Tcc Daniela Bahia

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FACULDADE INDEPENDENTE DO NORDESTE CURSO SUPERIOR EM DESIGN DE MODA

DANIELA DA SILVA BAHIA

MODELAGEM E ALFAIATARIA: QUALIDADE E TÉCNICAS PARA A PRODUÇÃO DE VESTUÁRIOS

VITÓRIA DA CONQUISTA- BA 2015


DANIELA DA SILVA BAHIA

MODELAGEM E ALFAIATARIA: QUALIDADE E TÉCNICAS PARA A PRODUÇÃO DE VESTUÁRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito final à obtenção do grau superior de Tecnóloga em Design de Moda pela Faculdade Independente do Nordeste de Vitória da Conquista – BA. Orientadora: Profa. M.Sc. Analivia Lessa de Oliveira

VITÓRIA DA CONQUISTA- BA 2015


B151m

Bahia, Daniela da Silva Modelagem a alfaiataria: qualidade e técnicas para a produção de vestuários. / Daniela da Silva Bahia ._ _ Vitória da Conquista, 2016. 23.f Monografia (Graduação em Design de modas) Faculdade Independente do Nordeste - FAINOR Orientador (a): Profª. M.Sc Analívia Lessa de Oliveira 1. Modelagem. 2. Alfaiataria. 3. Vestuário. I Título. CDD: 687.044


FOLHA DE APROVAÇÃO

DANIELA DA SILVA BAHIA MODELAGEM E ALFAIATARIA: QUALIDADE E TÉCNICAS PARA A PRODUÇÃO DE VESTUÁRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso Superior de Design de Moda apresentado a Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, como requisito final para obtenção do título superior de Tecnóloga em Design de Moda. Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________ Profa. M.Sc. Analivia Lessa de Oliveira Orientador

______________________________________________________ Profa. M.Sc. Adriana Santos Lopes 2° Membro

______________________________________________________ Profa. M.Sc. Leila Gina da Cruz Silva 3° Membro


“Dedico este trabalho em especial à minha mãe Dagmar, que sempre acreditou no meu potencial e nunca mediu esforços para que eu realizasse os meus sonhos.”


AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por estar comigo e ter me dado forças durante toda esta trajetória. À minha família, que é o meu alicerce e que me levara a ser o que sou hoje. À minha orientadora Analivia Lessa de Oliveira pelo tempo disponibilizado, pela compreensão, atenção e sabedoria a mim dispensadas durante o período de elaboração deste trabalho. Às minhas colegas de turma que unidas por um mesmo objetivo conseguimos chegar até aqui, aos professores, que muito contribuíram para a minha formação e a todos que estiveram comigo durante esta caminhada. O meu muito obrigada!


“Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa. Se você tem um sonho, tem que correr atrás dele. As pessoas não conseguem vencer e dizem que você também não vai vencer. Se você quer uma coisa corre.”

(Filme, A procura da felicidade)


RESUMO Sendo o corpo como fator principal para produzir uma peça de vestuário, é necessário o conhecimento de sua anatomia e proporções. A modelagem é uma etapa de suma importância nesse processo, pois busca por meio de moldes e gráficos produzir peças que se adéquem e atendam às necessidades do usuário, dando conforto e funcionalidade a roupa. Desde a sua descoberta até os dias atuais, várias técnicas de modelagem surgiram para se adequar aos mais diversos tipos de escala de produção. Indo em contramão à produção de massa, a alfaiataria, técnica artesanal de modelagem que produz roupas sob medida e preza pelo acabamento impecável, tem por característica a relação direta com o cliente e dá a roupa um certo nível de status. Essa pesquisa tem por objetivo propor o uso dos métodos da alfaiataria, aplicada as técnicas de modelagem, com a finalidade de melhorar a qualidade de produtos industrializados do vestuário. Palavras-chave: Modelagem, alfaiataria, vestuário.

