Eurobike magazine #24

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EDITORIAL

Caro leitor, Temos a satisfação de informar que a o Grupo Eurobike mantém firme seu propósito de expansão, com o intuito de chegar cada vez mais perto dos nossos clientes: inauguramos em Brasília, em abril, a nova loja Porsche – a primeira do Centro-Oeste. Não deixe de conhecer. Em Porto Alegre, reinauguramos a loja Audi, agora acompanhando o padrão Eurobike Audi. Revisite e aproveite para conhecer o novo A3 Sportback! Não perca também, disponível nas lojas de Porto Alegre, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Uberlândia, o lançamento do Volvo V40. Esta edição marca os seis anos da Eurobike magazine, espaço de compartilhamento de ideias com nossos clientes e amigos, onde procuramos dar voz a empreendedores, empresários e artistas que apostam na qualidade de vida e oferecem produtos para tal. Conheça o empresário Marcelus Geraldo de Araújo, à frente da primeira fábrica de paneis fotovoltaicos do Brasil, a Tecnometal Energia Solar. O planeta agradece. Confira a excelência criativa de Kimi Nii, que se traduz em inusitados objetos de design inigualável, e o percurso do café gourmet, em que a qualidade do sabor vem de um processo cuidadoso e tradicional. Isso é contemporâneo. Para os amantes das duas rodas, um ensaio fotográfico de encher os olhos: a nova Triumph Rocket. Veja lá e depois experimente, em nossas lojas. E por falar em duas rodas, curta essa aventura: Caio e Myrian Ferraz, de Araçatuba até o Alasca, em uma BMW R 1200 GS. Que tal? Para encerrar, a segunda parte da Rota 40, agora na Patagônia – mais imagens fantásticas.

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Boa leitura.

Um grande abraço, Henry Visconde Presidente magazine@eurobike.com.br


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COLABORADORES

Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias Audi, BMW, Chrysler, Dodge, Jaguar, Jeep, Land Rover, MINI, Porsche, Triumph e Volvo. 1

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Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600, CEP 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobikemagazine.com.br contato@eurobikemagazine.com.br

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Ouvidoria www.eurobike.com.br/ouvidoria (11) 3073-0770

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Editorial: Eduardo R. da C. Rocha, Heloisa C. M. Vasconcellos Direção de arte: Eduardo R. da C. Rocha Assistência de arte e finalização: Rafael Cury Caprecci Coordenação e produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Nelson Martins

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Publicidade: custom media - eduardo@cmedia.com.br Preparação e revisão: Denis Araki

1 Ana Augusta Rocha, 2 André Dib,

Produção: custom media

5 Eduardo Sardinha, 6 Érico Hiller,

Tiragem desta edição: 15.000 exemplares

3 André Hawle, 4 Betto D’Elboux

7 Juan Esteves, 8 Maura Campanili, 9 Paula Diniz, 10 Percy Faro

Impressão: Pancrom Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista.

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CONTEÚDO

# 24 06 | 07 | 08 2013

8 | razão 10 | Energia do futuro 18 | Eurobike Porsche em Brasília

20 | emoção

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22 | Triumph Rocket ||| 34 | Experiência única 36 | Moto GP 40 | Audi RS2. Perua, sim, e bem nervosa 46 | Araçatuba, Alasca. Tão longe, tão perto


54 | prazer 56 | Café de fazenda em fazenda de café 66 | Kimi Nii. Razão poética ou a poesia da razão 72 | Achados e imperdíveis

74 | devaneio

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76 | Rota 40, Patagônia


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RAZテグ


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Porque ĂŠ preciso. Simples assim


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Energia

do futuro Primeira fábrica brasileira a produzir placas fotovoltaicas geradoras de energia, a Tecnometal Energia Solar aposta no futuro Por Maura Campanili | Fotos Juan Esteves

A produção das placas fotovoltaicas, realizada em uma linha de montagem importada dos Estados Unidos e também com

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Apesar das dificuldades, o empresário acredita ter apostado certo ao criar, em sua unidade de Campinas, São Paulo, a divisão Tecnometal Energia Solar há cerca de dois anos. “A energia solar é limpa e representa um passo adiante. Seu sucesso comercial é uma questão de tempo”, avalia o engenheiro, que começou atuando na área de mineração até criar a Tecnometal, cujo carro-chefe ainda é a produção de equipamentos de grande porte para mineradoras em sua sede mineira, localizada em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte.

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Investir na primeira fábrica brasileira de placas fotovoltaicas para gerar eletricidade foi uma decisão que atendia à filosofia do empresário mineiro Marcelus Geraldo de Araújo, presidente da Tecnometal, empresa fundada por ele há 23 anos. “A empresa tem como princípio ser inovadora. O desenvolvimento tecnológico está em nosso DNA, assim como ter orgulho de atuar no Brasil, a despeito do ambiente de inovação não ser amistoso no país. Aqui, se gosta do que vem de fora, por isso é preciso energia extra para a introdução de novidades. A aceitação não é imediata”, diz.


RAZÃO

equipamentos nacionais, é bastante diferente das placas utilizadas para aquecer água a partir da radiação solar, de uso mais comum no país. A placa fotovoltaica converte luz solar em energia, ou seja, consegue gerar corrente elétrica a partir da presença do sol. Araújo explica que o sistema pode ser utilizado em pequenas e grandes instalações. “Para acender uma lâmpada, usamos uma placa pequena; um motor, algumas placas; uma cidade, um parque fotovoltaico. A característica básica é a presença de luz; assim, quanto mais luz, maior a eficiência.” A grande vantagem deste tipo de energia, conforme o empresário, é que não usa uma fonte extinguível e pode ser produzida no ponto de consumo. “É uma forma de energia sustentável e economicamente interessante, principalmente para áreas remotas do país, muitas delas desconectadas da rede elétrica, onde ainda é caro levar energia”, defende. Ele lembra que o Brasil conta com uma incidência solar muito maior do que a Alemanha, onde esse tipo de energia é muito difundida. “Em grande parte do país, a eficiência é alta, sobretudo no Norte e Nordeste, por isso optamos por entrar nessa área.” Além da sustentabilidade e da eficiência, Araújo tem convicção de que a energia fotovoltaica será indispensável em um futuro próximo. “O Brasil ainda se dá o luxo de achar que é cara, principalmente por dispor de recursos hídricos abundantes — mas seu aproveitamento está cada vez mais dispendioso e com maiores restrições por conta do impacto ambiental”, diz. O empresário afirma que, mesmo hoje, quando se compara os custos de abastecimento de locais remotos, como a região da Amazônia, abastecida com diesel, a opção fotovoltaica já é mais barata, considerando o preço do litro do combustível, sem contar a questão ecológica. “O que define a utilização, porém, é a decisão da sociedade e política.”

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Empreendedor arrojado Nascido em Minas Gerais, o coração da mineração no Brasil, e formado em Engenharia Mecânica, Marcelus Araújo considera natural ter direcionado a carreira para a área de mineração. Trabalhando em uma empresa de consultoria especializada neste setor, ele teve oportunidade de resolver desafios de grande porte. “Os clientes traziam problemas como retirar lingotes de ouro na mina e depositá-los no cofre. Em empresas desta natureza, é a equipe mecânica que lida com essas questões e a solução é sempre fracionar o problema e chamar pessoas para resolver por partes.” Esta lição levou Araújo a empreender sua própria empresa, em 1990, quando percebeu nichos para equipamentos especiais, que o mercado não estava disposto a produzir. Criou a Tecnometal para fabricar máquinas de transporte de cargas para a área

de granéis em mineradoras. Entre seus clientes, estão gigantes como como Vale, Samarco e EBX. “Desde o início, a ideia era ter uma empresa que desenvolvesse engenharia, tivesse capacidade produtiva e gostasse de desafios. Essa característica não se apagou ao longo do tempo. Por sempre buscar coisas novas, acabei entrando em áreas diferentes”, conta. A oportunidade de diversificar apareceu no final da década de 1990, com o boom da automação bancária no Brasil, quando faltavam provedores de cofres e gabinetes para os caixas automáticos. A Tecnometal foi procurada e topou entrar nessa área. Hoje, a empresa tem a maior produção desses equipamentos no país, “algo da ordem de dezenas de milhares de cofres”. O pulo do gato no novo segmento se deu alguns anos depois, quando sua maior competidora (e líder de mercado), a multinacional APW Brasil Ltda., localizada em Campinas, resolveu deixar o país. Araújo resolveu comprar a empresa e canalizar para São Paulo toda a unidade de cofres e gabinetes para caixas automáticos. Depois disso, surgiu a oportunidade de adquirir a Koch, empresa alemã especializada também em movimentação de granéis, mas que trabalhava com um transportador flexível de forma tubular, cujo impacto ambiental é muito menor, por carregar o minério de forma enclausurada. “Para se ter uma ideia, enquanto o transportador convencional sobe e desce, como um tobogã, o circular faz curvas complexas, como uma montanha russa”, entusiasma-se o engenheiro, hoje líder no Brasil também no fornecimento dessa solução. Diversificação A decisão de entrar no setor de energia fotovoltaica veio da necessidade de diversificar, importante, na visão de Marcelus Araújo, para garantir a estabilidade e sustentabilidade do grupo. “A geração de energia sempre nos instigou, tanto que já tínhamos experiência na produção de equipamentos para pequenas centrais hidrelétricas. Quando percebi a possibilidade de investir em energia solar, fomos atrás de informação, participar de congressos etc. Vi que tudo estava pronto, mas ninguém se movia nessa direção. Por isso, resolvi me adiantar e montar esta indústria. O principal núcleo de desenvolvimento tecnológico na área, no país, está aqui”, disse. Por enquanto, a divisão de placas fotovoltaicas produz apenas por encomenda, como no caso do Condomínio Taxaquara, em São Roque, onde a iluminação das ruas é composta por postes autônomos fotovoltaicos. Entre os projetos realizados para empresas, está um centro de pesquisas para a Embrapa, em Brasília. Em São Paulo, será instalada uma usina de energia solar


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RAZÃO para abastecer o Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste da cidade. O projeto foi anunciado pelo governo do Estado, responsável pelo parque, para ter início em julho próximo. No momento, está em discussão a localização das placas, que deverão ficar em área de expansão do parque.

