo a temperatura térmica dentro dos espaço. A testada de maior incidência solar é da Travessa Maria Quitéria, lado utilizado para áreas do setor de serviço como depósito e banheiros na edificação que abriga o teatro; e que abrange também umas das laterais do espaço da plateia. Nesse caso, a parede é completamente isolada e o espaço dispõe de climatização artificial. Na outra edificação, a intensidade solar do poente foi solucionada com brises de madeira que diminuem a incidência direta dentro dos ambientes permitindo a entrada de ventilação e consequentemente melhorando a qualidade térmica desses espaços, garantindo ainda uma permeabilidade visual do interior para o exterior da edificação.
59 7.2 Conforto visual e acústico As informações referentes ao conforto visual e acústico do auditório foram baseadas principalmente no livro A arte de projetar em arquitetura (Neufert, 2013), e algumas bibliografias complementares. Nos ambientes necessários foi previsto o espaço para uso de revestimento acústico, somente indicando os tipos a serem utilizados que deverá ser especificado em projeto adicional por um profissional especialista na área. Para a sala de música foi previsto um revestimento isolante acústico para não comprometer as outras atividades do Centro. Já no auditório foram utilizados revestimentos de reflexão e de absorção nas paredes e de absorção no forro. Esses detalhes podem ser observados na planta baixa do auditório. No que se refere a conforto visual, a proporção da área da plateia se baseou na melhor posição possível do público. Para tanto, foi considerada a distância máxima de 20m entre palco e última fileira de assentos, sendo a distância da boca de cena até a ultima fileira de 14.20 m. Foi estabelecido um ângulo de até 60° para posição dos assentos por ser uma angulação que permite uma boa visibilidade com pequena movimentação da cabeça e olhos. Foi realizado um estudo de visibilidade (figura 41) do público para garantir que todos os espectadores tenham uma visão completa do espetáculo. Para isso, foi estabelecido um ponto crítico de visão a 3 m de distância da borda do palco e 0.50 cm de altura. O nível do palco e altura das poltronas também foi projetada visando o conforto de acordo com a altura dos olhos de 1,20, considerando a fileira anterior com uma altura mínima de 12cm do campo de visão da pessoa que está na frente. No projeto foi utilizada uma diferença de 0,17cm de altura entre as fileiras já utilizando como degrau. Assim, todas as fileiras conseguem ter boa visibilidade do palco. Figura 61: Estudo de visibilidade
Fonte: Produzido pela autora, 2018.
60 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A cultura e sua multiplicidade de definições é tema de estudo até os dias atuais. Com o passar do tempo, foi se modificando e ganhando novos sentidos até o conceito contemporâneo. Cultura é toda atividade, manifestação, costume, crença, que identifique uma comunidade. Tão importante para a sociedade que se torna um item responsável pela evolução humana individual e coletiva. Sua relevância fez com que fosse necessário a criação de espaços culturais para a proteção de bens que representavam a identidade dos povos, existentes desde a antiguidade clássica. Criados para a proteção e conservação da cultura, também tem o objetivo de difundir o conhecimento, possibilitar relações sociais e atividades de lazer. Por isso, se tornou elemento de foco nessa pesquisa. A busca por algo que contribuísse no crescimento social, cultural e econômico para a cidade de Itarantim. A proposta do Centro Cultural tem como objetivo trazer um espaço de interação social, promovendo a sociabilização das pessoas, a quebra de preconceitos e a construção de uma nova percepção de mundo. Além disso, o centro conta com espaços para atividades de produção e ensino desenvolvendo a criatividade, educação e percepção dos alunos por meio de cursos e oficinas. Área para exposições e o teatro para apresentações são o palco do reconhecimento para os artistas que são tão desvalorizados atualmente. Como referência, foram escolhidas edificações que possuem programas semelhantes e com uma disposição funcional dos ambientes, sempre levando em consideração a integração de forma harmônica entre os espaços. Houve a preocupação na escolha de edificações que sejam realmente ocupadas, que o programa de necessidades abrace a diversidade cultural e que a população sinta o interesse de permanecer nesses espaços por longas horas, como é o caso do centro Cultural São Paulo. As referências também destacam a importância da preocupação com a paisagem urbana onde a edificação será inserida, assim, o edifício tem que dialogar com seu entorno e com seu público. Dessa forma, deve-se atendar para os materiais e espaços propostos. Esse estudo referencial contribuiu de forma significativa para a escolha do terreno e do programa de necessidades. A escolha da localização do terreno levou em consideração a proximidade com escolas e instituições de interesse comum com o empreendimento, a infra estrutura do bairro e o fácil acesso. Destaca-se também como relevância nesse processo, a contribuição para o bairro, visto que o local possui pouco tráfego de pedestres e carros, o que pode ocasionar um risco maior de violência e com a implantação da edificação, o local ficará mais movimentado, fator que contribui também com a economia do comércio da região.
