Science & Solutions #26 Aquicultura (Português)

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Número 26 • Aquicultura

Photo: pepifoto

Aquicultura

Uma revista da

Eficácia nutritiva para uma rentabilidade sustentável Aditivos fitogênicos e eficácia nutritiva

Ligação entre nutrição e saúde intestinal


Editorial Uma abordagem holística Todas as indústrias enfrentam novos desafios. A aquicultura tem se desenvolvido aumentando os seus níveis de tecnologia e especializando-se em diversas áreas, de modo a lidar com a crescente procura por proteína de origem marinha. Esta indústria desenvolve-se apoiada entre diversas disciplinas técnicas, como as ambientais, as ciências nutricionais, a área sanitária e científica, entre outras. Atualmente, devemos encarar a aquicultura como uma indústria complexa e que exige uma análise mais vasta e abrangente. Um dos maiores desafios consiste na saúde intestinal, que está diretamente relacionada com a nutrição. Estas áreas tornaram-se elementos essenciais com um aumento exponencial nas últimas décadas, desde que imporatantes surtos de enfermidades atingiram a indústria da aquicultura, como por exemplo na carcinicultura, o WSSV, o YHV e agora o AHPND. A BIOMIN apoia estas lutas desenvolvendo a gestão do desempenho intestinal, onde se incluem medidas preventivas para saúde intestinal e a promoção do desempenho intestinal, duas áreas nas quais somos especialistas a nível mundial. Um programa de P&D consistente permite-nos ajudar os aquicultores a enfrentar estes desafios eficazmente e a focarem no objetivo de atingir a sustentabilidade. Maximizando assim o retorno sobre o investimento na saúde intestinal e na nutrição, ao compreender os processos nutricionais, fisiológicos e de saúde. O combate a novas doenças, os desafios nutricionais e os constantes esforços dos nutricionistas para fornecer nutrientes em quantidade, qualidade e disponibilidade para uma aquicultura sustentável, caminham lado a lado com aditivos para rações inovadores. Apenas podemos olhar para o presente e para o futuro da indústria como um todo, com elementos ligados entre si. Pretendemos abordá-los com conceitos claros que transformem a ciência em soluções sustentáveis. Esta é a proposta de gestão do desempenho intestinal da BIOMIN.

Fabián JIJÓN Gerente Técnico

Science & Solutions • Número 26


Name, title position

Photo: Ugurhan Betin

Índice

Eficácia nutritiva: uma ferramenta sustentável para rentabilidade a longo prazo

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Melhoria da eficácia das rações e redução de emissões com aditivos fitogênicos. Por Rui Gonçalves, MSc e Carina Schieder, DI (MSc)

O papel da nutrição na saúde intestinal

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O segundo artigo da série sobre saúde intestinal revela de que forma a nutrição pode influenciar a saúde intestinal. Por Otavio Serino Castro, MSc

Science & Solutions Aquaculture is a quarterly publication of BIOMIN Holding GmbH, distributed free-of-charge to our customers and partners. Each issue of Science & Solutions Aquaculture presents topics on the most current scientific insights in aquatic nutrition and health. ISSN: 2309-5954 For a digital copy and details, visit: http://magazine.biomin.net For article reprints or to subscribe to Science & Solutions Aquaculture, please contact us: magazine@biomin.net Editor: Ryan Hines Colaboradores: Otavio Serino Castro, Rui Gonçalves, Fabián Jijón, Carina Schieder Marketing: Herbert Kneissl Graphics: Reinhold Gallbrunner, Michaela Hössinger Research: Franz Waxenecker, Ursula Hofstetter, Gonçalo Santos Publisher: BIOMIN Holding GmbH Erber Campus 1, 3131 Getzersdorf, Austria Tel: +43 2782 8030 www.biomin.net Printed in Austria by: Johann Sandler GesmbH & Co KG Printed on eco-friendly paper: Austrian Ecolabel (Österreichisches Umweltzeichen) ©Copyright 2015, BIOMIN Holding GmbH All rights reserved. No part of this publication may be reproduced in any material form for commercial purposes without the written permission of the copyright holder except in accordance with the provisions of the Copyright, Designs and Patents Act 1998. All photos herein are the property of BIOMIN Holding GmbH or used with license.

