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PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL

UM DIÁRIO ELÉTRICO

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António Gonçalves Pereira

l Presidente da Ecomood Portugal (ecomoodportugal.org) l Embaixador do Pacto Climático Europeu

Muito se ouve dizer que Portugal é litoral, o resto é paisagem. Que há um desequilíbrio gigante, que o interior fica sempre esquecido. O que, convenhamos, é genericamente verdade. E na mobilidade elétrica não é diferente. Frequentes são as vozes que afirmam que não é ainda viável circular de carro elétrico fora do litoral e dos grandes centros urbanos. Peguei num Volvo XC40 e num cartão da Prio e, aproveitando o que deveriam ser umas curtas férias, fui verificar. Não como ‘expert’, que não sou, mas como utilizador comum. ‘Spoiler alert’: se o tema deste trabalho não fosse autonomias e carregamentos, não seria assunto.

DIA 1: LISBOA – DÃO (OLEIROS)

Depois de dois dias em trabalho nos arredores de Lisboa, arrancámos para a casa de xisto onde íamos ficar nos primeiros dias. A aplicação ABRP e o próprio Maps diziam-nos que não seria necessário carregar pelo caminho. Mas o certo é que parámos para tomar um café na A1 e depois para almoçar em Tomar, pelo que em ambas as ocasiões aproveitámos para deixar o XC40 a ‘comer’ também. Até aqui não faltavam indicações de postos de todos os tipos um pouco por todo o lado. Mas ainda agora estávamos a sair do ‘protegido’ litoral.

A partir de Tomar entrámos no registo de ‘ir para fora cá dentro’, circulando por estradas nacionais e municipais, visitando locais lindíssimos. Já perto do fim da viagem parámos para fazer compras de supermercado na Sertã, escolhendo o Intermarché por ter um posto de carga rápida. E assim

DIA 2: ÀS VOLTAS PELA SERRA

Como na tarde anterior, o registo era de passeio, com alguns locais de paragem já definidos, e muitos mais para decidir à passagem pelas tabuletas. Tudo isto numa ‘zona negra’, quase sem postos de carga. Com excepção do de 7 kW da Prio em Oleiros (já desde 2011), onde parámos para almoçar e o Volvo, assim, ‘ingeriu’ também um pequeno e desnecessário ‘petisco’. O resto do dia foi no mesmo tom, terminando com passagem final em Proença-a-Nova, onde não usufruímos dos postos de 22 e 7 kW aí existentes, já que íamos jantar, todos, na Sertã. O XC40 mais numa de ‘fast food’, enquanto aproveitei para escrever uma (pequena) parte deste texto, e nós depois, calma e qualitativamente, junto a uma ponte romana. Um dia de 150 quilómetros deslumbrantes, mantendo o nível de stress no zero. chegámos ao nosso destino, 30 quilómetros mais adiante, com carga suficiente para o passeio do dia seguinte. Total: 270 quilómetros. Nível de stress: zero.

DIA 3: ESTE NÃO CONTA

A mobilidade mais sustentável é a pedonal. E foi a ela que dedicámos este dia, percorrendo passadiços, visitando cascatas, praias fluviais e outros locais remotos. O Volvo fez

Começámos, Volvo incluído, com um bom pequeno-almoço na Sertã, de onde nos dirigimos para um passeio ao longo de uma boa fatia da mítica Estrada Nacional 2. Muitas recuperações, muitas subidas, consumo alto. Um bom casamento de prazer de condução e paisagem. Depois de Pedrogão Grande e Góis, parámos em Arganil para almoçar, onde nem nós nem o carro pudemos ‘comer’ onde gostaríamos. O famoso restaurante escolhido estava cheio e os postos de 22 kW ficavam numa rua que estava em obras, sem acesso. Assim, como o carro até continuava sem ‘fome’, só nós comemos, num bom restaurante alternativo, sem stress.

A parte da tarde foi preenchida com mais Nacional 2, vias rápidas e autoestrada. Pelo caminho fomo-nos apercebendo, no mapa, de que havia postos de carga em muitos locais, como Penacova, Santa Comba Dão, Tondela e, claro, Viseu. Não usámos nenhum, não foi necessário. Depois dos 250 quilómetros do dia, acabámos a jantar todos, uma vez mais, já no Peso da Régua, o nosso lindíssimo destino. só 60 quilómetros para nos transportar entre alguns desses pontos. Ou seja, uma distância mais próxima daquelas que a maioria das pessoas faz no dia-a-dia.

DIA 4: NACIONAL 2 E AUTOESTRADAS

Apenas tive o ‘grande incómodo’ de fazer 200 metros a pé entre as entradas e o prato principal, porque o XC40 já tinha terminado a sua ‘refeição’ e não quis deixá-lo a ocupar o posto. Só o privei da ‘sobremesa’, mas 85% é mais que suficiente, venha o próximo.

DIA 5: TRANSPORTE COLECTIVO

Este também não conta. Depois de uma manhã de poucos quilómetros, a visitar alguns miradouros da zona, a tarde foi passada em transportes públicos. A subida do Douro até ao Pinhão foi feita de barco (que, obviamente, já deveria ser elétrico) e o regresso foi de comboio da CP, quase sempre junto à margem do rio, inesquecível, numa paisagem que é Património da Humanidade. Fica a esperança de que, muito em breve, esta linha ferroviária seja renovada (está a sê-lo), estendida e muito mais utilizada. Mais por utilizadores diários do que por turistas.