61 O programa de necessidades foi desenvolvido de forma que atenda todas as atividades artísticas já existentes com viabilidade para receber novas formas de expressão cultural, assim como acolher a população em um espaço funcional e agradável. Mesmo com poucas fontes de pesquisa sobre a produção cultural da cidade, foi possível perceber o seu potencial cultural e como essa cultura pode contribuir no crescimento da cidade por meio de um espaço físico que lhe dê suporte. Em vista de tudo isso, a possibilidade de inserção desse empreendimento trará uma nova perspectiva de vida para a população da cidade e região.
62 REFERÊNCIAS ARCHDAILY,2013. Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/01-121961/centrosocial-comunitario-slash-3-arquitectos >. Acesso em março de 2018. ARCH DAILY, 2017. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-daarquitetura-centro-cultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles Acesso em março de 2018. ARCH DAILY, 2018. Disponível em:< https://www.archdaily.com.br/br/887710/centrocultural-el-tranque-bis-arquitectos>. Acesso em Abril de 2018.BRASIL. Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Regulamenta a Lei no 8.313, de 23 de dezembro de 1991, estabelece sistemática de execução do Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm>. Acesso em maio de 2018. CANEDO, Daniele. “Cultura é o quê? ”- Reflexões sobre o conceito de cultura e a atuação dos poderes públicos. V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador- UFBa, 2009. Disponível em http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19353.pdf . Acesso em fevereiro de 2018. CAVALHEIRO, Clarissa Aparecida. A importância dos pontos de cultura na sociedade: Resgatando nossa Identidade Cultural. São Paulo: USP, 2011. Disponível em: < http://paineira.usp.br/celacc/?q=pt-br/celacc-tcc/372/detalhe> Acesso em março de 2018. CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC-1999. Disponível em: <https://identidadesculturas.files.wordpress.com/2011/05/cuche-dennys-a-noc3a7c3a3o-decultura-nas-cic3aancias-sociais.pdf > Acesso em: Abril de 2018. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico: Panorama populacional-2010. Rio de janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/itarantim/panorama>. Acesso em março de 2018. LARAIA, Roque de Barros. CULTURA: Um conceito antropológico. 14° edição. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda, 1932. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=41050>. Acesso em fevereiro de 2018. LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. MINISTÉRIO DA CULTURA. Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) O que é?. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/programa-nacional-de-apoio-a-cultura-pronac>. Acesso em Maio de 2018. MONTEIRO, E. A. Projeto Cadastro de Abastecimento por Águas Subterrâneas, Estados de Minas Gerais e Bahia: diagnóstico do município de Itarantim, BA. Belo Horizonte: CPRM, 2005. Disponível em: <http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/bitstream/handle/doc/16237/rel_cadastro_aguas_sub_itaranti m.pdf?sequence=1>. Acesso em maio de 2018.
63 NEVES, Renata Ribeiro. Centro Cultural: a Cultura à promoção da Arquitetura. Goiânia: Revista online IPOG, 2013. Disponível em:< https://www.ipog.edu.br/downloadarquivo-site.sp?arquivo=centro-cultural-a-cultura-a-promocao-da-arquitetura-31715112.pdf. >. Acesso em Março de 2018. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. 2015. NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro. 2001 TOMAZ, Paulo Cesar. A preservação do patrimônio cultural e sua trajetória no Brasil. Vol. 7 Ano VII nº 2. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais, 2010. ROCHA, Gabriela. O fomento do acesso a cultura à população por meio de institutos privados. São Paulo:CELACC, 2010. Disponível em:< http://paineira.usp.br/celacc/?q=pt-br/celacc-tcc/499/detalhe>. Acesso em fevereiro de 2018 SEBRAE. Estudo de Mercado para Cachaça da Bahia. 2016. Disponível em:< http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/BA/Anexos/Estudo%20de%20Merc ado%20%20Cacha%C3%A7a%20da%20Bahia%20%20vers%C3%A3o%20para%20publica %C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em abril de 2018. TURINO, Célio. Ponto de cultura: o Brasil de baixo para cima. São Paulo: 2.ed. : Anita Garibaldi, 2010. Disponível em:< http://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/TurinoPonto_Cultura-Brasil_baixo_cima.pdf>. Acesso em Fevereiro de 2018. VILUTIS, Luana. Cultura e Juventude: a formação dos jovens nos Pontos de Cultura. São Paulo: FE_USP, 2009. Disponível em: <http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/142/3/FPF_PTPF_07_0005.pd f>. Acesso em Março de 2018. PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA. Código de Obras Lei Municipal n° 118 de 22 de Dezembro de 1976 e Leis Complementares. Vitória da Conquista, 1976. Disponível em: < www.pmvc.com.br>. Acesso em Abril de 2018. PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA. Plano Diretor Lei Municipal nº 1.481. Vitória da Conquista, 20015. Disponível em: < www.pmvc.com.br>. Acesso em Abril de 2018.
