Jornal do rio vermelho 06 edicao

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J o r n a l d o R i o Ve r m e lh o –

u m a p u b l i c a ç ã o d a A M A R V – S a l v a d o r , B a h i a – M a r ç o d e 2 0 14 – a n o I I I n ú m e r o 6 Foto: Darjan Sanches

Nova orla do Rio Vermelho

O

projeto total de revitalização da Orla de Salvador, orçado inicialmente em R$ 111 milhões, prevê implantação de 50 mil m² de novas calçadas, 16 mil m² de espaço compartilhado entre pedestres e carros, seis quilômetros de ciclovias, dez quilômetros com nova iluminação pública, além

de quadras, praças e restaurantes. As intervenções foram divididas em nove trechos: São Thomé de Paripe, Tubarão, Ribeira, Barra, Rio Vermelho, Jardim de Alah/Armação, Boca do Rio, Piatã e Itapuã. Os recursos, segundo a prefeitura, já estão assegurados.

Foto: Divulgação

Foto: Edgard Carneiro

100 anos do “Buda do Rio Vermelho” – Págs. 12 e 13

Festa de Yemanjá 2014 – Pág. 14

A prefeitura estima investir cerca de R$ 30 milhões nas obras de requalificação do Rio Vermelho, anunciado com a entrega dos projetos e previsão do começo das obras após a Copa do Mundo FIFA 2014.

Págs. 8 e 9 Foto: André Avelino

Capinan na Galeria do Artista – Pág. 16


Notas da AMARV

EDITORIAL

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ontinuamos nossa luta por um Rio Vermelho melhor trazendo uma boa notícia, é que se antes o bairro sequer tinha um projeto de intervenção urbana, agora ele passa

a ter um projeto de requalificação de sua orla com recursos disponíveis e previsão de começo das obras logo após a Copa do Mundo FIFA 2014. Nesta edição apresentamos o projeto final da Prefeitura de Salvador para o nosso bairro. Homenageamos o “Buda do Rio Vermelho” como era chama-

Passeios para passear A Prefeitura de Salvador lançou uma campanha de recuperação das calçadas da cidade, visando mudar completamente o perfil da cidade, acostumada com calçadas destruídas, esburacadas e com elevado índice de acidentes com pedestres.

do o cantor e compositor Dorival Caymmi, que teve residência no bairro e comemora, agora em abril, o centenário do seu nascimento. Este ano também comemoramos o centenário do Engenheiro Carlos Batalha, um operário da engenharia. Um bate papo na Galeria do Artista com o poeta e compositor Luis Carlos Capinan, morador do bairro há mais de 30 anos, que conta um pouco da sua trajetória de vida e porque ele é louco por ti América.

A campanha não se resume apenas aos passeios públicos, mas também aos proprietários dos imóveis cujas calçadas terão que ser recuperadas. No Rio Vermelho, a AMARV fez um levantamento das calçadas do bairro, abrangendo todas as ruas e enviou o resultado à Prefeitura de Salvador com endereços e algumas fotos da situação.

A Personagem do Rio Vermelho é a arquiteta Arilda Souza que mostra sua ligação com o bairro e dá dicas de como preservar esse bairro histórico de um patrimônio arquitetônico tão importante. Destacamos a cobrança por mais democracia e transparência no futebol, com a estreia do Bom Senso Futebol Clube e do Fair Play Financeiro, novidades bem vindas no campo e no esporte.

Você, proprietário de imóvel, procure colaborar. Custa tão pouco participar da campanha para uma convivência melhor. Faça a recuperação de sua calçada, lembrando que a responsabilidade pela calçada do seu imóvel é sua. Evite notificações. O Rio Vermelho agradece.

Sobre o Festival da Primavera

Publicamos uma interessante e apropriada crônica do poeta Ferreira Gullar sobre a importância do jornal de bairro, transcrita do jornal Folha de São Paulo. E mais uma vez agradecemos a aceitação e elogios ao Jornal do Rio Vermelho, como também o apoio de comerciantes e empresas que acreditam na proposta dessa publicação. Boa leitura, Lauro Alves da Matta Júnior Presidente da AMARV

EXPEDIENTE CONSELHO EDITORIAL – José Sinval Soares – André Avelino de Souza Ferreira – José Mário de Magalhães Oliveira – Wanderley Souza Fernandes – Carmela Talento – Marcos Antonio Pinto Falcão Jornalista Responsável – José Sinval Soares – MTE 1369 Revisão – Carlos Amorim – DRT/BA 1616 Projeto Gráfico e Editoração – Dendê Comunicação Tiragem – 8.000 exemplares Impressão – Gráfica Press Color Contato – falecomamarv@gmail.com DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Esta é uma publicação da Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho – AMARV. Fotos e artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.

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(71) 9158-8000 / 9667-9666 / 8164-7144 / 8849-2674

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As ruas da orla do Rio Vermelho se transformaram em palco de shows, exposições, recreação infantil, gastronomia, entre outras atrações culturais da primeira edição do Festival da Primavera que deu início ao novo Calendário de Eventos para Salvador projetado pela Prefeitura, através da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura. O Festival com o seu modelo “virada cultural” começando ao pôr do sol de sábado e seguindo ininterruptamente até a noite de domingo foi um sucesso. Representantes das entidades do bairro e autoridades fizeram uma avaliação positiva do evento. De acordo com o secretário Guilherme Bellintani: “O Festival mar-

cou um novo conceito para eventos de rua na cidade, um projeto de envolvimento com a comunidade. A nossa intenção, tanto no Festival da Primavera como em todos os eventos do Calendário, é fazer com que estas datas sejam um fomento ao turismo e à cultura da cidade. O Rio Vermelho tem tudo a ver com o nosso projeto, é um bairro muito intenso, cultural e com uma sociedade civil bem organizada – algo fundamental para nosso planejamento”. A diretora de eventos da Prefeitura Eliana Dunet: “O evento reuniu durante as 24 horas cerca de 10 mil pessoas. Foi um sucesso principalmente em termos de participação popular. Os moradores do Rio Vermelho abraçaram o projeto”. A vereadora Aladilce destacou a ocupação do espaço público e o clima de confraternização. O cantor Luiz Caldas uma das atrações do Festival: “Foi um prazer enorme participar do evento, estou muito honrado. É muito importante para revitalizar o bairro que possui vocação boêmia”. O cantor Márcio Mello, outra atração do Festival: “O Rio Vermelho estava precisando mesmo de algo nesse sentido. Aqui é a casa da boêmia”. O presidente da AMARV, Lauro Matta mostrou-se satisfeito com a participação das lideranças e moradores do bairro, destacando a relevância dessa interação no evento. De acordo com a delegada da 7ª Delegacia Jussara Souza, apenas um registro de roubo foi feito durante os dois dias de festa, enquanto o Comandante da 12ª CIPM, Major André Ricardo, disse que nenhuma ocorrência de violência foi registrada. Outras lideranças também se manifestaram de forma unânime elogiando o evento.

Como sempre, foi muito comentada por todas as tribos do Rio Vermelho a edição nº 5 do nosso Jornal A Economia Criativa do Rio Vermelho O Sebrae Bahia está realizando o Projeto Territórios Criativos em sete bairros de Salvador. No Rio Vermelho, o Sebrae trabalha com o apoio da AMARV e está iniciando a etapa de Cadastramento dos Empreendimentos da Economia Criativa. Os dados relativos aos negócios servirão para montar um cadastro situacional da economia criativa no Rio Vermelho, e com isso o Sebrae poder atuar de forma mais efetiva e adequada ao perfil econômico das empresas, além de poder divulgar os negócios da economia criativa do Rio Vermelho de maneira unificada e mais atraente. O Projeto Territórios Criativos se propõe a fomentar os negócios integrantes dos segmentos criativos nos territórios selecionados, promovendo a competitividade dos pequenos negócios. É importante a participação de todos os empreendimentos de Economia Criativa do Rio Vermelho. Exemplos de empresas que serão atendidas pelo projeto são: atelier de artistas, artesãos e designers, galerias de arte, antiquários, academias de capoeira, sedes de manifestações culturais e religiosas, gastronomia, pontos de cultura, rádios comunitárias, estúdios de gravação, escolas comunitárias, associações de bairro, cooperativas de moda e outras.


Salvador passa a integrar o Sistema Nacional de Cultura A Prefeitura de Salvador conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores o projeto de lei que estabelece o Sistema Municipal de Cultura. O projeto prevê a composição do Conselho Municipal de Política Cultural, a adoção de ferramentas para a proteção e estímulo à preservação do Patrimônio Cultural de Salvador e o reconhecimento, valorização e fomento de manifestações que expressem a diversidade étnica e cultural da cidade. Com essa medida, a capital baiana passa a integrar o Sistema Nacional de Cultura, um modelo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura entre governo e sociedade civil, coordenado pelo Ministério da Cultura. É esse sistema que organiza, siste-

matiza e estabelece critérios para as políticas culturais nacionais, que, obrigatoriamente, refletem nos estados e municípios. Entre eles, por exemplo, a distribuição de recursos e o financiamento de projetos. Com a aprovação do Sistema Municipal de Cultura, Salvador torna-se apta a receber recursos do Fundo Nacional de Cultura, além de aderir aos editais nacionais e integrar uma rede de coordenação e cooperação intergovernamental. A partir da aprovação do Sistema Municipal de Cultura, a Prefeitura tem quatro meses para estabelecer um Conselho de Cultura, que, por sua vez, irá elaborar a Lei Municipal de Cultura, com duração de dez anos. De caráter deliberativo, o Foto: André Avelino

Conselho será formado por 15 representantes do poder público, 10 de linguagens artísticas e 5 representantes de bairros soteropolitanos que tenham culturas fortes. Esperamos que incluam o Bairro dos Artistas, o Rio Vermelho. Em paralelo, também foi aprovada a Lei do Patrimônio Municipal – equivalente, na esfera federal, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, e no plano estadual, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – Ipac. “Para uma cidade com a pujança cultural de Salvador, estar fora do Sistema Nacional de Cultura era uma grande lacuna” aponta o secretário municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani.

Estabelece mecanismos de gestão compartilhada entre os estados, municípios, Governo Federal e a sociedade civil para a construção de políticas públicas na área. Funciona como ponte entre o Plano Nacional de Cultura e os estados, municípios e o Governo Federal.

PEC 150

Proposta de Emenda Constitucional que prevê o repasse anual de 2% do orçamento federal, 1,5% do orçamento dos estados e Distrito Fedral e 1% do orçamento dos municípios, de receitas resultantes de impostos para a Cultura. Em tramitação na Câmara Federal, com promessa de ser votada agora, no início de 2014.

Plano Nacional de Cultura

Conjunto de princípios, objetivos, diretrizes e metas que devem orientar o poder público nas políticas culturais em prol do desenvolvimento, valorização e preservação da diversidade cultural brasileira. Estabelece 53 metas a serem cumpridas até 2020, como a destinação de 10% do Fundo Social do Pré-Sal para a cultura, e 4,5% de participação do setor Cultural no Produto Interno Bruto – PIB.

Sistema Municipal de Cultura

Aprovado pela Câmara Municipal, integra Salvador ao Sistema Nacional de Cultura, assegurando o repasse de recursos do Fundo Nacional de Cultura e o estabelecimento de diretrizes próprias de gestão cultural.

Reunião discute o reordenamento da Praça da Mariquita Com a presença do secretário Guilherme Bellintani e da secretária Rosemma Maluf, da Secretaria Municipal de Ordem Pública – SEMOP, acompanhada por representantes de outros órgãos da administração municipal, entre eles a Limpurb, foi realizada uma reunião sobre o reordenamento da Praça da Mariquita, no Restaurante Casa de Tereza.

