Catalogo Visões da Quimica

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Visões de Química O Laboratorio Chimico no Campus Biblioteca FCT–UNL | Campus de Caparica


Carbon is not the man... ... nor the salt nor water nor calcium. He is all these, but is much more, much more. John Steinbeck, Grapes of Warth, 1939

Je me suis remis à la chimie... et je suis l´homme le plus heureux du monde. Honoré de Balzac, La recherche de l'absolut, 1834


O Laboratorio Chimico no Campus

José J. G. Moura Director da Biblioteca

Fernando Santana Director FCT

Na recta final das comemorações do Ano Internacional da Química (2011), a Biblioteca do Campus de Caparica – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, lançou um repto ao Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, para, em co-curadoria, apresentar uma selecção de peças e instrumentos de Química, seleccionadas pela sua relevância científica e também pela sua intrínseca beleza. Das discussões preparatórias nasceu o desejo de ir mais além e, para além da tradicional exposição, foi pedido a artistas plásticos que adoptassem algumas das peças e, de modo livre, (re)criassem visões artísticas em torno das peças. Sem constrangimentos de metodologias ou de representação, a ideia foi indicar–sugerir outra(s) funcionalidade(s), ou conferir àquelas que as peças possuem, uma perspectiva artística. Dessa(s) novas visões críticas e imaginativas surgiram leituras contemporâneas do(s) objecto(s). Encontrava-se, também assim, um momento para um diálogo entre a UNL e a UL, e para trazer à ribalta, variações dos temas expostos à luz da criatividade de artistas plásticos, que “sentindo” as peças expôem interpretações muito pessoais. O que foi conseguido não seria possível sem a generosa (disponível) colaboração do Museu da Ciência da Universidade de Lisboa (Prof. Ana Eiró, Doutora. Marta Lourenço, Dra. Ana Romão) e a criatividade da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte que, com todos os condicionantes dos tempos que correm, imaginou o espaço (quase cénico) da sala de exposições da Biblioteca, revalorizando-o e reinterpretando-o.


O Laboratorio Chimico da Escola Politécnica A Universidade de Lisboa possui um magnífico Laboratorio Chimico oitocentista, integrado no Museu de Ciência. Durante mais de 150 anos, o laboratório foi utilizado por sucessivas gerações de estudantes, primeiro da Escola Politécnica de Lisboa (1837-1911) e depois da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1911-1998). Alvo de uma recente intervenção de restauro e musealização, que recuperou a sua traça original do final do século XIX, o Laboratorio Chimico está aberto ao público desde Maio de 2007. A conclusão deste projecto de recuperação, neste ano de 2011, traz à fruição pública todo o esplendor dos espaços oitocentistas que tiveram na época uma importância decisiva no ensino e serviço público no nosso país. Considerado por muitos um exemplar singular do património científico português e europeu, o Laboratorio Chimico e o Anfiteatro anexo foram instalados e equipados a par dos melhores estabelecimentos de ensino na Europa da época. É a herança deste passado que encerra a colecção de química do Museu, testemunho de uma história de mais de um século, que pretendemos dar a conhecer. Foi assim com grande satisfação que o Museu de Ciência da Universidade de Lisboa respondeu ao desafio feito pelo Prof. José Moura, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, para a realização de uma exposição conjunta, levando o Laboratorio Chimico da Escola Politécnica ao Campus da Caparica, no espaço da Biblioteca de que é responsável. Se a ideia inicial foi a de expor apenas objectos da colecção, celebrando a quími-