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Segundo Araújo, há também negociações para a instalação de placas em dois estádios da Copa do Mundo, embora o negócio ainda não tenha sido fechado. Ainda neste ano, a unidade da Tecnometal em Campinas, onde são fabricadas as placas fotovoltaicas, deverá ser abastecida com este tipo de energia e tornar-se um showroom da empresa. Para o empresário, a aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no ano passado, da regulamentação para que os consumidores de energia elétrica possam ser também geradores de energia, é também um incentivo e poderá ser uma revolução no mercado das placas fotovoltaicas. “O Brasil tem muito espaço, tanto em telhados de prédios como em locais que não têm outro uso, como áreas abandonadas, não agricultáveis.”

Sucessão Com 1.450 funcionários e previsão de faturamento em torno de 550 milhões de reais ao ano, a Tecnometal é uma empresa totalmente privada, cujos sócios são Marcelus e sua esposa Alcione, que é psicóloga e nunca atuou no grupo. “Desde o início, escolhemos que ela teria uma vida profissional independente e minha família não teria a obrigação de arcar com meus sonhos. Hoje, porém, minhas filhas trabalham na empresa e são muito bem-vindas”, diz Araújo. A mais velha, Maiari, é advogada e gerente do departamento jurídico há três anos, depois de terminar o MBA nos Estados Unidos. A caçula, Alethea, depois de se formar em administração de empresas no ano passado, entrou para o programa de trainee, para conhecer a empresa e decidir se é o que realmente gosta de fazer. “A empresa cresceu bastante e é uma carga grande para pessoas tão jovens. Se a empresa ficar com elas, estará em boas mãos, mas tudo tem seu tempo. Não adianta condenar uma pessoa a sonhos que não são seus”, diz.


“A emoção das mãos ao volante, sentir a potência do motor e a alegria nos seus olhos a cada curva...

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RAZÃO

EUROBIKE PORSCHE EM BRASÍLIA A Eurobike inaugurou, em Brasília, a primeira concessionária Porsche da região Centro-Oeste do Brasil

Com investimentos de R$ 1,5 milhão e 382 m² de área construída, a terceira loja Porsche da Eurobike oferece serviço completo, incluindo oficina e estoque de peças. A expectativa é que 100 veículos sejam vendidos até o final de 2013.

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A grande atração da noite de abertura foi o novo Cayman S, que começa a ser vendido no país. Além de Brasília e arredores, a nova Eurobike Porsche atenderá os clientes do Estado de Goiás e região. Para Henry Visconde, a estreia da Eurobike Porsche em Brasília é um antigo sonho realizado, em um mercado promissor e crescente. “Nada melhor do que começar com uma marca que representa esportividade e tradição aliada à mais alta tecnologia”, diz.

Acima, o piloto e empresário Nelson Piquet, tricampeão mundial de Fórmula 1, Regis Schuch, presidente do Porsche Clube do Brasil, e Marcel Visconde, da Stuttgart Sportcar


Acima, Matthias Brueck, presidente da Porsche América Latina, Henry Visconde, presidente do Grupo Eurobike, e Christoph Klein, diretor de vendas da Porsche América Latina

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De acordo com Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, representante oficial da Porsche no Brasil, a abertura da Eurobike Porsche em Brasília concretiza o plano de atender o Centro-Oeste. “É uma região com grande potencial para gerar novos negócios e agora estaremos próximos desse público”, completa.

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O Grupo já conta com concessionárias Porsche em Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, ambas no interior de São Paulo.


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Brilhar ĂŠ da natureza!


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TRIUMPH

ROCKET III

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POR ANDRÉ HAWLE


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É capaz de desenvolver 146 cv de potência e 221 Nm de torque, já a 2.750 rpm — uma característica que se traduz em experiência de pilotagem inigualável. Pedaleiras montadas no centro do veículo e guidão que eleva as mãos do piloto resultam em uma posição de pilotagem relativamente ereta, com muita atitude e postura típica das melhores estradeiras do mundo.

Experiência única Por Percy Faro

Sua ergonomia assegura uma dirigibilidade completamente diferente dos demais modelos. É uma condução que, entre outros fatores favoráveis, facilita o contorno das curvas. Com um assento macio tanto para piloto quanto para garupa, cobre longas distâncias com segurança e conforto. Outro indicativo da vocação de estradeira de alto desempenho são os pneus Metzeler ME 880

Por Percy Faro Com 111 anos de vida, a história da Triumph é recheada de curiosidades, entre elas, o fato de utilizar o maior motor do mundo para uma motocicleta produzida em série. E a forma como a marca inglesa veio ao mundo, pelas mãos do empresário alemão Siegfried Bettmann, que comercializava máquinas de costura. Ele entrou no segmento de duas rodas porque ficou impressionado com o aumento do número de bicicletas na Inglaterra. Em 1886, outro alemão, o engenheiro Mauritz Schulte, associou-se a Bettmann, formando a Triumph Cycle Company.

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Pouco tempo depois, as bicicletas começaram a ser substituídas pelas motocicletas. A primeira moto Triumph foi projetada por Schulte em 1902 e ficou conhecida como a “Nº 1”. Já com o primeiro modelo lançado, equipado com motor fabricado na Bélgica com válvula de admissão automática, que oferecia respeitáveis 2,25 cv de potência, a Triumph fez sucesso e se impôs frente à forte concorrência, à época com dezenas de novos fabricantes atuando no mercado. Em pouco mais de um ano, a empresa comemorava a marca de quinhentas unidades produzidas. Durante sua história, a Triumph enfrentou toda sorte de dificuldades. Entre elas duas grandes guerras, oscilações mercadológicas e até um incêndio, em novembro de 2012, que reduziu a cinzas a fábrica de Hinckley. Mas nunca deixou de lado a busca pela desafiadora meta de alcançar a perfeição sobre duas rodas. Neste sentido deu importante passo ao iniciar suas operações no Brasil, no final do ano passado, porque disponibilizou produtos que incorporam tecnologias de última geração. É o caso da Rocket III Roadster, “verdadeiramente uma motocicleta única, com destaque para sua presença imponente e um motor lendário”, como o próprio fabricante afirma. Para quem não abre mão da sensação de liberdade que toda motocicleta passa ao motociclista, o maior motor do mundo para um modelo produzido em série tem três cilindros e 2.294 cc.

Marathon, que, aliados à tecnologia e design moderno, respondem com estabilidade em todas as velocidades, mesmo com a moto totalmente carregada. Portanto, ideais para viagens longas. A Rocket III Roadster vem praticamente completa de série, com um painel de instrumentos abrangente, incluindo medidor de combustível, indicador de marcha engatada e relógio. Possui garfo telescópico invertido de 43 mm de diâmetro, suspensão traseira ajustável, eixo-cardã de baixa manutenção e sofisticados freios antitravamento (ABS) em ambas as rodas. No conjunto dianteiro exibe os dois faróis que são a marca registrada da história da Triumph, um visual imponente e impactante. Paralelamente, vários outros componentes equilibram, cuidadosamente, o preto e os detalhes cromados para criar uma imagem agressiva e minimalista. Traz também opções especiais de cores. Além da preta Phantom metálica, há ainda as cores vivas vermelho Phantom Haze e azul Phantom Haze, ambas pintadas à mão na fábrica da Triumph. Com tantos predicados, não é exagero reafirmar a recomendação de quem já pilotou a Rocket III Roadster: “É uma sensação especial que todo motociclista deveria experimentar pelo menos uma vez na vida”.


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Fábrica de vitórias

Para participar de um campeonato de motovelocidade, a premissa básica é cuidar dos detalhes. Dos pilotos aos mecânicos, das motos ao boxe, tudo é importante Por Betto D’Elboux | Fotos André Hawle

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“Carreras son carreras”, dizia o saudoso pentacampeão de Fórmula 1, o argentino Juan Manuel Fangio, falecido em julho de 1995. O que ele queria dizer é que não basta ter o melhor equipamento, tampouco ser o melhor piloto, para ser vencedor. Claro, tudo isso ajuda. Mas sempre é preciso contar com o imponderável. Corridas são imprevisíveis e, às vezes, a vitória pode escapar na última curva, da última volta. Mas, assim como as corridas de cavalos — que nada tem de jogo de azar ou sorte —, as competições de esporte a motor envolvem prognósticos. E um bom manager deve fazer tudo o que for possível para reduzir os riscos de azares. Na Petronas Eurobike SBK Team é assim. Diego Quirino, da DQ Sports, é o manager da equipe que participa da temporada 2013 do Moto 1000 GP, campeonato nacional promovido pelo ex-piloto Gilson Scudeler.

Quirino montou uma equipe que, na teoria, é plenamente vencedora: tem bons pilotos, excelentes equipamentos (duas BMW S 1000 RR, uma na categorial principal e outra na Light) e uma ótima equipe, a Pitico Racing, que possui uma larga história de vitórias em campeonatos de motovelocidade. E como manter tudo isso em um padrão top? Não é fácil, mas Quirino tem a receita. “Montar uma equipe para qualquer tipo de competição não é, na teoria, tão complicado. Mas montar uma equipe com potencial para conquistar vitórias e lutar pelo título requer mais atenção. Já pensei até na Stock Car. Mas lá é um universo muito fechado. Aqui na Moto 1000 GP encontrei espaço e liberdade para trabalhar”, explica. Ainda segundo o manager, um time que busca a vitória tem de cuidar de todos os detalhes técnicos, estéticos, de marketing, e ainda ter um “bom olho” para escolher pilotos.