ABSTRACT The body being as the main factor to produce a garment, it is necessary to know its anatomy and proportions. Modeling in an important step is this process as to search through templates and graphics to produce pieces that fit and meet user needs, providing comfort and functionality to the clothing. Since its discovery to the present day, several modeling techniques have developed to suit the various types of production scale. Going contrary to mass production, tailoring, craft modeling technique that produces tailored clothing and values the flawless finish, it is characterized by the direct relationship with the costumer and gives clothes a certain level status. This research aims to propose the use of the methods of tailoring, applied modeling techniques, in order to improve the quality of industrial products clothing. Keywords: Modeling, Tailoring, Clothing.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Molde plano de saia básica..................................................................04 Figura 2: Moulage de Raf Simons para a Moison Dior........................................04 Figura 3: Modelagem computadorizada de calça e sua graduação....................05 Figura 4: Antigo ateliê de alfaiataria Portuguesa.................................................08


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 01 MODELAGEM: SUAS TÉCNICAS E APLICAÇÕES NA PRODUÇÃO DO VESTUÁRIO ............................................................................................................. 02 A ALFAIATARIA: CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES ........................................ 06 A MODELAGEM PLANA INDUSTRIAL E A TÉCNICA DE ALFAIATARIA COMO FATOR DIFERENCIADOR NO VESTUÁRIO .......................................................... 09 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 11 REFERÊNCIAS..........................................................................................................12



Introdução

A moda tem grande diversidade de significados, é definida ao longo da história, por suas mudanças sociológicas e estéticas, está diretamente ligada à arquitetura, literatura, artes visuais, à decoração e ao vestuário (PALMA, 2013). Para se desenvolver um produto de moda, várias etapas são executadas até chegar ao produto final, dentre elas, uma das senão a mais importante, é a modelagem. A modelagem é uma técnica que pode ser aplicada em diversos objetos, desde capa para estofados, calçados, bolsas e até roupas para pets e vestuário para humanos. No processo de modelagem, vários tipos de técnicas são utilizadas para facilitar e otimizar a produção. Dentre as técnicas utilizadas em modelagem para a confecção de roupas, a alfaiataria é a mais antiga já datada. “Pesquisas datam que esta técnica é existente há mais de oito séculos. Foi em Portugal no século XIII, no ano de 1256 que ocorre o primeiro registro de um alfaiate” (NUNES e MENEZES, 2015, p.4). É uma técnica secular de modelagem, que muito contribuiu para a história da confecção de roupas, uma vez que, se diferencia por sua estrutura única e acabamentos refinados. Esta pesquisa foi desenvolvida a partir de um estudo de cunho bibliográfico exploratório, por meio de livros, artigos online e periódicos, acerca dos temas: modelagem e alfaiataria, com o intuito de defender a utilização das técnicas da alfaiataria, aplicada a técnica de modelagem plana com o intuito de melhorar a qualidade final dos vestuários. Com a revolução industrial, as indústrias de confecção tiveram a necessidade de elaborar moldes para produzir em larga escala, esse desenvolvimento favoreceu a produção, com a gradação de tamanhos e tipos físicos e grande economia de material. (MARIANO, 2011). Possivelmente este foi o fator que possibilitou o surgimento da técnica de modelagem plana, quando os procedimentos para a construção da modelagem foram sistematizados e regras estabelecidas. Segundo Souza, (2006), o ciclo de um produto de moda é cada vez mais curto, o que leva as confecções à necessidade de lançamentos frequentes, comprometendo a qualidade das peças. Para resolver este impasse, é necessário a adoção de medidas que facilitem o desenvolvimento do produto. Neste sentido, a área de modelagem pode contribuir ao adotar procedimentos que viabilizem o processo e a qualidade final do produto, ao unir a técnica de modelagem plana industrial com as de alfaiataria, a fim de, produzir uma vestimenta de qualidade e que atenda a velocidade que a moda impõe.

