BARRACAS PEDRO TELMO CHAPARRA
Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa no Campus de Caparica
13 Setembro – 9 Novembro 2012
Voar… Dada a situação geográfica do Campus da FCT, a envolvente do oceano, a areia e a brisa estão sempre presentes. Sendo parte da vida de todos “nós”, estes elementos transportaram Pedro Telmo Chaparra para vivências passadas, impulsionando a sua imaginação e criatividade artísticas. Em final de verão, procurando reavivar memórias (ou talvez nunca esquecer férias passadas), barracas transformadas e editadas preenchem a “praia” da sala de exposições, mantendo ligação aos elementos que a (nos) rodeiam. Permitindo diferentes olhares e desafios visuais, dependendo dos pontos de observação, a instalação desenhada para este espaço a ele se une de forma surpreendente e exaustiva. Do nivel térreo (areia), podemos “voar” (brisa) às varandas e ter um verdadeiro “bird´s-eye view” (oceano). O espaço é único deste ponto de vista. Todo ele permite uma experiência visual tridimensional (e de interação) com a peça instalada. Do detalhe da proximidade, ao conjunto global da obra, esta (artística) brisa agita “areias” e fortalece a aposta da Biblioteca da FCT na procura de novos valores, desejando-lhes grandes vôos... Benvindos à “nossa praia”….
José J. G. Moura Director da Biblioteca FCT-UNL no Campus de Caparica
O
espaço de exposições da Biblioteca da FCT é um local por onde muitos artistas e colecções têm passado, em manifestações diversas incluindo pintura, escultura, fotografia, instalações, performances, etc. Esta interacção forte com o mundo das artes tem trazido ao Campus um vertente cultural diferente e complementar aos saberes de uma Faculdade de Ciências e Tecnologia (UNL). Um aspecto interessante tem sido o encontro com novos criadores, descobertos ou indicados, que muitas vezes encontram neste espaço o local para uma das suas primeiras exposições. A generosidade desses artistas aliada com a criatividade e originalidade tem proporcionado uma visão inovadora da arte e permitir que novos talentos tenham aqui uma rampa de lançamento. De facto isso tem acontecido. Pedro Telmo Chaparra vem agora expor obra, de enorme impacto visual, que aproveita a dimensionalidade do espaço. Um prazer ver esta proposta que antecipa uma continuidade que vamos seguir de perto.
José J. G. Moura Director da Biblioteca FCT-UNL no Campus de Caparica
Fernando J. Santana Director da FCT-UNL
T
enho seguido o trabalho de Chaparra com entusiasmo, não menos que com ansiedade. Em que medida estas pinturas são o fim de um percurso (escolar) ou o início de uma aventura (a carreira artística)? Em que ponto deixam de ser mais uma mirífica expressão do estertor modernista e passam a ser um testemunho próximo da eterna angústia do jovem pintor perante a vida moderna? A beleza destes objectos 'encontrados' – ao nível da utilização das 'telas', da coloração, da imediaticidade do gesto – esgota-se na mera transposição e respectiva técnica? Ou há uma força invisível que os move para se constituírem como exercícios de frottage do real em toda a sua complexidade? A segunda hipótese prevalece: estes 'quadros' são desconfortavelmente simples e relacionais (muito mais do que parece), perturbam na sua ingenuidade (penso na definição que Ernesto de Sousa dava do termo). E não apenas porque nos reinventam a História do Verão. Na sua configuração de barraca reconstruída como espaço expositivo (instalação) – mas também quando apresentada em telas soltas – a pintura de Chaparra convoca-nos para uma singeleza de processos que é iminentemente uma mimima moralia do acto pictórico (como sugeri recentemente, aquando da colectiva Objet Trouvé, na Plataforma Revólver). Aliás, daí até aqui, à Caparica, mantenho a convicção: as pinturas – e agora a instalação – de Chaparra são como sinais sem mensagem – em que os símbolos se desvanecem enquanto tal – mas que ao mesmo tempo se apropriam de uma linguagem gráfica universal. Haverá melhor definição para o papel que a arte pode ter no dia-a-dia (e tanto mais relevante no quotidiano de um Campus científico)? No caso de Chaparra, eis o esplendor da arte como sensibilidade sempre pessoal-intransmissível, cujo potencial estético-político – o seu senso – reside na singeleza com que se limita a recuperar o território do real – aliás, em sentido estrito, o lado mais superficial desse real! Mas hélas! Paradoxalmente é assim que ela bate mais fundo no nosso coração inquieto. A nossa 'praia' – lá diz José Moura – nunca poderá deixar de ser a arte. Mergulhemos nela. No caso do Chaparra, na sua superfície pictórica.