Uma revista da BIOMIN

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Eficácia nutritiva: uma

Photo: Kakokor

sustentável para rentabil

Por Rui

Gonçalves - Gerente Técnico de Produto e Carina Schieder - Gerente de Produto - Fitogênicos

A produção em aquicultura pode solucionar desafios contraditórios como os custos e a contaminação ambiental, utilizando aditivos fitogênicos que melhoram a digestibilidade, a retenção de nutrientes, a eficiência alimentar e reduzem as emissões de nutrientes ao meio ambiente..

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Science & Solutions • Número 26


ferramenta lidade a longo prazo

Desafios contraditórios Tendências diversas impõem pressões contraditórias na indústria da aquicultura. A dependência de matérias-primas escassas e dispendiosas e a utilização otimizada de ingredientes alternativos constitui um dos principais desafios da aquicultura. A sensibilização do consumidor em relação à sustentabilidade ambiental incentiva os produtores a melhorarem o desempenho da produção através de práticas de aquicultura sustentáveis. No entanto, a utilização de fontes de proteína mais baratas e dietas deficientes em nutrientes provavelmente levará a uma menor digestibilidade proteica, desbalanceamento de aminoácidos e maior conteúdo de carboidratos e fibras nas rações. Isso pode resultar numa utilização pouco eficaz de nutrientes, originando um aumento no consumo de rações, maior suscetibilidade às doenças e maiores emissões de amônia – resultando em um aumento nos custos de produção e na contaminação ambiental.

A solução está no desempenho intestinal O desempenho ótimo dos animais engloba diversos fatores, incluindo as características genéticas das espécies, a qualidade das dietas, as condições ambientais e a ausência de surtos de doenças. Se a isto acrescentarmos a pressão competitiva da indústria e a necessidade da substituição de matérias-primas cada vez mais dispendiosas, o cenário torna-se ainda mais complexo. Focando-se no desempenho e na saúde intestinal, podemos mais facilmente encontrar o equilíbrio dentre estes complexos fatores e estabelecer a base para um melhor crescimento. Os aditivos fitogênicos para rações, constituídos por ervas, especiarias, óleos essenciais e extratos, ganharam uma atenção considerável como resposta a estes desafios. Os compostos ativos, como fenóis e flavonóides, podem exercer diversos efeitos nos animais, incluindo a melhoria da conversão alimentar (±CA), da digestibilidade, da taxa de crescimento, da redução da excreção de nitrogênio, a melhoria da microbiota intestinal e do estado de saúde. Na Tabela 1,são fornecidos exemplos destes ingredientes e de seus principais componentes ativos. Como funcionam os fitogênicos Os fitogênicos podem estimular as secreções digestivas, aumentar o comprimento e a densidade das vilosidades e aumentar a produção de muco através de um aumento do número de células caliciformes. Através de diferentes estratégias, como a encapsulação em matriz, os óleos essenciais voláteis podem ser estabilizados e podem permanecer ativos ao longo de uma maior seção do

Tabela 1. Constituintes importantes de uma seleção de óleos essenciais (adaptado de Jänicke et al. 2013 e Tisserand and Young 2014) Nome (Nome botânico)

Fonte

Constituintes importantes

Alcaravia (Carum carvi) (

Sementes

carvona, limoneno

orégano (Origanum vulgare) (

Folhas

carvacrol, timol, p-cimeno

Hortelã (Mentha arvensis) (

Folhas

mentol, isomentona, limoneno

Alecrim (Rosmarinus officinalis) (

Folhas

1-8-cineol, α- e β-pineno, borneol

Tomilho (Thymus vulgaris)

Folhas

timol, p-cimeno, carvacrol

Fotos: Vitalina Rybakova, David Clark, timsa, BranislavLac, fotogal, Juha Huiskonen

A

o longo da última década, a indústria da aquicultura registrou um crescimento expressivo, principalmente nos países em desenvolvimento. A produção aquícola a nível global irá claramente continuar a crescer, principalmente como consequência do aprimoramento das tecnologias de produção e pela crescente procura por produtos à base de peixe e camarão. Todavia, a aquicultura enfrenta diversos desafios importantes no que diz respeito à utilização eficaz de matérias-primas, que devem ser abordados e solucionados.