Secretários Bellintani e Rosema Maluf, Lauro Matta e vereadora Aladilce

Sistema Nacional de Cultura

Organizada pela AMARV, a reunião contou com a presença de lideranças de entidades do bairro como o

Conselho Comunitário de Segurança, a Colônia de Pesca Z-1 e Associação do Mercado do Peixe, além da participação maciça de comerciantes que atuam na área da Praça da Mariquita. Nessa reunião foram abordados temas como a iluminação pública, reordenamento de mesa e cadeiras, ocupação do espaço público sem autorização, e, o mais importante, a necessidade de elaboração de um projeto urbanístico e paisagístico para a praça. Uma próxima

reunião será convocada pela AMARV que vai centralizar as reivindicações encaminhadas pelos presentes. Em sua fala, a secretária destacou a importância de construir um projeto ouvindo a comunidade, sem imposição de cima para baixo. Já estava passando da hora de procurar resolver os problemas da Praça da Mariquita que está desorganizada, maltratada e ocupada por um comércio informal de forma indiscriminada e sem o necessário ordenamento.

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Teatro na igreja

Campanha de convivência com os animais

Foto: Divulgação

Lançada pelos moradores do Alto de São Gonçalo do Rio Vermelho em 2012, a Campanha de Conscientização para a Convivência Responsável com Animais no Espaço Público com palestras educativas de veterinários e adestradores, distribuição de sacos para coleta de dejetos, visando despertar nos moradores de todo o bairro a conscientização para a posse responsável de animais no espaço público, precisa ser mais assimilada pelos donos dos animais.

A Igrejinha de Sant’Ana será palco para um espetáculo teatral adaptado da obra de Jorge Amado “Compadre de Ogum”, montagem adaptada e dirigida por Edvard Passos com patrocínio da Prefeitura de Salvador, através da Fundação Gregório de Mattos. É a montagem vencedora do segmento teatro do primeiro edital Arte em Toda Parte, da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura do município, dando segmento à nova política cultural para a cidade. O espetáculo contará com a participação, em um intrínseco trabalho de formação, interatividade e de encenação, de entidades culturais importantes como o Cortejo Afro, o Afoxé Filhos de Ghandi e a Paróquia de Sant’Ana do Rio Vermelho. O elenco é composto por um misto de atores jovens e veteranos, entre eles José Carlos Jr., Danilo Cairo e Thais Laila, além de atores revelados pelo Cortejo Afro. A técnica conta com nomes consagrados do teatro baiano como os premia-

Na imagem: atores do Curso Livre de Teatro, músicos do Cortejo Afro e, entre eles, o professor e pesquisador Mateus Schimith, o diretor Edvard Passos, o diretor musical Luciano Bahia e o ator Danilo Cairo dos Rodrigo Frota na cenografia, Luciano Bahia na direção musical, e as definições estéticas da montagem serão do artista Alberto Pitta, presidente do Cortejo Afro. Dentre os principais objetivos da montagem: divulgar e valorizar a cultura da Bahia, celebrar o aniversário da Cidade de Salvador; estimular a tolerância religiosa e a convivência respeitosa entre

credos e etnias distintas; comparar aspectos de Salvador hoje e de 1950 – quando se passa a trama; ocupar com arte e teatro um espaço de ampla visibilidade dentro da cidade – a Igrejinha de Sant’Ana; e homenagear o escritor Jorge Amado ao lado de sua estátua no Largo de Santana. O Rio Vermelho recebe o grupo de braços abertos, parabenizando

Mulekas de Ouro

Foto: Divulgação

Criado em 26 de setembro de 1998, o Grupo de Dança Moderna da Melhor Idade Mulekas de Ouro tem como objetivo a alegria, autoestima, qualidade de vida com a perspectiva de viver a maturidade plena através da dança com coreografias diversificadas, o canto e imitações. Para tanto, utiliza diversas dinâmicas de trabalho no grupo, de acordo com a época, as condições e interesses específicos do tema, levando em consideração a experiência, a história de vida e sabedoria. Ao longo desses 15 anos, elas se reúnem para se divertir e divertir os outros de uma forma multidisciplinar: Coralistas no Natal, Folionas no Carnaval, Coelhinhas na Páscoa, Forrozeiras no São João, Floristas na Primavera e Crianças no mês de outubro, sempre levando a alegria e o colorido nas suas apresentações.

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pelo conjunto de ideias, e a certeza que a montagem nasce vencedora. O que – Teatro na Igreja com a peça

“Compadre de Ogum”, de Jorge Amado. Direção: Edvard Passos Onde – Igrejinha de Sant’Ana – Largo de Santana no Rio Vermelho Quando – 23 a 30 de março de 2014 Ingresso – 01 kg de alimento para Campanha

da Paróquia de Sant’Ana do Rio Vermelho

Quem faz suas caminhadas ou corrida pelas calçadas do bairro, além do piso cheio de buracos ou mal-conservado, ainda tem que se desviar dos dejetos de animais e conviver com um cheiro insuportável. Apesar da campanha, a quantidade de fezes de animais nas calçadas ainda assusta. Não é necessário lembrar que essas fezes trazem vários tipos de doenças, ocasionando riscos ao contato principalmente para as crianças. Não custa nada você, dono do animal, ter mais consciência, refletir sobre a campanha e se responsabilizar pela coleta dos dejetos do seu animal.

Brincando na Fonte Foi o maior sucesso a Festa das Crianças na Praça da Rua Fonte do Boi. O Grupo de capoeira Ganga Zumba, comandado pelo mestre Marcelo, deu um show à parte para a garotada. Com a participação de moradores, amigos e comerciantes, arrecadou-se e distribuiu-se lanches e brinquedos para alegria dos presentes. Gostaríamos de agradecer a colaboração dos parceiros: D’Lilian Moda, Ciranda Café,

Casa 5 Restaurante, Planeta Sol Camisetas, Boteco Assunção, Restaurante Sabor de Casa, Beijú da Moça, J. Berg Alfaiate, Boteco Santa Rita, Miguel Joaquim Hermida, Limpurb e à 12ª CIPM Rio Vermelho. Comissão Organizadora do Evento: Ana Rosa, Adriana Machado, Gabriel e Telma Moreira, Jorge Silva e Eunice, Jackson Assunção e Gileno Duarte Foto: Noemia Mello/Adriana Machado

Segundo Jandira da Silva Berenguer, mentora e coordenadora das Mulekas de Ouro: “Nossa missão é disseminar através da dança uma nova perspectiva de se viver a maturidade com alegria e melhor qualidade de vida. Nossa meta principal é renovar a vida através da dança, divulgando, atuando e brilhando nos diversos segmentos da sociedade, buscando a valo-

rização do ser humano que é infinito, portanto, sua dimensão não tem limites, visto que as pessoas não devem ser limitadas nem avaliadas pela faixa etária.” Através do mulekasdeouro@ hotmail.com, poderá ser feito o contato para as apresentações em datas especiais, festas, confraternizações, encontros, seminários etc.


Convívio cultural já! Por: André Simões

Foto: Carmela Talento

CONVÍVIO CULTURAL JÁ. O que fazem a JAM NO MAN, a ESCADARIA, a VARANDA DO SESI. Se o poder executivo não conseguir fazer isto ainda todo final de semana, que se faça primeiro aos domingos, uma vez por mês, não importa, mas tem que ser JÁ! Poetas, artistas, atores, autores, compositores, cantores, dançarinos, produtores, empreendedores culturais, enfim, todo o povo da cultura, da vida e da cidade espera isto. Um lugar de orgulho, inflamado, flamejante, que acolha novamente a nossa alma criativa que se foi e está louca para retornar.

Conviver é o verbo urgente da cidade. Viver com o outro. Salvador perdeu o convívio e o abismo social e cultural chegou ao ápice. Convivíamos na praia, nas festas de largo, no Carnaval. Ninguém mais vai à praia, você conhece alguém que, nos tempos de hoje, marca para se ver na praia? Perdemos as pessoas, as festas, a praia e o Carnaval. Aí a granfinagem namorava a suburbanidade e vice versa. Existia convívio humano, diversão e interação. Na praia, nas festas de rua, no Carnaval, Salvador se via e se convergia em suas desigualdades. Ganhamos agora a insegurança e a violência das distâncias. O Rio Vermelho sempre foi reduto de resistência cultural, durante um tempo perdeu o posto, na parte mais social, para a Barra, depois para o Pelourinho, que depois se perdeu em si mesmo. Ainda houve uma época que o Aeroclube promovia o encontro de muitos, mas o foco na diversidade já havia se perdido. O entretenimento e o consumo levaram todos para o vazio dos shoppings, que aqui, nem teatro conseguiram implementar, em uma clara demonstração de emburrecimento e empobrecimento cultural. Desde a morte da Barra, do Pelô e do Aeroclube que Salvador morre junto. Tudo foi descentralizado, exterminado, falido, vilipendiado, roubado, massacrado e tornado um boteco de caranguejo a céu aberto. Derrubaram as barracas das praias, das festas de rua, derrubaram o Carnaval. O povo só sai de casa para beber e comer caranguejo. Nada contra os “caranguejos”, mas tudo a favor do céu aberto. Um povo que não se vê, nem se alimenta da sua cultura, morre contaminado. Para isto, sugiro que o Executivo Municipal, implante e construa com

Festival da Primavera divertiu e encantou a todos os moradores e comércio dos locais, com urgência, o decreto do CONVÍVIO CULTURAL JÁ. Salvador está ávida por isto e demonstrou no final de semana do Festival da Primavera, um golaço de placa, marcado por toda a Prefeitura, através da equipe da Sedes, sob o comando de Guilherme Bellintani. As famílias, as mentes, a juventude, gente de todos os cantos foi para as ruas do Rio Vermelho, sem ter que disputar com os “Transformers” no meio da rua. Andei por todo o perímetro da festa, revi amigos, encontrei de tudo um pouco, e de todos, muitos. Vi uma menina fantasiada andando de bicicleta, uma cena de Fellini, vi famílias sorrindo, vi beijos, abraços, encontros e flores brotando pelo Festival e pela Primavera.

Me dei conta, mais uma vez, do quanto urge que façamos um espaço de convívio cultural, onde a cidade saia da “infovida” e vá assistir e viver cultura nas ruas, a maior tradição desta cidade. Salvador se fez nas ruas, de Castro Alves a Dodô e Osmar, passando pelo Candeal e pelas quadras dos Blocos Afros. Respeitando o tempo dos entendimentos e das construções, já pensou se o Rio Vermelho, por exemplo, mantivesse todo o final de semana, seu aceso somente para pedestres? Não é Carnaval, queridos moradores, é ocupação cultural. Poder combinar e levar seus filhos, sua família, para ver pessoas de verdade, ruas de verdade, arte de verdade, amigos de verdade, todos os bares com suas

programações artísticas revezando com palcos gratuitos para a população. No primeiro momento, muitos podem até ser contra, mas acredito que assistir “a revolução da guitarra baiana” tocada pela Baiana System sábado, por Luís Caldas domingo, por exemplo, e de tantos outros artistas brilhantes desta terra, pode ser fundamental para materializar estes novos tempos de abertura das mentes. Depois de fazer Salvador viver e conviver junto e misturado, a “vitalização” do Pelourinho, de outros centros de cultura da cidade, das festas de rua e até do próprio Carnaval, será natural. Será objeto de desejo ir aos espaços que estarão ricos de produção cultural e artística.