ca através dos seus equipamentos históricos, por si só dignos de ser contemplados, a natural associação deste espaço expositivo a manifestações artísticas a par da vontade de lançar novos desafios, levou-nos a desenvolver um projecto em parceria com alguns artistas a quem as peças de química pudessem trazer particular inspiração. E foi num ambiente quase místico da reserva visitável do Laboratorio Chimico enquadrados por armários repletos de cadinhos, alambiques e retortas, objectos manipulados por gerações de professores e alunos, que muflas, fornos, gasogéneos e balanças foram alvo da imaginação e criatividade dos artistas, trazendo um olhar diferente sobre os instrumentos do passado, promovendo pontes que ajudam a reflexão sobre o património. Foi sobretudo a forma e a cor, mas também por vezes a funcionalidade da peça, que atraíram os artistas, uma abordagem que estimula o nosso imaginário, com soluções técnicas e estéticas muito diversas que tornaram um desafio a organização desta exposição, estabelecendo novos diálogos entre a ciência e as artes. Que esta abertura a outras visões sobre a colecção de química possa enriquecer o nosso modo de olhar para o património, cruzando saberes e sensibilidades, numa colaboração que esperamos possa ser continuada, contribuindo para a promoção da diversidade cultural no seio das nossas Universidades.

Ana Maria Eiró Museu de Ciência da Universidade de Lisboa


visões de química objectos da colecção do museu de ciência

© Paulo Cintra


CALORÍMETRO

Vaso de cobre utilizado para determinação de variações de temperatura em reacções químicas. Século XIX. Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL141 Dim. (87x37x31) cm


ALAMBIQUE

PIANO DE REAGENTES

Aparelho utilizado para destilação de vinhos e rectificação de alcoóis, constituído por um depósito central em latão sobre um tripé ajustável com inscrição por baixo das armas reais: " À SA MAJESTÉ / DON LUIZ 1er / ROI DU PORTUGAL / DÉSIRE SAVALLE / INGÉNIEUR/ PARIS 1875".

Suporte em madeira para armazenamento de reagentes destinados à realização de análises químicas por reacções sistemáticas com alguns dos reagentes adequadamente ordenados (marcha geral de análise). Século XIX

Proveniência: Escola Secundária Patrício Prazeres, Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL- DEP0157 Dim. (130x110x64) cm

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL588 Dim. (41x100x51) cm


ESTUFA

MÁQUINA PNEUMÁTICA

Recipiente em cobre aquecido por circulação de água com quatro compartimentos com prateleiras intermédias. Utilizado para aquecimento e secagem de substâncias químicas e de equipamentos de vidro de laboratório. Weiesnege, Paris. Século XIX.

Bomba aspirante de duplo êmbolo, constituída por dois tubos de vidro verticais no interior dos quais se deslocam os êmbolos que se movem verticalmente com movimento de uma manivela de dois braços. Utilizado para retirar o ar de recipientes de modo a obter baixas pressões no seu interior. Deleuil, Paris. Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL173 Dim. (60x70x24) cm

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2430 Dim. (116x67x43) cm


BALANÇA

BICOS DE BUNSEN

Instrumento de precisão de pratos suspensos de travessão apoiado no eixo central, com sistema de travagem. Possui sistema de amortecedores pneumáticos para atenuar as oscilações dos pratos e sistema de inserção de cavaleiros para ajuste nas pesagens. Cobos, 1957.

Grupo de dezasseis bicos assentes num tubo com três entradas de gás com válvula de regulação de ar e uma torneira de regulação de gás. Utilizado como sistema de aquecimento. Século XX.

Proveniência: Escola Secundária Veiga Beirão Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL4429 Dim. (44x37x29) cm

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL3106 Dim. (22x72x14) cm


FORNOS

GASOGÉNEO

Recipientes em cerâmica refractária e metal. Utilizados para aquecimento de materiais e substâncias químicas. Século XIX.

Dispositivo para produção de água gaseificada artificial, constituído por dois depósitos de vidro elipsoidais protegidos por uma rede de fibras vegetais. Estes aparelhos (Alka Seltzer) acondicionavam em câmaras separadas bicarbonato de sódio e ácido tartárico que, quando misturados no momento de consumo, produziam por reacção química a gaseificação. Foram depois substituídos pelos aparelhos de sifão em que se injectava dióxido de carbono sob pressão. Briet, Paris. Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2023; MCUL3316; MCUL1056; MCUL3317 Dim. (25x18x18)cm; (23x15x15)cm; (49x28x25)cm; (14x12x12)cm

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL141 Dim. (87x37x31) cm


GASOGÉNEO

PIPETA DE DOYÈRE

Dispositivo para produção de água gaseificada artificial, constituído por dois depósitos de vidro protegidos por uma rede de metal. Estes aparelhos (Alka Seltzer) acondicionavam em câmaras separadas bicarbonato de sódio e ácido tartárico que, quando misturados no momento de consumo, produziam por reacção química a gaseificação. Foram depois substituídos pelos aparelhos de sifão em que se injectava dióxido de carbono sob pressão. D. Fèvre, Paris. Século XIX.

