Pilo da Silva A COR DAS PALAVRAS ... E SE FOSSE MÚSICA ?
Geometrias e Alfabetos A palavra de origem grega caos, de acordo com uma das definições do Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, significa: “na tradição platónica, o estado geral desordenado e indiferenciado de elementos que antecede a intervenção do demiurgo, por meio da qual é estabelecida a ordem universal.” Curiosamente uma das exposições de 2003 de Manuel Pilo da Silva intitulava-se “entre o caos e a ordem”. O artista herdeiro do movimento de abstracção geométrica e da sua vanguarda pictórica do princípio do século XX, representada por Piet Mondrian, Wassily Kandinsky, Hilma af Klint e Victor Vasarely, entre outros, Fernando Lanhas, Maria Keil e Nadir Afonso, em Portugal, partilha uma das suas preocupações da cosmogenia: o caos ou vazio patente em toda a realidade exterior é reorganizado pela capacidade racional do indivíduo. É uma luta permanente e intrínseca do ser humano e por vezes a impotência e angústia no fracasso da reestruturação do mundo exterior transforma-se em expressão artística. E aqui temos Pilo da Silva com este seu último trabalho a querer, com as suas pinceladas, limitar-nos a um universo bidimensional onde a razão se traduz na organização geométrica e posteriormente matemática. A sua pintura, polida, cuidada e com o rigor que lhe é próprio, adquire equilíbrio na combinação das formas geométricas com a luz e as vibrações das longitudes de ondas cromáticas que a compõem.
Em algumas das obras expostas deparamos com muitas figuras geométricas que se transformam em signos do nosso alfabeto: a linguagem escrita como exteriorização da razão e os números como base essencial das ciências. Em um dos trabalhos, de forma quase desapercebida num parêntesis figurativo, e certamente como provocação, está representado um pássaro amarelo em cima de um quadrado vermelho, contemplando a obra como espectador tal como nós. Possivelmente no intuito de avisar que todo o esforço de introspecção não deve jamais pôr de parte a realidade do nosso quotidiano e, a modo orteguiano, a nossa circunstância. Encontramo-nos perante uma obra exposta com coerência e bem fundamentada na qual o pintor optou por acompanhar a exposição na Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Campus da Caparica, com música de Erik Satie e as suas notas límpidas, claras e simples, criando assim um conjunto de acentuada beleza. Manuel Pilo da Silva em Prelúdios um livro de poemas da sua autoria, no capítulo “Desencontros” diz: “Existem precipícios nas palavras que ocultamos” Devemos entender por certo que o precipício é o vazio e o caos, que o artista combate com a sua pintura. Roberto Santandreu
Cascais, Novembro de 2017
MANUEL ESTEVÃO PILO DA SILVA nasceu na Margueira (Almada) em 1932. Participou em diversas exposições entre as quais se contam: •1.ª e 2.ª exposições de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian em 1957 e 1961 •IV Exposição Colectiva de Artes Plásticas, Galeria Pórtico,1957 •Exposição de homenagem à Companhia Brasileira de Teatro Maria Della Costa, Teatro Apolo, Lisboa, 1957 •Entre 1956 e 1957, juntamente com António Domingues, Rui Filipe, Francisco Relógio e Artur Bual, entre outros, organizou e participou em exposições didácticas em Associações Académicas •Exposição de Artes Plásticas integrada na Feira Internacional do Livro e do Disco – F.I.L. Lisboa, 1975 •Exposição individual na Galeria do Centro Municipal de Cultura de Castelo de Vide, Junho 2000 •Exposição individual na Galeria de Exposições do Clube Portugal Telecom, Lisboa, Novembro de 2000
•3.ª Bienal de Artes Plásticas da Marinha Grande, Outubro e Novembro de 2000, com itenerância no “Ayuntamiento de San Ildefonso - La Granja”, Segóvia – Espanha, Dezembro e Janeiro de 2001 •7.ª e 8.ª Exposições Internacionais de Vendas Novas, Auditório Municipal, Vendas Novas, Outubro e Novembro de 2001 e 2002 •Exposição individual no Clube Thomarense com o patrocínio da Comissão Central da Festa dos Tabuleiros de 2003 Em 1958 fixou residência em Madrid onde trabalhou até finais de 1959. De regresso a Lisboa dedicou-se também à actividade publicitária e ao desenho gráfico Está representado em colecções particulares em Portugal, Espanha e Suécia Encontra-se citado no “Portuguese 20th Century Artists”, Michael Tannock, 1978
A COR DAS PALAVRAS ... E SE FOSSE MÚSICA ? As obras agora apresentadas são parte do trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos e estão organizadas em dois grupos entre si relacionados Foram concebidas de forma a se integrarem na ideia geral de que as palavras, as letras, na sonoridade da sua fonética nos sugerem cores e formas do mesmo modo que a música, combinando harmoniosamente entre si sons de grande riqueza cromática, nos sugerem formas, cores e ritmos.
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