Sinceramente, acho que isto está mais fácil do que se imagina e de maneira simples o Rio Vermelho pode sediar e espelhar a transformação cultural da cidade. Os comerciantes não gostaram? Quero ver depois que virar uma espécie de Calçadão Cultural a céu aberto, se alguém vai querer passar seu ponto. Os moradores não apoiarão? Duvido. Os de bom senso são a maioria. Sempre quiseram um Rio Vermelho pulsando cultura e não invadido por lixo artístico, de todos os tipos. Salvador precisa ir para a rua, para sua vocação primordial, com urgência e ver sua cultura sair do discurso, do empreendedorismo de editais, “do caranguejismo”, que só anda para os lados e formar novas platéias, que já estão nas ruas, mas a aula não acontece, parece que a greve é eterna. A Primavera Soteropolitana começou. Ocupemos nossas ruas. Ocupemos nossas praças. Ocupemos nossos artistas. Ocupemos nosso povo. Ocupemos nossas mentes, em regime de urgência urgentíssima. CONVÍVIO CULTURAL JÁ! Está em nossas mãos e nas suas mãos ACM Neto, Guilherme Bellintani e equipe.

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Foto: Carmela Talento

A importância do jornal de bairro * Texto publicado no Blog do Rio Vermelho

Tem muita gente que não dá a mínima importância aos jornais de bairro. Entretanto, esse artigo de Ferreira Gullar, publicado no Jornal Folha de São Paulo, mostra, exatamente, a importância desse meio de comunicação. Para muitas pessoas essa é a ferramenta mais importante de saber o que está acontecendo no seu entorno. Por essas e outras que cada vez me convenço mais da importância desse tipo de comunicação direcionado ao bairro. Leia e confira.*

Na boca dos vizinhos

dez anos ficara muito triste ao saber que eu ia parar de escrever poesia. “Ele sabe seus poemas de cor”. Expliquei-lhe que não foi aquilo o que disse à repórter. “Diga ao seu menino que a poesia sopra onde e quando quer, ninguém manda nisso”. E segui meu caminho, feliz de saber que um garoto de dez anos ama meus poemas. Só me resta agora pedir às Musas que me ajudem e não me deixem parar de escrever poemas. Foto: Divulgação

Ao chegar à caixa do supermercado, a moça que ali atendia me falou: “É verdade que o senhor vai parar de escrever poesia? Não faça isso, poeta, por favor!”. Não acreditei no que ouvira. Aquela moça, que mal conheço e passa o dia a cobrar pelas compras dos fregueses, sabe quem sou eu e lamenta que eu não vá mais escrever poesia! “Mas quem lhe disse isso”, perguntei, e ela: “Li naquele jornalzinho que o pessoal distribui de graça”. Só então me lembrei da entrevista que havia dado a um jornal de bairro e que fora publicada com um título mais ou menos assim: “Gullar diz que não vai mais escrever poesia”. – Não foi bem isso que eu disse, expliquei à moça do caixa. Afirmei foi que talvez não venha mais a escrever poesia. Não disse que decidi não escrever mais. Peguei minhas compras e me dirigi para casa, um tanto surpreso com aquela conversa. A moça não apenas deu importância ao que saíra no jornal, como lamentara minha suposta decisão. Jamais pensara que minha poesia interessasse a uma caixa de supermercado. Na minha visão equivocada, às pessoas do povo o que importa são as novelas de televisão. Daí o meu espanto. Mas o espanto não parou aí. Dias depois, ao atravessar a rua, uma senhora me interpela e me diz que seu filho de

De qualquer modo, vendo que a notícia se alastrara e que, para minha surpresa, há quem deseja que eu continue a escrever poesia, sinto-me na obrigação de esclarecer o assunto. A coisa é a seguinte: escrever ou não escrever poesia não é coisa que se decida. Logo, não foi o que eu declarei àquela repórter do jornal de bairro. Na verdade, sempre que termino de escrever um livro de poemas, tenho a impressão que não vou escrever mais, de que a fonte secou. A primeira vez que isso aconteceu foi com “Luta Corporal”, cujos últimos poemas datam do começo de 1953. Ao escrever o poema “Rozeiral”, em que desintegrava a linguagem, achei que não iria escrever mais. Naquela vez, pelo menos havia uma razão efetiva, já que, ao desintegrar o discurso poético, tornava inviável seguir escrevendo. Mas a coisa se repetiu, anos depois, quando publiquei “Barulhos”, quando publiquei “Muitas Vozes” e,

recentemente, ao dar por concluído “Em Alguma Parte Alguma”. Creio que isso se deve ao fato de que não planejo nada, muito menos meus livros de poemas. De repente, descubro um tema novo, um veio que passo a explorar até esgotá-lo. Isso demora anos, porque, também, ao concluir cada poema, tenho a impressão que o veio se esgotou. Sim, pois do contrário, não daria por findo o poema. Mas chega um momento em que o veio se esgota mesmo, percebo que não há mais nada a retirar dali. Dou o livro por concluído e aí vem a sensação de que não escreverei mais. Sim, porque se não descobrir outro veio, não terei o que escrever. E enquanto não o descubro, essa sensação se mantém até que, de repente, um belo dia, a poesia volta a me iluminar. Os fatos têm mostrado que acabo por descobrir um veio novo e volto a escrever. Pelo menos foi o que aconteceu até então. Sucede que o último poema do meu último livro “Em Alguma Parte Alguma” data de novembro de 2009, e até hoje, três anos e sete meses depois, não voltei a fazer nenhum poema. Nunca fiquei tanto tempo sem escrever poesia. E não me sinto motivado a escrever. Sempre digo que meus poemas nascem do espanto, ou seja, de algo que põe diante de mim um mundo sem explicação. É essa perplexidade que me faz escrever. Pode ser que, aos 82 anos de idade, já nada mais me espante na vida. Mal escrevo essas palavras e chega Maria, empregada minha há mais de 20 anos, que nunca leu um poema meu e nunca tocou nesse assunto durante todos esses anos, e me diz: – Seu Gullar, é verdade que o senhor resolveu não escrever mais poesia? É o que o pessoal anda dizendo por aí. Ferreira Gullar

Casa nº 33 da Rua Alagoinhas

Memorial de Jorge Amado A famosa casa da Rua Alagoinhas, nº 33, no Rio Vermelho, onde viveram durante quase 40 anos os escritores Jorge Amado, Zélia Gattai e família, finalmente será transformada em memorial. O projeto será viabilizado graças à parceria da Prefeitura de Salvador com uma empresa privada que assumirá a gestão do espaço. Segundo a família, a previsão de inauguração será em junho de 2014 durante o período da Copa da Mundo de Futebol, consequentemente fazendo parte do roteiro turístico durante o evento. A casa foi fechada em 2003 e ali se encontram depositadas as

O projeto de reforma da casa com viabilidade de visitação foi elaborado pelo arquiteto português Miguel Correia e uma equipe composta de paisagista, museólogo e arquiteto tocam o projeto na busca de sua concretização. Todo o acervo, como móveis, objetos, vestuário, livros, obras de arte, voltarão aos seus lugares de origem na casa, contando a história de vida dos escritores. O Rio Vermelho aguarda com muito carinho.

Antonio Carlos & Jocafi O Réveillon do Mercado do Peixe proporcionou, na passagem do ano, grandes momentos com o show dos cantores e compositores Antônio Carlos & Jocafi, trazidos à Bahia depois de muitos anos pela Badá Produções. A dupla que faz sucesso desde a década de 1970, encantou o público presente com canções inesquecíveis. Antonio Carlos, conhecido carinhosamente no bairro como “Vieira” foi menino do Rio Vermelho. Antônio Carlos Marques Pinto (Antônio Carlos) e José Carlos Figueiredo (Jocafi) fazem parte de uma geração talentosa e pródiga, dentre os muitos ícones da música, literatura e arte que a Bahia teve a felicidade de conceber. Antônio Carlos & Jocafi foram unidos pelo poeta e letrista Ildásio Tavares, de quem ganharam poemas e letras para suas músicas no início da carreira. Descobertos pelo maestro Carlos Lacerda (guru musical da Bahia), participaram com êxito de vá-

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cinzas do casal ao lado de uma mangueira, no quintal onde curtiam as tardes do Rio Vermelho.

rios festivais em Salvador. Gravaram seu primeiro LP “Mudei de Ideia”, um sucesso imediato. Daí em diante, músicas como “Você Abusou”, “Mas que Doidice”, “Morte de Amor” e “Toró de Lágrimas” conquistaram o povo brasileiro. Como compositores, tiveram oportunidade de gravar com nomes como Vinícius de Moraes, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Elza Soares, Maria Creuza, Nelson Gonçalves, Toquinho, Clara Nunes, Angela Maria, Alcione, Djavan, Daniela Mercury, Jair Rodrigues, Marcelo D2, Diogo Nogueira, entre outros. A simplicidade gostosa de suas letras e o forte apelo popular dos sambas-de-roda da Bahia, fizeram do show de Antônio Carlos & Jocafi uma grande festa proporcionada pela Associação do Mercado do Peixe.


O Rio Vermelho da minha infância e juventude Por: Almir Santos Foto: Divulgação

linha de bondes que existiu em Salvador: Campo Grande-Rio Vermelho. Isso no início dos anos 1960.

Cresci ouvindo estórias do Rio Vermelho. Primeiro, contadas por minha avó Amélia. Uma santamarense nascida em 02 de janeiro de 1882, que adotou o Rio Vermelho aos dois anos.

Dos meus colegas que utilizavam o mesmo transporte: do meu amigo Edyano Castro Meira, que morava na Rua Euricles de Matos (Paciência), 49. De Ivan Reis, Ivan Rabelo, José Calazans. Dos irmãos Milton e Carlos Araújo. De comprar manga na roça de René, onde hoje está situado o Parque das Mangueiras. Que delícia!

Lá, minha avó casou e nasceram todos os seus filhos. As emocionantes estórias por ela contadas não foram registradas em nenhum documento, mas ficaram fresquinhas na minha memória. Tem até estória de lobisomem que aparecia frequentemente. Falava de fatos, pessoas, lugares, transportes etc. Contava do sucesso do meu avô Manuel da Paixão Ferreira, também conhecido como Pequeno, comerciante que teve um dos maiores armazéns na época. Dos compadres João Batista e Raul. Do Sr. Nazareth. Dona Anunciata, uma amiga italiana que teria morrido afogada na Praia da Paciência se não fosse a coragem e habilidade de minha bisavó Joaquina. Das famílias Odilon Santos e Tabuada. Do presente da Mãe D’Água, hoje conhecido como Festa de Yemanjá. Do Bando Anunciador. Da Ladeira do Papagaio, onde morou, hoje integrante do corredor Cardeal da Silva. Dos sobrados coloniais. Das pescarias de xaréu. Das canoas e saveiros. O Rio Vermelho, uma vila predominantemente de pescadores, era separada do centro da cidade por florestas e fazendas. O acesso ao centro, quando não feito a cavalo, era feito por um trem, chamado pelo povo de “máquina” que ligava o Campo Grande até as imediações da atual Rua Lídio Mesquita. Para vencer a grande diferença de nível, o traçado da linha do trem contornava toda a elevação onde hoje se situa o Colégio Antônio Vieira, daí o nome de Cur va Grande, passava por baixo do

Da sede do Esporte Clube Ypiranga

Rio Vermelho retratado no início do século XX Primeiro Arco, atingia uma via que viria a ser denominada Rua do Trilho e, posteriormente, Rua Gomes Brandão, alcançava a Rua Garibaldi, passava o Segundo Arco, nas proximidades do viaduto da TV Itapuã, seguindo pela Garibaldi até a Rua da Paciência. Mais tarde essas histórias eram ratificadas por minha mãe, Núbia, nascida naquele arrabalde, como se dizia antigamente. Quando me entendi não havia ônibus. O transporte de passageiros era o bonde, que saía do Terreiro de Jesus até o Campo Grande, daí até o Largo da Mariquita. Só que o bonde não ia pela Curva Grande. Fazia o percurso ao longo da atual Avenida Leovigildo Filgueiras, passava por cima do Primeiro Arco, seguindo o trajeto do antigo trem. Era a Linha 14 – Rio Vermelho. Para se chegar ao Rio Vermelho, também poderiam ser utilizadas as Linhas 16 – Amaralina e 15 – Rio Vermelho de Baixo. Esta última tinha o seguinte itinerário: Barroquinha, Largo do Teatro,

hoje Praça Castro Alves, Rua da Ajuda, Rua do Tijolo, Baixa dos Sapateiros, Sete Portas, Rua Djalma Dutra, Fonte Nova, Rua Vasco da Gama, Largo da Mariquita.

