Cor de Luz

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COR DE LUZ BEATRIZ BRUM



Lagoas de Luz, a arte e a ciência ao vivo e a cores Die Farben sind Taten des Lichts, Taten und Leiden. Johann Wolfgang von Goethe O mundo mudou muito desde o Romantismo Alemão. Ou será que nem tanto? Na epígrafe supra, Wolfgang von Goethe, o autor da mais profunda das Teorias da Cor, afirmou qualquer coisa como: as cores são o agir da luz, e seu sofrer. A famosa obra de Goethe, recorde-se, inscreve-se no âmbito das Ciências da Natureza. Pode porém ser vista como uma resposta crítica da Arte ‘contra’ a Ciência, o que não impediu (ou terá provocado) que as ideias do autor alemão fossem relegadas durante demasiado tempo para o caixote do lixo da história pela mais ‘objetiva’ óptica de Newton. A verdade é que suas raramente discutidas intuições estão hoje cada vez mais na ordem do dia, pelo menos para quem busque na arte um plano de ressonâncias da vida com o real que ultrapassam a hegemonia da ciência dura para precisamente alargar os horizontes – dá vontade de dizer, o espectro – dessa mesma ciência que ou é Humana… ou não é. Em suma, qualquer teoria das cores – e a Brum tem vindo a construir a sua, ou pelo menos um conceito de investigação-acção pautado por um rigor laboratorial – é fruto de uma paixão pelo mundo enquanto experiência estética e simultaneamente cognitiva, como se a arte pudesse, neste caso através de uma investigação sobre a(s) cor(es), ser uma formativa

aprendizagem da imagem do real – das imagens conforme as quais o mundo se dá a conhecer. É verdade que esse mundo é hoje todo ele violentas cores digitais em écrans que não nos dão descanso – o espectáculo – e lâmpadas economizadoras que deterioram o nosso sentido visual e por conseguinte empobrecem a nossa experiência dos objectos mais quotidianos. Algo de muito essencial se perdeu ou está a perder-se. É por isso que artistas como a Beatriz Brum são importantes, senão fundamentais para que regressemos a uma paixão pela cor do mundo. A poucos meses da defesa da sua Tese de Mestrado em Artes Plásticas na ESAD.CR, a Brum traz à Caparica um excepcional acervo de obras recentes – todas inéditas –, que são simultaneamente autónomas na sua presença-vibração cromática e elementos móveis – peças de um jogo – de um radioso discurso sobre a cor. Como não poderia deixar de ser para quem se interessa não apenas pela sua arte, mas pelo contexto geográfico e cultural em que se insere, esta série de trabalhos é finalmente das mais objectivas e ao mesmo tempo afectivas homenagens ao arquipélago dos Açores. Pensando retrospectivamente, poderíamos ter chamado a esta exposição ‘Lagoas de Luz’. Em suma, aqui na Caparica, onde a Biblioteca tem por tradição reivindicar um espaço de liberdade plástica, que ora ‘namora’ o discurso científico, ora dele se afasta ‘amuada’, esta exposição contribui decisivamente para que um velho diálogo se vá tornando finalmente entusiasmante conversação. Afinal, a cor é um grau da escuridão. Goethe dixit. Mário Caeiro Caparica, Dezembro de 2018


Cor de Luz Sem luz não há cor, a cor é criada através da luz. A cor de um objeto altera-se consoante a luz que recebe (luz natural ou artificial). E cada um recebe e reflete essa luz de forma diferente. Nesta exposição, podemos ver a luz a ser explorada em duas vertentes: a luz natural que ao ser projetada nos desenhos de parede cria uma imagem atrás dessas imagens, formando assim caixas de luz natural; no chão, caixas de luz artificial em que a luz completa a forma desenhada no acrílico. A luz tem um papel muito importante enquanto objeto de criação, porque a vejo como desbloqueadora de formas. Têm-me interessado bastante as formas que são provocadas através da luz/sombra, as formas que encontramos diariamente em objetos do quotidiano. São formas que não têm propriamente uma cor associada, como acontece com os recortes das lagoas. Lagoas são formas preenchidas com água, e não têm cor. São superfícies refletoras que captam as cores envolventes. O mesmo acontece com a luz (luz natural) – não há uma cor associada, há sim uma superfície onde essa luz se projeta. Nesta exposição, exploro de uma forma muito particular a apropriação das formas criadas por objetos “incolores” (luz e àgua) que depois são trabalhados sob uma superfície transparente (acetato e acrílico), através da qual voltam a ganhar cor. Beatriz Brum S. Miguel, Açores, Novembro de 2018







Beatriz Machado Brum nasceu a 14 de fevereiro de 1993, em Ponta Delgada na ilha de São Miguel – Açores. Em 2015 concluiu a Licenciatura em Artes Plásticas na Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha. Em 2017 conclui o Mestrado em Gestão Cultural e atualmente é Mestranda em Artes Plásticas pela ESAD.CR. Em 2015 venceu o prémio jovens criadores do Walk&Talk. No ano seguinte participou na exposição colectiva “(5)” I’kletick, Londres, nesse mesmo ano expõe a titulo individual no Hotel Madrid, Caldas da Rainha, com a exposição “Bruma”. Em 2018, participou em algumas exposições da Galeria Oitavo, no Porto, como a “Não é em Paris, é na Oitavo” e “Ciclo Semanal”. Ainda em outubro de 2018 fez parte da exposição “Código Postal 9500 - Três Residentes Artistas: Beatriz Brum, João Miguel Ramos e Sara Rocha Silva” no Centro Municipal de Ponta Delgada. O seu trabalho caracteriza-se por uso de técnicas que facilitem a contribuem para a rapidez do processo de concretização das obras. Não se considera um sketcherpor isso há uma tendência de procurar formas que já existem, para isso, nos últimos anos tem se interessado particularmente por elementos que origine forma, mas que não tenha propriamente uma cor associada, como a luz e água.

AGRADECIMENTOS:


EXPOSIÇÃO COR DE LUZ BIBLIOTECA DA FCT NOVA 11 Janeiro – 15 Fevereiro 2019 ARTISTA Beatriz Brum CURADORIA Mário Caeiro BIBLIOTECA FCT NOVA José Moura, coordenação (diretor) Ana Pereira, coordenação Ana Roxo, coordenação Luisa Jacinto, colaboração Isabel Pereira, colaboração Rui Olavo, design TEXTOS Beatriz Brum Mário Caeiro FOTOGRAFIA Diogo Sousa IMPRESSÃO DE CATÁLOGO Puck Produções IMPRESSÃO VINIL EXTERIOR Puck Produções ISBN: 978-972-8893-72-9


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