Susana Aleixo Lopes
O VAZIO PREENCHE-SE curadoria de Volker SchnĂźttgen
Susana Aleixo Lopes
O VAZIO PREENCHE-SE curadoria de Volker Schnüttgen
Biblioteca da FCT NOVA 5 de Dezembro de 2017 a 28 de Janeiro 2018
Ao longo de mais de 10 anos de A Escultura sempre ocupou um lugar especial na “vida” da Biblioteca da FCT. No princípio, um simpósio sobre escultura levou a que a Comunidade presenciasse o processo criativo de três escultores, que, respetivamente deixaram três peças no Campus, as quais, ainda hoje, convivem com utentes e visitantes da FCT. Colocadas em locais estratégicos, estas peças escultóricas marca(ra)m a recuperação do espaço público, integrando, valorizando e definindo (novos) espaços e, por conseguinte, criando (novos) pontos de fruição e vivência. Em boa verdade, a Escultura está connosco há muito tempo. Na fase final da construção do novo edifício da Biblioteca, que, em setembro último, comemorou 11 anos de “vida”, foi possível integrar uma peça de Vítor Ribeiro que, de forma única, ligou o espaço interior e exterior: um rebento, uma árvore, um rio... um dos ex-libris deste equipamento. Na sala de exposições da Biblioteca, tiveram lugar momentos expositivos vários que, usando pedra, ferro, madeira, acrílico, e outros materiais, nos confrontaram com imaginação e versatilidade de ideias e propostas. Mas a Escultura também saiu para o exterior e “plantou-se” no jardim, onde cinco artistas nos desafiaram para um “Déjeuner sur l`Herbe”, propiciando experiências estéticas únicas. Vitor Ribeiro, Rui Matos, Volker Schnüttgen, Jorge Pé Curto, Mathias Cothezen, André Banha e Paulo Neves marcaram definitivamente a obra escultórica apresentada na Biblioteca ao longo dos anos. A programação de 2018 dá continuidade a esta vertente cultural. Agora será a vez de Susana Aleixo Lopes… com curadoria de Volker Schnüttgen. Dentro da aposta que a Biblioteca tem feito na procura e apresentação de novos artistas, esta exposição desafia a artista duplamente: um primeiro confronto real da obra com o público e a sua relação (descobeta) do espaço expositivo (neste caso difícil, dada a dimensão e características do espaço). Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (e Academia de Belas Artes de Gdansk, Polónia, Susana Aleixo Lopes apresenta obra que é, à partida, uma aposta ganha. A artista confronta materiais, recriando-os “entre orgânico e artificial”, “entre natural e industrial” num processo de tentativa-erro que termina em resultados inesperados...
José Moura Diretor Biblioteca Fernando Santana Diretor FCT NOVA
A principal diferença entre o processo do trabalho do cientista e do artista é a relação com a objectividade e subjectividade. Enquanto o cientista tenta evitar qualquer manipulação durante a observação do seu objecto da investigação, o artista parte da sua subjectividade, de si próprio. Mesmo analisando o mundo fora de si assume uma visão desse mundo filtrado pelo seu próprio olhar. Consequentemente qualquer obra de arte tem sempre alguma parte autobiográfica incluída. Defendo porém que uma obra bem concebida ganha a sua própria autonomia: não necessita do autor, a presença dele ou uma explicação. Necessita do público, da subjectividade do observador, da sua leitura. Esta invocação do público com a obra, a soma de múltiplas interpretações subjectivas, transforma-a num valor comum, e no caso das grandes obras-primas numa propriedade cultural universal. Na exposição presente “ O Vazio Preenche-se” na Biblioteca da Universidade Nova de Lisboa na Caparica a autora Susana Aleixo Lopes assume a sua subjectividade no processo criativo por excelência. Nasceu naqueles rochedos rodeados pelo infinito do oceano – eternamente em movimento - no meio do Atlântico. Onde até a terra sólida de vez em quando se mexe. Em 2007 entrou na Faculdade das Belas Artes da Universidade do Porto e a partir daí começou a odisseia no vasto oceano da Arte Contemporânea. É uma navegação sem bússola, sem leme, no vazio da escuridão, sem luar com as estrelas apagadas.
Os objectos das transformações da Susana são como madeiras flutuantes, encontradas a cruzar o seu rumo no vazio do mar, acolhidas e guardadas com muita atenção. Objectos aparentemente pobres tornam-se nas suas mãos nobres. Amacia-os com todo cuidado até aparecerem os anéis anuais com toda a clareza. Ganham uma superfície suave com um toque sensual. Cava o centro de uma rodela de madeira minuciosamente até encontrar a medula, o embrião da árvore, e protege-a com uma lente de vidro. Acrescenta pequenos objectos – a cor dourada do latão - que como um colar ou anel de joalharia acentuam a beleza do material. Queima as superfícies com maçarico a mostrar a essência do Ser orgânico: o carbono de um negro absoluto. Os trabalhos mais espaciais de grande porte têm tábuas verticais apoiadas por polígonos de contraplacado queimado que se estendem no espaço. São fixados por dobradiças de latão acentuando a sua mobilidade. Apesar da sua escala não constituem uma estabilidade estatuária, bem pelo contrário: sugerem uma grande fragilidade, suspensos no momento durante a permanente metamorfose. O processo de criação da Susana não está baseado na certeza de uma evidência. É o princípio da dúvida que a motiva a pisar terrenos agrestes, entrar em becos sem saída à procura de objectos e materiais cheios de histórias, vida, personalidade e afectos.
