EDITORIAL
Caro leitor, Já adianto aqui, em primeira mão: em novembro tem lançamento da BMW, o Série 3 GT, um confortável e espaçoso coupé esportivo que tem tudo para ser um sucesso. Aguarde! Também gostaria de reforçar alguns pontos em que estamos trabalhando intensamente, com base em nossa vocação de oferecer serviços tão qualificados quanto as marcas que comercializamos. A Eurobike Fleet Services: é a nova empresa do Grupo, que oferece o serviço de terceirização de frotas para executivos e empresas – locação premium com a qualidade Eurobike. A nossa operação de seminovos também está repleta de novidades. Estamos lançando um novo processo de revisão: são mais de cinquenta itens checados antes dos veículos serem colocados à venda, seguindo padrões internacionais de excelência. O processo minucioso de revisão nos permite oferecer o dobro do tempo de garantia comparado à média de mercado. São seis meses de tranquilidade para o cliente. Aguardem a nova sessão de seminovos no nosso site! Esta edição traz temas bastante interessantes. O melhoramento genético bovino como meio de aumentar a produtividade sem demandar mais espaço. O design que virou arte ou a arte que se confunde com o design – novos usos para velhos e conhecidos objetos. O novo F Type, o carro que fez renascer a esportividade da Jaguar. E a qualidade de vida que se experimenta em Bali, só para mudar um pouco de ares.
Boa leitura.
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Um grande abraço, Henry Visconde Presidente magazine@eurobike.com.br
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COLABORADORES
Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias Audi, BMW, Chrysler, Dodge, Jaguar, Jeep, Land Rover, MINI, Porsche, Triumph e Volvo. 1
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Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600, CEP 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobikemagazine.com.br contato@eurobikemagazine.com.br
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Ouvidoria www.eurobike.com.br/ouvidoria (11) 3474 7930
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Editorial: Eduardo R. da C. Rocha, Heloisa C. M. Vasconcellos Direção de arte: Eduardo R. da C. Rocha Assistência de arte e finalização: Rafael Cury Caprecci Coordenação e produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Nelson Martins
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Publicidade: custom media - eduardo@cmedia.com.br Preparação e revisão: Denis Araki
1 Ana Augusta Rocha, 2 Camila Fróis,
Produção: custom media
5 Fernando Angeoletto, 6 Kriz Knack,
Tiragem desta edição: 10.800 exemplares
3 Carol Da Riva, 4 Eduardo Petta,
7 Marcelo Curia, 8 Maura Campanili, 9 Percy Faro, 10 Veronica Manevy
Impressão: Pancrom Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
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Auditado pela BDO
CONTEÚDO
# 25 09 | 10 | 11 2013
8 | razão 10 | Eficiência tipo exportação 18 | Road Show em Gramado
20 | emoção 22 | F-Type
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34 | O pulo do gato 36 | Augusto Farfus 40 | British made, mas montado no Brasil
48 | prazer 50 | Meia-noite em Havana 60 | Design art. O quĂŞ? 70 | Achados e imperdĂveis
72 | devaneio
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74 | Bali ĂŠ puro luxo
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RAZテグ
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Buscar no mínimo soluções para o macro
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Eficiência tipo exportação
A primeira impressão que fica para quem conhece a pesquisadora e empresária Andrea Cristina Basso é o entusiasmo pelo que faz. Aos 39 anos, mas aparentando muito menos, a diretora de produção da In Vitro Brasil — maior empresa mundial na produção e transferência de embriões bovinos — acredita que a tecnologia de ponta é o melhor caminho para aumentar a produtividade da pecuária leiteira e de corte no Brasil. E trabalha incansavelmente para tornar o melhoramento genético através dessa técnica cada vez mais eficiente e acessível para os produtores
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Por Maura Campanili | Fotos Veronica Manevy
RAZÃO
Paulista de Barretos, cidade conhecida por seus grandiosos rodeios, Andrea cresceu apaixonada por bois, principalmente os bezerros, cujo desenvolvimento acompanhava no sítio do pai. Adorava vê-los nascer e crescer e, ainda muito cedo, procurava, nos livros de biologia, informações sobre reprodução e embriões. Ao entrar no curso de veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Jaboticabal) sabia exatamente para onde direcionar seus estudos. “As pesquisas sobre reprodução no país começaram a se sofisticar durante meu curso de graduação, mas não existia essa especialidade comercialmente”, disse. Por isso, quando terminou o curso, no final dos anos 1990, optou por fazer mestrado no Departamento de Reprodução Animal da Universidade de São Paulo (USP), que emendou com o doutorado, já na área de embriões. A possibilidade de aplicação da técnica de fertilização in vitro (FIV) comercialmente iniciou a se desenvolver nesse período. Andrea Basso, junto com algumas amigas, chegou a desenhar um projeto para abrir um laboratório que mostraria essa possibilidade aos pecuaristas e o apresentou a um grupo italiano. Mas era uma empreitada muito cara e ousada para garotas de vinte e poucos anos e não prosperou. O sonho de ter uma empresa teve que ser adiado.