Diego Faustino e Renato Andreghetto, pilotos da Equipe Petronas Eurobike SBK

Ambos têm em comum a mesma rotina de treinamentos e a necessidade, ainda hoje, de se dedicarem a uma vida profissional paralela. Faustino trabalha com o pai no ramo industrial e Andreghetto é empresário do ramo alimentício, com uma fábrica de chocolate. Sempre que possível, eles estão na pista, aproveitando ao máximo o tempo que podem para treinar. E os resultados estão aí: Andreghetto é líder da categoria Moto 1000 GP Light, com duas vitórias e um segundo lugar em três etapas, e Faustino, que tem um segundo e um quarto lugares em três corridas, já foi vice-líder da temporada e segue no top 4 da tabela. “Estamos muito felizes com o trabalho dos dois. Eles são rápidos, competentes e, agora, temos de continuar proporcionando condições para que eles entrem na pista sempre em condições de disputar a vitória”, afirma André Accioly, executivo de motos do Grupo Eurobike, que, além de patrocinar a equipe, envolveu-se na escolha dos pilotos. Conquistar patrocínios como o do Grupo Eurobike é uma das

Prova disso foi o contrato assinado com a Petronas. A empresa sequer tem postos de gasolina no País, mas acredita no potencial do apoio institucional a uma equipe de motovelocidade, inclusive para planejar uma ampliação da marca no Brasil. Ainda assim, e mesmo considerando que a Petronas patrocina outras categorias, não pensem que foi fácil: “tivemos de explicar minuciosamente cada detalhe do projeto, falamos das promotoras, da sala dos pilotos, do uniforme dos mecânicos. Deu trabalho, mas valeu a pena”, conclui Quirino. Com a Eurobike, a história não exigiu tantos questionamentos, uma vez que a empresa já tem a cultura de apoio ao esporte a motor e se envolve frequentemente em corridas de carro no País. “Nosso envolvimento com competições é grande e forte”, garante Accioly. “O apoio institucional e, no nosso caso, técnico também, é fundamental para qualquer equipe que deseje ser vencedora”, explica o executivo. Accioly destaca que, diferentemente do que acontece com outra equipe Moto 1000 GP, que é 100% patrocinada pela BMW, no caso da Petronas Eurobike SBK Team a parceria é diferente. “Temos o naming right da

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De fato, a Petronas Eurobike SBK Team tem dois pilotos interessantes. Enquanto o paranaense de Londrina Diego Faustino, 23 anos, possui experiência de longa data, pois já anda de moto desde os 14 anos, com passagens vitoriosas pelas categorias 135 cc e 600 cc (pela qual foi vice-campeão paranaense, em 2009), Renato Andreghetto, de 30 anos, tem um currículo que, se não é modesto, é bastante recente: ele começou a correr no ano passado e tem, até agora, nove provas disputadas na carreira, com sete vitórias. Um aproveitamento fantástico para um novato.

tarefas de Quirino. Ele trouxe também outras boas marcas para a sua equipe este ano, como a petroleira Petronas. Mas não foi fácil. “Nunca é”, garante o manager. “São quase mil tentativas de contato, reuniões, propostas, promessas até conseguirmos explicar o que representa uma parceria dessas”, conta. Para ele, a razão dessa dificuldade toda é ainda a falta de cultura do mercado brasileiro. “Pode parecer incrível, mas, às vezes, é menos complicado vender uma cota para uma empresa estrangeira do que para as daqui”, diz Quirino.

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“Olhamos principalmente para os novos talentos e chegamos a uma dupla bastante competitiva”, complementa.


EMOÇÃO Diego Quirino, chefe da Equipe Petronas Eurobike SBK

equipe, fornecemos os equipamentos e suporte técnico e peças mas, fundamentalmente, estamos envolvidos também com os resultados. Nós não apenas patrocinamos, somos parte da família, apoiamos os pilotos e brigamos juntos pelos resultados”, garante. O resultado disso tudo é que Faustino e Andreghetto são dois piloto da novíssima geração de grandes nomes no motociclismo nacional e têm coroado com ótimos números o trabalho do Grupo Eurobike, da DQ Sports e de toda a Petronas Eurobike SBK Team. Na guerra contra o imponderável, eles estão conquistando boas batalhas.

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O que envolve um patrocínio no esporte a motor Hoje, quando se fala em patrocínio de grandes empresas a um piloto, ou a uma equipe, ou mesmo a toda uma categoria, estamos falando de uma parceria global de marketing, que envolve uma série de ações muito bem orquestradas. A exposição de uma marca — que, dependendo da situação, pode ser de um produto específico ou mesmo da empresa que o fabrica — implica em estímulos à força de vendas, workshops, uso de imagem, ambientes, eventos de relacionamento e, claro, retorno de imagem em mídia editorial e publicitária, que costumam trazer ótimos resultados, principalmente considerando o custo/benefício. Entre exemplos de ações, podemos citar a distribuição gradual para a força de vendas de uma empresa de ingressos para as corridas. Funciona assim: os 5 mil melhores vendedores ganham ingressos de arquibancada, kit de brindes (camiseta, boné, ade-

sivo, chaveiro, squeeze etc.). Destes 5 mil, os cem melhores ganham, além dos itens anteriores, credenciais para visitação aos boxes. Destes cem, os vinte melhores ganham, além dos itens anteriores, credenciais para o Hospitality Center (HC), onde há serviço de catering, monitores de alta resolução, quickmassage, área monitorada para crianças e uma vista privilegiada da pista. Além disso, os pilotos patrocinados pela marca também passam lá, em algum período de folga na programação do fim de semana, para tirar fotos e distribuir autógrafos. E destes vinte, os dez melhores ganham também passes para flyinglaps, ou seja, voltas rápidas na pista do autódromo na companhia do piloto. A partir do contrato de patrocínio, a equipe e os pilotos têm também suas obrigações. Assim, os pilotos podem ser convocados a marcar presença simples em eventos da marca patrocinadora, proferir palestras e/ou workshops para equipes de vendas (há um tema recorrente destas palestras, que é “o paralelo entre a competitividade nas pistas e no dia a dia das vendas”), abrir a oficina e a sede da equipe para visitas guiadas com colaboradores, parceiros e clientes e, também, a utilização das motos (ou carros) nos estandes de feiras em que a empresa estiver participando. Este “corpo a corpo” traz resultados efetivos e resolve bem assuntos cotidianos das empresas. Mas há ainda o valor de exposição de marca, com os pilotos e suas máquinas aparecendo nas peças das campanhas publicitárias e na visibilidade das transmissões pela TV.


BEM-VINDO AO UNIVERSO DA ALTA PERFORMANCE. Apaixonados por carros e música agora podem contemplar a mais alta performance desses dois universos, em uma única experiência. A Bowers & Wilkins e a Meridian, marcas inglesas referências mundiais quando se fala em sistemas de áudio estéreo e home cinema, reconhecidas pelo seu elevado desempenho e qualidade de som, agora equipam também autênticas lendas automotivas. A B&W, em parceria com a Maserati, projetou um sistema de áudio premium que produz uma experiência acústica absolutamente rica e visceral ao veículo, proporcionando uma autêntica sinfonia. Equipando os carros da Land Rover, McLaren e Jaguar, o sistema de áudio high end da Meridian casa perfeitamente com o design interior dos veículos e proporciona um palco sonoro grandioso, aliando alta potência e alta qualidade. B&W e Meridian, os mais extraordinários sistemas de áudio high end em composição com verdadeiras lendas automotivas.

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B&W e Meridian são marcas importadas e distribuídas, com exclusividade no Brasil, pela Som Maior.

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EMOÇÃO

Audi RS2 Perua, sim, e bem nervosa Por Eduardo Rocha | Fotos André Hawle

O ano era 1994 e a Audi, sempre inovadora, desenvolveu, na parceria com a conterrânea Porsche, um carro diferente, talvez até estranho. Mas que se tornou um clássico instantâneo, uma lenda.

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A Audi RS2 Avant, usando a plataforma da Audi 80 Avant, uma comportada station wagon, recebeu uma série de componentes e upgrades Porsche, que mudaram totalmente a sua personalidade. O que tinha potencial para se tornar uma criação de Frankenstein, resultou num produto ultraesportivo e surpreendentemente harmônico. O RS do nome vem de Rennsport, ou de Racing Sport. Na linha de montagem da Porsche em Zuffenhausen, distrito da região norte de Stuttgart, recebia o tradicional motor de cinco cilindros em linha longitudinal de 2,2 litros com duplo comando no cabeçote e quatro válvulas por cilindro, dotado de turbocompressor KKK 24 (maior que o original), com pressão de 1,4 bar e intercooler. Tanto o coletor de admissão quanto o de escape tiveram seus pesos reduzidos. Foram redesenhados a árvore de comando de válvulas e o sistema de gerenciamento eletrônico do motor foi reprogramado.Com essa preparação, produzia 315 hp a 6500 rpm. Toda essa força era transmitida ao solo pela tração integral permanente Quattro através de um câmbio manual de seis marchas, que levava a RS2 de 0 a 100 km/h em menos de 6 segundos, e de 0 a 50 km/h 1,5 segundos mais rápido que o supercarro McLaren F1, segundo a revista Autocar. Por vários anos ostentou o titulo de station mais rápida do mundo.