(adaptado de Jänicke et al. 2013 e Tisserand e Young 2014)

Uma revista da BIOMIN

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Eficácia nutritiva: uma ferramenta sustentável para rentabilidade a longo prazo

Figura 1. O fator de conversão alimentar (FCA) e a taxa de crescimento específico (%/dia) da dourada melhoraram com a suplementação com Digestarom®. 2,0

1,82

1,76

1,8 1,6 1,4

1,28

1,2

1,12

trato gastrointestinal (GIT), garantindo, assim, que os efeitos positivos não se restrinjam a uma pequena porção de menor dimensão do GIT.

1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 FCA n Controle

TCE n Digestarom®

Fonte: BIOMIN trials, 2012

Figura 2. A retenção de nutrientes da dourada melhorou com a suplementação com Digestarom®. 80

75,10b

70

63,00a

60 50 40 30

25,50a

29,30b

20 10 0 Proteína n Controle

Gordura n Digestarom®

Fonte: BIOMIN trials, 2012

Figura 3. Balanço de nitrogênio (ganhos, perdas fecais e perdas metabólicas) na dourada com suplementação com Digestarom®. 100% 80% 60%

67%

63%

7%

8%

26%

29%

Controle

Digestarom®

40% 20% 0%

n Perdas metabólicas N n Perdas fecais N n Ganho N Fonte: BIOMIN trials, 2012

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Redução do teor de farinha de peixe vs. eficácia das rações A substituição de farinha de peixe por proteínas vegetais, quer por razões econômicas ou de sustentabilidade, pode diminuir o aproveitamento das rações e suprimir o sistema imunitário do animal devido a redução na digestibilidade ou a efeitos secundários no trato gastrointestinal. O Digestarom® (BIOMIN Holding GmbH, Áustria), um aditivo fitogênico encapsulado, demonstrou auxiliar os animais a ultrapassar estes desafios e a minimizar os efeitos negativos da redução de farinhas de peixe e de seus substitutos, respectivamente. Resultados em douradas Foi realizado um primeiro ensaio em douradas (Sparus aurata) na Universidade do Algarve, Portugal. Neste ensaio, a dieta basal continha 45% de proteína bruta e 18% de teor lipídico. A maior parte do teor de proteína dietética derivava de ingredientes vegetais; a dieta continha apenas 14% de farinha de peixe (FP). Adicionalmente, o grupo de tratamento recebeu Digestarom®. O objetivo do ensaio consistiu em avaliar o efeito do Digestarom® na eficiência alimentar, composição corporal e retenção de nutrientes. A suplementação dietética de Digestarom® demonstrou uma melhoria significativa de 16 pontos de FCA e uma melhoria da taxa de crescimento específica entre 1,76% e 1,82% por dia (Figura 1). A inclusão da mistura fitogênica na dieta melhorou significativamente (p<0,05) a retenção de proteína e gordura (Figura 2). O estudo demonstrou igualmente reduções consideráveis de perdas de nitrogênio totais, as quais estavam claramente associadas a perdas metabólicas mais baixas e a um aumento da utilização de proteína para o crescimento (Figura 3). Resultados no camarão Foi realizado um segundo ensaio nutricional em colaboração com a Universidade de Ningbo (China), para avaliar a eficácia do Digestarom® P.E.P. MGE como ferramenta para reduzir o nível de farinha de peixe na dieta dos camarões. Os tratamentos consistiram em 5 dietas

Science & Solutions • Número 26


Rui Gonçalves, Gerente Técnico de Produto Carina Schieder, Gerente de Produto para Fitogênicos

Photo: Alexander Hoffmann

A substituição da farinha de peixe por proteínas de vegetais pode diminuir a eficiência alimentar e suprimir o sistema imunitário do animal.