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Os novos laboratórios, criados a partir do início dos anos 2000, eram voltados para animais de elite, principalmente da Raça Nelore. O objetivo era otimizar a produção de bezerros a partir de vacas campeãs. Enquanto pelos métodos naturais uma vaca tem um filhote por ano, com a FIV, uma mesma doadora pode produzir um bezerro por semana por meio das receptoras. Essa eficiência, no entanto, foi conquistada ao longo do tempo, e a confiança dos produtores também. As pesquisas realizadas pelas universidades no país contribuíram muito e Andrea esteve envolvida nesse processo. Por isso, quando terminou o doutorado, foi contratada por uma dessas empresas, de São José do Rio Preto, onde trabalhou por um ano e meio. Em 2006 ficou sabendo que a In Vitro estava à procura de um responsável técnico para um novo laboratório. Criada em 2002, na Fazenda São Francisco, em Mogi Mirim, São Paulo, de propriedade do criador e empresário do Grupo BTG Pactual, Antonio Carlos Canto Porto Filho, em sociedade com o pesquisador José Henrique Fortes Pontes, a empresa, mesmo pequena, era reconhecida pela seriedade. Andrea se ofereceu para o cargo e foi contratada para tocar o pequeno laboratório que seria instalado em uma propriedade em Funilândia, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. O objetivo era produzir embriões de vacas de clientes que seriam gestados em receptoras — vacas comuns — na própria fazenda. “Assumi o laboratório e, na semana seguinte, já conseguimos uma produção excelente de embriões. Todos ficaram surpresos
e começaram a investir. No primeiro mês, produzimos a quantidade de embriões que planejaram”, disse Andrea. A veterinária conta que a produção de embriões é realizada a partir de uma vaca doadora e sêmen congelado escolhidos pelo cliente, normalmente a partir de touros europeus, canadenses ou norte-americanos, trazendo diversidade genética à pecuária brasileira. O principal produto da In Vitro, na verdade, são os meios de cultivo, produzidos no laboratório de Mogi Mirim e distribuídos para os demais, que garantem a qualidade dos embriões. Depois de quatro meses em Funilândia, Andrea foi convidada para assumir o laboratório de Mogi Mirim e para ser sócia da empresa. “Foi uma forma de valorizar o meu trabalho e trazer mais comprometimento”, disse. Era abril de 2007 e o desafio da veterinária era desenvolver a produção de meios de cultivo, que precisavam ganhar eficiência. Até então, essa produção era bem artesanal, realizada um pouco por dia, porque o material durava pouco tempo e não podia ser armazenado. Atualmente, é realizada uma vez por mês, o que maximiza a produção. Pulo do gato Com Andrea no laboratório, Pontes foi atrás de novos clientes e a empresa começou a crescer. Foram feitos investimentos em infraestrutura, com o aumento das instalações e contratação de pessoal. Até que receberam a proposta de uma indústria de laticínios para produzir 10 mil animais, que seriam distribuídos para produtores em sistema de integração, no qual a empresa fornece os bezerros para pequenos produtores e se compromete a comprar o produto, no caso, o leite. “Era um desafio enorme, pois para atender à encomenda precisávamos de 25 mil embriões, todos de fêmea da Raça Girolando (um cruzamento de gir, raça rústica e resistente, com holandês, mais sensível, mas com alta produção de leite), um animal super-resistente, que produz muito leite comendo a mesma quantidade de alimento e ideal para climas quentes, como o do Pará, onde ficava o projeto. Para tanto, precisávamos de doadoras, receptoras, uma fazenda para colocá-las, técnicos, e obter resultado. Assumimos o risco e, em dois anos, entregamos 9 mil bezerros. Foi nosso pulo do gato”, diz Andrea. A partir desse projeto, a empresa passou também a produzir seus próprios embriões e comercializá-los diretamente. Comprava tanto o sêmen congelado como os óvulos das doadoras, criando embriões que eram enviados para grandes fazendas do Pará. “Era uma operação grande e intensiva. Desenvolvemos várias técnicas que foram dando certo e aplicamos até hoje. Uma delas foi o congelamento de embriões produzidos in vitro, algo que não era eficiente até então e que passou a fazer parte do portfolio da empresa.”, diz Andrea. Antes disso, os
embriões que sobravam eram descartados, agora podem ser congelados para ser utilizados em trabalhos futuros. O desafio atual é adaptar a técnica às exigências internacionais para exportação.