64
APÃ&#x160;NDICES
65 Apêndice A- Formulário online para a população de Itarantim-Bahia e região. No intuito de obter informações por parte da população Itarantiense e pessoas da região quanto ao interesse pela proposta de um Centro Cultural em Itarantim-Bahia, foi realizada uma técnica de pesquisa de observação direta extensiva por meio de um questionário desenvolvido para aplicação em uma plataforma online entre os dias 21 de maio ao dia 31 de maio de 2018. O questionário foi respondido por 191 participantes onde 156 são moradores de Itarantim Bahia, os outros 35 se dividem entre as cidades da região como Ribeirão do Salto e Itapetinga. A maioria dos participantes são do sexo feminino (74%), estão entre a faixa etária de 18 a 25 anos (31,4%) e acima de 35 anos (30,9%), tendo somente 8,9% participantes com idade abaixo de 18 anos. Em vista disso, já se percebe a falta de interesse no tema por parte dos adolescentes. Gráfico 1-Idade dos participantes
Fonte: Produzido pela autora via google formulários, 2018.
Questionados sobre quais espaços costumam frequentar durantes as horas vagas, 67% dos participantes responderam praças e 28,3% frequentam restaurantes. Os outros se dividem em bares, espaços para shows e espaços culturais. Essa pergunta serviu para mostrar a necessidade de novos espaços de lazer e cultura, já que a cidade só dispõe de praças, bares e restaurantes; e são poucos os eventos culturais realizados no município.
Também foi
questionado com que frequência os participantes vão a esses locais e a resposta foi dividida, 50,8% disseram que raramente frequentam e 48,2% disseram ocupar esses espaços com frequência. Isso só reafirma que a população não dispõe de outros espaços, ficando limitado às praças e restaurantes, aos que não se atraem, não há o que frequentar.
66 Gráfico 2: Análise de frequência dos participantes nos espaços disponíveis na cidade ou região.
Fonte: Produzido pela autora via google formulários, 2018.
Para saber sobre a participação da população em atividades culturais na cidade, foi indagado se o participante conhecia alguma atividade cultural existente na cidade. 107 participantes responderam não conhecer ou que não existe esse tipo de atividade no local. Entretanto, 30 pessoas disseram conhecer grupos de teatro, 28 conhecem a capoeira e outros destacaram também o reizado, apresentações musicais e de dança, artesanato, além da Casa de Cultura e Cras como espaços de atividades culturais. Em sequência, perguntou-se quais espaços culturais eles frequentariam caso houvesse na cidade: Espaços de apresentação artística (teatro, dança e música), Cinema, Exposições de arte ou biblioteca. Os mais requisitados foram espaços de apresentação artística com (69,1%), cinema com (46,1%) e exposições de arte (32,5%). O uso de bibliotecas ainda é pouco solicitado, mas que deve ser incentivado. Essa pergunta serviu para conferir o interesse populacional pelas atividades propostas no programa de necessidades. Gráfico 3: Análise de interesse dos participantes em espaços culturais.
Fonte: Produzido pela autora via google formulários, 2018.