Lembro-me das pessoas que ali moravam: Major Chaves, um eterno batalhador pela pavimentação da Rua Garibaldi. Morreu sem ver seu desejo concretizado.

As mais recentes histórias aqui narradas foram por mim vividas

De Aymar Veloso, um fiscal da prefeitura, Dr. Gratulino Melo, Chefe do Campo de Experimentação de Ondina, Dr. Lacerda, engenheiro da prefeitura, dos seus filhos maestros Carlos e Toninho Lacerda e de sua filha Emília Lacerda, que nos deixou prematuramente. Da beleza de Marlene, do escultor Mário Cravo e tantos outros.

Lembro-me que entre o Primeiro Arco e a Rua da Paciência não havia pavimentação. A linha do bonde só era dupla em alguns trechos. Havia necessidade de se esperar o sinal livre enquanto o outro bonde vinha em sentido contrário. Lembro-me do mato que arrastava nos passageiros que viajavam no estribo. A maior emoção, quando levado à praia por meu pai e minha mãe em companhia do meu irmão Ayrton, era sentir o cheiro de mar quando o bonde passava da Vila Matos. Nosso destino era o banho de mar na praia de Santana. Trocávamos a roupa na casa de Manuel de Lucila, pois não se andava nos bondes em trajes de banho.

Do guarda 59 e do motorneiro, Sr. Xavier, que moravam na Vila Matos. De Eloi, meu barbeiro, que também morava na Vila Matos. De quando, nos fins da década de 40, a Linha 14 – Rio Vermelho foi contemplada com bondes fechados tipo sossega-leão. Que festa! Do motorneiro do bonde 286, apelidado de Mão de Luva, que tinha um grande fã clube, mas sempre era punido por excesso de velocidade. Dos descarrilamentos. E da última

Do alargamento da Rua da Paciência quando foram demolidos vários casarões, inclusive a antiga Escola Guiomar Pereira. Da demolição do forte na Rua Guedes Cabral para urbanizar a área. Da construção da nova Igreja de Sant’Ana . Tudo isso até o fim da década de 1960. Esses depoimentos datam de tempos remotos, desde uma pequena Salvador de pouco mais de 100 mil habitantes até os nossos dias com quase três milhões de habitantes. Em que pese o o progresso, das novas teconologias, de luxuosas edificações, hotéis cinco estrelas, o Rio Vermelho mantém vivas lembranças de um passado opulento. Sempre teve o privilégio de acolher pessoas ilustres como o inesquecível Jorge Amado. É o bairro preferido para moradia e lazer de artistas e intelectuais. É o bairro dos bares, restaurantes e comidas típicas. Abriga uma das mais belas festas populares do Brasil. A Festa de Yemanjá. Continua com o mesmo charme.

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Nova orla do Rio Vermelho Foto: Divulgação

O prefeito ACM Neto apresentou no dia 01 de fevereiro durante uma coletiva, no auditório da Associação Caballeros de Santiago, o projeto de requalificação da orla do Rio Vermelho. O projeto visa reestruturar o trecho entre a Praia da Paciência (Av. Oceânica) e a Rua da Fonte do Boi (Mariquita). “Queremos resgatar a autoestima de um bairro tradicional da cidade conhecido por seu aspecto boêmio” afirmou o prefeito. De acordo com o cronograma da prefeitura, o processo de revitalização do Rio Vermelho será dividido em três fases. A primeira, vai do Largo de Santana ao Largo da Mariquita; a segunda do Largo da Mariquita à Fonte do Boi; e a terceira, da Praia da Paciência ao Largo de Santana. Para dar início ao projeto, o prefeito disse que está aguardando a entrega dos planos de adequação da Coelba, da Embasa e das operadoras de telefonia. “Haverá pontos em que a fiação elétrica será enterrada, o que causa im-

no 2 de fevereiro de 2015 as obras estarão bem avançadas e a festa de Yemanjá deverá apresentar um visual diferente. “Vamos entrar em processo de licitação e em curto prazo de tempo iremos entregar um novo bairro para os moradores, soteropolitanos e turistas”, garante Neto ao alertar que durante as obras, transtornos, principalmente no trânsito, serão inevitáveis.

pactos nas tubulações da Embasa. Essas empresas precisam se adaptar ao nosso projeto para que eu possa liberar a licitação, e então dar início à primeira fase das obras”, explicou ACM Neto. A entrega desses projetos está prevista para o início de março. Em seguida, os ajustes finais serão dados ao plano geral e o orçamento será definido. A estimativa é que a licitação da primeira fase seja publicada também em março. O arquiteto Sidney Quintela, um dos autores, em sua exposição, apresentou o projeto que sugere mudanças no calçamento e estrutura das vias, seguindo o padrão do projeto de revitalização da Barra. As ruas passariam a ter nivelamento único para carros, pedestre e ciclistas, além de novos sistemas de iluminação subterrânea. O plano estabelece também construção de um parque para skatista na Garibaldi, moderna quadra de esportes na Paciência, faixa exclusiva para

ciclista e revitalização das principais esculturas do bairro . No Largo de Santana o piso de suas calçadas e o conjunto paisagístico fará uma homenagem a Yemanjá e no Largo da Mariquita a Oxum. As obras estão previstas para começarem após a Copa do Mun-

do, mas não foram definidos prazos específicos. No entanto, de acordo com o prefeito, o término das três fases está previsto para o final de 2015. O prefeito preferiu não antecipar a data de entrega das obras concluídas, mas adiantou que

Diferente do projeto de requalificação da orla da Barra que já nasceu pronto, o projeto da orla do Rio Vermelho abriu-se em diálogo entre a prefeitura e a comunidade local na busca do melhor para o bairro, numa contribuição importante para o projeto final. Durante o ano passado diversas reuniões aconteceram com resultados bastante positivos e quase todas as interferências foram consideradas. A ONG Cipó através do Bairro – Escola Rio Vermelho apresen-

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Foto: Divulgação

Maquetes digitais do projeto mostram a reestruturação do trecho da Praia da Paciência e do Largo da Mariquita

tou um documento “Reflexões relacionadas à Proposta da Prefeitura para o bairro do Rio Vermelho” sistematizou as contribuições feitas por Grupo de Trabalho (GT) da Praça, Grupo Ampliado (GA) do Bairro – Escola e Grupo Estratégico (GT da Praça + Vizinhos da Praça) e apresentou estudo pelo escritório de arquitetura da ONG com todo o coletivo. Suas reflexões tinham áreas de abrangência desde a Praia da Sereia (“Praça do Sukyaki”), mudanças das quadras da orla, deck, museu/quadras, Largo de Santana/Praça Pôr do Sol, ciclovias, estacionamentos, Largo da Mariquita e Rua Fonte do Boi. Apresentou sugestões de uma gestão participativa dos espaços públicos e interiorizou o projeto para além da orla, considerando principalmente as escolas do bairro (conexão das escolas com as praças e outros espaços públicos como teatros, bibliotecas, praias e áreas de lazer).

A AMARV através da colaboração das arquitetas Ananda Assmar e Jade Bahia Falcão, apresentou um estudo que buscou junto a comunidade do Rio Vermelho opiniões sobre sua relação com a faixa litorânea do bairro, mostrando a característica de cada es-

paço, a situação atual de suas praias, equipamentos urbanos nelas inseridos e propostas de melhoramento como: postos guarda-vidas, sanitários, lixeiras, alongamento de passeios, modificações de acesso às praias, estacionamentos, criação de decks e quiosques, rampas para

embarcações, ciclovias, recuperação de praças e paisagismos, visando contribuir para o enriquecimento do projeto final da Prefeitura. Resaltando que não basta apenas urbanizar tem que animar, projetando um sistema apoiado em programas que valorizem o espaço com a partici-

pação do cidadão, seu desfrute e com isso novos relacionamentos e qualidade de vida. De acordo com Lauro Matta, presidente de AMARV , “Nós opinamos, discutimos e sugerimos. O projeto é resultado do que foi trabalhado nas reuniões”.

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O centenário de um operário da engenharia

Personagem do Rio Vermelho

Arilda Maria Cardoso Sousa

Por: Francisco Ribeiro de Carvalho Foto: Divulgação

capacidade profissional a sucessivas administrações, ele jamais se deixou seduzir pela vaidade, tampouco fez de elevadas funções que exerceu escada para alcançar prestígio pessoal ou fortuna. Resistiu, inclusive, a apelos para que se lançasse na carreira política. “Sou apenas um operário da Engenharia, um simples munícipe de Salvador”, disse certa vez.

Como um oásis em meio à expansão imobiliária cada vez mais adensada nos grandes centros urbanos, a praça caracteriza a comunhão entre os espaços habitados pelas comunidades e o espaço comum que a todos pertence, isto é, atendendo à necessidade precípua de comunicação entre os cidadãos. Desde a sociedade neolítica, constituída pelos povos mais primitivos, passando pela civilização grega, berço da democracia, política, filosofia e do conhecimento em seu sentido mais amplo, chegando a Roma, ao período do Renascimento e ao pós-renascentista, até alcançar o movimento modernista e o contemporâneo, um traço marcante identificou a praça: um local de encontro e de convívio social. Naturalmente, com as diferenças do tempo e suas diversas acepções, o elemento humano se inseriu permanentemente em sua configuração, seja em celebrações de casamentos, comemorações, realização de torneios esportivos, peças teatrais e festas públicas, localização de feiras e mercados ou como palco de execuções públicas, a exemplo da vivenciada pela Praça da Piedade, em Salvador, onde em 1799 foram enforcados e esquartejados mártires da Conjuração Baiana. Em boa hora, pois, a Praça Engenheiro Carlos Batalha, no Rio Vermelho, em processo de adoção pelo Grupo Empresarial Sagarana, sempre com o apoio da Amarv – Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho. Carlos Batalha não foi um engenheiro tão só. Competente, carismático, íntegro, um homem talhado para servir. E o fez sem limitações. Doando sua

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Quando se olha em torno do que ronda a vida pública brasileira, onde a dignidade deixa de ser regra para se transformar em exceção, a frase é tanto mais expressiva quanto exemplar. O operário da Engenharia, como ele próprio se identificava, foi um operário padrão da decência na administração pública. Se há quem dela se aproveita para o enriquecimento ilícito, ele optou pelo ofício de servir à Bahia e, principalmente, a Salvador. Em sua extensa operosidade, comandou com a capacidade do técnico aprimorado e do servidor apaixonado grandes obras beneficiando a cidade e sua população. Nesse rol incluem-se os túneis Américo Simas e Teodoro Sampaio, o Teatro Castro Alves, Ginásio de Esportes Antônio Balbino, lamentavelmente extinto para dar lugar à Arena Fonte Nova, a Hora da Criança, tornando realidade o sonho de Adroaldo Ribeiro Costa, a Usina Hidrelétrica de Cotegipe, o Clube Espanhol, Maternidade Tsylla Balbino, escolas, centros sociais urbanos, recuperação de praças, ruas e jardins. Em 31 de julho de 2014, quando o centenário de Carlos Batalha será comemorado, não será bastante para lembrá-lo a requalificação da praça que tem o seu nome, já em andamento. Pelo que fez pela cidade e pelos baianos, pelo reconhecimento de administradores aos quais serviu com independência e zelo, pela recordação de quem teve o privilégio de tê-lo como timoneiro, sua família em especial, 100 anos merecem ser festejados pela gratidão do povo dessa cidade. Afinal, como escreveu Antonio Carlos Magalhães, sintetizando inúmeros depoimentos de governantes com quem conviveu para servir à cidade, “À Bahia ele deu régua e compasso, onde serviu com competência, inteligência e amor”.

