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Sugestão de Leitura
~ Psicologia
DELANTY, Gerard (Ed.) – Handbook of contemporary european social theory. London and New York: Routledge/Taylor & Francis Group, 2006, 419 p.
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Sugestão de Leitura—Psicologia Uma iniciativa da Divisão de Documentação Dezembro de 2011 Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação Faculdade de Psicologia | Instituto de Educação
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Este livro com um conteúdo inovador cobre o campo interdisciplinar da teoria social contemporânea europeia. Contemplando as teorias sociológicas mais abrangentes do ponto de vista tradicional das ciências sociais, inclui estudos desta era pós-nacional e pós-disciplinar, incluindo a teoria política, cultural, antropológica e filosófica. Divide-se em cinco partes, tendo como colaboradores autores europeus, russos, americanos e asiáticos do Pacífico. Após a apresentação dos fundadores das teorias sociais, mostram-se as profundas modificações que a Europa sofreu pós o colapso do comunismo, o que contribuiu para a redefinição da identidade europeia, com o aumento da importância dos movimentos pós-nacionais e a expansão da União Europeia, numa conjuntura de globalização. Estes factos tiveram uma grande implicação na teoria social, para além da influência que tiveram os países nórdicos e do leste europeu, que as acrescentaram às tradições clássicas da Alemanha, França, Reino Unido e Espanha. Outro fator importante foi o alargamento do conceito de identidade na teoria social, tendo em conta o contexto da transformação disciplinar nas ciências sociais, trazendo novas interpretações dos clássicos e o declínio das interpretações clássicas da filosofia. A abordagem adotada pelos colaboradores desta obra realça não só a diversidade e a trans-fertilização das tradições nacionais como também das intelectuais, e das escolas de pensamento, em detrimento das teorias chave, teorias que têm significados diferentes na cultura anglo-saxónica e europeia. Excetuam-se a tradição da Gesellschaftstheorie alemã, e a norte-americana, cuja teoria social se confina à sociologia, ligada à Escola de Frankfurt e às humanidades. Isto explica o domínio de Habermas e Luhmann na atual teoria social, que ganhou lugar privilegiado nas universidades e legitimidade social nas sociedades académicas internacionais, na imprensa académica e nas conferências interdisciplinares. A teoria social empregou uma série de géneros e meios de comunicação e os seus métodos de comunicação continuam multifacetados assim como os seus tópicos e métodos de estudo. O autor Baert (2006: Cap. 2, 14-23) sugere que a teoria social, apesar dos seus esforços, necessita de uma reavaliação. Não obstante ter desempenhado um papel central no desenvolvimento das ciências sociais e estar inicialmente confinado à sociologia, o modelo social dedutivo-nomológico concebe o conhecimento em termos de interesses cognitivos. A teoria cognitiva fundamenta-se em termos representacionais, na construção de blocos conceptuais na captura ou ilustração do mundo empírico. Encorajam-se debates transdisciplinares canalizados e coordenados. Assim como a matemática se tornou a linguagem preferida no ramo das ciências naturais, outros ramos científicos são englobados. A solução está no abandono de duas posições diametralmente opostas, na questão da relação entre teoria e investigação: o modelo dedutivonomológico que informa sobre que teorias são as melhores e quais as que têm de ser abandonadas; o modelo representacional que recusa a investigação empírica como forma teórica e veículo de articulação e reprodução. Adota-se a visão filosófica ou o “pragmatismo inspirado na hermenêutica”, teoria defendida por Gadamer, Bernstein e Rorty. O pragmatismo rejeita a “teoria do conhecimento do observador”, que conta com a metáfora da visão, defendido por John Dewey como a representação do mundo como um espelho, contrariamente à investigação, que dá como certa a explicação e a previsão. Enquadram-se as ciências sociais na filosofia política como sociologia, no holismo ontológico, na economia, no individualismo e na relação genealógica com a teologia. O pensamento teológico contemporâneo é identificado por três enquadramentos: o pós-modernismo, a globalização e o anti-eurocentrismo filosófico. Neste contexto, os autores fazem uma digressão pelo movimento na Europa, realçando a importância da Alemanha na teoria social do pós-guerra, moldada pela antropologia filosófica de tendências marxistas e neo-marxistas, influenciadas pela Escola de Frankfurt. Nos anos setenta, verificou-