res. “Com a FIV, escolhemos 10% dos melhores animais do rebanho e conseguimos dar um salto no melhoramento genético.”
Novo conceito
Segundo Andrea Basso, a utilização da fertilização in vitro é vantajosa não apenas economicamente, mas também colabora para a sustentabilidade. Com animais mais produtivos, há um aumento da produção de leite com a mesma quantidade de insumos, ou seja, vacas mais produtivas comendo a mesma coisa que as menos produtivas.
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Embora ainda menos popular, o processo é utilizado também para melhorar o rebanho de gado de corte, produzindo uma carne melhor, mais valorizada. Empregado basicamente em rebanhos nelores, o processo consiste em coletar óvulos das melhores vacas do rebanho e utilizar sêmens sexados (onde o sexo foi escolhido), produzindo um rebanho geneticamente melhor e com maioria de machos, que produzem mais carne por serem maio-
Mas se o investimento em tecnologia é uma questão de sobrevivência na produção leiteira, no caso da carne a adesão dos pecuaristas é um pouco mais difícil, por conta da alta disponibilidade de terras. Alguns proprietários, porém, têm percebido a vantagem de produzir mais sem a necessidade de aumentar a área de criação, o que deve se acelerar à medida que as restrições à expansão, sobretudo por questões ambientais, forem aumentando. “O país ainda tem muita terra, de modo geral subutilizada, tanto para a produção de leite quando para carne. Há entraves culturais a serem vencidos para que o produtor
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Segundo a diretora de produção da In Vitro, a empresa mudou o conceito da técnica de FIV. “Vimos que era possível não apenas produzir embriões para reproduzir um ou outro animal campeão, mas para melhorar o rebanho, produzir mais carne ou leite. Com a FIV, o produtor não precisa investir em grandes estruturas para produzir mais leite, mas apenas comprar embriões de alto padrão genético e fazer o melhoramento do seu rebanho.”
Sustentabilidade
RAZÃO enxergue onde vai ganhar com o investimento em melhoramento genético”, avalia Andrea.
primeiros 45 dias de operação, conseguimos mil embriões com média de prenhês de mais de 50%.”
Expansão
Responsável pela parte técnico-científica da operação, a empresária acredita que o grande segredo do sucesso da In Vitro é o controle de qualidade. “Hoje vemos que conseguimos chegar à melhor tecnologia mundial. A expressão internacional é a recompensa”, diz. Segundo dados da Sociedade Internacional de Transferência de Embriões (IETS), foram produzidos 410 mil embriões in vitro de gado no mundo em 2010, dos quais 325 mil (86%) na América do Sul, a grande maioria no Brasil. No período, a produção da In Vitro foi de 180 mil embriões, ou seja, mais de 40% da produção mundial, porcentagem que tem se mantido, segundo a diretora da empresa.
