História da infância biblioteca “Não existe, a bem dizer, uma infância. Existem várias experiências humanas que modelam a criança dentro de limites cronológicos determinados. A esses períodos que desenham a pessoa da criança ou a criança como pessoa, sobrepõem-se as alteridades dos tempos sociais que delimitam o território onde cada um se faz. Em rigor, trata-se de a criança se defrontar no seu tempo infantil com o património civilizacional ao alcance da sua pequena mão. Esse património não é o da sua pátria senão que singelamente o da sua comunidade de pertença: linguística, axiológica, cognitiva, artística. Semelhante percurso passa por instâncias formativas distanciadas, quando não antitéticas: desde a escola da rua à rua da escola, ao asilo, à creche, ao jardim de infância, à escola materna… Sem a consideração das instâncias de formação do ser humano na sua concreticidade histórica não é possível entender os processos da sua educação e ainda menos cotejá-los na sua variedade, citá-los para que compareçam num plano de comparatividade seletiva. A modelação do ser passa pela interação com outros seres, desde os seus pares aos adultos poderosos na razão ou desrazão dos seus saberes e ascendências, tornando-se até certo ponto uma experiência única. Os cenários onde a infância desenha os seus percursos formativos contêm materiais, solicitam práticas, obedecem a representações que antecipam o futuro e que incorrem no perigo de se constituírem como práticas coloniais. Onde fica a criança?” FERNANDES, Rogério, e outros, org.— Para a compreensão histórica da infância / org. Rogério Fernandes, Alberto Lopes, Luciano Mendes de Faria Filho. - Porto : Campo das Letras, 2006.
Mostra bibliográfica / 01.2017