Arquiteta e urbanista formada pela Faculdade de Arquitetura da UFBA, membro do conselho da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP, coordenou o GT de áreas verdes e espaços abertos do Órgão Central de Planejamento – OCEPLAN, desenvolveu projetos de restauração e reutilização de edifícios de mérito arquitetônico, autora de significativos projetos paisagísticos na Bahia e Medalha de Mérito do CREA-BA pelos serviços prestados à comunidade ao longo de meio século, dentre outros prêmios recebidos. Baiana de Conceição de Feira, Arilda é casada com José Raymundo de Sousa tendo duas filhas, Sara, arquiteta, e Carol, formada em Publicidade e Marketing. Graças a sua sensibilidade, talento e espírito empreendedor, todo o trabalho de restauração da arquiteta está perpetuado nos sobrados do Rio Vermelho: o Palacete dos Gonzagas, casa do século XIX que se transformou no Hotel Catharina Paraguaçu e o Casarão Avenida Saudável, da segunda metade do século IX, que por obra do acaso ou destino virou Villa Forma Academia. JRV – Como foi seu começo no Rio Vermelho? Arilda Cardoso – O meu tio era o padre do Rio Vermelho, Padre Alcides, morava aqui com minha vó e eu vim para fazer o exame de admissão e estudar no Colégio das Mercês. No primeiro ano ainda morei aqui na casa de meu tio, mas depois fiquei interna no colégio. Terminei o quarto ano e fui para o Colégio Central. Aí tornei a morar na casa de meu tio, que depois voltou para Ipirá. Morei em algumas pensões no Centro, fiz a Escola de Arquitetura, me formei e me casei. JRV – Como se deu o gosto pela arquitetura? AC – O meu grande sonho era vir aqui para Salvador, não queria ficar na minha cidade onde eu acabaria sendo professora. E eu não queria ser professora. Eu não queria fazer medicina. Não queria fazer direito. Engenharia não era pra mulher naquele tempo. Aí resolvi fazer farmácia. Falei isso numa roda de colegas, aí um deles disse: mas, Arilda, fazer farmácia, você que é primeiro lugar em matemática? Por que você não faz arquitetura? Fiz o vestibular, passei e fiz arquitetura. Gostei muito da profissão. Quando a gente faz o que gosta, sempre desenvolve mais. Comecei a trabalhar na Prefeitura, em vários escritórios, fiz projetos de residência e trabalhei muito na área de paisagismo. Me interessei muito por essa área, fazíamos cursos de paisagismo em São Paulo. Aprendi a trabalhar com grandes paisagens. Foi assim que fiz um trabalho em Pedra do Cavalo, recuperação de áreas desfiguradas. Mário Cravo também me chamou para ajudar ele. Eu conheci Mário Cravo porque tinha uma casa aqui no Rio Vermelho, toda cheia de pontas. Eu não tinha ideia que Mário Cravo era tão organizado. Depois fiz outros trabalhos, um trabalho grande no Horto Florestal. Ultimamente fiz o Parque São Bartolomeu. E fizemos o Campo Grande, eu e minha irmã, fizemos a reforma do Campo Grande há uns dez anos. Sempre tivemos uma preocupação com essa questão da preservação, tanto da paisagem natural como também a preservação dos elementos que contam a história da nossa cidade. Estmos perdendo muito isso, a cidade está acabada, quando a gente passa e vê aquelas janela quebradas. Muito triste! Acho também que não existe uma política correta para preservação, não há estímulo. O que há é ameaça. Há pouco saiu um decreto para desapropriar as

Foto: André Avelino

casas. Por que não se oferece uma linha de crédito para que os próprios proprietários possam reformar suas casas? Embora em outros países tenha! Por exemplo, no Equador resolveram muito o problema dos camelôs aproveitando esses quarteirões vazios onde mantiveram a fachada e, lá dentro, subdividiram como no Mercado Modelo. Nós fizemos um trabalho, “O RIO VERMELHO QUE QUEREMOS”. Apresentamos ali na Igrejinha para o prefeito João Henrique que perguntou à secretária, na época, Kátia Carmelo, que disse que o Rio Vermelho já é uma área de proteção paisagística. Só que isso não resolve nada. Temos que ter parâmetros, uma área de proteção paisagística que você pode construir até nove, dez metros de altura, não é correto. Temos é que fazer uma política de preservação. Mas eles não levaram isso adiante, não. “O RIO VERMELHO QUE QUEREMOS” é um trabalho que ainda considero interessante, porque inclusive não propõe expulsar o morador. O morador é uma coisa muito importante para a vida do bairro. Vejam o que aconteceu no Pelourinho. Construíram aquilo tudo mas se não tem morador, não tem vida. O morador é quem está ali presente de manhã, de tarde e de noite. Claro que tem que ter o comércio também, mas é preciso equilibrar. Acho na verdade que as coisas são muito pouco discutidas com a comunidade. Veja o exemplo da Ponte Salvador-Itaparica, foi uma escolha do governante. Eu tenho minhas dúvidas sobre essa ponte. O bonde vem aí. O metrô vem aí. A ponte vem aí. Então tenho minhas dúvidas sobre tanto vem aí. A participação, ouvir o morador, é muito importante. E estão dizendo que agora o Carnaval vem aí. E pode acontecer o que aconteceu na Barra. As casas bonitas que tinham lá foram se transformando em comércio. Com a vinda do carnaval para aquela área, os comerciantes comerçaram a alugar suas casas para o carnaval por preços absurdos, valores irreais, tipo R$ 500 mil. Então, o que eles fizeram: não alugam mais para ninguém, deixam ali fechados o ano todo e só alugam na época do carnaval. JRV – E o patrimônio arquitetônico do Rio Vermelho? AC – Quando começaram a construir um prédio bem alto aqui no Rio Vermelho, eu estava na Prefeitura. Foi lançado um decreto chamado Decreto de São Lázaro, que se estendia até aqui. Esse decreto limitava a um gabarito máximo de dois pavimentos. Isso desencorajava as pessoas a jogarem a sua construção no chão para levantar outra que só poderia ter dois pavimentos. Veio outro prefeito que mandou subir o gabarito para três pavimentos, aí o pessoal começou a desfigurar a arquitetura. Nesse trabalho que fizemos na ocasião, tínhamos desfigurados só 10% das ocupações das décadas de 1940 e 50 que ia da Paciência até a Fonte do Boi e na Rua do Meio. Imagine, só 10% era uma coisa irreversível! Isso é o tipo da coisa que acontece em países que não preservam seu patrimônio.

JRV – Sobre o projeto da nova orla do Rio Vermelho... AC – Nas discussões desse projeto da orla do Rio Vermelho eu vi uma proposta que foi apresentada e, felizmente, não foi acatada, que era a criação de um museu de vidro nas Quadras da Paciência para abrigar as obras de Frans Krajcberg. Ia ficar uma coisa muito bonita, mas o mais importante dali é a vista da praia, a gente não pode – por mais lindo que seja – ocultar a frente da praia que tem uma soberania muito maior. Também ia ser uma estrutura de vidro. Vidro na frente da praia ia precisar de muita conservação, ou seja, ia ser um problema em pouco tempo. Ninguém vai visitar um museu todo dia, ali pede um espaço de uso coletivo, área de convivência diária. JRV – E sobre o Centro Social Monsenhor Amílcar Marques? AC – Chegou uma senhora, Maria Clara, daqui do Rio Vermelho, da família Marinho, perguntando se eu não queria tomar a frente do Centro Social Monsenhor Amílcar Marques. A princípio eu não quis. Insistiram e acabei aceitando. É uma história muito bonita, começou com uma professora, D. Abba, que realizava essa obra em Feira de Santana, distribuíam cestas básicas e davam cursos. Ela tinha um irmão que era monsenhor, chamado Amílcar Marques. Ele morreu num acidente vindo de Feira de Santana para Salvador. Ela veio para cá e resolveu continuar a sua obra. Uma obra que, naquela época, já tinha 40 anos. Primeiro haviam se instalado no casarão onde é a Academia (Villa Forma). A Igrejinha ia ser demolida quando a nova estivesse pronta. Então o padre disse que fossem para a Igrejinha. Quem sabe elas não arrumavam o dinheiro para reformar a Igrejinha? E não é que elas conseguiram o dinheiro e fizeram a reforma! Isso há 25 anos. Quando eu peguei já precisava novamente de consertar. Estava cheia de goteiras e de cupins. Mas elas continuavam a realizar seu trabalho. Eu comecei a fazer campanhas: fiz uma campanha para arrecadar telhas no meu aniversário, fiz outras, depois veio a campanha Sua Nota é Um Show. Então o que a gente faz lá mesmo é: a distribuição de cestas básicas, as pessoas de terceira idade se reúnem para costurar e depois fazem bazar para vender o que produzem. Temos alguns cursos dados por voluntários. A gente não tem como pagar professor, Sua Nota É um Shom não permite, nada permite. E a gente trabalha fazendo algumas coisas para vender e comprar material de consumo dos curso de arte culinária, do curso de bijouteria, curso de violão, desenho artístico, de capoeira e teatro. JRV – O que curte no Rio Vermelho? AC – Eu tenho uma história de vida no Rio Vermelho. Minhas coisas eu tenho aqui. Eu curto muito essa atmosfera antiga dos casarios. É sempre um lugar que remete ao passado. Eu gosto muito daqui. Acho que um dia ainda vou acabar vindo morar no Rio Vermelho. Eu tenho contato com o Rio Vermelho desde os sete anos, já estou com 78! São 70 anos de vida aqui.


Deu no Blog

blogdoriovermelho.blogspot.com.br Fotos: Carmela Talento

Cronograma fura de novo. Ceasinha deveria começar a funcionar em janeiro A Ceasinha do Rio Vermelho que deveria começar a funcionar em novas instalações no mês de janeiro, de acordo com o cronograma do governo, não funcionou. As obras de requalificação começaram em janeiro de 2012, com a demolição da antiga estrutura. Com o novo prédio o número de boxes passou de 100 para 135, as vagas de estacionamento passaram de 100 para 240 e o local vai ganhar ainda uma praça de alimentação.

A 12ª CIPM, em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança do Rio Vermelho/Ondina e com o apoio da UNIFACS, realizou um curso de capacitação para vigilantes dos prédios dos dois bairros. No total 120 profissionais receberam certificados. Nos próximos meses novas turmas serão abertas.

Mais uma novidade

Audiência Pública no Alto do São Gonçalo Moradores do Alto do São Gonçalo participaram de uma audiência pública realizada no salão de eventos do edifício Bahia Bela, para discutir e buscar soluções para os problemas da localidade. Participaram do encontro os vereadores Everaldo Augusto (PC do B), Aladilce (PCdo B), Fabíola Mansur (PSB), Marcell Moraes (PV), Claudio Tinôco (DEM). Os moradores continuam mobilizados para que as reivindicações sejam atendidas.

Aprovado por unanimidade pelo Comitê Executivo da UEFA em setembro de 2009, regulamentado em maio de 2010 com período de três anos para implementação e já em vigor em 2013 e 2014, o conceito de “Fair Play Financeiro” veio para o bem-estar do futebol europeu. Sendo seus principais objetivos:

•• Introduzir mais disciplina e racionalidade nas finanças dos clubes de futebol. •• Diminuir a pressão sobre salários e verbas de transferências e limitar o efeito inflacionário. •• Encorajar os clubes a competir apenas com valores das suas receitas. •• Encorajar investimentos a longo prazo no futebol juvenil e em infraestrutura. •• Proteger a viabilidade a longo prazo do futebol europeu. •• Assegurar que os clubes resolvam os seus problemas financeiros a tempo e horas.