Dispositivo em vidro incolor utilizado para absorção e transferência de gases. Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2014 Dim. (43x18x18) cm

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL1500 Dim. (37x20x13) cm


Outras vis천es um olhar de artistas


Ana Romana & Susana Anágua

Metal de Sacrifício, 2011 Partindo do princípio químico do aparelho de produção de água gaseificada – o Alka-Seltzer – a fusão de dois elementos resulta, um terceiro diferente. Metal de sacrifício é uma escultura/instalação composta por um vídeo projetado numa chapa de zinco suspensa e, debaixo desta chapa, uma tina com solução liquida de sulfato de cobre. Nesta , onde o azul profundo remete para o Chroma Key do cinema, é possível ver os reflexos da chapa e, por consequência, do vídeo projetado na chapa. O zinco é utilizado em estruturas como metal de sacrifício, para preservar por exemplo o ferro da corrosão. Mas esta chapa de zinco, que nos possibilita o acesso à imagem vídeo, dissolve se mergulhar na tina com sulfato de cobre, estando assim em constante eminência o seu sacrifício.

Ana Romana Licenciada em Pintura (Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa), com Pós-graduação em Museologia e Património (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova) e com Mestrado em Gravura (Royal College of Art). Expõe regularmente desde 1996 em Portugal (Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural de Belém, CAV – Coimbra, Sociedade Nacional de Belas Artes, Centro Cultural Emmerico Nunes, Centro de Arte Manuel de Brito...), Reino Unido, Japão, Brasil, Estados Unidos da América, China e Finlândia. Susana Anágua Formação académica 2008/9: MA Digital Arts, Camberwell College of Arts, London. Tutor: Andy Stiff. 2003/04: Licenciatura em Artes Plásticas, na Escola Superior Arte e Design das Caldas da Rainha. Exposições individuais: 2008, “Northless”, Centro de Arte Moderna (CAMJAP) Gulbenkian, Lisboa. (catálogo); “7 Maravilhas de Portugal”– Instalação no Mosteiro Santa Maria da Vitória, Batalha; 2007, “Natureza Mecânica – Episódio 3 – A queda do Simulacro”, Arte Lisboa – Project Room, comissariado de Isabel Carlos, Fil, parque Expo, Lisboa; 2007, “Natureza Mecânica- Episódio 2 – A desorientação, parte II”, Galeria Presença, Lisboa. Projeção vídeo, chapa de zinco, tina com sulfato de cobre

Visões de Química — Novembro 2011 22 – 23


Ana Vasconcelos

A reflexão sobre a produção de cultura material leva-nos à origem das coisas na sua forma mais elementar. A natureza é a fonte de todos os materiais possíveis de serem trabalhados, entre eles a porcelana, os metais, o vidro e a cestaria; mas a natureza reveste-se também de valores sedimentados ao longo dos tempos. A peça Alka Seltzer foi interpretada recorrendo ao barro, material natural acessível e mesmo arcaico, como símbolo da necessidade de retorno à natureza. Conceptualmente, a peça reporta à natureza do lugar, palco das relações holísticas que interferem na reflexão sobre a produção material. Neste espaço confluem o património cultural e social com o ambiente – entender estas redes significa saber preservá-las. O papel do lugar é aqui compreendido como o panorama que intercruza os aspectos socioculturais com a natureza, onde a relação de identidade faz-nos sentir como parte integrante do cenário. O lugar da natureza que queremos preservar e valorizar é também a paisagem, onde as histórias dos lugares suportam o sentimento de inclusão. A natureza, como espaço apropriado, é lugar de sentimentos, de memórias e de poesia.