67 Também foram dadas opções de cursos para saber quais os participantes gostariam de participar, a maioria respondeu que gostaria de fazer curso de dança (41,4%) e artesanato (36,1%), seguido de teatro (28,8%), música (28,8%), pintura (21,5%) e desenho (17,3%). Todos os cursos tiveram uma boa votação e se inserem no programa pelo interesse do público, visto que o menos votado teve 33 pessoas interessadas. Ainda na análise dos possíveis cursos, foi questionado quais atividades além dos cursos citados eles gostariam de fazer em um centro cultural. Houveram uma infinidade de sugestões como: oficinas de escultura, circo, cartonagem, palestras, artesanato com argila, madeira e cerâmica, curso de culinária, culturas digitais- audiovisual, cursos de hortaliças, dança afro, atividades voltadas ao esporte como jiujitsu, karatê e cursos profissionalizantes. É possível perceber a necessidade da população em relação à atividades profissionalizantes que contribuam economicamente, gerando renda. Percebe-se também a carência em atividades voltadas ao esporte, que contribuem com a formação de jovens retirando-os das ruas na falta de atividades, livrando-os da marginalização e drogas. Gráfico 4: Análise de interesse dos participantes em cursos e oficinas.
Fonte: Produzido pela autora via google formulários, 2018.
Por fim, buscou-se saber se realmente as pessoas veem necessidade de um centro cultural em Itarantim-Ba. O resultado demonstra a receptividade por parte da população e justifica a inserção do empreendimento oportunizando o conhecimento, disseminando a cultura e proporcionando oportunidades de crescimento social e econômico para a comunidade.
68 Grรกfico 5: Anรกlise de interesse dos participantes no Centro Cultural.
Fonte: Produzido pela autora via google formulรกrios, 2018.
69 Apêndice B - Questionário realizado com o ator e coordenador da Casa de Cultura de Itarantim-Bahia. Devido a necessidade de conhecer as atividades culturais existentes, foi realizada uma visita à Casa de Cultura que é hoje o único espaço cultural existente no município. Durante a visita, foi possível ter uma conversa informal com o coordenador da casa onde foi explicado todo o processo de construção do projeto até o nascimento da Casa de Cultura. Foi possível conhecer os espaços (sala de exposição, produção, biblioteca, sala de ensaios, setor administrativo e espaços com futuras pretensões como sala de vídeos), a previsão de funcionamento e quais atividades iriam ser implantadas, visto que a Casa ainda estava em fase de organização funcionando somente para ensaios dos grupos de teatro e não se encontrava aberta ao público. Posteriormente, por meio da técnica de pesquisa de observação direta extensiva, foi realizado um questionário encaminhado via e-mail no dia 26 de maio de 2018 para o coordenador da Casa Hudson Rocha, por inviabilidade de tempo para se ter uma entrevista.
1. O QUE É A CASA DE CULTURA? A Casa de Cultura PLUS Artes Cênicas nasceu da união de Agentes Culturais Itarantienses de diversas linguagens artísticas, que por não terem um espaço próprio para desenvolverem seus trabalhos e por não encontrarem amparo na Secretaria Municipal de Cultura, alinharam suas ações elaboraram um projeto que pudesse amenizar os efeitos causados pela ausência de um espaço público com essa finalidade, contemplando o maior número de atividades artísticas possível. Um espaço para todos, onde todos possam participar de forma voluntária, com um único pensamento, FAZER ARTE, OPORTUNIZAR A ARTE e EMPODERAR O ARTISTA ITARANTIENSE unindo a classe e nos organizando burocraticamente. Um local para manter os grupos ativos durante todo o ano, um grande ateliê, uma verdadeira oficina de Produção Cultural.
2. QUAIS ATIVIDADES A CASA DE CULTURA DESENVOLVE ATUALMENTE? Atualmente a Casa de Cultural recebe grupos de Dança, Teatro, Capoeira e Artes Visuais. O Espaço é democrático e divido em diversos ambientes, de forma que além de oferecer um salão para ensaios equipado com espelhos e som, também abriga uma Biblioteca Comunitária, um espaço dedicado a Memória e Preservação de acervo histórico municipal,
70 espaço para Exposições Artísticas (Artes Visuais, Artesanato, Artes Plástica e etc.), uma Oficina para a concepção de Cenários, Iluminação, Figurinos), um Escritório de Produção Cultural e também um Dormitório para alojar Artistas, Produtores, Palestrantes, Pesquisadores, Estudantes e Professores de Arte oriundos de outros municípios que venham a Itarantim desenvolver alguma atividade cultural, muito em breve estará ativo também mais um ambiente dedicado ao Audiovisual.