DIA 6: RÉGUA - GAIA

O regresso ao litoral foi feito novamente em bom, à beira-Douro, umas partes na margem esquerda, outras na direita. Sempre em tom de beleza arrebatadora. Na paragem para almoçar em Cinfães escolhemos o restaurante pela qualidade, sem nos preocuparmos com a ‘alimentação’ do carro, que estava ainda de ‘barriga cheia’. Apenas ‘comeu’ já ao fim da tarde, à chegada a Gaia, 160 quilómetros depois, enquanto nós, mesmo ali ao lado, disfrutávamos de um dos mais badalados pores-do-sol da Europa, no Jardim do Morro. Uma vez mais, com stress zero.

BALANÇO

Fiquei contente com a quantidade actual de postos de carregamento nas zonas que percorri? Claro que não, longe disso. As autarquias deverão urgentemente colocar postos rápidos nas sedes de concelho e mais lentos espalhados um pouco por todo o lado. E os postos de abastecimento de combustíveis têm que começar a acrescentar a vertente elétrica. A rede tem que ser melhorada muito rapidamente. Como, aliás, parece já estar a acontecer, sobretudo em locais privados de acesso público. Mas o certo é que percebi que o que existe neste momento já é suficiente para a esmagadora maioria das utilizações. De trabalho e de lazer. Lembremo-nos também que, no interior, a percentagem de pessoas que vive em casas e não em apartamentos é muito superior. Portanto, a maioria tem facilmente onde carregar, e a custo mais baixo.

Portanto, Sr. Manuel, D. Maria, aí nas vossas recônditas e lindas terras do interior: na próxima troca de carro, passem lá para um elétrico, que os velhos do Restelo já não têm razão. É sem stress, com mais prazer e qualidade de vida, e com muito menos despesas.

Por falar em dinheiro, termino com um comparativo entre os valores dos carregamentos que efectuei e o que esta viagem custaria a gasolina. Sublinhando que nesta comparação não estou a incluir os muito mais importantes custos de saúde pública e ambientais inerentes à utilização de combustíveis fósseis.

Curiosamente, o único percurso que tive que alterar devido aos carregamentos foi o de regresso de Gaia ao Estoril, já que queria utilizar as autoestradas do litoral, onde os postos de carga são demasiado escassos. Há muitas soluções mas apenas saindo da autoestrada. Assim, decidi regressar pela A1, na qual há postos em todas as áreas de serviço.

Distância percorrida .........................1350 km

Energia carregada .............................. 264,17 kWh Custo 100 km.............................................8,28 € Consumo..................................19,56 kWh/100 km Custo Total......................................... 111,86 €

Preço gasolina .........................................1,7€/l Consumo ......................................... 10 l/100 km Custo 100 km...............................................17 € Custo Total........................................229,50 €

Notas: . 1,7 € / litro gasolina – preço médio nos postos Prio no dia da comparação . Consumo 10 l / 100 km – média das versões a gasolina do XC40

VOLVO XC40 RECHARGE TWIN

Começo pelo que gostei menos: só tem um modo de condução, nada de ‘Eco’ ou de diferentes níveis de recuperação de energia. Mesmo para ligar ou desligar o sistema monopedal, tem que se ir às definições. E sem monopedal, fica-se com recuperação de energia zero. E para passar para N tem que se pisar o travão, o que faz perder embalagem. Da potência abstenho-me de falar, porque na Ecomood defendemos que as performances dos veículos terão que ser obrigatoriamente adaptadas aos limites legais (que também têm que ser revistos, tanto para cima como para baixo). De resto, o XC40 tem uma excelente posição de condução, é extremamente confortável, tem um óptimo comportamento dinâmico, apesar das dimensões generosas. Dimensões que fazem com que seja bastante espaçoso, tanto para passageiros como para carga. É um carro tecnicamente simples, com poucos botões e um ecran de muito fácil e óbvia utilização, com base no Google.

Revelou-se o carro ideal para este teste, já que está longe de ser um campeão da autonomia. Um automóvel não tanto para stressados com os consumos e a sustentabilidade, como eu, mais para pessoas despreocupadas. Uma boa opção nesta gama para quem vai transitar da combustão para a sustentabilidade pela primeira vez. Sem stress.

FICHA TÉCNICA

Motor Bateria Potência Binário Tração Transmissão

elétrico, twin motor iões de lítio, 75 kWh 300 kW / 408 cv 660 Nm AWD automática Suspensão McPherson à frente, multibraços atrás Comprimento 4440 mm Largura 1863 mm Altura 1647 mm Dist. entre eixos 2702 mm Bagageira 419-1295 litros (+ 31 litros à frente) Peso 2188 kg Consumo energia 20,5 kWh/100 km (ciclo combinado WLTP) Autonomia 437 km (ciclo combinado WLTP) Acel. 0-100 km/h 4,9 segundos Vel. máxima 180 km/h Tempos de 8h – 11 kW AC (0-100%) carregamento 0h28 – 130 kW DC (10-80%)

PREÇO

desde 55.675€ (gama XC40 Recharge desde 49.535€)

Este foi um trabalho conjunto para a BlueAuto e as páginas ECOnversas do facebook e instagram, onde pode encontrar os vídeos de reportagem, com as belas paisagens do percurso e não só:

https://www.facebook.com/econversas/ https://www.instagram.com/econversas/

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