2008, Doutoramento, título: Future Food. Towards a Sustainable Food Pattern, no Politécnico di Milano, Italia. 1998, Mestrado, título: A contribuição tecnológica no habitat: electricidade e eficiência doméstica na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e licenciatura em Design de Equipamento pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Actualmente é professor auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, onde desenvolve trabalho de investigação em design para a sustentabilidade e inovação social. 1988, exposição individual: Cerâmica, Clube 50, Lisboa e colaborou em várias exposições colectivas de cerâmica e design.

Peças de cerâmica Medidas da peça: 60 x 200 x 200 Material: Barro vermelho Peso: 40 kg Visões de Química — Novembro 2011 24 – 25


Enrique Williams

Inspirado nos fornos de cerâmica refractária usados para aquecimento de materiais e substâncias químicas, em exposição, esta peça é uma proposta de um “forno” / reactor, conduzindo reacções “mágicas e fumegantes”, como que um ser extra-terrestre/monstro que se alimenta de matéria orgânica e inorgânica. Somos transportados para um mundo alquímico em que a transformação da matéria em “vil metal” nos remete a ligações com o poder económico e político.

1994, Estudos de escultura com Alfredo Williams (Licenciado em artes visuais Instituto Nacional de Arte). 1992, Curso de desenho e pintura com Maria José Digiacomo (Professora de Belas Artes na Escuela Previliano Puyrredon). 1985, Curso de Decoração de Interiores pela Escuela Panamericana de Arte. Buenos Aires, Argentina. 1982, Curso de Artes Gráficas pela Escuela Panamericana de Arte, Buenos Aires, Argentina. Exposições (selecção): 2010, Mostra individual, ISCTE, Lisboa. 2010, Mostra individual Espaço Docas em Lisboa. 2010, Mostra individual, Fábrica Braço de Prata, Lisboa. 2010, Mostra individual na Biblioteca da FCT, Campus de Caparica. 2009, Obra seleccionada para a Bienal Europeia de Montijo. 2008, Mostra colectiva “ARTE PELA PAZ”, Horta – Açores. 2007, Mostra colectiva “PORTO ARGENTINO”, Porto. 2007, Mostra individual, Casa da América Latina, Lisboa

Medidas: altura 1,20 mts., base 1,00 x 1,00 Materiais: Cobre, Bronce, Madeira, Palha do aço, Poliuretano expandido Peso: 6 Kg. Visões de Química — Novembro 2011 26 – 27


Helena Abrantes

Jardim de Bunsen Escolhi como referência para este trabalho um objecto de laboratório do Séc. XIX em exposição no Museu da Ciência, os bicos de Bunsen, que imediatamente me sugeriram flores. Assim iniciei um processo de desconstrução da forma, isolando os elementos que me interessavam para a nova construção e nasceu a ideia do jardim de bunsen, um objecto que poderá funcionar como jarra. Utilizei o grês chamotado como material e como técnicas o rolo, a lastra e a modelação. Após secagem os elementos foram submetidos a uma chacota de 1120º C e depois vidrados com uma suspensão de Feldspato de Potássio, Carbonato de Cálcio e Dolomite par ser cozida novamente a 1200º, obtendo assim uma superficie branca mate sedosa. Os elementos de encaixe, as “flores”, foram vidrados a 1000º C. Adorei fazer este trabalho, foi um desafio muito interessante que a meio do processo desencadeou no meu trabalho pessoal uma nova linguagem formal. Como dizia Bruno Munari, Das coisas nascem coisas...