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O ganho de escala na In Vitro levou pequenas empresas do setor, que tinham dificuldade em manter resultados, a procurá-los em busca das novas tecnologias, que passaram a ser mais um produto oferecido. “Hoje, no Brasil, temos três laboratórios próprios: em Mogi Mirim; Uberaba, Minas Gerais; e em Xinguara, Pará, além de treze afiliados, para os quais vendemos os meios de cultivo que produzimos e suporte técnico, em um sistema de franquia. No exterior, temos laboratórios na África do Sul, Colômbia e Estados Unidos, mais oito franquias internacionais no México, Panamá, Austrália, África do Sul, Argentina, Uruguai e dois na Venezuela”, conta Andrea. Durante a realização desta entrevista, a empresa estava sendo visitada por um casal de produtores do Zimbábue. “O que marca nossa eficiência é o índice de prenhês. Esse índice era de 35% na FIV, mas hoje trabalhamos com quase 50%. De cada 100 embriões, 48 viram gestação”, diz Andrea. A veterinária conta que as portas do exterior foram abertas depois que conheceram, em uma feira internacional, uma pessoa envolvida em um projeto na Rússia que acreditou nos resultados da empresa. “Em 45 dias, tínhamos um laboratório naquele país com disponibilidade de 3 mil doadoras e 10 mil receptoras. Nos
Desde 2005, a In Vitro passou a investir também na clonagem de bovinos e completou a marca de 120 clones, também a maior do Brasil. Desde o ano passado, começou a trabalhar com equinos, produzindo até o momento três potros clonados, e começou as pesquisas com cachorros. Hoje, a empresa tornou-se uma sociedade anônima e incorporou novos sócios à operação, todos eles funcionários da In Vitro. Dos atuais oito sócios, quatro (entre eles a própria Andrea) moram na fazenda de Mogi Mirim. “É um lugar agradável e seguro. Vivemos para esta empresa”, diz Andrea, cuja família continua em Barretos.
“A emoção das mãos ao volante, sentir a potência do motor e a alegria nos seus olhos a cada curva...
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meu caminho é a tranquilidade.”
RAZÃO
Road
Show
EM GRAMADO
O Grupo Eurobike reuniu clientes e convidados para testarem os carros e motos mais desejados do mundo na primeira edição do Eurobike Road Show
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Cerca de trezentos convidados, entre clientes e amigos do Grupo Eurobike, estiveram presentes no Salão Super Carros, em Gramado, no Rio Grande do Sul. O encontro marcou a primeira edição do Eurobike Road Show, que disponibilizou os carros e motos mais desejados do mundo para test drive pela charmosa avenida das Hortênsias. Foi uma tarde de muita emoção a bordo de modelos premium, dando chance aos convidados de interagir com os carros, motos, marcas e o universo de experiências do Grupo. Para Andre Trad, coordenador de marketing, o Eurobike Road Show é um acontecimento de grande importância dentro do planejamento de eventos do Grupo. “A empresa é guiada por emoção,
Gustavo Mandelli, Nestor Perazzo, Lourenço Gauto e Adão Bellagamba
e a realização de eventos como este reafirma esse posicionamento de forma prática e única aos nossos clientes.” No Eurobike Road Show, os clientes tiveram a oportunidade de testar 156 modelos — a maioria recém lançados no mercado —, como o A3, A4, Q3 e S5, Jaguar XF, Land Rover Freelander 2 SE diesel e gasolina, Range Rover Evoque e Vogue, o novo Volvo V40 e o MINI Paceman. A linha de motocicletas Triumph também estava disponível com os modelos Bonneville T1000, Tiger 800 XC, Daytona 675 R, Speed Triple e ThunderbirdStorm.
Fotos: Sandro Seewald e Paolo Reis Realização: Grupo Eurobike. Divulgação: Eurobike Experience. Saiba mais sobre o evento no portal de experiências do Grupo Eurobike: www.eurobikeexperience.com.br/roadshow
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Os convidados puderam visitar o lounge VIP Eurobike, onde foi servido um charmoso brunch, seguido de coquetel elaborado pela chef Mariana Leal, da empresa É de chocolate, que utilizou os refinados ingredientes fornecidos pela Chocolate Planalto.