Sugestão de Leitura se uma viragem da teoria social para a comunicação, situação que se mantém presentemente, na qual a linguagem se tornou um agente de evolução autónoma, independente das influências biológicas e da psicologia do desenvolvimento humano. Verifica-se uma viragem no conceito de comunicação de Luhman, que passa a preocupar-se menos com a parte epistémica e emancipatória da comunicação na reprodução da sociedade do que com o seu papel nas interseções entre a organização formal e informal. Enfatiza-se o papel funcional da comunicação orientado para a liberdade, mas sem valor emancipatório e defende-se o serviço postal como paradigma da sociedade moderna no sistema de comunicação, cuja energia comunicativa é desempenhada pelo processamento da significação. Segue-se uma digressão pela Europa dos anos oitenta, na qual a teoria social europeia entrou na era dos epígonos, com o prefixo “pós”: pós Giddens, pós Habermas, pós Bourdieu, pós Morin, pós Lévi-Strauss. Nos países nórdicos, a teoria social sofreu a influência das humanidades em dois períodos marcantes dos anos oitenta e noventa, na fase do pós-guerra e da expansão do bem-estar social, onde se verificaram reformas no ensino superior. Devido ao isolamento dos países do leste europeu do resto do mundo, durante a guerra fria, a tradição assente nas mesmas fontes do pensamento contemporâneo ocidental realçava o existencialismo e a fenomenologia. A questão do que representou a teoria social na Rússia evoluiu em duas ondas principais concentradas em temas de poder e do Estado, que terminaram por confinar-se ao sistema comunista até à queda das ideologias marxistas. Apresentam-se caminhos convergentes e divergentes das tradições intelectuais nas teorias da sociedade pós-moderna e pós-marxista. A teoria crítica de Horkheimer distinguiu-se da teoria tradicional, dando ênfase à crítica social preconizada pelas teorias sobre compaixão, discriminação e sofrimento, particularmente dos que sofreram com o holocausto. Na teoria social contemporânea destacam-se as influências da hermenêutica, da fenomenologia e da antropologia filosófica na mediação cultural da experiência e na intersubjetividade da linguagem como forma de comunicação. Embora ligada às velhas tradições, segue duas direções, a metabiológica e a pragmática, impulsionadas pelos modelos cognitivos. Esta viragem abriu as portas ao cosmopolitanismo, uma nova forma de compreender o mundo, que defende os princípios fundamentais proclamados na bíblia de qualquer religião, e expressas em narrativas nas suas culturas tradicionais. Esta noção pós-universalista define a modernidade como uma condição singular ou múltipla, contextualizada em termos de lógica da transformação, numa dimensão interativa, com consciência coletiva e numa expansão de solidariedade. Embora a Alemanha seja percebida no contexto da modernidade, a sua relação com os judeus deixou um trauma estrutural, difícil de ser removido e com uma carga de responsabilidade política no futuro. Políticas identitárias, de género, etnicidade, raça, religião ou nação que colocam os indivíduos na relação com o “outro”, assim como temas como a autonomia, acumulação, diferença e segurança são temas que dominam o pensamento da moderna Europa, como cidade. A Europa tem tido, presentemente, influência na sociologia e na teoria social americana, do mesmo modo que os intelectuais latino americanos ficaram fascinados com o ocidente. O autor conclui com um epílogo, acrescentando a importância da Índia e da China no desenvolvimento da teoria social e sociológica, excluindo as reflexões filosóficas, literárias e artísticas do oriente. Estas sociedades emergentes serão, no futuro, palco da modernidade, que incluirá democracia, desenvolvimento, industrialização, progresso e revolução sociológica na emergência da cidadania após o desaparecimento de Mao. Recensão de Edma Satar, Bibliotecária