1987, Inicia os seus estudos em cerâmica no ArCo. 1990, Estágio em NCAD, National College of Art & Design – Dublin. 1990, Estágio no School of Arts Institute of Chicago, USA 1991, Simpósio de Cerâmica em Caraguatatuba, São Paulo, Brasil. Exposições (selecção): 1988, Alunos do ArCo – Museu Nacional do Azulejo. 1991, ArCo Bolseiros – Sociedade Nacional de Belas Artes. 1992, 7ª Bienal Internacional de Vila Nova de Cerveira. 1994, ArCo Cerâmica – Oficina da Cultura, Almada. 1996,Unge Kunstreres Samfund – Oslo, Noruega. 1998, 3 Anos de Cerâmica no ArCo, Museu Nacional do Azulejo. 2004, Oficinas de Cerâmica do ArCo 1987 –2004 – Museu Nacional do Azulejo. 2006, Artistas.com – 9arte, Lisboa. 2011, Colectiva Pintura e Cerâmica – Oficina da Cultura, Almada. Exposições Individuais: 2002, Emoções – Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha. 2010, Do ardim ou de um outro lugar, Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor. 2011, Momento, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Caparica.

Peça de cerâmica Visões de Química — Novembro 2011 28 – 29


Miguel Faro

Blowing Doyère , 2011 Blowing Doyère apresenta um plano e uma Pipeta de Doyère encastrada. Em cada face do plano é projectado um vídeo distinto, resultante de uma mesma acção, produto da intervenção do autor sobre a pipeta. É apresentado um objecto, uma Pipeta de Doyére. Este foi preparado para ser exibido. Carrega em si uma série de significados resultantes de mecanismos físicos, mentais e sociais que levaram à sua produção, utilização, conservação e exibição. Operando fisicamente sobre o instrumento, o autor apresenta uma série de relações duais que actuam em diferentes níveis. A relação entre objecto e a sua imagem. A relação entre dois elementos indissociáveis: o resultado visível de um mecanismo e o funcionamento do mesmo. Uma interacção, entre duas imagens do autor, que está na base da criação de um novo mecanismo. Uma relação entre esse novo mecanismo, de cariz intimista e de representação do eu e os mecanismos de uma sociedade científica, produto do colectivo, inerentes à apresentação de um instrumento laboratorial. Desta forma, a relação inicial entre os diferentes mecanismos associados ao objecto é alterada e reestruturada. Desta operação, em si mesma um mecanismo, resultam novas relações entre objecto, mecanismo e imagem.

Miguel Faro trabalha e habita em Lisboa, Portugal. Estudou Engenharia Física no Instituto Superior Técnico, Arquitectura na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, frequentando actualmente o último ano da licenciatura de Arte e Multimédia (ramo de Performance e Instalação) da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Trabalhando essencialmente com vídeo, fotografia e instalações, opera com questões de identidade. O uso do seu corpo, da imagem deste e da relação de ambos com estados psicológicos são temas recorrentes. O dual é elemento quase universal no seu trabalho que, muitas vezes, surge de operações autobiográficas que aliam de um modo não científico modelos retirados da mecânica quântica e a prática de skateboarding para explorar relações entre o corpo, a sua imagem e diferentes tipos de espaços (físicos, emocionais e/ou psicológicos). Exposições (selecção): Valgus Festival 2008 (Tallin, Estónia com curadoria de Indrek Leht e Veronika Valk); Skyway Festival 2009 (Torun, Polónia com curadoria de Mário Caeiro) e Lisboa como metáfora 2010 (Galeria Quadrum, Lisboa, Portugal com curadoria de Antónia Gaeta). Foi o vencedor do prémio BPI 2009/ 2010.

Instalação-vídeo, dupla projecção, pipeta de Doyère Formato: 16x9

Visões de Química — Novembro 2011 30 – 31


Miguel Palma

MY DAILY LIFE, 2011. Uma balança de alta precisão farmacêutica afere o equilíbrio entre a vida exterior e a vida interior do homem contemporâneo.

Vive e trabalha em Lisboa. Expõe regularmente desde os finais dos anos 80. Exposições individuais (selecção): 2011, Linha de Montagem, comissariado por Isabel Carlos, Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; 2009, COMMA 01: MIGUEL PALMA (OSMOSIS), comissariado por Graham Gussin e Sacha Craddock, Bloomberg Space, Londres, Reino Unido; 2007, Miguel Palma / O Mundo às Avessas, comissariado por Miguel Wandschneider, Culturgest, Lisboa, Portugal, 2007; 2000, Miguel Palma, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal; 1997, Traject, Centre de Creation Contemporain (CCC), Tours, France.