3. EXISTE UMA PARTICIPAÇÃO ATIVA DA POPULAÇÃO NAS ATIVIDADES DA CASA? Na verdade por se tratar de uma iniciativa da sociedade civil, a participação popular é de extrema importância para a manutenção e funcionamento da Casa de Cultura, é importante ressaltar que nenhum dos profissionais envolvidos nas atividades fixas da casa recebe qualquer tipo de remuneração, trata-se de um trabalho social e voluntário. A População e a Iniciativa Privada têm participado de maneira muito tímida ainda, mas conforme o projeto se consolide e ganhe ainda mais credibilidade espera-se uma adesão maior, já por parte do Poder Público Municipal não há nenhum tipo de aproximação ou incentivo para o projeto, os produtores responsáveis pela Casa já manifestaram por diversas vezes a necessidade de parcerias com o município para poder potencializar os efeitos sociais do serviço prestado pela Casa de Cultura à cidade de Itarantim e apesar dos Representantes do poder público terem pleno conhecimento do Projeto não há qualquer indício de interesse em apoiar não somente a Casa de Cultura como qualquer iniciativa cultural, garantindo a não sustentabilidade do movimento cultural em Itarantim.
4. EXISTE ALGUMA ATIVIDADE CULTURAL REALIZADA EM PARCERIA COM AS ESCOLAS? Existe sim o interesse em levar para o ambiente escolar as vivências culturais experimentadas na Casa de Cultura, entretanto a Casa de Cultura não tem recurso financeiro para tanto, o recurso recebido pelo Prêmio Calendário das Artes 2017 1ª Chamada garante apenas o aluguel do espaço e as despesas com fornecimento de Energia Elétrica e Água, e devido a resistência do município já apresentada no item acima torna-se muito difícil romper essa barreira. O máximo que conseguimos fazer é acompanhar os estudantes em suas atividades e trabalhos que envolvam algum segmento artístico, nesse caso sempre que solicitado a Casa de Cultura designa alguma profissional para dirigir e acompanhar os trabalhos por iniciativa dos próprios estudantes. Gostaríamos sim de levar as artes cênicas, contação de histórias, as artes visuais, o audiovisual, o circo e tantas outras expressões
71 culturais para os ambientes escolares de maneira pedagógica e didática, buscando contribuir com a formação cidadã e ética dos nossos alunos principalmente da rede pública de ensino.
5. VOCÊ ACHA QUE A POPULAÇÃO CONHECE OS ARTISTAS E A PRODUÇÃO CULTURAL EXISTENTE DA CIDADE? Não em sua totalidade, existem diversos nomes que em momentos específicos acabam se destacando e ganhando repercussão nas mídias sociais, podem até receber a atenção da mídia local e ficarem conhecidos por alguns dias (mas serem reconhecidos ai já é outra história), nunca foi feito na cidade um estudo para poder se traçar um diagnóstico local sobre o cenário cultural no município e através desse estudo a construção de um mapeamento de artistas, coletivos e dos respectivos segmentos culturais nos quais estão inseridos. Portanto nem a população, nem o Poder Público Municipal e nem a Casa de Cultura PLUS Artes Cênicas conhece todos os Artistas Itarantienses. Entendemos que obter esses dados é importante e necessário para atingirmos o objetivo principal que é o RECONHECIMENTO desses Artistas.
6.
NO SEU DIA A DIA, VOCÊ PERCEBE O INTERESSE DA POPULAÇÃO EM ATIVIDADES CULTURAIS? Com toda certeza, a população itarantiense é sedenta por atividades culturais, muito
por conta da raridade em que acontecem no nosso município, mas é só acontecer algo que a população comparece e apoia. Com exceção da Casa de Cultura PLUS Artes Cênicas, da Associação Cultural de Itarantim e da Biblioteca Pública Municipal (em situação de completo abandono no atual momento), não existem espaços culturais no município nem mesmo privado que ofereça de forma mercadológica acesso à bens e produtos culturais a população.
7. QUAIS AS DIFICULDADES ENCONTRADAS PELA CASA EM SUA ATUAÇÃO PARA PROMOÇÃO DA CULTURA? A principal dificuldade é financeira, como já citamos no item 4, só foi possível a materialização desse projeto graças à premiação recebida pelo Edital Prêmio Calendário das Artes 2017 1ª Chamada, que cobrem apenas as despesas do aluguel, Água e Energia por apenas 10 meses. Todas as demais despesas como material de escritório, de limpeza e higiene, de oficinas, alimentação, internet, pequenos reparos estruturais no imóvel são custeadas pelos produtores da Casa, artistas que frequentam o espaço, amigos e apoiadores, entretanto enfrentamos muita dificuldade ainda para adquirir materiais e realizar eventos, em muitas situações temos que limitar o acesso a oficinas a um número reduzido de pessoas por não
72 dispor de material suficiente para atender a demanda, outra dificuldade é manter a Casa de Cultura aberta em horário comercial, pois nossos colaboradores atuam voluntariamente no projeto e geralmente precisam procurar outra forma de renda para sobreviver.