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Seu interior, mais esportivo do que luxuoso, todo em couro, oferecia, além de todos os comandos elétricos, direção hidráulica, instrumentos analógicos, airbag e toca-fitas. Havia também alguns detalhes em fibra de carbono no painel e nas portas. Os impecáveis bancos Recaro, com ajuste elétrico, seguravam bem o corpo e reforçavam a esportividade.

Foram produzidas apenas 3 mil unidades, sendo que somente 60 vieram para o Brasil. Uma curiosidade é que algumas dessas unidades vinham registradas como Porsche-Audi e outras somente Audi. As Porsche-Audi tinham um IPVA mais elevado, apesar de se tratar do mesmo carro.

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O câmbio manual de 6 marchas era suave e preciso. Já o motor e sua grande turbina apresentavam um pouco de turbo lag, mas quando essa enchia, mudava o comportamento da RS2, de uma menina comportada para uma atleta furiosa, que parece que não vai mais parar de acelerar. Era certeza de “grudar” no banco. O ronco, como na maioria dos motores de 5 e 10 cilindros (5, no caso da RS2), é de arrepiar!

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Também foram incorporadas peças do Porsche 964 Turbo, como as rodas aro 17 com pneus 245/40 ZR17, os freios Brembo, com suas pinças vermelhas com a marca Porsche estampada, e os retrovisores externos. As lanternas no para-choque dianteiro e o elemento refletivo entre as lanternas traseiras são puro design Porsche. Alem, é claro, do emblema RS da Audi, que recebeu o lettering Porsche, em baixo.


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Produção em série limitada (3 mil unidades)

Fabricado em

Zuffenhausen, Alemanha

Preço

R$ 65.000 – R$ 80.000

Motor

5 cilindros em linha

Posição

Longitudinal, dianteiro

Tipo

Turbo

Cabeçote

DOHC (20 válvulas)

Alimentação

Injeção eletrônica Bosch

Capacidade cúbica

2226 cc

Compressão

9:1

Potencia

315 hp a 6500 rpm

Relação peso/potencia

197.49 hp por tonelada

torque

410 nm a 3000 rpm

Corpo / chassis

Aço

Pneus dianteiros

245/40 ZR 17

Pneus traseiros

245/40 ZR 17

Freios dianteiros

Discos ventilados radiais (ABS)

Freios traseiros

Discos ventilados radiais (ABS)

Rodas dianteiras

17.0 x 7.0 pol

Rodas traseiras

17.0 x 7.0 pol

Direção

Coroa e pinhão, hidráulica

Suspensão dianteira

I.MS.CS.LW.ARB

Suspensão traseira

I.DW.ARB

Peso

1595 kg

Entre eixos

2591 mm

Comprimento

4496 mm

Largura

1702 mm

Altura

1397 mm

Transmissão

Manual de 6 velocidades

Velocidade máxima

262 km/h

0 – 100 km/h

4.8 segundos

0 – 160 km/h

13.1 segundos

0 – 1/4 de milha

13.6 segundos Agradecimento:

Ipê Golf Club, em Ribeirão Preto www.ipegolfclub.com.br

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Tipo

Eurobike magazine

Em detalhes


EMOÇÃO Eurobike magazine 46 |

Glaciar Ruth, Parque Nacional Denali, na fronteira do Canadá com o Alasca


Alasca

Araçatuba, Tão longe, tão perto Por Ana Augusta Rocha | Fotos Caio e Myrian Ferraz

Caio e Myriam. Myriam e Caio. 35 anos de casamento e 40 de relacionamento. Os últimos sete anos on the road, em várias viagens sobre duas rodas, muitas delas intercontinentais. O que os move?

São muitas as respostas. Mecanicamente, o movimento é propiciado por duas BMW, uma R 1200 GS Adventure e outra R 1200 R Classic, adquirida recentemente por Myriam. Emocionalmente, eles dizem que as estradas trazem muitas respostas, e a primeira delas fala sobre um mundo sem fronteiras e sem limites. E, sensorialmente, por fim, como expressar em palavras a sensação de liberdade, o vento batendo no rosto? O cheiro da chuva antes de chegar com aquela umidade fina que a antecede e que envolve? Ou mesmo os aromas (tantos!), que chegam furtivos e dão um agrado inspirador... Como bem definiu Myriam, os perfumes do caminho: uma brisa de laranjal em flor, inesquecível. O frescor de um vento de eucaliptos quando a estrada é ladeada pelas grandes árvores. O cheiro da cana no ar no percurso que vai de Araçatuba a Ribeirão Preto, trecho que eles fazem sempre para os cafés da manhã aos sábados na Eurobike. (Detalhe: são 330 quilômetros que eles fazem assim... num pulinho!)

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A viagem começou dentro de outra viagem: a rota gourmet entre Argentina e Chile, feita por Caio e Myriam em fevereiro de 2012, com a Alive Moto Tour, empresa de Erik. Durante os vinte dias de percurso, uma grande amizade nasceu entre o casal e Erik. Numa conversa regada a bom vinho em uma das etapas, Caio lançou o anzol: seu sonho era cruzar as Américas de moto e chegar ao Alasca. Erik rebateu: ele não somente já tinha feito

Eurobike magazine

Tudo muito bonito de se descrever, poético e tranquilo, se as viagens se limitassem à região onde eles estão, ou a roteiros elegantes pelo velho mundo. Mas eles não se restringem ao conforto e à segurança, o chamado vem cheio de desafios... O Alasca foi o último e grandioso apelo da dupla. Como negar o chamado do longe? Já imaginou quantos cheiros pelo caminho?


EMOÇÃO Revisão final, antes da partida, na Eurobike Alphaville

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essa viagem como achava a sua operacionalização quase tranquila... Erik fisgou: Caio foi dormir com o sonho da viagem e Myriam sonhou junto dali para frente, todos os dias. Logo em seguida, em abril de 2012, o casal fez Portugal e Marrocos de moto: o mito das viagens intercontinentais caiu ali. E o Alasca sempre na cabeça... A proposta do roteiro de viagem mandada por Erik permanecia em cima da mesa... O mês de abril foi permeado pela dúvida, pois a viagem ao Alasca só poderia ser feita durante o verão. Era naquele ano — seria a terceira viagem do casal em seis meses — ou só no ano que vem. Caio ponderava que a cada ano fica um pouco mais difícil fisicamente... A empresa de construção de Caio caminhava bem, a administração bem conduzida, os filhos já se destacando na gestão, e o Alasca chamando. Uma noite de maio, no terraço de vidro de seu apartamento que descortina Araçatuba em 360º, Caio

pegou o telefone e falou com Erik em Monte Verde: “está pronto para ir?” Saíram em 15 de junho. E logo o olfato foi registrando as marcas no caminho: passa-passa cheiro de cana (Araçatuba teve, no passado, a vocação para o gado extensivo, mas hoje em dia é um mar canavial), passa cheiro de soja, soja e mais soja (rumo ao Mato Grosso); sente-sente-sente cheiro de floresta queimando (“Em Rondônia muitas vezes ficamos próximos do fogo, o calor das chamas, bastante fumaça, era a tristeza de ver a floresta indo embora do Brasil”, contou Caio). Mas a floresta ainda estava lá, viva e pulsante ao cruzarem pelo Peru e Colômbia. “É uma pena, mas nessa travessia específica sentimos que estamos perdendo, a uma velocidade muito grande, a nossa floresta Amazônica. E que ela ainda se faz presente, majestosa, nos países vizinhos”, explica Caio.


Pirâmide na rota Maia, entre Guatemala e México

A força estética da América do Sul é percebida nos relatos. Marcaram sobremaneira Cuzco e a arquitetura colonial espanhola viva, o ar rarefeito das altas montanhas e suas paisagens de, literalmente, tirar o fôlego. “Nas etapas muito altas do caminho, fazíamos uso das folhas de coca para mascar e isso trazia um alívio para os males da altitude, como dores de cabeça e falta de ar”, conta Caio. Ficaram também fortes as impressões sobre os famosos desenhos de Nazca, Caio e Myriam optaram por so-

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A contrapartida à carência de infraestrutura das Américas do Sul e Central é o calor de uma cultura ainda muito verdadeira e pouco pasteurizada. “Vimos paisagens maravilhosas, cruzamos cidades e vilarejos coloridos, animados por feiras com artesanato incrível, todo um patrimônio de arquitetura colonial misturado com os tons indígenas. Pode ter certeza que essa combinação é muito linda, ainda mais em territórios andinos, onde a cultura é muito forte e ancestral”, conta Myriam.

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A travessia pelas fronteiras, principalmente na América do Sul, teve de ser feita com cuidado. Cada país tem uma exigência a respeito de seguro e documentação dos veículos e inúmeras vezes tiveram que lidar com o pequeno poder dos funcionários das aduanas. “Isso fazia parte do caminho, tínhamos paciência e depois os probleminhas enfrentados viravam piada e motivo de riso”, lembra Myriam. “Na saída do Peru, por exemplo, o funcionário da fronteira notou que havia um número escrito errado no documento do Erik, logo na entrada do país (na fronteira com o Acre) e nos reteve ali por horas por causa disso”, conta. Percalços dos caminhos sul-americanos e centro-americanos: estradas piores, funcionários e serviços públicos complicados, pessoas excessivamente armadas (quadro muito forte na Colômbia e Equador, que ainda vivem o medo das guerrilhas) e uma preocupação maior com segurança. “Há que se viajar mais atento, procurar fazer os percursos de dia”, avisa Caio. “Mas nada, nada mesmo que tenha dado um receio verdadeiro”, explica.