Serviço
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Dentro do Salão Super Carros foi montado o Salão Super Premium Eurobike, onde os convidados também puderam apreciar alguns modelos em exposição, entre eles, o Audi RS5 e TT, Jaguar XF-R e XK-R, o Range Rover Sport, o MINI Roadster, o lançamento MINI JCW, o Volvo XC60 e a motocicleta TriumphRocket III.
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Surpreender-se com a suavidade da fera
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POR MARCELO CURIA
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O pulo do gato Por Percy Faro
Motor dianteiro, tração traseira e transmissão de oito velocidades. Três detalhes das características técnicas do F-Type que bastam para colocar o novo esportivo da Jaguar um passo à frente no seleto segmento premium dos automóveis pensados e produzidos para oferecer ao consumidor o máximo de prazer em dirigibilidade. À singular receita de segurança, conforto e emoção, acrescente uma motorização digna dos campeões de pistas. O novo esportivo de dois lugares da Jaguar, comercializado no mercado brasileiro em três versões — F-Type, F-Type S e FType V8 S — incorporam, respectivamente, o propulsor V6 3.0 Supercharged a gasolina de 340 e 380 cv, e o V8 5.0 Supercharged, que entrega 495 cv. A versão V8 S acelera de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos e chega à velocidade máxima de 300 km/h; o F-TYPE S V6 de 380 cv acelera de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos e atinge 275 km/h. Os valores para o F-TYPE são 5,3 segundos e 260 km/h de máxima.
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Todos os motores transmitem a potência para as rodas traseiras por meio de uma transmissão de oito velocidades Quickshift, com opção de mudanças sequenciais SportShift. A posição da alavanca permite um ótimo manejo, da mesma forma que as borboletas posicionadas na parte de trás do volante. Os modelos S dispõem também de um sistema de escape ativo, que utiliza sensores na seção final do escapamento, que ajusta o funcionamento de um conjunto de válvulas e alteram o percurso dos gases de escape, que fluem de forma mais direta para o exterior, e o programa Configurable Dynamics, que permite ao condutor adaptar diversas das características dinâmicas às suas preferências pessoais, incluindo cronômetro e uma função que mede as forças G de aceleração lateral e longitudinal. A sofisticação dos avanços tecnológicos aplicados no novo F-Type está em cada detalhe do projeto. Por exemplo, os parâmetros de funcionamento da transmissão são determinados por um programa, com 25 opções, que muda dependendo do estilo de condução e das condições da estrada. O sistema analisa a
aceleração e a frenagem, as forças em curva, a posição do pedal do freio e acelerador, o tipo de estrada e inclusive se o veículo está sendo conduzido em aclive ou declive. Ao detectar um estilo de condução mais dinâmico, a transmissão efetua automaticamente mudanças mais agressivas e seleciona a relação imediatamente inferior, para um regime de rotação mais elevado. Para manter a estabilidade do veículo em situações como essa, a caixa dará instruções ao sistema de gestão do motor para, automaticamente, dar um toque no acelerador e equalizar o regime do propulsor. Esta função permite ainda selecionar diversas relações abaixo muito rapidamente em caso de uma frenagem brusca. Se os sensores de aceleração lateral detectarem que o veículo se encontra numa curva, a transmissão mantém a marcha selecionada até um momento apropriado para realizar a mudança. O sistema também tem a capacidade de reconhecer se o veículo está realizando uma série de manobras de ultrapassagem e, em vez de selecionar uma relação acima, mantém a relação mais curta para assegurar a resposta necessária para a ultrapassagem seguinte. “A Jaguar é fundadora do segmento de veículos esportivos que carrega uma rica herança de mais de 75 anos, e com o F-Type voltamos a acender essa chama. Ele não foi concebido para ser qualquer outro veículo esportivo. É um Jaguar ultrapreciso, potente, sensual e, acima de tudo, faz você se sentir vivo.” Essa declaração de Adrian Hallmark, diretor global da Jaguar, ao definir a chegada do mais novo esportivo de dois lugares da marca britânica de automóveis de luxo, revelou também o estágio de refinamento do projeto do novo F-Type. Além da consagrada arquitetura em alumínio de peso reduzido da Jaguar, que utiliza uma tecnologia pioneira na indústria automotiva, externamente seus veículos se distinguem pela simplicidade fluida e musculosa. O F-Type não é exceção, com formas definidas por duas linhas que moldam as alhetas dianteiras e traseiras. Não por outra razão, sua aparência esportiva garantiu ao modelo o prêmio World Car Design of the Year, como o veículo de melhor design no ano.