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Modelagem: suas técnicas e aplicações na produção do vestuário A modelagem do vestuário é uma atividade que prima atender às necessidades do corpo, ao objetivar conforto, durabilidade e funcionalidade a um produto. Consiste em uma técnica responsável pela criação dos moldes, que reproduzem as formas e medidas do corpo, adequados ao modelo a ser construído. É executada a partir de uma análise feita pelo modelista, profissional que elabora o molde a partir da interpretação do desenho e demais especificações. Desta forma, percebe-se que o modelista está no meio do processo entre a ideia e a produção, ao transformar o imaterial em material por meio da confecção da modelagem e por conseguinte a peça em questão. Para que a modelagem tenha o resultado satisfatório é preciso conhecer as formas que compõe o corpo humano e suas variações baseadas nas diversidades relacionadas a gênero, idade e silhueta dentre outras, assim como, preciso que se tenha conhecimento em cálculos e habilidade em desenho para a confecção da modelagem plana. Também é necessário ao modelista conhecer o tipo de matéria prima a ser trabalhada, o tecido que se deseja utilizar e que se adéque a peça, para que ela tenha a vestibilidade e caimento desejados. Assim, percebe-se que, o modelista deve ter conhecimento em diversas áreas de estudo. Ao considerar o corpo humano como ponto de partida para desenvolver uma peça de vestuário, é fundamental entender as relações entre as diferentes dimensões corporais, essenciais para a construção do produto, como: altura do corpo; circunferência do busto e cintura; largura das costas e do ombro; entre cavas e pescoço; para a parte superior do corpo; circunferência do quadril; comprimento do gancho; altura do joelho e tornozelo para as partes inferiores. (MENEZES, 2010). Em posse das medidas que compreendem as partes do corpo, como por exemplo as citadas, é possível reproduzir qualquer tipo de vestimenta que tenha por finalidade cobrir este corpo. As bases da modelagem são moldes que produzem o corpo e não detém de apelo estético, elas reproduzem fielmente os tamanhos de manequins definidos a partir de uma tabela de medidas, e devem conter as linhas referenciais do corpo, além dos

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dados de identificação da base como, o tamanho, gênero, nome da parte (base frente, base costa etc), nome do modelista e data em que foi confeccionado . O conjunto de moldes bases, é composto geralmente por base do corpo, base de saia (em bases femininas), base de manga e base de calça, esses moldes se aplicam em bases femininas, masculinas e infantis, como também podem ser bases de modelos chaves que poderão dar origem a outros modelos. Cada uma destas são montadas e testadas para verificar a conformidade de tamanhos, fazer ajustes se preciso, antes de serem aprovados. O teste destes moldes é imprescindível para que a partir deles sejam criados modelos derivados sem a presença de problemas (SABRÁ, 2014). Existem vários tipos de técnicas de modelagem: a modelagem plana, a Moulage ou Drapping, e as modelagens feitas através de programas de computador e equipamentos específicos, conhecidos como CAD/CAM1. A modelagem plana consiste em uma técnica de construção de moldes feitas através de um desenho plano bidimensional para depois serem transformados em peças tridimensionais. Ela parte de uma tabela de medidas, onde são traçados os gráficos em papéis, por meio de pontos, linhas retas e curvas, utilizando instrumentos próprios para modelagem, réguas, esquadros e curvas (fig. 1). “A modelagem plana tem sido a mais comumente utilizada nas indústrias de confecção, apesar deste método possuir limitações quanto à eficiência, em virtude de seu caráter bidimensional”. (SOUZA, 2006, p. 14).

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Computer Aided Design/Computer Aided Manufactoring. 3


Figura 1 – Molde plano de uma saia básica

Fonte: Site Eduk

A Moulage (francês) ou Drapping (inglês), é uma técnica inversa à modelagem plana. É uma modelagem tridimensional (fig. 2), feita através da manipulação de um tecido sobre um manequim industrial acolchoado, onde são criados modelos de vestuário em forma tridimensional, para depois serem traçados em uma forma bidimensional. Estes manequins industriais são confeccionados com o biótipo semelhante ao corpo humano, ou em escala reduzida, das representações femininas, masculinas ou infantis (SABRÁ, 2014). Figura 2 - Moulage de Raf Simons para a Moison Dior

Fonte: Site Salt Suns e Bikinis

Para a preparação do manequim, é necessário que se utilize uma fita estreita, como soutache ou de cetim, para que sejam feitas linhas guias básicas 4


em torno do manequim tanto verticais como horizontais, assim como, a marcação circular da cava, fixadas com alfinetes. Essas marcações auxiliam o modelista na construção das peças, que ao utilizar uma fita de cor de fita diferente das linhas básicas, que também se destaque à cor do manequim, é possível traçar uma infinidade de modelos. Após feita a moulage do modelo todo ou da parte desejada sob o manequim industrial, são feitas marcações sobre o tecido (toile)2 que irão auxiliar no traçado do molde. Feito isso, o tecido é retirado do manequim e o modelo traçado e passado para um papel específico, onde irão conter todos os dados da peça, através dele também será possível fazer a gradação e desdobramentos do modelo. Os sistemas CAD/CAM segundo Sabrá (2014), começaram a ser utilizados no final dos anos 80 e início dos anos 90. São equipamentos e softwares de modelagem que utilizam do computador, para o processo de desenvolvimento, gradação e encaixe dos moldes (figura 3). O uso deste recurso permitiu que as empresas agilizassem o processo de construção das peças e evitassem o desperdício de material. Figura 3 Modelagem computadorizada de calça e sua graduação.