isoproteicas (40% de proteína bruta), com uma dieta sendo o controle positivo (25% de farinha de peixe) e quatro dietas experimentais com dois níveis inferiores de farinha de peixe (22% e 19%), com e sem suplementação com Digestarom®. Cada dieta foi aleatoriamente distribuída a 5 repetições com 30 camarões brancos juvenis (aproximadamente 0,33 g ± 0,00 g) e administrada durante 8 semanas. Os resultados indicaram que a redução na farinha de peixe reduziu o desempenho dos camarões, tendo o melhor desempenho correspondido à dieta de controle (25% de FP). O ganho de peso, o fator de conversão alimentar (Figura 4), a taxa de crescimento específica (Figura 5) e a eficiência proteica melhoraram para os camarões alimentados com dietas com suplemento de aditivos fitogênicos comparativamente a dietas pobres em farinha de peixe e sem suplementação. Uma análise da ultraestrutura do mesentério por microscopia eletrônica de transmissão indicou que os camarões alimentados com as dietas com suplementação de fitogênicos apresentaram uma melhoria na estrutura de microvilosidades, em contraste com aqueles alimentados apenas com as dietas com menos farinha de peixe (dados não demonstrados). A melhoria do desempenho no grupo alimentado com dietas com menos farinha de peixe e suplemento de Digestarom® é um importante resultado no contexto de uma estratégia para reduzir custos.

Figura 4. Fator de conversão alimentar de dietas administradas a camarões com diferentes níveis de farinha de peixe, com e sem suplementação de Digestarom®. 1,40

1,17

1,20 1,00

1,29

1,26

1,17

1,02

0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 FP25

FP22

FP22 +

FP19

FP19 +

Digestarom®

Digestarom®

P.E.P. MGE

P.E.P. MGE

Fonte: BIOMIN trials, 2012

Figura 5. Taxa de crescimento específico (TCE, %/dia) de dietas administradas a camarões com diferentes níveis de farinha de peixe, com e sem suplementação de Digestarom®. 6,90

Conclusão Além dos efeitos óbvios na melhoria da eficiência das rações, a eficácia nutritiva pode ser uma solução poderosa para limitar a descarga de nitrogênio para o ambiente. Os aditivos fitogênicos podem diminuir as emissões de amônia através de uma melhor utilização de proteínas, reduzindo a perda de nitrogênio para a natureza. O resultado apresentado demonstra que o aditivo fitogênico Digestarom® pode ser utilizado como instrumento de eficácia nutritiva, permitindo obter uma formulação de dietas mais eficiente e com melhor relação custo-benefício.

6,80

6,78

6,70 6,60

6,55

6,54

6,50 6,37

6,40

6,36

6,30 6,20 6,10 FP25

FP22

FP22 +

FP19

FP19 +

Digestarom®

Digestarom®

P.E.P. MGE

P.E.P. MGE

Fonte: BIOMIN trials, 2012

Uma revista da BIOMIN

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O papel da nutrição na Por

Otavio Serino Castro, Gerente Técnico de Vendas - Aquicultura

A nutrição, juntamente com o ambiente e a fisiologia do animal, representam os três principais fatores para um desempenho intestinal consistente. Este segundo artigo da série sobre saúde intestinal revela de que forma a nutrição pode influenciar na saúde intestinal. Figura 1. Potenciais fatores prejudiciais ao desempenho intestinal inerentes à produção de rações aquáticas. Problemas de armazenamento

Processamento de rações

Formulação das rações

Photo: kuponjabah, Juri Samsonov

Qualidade das matérias-primas

• Fatores antinutricionais

• Perda de nutrientes

• Digestibilidade dos nutrientes

• Níveis de ingredientes alternativos

• Compostos tóxicos

• Contaminação microbiológica

• Desativação de FAA

• Baixa acurácia do sistema

• Micotoxinas

• Compostos tóxicos

• Taxa de trânsito das rações

• Falta de gestão do risco

• Contaminação microbiológica

• Características organolépticas

• Estabilidade em água

• Sem aditivos de prevenção

D

evido a perdas recentes provocadas por surtos de doenças, vários esforços por parte da indústria da aquicultura estão sendo adotados para aumentar a biosseguridade e a saúde animal. A utilização de rações funcionais e ações de minimização de custos —duas estratégias comuns na formulação de rações— têm várias consequências na saúde intestinal em geral. Da fórmula à ração Na aquicultura, os nutricionistas têm a missão diária de otimizar custos de formulação e desempenho de