EMOÇÃO Eurobike magazine 50 |

Festa popular em Antígua, Guatemala


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EMOÇÃO

Chinatown, São Francisco

brevoar as famosas linhas e seus desenhos misteriosos; quem os teria feito, qual seria sua utilidade, eram os deuses realmente astronautas? Em cada etapa havia a possibilidade da “viagem” dentro da viagem, e o Peru é um prato cheio para isso.

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No Equador, ficou na lembrança o perfume das flores — alfazema no ar —, chegando até a beira do asfalto com seu colorido. E ao fundo de tanta beleza, a imponência do maior vulcão do mundo, o Chimborazo. Outro momento marcante deu-se já na América Central, entre Guatemala e México, na rota Maia: “O patrimônio das cidades perdidas é realmente emocionante, como Teotihuacan, que visitamos. Subir no topo das pirâmides e ver o descortinar de uma civilização que se foi para sempre do planeta, tão repentinamente e meio que sem explicações... Essas e outras histórias humanas nos intrigavam no caminho e se transformavam, à noite, em alvo de longas conversas regadas por bons vinhos e culinária típica”, lembra Myriam.

A cada parada do caminho, o rumo certo apontava para os hotéis mais charmosos e confortáveis do lugar. “É essencial que depois de um dia inteiro na moto você encontre um luxo extra na hora de dormir e uma comida realmente gourmet. Procurávamos nos dar isso todos os dias, sempre que possível, claro, pois em algumas etapas não havia opções interessantes. Nessas paradas a gente comentava o dia e cada um do grupo trazia seu olhar. Sempre conversas muito gostosas. (No início eram apenas os três, Myriam, Caio e Erik. A partir de Phoenix, Estados Unidos, Cecília, a namorada de Erik, se juntou ao grupo.) Ao cruzar a fronteira do México, a América do Norte se fez definitivamente presente: melhores estradas, mais infraestrutura. Estavam cada vez mais perto de seu destino final. Tinham a segurança de contar, a cada quilômetro, com qualquer tipo de apoio necessário: desde bons hospitais até boas oficinas. A cada 10 mil quilômetros havia a necessidade de uma revisão total das máquinas, e isso foi feito em Lima, no Panamá e por


Chicago

fim em Los Angeles. A paisagem também compensou e mostrou sua diversidade: os trechos entre São Francisco e Las Vegas, o Grand Canyon... Também no hemisfério Norte foi possível perder o fôlego diante das belezas naturais.

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Era o começo de outra etapa: organizar os registros, começar o projeto de um livro e, por que não, pensar numa próxima viagem. Pois, como dizem Caio e Myriam, a estrada te captura. E depois de experimentar uma vez, a gente não quer parar mais. Qual o próximo destino dos dois? Eles se olham, cúmplices... A aventura, pelo jeito, ainda está para ser revelada...

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E de repente uma placa: Welcome to Alaska. “Estamos aqui, chegamos e o que parecia difícil foi afinal, tranquilo”, pensou Caio. Desceram da moto, Myriam chorou muito de emoção: Alasca, tão longe, tão perto! Frio, ursos negros pelas estradas, a incrível visão dos glaciares em lento movimento: rios imensos de gelo descendo as montanhas e em câmara lentíssima (nossos olhos não são capazes de perceber) se fundindo com o mar. Estava terminada a viagem e agora as motos seriam despachadas e eles voltariam a jato para casa, completamente transformados pelo caminho e com o melhor: a sensação de que uma viagem bem preparada pode te levar a qualquer canto deste planeta.


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PRAZER


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Tudo estĂĄ disponĂ­vel para quem tem olhos para ver...


PRAZER

Café

de fazenda 56 |

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em fazenda de café Por Paula Diniz | Fotos Érico Hiller Relatos da doce experiência proporcionada pelo café gourmet produzido em uma centenária fazenda paulista, nos contrafortes da Serra da Mantiqueira. Da colheita à degustação, cada etapa é um convite à vida no campo e suas delícias


Uma grande variedade de pássaros enfeita o céu quase sempre azul: urubu-rei, canário da terra, piçarra, tucano, siriema.

História da Fazenda Ao longo do tempo a Fazenda teve diversos proprietários, enfrentou as várias crises da cafeicultura brasileira e sofreu deterioração de suas benfeitorias, até ser adquirida pela família Aranha Barbosa em novembro de 1979. A família iniciou um trabalho de restauro do patrimônio histórico, incluindo todas as instalações de produção do café, e introduziu novas técnicas de cultivo. Foram plantadas 300 mil mudas da espécie Coffea arabica, buscando aprimorar a produção cafeeira, que se mantém ativa até hoje. As casas da colônia preservam as características da arquitetura original e são habitadas por dezessete famílias que trabalham na Fazenda, como a de Marcondes Santos, guia turístico. Foi ele quem nos recebeu e guiou por toda propriedade.

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Os cafezais ficam em áreas geográficas favoráveis à produção de cafés especiais e orgânicos. As terras altas, entre 840 e 1.200 metros de altitude, garantem características únicas de corpo e aroma à bebida. Toda plantação é da espécie Coffea arabica — que rende um café suave —, com variedades como Mundo Novo, Catuaí, Bourbon, entre outros. Nos 110 hectares de lavoura cafeeira são usados métodos da agricultura sustentável.

Também vivem por aqui alguns mamíferos como veado-mateiro, paca, capivara, jaguatiricas, onça-parda e outros.

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Fundada em 1860 para a cultura cafeeira, a Fazenda Águas Claras é uma importante propriedade rural do estado de São Paulo e da cafeicultura atual. Localizada a cem quilômetros de Campinas, seus 354 hectares abrangem os municípios de Itapira e Serra Negra. Essa “senhora” fazenda é um patrimônio histórico que funciona a todo vapor sem perder o charme. Adepta do turismo rural, sua hospedaria recebe pessoas em busca de sossego, lazer e boa comida caseira.


PRAZER

“A gente que toma café não sabe o trabalho que dá até ele chegar na xícara.” Nem diga, Marcondes! É isso mesmo que viemos descobrir aqui. Mostra pra gente o trabalho que dá produzir o cafezinho nosso da cada dia.

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Assim começa nossa aventura num 4×4 militar pelas serras, vales e cafezais de Águas Claras. Quase um safári, como dizem por aqui, só que bem mais íngreme e com menos animais selvagens à vista. Que bom! Quatro hóspedes de Piracicaba dividem o jipe comigo e com o Érico, fotógrafo. Fabrício e Luciana Pacello, empresários do ramo gastronômico, estão hospedados aqui pela quinta vez, agora com os amigos Paulo e Sandra Kishi. Enquanto seguimos rumo ao cafezal, Fabrício nos dá um panorama de onde estamos. “Aqui não é hotel de luxo nem hotel fazenda. É fazenda de verdade em pleno funcionamento. Para os hóspedes, além da


Primeira parada: cafezal A colheita é feita todo ano entre maio e setembro. O cafezal fica movimentadíssimo! No terreno que visitamos, cerca de trinta pessoas trabalham na colheita artesanal do café Catuaí. Manualmente, os turneiros, funcionários que trabalham em turnos, puxam os frutos com as duas mãos. Vez ou outra aparece uma taturana ou um inseto incomodado com o despejo e... benditas luvas! Tem turneiro precavido que usa duas em cada mão.

Marisa trabalha no cafezal há um mês. Com a peneira, ela joga o café para o alto contra o vento, que leva as folhas e deixa os frutos. O turneiro Antônio Borges Sobrinho garante: “Esse é um café de qualidade. Vermelho, graúdo”. É o famoso café cereja. Doce que só ele, comi uns dez. O gosto lembrou os coquinhos amarelos de palmeira que comia quando criança no interior. Se bem produzido e preparado, o café cereja dá bebida de ótima qualidade, que dispensa açúcar e afaga o paladar. Partimos do cafezal rumo ao Mirante, ponto mais alto da Fazenda. De lá, avistamos uma densa floresta ao lado de um antigo cafezal que, aposentado, pouco a pouco se reintegra aos 120 hectares de floresta preservada — um terço da área total da propriedade.

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Visitamos todo complexo de produção cafeeira e conhecemos, etapa por etapa, o trabalho por trás do café gourmet. Preparo, colheita, lavagem, secagem no terreiro, armazenamento, benefício, torrefação e, finalmente, a degustação.

Enquanto os pés de café ficam “pelados”, as lonas brancas que forram o solo vão ganhando mais cor com os cadentes frutos vermelhos, que são mais doces, e amarelos e verdes, mais ácidos.

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visita às áreas de produção, tem cachoeiras, caminhadas, trilhas na Mata Atlântica, bicicleta, jipe, piscina, mirantes, rafting, boia-cross, cavalos, pescaria, charrete... Eles deixam a gente bem à vontade. Fico até de pijama na sala da casa-sede.”


PRAZER 60 |

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Terreirão Construída no século 19, toda estrutura de produção da Fazenda foi mantida. Perto da casa-sede fica o terreiro de secagem, onde o café toma seu banho de sol por três ou quatro dias. A secagem lenta ao sol evita fermentações indesejadas e fixa o açúcar do fruto no grão. O aroma que paira no terreirão é forte, um cheiro fermentado doce. Depois de secos, os grãos seguem para tulhas de madeira, que são galpões antigos e escuros onde o café é armazenado. Em seguida eles vão para beneficiamento, feito em máquinas que removem a casca, limpam os grãos e fazem sua classificação simples. A próxima etapa é a torra, que dá identidade ao café. Os grãos

daqui são vendidos crus para os clientes, que torram e colocam a marca. A torradeira da Fazenda é pequena, comporta apenas quatro quilos de café, é usada somente para consumo dos hóspedes e funcionários. A torra da marca Fazenda Águas Claras é feita em Espírito Santo do Pinhal, cidade vizinha. Como vemos, o processo é longo, bruto e trabalhoso mesmo, hein, Marcondes?! Humm, a degustação… Café gourmet é o nome dado à bebida e aos grãos do café de qualidade superior (especial). Sua apreciação e qualificação é feita por profissionais treinados, os baristas.