Fonte: Blog Moda,Costura e Modelagem.

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Termo em francês dado ao tecido ou a moulage finalizada. 5


A alfaiataria: características e aplicações

A alfaiataria é o segmento de modelagem e confecção mais antigo já datado. Segundo Castro (2013), a alfaiataria acompanha a evolução do traje, sendo responsável pelas principais mudanças do vestuário, substituindo de forma gradual trajes masculinos antigamente espalhafatosos, por peças limpas e sóbrias com qualidade de corte e de caimento. Segundo Barbosa e Santos (2014), um dos primeiros registros encontrados na literatura data do reinado de Henrique I, de 1100 a 1135, em que o rei concedia direitos e privilégios aos alfaiates de Oxford (distrito de governo local do condado de Oxfordshire, Inglaterra). Com relação aos métodos utilizados pelos alfaiates, no ano de 1589 surgiu a primeira referência bibliográfica sobre o tema, publicada pelo alfaiate espanhol Juan de Alcega, o primeiro livro de traçados em modelagem masculina na história intitulado o “Libro de Geometri pratica y Traça”. “A palavra alfaiate, assim como conhecida na língua portuguesa, é derivada do árabe alkhayyát, do verbo khatá que significa coser.” (CASTRO,2013, p.213). É uma técnica de modelagem artesanal que produz roupas de acabamento impecável, tem relação direta com o cliente e dá a roupa um certo nível de status, porém, o avanço e as inovações tecnológicas estão fazendo com que esses trabalhadores se adéquem às novas técnicas de modelagem, para acompanhar a produção em massa, facilitar sua profissão e não deixar que o ofício entre em declínio. De acordo com Fischer (2010), o termo “alfaiataria” não está ligada somente ás técnicas únicas de costura à mão ou à máquina, mas também a peças de roupa cuja formas e contornos não são de influência exclusiva pelo formato do corpo que a usa. O profissional alfaiate tem conhecimento para estruturar blazer e paletós com diferentes materiais, evidenciando a aparência natural do corpo. A alfaiataria artesanal é um trabalho minucioso, feito por profissionais com mão de obra altamente qualificada. Nasceu pela necessidade do homem, de um profissional que confeccionasse suas roupas. Em meados dos anos 50, a maioria das roupas eram feitas sob medida. O alfaiate tirava as medidas de seu cliente, em fitas próprias para cada cliente, onde continham suas medidas, escolhia o 6


tecido, o lavava para não correr risco de encolhimento posterior, riscava o molde com giz sobre o tecido, cortava e depois confeccionava, todo esse processo feito à mão. Após montada a peça, o cliente provava de duas a três vezes, dependendo do tipo de peça, para então ser acabada, engomada, passada, e chegar a mão do cliente em estado impecável (CASTRO, 2013, p.212). Vários fatores são responsáveis pelo ótimo caimento de uma peça de alfaiataria: a medição do corpo do cliente, a escolha dos tecidos, a modelagem correta da peça escolhida, e as técnicas de costura e acabamentos. A estrutura interna das roupas são feitas com diferentes tipos de materiais; entretelas, fitas, tiras, feltro e tecidos para forros e bolsos, que os deixem fortes e leves. Todas as partes de uma peça de alfaiataria tem sua técnica específica de ser confeccionada: o formato dos bolsos, fechamentos, aplicação de fita de sarja ou algodão bordas que precisam ser reforçadas, modelagens específicas de golas e lapelas que mudam conforme a moda ou mantém o estilo tradicional, os diferentes pontos das costuras manuais e até a forma de passadoria da peça (FICHER, 2010). De acordo com Castro (2013), no início apenas homens trabalhavam nesse ofício em grandes casas de alfaiataria, a produção era dividida, onde cada empregado tinha uma função diferente, porém, em 1675 um grupo de mulheres solicitou permissão para exercer a profissão e trabalhar com alfaiataria feminina, tornando-se assim, modistas. Em 1820 ocorreu um dos avanços mais importantes para evolução da alfaiataria, a invenção da fita métrica (CASTRO, 2013). Depois disso, as roupas masculinas passaram a ser confeccionadas a partir de uma tabela de proporções e medidas pré-estabelecidas, que favoreceu a diminuição do número de provas e otimizando o tempo, assim, se estabeleceu uma padronização de roupas. O avanço da tecnologia contribuiu para a melhoria da profissão e em 1850 com a invenção da máquina de costura, as vestimentas passaram a ser produzidas com mais precisão e rapidez. Com o passar dos anos e a necessidade de se organizar com a finalidade de aumentar seus salários após a Primeira Guerra, os alfaiates formaram uma classe denominada "Cavalheiros da Agulha”, uma espécie de sindicato, onde os mestres contratavam aprendizes e passavam a eles seus ensinamentos (CASTRO, 2013, p.215). 7