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crescimento, ao mesmo tempo que enfrentam desafios como, os preços e disponibilidade das matérias-primas, as tendências de mercado, as limitações do processo industrial, as ações dos concorrentes e a elevação dos padrões de qualidade. Neste ambiente dinâmico, os profissionais necessitam frequentemente tomar decisões difíceis para continuar navegando no estreito caminho rumo a rentabilidade. A orientação para a redução de custos, principalmente em dietas de crescimento e engorda, pode resultar em uma "miopia da formulação" onde não se atinge um ótimo ponto de lucratividade. Um passo em falso pode gerar perdas econômicas significativas,

Science & Solutions • Número 26


a saúde intestinal levando a reduções no desempenho zootécnico ou dando origem a problemas de saúde nos animais a longo prazo. Como as rações podem afetar a saúde intestinal O principal objetivo das rações consiste em garantir o fornecimento racional de nutrientes essenciais que regulam o ciclo de vida e a produção animal. Um desequilíbrio nutricional pode ter um impacto direto no crescimento e no estado de saúde. Em situações ideais, quando os animais se encontram em boas condições de saúde intestinal, a digestão e a absorção de nutrientes ocorre de forma eficiente, ao mesmo tempo que uma estrutura intestinal intacta e uma microbiótica equilibrada ajudam a proteger o animal contra ameaças externas. No entanto, até mesmo uma fórmula nutricionalmente bem concebida pode conter surpresas ocultas que perturbam o desempenho da dieta a campo, afetando a saúde intestinal, direta e indiretamente. A qualidade das matérias primas, problemas de armazenamento, desvios no processamento das rações e desequilíbrios na formulação podem todos ter consequências negativas imprevistas (Figura 1). O dilema da farinha de peixe Estudos recentes demonstram que a farinha de peixe premium pode ser substituída com êxito por fontes de proteína alternativas em diferentes níveis para espécies distintas, como o camarão, o salmão, peixes marinhos e etc. Essa substituição é possivel devido ao fato de que as espécies aquáticas não necessitam propriamente da farinha de peixe, mas sim dos nutrientes que nela estão contidos. A substituição eficiente de nutrientes essenciais, incluindo aminoácidos e ácidos graxos, deve produzir um desempenho de crescimento semelhante —algo que é facilmente demonstrado em experimentos de laboratório utilizando ingredientes refinados. Contudo, a adoção em larga escala de matérias-primas alternativas para substituir a farinha de peixe incorre em diversas limitações, como fatores antinutricionais, micotoxinas e outras restrições que podem ter um impacto negativo na disponibilidade de nutrientes, nos processos digestivos e no ambiente intestinal.

Uma revista da BIOMIN

Tabela 1. Principais fatores antinutricionais presentes nos ingredientes utilizados nas rações para aquicultura. Ingrediente da ração

Fatores antinutricionais

Farelo de soja

Inibidores de proteinase, lectinas, ácido fítico, saponinas, fitoestrogênios, antivitaminas, fitoesteróis, alérgenos

Farelo de algodão

Ácido fítico, fitoestrogênios, gossipol, antivitaminas, ácido ciclopropenoide

Farelo de tremoço

Inibidores de proteinase, saponinas, fitoestrogênios, alcaloides

Farelo de ervilha

Inibidores de proteinase, lectinas, taninos, cianogênios, ácido fítico, saponinas, antivitaminas

Farelo de canola

Inibidores de proteinase, glicosinolatos, ácido fítico, taninos, ácido erúcico

Sorgo

Taninos

Trash fish

Tiaminase

Farinha de crustáceos

Quitina, fluor

Adaptado de Francis et al. (2001).