Na primeira degustação do dia provei o Café Especial Fazenda Águas Claras tipo Gourmet. Os grãos têm cor e um suave aroma de chocolate. Depois de torrado, moído e preparado em máquina italiana, o cheiro da bebida fresca se espalha pelo ambiente. Ao provar o café, sinto seu aroma acentuado com notas de chocolate. O corpo e a acidez são equilibrados. Bom!

Culinária rural brasileira Hora do almoço! O chef Isaías de Souza, também barista, pilota o fogão à lenha de onde saem pratos caseiros saborosos preparados com ingredientes fresquinhos produzidos na Fazenda.

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A produção dos Cafés Especiais da Fazenda segue critérios rigorosos para exportação. No Brasil, podem ser encontrados em restaurantes, empórios, empresas ou encomendados pelo site da Fazenda.

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O retrogosto — sabor residual que fica na boca — é uma das notas principais de um café especial. Para mim, o sabor que ficou dessa prova foi assim... suave, macio. Sensação agradável. “O café de alta qualidade é suave, com pouca acidez, muito sabor e doçura natural”, explica Marcondes. Algo raro, dessa vez não senti vontade de beber água em seguida. Esse é o café gourmet!


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PRAZER


Para nós, foi servido um suculento filé mignon no ponto perfeito da maciez! De sobremesa, pudim de café e doce de leite com cravo e canela, ambos deliciosos! Logo após o almoço, da casa-sede sentimos um cheiro que lembra... pipoca doce? Não. Era Marcondes torrando e moendo grãos “graúdos” para o café da tarde. E lá fomos nós espiar... O café torrado têm aroma de... “caramelo”, definiu Érico, fotografando os grãos ainda quentes. “O ponto da torra é fundamental.

Enquanto isso, na cozinha... Isaías dá dicas de barista para o preparo de um bom café: “Escolha um café de qualidade com data de fabricação recente. O ideal é café em grão embalado a vácuo. Moa o café só na hora do preparo. Use coador de pano. A água não pode estar tão quente, evaporando, se não, queima o pó. Quando a água esquenta e as primeiras bolhinhas aparecem, já é hora de despejá-la. Ah, e nunca mexa a água no pó! Café requentado, jamais! Beba até no máximo quinze minutos depois de passado. Evite garrafas térmicas — café parado perde o sabor. Para espresso, as máquinas italianas são as melhores, mas tem que

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São quatro refeições diárias nos restaurantes da casa-sede e na churrasqueira à beira da piscina, onde almoçamos. O menu varia conforme o clima e a época do ano. Frango na palha, tutu à mineira e leitão à pururuca são algumas das especialidades.

A cor do grão não pode passar do tom de chocolate. Se passar, a bebida amarga na boca”, explica Marcondes. Guia turístico da Fazenda há três anos, ele já percebeu: quando as pessoas conhecem o processo de produção, passam a tomar o café de outra forma. Depois desta visita, minha relação com a bebida com certeza não será mais a mesma.

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Além do café, a Fazenda tem culturas temporárias de milho e feijão, pecuária de corte e leiteira, e cultivo de frutas e verduras orgânicas para abastecimento interno.


PRAZER saber tirar o café”. E finaliza: “Café gostoso dispensa açúcar e adoçantes, que mascaram o sabor, escondem defeitos e comprometem a qualidade da bebida”. Opa, opa! O hóspede discorda: “Coloco uma colher de açúcar porque gosto da combinação amargo-doce. Não acho que seja uma heresia, como gelo no vinho ou guaraná no whisky”, defende Fabrício. Um brinde à diversidade de gostos e opiniões!

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Café com prosa E lá vamos nós para o café da tarde. A postos em uma robusta mesa redonda de madeira no restaurante da casa-sede, eu e os quatro hóspedes papeamos enquanto o café, recém torrado e moído, é passado logo ali, no fogão a lenha. Um cheiro delicioso toma conta do ambiente. Falamos sobre nossa relação com o café — a bebida preparada mais consumida no mundo — sem tirar os olhos de Isaías, que

nos serve um café fresquinho em xícaras antigas de ferro esmaltado. Nada poderia ser mais ”fazenda”! Comparsas do café gourmet No Brasil, maior produtor mundial de café, a bebida costuma vir acompanhada de petit fours, frutas secas, chocolatinhos, castanhas, mini pão de queijo, mini brigadeiro, mini petit gateau e outras gostosuras. Aqui na Fazenda, um saboroso bolo de laranja fez a harmonização com nosso café gourmet. Eu e o café, o café e eu Entre uma xícara e outra, o papo flui. O café motiva encontros e seu preparo mais parece um ritual. Ao estimular os sentidos, a bebida desperta lembranças e associações tão subjetivas quanto variadas. Para Fabrício, café lembra família, amigos, aconchego, algo muito social. Já sua esposa, Luciana, sente o oposto: “Café para mim é privacidade, meu momento de relaxar


Há pouco tempo ninguém falava em café premium (de grãos selecionados) no Brasil, lembra Fabrício, pesquisador e amante da bebida. “O boom das máquinas domésticas de espresso não tem mais de dez anos. Antes, era o cafezão comum de coador e boa! Mas houve uma mudança no perfil do consumidor de café de supermercado, na forma de pensar em café. Antes, qualquer marca estava ok. Depois, o padrão passou a ser importante. A partir daí veio a valorização de sabores, marcas e características mais específicas da bebida.” A qualidade do café melhora junto com o paladar e nível de exigência de seus apreciadores. “Dá para fazer um paralelo com

Polêmicas à parte, assim era a bebida para Voltaire, intelectual iluminista francês que já no século 17 regava a café seus escritos de filosofia. E quando alguém dizia que café era veneno, ele, irônico, rebatia: “Veneno lento, sem dúvida, pois há cinquenta anos que o bebo sem que tenha produzido efeito”. Voltaire morreu aos 83 anos. Serviço:

A embalagem de 500 gramas do café tipo gourmet da Fazenda Águas Claras (o que provei) custa R$ 19,00. Site: www.fazendaaguasclaras.com.br

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Café do bom, por favor!

o vinho. Conforme fui conhecendo o mundo do café, fui ficando mais exigente nas minhas escolhas”, diz Paulo.

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e me preparar para uma tarefa”. Paulo tem referências mais business: trabalho, reuniões e negócios. “Brasil!”, diz Sandra, que considera o café algo muito nosso.


PRAZER

Kimi Nii

Razão poética ou a poesia da razão

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Por Ana Augusta Rocha | Fotos Eduardo Sardinha


Foi assim que a vi e senti na tranquilidade de seu atelier no Morro do Querosene, em São Paulo, reduto de vários artista da cidade: firmemente maleável.

Kimi conta que chegou aqui e achou tudo errado. Tão diferente do Japão. Está certo que ela gostava dos beijos e da afetuosidade, incorporados tropicalmente pela família de cá, mas não gostava da falta de ordem da urbe tropical. A menina reclamava muito do novo país, até que um dia alguém colocou limites, definitivamente: “Se você não gosta daqui, volta para o Japão”. Nesse momento ela se curvou ao Brasil e nessa reverência pode ver a beleza que não estava se permitindo olhar. “O Brasil é essencialmente permissão e isso é cheio de qualidades e generosidades. Hoje, toda vez que vou ao Japão me sinto, depois de um tempo, tensa com tudo que tem de estar correto e impecável, a cada instante.”

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Kimi Nii é designer industrial por formação, logo, busca o design multiplicado, e é ao mesmo tempo artista plástica de peças únicas e exposições internacionais. Kimi Nii é, ela mesma, uma delgada haste de bambu. Ora inclinada ao que se pode multiplicar, ora curvada ao único. Nunca longe de si mesma.

Kimi Nii, Kimi Nii: a sonoridade do nome lembra o bambuzal ao vento que é sua vida. No Japão, onde nasceu, seu nome evoca árvores (ki) e beleza (mi). Nii quer dizer o estar humano. Tinha nove anos quando veio morar no Brasil com os pais. Nascida em Hiroshima, no pós-guerra (1947), sua mãe era brasileira descendente de japoneses e o pai japonês. O Brasil era uma nova chance para eles.

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O bambu é a melhor metáfora para falarmos sobre flexibilidade. Sobre o se dobrar em muitas direções, e ao mesmo tempo fazê-lo com graça infinita, para, no final, voltar ao próprio centro. Não é à toa que a artista e designer japonesa Kimi Nii tantas vezes tenha aludido ao bambu em sua obra cerâmica, e de muita formas: em suas colunas que buscam o alto e que ela monta como bosques, desalinhadas; nos encaixes de algumas peças, lembrando a junção entre os colmos da planta; como força que nasce e se desdobra, quando uma peça sai de dentro da outra, parecendo brotar.