Ao lado das máscaras do artista plástico Bel Borba, na Paciência, apareceu uma nova “obra de arte”.

Praia da Paciência abandonada pelos poderes públicos A Praia da Paciência é uma das mais bonitas da cidade, mas nem por isso merece a atenção dos poderes públicos. Muito lixo, mato e agora com moradores sem-teto que usam o local para acumular lixo reciclável. Odor de urina, além da água suja que escorre dos dois esgotos e a sujeira inviabilizam uma das poucas opções de lazer dos moradores.

Fair Play Financeiro O Esporte Clube Bahia e o Esporte Clube Vitória na temporada de 2014. Andam falando muito em Fair Play Financeiro e Bom Senso F.C. O que realmente significa isso?

Porteiros e vigilantes qualificados

Sob esse conceito, os clubes não podem repetidamente gastar mais do que as receitas que gerem, estarão obrigados a respeitar todos os compromissos relacionados com pagamentos de transferência e de empregados. Clubes de risco mais elevado que falham determinados indicadores também serão obrigados a providenciar orçamentos em que detalhem os seus planos estratégicos. Tudo com muita clareza e transparência. Aqui no Brasil, alguns clubes já assimilam o conceito, mas o grande problema continua a ser a transparência.

O que é Bom Senso Futebol Clube Todo mundo lembra, no ano passado no início das partidas de futebol, os jogadores simplesmente ficavam parados ou sentavam-se no chão como forma de protesto. Era uma ação do Bom Senso F. C., um movimento de jogadores profissionais que reivindica mudanças estruturais no futebol brasileiro. A proposta do movimento, chamada “Proposta de Sucesso”, visa cobrar diversas mudanças no futebol do país no que diz respeito a calendário, férias, período de pré-temporada, fair play financeiro e trabalhista, além de maior participação nos conselhos técnicos das entidades que organizam as competições.

vamente à medida em que o faturamento fosse maior. •• Antes de cada competição, o clube teria que apresentar certidões negativas comprovando a negociação dos seus débitos. A cada rodada sem estes documentos, o clube perderia três pontos. •• Salários, direitos trabalhistas e direitos de viagem devem ser pagos em dia. O pagamento por direito de imagem não pode ultrapassar 20% do valor do salário para se evitar fraudes. •• Criação de uma Agência Reguladora do Futebol, principalmente para o controle e cumprimento dos direitos trabalhistas. •• Cobrança na abertura de diálogo direto por parte da CBF e Federações.

Algumas das propostas: AS MELHORES SOLUÇOES PARA SUA EMPRESA E CONDOMÍNIO Serviços que cabem no seu orçamento Abertura, alteração e encerramento, Consultoria e assessoria contábil, Planejamento tributário, Folha de Pagamento e Imposto de Renda Rua Prof. Rômulo Almeida, 38, Sala 210, Acupe de Brotas, Salvador, Ba. Tel 71 3276 6060 www.maiscompleta.com

•• Aponta soluções para as dívidas dos clubes sem comprometer as receitas de curto prazo. O pagamento das parcelas da dívida aumentaria gradati-

Segundo o Bom Senso F. C. é necessário que os gestores dos clubes cumpram à risca o plano estratégico dos clubes e se responsabilizem por suas ações.

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100 anos de Dorival Caymmi Em homenagem ao centenário de nascimento do cantor e compositor Dorival Caymmi, que ocorrerá no dia 30 de abril, uma ampla programação comemorativa se estenderá pelo ano de 2014, oportunidade de se fazer uma releitura de suas canções e refletir sobre a importância do compositor baiano no cenário da música nacional. Dorival Caymmi nasceu em Salvador, Bahia, em 30 de abril de 1914, filho de Durval Henrique Caymmi, descendente de italianos que tocava violão, bandolim e piano, e de Aurelina Cândida Soares Caymmi (Dona Sinhá), mestiça de portugueses e africanos, dona de casa que cantava muito bem. Casou com Adelaide Tostes, nome verdadeiro da cantora Stella Maris, tendo três filhos: Dinair (Nana, 1941), Dorival (Dori, 1943) e Danilo Cândido (1948), que se tornaram grandes nomes da música popular brasileira. Teve seis netos, Stella Teresa, Denise Maria e João Gilberto (filhos de Nana), João Vitor (filho de Dori) e Juliana e Gabriel (filhos de Danilo). Aos seis anos começou a freqüentar a Escola de Belas Artes, no Colégio de Dona Adalgisa. Estudou depois no Colégio Batista e, em 1926, concluiu o curso primário no Colégio Olímpio Cruz.

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Foto: Agência A TARDE

Dorival Caymmi no veleiro Laffite do amigo Carlos Guinle

Aprendeu a tocar violão com seu pai e seu tio Cici, depois estudou sozinho e se tornou um grande autodidata. Ouvindo fonógrafo e depois vitrola, cresceu sua vontade de compor. Cantava na adolescência em um coro de igreja como baixo-cantante.

Sertão”, sua primeira música. Aos 20 anos estreou como cantor e violonista em programas da Rádio Clube da Bahia. Em 1935, passou a apresentar o musical “Caymmi e suas Canções Praieiras”. Com 22 anos venceu como compositor o concurso de musicas de carnaval com o samba “A Bahia Também Dá”. O diretor Gilberto Martins da Rádio Clube da Bahia, o incentiva a seguir carreira no sul do país. Em 1937 aos 23 anos, Caymmi viaja para o Rio de Janeiro, então Capital Federal para tentar a sorte por lá. Em sua bagagem a música “O que é que a baiana tem” que fez um tremendo sucesso nacional e internacional na voz de Carmem Miranda, a pequena notável, a partir do filme “Banana da Terra”, de 1938.

Em 1930, começou a compor marchinhas e toadas como “No

Com ajuda de parentes e amigos consegue um emprego em

No ano seguinte matriculou-se no curso ginasial no mesmo colégio mas abandonou o curso no mesmo ano para trabalhar. Empregou-se no escritório do jornal “O Imparcial”, da capital baiana, onde fazia diferentes serviços. Na mesma época começou a fazer as primeiras pinturas, desenhando tabuletas para lojas comerciais. Em 1929 o jornal fechou e Dorival Caymmi teve que se dedicar a outros serviços. Tornou-se vendedor de bebidas.

“O Jornal” do Grupo dos Diários Associados e realizar o curso preparatório de Direito, ainda assim continuava a compor e cantar. Recebeu conselhos para seguir a carreira de cantor. Foi apresentado ao diretor da Rádio Tupi, Teófilo de Barros Filho, que se agradou da sua voz e o contratou por 30 mil réis. Em 1939, conhece num programa de calouros da Rádio Nacional, a cantora Stella Maris, quando ela cantava “Último Desejo” de Noel Rosa e no ano seguinte tornou-se sua esposa. Compôs inspirado pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano. Tendo como forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica. Nas composições a Bahia surge como um

local exótico com um discurso típico que estabelecera-se nas primeiras décadas do século XX, com referências à cultura africana, à comida, às danças, às roupas e, principalmente, à religião. Entre suas músicas que cantam a Bahia, o seu mar azul, a água escura do Abaeté, a areia branca de suas dunas, a tragédia de negros e pescadores, estão clássicos como: “Maracangalha”, “Saudade da Bahia”, “João Valentão”, “Coqueiros de Itapuã”, “O Mar”, “A Jangada”, “Bahia de São Salvador”, “Tieta”, “Mãe Menininha”, “Gabriela”, “Morena Rosa”, “Rosas de Abril” e mais dezenas de outras composições que marcaram sua vida artística. Caymmi frequentava muito o Rio Vermelho e adorava o bairro, pois seus amigos Jorge Amado e Carybé eram moradores.


Discografia

“São Salvador, Bahia de São Salvador, a terra do branco mulato, a terra do preto doutor” Sempre se via o grupo tomando banho de mar e apreciando o pôr do sol na Praia de Santana. Para ficar junto com seus amigos o Governo da Bahia, em 1968, presenteou Caymmi com uma casa na Rua Pedra da Sereia no Rio Vermelho, em frente ao mar da Praia da Sereia onde passou alguns anos. Sua esposa Stella Maris não queria morar na Bahia, nem passear, nem veranear. Com isso, Caymmi retorna ao Rio de Janeiro dessa vez levando na bagagem “Saudades da Bahia”. Vítima de câncer renal, Caymmi faleceu em sua casa no bairro de Copacabana no Rio de Janeiro, a 16 de agosto de 2008. Seu corpo foi transportado pelo Corpo de Bombeiros para a Câmara Municipal do Rio onde foi velado e seu sepultamento aconteceu no Cemitério São João Batista em Botafogo no mausoléu da família de Carmem Miranda.

Comemorações O marco inicial das comemorações do centenário do cantor e compositor Dorival Caymmi foi o lançamento no ano passado do livro “O que é que a Baiana Tem – Dorival Caymmi na Era do Rádio”, de autoria da sua neta Stella Teresa, que escreveu o livro a partir de mais de 70 entrevistas com o avô, complementadas com pesquisas em seu arquivo pessoal e do próprio compositor. A jornalista também é autora de uma extensa biografia do avô “Caymmi – O Mar e o Tempo” resultado de 10 anos de pesquisas. Este ano, nos dia 9 a 12 de janeiro, no SESC Pompéia, zona Oeste de São Paulo subiram ao palco os filhos Nana, Dori e Danilo para homenagear o pai com o show “Família Caymmi – 100 Anos de Dorival Caymmi”, que deve percorrer todo o país. As apresentações exploram canções muito

conhecidas e aquelas que estão no imaginário popular. São tocadas com novos arranjos, mostrando o fascínio de Caymmi pelas coisas da Bahia e seu folclore. Há inclusive uma canção nunca antes gravada. O “Arquivo N” que vai ao ar na Globo News, comemora o centenário de Caymmi com vários programas durante 2014. No primeiro programa é o próprio Dorival Caymmi quem conta sua história, através de antigas entrevistas e programas musicais da Globo. Aqui na Bahia, no Irdeb, começaram as comemorações com entrevistas ao vivo dos filhos e netos de Caymmi no Multicultura da 107.5 Educadora FM, além de programas dedicados ao compositor em TVE Revista, Perfil e Opinião da TVE. Você pode acompanhar toda a programação especial pela internet. Foto: Divulgação

Álbuns •• Carmem Miranda & Dorival Caymmi, abril de 1939 •• Carmem Miranda & Dorival Caymmi, setembro de 1939 •• Dorival Caymmi, três discos em dezembro de 1943 •• Dorival Caymmi, 1945 •• Dorival Caymmi, 1946 •• Dorival Caymmi, 1947 •• Dorival Caymmi, 1948 •• Dorival Caymmi, 1949 •• Dorival Caymmi, 1952 •• Dorival Caymmi, 1953 •• Dorival Caymmi, 1954 •• Dorival Caymmi e Seu Violão, 1954 •• Samba de Caymmi, 1955 •• Dorival Caymmi, janeiro de 1956 •• Dorival Caymmi, março de 1956 •• Dorival Caymmi, agosto de 1956 •• Canções Praieiras, 1956 •• Dorival Caymmi, maio de 1957 •• Dorival Caymmi, junho de 1957 •• Caymmi: Canções do Mar, 1957 •• Caymmi e o Mar, 1957 •• Eu Vou Pra Maracangalha, 1957 •• Dorival Caymmi, dezembro de 1957 •• Ary Caymmi Dorival Barroso, 1958 •• Eu Não Tenho Onde Morar – Compacto Duplo, 1959 •• Dorival Caymmi, fevereiro de 1960 •• Dorival Caymmi e Nana Caymmi, maio de 1960 •• Caymmi e Seu Violão, 1960 •• Eu não tenho onde morar, 1960 •• Caymmi – Compacto Simples, 1964 •• Caymmi visita Tom, 1964 •• Caymmi (KAI-EE-ME) and The Girls from Bahia