De acordo com o site Brasil Profissões, os alfaiates e seus desdobramentos se classificam da seguinte forma: Mestre Alfaiate, que é o profissional habilitado para todas as etapas do processo, nas medidas, corte, preparo e acabamento, este geralmente é o dono do estabelecimento; Contra Mestre, profissional que auxilia o mestre sob a sua orientação; Oficial Alfaiate, é quem costura as peças do vestuário; Oficial de Paletó, é o oficial que confecciona paletós ou peças a rigor; Coleteiro, que confecciona coletes; Calceiro, que confecciona calças; Acabador, que faz ombros golas e pregas em mangas; Buteiro, que faz reparos gerais; Passador, que passa todas as peças; e Aprendiz de Alfaiate, onde se inicia a profissão. A imagem abaixo apresenta um antigo ateliê de alfaiataria portuguesa, onde se vê o mestre proprietário e dois auxiliares. Figura 4 – Antigo ateliê de alfaiataria portuguesa

Fonte: Blog Tempos Saudosos Plínio.

A modernidade chegou como divisor de águas, ao trazer uma moda mais acessível decorrente da produção de massa, mas, que aos poucos se extingui uma profissão secular de acabamento impecável. Hoje os profissionais existentes nessa área são pessoas idosas e sem perspectiva de passar a diante os conhecimentos da profissão, até porque poucos são os jovens que se interessam em aprender o ofício. Os que atuam tem ateliê próprio ou trabalham em grandes indústrias com métodos de modelagem plana industrial.

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A modelagem plana industrial e a técnica da alfaiataria como fator diferenciador no vestuário

De acordo com Gonçalves e Lopes (2007), o que diferencia uma peça de roupa, em termos de qualidade, são: as propriedades do fio que compõe o tecido; o maquinário e acabamentos utilizados; as qualidades técnicas que se referem ao funcionamento e eficácia na execução das funções; a facilidade de manuseio e a manutenção da limpeza da peça; qualidades ergonômicas, que incluem a compatibilidade de movimentos, a segurança e o conforto; e as qualidades estéticas, que representam os materiais trabalhados e suas texturas, e a combinação de formas dando a peça aparência agradável. Para que uma confecção de vestuário tenha um resultado de produção satisfatório, é necessário que ocorra a separação de setores: criação, modelagem, pilotagem, validação, planejamento e controle de produção, pois a qualidade que o produto representa é o que dará sucesso e reconhecimento a marca. Como pode-se perceber, um dos processos de produção de total relevância na construção de uma peça de vestuário é a modelagem, pois é um dos mais importante dentro de uma empresa. É a modelagem a etapa de construção que dá a peça a usabilidade e conforto necessários. A qualidade do vestuário é um dos fatores fundamentais para se obter sucesso nas vendas e uma das grandes responsáveis é a modelagem pois da sua execução adequada dependem o conforto das peças, o bom caimento além dos padrões estéticos de tendência de moda nesse processo é importante a escola da técnica e utilização de procedimentos que favoreçam a qualidade ergonômica do produto (GONÇALVES e LOPES, 2007, p.5.)