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No entanto, a meu ver, Kimi traz a impecabilidade em cada peça. Nas pequenas, nas grandes ou nas imensas... Seu trabalho intriga os olhos, que esperam do barro a natural imperfeição — e não a encontram. As esculturas, vasos e utilitários cintilam na exata medida, com esmaltação perfeita, proporção acurada. Fica contido o desejo de tocar, como se o gesto pudesse tirar toda essa harmonia. São peças para mergulhar o olhar, contemplar, meditar. “Quando faço uma peça e as pessoas perguntam qual meu processo criativo, lembro muito de Tomie Ohtake... Ela diz assim: ‘Ah... primeiro coloco o azul, depois o branco... eu sei pintar, e não falar...’.” Kimi Nii sorri, se identifica com Tomie, algo muito além das mesmas raízes culturais, uma comunhão no modo de olhar e se expressar. Ambas sem exageros nos gestos, a beleza da contenção em limites perfeitamente estéticos e que impulsionam o espectador para dentro. “Meu trabalho não precisa de uma bula para entender”, a ceramista completa. A carreira de artista começou em 1979, quando parou por um ano a profissão de designer gráfica que tinha assumido depois de se formar na FAAP. “Estava grávida de meu terceiro filho, queria dar uma parada. Eu tinha uma casa com quintal onde batia muito sol para secar as peças e havia um porão onde trabalhar. Ali


Com o passar do tempo, as formas ditadas um pouco mais pela razão foram dando lugar a peças inspiradas na natureza

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A Escola Bauhaus não foi sua única inspiração. O nipo-americano Isamu Noguchi também foi referência forte, ele mesmo artista e designer, famoso tanto por suas esculturas quanto por seu desenho de mobiliário, principalmente para a norte-americana Hermann-Müller, gigante produtora de móveis de escritório.

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nasceram os primeiros desenhos e protótipos inspirados na escola Bauhaus: geométricos, funcionais, estéticos. Como designer, perfeitamente imbuída da necessidade da forma encontrar a função, eu criava. Algumas peças daquele tempo tenho até hoje em meu catálogo.” Kimi Nii nasceu para o cenário artístico ceramista com este diferencial do design. “Naquela época todos faziam uma cerâmica mais antiga, com cara de artesanato japonês, chinês ou americano, com desenhos nas superfícies...”


PRAZER 70 |

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brasileira: “a flora tropical foi minha fonte estética. Geométricas, perfeitas”, conta Kimi Nii. “Vejo as plantas como perfeitas. Observe uma helicônia, de formação bem geométrica e aritmética, ela têm uma inteligência em sua forma construtiva... isso sempre me encantou.” Da natureza também nasceu uma importante exposição exibida no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. “Donguri, donguri é uma música infantil japonesa que significa ‘avelãs rolando, rolando’”, conta Kimi. Com esse nome, Donguri, a mostra exibia 81 esculturas cuja forma cônica lembram as castanhas das montanhas japonesas, dos caminhos da infância da ceramista. Essas e outras inúmeras mostras, no Brasil e exterior, a colocaram no patamar de grande artista. “Sinto-me tranquila e realizada em relação à minha obra”, completa. Mas a busca continua. Apesar de tantos anos à frente de seu atelier de cerâmica, hoje a artista


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volta-se para o aprofundamento em novas técnicas de esmalte, um estudo sistematizado feito nos laboratórios do SENAI. “No Japão costumamos dizer que o trabalho que busca a perfeição é aquele que vive um material até suas últimas consequências. Isso é visível nas artes aplicadas japonesas, quando o artista/artesão vive para seu trabalho e tem uma importância quase que sagrada por fazer isso. Existe até um programa do governo chamado ‘Tesouro Nacional Vivo’, que enaltece e remunera aquela pessoa simplesmente por ela ser detentora e disseminadora daquela técnica e arte, que tem a ver com as mais profundas tradições japonesas”, explica. Nesse sentido, a volta para estudar é um mergulho ainda mais profundo de Kimi Nii em sua arte. A delicada haste de bambu se curvará novamente, trazendo para seu caminho um novo olhar.


PRAZER

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Deixar que o caminho se aposse de n贸s


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Rota 40, Patagônia

Sentir a força do vento; caminhar às margens de lagos que refletem vulcões nevados, de formas perfeitas; presenciar geleiras descomunais, que avançam e retrocedem; conhecer bosques verdejantes, que se petrificam. Esses são apenas alguns motivos que atraem milhares de pessoas todos os anos a essa terra indômita chamada Patagônia, tão presente no imaginário das pessoas Por André Dib

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Patagônia, dona de natureza colossal, já foi elencada pelo jornal inglês The Guardian como o lugar mais belo do mundo. Status discutível, diante de tanta diversidade no planeta. O que não se pode negar é que esse destino é, sem sombra de dúvida, a própria síntese da beleza. Na Patagônia, a vida pulsa sob uma transitória inquietude. A natureza, além de bela, é dura, rude, e os desastres naturais ainda são rotineiros. Percorrer esse caminho pode ter um sentido mais amplo. Além do próprio destino, que inspira deslumbramento, a hostilidade do lugar, seja pelo clima mutante ou pela geografia desafiadora, nos faz sentir todo o vigor da vida diante de nós.

Parque Nacional Lanin Seguindo a RN40, deixamos pra trás a região de Cuyo, para vencer a imensidão geográfica que sempre nos exige enormes deslocamentos, e ingressamos, enfim, na região da Patagônia. A primeira província é Neuquén e, logo nas primeiras curvas, a paisagem muda abruptamente e o vento sacode o carro com vigor. Nosso próximo destino seria a região dos lagos andinos. Optamos por San Martin de Los Andes como cidade base para explorar o Parque Nacional Lanin, que resguarda em seus limites, além de bosques de alerces, cascatas, rios, montanhas e geleiras, o lendário vulcão Lanin. O vulcão é o


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mais alto e majestoso da região e exerce um fascínio difícil de explicar. O parque foi criado em 1937 e possui excelente infraestrutura. Restaurantes, hotéis e cabanas de serviços oferecem algum conforto aos visitantes. Os mais de 400 mil hectares são um convite a uma infinidade de atividades ao ar livre, entre elas, canoagem, mountain bike, trekking, pesca e montanhismo. Às margens dos lagos Huechulafquen, Lácar, Paimún, Curruhue e Lolog, que são alimentados pelas geleiras, existem várias trilhas, de todos os níveis técnico, para caminhantes despreparados e até mesmo para trekkers mais experientes.

mas inesquecível. São dois dias de empreitada. Para isso, é preciso pagar uma permissão especial, possuir equipamentos de escalada em gelo e estar, necessariamente, acompanhado de um guia de montanha. Os poucos aventureiros que conseguem chegar ao cume da montanha, em dias claros, são contemplados com a extasiante vista de sete vulcões nevados, entre o Chile e a Argentina, entremeados por lagos que, vistos do alto, possuem cores ainda mais exuberantes.

Apesar da diversidade natural, e das dimensões colossais do parque, o vulcão de formas perfeitas ainda é o protagonista principal. Com 3747 metros, nos dá a exata dimensão da nossa pequenez diante do mundo e da natureza a nossa volta. Conhecer toda a grandeza do Lanin, do alto, é uma experiência cansativa,

Às margens do lago Lácar, San Martin de los Andes traz em sua arquitetura a típica cidade alpina. A cidade é formada por chalés de madeira e cabanas rústicas, mas tudo com certo requinte. No verão, os jovens transitam em trajes de banho, embalados pelo som do momento. Butiques de grife, restaurantes finos e

Lagos andinos


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nevadas e lagos de todas as cores. Essa estrada é uma versão meridional da lendária estrada canadense Icefields Park. É ali que se encontra outra grande riqueza da Patagônia, a pesca, fazendo desse trecho o verdadeiro paraíso dos praticantes flyfishing. No caminho, passamos pela charmosa Villa la Angustura, rodeada pelos lagos Correntoso e Nahuel Huapi. A pequena cidade argentina também tem dois períodos de alta temporada: lindas praias no verão e muitos turistas em busca de esportes de montanha no inverno. Sua população, que é de 15 mil habitan-

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cafés também compõem o cenário, além das agências de turismo, que oferecem atividades para o ano todo. O lago possui belas praias, que são um convite nos dias mais quentes a um banho ou à prática de esportes náuticos. No inverno, a cidade fica tomada por praticantes de esqui em busca das montanhas nevadas ao redor do município. É em San Martin que se ramifica um dos trechos da Rota 40, e um deles, o mais belo, ganha o nome de “Rota dos Sete Lagos”. Trata-se de um caminho tortuoso, que vai contornando bosques verdejantes, montanhas


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tes, se multiplica nas temporadas. Seguindo viagem, pastagens e ovelhas surgem em meio a bosques de alerces, cortados pela RN40, até chegarmos ao ponto final da “Rota dos Sete Lagos”, a cidade de San Carlos de Bariloche.