8. EM SUA OPINIÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DA CULTURA PARA A SOCIEDADE? Essa talvez seja a pergunta mais simples e ao mesmo tempo mais complexa a se responder, a cultura é aquilo que parte da essência de um povo, são suas tradições, hábitos, as formas de expressão que desenvolveram ao longo de gerações. A Cultura tem o poder de caracterizar e de dar identidade própria ao seu povo, ela se usada pedagogicamente ao lado da educação pode cumprir a nobre função de formar cidadãos críticos e participativos em seus contextos sociais, a arte é democrática, não difere as pessoas por classe, credo, etnia ou por suas escolhas pessoais, sendo assim ela aproxima e provoca a socialização do ser. E é claro não apenas pode resgatar pessoas que vivem a margem da sociedade bem como pode prevenir que elas entrem nesse mundo da violência urbana e criminalidade. A Arte liberta, salva, resgata, ensina, sugere, previne e principalmente respeita as pessoas e as suas inúmeras formas de pensar, a cultura é a política na sua forma mais pura e honesta e convenhamos, talvez a forma como entendemos a política ultimamente, seja o nosso maior problema.
9. VOCÊ ACHA RELEVANTE A IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE CULTURA EM ITARANTIM? SE SIM, QUAIS AS ATIVIDADES SERIAM INTERESSANTES IMPLANTAR NESSE ESPAÇO? Claro que sim, foi partindo de todos esses princípios já mencionados que nasceu a Casa de Cultura PLUS Artes Cênicas, mas infelizmente nós da sociedade civil (principalmente em cidades pequenas do interior) não temos como cumprir com aquilo que é dever do Estado, é constitucionalmente garantido ao cidadão o direito a produção e fruição cultural (Constituição Federal, Título VIII, Capítulo III, Seção II, que trata da Cultura). Nós nos sentimos muito mal quando percebemos, por exemplo, que na esfera municipal enquanto os grupos e artistas têm buscado se profissionalizar e desenvolver seus próprios projetos obtendo conquistas importantes, o município não tem qualquer avanço na área cultural há muitos anos, não temos um Conselho Municipal de Cultura ativo, não temos Fundo Municipal de Cultura, nem Lei Municipal de Incentivo a Cultura, nem Sistema Municipal de Cultura, não temos Conferência Municipal de Cultura desde 2013, não temos Plano Municipal de Cultura, entre tantas outras ferramentas da cultura e nada disso pode ser realizado se não através do Poder Público. Então a implantação de um Centro de Cultura gerido e mantido pelo
73 Estado com toda certeza nos garantiria mais oportunidades de explorar todos os benefícios sociais da cultura. Sobre quais atividades seriam importantes implantar, penso que a nossa diversidade cultural é muito grande, então eu particularmente gostaria de contemplar o maior número possível de linguagens, principalmente a aquelas que já estão presentes e resistindo há tanto tempo no nosso povo e que por conta dos avanços tecnológicos correm o risco de se perderem como o Reisado, Maculelê, Samba de Roda e Literatura de Cordel, por exemplo, mas que também houvesse cinema, música, teatro, dança, circo, literatura, artes digitais, artes plásticas e capacitações continuadas na área de Produção Cultural, Economia Criativa e Elaboração de Projetos.
________________________________________ Assinatura do Participante
Apêndice C- Termo de autorização de uso de uso de imagem e/ou depoimento.
74 Devido a necessidade de obter mais informações sobre os artistas da cidade, foi realizada uma técnica de pesquisa de observação direta intensiva por meio de pesquisa de campo. Foi possível conversar com Leandro Ferreira Nascimento, artista e influenciador cultural na cidade, onde ele contou um pouco da história dos artistas e forneceu materiais como imagens e portifólios para complementação do trabalho. Durante a visita, foi possível conversar também com mais três artistas da cidade: Dona Bel, Gilmar Palmeira e William Alcântara. Com isso, foi possível saber um pouco das necessidades e anseios de cada um.