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Augusto Farfus:
quando talento e determinação andam juntos, e muito rápido Por Percy Faro
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Augusto Farfus Jr., 30 anos de idade, é paranaense de Curitiba e já cidadão do mundo, graças ao seu excelente desempenho nas pistas de corrida de automóveis. Apaixonado por velocidade, vive atualmente em Mônaco, mas divide sua presença entre vários países porque participa da categoria DTM, um dos mais importantes campeonatos internacionais de carros de turismo. O início foi como o da maioria dos pilotos. Seus primeiros contatos com o cheiro de gasolina e o ronco dos motores começaram em minimotos. Venceu campeonatos no Paraná em 1991 e, no ano seguinte, ingressou no kart. Com nove anos de idade venceu o campeonato estadual do Paraná e entre 1993 e 1998 participou do campeonato paulista. Venceu a Copa de Inverno da Itália, garantiu a segunda posição no campeonato norte-
-americano, em 1999, e o vice-campeonato mundial em Suzuka, no mesmo ano. Os degraus das vitórias foram superados com rapidez. Farfus se mudou para a Itália em 2000. Competiu na Fórmula Renault italiana e europeia por dois anos. Venceu a copa europeia em 2001 e, em 2002, disputou a Fórmula 3000 europeia pela Draco Racing. No ano seguinte, com apenas 20 anos de idade, venceu o campeonato. Foi com a mesma vontade de acelerar fundo que Farfus colocou os pés nos carros de turismo. Entre 2004 e 2006 pilotou para a equipe Alfa Romeo no Campeonato Europeu de Carros de Turismo e no Campeonato Mundial de Carros de Turismo.
Na temporada 2006 terminou em terceiro lugar e em 2007 se transferiu para a equipe alemã da BMW, na categoria gerenciada pela Schnitzer Motorsport.
com isso, estou escrevendo um pedacinho da história da categoria”, disse Farfus que, emocionado, confessou ter completado a última volta com lágrimas nos olhos.
O desempenho positivo prosseguiu em 2010, quando venceu a 24 horas de Nürburgring, junto com Jörg Müller, Uwe Alzen e Pedro Lamy, com um BMW M3 GT2. Logo em seguida, em 2011, também ganhou a 24 horas de Dubai, com um BMW Z4 GT3.
“Para a BMW e o Team RBM foi a confirmação de que somos um conjunto competitivo, que pode brigar pelas primeiras posições. Estamos satisfeitos por converter nosso potencial em resultados efetivos”, disse o paranaense.
Emoção foi um ingrediente que nunca faltou na receita de Augusto Farfus como piloto profissional. Quem conta é ele mesmo: “Graças a Deus, durante minha carreira tive inúmeras corridas especiais. Acredito que a primeira corrida de motovelocidade, no dia 18 de novembro de 1990, foi a mais importante, porque foi lá que tudo começou. Tiveram outras, como em 1999, com a vitória no campeonato norte-americano de kart e, em 2007, já na BMW, em um circuito de rua na França, quando sofri grave acidente na tomada de tempo. O carro capotou várias vezes, a equipe precisou trabalhar a noite inteira para deixá-lo pronto e no domingo venci a prova. Foi uma grande emoção para mim e para toda equipe BMW.”
Farfus afirma que “o DTM é a categoria de carros de turismo mais rápida do planeta”. E justifica: “BMW, Audi e Mercedes-Benz participam do campeonato, todos os carros e pilotos são oficiais da fábrica e tem total apoio das montadoras. As corridas têm aproximadamente 75 minutos de duração, com dois pit-stops obrigatórios, e os veículos, com cerca de 500 cv de potencia, pesam pouco mais de 1.000 quilos”, explica.