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Parque Nacional Nahuel Huapi Essa parte mais popular da Patagônia, a meio caminho entre a capital nacional do vinho, Mendoza, e as geleiras do extremo sul, é invadida no inverno por brasileiros em busca das aulas de esqui, do fondue ou de um bom vinho em frente à lareira. No verão, os europeus tomam conta de Bariloche, atraídos por uma infinidade de trilhas, pelas montanhas e bosques. As mais conhecidas estão dentro do Parque Nacional Nahul Huapi, que possui vários acessos. Em todo eles é possível acessar as mais famosas paisagens patagônicas. As trilhas são bem sinalizadas e os mapas distribuídos nas entradas do parque oferecem vários roteiros. Aos mais experientes, recomenda-se a subida ao refúgio Otto Melling, usado por escaladores como ponto de apoio para ir ao Cerro Tronador. A Cabana, de aspecto acolhedor, serve chá quente, tortas e algumas guloseimas, e está pronta para devolver o ânimo aos caminhantes inveterados, que têm que encarar mais de quatro horas de caminhadas para esse roteiro. Contudo, impressionante mesmo é o próprio Tronador, que exibe seus cumes, sendo um argentino, um chileno e um terceiro que delimita a fronteira dos dois países. O gigante pode ser avistado de muito longe. Ao redor do vulcão encontram-se oito geleiras e glaciares, que avançam e despencam pelos flancos


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da montanha, originando ruídos que ecoam pelos vales. Esses estrondos foram responsável pelo seu nome. Nos campos limpos de Pampa Linda, se pode notar as pedras lançadas pelo vulcão, a muitos quilômetros. Algumas delas, com mais de uma tonelada, testemunham a força de um fenômeno como este. Apesar de ser geologicamente ativo, estima-se que sua última erupção já ultrapasse os 10 mil anos. Toda essa calmaria, entretanto, não condiz com a evolução geológica dos Andes, que não muito raro faz a terra tremer, e os desastres naturais ainda são rotineiros. Esses picos intempestivos tem deixado a população sempre em alerta. Em junho de 2011, o vulcão chileno Puyehue, na fronteira, mostrou toda sua fúria. Segundo José Ballenas, gerente de um hotel de luxo em Bariloche, o dia virou noite, e a escuridão tomou conta da cidade por três dias. O fenômeno provocou o cancelamento de todos os voos, por vários dias, e todas as estradas de acesso também foram fechadas, por conta da espessa camada de cinzas, deixando Bariloche isolada. Isso representou uma queda de 83% no turismo daquela temporada. A nuvem negra também se espalhou com muita rapidez, tingindo os céus de Buenos Aires e fechando os aeroportos da capital


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Apesar de sua altitude, relativamente modesta, em comparação aos gigantes andinos, seus paredões vertiginoso, de granito, se espicham por quilômetros, verticalmente, representando um dos maiores desafios do mundo à escalada de grandes paredes, e já vitimou uma infinidade de escaladores que ousaram desafiar esse ícone do montanhismo mundial. Em 2011 foi a vez do presidente da Federação de Montanhismo do Rio de Janeiro, o experiente Bernardo Colares, que sucumbiu diante das paredes infindáveis do Fitz. Além das questões técnicas, exigidas

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O odômetro indicava mais de sete mil quilômetros rodados e, pelos cálculos, ainda faltavam nove mil. Por isso deixamos logo pra trás a região dos lagos, rumando para o sul em busca dos grandes glaciares, onde se assenta uma das maiores massas de gelo continental do planeta. Cruzar a Patagônia de carro não é tarefa tão simples. Exige enormes deslocamentos em terras isoladas, onde a logística do combustível deve ser minuciosamente calculada. Não precisamos carregar combustível extra, mas, por vezes, chegamos aos postos de abastecimentos com

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Parque Nacional Los Glaciares

apenas algumas gotas no tanque. Pouco mais de 1300 quilômetros vencidos, nesse trecho, e já chegando em El Chaltén, avistamos o verdejante lago Viedma, alimentado por um grande glaciar, e, ao fundo, um dos símbolos máximos da Patagônia, o onipresente Cerro Fitz Roy. É muito difícil ver a capa de um livro de fotos ou de um cartão postal da região em que não figure a montanha, imponente, ao fundo. Enxergar as silhuetas desses enormes pontões de granito, para mim, que já sonhei por tantos anos com essas paragens, é algo emocionante e até difícil de explicar.

portenha, a 1600 quilômetros de distância. A população, porém, já se acostumou com a natureza instável e convive em harmonia nesse universo de humor inconstante. Desmedidos, imponentes, temidos e belos. Responsáveis por grandes tragédias, os vulcões ainda instigam nossa imaginação e nos lançam em nossa perplexidade. Sua força excessiva e descomunal nos lembra o quanto somos ínfimos diante das forças naturais do planeta.


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numa escalada dessa magnitude, o grau de dificuldade aumenta significativamente por conta da instabilidade do tempo, que ocorre nessa porção meridional da cordilheira por quase todo o ano. Além do Fitz, outras agulhas rochosas também compõe o cenário, entre elas o Cerro Torre, e as Agulhas Poincenot, que também instigam os melhores escaladores do planeta. O mais comum, porém, é chegar e não avistar absolutamente nada. Devido às intempéries do clima e dos célebres ventos patagônicos, o conjunto montanhoso está quase sempre encoberto pelas nuvens. Com um tanto de sorte, se pode avistar a montanha, que quando é atingida pelos primeiros raios de sol, ao amanhecer, vai ganhando um aspecto avermelhado, que vai aumentando gradativamente, até atingir a saturação máxima em um vermelho muito intenso, vivo e profundo. Talvez seja essa a imagem, de toda a viagem, que mais nos impressionou. Em uma das versões, esse espetáculo singular justifica o nome indígena da cidade, que no dialeto tehuelche, dos habitantes primitivos,

significa montanha de fogo. Ao presenciar o fenômeno, deu pra imaginar o que esses povos sentiam diante da montanha. A cadeia montanhosa está no setor norte do Parque Nacional Los Glaciares, lado mais selvagem e intocado e que, justamente por esse motivo, ainda não foi contaminado pelo turismo de massa. A cidade é conhecida como a capital nacional do trekking e vive exclusivamente dos serviços aos turistas e aventureiros. Entre eles, um número cada vez maior de brasileiros, atraídos pela diferença dessa geografia e pelo cenário exótico desse pedaço exclusivo da cordilheira. Das ruas da cidade se acessa uma infinidade de trilhas, que na maioria das vezes leva para a base dos mirantes e lagos, com as montanhas, em questão. Algumas trilhas necessitam de preparo e equipamentos adequados. Outra experiência peculiar é buscar uma operadora que ofereça trekking no gelo, pelos glaciares que contornam as montanhas. As agências oferecem pacotes completos, com guias, transporte até o glaciar, alimentação e todo o equipamento necessário para


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a empreitada. Apesar de tudo conspirar para a aventura, o destino também dispõe de roteiros mais leves, e não menos contemplativos, como a Laguna del Desierto, há poucos quilômetros de carro. As florestas frias, como os glaciares são chamados pelos argentinos, resguardam uma riqueza biológica incalculável. Entre as espécies de animais ali encontradas, destacase o huemul, um tipo de cervo que tenta escapar da extinção. A cidade conta também com pousadas confortáveis, bares, lojas com as melhores marcas de equipamentos de montanhismo, e excelentes restaurantes, que têm como especialidades a verdadeira “trucha a la plancha” ou o típico cordeiro patagônico.

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Depois de 25 dias margeando a cordilheira dos Andes, a Rota 40 dá uma guinada a leste, e nos coloca em direção ao seu final, à beira do oceano Atlântico, e todos os cenários montanhosos desaparecem. Uma das características mais peculiares da patagônia argentina é justamente essa, duas regiões distintas: a Patagônia Andina, que é úmida e montanhosa, sempre perme-

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A duzentos quilômetros ao sul de Chaltén, encontra-se a charmosa cidade de El Calafate, às margens do lago Argentino. Além da agradável arquitetura, dos melhores restaurantes do sul do país e das opções de hospedagem de alto padrão, o destino serve como base para se conhecer a parte sul do Parque Nacional Los Glaciares, que resguarda um dos grandes patrimônios naturais da humanidade, o glaciar Perito Moreno, que atrai milhares de turistas de todo o mundo. Essa imensa massa de gelo, que se debruça sobre o lago Argentino, faz com que o parque seja o mais frequentado de todo o país. O glaciar é proveniente dos Campos de Gelo Sul, que é a terceira maior calota de gelo continental da terra e que se estende por 16.800 km2, entre o Chile e a Argentina. Nos limites do parque existem mais de trezentos glaciares, e o Perito Moreno não é o maior deles, status defendido pelo glaciar Upsala. O que atrai esse enorme número de visitantes, que se apinham nos quilômetros de passarelas dispostas diante do paredão branco azulado, é o espetáculo da ruptura de enormes blocos de gelo, que despencam de mais sessenta metros de altura nas águas geladas do lago e ressoam por quilômetros. Além do visual que impressiona, estar diante das geleiras é uma experiência, sobretudo, sensorial.


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ando a cordilheira, e a outra, conhecida como Patagônia Atlântica, que tem como características o relevo plano e a escassez de chuvas, possuindo uma fauna marinha farta e impressionante. Baleias, orcas, elefantes e lobos marinhos, além de uma infinidade de pássaros migratórios e pinguins, são sempre avistados ao longo do ano. Entre uma e outra, correm os últimos trezentos quilômetros da estrada mais longa e esplendorosa do país. Nesse trecho, percorremos as estepes patagônias, nos limites meridionais do planeta, e a rota chega a bordear o enigmático Estreito de Magalhães. Esse braço de mar, nem tão estreito como o nome sugere, é uma passagem que liga o Atlântico ao Pacífico, cortando o continente, e foi descoberto em 1520 pelo navegador português Fernão de Magalhães, marcando, com essa viagem, a primeira circunavegação do globo terrestre. Nessa passagem, o navegador chamou as terras à sua esquerda de Terra do Fogo e as da direita de Patagônia. Em uma das versões, a palavra

“patagônia” se refere ao primeiro encontro de Magalhães com os nativos, que segundo o relatos do próprio desbravador português, eram gigantes e foram chamados de “patagons”, em referência aos pés enormes, cobertos com pele de animal. Passamos pela cidade de Rio Gallegos e partimos ansiosamente para a Reserva Natural de Cabo Virgenes, onde o estreito encontra o oceano Atlântico, marcando o final da Rota Nacional 40. Chegamos ali, às margens do oceano, por volta das 22h30, e o sol ainda brilhava. Nessa latitude, no verão, o sol perdura por cerca de dezessete horas, e é comum curtir um pôr do sol pouco antes da meia noite. Avistamos, nas praias de cascalho branco, cerca de 250 mil pinguins magalhânicos buscando um lugar para a desova, enquanto o vento impetuoso marcava toda a inquietude da região patagônica. Com o sabor do dever cumprido, ainda tínhamos o retorno pra casa. Mas essa já é uma outra história.




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