Balança de alta precisão de farmácia dos anos 40, imagem do artista, co aprovel 150 mg irbesartan/ hicdroclorotiazida, Zolpidem Actavis 10 mg, Tranxene 5 mg Clorazepato dipotássico, Omeprazol 20 mg Dimensões: 52 x 50 x 25 cm. Visões de Química — Novembro 2011 32 – 33


MOOV António Louro, José Niza e João Calhau

Blower Vac A máquina pneumática é um objecto mecânico que tem como função criar vácuo, através da sucção de ar do interior de uma campânula de vidro, para a realização de experiências químicas. Interessou-nos esta propriedade do objecto em criar vazio, de estarmos perante uma máquina cujo principal objectivo era produzir ausência Blower Vac é uma instalação que utiliza o ar como matéria de transformação do espaço e como detonador da mensagem através da sua presença ou ausência. O público é convidado a interagir com um dispositvo eléctrico transformado que aspira ou sopra ar. Essa movimentação alternada de ar provoca o enchimento ou esvaziamento de duas bolsa de tecido que incorporam em si duas mensagens distintas que só podem ser visualizadas uma vez efectuado o respectivo processo de insuflação ou desinsuflação.

MOOV é um estúdio de arte e projecto sedeado em Lisboa. A sua abordagem adisciplinar procura explorar novos campos de actuação gerados pela intersecção da arquitectura com outras áreas do conhecimento, sejam elas criativas ou técnicas. Os projectos do estúdio tanto podem ser sinónimo de uma performance, de uma instalação urbana, de um filme ou um edifício. Na área da arquitectura destacam-se entre outros o projecto Habitats Abertos vencedor do Concurso Internacional de Ideias Galápagos – Latitude 0 integrado na XV Bienal Internacional Panamericana de Arquitectura (2006) e o projecto Forwarding Dallas, vencedor do Concurso Internacional de Ideias RE:Vision Dallas (2009). No campo artístico, os MOOV têm desenvolvido várias instalações urbanas para eventos nacionais e internacionais, dos quais se destacam a instalação/performance Seta Amarela apresentada em diversas cidades entre 2004 e 2008 tais como Lisboa, Coímbra e São Paulo; a instalação urbana DEMO_Polis apresentada na Luzboa’06 Bienal Internacional da Luz; a instalação Long Streets for Short Stories criada para o Valgus Festival em Tallin, Estónia; e a instalação urbana Soap Catharsis Wall desenvolvida para o Skyway’09 em Toruń, Polónia.

Material: Aspirador eléctrico, tecido elástico Objecto quimico interpretado: Máquina Pneumática Dimensões: 110 x 100 x 50cm Visões de Química — Novembro 2011 34 – 35


VISÕES DE QUÍMICA O Laboratorio Chimico no Campus um projecto conjunto FCT-UNL e MCUL Coordenação José J. G. Moura Ana Alves Pereira em colaboração com

Sílvia Reis e Isabel Carvalho CuradorES José J. G. Moura Ana Maria Eiró em colaboração com

Ana Romão e Marta Lourenço Arquitectura Teresa Nunes da Ponte em colaboração com

Sónia Antunes e Bruno Terra da Motta Fotografia Claudia Schweizer Luís Tirapicos Mário Sousa Paulo Cintra Vasco Teixeira Design gráfico da exposição Camy CONSULTORIA Mário Caeiro Design Gráfico do catálogo Francisca Monteiro e Rosa Quitério para: Palavrão, Associação Cultural. Chancela. Núcleo de Edição IMPRESSÃO Textype, Artes Gráficas, Lda. Depósito Legal: 336624/11


Helena Abrantes | Susana Anágua | Miguel Faro | MOOV Miguel Palma | Ana Romana | Ana Vasconcelos | Enrique Williams

José J. G. Moura | Ana Maria Eiró (CURADORES)


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