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“Foi uma vitória merecida, e não por sorte. Trabalhamos muito para isso e o resultado foi mais do que fantástico. Fico muito feliz também por ser a primeira vitória brasileira no DTM. Sei que,
A Eurobike, maior rede de concessionárias de veículos premium do Brasil, patrocina Farfus no campeonato de categoria turismo mais importante do mundo. Para a empresa, o patrocínio de um piloto que corre em um campeonato internacional e de grande relevância para o mundo automobilístico como o DTM é uma iniciativa inovadora para concessionárias brasileiras.
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Outro momento marcante para o piloto de Curitiba aconteceu no ano passado, em Valência, Espanha, quando venceu a principal categoria de turismo do automobilismo europeu e garantiu a primeira vitória do Brasil no pódio do DTM.
Competitividade, profissionalismo e o envolvimento das montadoras são fatores que mais agradam Farfus no DTM. “É a única categoria na Europa onde todos os pilotos são contratados e escolhidos pelas montadoras. Isso não acontece nem mesmo na Fórmula 1”, lembra o curitibano.
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Para Henning Dornbusch, CEO do Grupo Eurobike, está no DNA da empresa incentivar o automobilismo e proporcionar emoções para os seus consumidores. “A brilhante carreira e a determinação de Augusto Farfus foram fatores predominantes para fecharmos essa parceria. Estamos trazendo pilotos com potencial para que a Eurobike esteja cada vez mais presente neste universo”, explica o executivo. Na opinião do piloto, o patrocínio é uma oportunidade positiva principalmente para o público. “Pela tradição e o nome da Eurobike no Brasil, essa parceria é uma forma fantástica de criar uma
relação com o público brasileiro, que é extremamente apaixonado por carros e pelo automobilismo de competição.” Farfus revela que os clientes Eurobike poderão conhecer um lado do automobilismo diferente e exclusivo, por meio de vídeos e conteúdo disponibilizado no site da empresa. “Vamos fazer promoções e sorteios de artigos exclusivos para os clientes Eurobike, estarei presente em eventos para dividir com eles um pouco da minha experiência nas corridas, dos produtos BMW e, sem dúvida, até oferecer para alguns uma ‘emoção’ muito especial em alta velocidade.”
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EMOÇÃO
BRITISH MADE, MAS MONTADO
NO BRASIL Um Land Rover Série 1 com uma pitada de criatividade brasileira
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Por Eduardo Rocha | Fotos Kriz Knack
O primeiro protótipo foi construído sobre um chassis Jeep com eixos, molas e motor Rover. O Land-Rover (com hífen, que durou até 1978), como Maurice Wilks começou a chamá-lo, deveria ser simples em termos de projeto, de materiais, de processos de fabricação e de reparos. Mas estruturalmente forte.
Em 1948 o primeiro Land Rover Série 1, com entre-eixos curto (80 polegadas) foi apresentado ao público no Amsterdam Motor Show. A produção inicial foi de 3.048 unidades, passando a 8 mil em 1949 e 16 mil em 1950. Rapidamente, já estavam sendo produzidos mil unidades por semana. Em outubro de 1948, o fabricante de carrocerias de madeira Tickford desenvolve uma carroceria com estrutura de madeira e chapa de alumínio para sete pessoas, dando ao Land Rover um caráter de veículo de lazer. Não foi exatamente um sucesso e somente 641 unidades foram produzidas. Enquanto isso, as vendas do primeiro Land Rover seguiam de vento em popa. E Ransom Harrison, chairman da Rover na época, disse a seus acionistas, considerando pedidos de informação e vendas efetivas: “a demanda por esse veículo deve nos fazer atingir logo, ou até mesmo exceder, nossa capacidade de produção”.
Ao lado, um anúncio de jornal da Mario Barros do Amaral, onde aparece a versão Tickford do Série 1 Acima, a placa do importador
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Como um bom observador do mercado, Maurice teve certeza de que um pequeno utilitário agrícola 4x4, com capacidade para transportar pessoas e ainda capaz de executar algumas tarefas numa fazenda, como transportar cargas ou fornecer tração para implementos (inclusive arados), seria indubitavelmente um sucesso.
Foi construído então o protótipo conhecido como “Center steer” (com volante ao centro do veículo) e apenas um assento, também central, no outono de 1947. Esse protótipo desapareceu (provavelmente destruído) só restando uma única réplica, construída posteriormente com base em especificações e medidas.