Sintra, 5 de Novembro 2017 Volker Schnüttgen
“O Vazio Preenche-se” [O vazio.] Na minuciosidade desse encontro percebemos que tudo vem do vazio e para ele se caminha. É de onde vimos e para onde vamos. O começo, o fim. É o nada, o ar, o espaço entre. É o negativo como forma. É a queda da ausência à matéria, o excesso. Um caminho atractivo de uma realidade distorcida, um mergulho no abismo desesperante e inevitável. É um colapso da fuga, um estado de espírito. Um momento ou uma etapa. Uma vontade insaciável e presente. O vazio é uma escolha, é fulcral para o despertar do sentido da vida. É individual, uma virtude, uma possibilidade no interior da aparência. É externo, interno, e pode ficar suspenso na sua metamorfose. Passa despercebido, ou fica alerta para os vestígios deixados de um abandono de si. Ele espreita(-se), observa(-se) de perto ou de longe. Pode estar exposto ou camuflado, criar barreiras contra todos os danos. É ignorado ou aceite. O vazio é a negatividade a operar positivamente porque ele é fértil, essencial no percurso cíclico que impulsiona a procura de nós próprios. Aos poucos ou de repente, e com a certeza de que volta, o vazio preenche-se. Lisboa, Susana Aleixo Lopes Outubro, 2017
“Colapso da Fuga” Materiais: Madeira – Carvalho queimado | Dobradiças Dimensões: 235cm x 107cm x 62cm
“Suspensa no Momento da Permanente Metamorfose”, 2017 Materiais: Madeira - Riga | Contraplacado queimado | Dobradiças Dimensões: [220cm x 310 cm x 160cm] e [285cm x 310 cm x 155cm]
“Atração pelo Abismo: Mergulho na angústia do nada” Materiais: Madeira - Choupo | Espuma de Poliuretano | Tinta Branca Dimensões: 95cm x 100cm x 20cm
“Atração pelo Abismo: Mergulho na Essência Desconhecida” Materiais: Madeira | Espuma de Poliuretano | Tinta Preta Dimensões: 95cm x 100cm x 20cm
“Na Minuciosidade do Encontro” Materiais: Madeira - Choupo | Madeira Queimada | Lupa de Mesa Dimensões: 52,5 cm x 43 cm x 19 cm
“Contra Todos os Danos” Materiais: Madeira - Choupo | Aluminío Pintado Preto | Tinta Branca | Prego de Latão Dimensões: 58 cm x 48 cm x 15 cm
“No Interior da Aparência” Materiais: Madeira - Choupo queimado | Folha de Ouro Mouro Dimensões: 55 cm x 48 cm 18 cm
“No Limite do Excesso” Materiais: Madeira - Choupo | Caixas de Acrílico | Serrim | Carvão Dimensões: 150 cm x 44 cm x 16 cm
“Vestígios de um Abandono” Materiais: Carvão Dimensões: 5,5cm x 5,5cm x 4cm
Bio Susana Aleixo Lopes nasceu a 22 de Julho de 1987, em Ponta Delgada na ilha de São Miguel – Açores. Em 2007 frequentou o curso de Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e licenciouse em Escultura, terminando o curso durante Erasmus na Academia de Belas Artes de Gdansk, na Polónia, em 2012. Atualmente vive e trabalha em Lisboa. A sua obra materializa e eterniza pensamentos, sentimentos, memórias, emoções que a sociedade atual nos incentiva a esconder e a camuflar. Torna-se um ciclo vicioso provocado por um remoinho emocional de hesitações, dúvidas, inquietações, inseguranças, medos e indecisões. Um interminável ciclo tentativa-erro que gera tensão. Utiliza diversos materiais e diferentes formas de expressão. Nas suas obras domina a madeira por se identificar com este material sempre vivo. Cria fronteiras entre o orgânico e o artificial, entre o natural e o industrial, criando não só um paradoxo conceptual mas também visual. A artista pretende expandir a compreensão sobre aquilo que significa estar vivo hoje e explorar o papel de mudança como indivíduos. Pretende proporcionar uma experiência de reflexão e introspeção, através de realidades emocionais, comuns e tão vulgares a todos. www.susanaaleixolopes.com
Agradecimentos Director da FCT NOVA | Câmara Municipal de Ponta Delgada | Direcção Regional da Cultura – Governo dos Açores | Prof. José Moura | Volker Schnüttgen | Pedro Lopes | Maria Aleixo | Ana Lopes | José Cantante | Ana Carvalho | Licínio Silva | Sofia Taborda | Luisa Amaral | Rui Freitas.
“O VAZIO PREENCHE-SE” FICHA TÉCNICA BIBLIOTECA FCTUNL José Moura, coordenação (diretor) Ana Roxo, coordenação Luisa Jacinto, colaboração Isabel Pereira, colaboração Rui Olavo, design TEXTOS José Moura e Fernando Santana Susana Aleixo Lopes Volken Schnüttgen FOTOGRAFIA Da artista IMPRESSÃO DE CATÁLOGO A Persistente - Artes Gráficas HORÁRIO 2ª a 6ª feira das 09:00 às 20:00
alguns sábados opcional (a anunciar).
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