Sala Multiusos | Biblioteca FCT NOVA
Exposição Coletiva
LUGARES QUE JÁ FORAM INDÚSTRIAS E MEMÓRIAS DE ALMADA MARGUEIRA 21 de novembro a 18 de dezembro de 2018
O espaço representado Uma portaria de caixilhos sem vidros liberta espaços por onde as brisas de Cacilhas e alguns gatos se esgueiram, vigiados por um plĂĄtano que Ă entrada faz honras de atalaia. A compor a entrada estĂŁo as catracas, reguladoras do caudal humano a cada turno, no JLUDU GDV VXDV PDQLYHODV DJRUD IHUURVDV H VXSÂŤUĚXDV WDO FRPR D HWHUQD ¤QFRUD IXQGHDGD ¢ VXD IUHQWH 3URWDJRQL]DQGR R ÂŁWULR D QRUWH XPD ĚRUHVWD GH FKRXSRV GRFLOPHQWH descontrolados emerge nas taliscas da calçada dando-lhe a forma das suas raĂzes. Uma balança sem saĂşde para aferir cargas perdeu parte da cabine e, ali perto como em todo o estaleiro, dispersos grupos de tubos e vĂĄlvulas emergentes do chĂŁo, libertos de pressĂŁo sugerem os vaporosos sopros sibilantes do passado, mais notados em dias invernosos. No sentido da Piedade tudo ĂŠ desordenado pela renĂşncia dos homens aos lugares: HUYDV H PXVJRV UHVLOLHQWHV DR ĚŹEURFLPHQWR GRV WHOKDGRV HVWRUHV HQYLHVDGRV QXQFD PDLV subidos, uma escada semi decomposta pendurada no vazio, caleiras, calhas, portas, rampas e bidons, serviços disto e daquilo, gabinetes, argolas e alçapĂľes, tudo adereços de um plateau industrial, sem atores e sem guiĂľes. Na caldeiraria, pavilhĂŁo imponente onde era natural a escala dos traços de lemes e anteparas, o robusto chĂŁo de cimento parece gravado por colossais goivas que lhe marcaram os impactos do aço e do trabalho, como se de madeira branda se tratasse. No VHX HPEUHQKR FDOHLUDV H IRVVDV QHJUDV D FKHLUDU D ÂľOHR VÂĽR FDPXĚDGDV SRU WDPSDV GH ferro empenadas, que fazem ecoar os passos intrusos. A caminho do rio, a nascente, brotantes do chĂŁo, grupos de varĂľes roscados apontados ao cĂŠu formam uma hirta seara e, adiante, sobre a comporta que divide em duas a doca e as marĂŠs raptadas ao Tejo, atinge-se a penĂnsula formada por uma cordilheira de SDYLOK¡HV JÂŤPHRV 2 FDRV QR VHX LQWHULRU SHUĚŹOD VH FRP R FLUFXQGDQWH WXERV GH TXHGD escorrem ferrugem, o odor a quadros e cabos que jĂĄ foram elĂŠtricos, emana como se tivessem ardido ontem. No chĂŁo, puzzles de vidros quebrados e baralhados misturam-se FRP SDUDIXVRV SHUĚŹV JUHOKDV OLPDOKDV H WHUUD QHJUD -D]HP PHFDQLVPRV FRPDQGRV bancadas mancas e oscilam projetores suspensos por um triz. Aqui, os sinais da
FRQWHVWDŠ¼R PDQWÂŹP VH DVVXPHP DJRUD D IRUPD GH JUDĚŹWWL H GH DUWH XUEDQD WRPDQGR o lugar dos apelos sindicalistas do passado. Situada na mesma Ănsua, nĂŁo foi hĂĄ muito tempo que na esmerada torre administrativa, se deixou de ouvir o ruĂdo das cartas e dos contratos batidos Ă mĂĄquina, em parte, sufocado pelas alcatifas que ainda revestem corredores e gabinetes. Os elevadores e o ar condicionado contrastam com as empinadas escadas das gruas e plataformas e com o calor dos maçaricos de corte, revelando as naturais e distintas sujeiçþes humanas ao trabalho. ContĂguo ao Serviço de Pessoal nos balneĂĄrios recheados de pedra lioz, nĂŁo restam bancos, armĂĄrios ou cabides que suportem capacetes, ganga suada ou biqueiras de aço. EstĂŁo vazios e neles se misturam o eco e o silĂŞncio restando somente pegadas de lama seca, bacias e lavatĂłrios de centro a lembrar pias batismais, onde o pĂł da granalha e da tinta seca vindos da pele se depositavam. A norte da entrada, uma esquelĂŠtica torre metĂĄlica que iluminou serĂľes e decapagens, pejada de holofotes e plantada numa lezĂria de cimento, jaz vergada fazendo agora uma forçada vĂŠnia ao mar da palha. $GLDQWH DWÂŤ &DFLOKDV D GRFD HPROGXUDGD SRU XP FRUULPÂĽR PHWÂŁOLFR TXH ¢ GLVW¤QFLD FRQĚŹJXUD XPD IDL[D GH UHQGD IRL R OHLWR GH PXLWRV DFKDFDGRV JLJDQWHV GRV PDUHV TXH repousaram nos seus picadeiros. A icĂłnica e imponente grua em forma de pĂłrtico, imortalizada estrutura que ancorada nas suas margens, manobrou costados e cargas LPSRVVÂŻYHLV SHUPLWLQGR ¢V JHQWHV GH $OPDGD ID]HU ĚXWXDU R VHX DŠR SHORV PDUHV GH WRGR o mundo. A mescla interpretativa e representativa das imagens colhidas no estaleiro e materializadas HP IRWRJUDĚŹD UHVXOWD GDV GLIHUHQWHV UHODŠ¡HV TXH FDGD IRWÂľJUDIR HVWDEHOHFH FRP R OXJDU em causa, quer seja ao nĂvel simbĂłlico, conceitual, ideolĂłgico, abstrato ou outro. Dos lugares que jĂĄ foram indĂşstrias de Almada, a Margueira, antigo estaleiro naval da Lisnave em Cacilhas, ĂŠ aqui representado com a transversalidade inerente ao pluralismo de uma visĂŁo de conjunto, enriquecida pela subjetividade de cada artista. JoĂŁo Monteiro Outubro de 2018
Estabelecida a convergência de sentidos, o conjunto dispersa-se em magnéticas incursões, onde cada fotógrafo, focalizado e guiado por pontos mais ou menos distantes, estabelece rotas subjetivas e deambulantes que se entrecruzam na captura física do espaço. Esse bailado de perspetivas, orientado pela pulsão de cada olhar, procura decifrar o passado vivido no estaleiro através da exígua apreensão do seu presente.
)RWRJUD̬D Carlos Marques da Silva, Conceição Arsénio, Fernando Alves, José Barata, José L. Guimarães, Maria José Rafael, Sónia Cabrita, Patrícia C. Teixeira 9¯GHR Gregório Cabrita 1DUUD©¥R Rui Guimarães Biblioteca FCT NOVA José Moura, coordenação (diretor) Ana Maria Pereira e Ana Roxo, coordenação Luisa Jacinto, colaboração Isabel Pereira, colaboração Ricardo Almeida, design HORÁRIO 2ª a 6ª feira das 09:00 às 20:00