Mário Caeiro Caparica, Agosto de 2012
H
á um suporte que é um pano listrado, uma matriz, marcas legíveis, impressões com diferentes intensidades, vestígios da deterioração dessa matriz. Essas mesmas marcas servem de matriz a outra imagem e o trabalho vai sendo continuamente construído no prazer de fazer, entre o exercício de composição e o erro, repetição e experiência. Há o uso de suportes tradicionais e nobres associados à pintura, como a tela, mas também o uso de materiais de recuperação, diversos tipos de papel e cadernos que tanto podem ser repositórios de esboços como suporte de experimentação. Na série Barracas, de Pedro Telmo, “pintura” e “gravura” apenas cumprem etapas num processo complexo de construção da imagem mas não são os termos que servem para definir o seu resultado. Por vezes, a imagem surge por via do uso de técnicas associadas à impressão; por vezes é um conjunto de pinceladas organizadas em riscas coloridas dando origem à imagem. Certo é que Pedro Telmo, tal com Ângelo de Sousa, é um cromómano1 que recorre a formas primordiais, como o rectângulo ou o quadrado, para apor sucessivas zonas de cor: vermelho, amarelo, azul ou preto. A filiação é evidente, em ambos o trabalho quotidiano de atelier, o prazer no uso da cor e no “fazer coisas”, a alternância de fazer-repetir-insistir-alterar recorrendo apenas ao essencial, sobrepõe-se à necessidade de se classificar o que se faz. Mais do que descrever a mostra patente na FCT-UNL ou revelar os métodos do artista interessa-nos contextualizar sucintamente um dos objectos especificamente produzidos para esta exposição – o catálogo. Esta pequena edição responde à ideia generalizada do que pensamos ser um catálogo, cuja função é essencialmente documentar uma mostra, mas é simultaneamente uma extensão da própria série de trabalhos aqui exposta, pois espelha as preocupações conceptuais do artista e sofre directamente a sua intervenção. Embora a edição conte com 200 exemplares, cada volume é um objecto singular. Cada exemplar de Barracas é constituído por um conjunto de impressões feitas durante 1 «Doença» inventada por José Gil a propósito da obra de Ângelo de Sousa: Um pintor bêbado, toxicodependente da cor: um cromómano. In, GIL, José - “Sem Título” – Escritos sobre Arte e Artistas. Lisboa, Relógio de Água, 2005. Pág. 263.
várias semanas e cada sequência de páginas é organizada numa ordem própria, com uma composição única. Para além de ser um lúcido exercício de experimentação e de composição, a edição questiona o conceito de série e põe em causa a concepção de objecto único e de múltiplo, preocupação latente em outros trabalhos aqui expostos no espaço da FCT. Ou seja, sem ser uma obra autónoma, este volume cumpre a função de exposição2, para lá do tempo de duração da exposição Barracas. É um livro-exposição-itinerante. Barracas, revela a grande coerência e a maturidade do projecto plástico de Pedro Telmo. Seja num abrigo efémero ou no espaço de atelier, o quotidiano do artista pauta-se pela sua capacidade de reconhecer ou reinventar a plasticidade das formas mais simples e dos objectos que nos rodeiam. E a inteligência do trabalho de Pedro Telmo reside aí, na serendipidade, num feliz cumular de experiências. 2 Termo utilizado para definir uma das características do livro de artista, embora este catálogo não seja um livro de artista. Em itálico no texto original. http://www.jrmdprt.net/ doc/DUPEYRAT-EXPOSER-PUBLIER.pdf página 3-4 (consultado em 11-10-11)
Isabel Baraona
PEDRO TELMO CHAPARRA Nasceu em Lisboa a 4 de Janeiro de 1985. Actualmente vive e trabalha nas Caldas da Rainha, onde é monitor das oficinas de gravura e serigrafia da ESAD.CR. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS (SELECÇÃO) 2012 Barracas, Biblioteca do Campus FCT, Charneca da Caparica/Almada (catálogo) 2010 C2, Museu Bernardo, Caldas da Rainha EXPOSIÇÕES COLECTIVAS (SELECÇÃO) 2012 Object Trouvé , Plataforma Revólver, Lisboa (catálogo) Matriz Caldas, Museu do Hospital Termal das Caldas da Rainha Colecção e mais 2007-2012 (Museu Bernardo), Centro de Artes de Sines Colectiva Rainha, Galeria Laboratório, Lisboa 2011 SOMAFRE, Exposição 20 Anos Artes Plásticas ESAD.CR, 90-10, Lisboa (catálogo) A Vida É Bela Quando Se É Pai, Museu Bernardo, Caldas da Rainha There Are Many Ways To Make A Cake, exposição de livros de artista, Silos, Caldas da Rainha 2010 Quem são eles?, Galeria Ogiva, Óbidos (catálogo) Exposição de Livros de Artista, Centro Cultural das Caldas da Rainha Exposição de Finalistas ESAD.CR, Caldas da Rainha (catálogo) IKAS-ART 2010 Bilbau, Espanha (catálogo) Finalistas 2010, Ílhavo Bienal Jovens Valoures, Loures (catálogo) Museu Bernardo “4/Q”, Caldas da Rainha
Ficha técnica
BARRACAS
Pedro Telmo Chaparra Instalação Pintura 13 de Setembro a 9 de Novembro Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa no Campus de Caparica DIRECTOR
José J. G. Moura COORDENAÇÃO
José J. G. Moura e Ana Alves Pereira em colaboração com Sílvia Reis e Isabel Carvalho CURADORIA
Mário Caeiro CONSULTORIA
Isabel Baraona DESIGN GRÁFICO
Rosa Quitério para Palavrão, Associação Cultural COLABORAÇÃO
2009 6o Festival de Gravura de Évora, Bienal Internacional Pintura
www.palavrao.net
FORMAÇÃO ACADÉMICA 2010/2012 Mestrado em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR) 2007/2010 Licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (ESAD.CR) 2006 Curso de Banda Desenhada ministrado pelo Centro de Investigação e Estudos de Arte e Multimédia (CIEAM) da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa 2000/2004 Escola Secundária Artística António Arroio
IMPRESSÃO Relgráfica, Artes Gráficas Lda.