A alfaiataria é um tipo de modelagem plana feita para a criação de peças que se desenhem ao corpo do cliente, feita sob medidas precisas, com técnicas artesanais únicas. O profissional alfaiate participa de todo o processo de 9


construção da peça, ele mesmo tira as medidas, traça o molde e confecciona, é dotado de conhecimento matemático preciso, e também de ergonomia, sua forma de medição do corpo, aplicação no molde e perfeito acabamento é o que dá diferença no resultado final. De acordo com Oliveira e Rosa (2015), ao analisar a história pode-se concluir que sempre houveram estudos prévios para a confecção das peças de roupa, foi a Revolução Industrial que impulsionou o processo de produção, a invenção da máquina de costura agregou velocidade e qualidade no acabamento para os profissionais autônomos, mas também trouxe consigo as indústrias de produção em massa, o que por um lado impulsionou a produção, por outro trouxe dificuldades em quem passou a comprar a roupa pronta para vestir, como a falta de um padrão de tamanhos adequados ao seu tipo físico e a falta de conforto na peça. Com o avanço cada vez maior da tecnologia, novas técnicas e avanços surgiram para aumentar a produção de massa, deixando esquecidos os métodos e técnicas usadas anteriormente, que quando aplicadas juntamente com a modelagem industrial podem contribuir bastante para a melhoria da qualidade. A alfaiataria tem sido alvo de estudo acadêmico, Oliveira e Rosa (2015), relatam que esses estudos estão sendo feitos com o intuito de procurar soluções na construção de modelagem, de acordo com suas antigas técnicas. Diante disto, vê-se que uma das formas de possibilitar que isto ocorra é com a inserção de profissionais alfaiates em indústrias de confecção, na linha de produção com montagem de roupas realizadas através de suas técnicas. Segundo Fischer (2010), a alfaiataria hoje pode ser dividida em duas categorias: a alfaiataria tradicional personalizada, que ainda produz através das técnicas artesanais similares às usada no século passado e alfaiataria industrializada, que utiliza processos mais rápidos, de confecção com acabamento industrial, com partes como gola e punho pré-fabricados, entretelas termocolantes e costuras antes feitas à mão, agora feitas por máquinas que reproduzem o padrão, tão bem-acabado quanto o esperado em uma peça de alfaiataria, tornando a peça menos onerosa. A técnica de alfaiataria já foi incorporada em muitas marcas, unindo o processo ao corte de tecidos com padronagens pré-estabelecidas, neste caso, o cliente prova uma peça feita a partir um molde com sua numeração e se 10


necessário são feitos ajustes e adaptações para que a peça se torne sob medida. Um exemplo de marca que usa desse método é a loja Tevah, loja de moda masculina, que integra as técnicas de alfaiataria na construção da peça, com o auxílio de máquinas, otimizando o trabalho sem que precise o uso de trabalhos manuais (BONAZZA, 2008).

Considerações finais Conclui-se com este trabalho que desde o surgimento do vestuário, pesquisas sobre modelagem são feitas com o intuito de melhorar a qualidade das roupas. No século XIII surgiu a alfaiataria, técnica de modelagem plana que traz consigo habilidades específicas de estrutura e acabamento impecáveis, dando ótimo caimento da peça ao corpo. Desde então várias outras técnicas foram criadas com o intuito de facilitar e otimizar a produção, como a técnica de moulage e os sistemas CAD/CAM de produção computadorizada, deixando esquecida a técnica de alfaiataria, que aliada à modelagem produz uma vestimenta de qualidade, condizente à velocidade de produção imposta atualmente. Para tanto, pretende-se assim sugerir que cada vez mais as empresas de produção do vestuário unam a modelagem às técnicas de alfaiataria, para trazer ao cliente um produto de excelente qualidade que se adeque às funções do seu dia a dia, trazendo o conforto e segurança necessários, porém, considerando que a alfaiataria industrializada pode ser produzida com alto padrão, mas nunca terá o caimento e individualidade que uma peça customizada sob medida possui.