Fatores antinutricionais e antinutrientes Os fatores antinutricionais e antinutrientes (FAA) são substâncias endógenas presentes nos ingredientes e nas rações que podem causar efeitos negativos no metabolismo dos peixes e camarões. Quando ingeridos, dependendo da sua natureza, dos níveis nas rações e do período de exposição, estas substâncias podem perturbar diversos processos fisiológicos. Os fatores antinutricionais encontram-se nas rações, tanto de origem vegetal, como animal (Tabela 1). Os FAA incluem um conjunto vasto e diverso de componentes , no que diz respeito à sua estrutura química e aos efeitos gerados no metabolismo do animal. O National Research Council (2011) da aquicultura indica 18 classes de fatores antinutricionais, cada grupo contendo diversos componentes. Para muitos destes fatores, o modo de ação, os níveis de segurança e os impactos, ainda não estão bem esclarecidos devido à complexas interações com outros compostos dietéticos e também à variação de respostas entre espécies. Conforme ilustrado na Tabela 2, os efeitos dos fatores antinutricionais variam desde uma

7


ku

po

n ja b

ah

O papel da nutrição na saúde intestinal

ot

o:

A saúde intestinal depende do equilíbrio entre três fatores principaiss:

Ph

• Ambiente

• Nutrição

• Fisiologia do animal

Tabela 2. Modo de ação, efeitos nos animais e natureza dos fatores antinutricionais presentes em rações para aquicultura. Fator antinutricional

Ação

Efeitos nos animais

Natureza

Inibidores enzimáticos

Proteinase (tripsina, quimotripsina, elastase, enteroquinase, etc.), amilase e inibição da lipasen

• Redução da digestibilidade de proteínas, lipídios e amido

Proteínas simples ou complexas. Desnaturadas completa ou parcialmente pelo calor, extração alcoólica e fermentação.

Lectinas

Liga-se inversamente a mono ou oligossacarídeos específicos. Interage com os receptores das células epiteliais intestinais.

Saponinas

Glicosinolatos/ Goitrogênicos

Taninos condensados

Diversos efeitos biológicos que incluem ação inibitória na digestão de proteínas, absorção de vitaminas e efeitos semelhantes a glicocorticóides. Pode alterar a permeabilidade da membrana epitelial.

Geram componentes derivados tóxicos. Interferem na absorção de iodo provocando perturbações na tireoide e lesões principalmente no fígado e rins. Liga-se a enzimas digestivas e forma complexos com proteínas e minerais. Altera as características organolépticas das rações (sabor amargo e adstringente).

• Redução do desempenho de crescimento • Perturba o funcionamento intestinal e pode provocar efeitos sistêmicos, dependendo dos receptores afetados • Pode provocar alterações histológicas e inibir o transporte de glicose para o epitélio intestinal

(Glico) proteínas solúveis heterogêneas. Parcialmente resistentes à desnaturação por calor e à passagem ao trato digestivo.

• Efeitos negativos na palatabilidade e na ingestão de rações • Redução da disponibilidade de colesterol

Grupo diverso de glicosídeos. Componentes estáveis ao calor e solúveis em álcool.

• Aumento da absorção de substâncias prejudiciais, como alérgenos • Envolvidas em enterites induzidas pela soja • Palatabilidade reduzida e diminuição do crescimento e da produção • Diminuição dos níveis de hormonas T3 no plasma e alterações na histologia da tireoide

Tioésteres

• Pode alterar o funcionamento dos rins e fígado

• Diminuição da digestibilidade dos nutrientes • Diminuição da palatabilidade

Compostos fenólicos solúveis em água com peso molecular entre 500 e 3000 (não hidrolisável)

Adaptado, NRC (2011).

inibição da atividade enzimática na digestão, até um efeito direto no epitélio intestinal. Reduzindo os fatores antinutricionais A desativação e eliminação de fatores antinutricionais nas rações e ingredientes pode ser conseguida através de processos térmicos e enzimáticos, extração química e outros processos, como a fermentação. Infelizmente, a inativação completa dos fatores antinutricionais pode não ser atingida na maioria dos casos, dependendo dos processos adotados na fabricação das rações e ingredien-

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tes. Assim sendo, os riscos associados aos fatores antinutricionais podem variar segundo diferentes fornecedores , padrões de processamento de rações e fontes de matérias -primas. Implicações práticas Os animais expostos a fatores antinutricionais e a outros compostos prejudiciais podem apresentar ligeiras alterações de comportamento, redução no crescimento e produção ou sinais de intoxicação aguda. A intensidade da resposta será modulada não apenas pelas doses e tem-