•• Vinícius/Caymmi no Zum Zum, 1967 •• Dorival Caymmi, 1969 •• Encontro com Dorival Caymmi, 1969 •• Dorival é Nacional, 1970 •• Caymmi, 1972 •• Caymmi também é de Rancho, 1973 •• O Mar (The Sea) Songs by Dorival Caymmi, 1974 •• Caymmi – Setenta Anos, 1984 •• Caymmi – Inédito, 1984 •• Caymmi’s Grandes Amigos, 1985 •• Dorival Caymmi, 1986 •• Dori, Nana, Danilo e Dorival Caymmi, 1987 •• Família Caymmi em Montreaux, 1991 •• Caymmi em Família, 1994 •• Caymmi in Bahia, 1994

Participações •• Recordando Carlinhos Guinle, 1962 •• Sítio do Pica Pau Amarelo, 1977 •• Nana Caymmi, 1995 •• Marítimo – Adriana Calcanhoto, 1999

Coletâneas •• Milagre, 1980 •• Saudades da Bahia, 1980 •• Grandes Compositores, 1990 •• Minha História, 1992 •• Meus Momentos, 1993 •• Mestres da MPB, 1994 •• Série Aplauso, Dorival Caymmi e Nana Caymmi, 1995 •• Personalidade, 1995 •• História de Pescadores, 1996 •• Millenium, 1998 •• Série Raízes do Samba, 1999 •• Série Sem Limite, 2001 •• Caymmi – Amor e Mar, 2001

Dorival Caymmi e sua esposa Stella Maris

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Foto: Edgard Carneiro

Mais uma vez milhares de baianos e turistas vieram prestar suas homenagens à Rainha do Mar

Odôyá, Yemanjá! A Festa do dia 2 de Fevereiro reuniu seguidores de várias crenças em homenagem à Rainha do Mar. Seguidores e fiéis do Candomblé, Espiritismo, Umbanda e Católicos passaram o dia em frente à Colônia de Pesca Z-1 entregando oferendas e esperando a saída do presente que foi ao mar às 16 horas. A Festa de Yemanjá é a maior manifestação pública de fé do Candomblé a um orixá no mundo. A tradição de reverenciar o orixá muda a rotina de milhares de baianos e turistas, independentemente de religião, um ritual único e emocionante. As comemorações começaram cedo com a alvorada de fogos às 4 horas da manhã na chegada do presente e a colocação deste no Carramanchão ao lado da Colônia de Pesca Z-1. No mesmo horário houve a passagem do músico Carlinhos Brown com o grupo Zárabes. Nesse ano, o presente principal foi uma réplica de uma tartaruga marinha, peça confeccionada pelo artista plástico Ruy Sanatana, morador do bairro. Para a Mãe Aíce Santos à frente das obrigações religiosas da

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festa há 22 anos, o presente é especial: “Foi um pedido de Yemanjá, a escultura homenageia seu filho Xangô que está regendo o ano junto com Yansã”, explicou.

Palhaços do Rio Vermelho

Foto: Edgard Carneiro

Durante todo o dia centenas de devotos fizeram filas para entregar as suas oferendas que são colocadas em balaios, até às 16 horas quando são levadas em um cortejo marítimo para o alto mar. Nas ruas do bairro desfilam grupos de samba, ijexá, blocos afros, blocos de percussão, grupos fantasiados e rodas de capoeira, demonstrando devoção e muita alegria durante a festa. Hotéis, bares, boates e residências realizam festas particulares com muita comida e bebida, além de atrações artísticas e DJs para todos os gostos. A cada ano essa festa atrai multidões para o bairro do Rio Vermelho, tornando-se uma das maiores festas populares da Bahia. A festa reuniu cerca de 700 mil pessoas no bairro e foi considerada uma das mais tranquilas em número de ocorrências policiais. O Posto Médico não teve ocorrências graves.

Palhaços, arlequins, colombinas, mascarados, ala de baianas, fantasias diversas, confetes e serpentinas marcaram o quarto desfile dos Palhaços do Rio Vermelho, no sábado, 22 de fevereiro, numa autêntica prévia do Carnaval de Salvador. O bloco reúne crianças, jovens, adultos e idosos numa explo-

são de alegria e descontração contagiando todo o bairro. No repertório músicas atuais, marchinhas carnavalescas e muito samba sob a responsabilidade de Banda Marmelada. Participando do cortejo o grupo Zambiapunga de Nilo Peçanha com suas máscaras, fantasias e instrumentos diferentes, é sempre um destaque.

O homenageado do ano foi o cantor Márcio Melo que recebeu a coroa do Reino dos Palhaços. Desde a concentração nas Quadras da Paciência até o fim do desfile na Rua Fonte do Boi, a tranqüilidade e a alegria foi a tônica da festa. Os Palhaços do Rio Vermelho a cada ano conseguem atrair um público cada vez maior com sua beleza.


Foto: Carmela Talento

Geração Jovem Guarda, o bloco que não sai do lugar descontração, sem faltar uma loura gelada. O bloco que desfila sem sair do lugar, mantendo assim a fidelidade dessa diferente manifestação, homenageou esse ano a Arara Azul, trazendo na camisa um dos símbolos da

Foto: Carmela Talento

O Bloco Geração Jovem Guarda se reuniu mais uma vez no Bar do Manu no Largo da Mariquita, no domingo, 16 de fevereiro. Numa tradição de 14 anos, o bloco foi formado com o objetivo de reunir amigos e moradores do Rio Vermelho, ao som de uma boa batucada,

Lero-Lero desfila capitaneado por Cacau do Pandeiro

Copa do Mundo de Futebol de 2014. Coordenado por Bororó e Pino, o bloco mantém viva a tradição, proporcionando muita alegria e momentos de confraternização. Contou com a presença do imortal Gildasio Freitas e do cantor Mateus Aleluia (Ticoãs).

Beto Bulhões, Mateus Aleluia, Pino, Solange e Bororó confraternizam

Lero-Lero e seu Banho de Mar à Fantasia Abrindo o Carnaval de Rua de Salvador, o Bloco Lero-Lero realizou no dia 16 de fevereiro o seu desfile pelas principais ruas do bairro culminando com o tradicional Banho de Mar à Fantasia, única festa do gênero que ainda acontece em Salvador. Trata-se de uma manifestação popular que ocorre há 74 anos e sempre 15 dias antes do Carnaval. O desfile pré-carnavalesco percorreu as ruas do bairro saindo da concentração na Vila Matos e

seguindo pela Rua da Paciência em direção à Mariquita e retornando à Praia da Sereia, onde acontece o banho de mar ao por do sol do Rio Vermelho. É uma verdadeira explosão de alegria e irreverência que anima o bairro e arrasta pessoas de todas as idades.

ção do cantor Mateus (Olodum) morador do Rio Vermelho que subiu no minitrio animando ainda mais a galera.

Conduzido pelo Mestre Cacau do Pandeiro e sua bateria, o som de ótima qualidade, repleto de sambas e marchinhas carnavalescas, este ano teve a participa-

De parabéns Luciana Souza Cruz Silva, coordenadora do bloco que mantém viva a tradição do Banho de Mar à Fantasia no Rio Vermelho.

Fantasias improvisadas, muito papel crepom, muito brilho e protestos bem humorados são a marca do Lero-Lero.

Amigos do Rio Vermelho na Festa de Yemanjá Em continuidade a uma tradição de 14 anos durante a Festa de Yemanjá, o Bloco Amigos do Rio Vermelho desfilou renovado, mas com mesma disposição e alegria de sempre. A Banda Rio Vermelho, composta por 100 músicos sob o

comando dos maestros Chico (percussão) e Jorge (metais), fez um som da melhor qualidade repleto de sambas e marchinhas carnavalescas. A Ala das Baianas, composta por 50 figurantes, abriu o cortejo levando as oferendas a Ye-

manjá, distribuindo muita água de cheiro. A segurança do bloco com 50 homens ficou a cargo do Grupo Escolta VIP e prestou um serviço de primeira qualidade. A camisa do desfile de 2014, homenageando a Rainha do

Mar, voltou a ter a assinatura do designer gráfico Rafael Titonel, morador do bairro há muitos anos. A concentração foi na Praça Brigadeiro Faria Rocha, onde houve grandes momentos de confraternização entre os

mais de 1.000 alegres foliões. Esse ano o desfile foi antecipado para 11 horas e seguiu pela Rua Odilon Santos, Praça Colombo, Rua Borges dos Reis, Rua Guedes Cabral e retornou pela Rua João Gomes e Odilon Santos até a concentração na Praça Brigadeiro Faria Rocha. Foto: Edgard Carneiro

Lauro Matta ladeado pelas baianas no desfile do Bloco Amgios do Rio Vermelho JRV – 15


Galeria do Artista

JOSÉ CARLOS CAPINAN Foto: André Avelino

N

osso entrevistado na Galeria do Artista é o poeta, músico, escritor, publicitário, jornalista, médico e tropicalista José Carlos Capinan, autor de sucessos como ”Papel Machê”, “Soy Loco Por Ti América”, “Ponteio” e “Viramundo”, parceiro de Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso e João Bosco, e pai de Emanoel, Tiago e Clarice. Morador do Rio Vermelho, esse baiano nascido em Entre Rios, no distrito de Pedras, vem de uma família de 12 irmãos. É autor de cerca de trezentas músicas e confessa que não dá para viver de direito autoral no Brasil. Imortal da Academia de Letras da Bahia, luta com todas as forças para manter vivo o Museu da Cultura Afrobrasileira.

CAPINAN – Eu tenho muitos parceiros musicais, alguns da Bahia. Talvez só Vinícius de Moraes tenha tido mais parceiros – ah, lembro agora que estamos vivendo o centenário do Poetinha. Tenho quase trezentas músicas gravadas. As pessoas perguntam se vivo de direito autoral, não vivo. A minha geração deu um salto na questão do direito autoral no Brasil. Toda essa geração que está no panteão atual da música brasileira foi responsável por essa mudança. Apesar disso o sistema de direito autoral ainda deixa muito a desejar. O problema é que todos sofrem com a falta de controle do ECAD. Mas os artistas não sentem tanto quanto os que não sobem no palco. Eu tive muitos sucessos gravados desde “Viramundo”, “Ponteio”, “Soy Loco Por Ti América”, “Massemba”. Realmente, tenho muitas músicas tocadas, mas que não me trouxeram sucesso financeiro. Minha primeira música chama-se “Ladainha”, foi gravada num compacto onde, no outro lado, estava um grande sucesso “A Banda” de Chico Buarque.