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Referências

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BRASIL PROFISSÕES, Alfaiate. Disponível em:<http://www.brasilprofissoes.com.br/profissao/alfaiate-2/ >. Acesso em: 12 abril. 2016. BONAZZA, Karine Lippert. Vestuário: modelagem tridimensional para uma qualidade industrial vestury: tridimensional patternmaking modelling for industrial quality. Colóquio de Moda, Novo Hamburgo, 4.ed, out. 2008. Disponível em:< http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/4-Coloquio-deModa_2008/42661.pdf >. Acesso em: 09 maio. 2016. CALDAS, Artemísia; Mudanças e Permanências na Alfaiataria: dos costureiros aos designers de moda. Actas de Diseño, Facultad de Diseño y Comunicacion, Universidad de Palermo, Itália, ISSN 1850-2032. Disponível em:<http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/ actas_diseno/articulos_pdf/ADC103.pdf>.Acesso em: 12 abril. 2016. CASTRO, Paula Campos de. Ainda há espaço para os alfaiates no mundo do ‘pronto para vestir?’. CES Revista, Juiz de Fora, v.27, n.1, p.221-224, jan/dez. 2013. Disponível em: http://seer.cesjf.br/index.php/cesRevista/article/viewFile/318/pdf_31>. Acesso em: 17 abril. 2016. FISCHER, Anette. Fundamentos do design de moda: construção de vestuário. 1 ed., Bookman, Porto Alegre, 192 p. 2010. GONÇALVES, Eliana; Lopes, Luciana D. Ergonomia do vestuário: conceito de conforto como valor agregado ao produto de moda. Actas de Diseño, Facultad 12


de Diseño y Comunicacion, Universidad de Palermo, Itália, 2007. Disponível em: < http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/actas _diseno/articulos_pdf/A039.pdf> Acesso em: 08. Maio. 2016. MENEZES, Marizilda dos Santos; SPAINE Patrícia Aparecida de Almeida. Modelagem Plana Industrial do Vestuário: diretrizes para a indústria do vestuário e o ensino-aprendizado. Projética, Londrina, v.1, n.1, p.82-100, dez. 2010. ISSN 2236-2207. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/projetica/article/view/7737> Acesso em: 15 abril. 2016. OLIVEIRA, Luiza; ROSA, Lucas da. Análise do método de alfaiataria de Annibal Martins na modelagem industrial. Colóquio de Moda, Curitiba, 11. ed., Set. 2015. Disponível em: < http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/11Coloquio-de-Moda_2015/POSTER/PO-EIXO6-PROCESSOS-PRODUTIVOS/PO-6ANALISE-DO-METODO-DE-ALFAIATARIA-DE-ANNIBAL.pdf> Acesso em: 09 Maio. 2016. SABRÁ, Flávio. Modelagem: tecnologia em produção do vestuário. 1 ed., Estação das letras e cores. 158 p. 2014. SILVEIRA, Icléia; ROSA, Lucas da; LOPES, Luciana D. Requisitos utilizados na moulage para o conforto do vestuário. Colóquio de Moda, Curitiba, 11. ed., Set. 2015. Disponível em: < http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/11Coloquio-de-Moda_2015/COMUNICACAO-ORAL/CO-EIXO6-PROCESSOSPRODUTIVOS/CO-6-REQUISITOS-UTILIZADOS-NA-MOULAGE.pdf>. Acesso em: 08 maio. 2016. SOUZA, Patrícia de Mello. A modelagem tridimensional como implemento do processo de desenvolvimento do produto de moda. 2006. 116 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Programa de Pós-Graduação em Desenho Industrial, Campus Bauru, São Paulo. Disponível em: <https://www.faac.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/Design/Dissertacoes/patricia.pdf>. Acesso em: 15 abril. 2016.

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Referências de Ilustrações Figura 1: Molde plano de saia básica. Fonte: Site Eduk. Disponível em:< http://www.eduk.com.br/cursos/10-moda/1441-modelagem-plana-desaias>Acesso em: 06 maio. 2016 Figura 2: Moulage de Raf Simons para a Maison Dior. Fonte: Site Salt Suns e Bikinis. Disponível em: <http://www.saltsunbikinis.com.br/biquini-perfeitoneoprene-moulage/> Acesso em: 07 maio. 2016. Figura 3: Modelagem computadorizada de calça . Fonte: Blog Moda, Costura e Modelagem. Disponível em:<http://modacosturaemodelagem.blogspot.com.br/2014/12/o-que-emodelagem.html> Acesso em: 07 maio. 2016. Figura 4: Antigo ateliê de alfaiataria Portuguesa. Fonte: Blog Tempos Saudosos Plínio. Disponível em:< http://tempossaudososplinio.blogspot.com.br/2010_10_25_archive.html> Acesso em:06 maio. 2016.

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