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Sugestão de Leitura
~ Psicologia
WATSON, Wilbur H. – Blacks in the profession of medicine in the United States: Agains the odds. New Brunswick (U.S.A.) and London (U.K.): Transaction Publishers, XI, 198p.
Revisão e Arranjo gráfico Tatiana Sanches, Divisão de Documentação imagem Microsoft
Sugestão de Leitura—Psicologia Uma iniciativa da Divisão de Documentação Novembro de 2013 Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação
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A América do Norte foi, nos últimos séculos, palco de forte segregação racial, onde as estruturas social, política e económica sofreram com a filosofia segregacionista que vinculou a desigualdade entre brancos e negros. As consequências sociais e psicológicas do designado “problem of the color line” tiveram impacto na educação da população negra, que enfrentou muitas dificuldades na prática da medicina, nomeadamente no período em análise, entre 1896 e 1965. As lutas travadas no Supremo Tribunal americano em vários casos conduziram a alterações à lei, designadamente em 1948, quando foi derrubada a lei federal do uso do dinheiro dos impostos para financiar hospitais separados para brancos e negros, alegando a existência de dois ou mais subgrupos raciais e culturalmente diferentes na sociedade americana. Por outro lado, a manutenção da segregação era firmemente considerada. Na zona da Black Belt [cintura negra”], localizada no sudeste dos Estados Unidos, onde é maior o número de habitantes afro-americanos, a segmentação racial foi amplamente visível na segregação racial relativamente à habitação, escolas públicas, hospitais, clínicas e em muitos outros sub-estabelecimentos. Este livro analisa principalmente estes grupos, realçando as relações sociais entre brancos e negros relativamente às consequências públicas e privadas da opressão social, especialmente na auto-imagem dos médicos negros que completaram a educação médica e começaram a exercer a profissão antes de 1954. O estigma do “negro” classificava os médicos de “unusual and bad” [“fora do comum e maus”], por serem considerados inferiores, enfatizando o conceito de estigma e opressão social. Neste livro apresenta-se a situação da primeira faculdade para estudantes de medicina negros, em 1876, salientando-se a Escola de Medicina para negros de Tennessee, onde as crenças, valores e regras baseadas na ideia da herrenfolk democracy [democracia popular] defendiam que a educação era um direito dos afroamericanos. A ideia de democracia da herrenvolk referia-se a uma sociedade bi-racial, na qual um grupo racial oprimia e tiranizava um outro e consideravam os negros como “not fully human” [não completamente humanos] em comparação com os brancos “fully humans” [completamente humanos]. Muitos conservadores brancos de Tennessee e liberais do Norte tinham atitudes paternalistas e sentiam-se responsáveis pela elevação dos negros. Nos fins da década de 1880, os brancos de Tennessee apoiaram o investimento em programas de educação de médicos afroamericanos, preocupando-se com a elevação ao plano da inteligência e consciência, contribuindo para que os negros se tornassem cidadãos livres e úteis. Entretanto, a doutrina do separatismo tornava-se mais popular em todos os Estados Unidos. Os proprietários de grandes plantações de algodão e tabaco mantinham escravos, contrastando com as pequenas plantações do Norte onde cresciam grandes fábricas. O assassinato de Lincoln e a subida à presidência de Johnson em Abril de 1865 foram fatores decisivos para a formação e organização do Fredmen’s Bureau localizado em Nashville, Tennessee. Generosos filantropos abriram as portas de hospitais próprios para negros e formaram companhias de seguros de vida e outras espécies de intervenções e de programas de auto-ajuda. Uma outra questão era a do género no desenvolvimento e
Sugestão de Leitura prática da medicina por mulheres negras. As poucas investigações existentes mostram que as mulheres negras não só tiveram de enfrentar o estigma do género como também do racismo. Regista-se a influência dos fatores económicos nas relações médico-paciente em situações das atitudes do médico para com o doente pobre e as consequências das suas atitudes para o comportamento de saúde. Num livro intitulado Medicine in the Ghetto, os autores referem o prolema da profundidade histórica e psicossocial da segregação racial na prática da medicina no contexto de enfermarias separadas, salas de espera e outros serviços prestados pela medicina. Apresentam-se casos de situações raciais em hospitais tais como a determinação dos dias para o atendimento de doentes brancos e para doentes negros, ou a entrada de médicos negros em portas diferentes das dos brancos. Do mesmo modo, os médicos negros ganhavam apenas entre dez e vinte e quatro mil dólares, em comparação com os médicos brancos que ganhavam cinquenta e um mil dólares. O estigma da raça estava bem patente no estatuto profissional dos médicos brancos em relação aos médicos negros. Define-se estigma como um atributo de caráter individual ou de grupo que significa algo como invulgar e mau. Ser negro era uma marca que estava sujeita ao risco da degradação social e psicológica. Afirma-se que no séc. XIX a situação se alterou com os “médicos regionais” que prestavam serviços em casa dos pacientes e faziam pequenas operações em estabelecimentos privados. Três fatores importantes contribuíram para a prevalência dos médicos regionais no período da reconstrução no pós-guerra: a presença da maioria da população negra nas regiões, que tinham dificuldades em manter um seguro de saúde, que não tinham acesso aos centros médicos das cidades e que tinham falta de transporte para as cidades. Devido à pobreza e falta de recursos monetários, muitos negros pagavam as consultas com bens alimentares. As mulheres, pagavam com serviços domésticos ou nada pagavam. Mulheres médicas negras pertenciam principalmente à área urbana do norte nunca exerceram como médicas regionais. Com a fundação da Morehouse School of Medicine em 1978 surgiram programas especiais de recrutamento com o fim de atrair jovens estudantes para as áreas rurais. Conta-se que, em caso de internamento de um paciente negro, era necessário um fiador branco que se responsabilizasse pela hospitalização. Os negros que não tinham possibilidades submetiam-se aos cuidados dos médicos em “drug store”, uma sala ao fundo de uma drogaria a que chamavam “spiritual corner”, geralmente usada para as práticas com “folk remedies”. Na verdade, a profissão médica foi considerada, após a segunda grande Guerra, uma “chamada”, quase semelhante à chamada de um padre. Afirma-se ainda que, após séculos de segregação e opressão nos Estados Unidos, as decisões do Supremo Tribunal em 1954, as Declarações dos Direitos Civis de 1964 e 1965 e a legislação nos anos setenta abriram caminho para a integração das minorias na sociedade e o direito aos serviços de saúde para os pobres e carentes, independentemente da sua cor. Recensão de Edma Satar, Bibliotecária