JRV – Conte sobre a amafro CAPINAN – A AMAFRO – Sociedade de Amigos da Cultura Afrobrasileira, foi criada em 2002, para, principalmente, protagonizar a instalação de um museu da cultura afrobrasileira na Bahia. Para ser instalado, o museu conquistou dois prédios em ruínas. Tudo aprovado pela Lei Rouanet. Isso no governo Fernando Henrique que foi o propositor básico da idéia, tendo em vista a necessidade de museus e a grande dificuldade de ter equipamentos dativos de memória, para que pudéssemos ter uma visão da nossa cara, do legado da cultura afrobrasileira. A proposta do governo Fernando Henrique, do ministro Francisco Weffort, era a instalação de cinco museus desse naipe no Brasil. Sendo que esse da cultura afrobrasileira seria na Bahia. Foi feito um seminário internacional para decidir isso, com a participação de vários estados brasileiros, a Bahia foi escolhida por conta da sua forte característica cultural, da presença do negro na nossa vida, das grandes contribuições nas áreas da culinária, das artes plásticas, da música. A Bahia ganhou essa parada. Houve aí um acontecimento que foi muito importante para o futuro desse projeto. O Fernando Henrique perdeu a eleição com seu candidato e Lula ganha a eleição. Toda descontinuidade administrativa a gente sabe que é um horror, porque normalmente o eleito vê nos projetos que o adversário deixa, uma coisa que não é a sua proposta. Bom, no nosso caso, tivemos uma particularidade que não tornou tão drástica a situação porque foi convidado para o Ministério da Cultura Gilberto Gil, que levou uma equipe baiana que entendeu a importância do projeto para a Bahia. Mesmo com toda simpatia do ministro Gil e sua equipe, o projeto teve um recomeço: em vez de estar pronto em 2004 como era a ideia, levou dois anos para conseguir os primeiros recursos para montar os projetos executivo, arquitetônico, da própria museologia e, também o projeto de modelo gestor. Só em 2004 com o patrocínio da Caixa é que nós conseguimos preparar esses projetos. Começamos a buscar aprovação deles dentro do ministério, durante esse tempo houve uma grande dificuldade em dialogar com o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). Como o projeto é a instalação de um museu federal, era muito difícil avançar sem que o governo federal estivesse nos apoiando. Na saída do ministro Juca, ele conseguiu um bom convênio com o IBRAM com recursos, mas hoje a burocracia, o controle, que são coisas importantes mas ao mesmo tempo acabam sendo maléficos – pensam com a idéia mais de obstruir do que ajudar no fazer, não que se queira agir assim, mas as lógicas do controle prejudicam a dinâmica de realização. Se bem que, por cautela, diante de tantas coisas que acontecem, a gente reconhece a necessidade de controle, mas repara a contradição: nós fizemos um convênio que não reconhecia recursos para custeio, ou seja, a AMAFRO tinha que realizar um projeto do governo federal, proposto desde o início pelo próprio governo, mas não podia receber verba de administração. Ou seja, teríamos que trabalhar de graça para o governo. Um situação kafkaniana! Isso trouxe problemas sérios para a entidade: fazer um museu de tamanha

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JRV – Fale um pouco sobre sua música e seus parceiros

JRV – Capinan, como está sua produção literária hoje? E o que é que vem por aí?

“A POLÍTICA CULTURAL TEM ATAQUES DE ESPASMOS FINANCEIROS” complexidade ainda mais com duas ruínas a serem recuperadas! Um museu por natureza não tem finalidade lucrativa, não se traduz em resultados financeiros, ele existe para o usufruto intelectual. Mas mesmo assim ele tem custos, tem um custo essencial, o custo de memória, de preservar a identidade, o custo de reconhecer quem você é, de que país você é, qual a sua origem. Nós temos uma grande memória, temos um grande acervo e temos que mostrar isso. Porque é o que nós somos, o que construímos. Então, eu acho que isso não foi percebido da forma como deveria ser percebido. Este ano passamos um ano muito difícil, ameaçamos fechar inclusive, porque temos um acervo de duzentas e poucas peças, com a curadoria de Emanoel Araújo, um profundo conhecedor da cultura baiana e afrobrasileira, que adquiriu um acervo maravilhoso e é interessante porque a visita de escolas mostra como há uma carência de ter um espaço como esse para o próprio ensino sobre a África, a cultura afrobrasileira, e nós fazemos um papel heróico de resistir a tudo isso com um aspecto importante: recuperamos o antigo prédio do Tesouro e o prédio da Assistência Pública Municipal que estavam em ruínas. Lembrando que a AMAFRO é uma instituição cultural, não é uma instituição com expertise de obras. O que dá um trabalho maior para controlar, fiscalizar, porque usamos verbas públicas. Trabalhamos, realizamos muita coisa, nos arriscamos muito, no sentido de que fazendo nessas condições, você não só dilata seu prazo o que representa mais recursos, como também acumula problemas relativos a sua administração, controle, medições etc. Mas ao mesmo tempo a AMAFRO caminhou muito, porque nós somos de uma cultura glauberiana, de uma idéia na cabeça e uma câmera na mão, fazer cinema como ele fez, que é uma indústria, é uma arte industrial, com os recursos precários que ele tinha, quer dizer fazer cultura na miserabilidade. E ele fez! Como nós estamos fazendo um museu da maior importância cultural, com uma cultura precária, uma cultura de carências. Por isso, dizemos que somos um museu em processo, ou seja, antes de inaugurar fizemos exposições internacionais, fizemos cinco exposições temporárias, exposição de Mestre Didi, esse autor muito importante da cultura afrobrasileira. Fizemos uma exposição comemorativa da cultura afrodescendente, dedicada ao ano dos afrodescendentes, que foi uma proposta da ONU. Fizemos uma exposição sobre a religião afrobrasileira no Rio Grande do Sul – Cavalo de

Santo. Fizemos uma exposição sobre a Revolta de Búzios, com o pessoal do Cortejo Afro, uma instituição muito importante do carnaval baiano. Vale dizer que as instituições ligadas ao carnaval não são somente instituições do carnaval. O Olodum, o Ylê Ai Yê, são instituições educativas, assim como os candomblés, o Ylâ Axé Opô Afonjá, liderado por Mãe Estela, é não somente uma instituição de preservação da ancestralidade mas também é uma escola de formação de caráter, de pessoas, de mestres com alguns saberes como fazer tambor, fazer símbolos em metal dos orixás, então ela prepara toda uma geração nova para cultivar a herança deixada pelos nossos antecessores, nossos parceiros de construção da socidade brasileira, que são os negros. Então o museu traz uma perspectiva mais organizada de fazer esse trabalho, porque é uma entidade de pesquisa, que tem mestres não só da história e da cultura, e trabalha com a concepção de tornar esse conhecimento público, tornar esse conhecimento um patrimônio da cidade, na mão da coletividade. Por isso, a importância do museu é tão grande. Por isso me dediquei com tanto afinco, mas já cansado, confesso, a esse ideal, a esse sonho. E acho que não tem mais retorno, que não tem mais chance de se abortar esse projeto. JRV – Você falou em fechar o museu para avançar. Como é isso? CAPINAN – Foi. Existem esses paradoxos: dar dois passos para trás e avançar um para frente. É uma provocação isso. O que eu estou dizendo é: vamos fechar mesmo? Ou vai haver uma reação do governo? Ou vamos entender finalmente que não dá pra fechar um museu! Felizmente, a ministra Martha Suplicy é uma pessoa que tem sensibilidade para cultura, e que tem força política. Porque tem ministro que é ministro mas não tem força. O Gil mesmo quando foi assumir o cargo perguntou para Lula: eu vou ser uma rainha da Inglaterra ou vou ter espaço para trabalhar? O Juca também foi outro que deu magnitude ao ministério. Essa dupla ressignificou o Ministério da Cultura. Inclusive conceituou de uma forma nova a cultura, de uma forma antropológica, que mudou muita coisa na área. O problema é que a política cultural tem ataques de espasmos financeiros. JRV – O que foi o tropicalismo? Nós temos dentro de nós essa coisa chamada Tropicalismo. Na verdade, Tropicalismo é uma ex-

pressão crítica e ao mesmo tempo afetiva. É como se fôssemos críticos mas, ao mesmo tempo, soubéssemos que somos aquilo que criticamos. O Tropicalismo é um movimento pelo desenvolvimento, pela liberdade na criação artística, pela democracia e, sobretudo, pela expressão cultural. O Tropicalismo sofreu muitas críticas como se ele fosse um movimento antinacionalista, fosse um adversário do samba. O que queremos dizer é que essa cultura autóctone que nós pretendíamos ter, não é, não existe. Nós temos misturado negro e branco e índio, e essa mistura veio pela sexualidade. O português teve com a negra uma relação amorosa que não era amorosa, usou da superioridade da posição social para obter prazer. O Tropicalismo se refere a muitas coisas que são da nossa história, da nossa vontade de ter um futuro. Ele criticou as atitudes que pareciam repressoras, de costas para o conhecimento, era contra o preconceito. O Tropicalismo tem paz. Já havia entre artistas e intelectuais muitos precedentes, por isso o Tropicalismo sempre cita Oswald de Andrade, cita os modernistas, se vale desses exemplos. Era a necessidade do Brasil sair da condição provincial para uma condição cosmopolita. Salvador era uma cidade cosmopolita desde o seu nascimento, era um porto de grandes negócios, era um dos principais portos das Américas, e fomos perdendo essa característica, o que já vinha sendo apontado por Gregório de Mattos no caráter da nossa cultura, em nossos dirigentes. O Tropicalismo é uma força que tem matrizes. As matrizes são o modernismo do século 20, a liberdade de expressão, de criação e a grande aposta no conhecimento, no desenvolvimento, na criação de sociedades novas, democráticas, de amplo saber, de amplo fazer. Um desejo de contemporaneidade, fazendo caricatura daquilo que era atraso, que era obsoleto, sob os pontos de vista moral, sexual e comportamental. JRV – Como se deu a indicação para a Academia de Letras da Bahia? CAPINAN – Eu recebi um convite de um baiano que considero muito interessante. Às vezes a nossa visão política põe sombras sobre algumas pessoas que são diferentes da gente do ponto de vista ideológico, mas que são de uma grandeza que é preciso que os olhos estejam desvendados. Esse homem foi o Dr. Jorge Calmon. Depois, quando eu me aproximei, já como secretário, Dr. Jorge Calmon respeitou muito a Secretaria de Cultura e também me respeitou.

CAPINAN – Olha, eu preciso me desocupar primeiro desses problemas que falamos. Eu tenho muita facilidade de escrever, mas escrever um livro é diferente de escrever um poema, uma canção isoladamente. Escrever um livro exige que você invista mais. Um livro não pode escapar da ideia de que é temático, que tem um centro de interesse sobre o qual você deve focar o trabalho. Eu tenho a ideia de escrever um livro sobre a infância, isso exige uma relação com a memória muito forte, uma relação criativa, uma relação de descoberta, uma relação de evocação, de trazer coisas que estão no seu passado. JRV – Você tem se dedicado aos poemas no estilo hai kai... CAPINAN – Eu acho essa forma de poema muito instigante. Tem uma linguagem que exige síntese e isso me provoca – a iluminação final. O hai kai brasileiro é diferente do japonês criado por Bashô. Os primeiros hai kais que li eram de Millôr Fernandes, publicados na revista “O Cruzeiro”. Nós temos muito bons haijins aqui no Brasil, mas que são rebeldes em relação à origem. JRV – Sua relação com o Rio Vermelho CAPINAN – Esse é o bairro que eu moro e não tenho vontade de sair daqui. Estou sem carro, a única dificuldade é voltar para casa por causa das ladeiras. Já estou na idade do ócio. Aqui fiz muitas amizades. O Rio Vermelho tem uma humanidade muito especial. Aqui tem uma mistura muito ampla... e saborosa! JRV – Seu espaço, sua casa, seu jardim? CAPINAN – Estão vendo essa planta ali? Ela me acompanha em todas as casas onde morei. Eu tinha uma casa em Santa Tereza no Rio de Janeiro, tinha essa planta. Em Baixios, também tinha essa planta. Agora, aqui no Rio Vermelho e não fui eu que plantei, ela surge. Engraçado, acho que tem alguma coisa a ver com o meu Orixá, vou procurar saber disso. Sou morador do Rio Vermelho há quase 30 anos. Quando cheguei aqui, era completamente diferente, não tinha esses edifícios. Eu cheguei aqui e era uma casinha de veraneio. Tinha até coqueiros mas aqui venta muito, por proteção tive que tirar os coqueiros. Com muita pena, porque eu sou muito ligado às plantas. Não sou de cultivar, cuidar, mas sou muito ligado à presença delas. Aqui em casa eu plantei o cajueiro, biribiri...


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