Science & Solutions • Número 26


Otavio Serino Castro, Gerente Técnico de Vendas - Aquicultura Aquaculture

Issue 22 • Aquaculture A magazine of

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Why It Matters in Aquaculture

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Photo: elenades

A Close Look at Gut Health AGE

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Tools to Boost Immune Fitness

Para um resumo sobre saúde intestinal na aquicultura, consulte a Science & Solutions, Nº. 22

Figura 2. Impactos da dieta na estrutura intestinal do salmão. A: mucosa intestinal distal de animal alimentado com farinha de peixe; B: mucosa intestinal distal de animal alimentado com farelo de soja, apresentando enterite grave.

Adapted; Sahlmann (2013).

po de exposição, mas também pela interação com outras variáveis, como as condições ambientais, fase de criação e estado de saúde. A principal preocupação consiste no fato de que os impactos negativos começam geralmente silenciosos, após alguns dias de alimentação, desencadeando na sequência processos inflamatórios na mucosa intestinal, disbiose da microflora e redução na resposta imunológiTabela 3. Modo de ação de suporte à saúde intestinal de diversas categorias de aditivos nutricionais. Aditivo

Benefícios

Probióticos

Melhoria do funcionamento da barreira epitelial intestinal, controle de bactérias patogênicas, melhoria da resposta imunitária do intestino, produção de enzimas e AGV

Fitogênicos

Diminuição das respostas próinflamatórias na mucosa intestinal, apoio ao sistema antioxidante, estímulos à secreção endógena, imunoestimulação, proteção celular, redução dos problemas com toxinas

Ácidos orgânicos

Controle de bactérias patogênicas, aumento da digestibilidade de nutrientes e da energia

Prebióticos

Imunoestimulação, adesão de bactérias patogênicas

Desativador de micotoxinas

Combate os efeitos negativos provocados por micotoxinas

Adaptado, NRC (2011).

Uma revista da BIOMIN

ca. Quando a perturbação no desempenho se torna visível, alterações críticas nas condições fisiológicas já podem ter sido atingidas, com possibilidade de danos secundários. Em juvenis de salmões do Atlântico, por exemplo, a enterite induzida por farelo de soja ilustra muito bem as consequências prejudiciais para a estrutura intestinal provocadas pela exposição a fatores antinutricionais. Após 7 dias, o processo inflamatório torna-se evidente e após 21 dias, podem ser observados efeitos morfológicos acentuados na mucosa, como a redução na altura e complexidade das vilosidades, microvilosidades mais curtas, diminuição do número e tamanho de vacúolos supranucleares, infiltração de leucócitos na submucosa e uma lâmina própria mais larga (Figura 2). Embora o salmão seja uma espécie carnívora, os efeitos dos fatores antinutricionais não se limitam a espécies mais exigentes. Os fatores antinutricionais provenientes de matérias-primas alternativas, como o farelo de girassol, de algodão e canola, têm tendência a provocar impactos semelhantes em espécies onívoras, incluindo a tilápia, catfish, pangasius e camarão. Combatendo os efeitos negativos Em operações comerciais, o tempo e os recursos são limitados e, até mesmo com um bom programa de vigilância, algumas situações de risco não podem ser evitadas. Neste cenário, inovadores aditivos para raçõespodem atuar como ferramentas nutricionais para que, em conjunto com nutrientes funcionais, mitiguem os riscos econômicos de ingredientes alternativos, garantindo a saúde intestinal e aumentando o desempenho (Tabela 3). Um esforço em equipe De modo a atingir os elevados níveis de excelência relacionados à gestão da saúde intestinal, é requerido um grande esforço multidisciplinar. É necessário reunir especialistas em nutrição, saúde, manejo e etc., para desenvolver e validar soluções viáveis do ponto de vista técnico e econômico. O êxito da estratégia nutricional estará fortemente ligado à sustentabilidade das operações de aquicultura, as quais abrangem um aumento do desempenho e da rentabilidade, menor liberação de nutrientes para o ambiente e melhoria das condições de bem-estar dos animais

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O seu exemplar da Science & Solutions

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