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O ano era 1947. O diretor técnico da Rover, Maurice Wilks, e seu irmão, Spencer Wilks, diretor executivo, estavam impressionados com a boa performance e versatilidade que um Jeep remanescente do período de guerra e que utilizavam em sua casa de campo em Anglesey apresentava ao enfrentar estradas de terra ruins e muita lama. Na época, surgia uma crescente demanda por esses veículos ex-militares, assim como pelos tratores leves Ferguson, produzidos pela Standard Motor Company, de Coventry.
EMOÇÃO 1949. São Paulo, Brasil.
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O empresário Mario Barros do Amaral inicia a importação dos veículos Land Rover Série 1 em suas versões de teto de lona e Tickford em regime CKD (desmontados). O modelo com teto de lona foi bem sucedido mas, como na Inglaterra, o Tickford, não. Era caro. Mario então decide usar sua criatividade para oferecer ao mercado brasileiro um hardtop (teto rígido, em metal) com preço acessível. Decidiu, para isso, nacionalizar algumas partes. A linha de montagem era na avenida Presidente Wilson, no bairro da Mooca. Em 1957 chega ao Brasil, desmontado, o Série 1 retratado nesta matéria. Como ele, alguns outros devem ter recebido o teto rígido “made in Brazil”, mas tudo leva a crer que esse é o único exemplar remanescente com esse toque brasileiro. Na maioria deles, o aço sucumbiu às condições ambientais. Da cintura para baixo, alumínio inglês, original de fábrica. Da cintura para cima, chapa de aço montada pela indústria nacional Carraço S/A, de São Bernardo do Campo, que era líder de vendas na área de capotas de aço e modificações em veículos,
principalmente Willys. Somada ao fato de ter sido montado no Brasil, a inclusão da capota de aço adiciona uma boa dose de raridade ao modelo, que já foi documentado inclusive por publicações britânicas. Hoje, o carro se encontra exatamente como era há décadas, sem restauração. Segundo o colecionador, é uma tendência mundial deixar os veículos 100% originais, com as marcas de uso deixadas pelo tempo.
refrescar a cabine e o sistema de roda livre Berymatic Nessa página, no alto, a parte traseira da cabine com seus bancos laterais; acima, o porta-luvas, desenvolvido no Brasil
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Na página da esquerda, as entradas e saidas de ar, para
Seu entre-eixos é de 88 polegadas (há também uma versão de 109 polegadas). O motor é um 4 cilindros a gasolina com 1997cc, 52hp a 4250 rpm e torque de 14,1 m.kgf a 1.500 rpm. O bloco e o cabeçote são de ferro fundido. A admissão é no alto do cabeçote e o escape na lateral. A alimentação é feita por um carburador Solex de corpo simples. O cambio manual de 4 marchas à esquerda, a alavanca da tração ao centro e a da reduzida à direita, no assoalho. Nele, já havia a possibilidade de usar a tração nas 4
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O Série 1 foi concebido para ser simples e durável. Sem linhas extravagantes, todas as partes da carroceria funcionam como módulos que podem ser facilmente substituídos, característica que existe até hoje nos Land Rover Defender e que provou ser muito funcional nesses mais de 60 anos de existência.
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No alto, à esquerda, o tanque de combustivel embaixo do assento do passageiro; à direita, as alavancas de cambio, tração e reduzida; Acima, o limpador de para-brisa manual
rodas, sem usar a reduzida. O sistema de roda livre era da marca Berymatic, fabricado em São Paulo, também para os Willys. A suspensão, tanto dianteira quanto traseira, tinha eixo rígido, feixe de molas e amortecedores telescópicos.
Acima, a manivela dos vidros das portas
De 1999 a 2005 a Land Rover montou o Defender 110 no Brasil, com algumas peças nacionalizadas. Foi a segunda vez na história da marca. Tomara que essa história se repita, já que existe a possibilidade de montagem de uma fábrica no Brasil e, quem sabe, com alguns toques de criatividade tupiniquim.
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No alto, à esquerda, o conjunto do volante, alavanca dos piscas e buzina
A capota produzida pela Carraço, quase rústica devido à sua produção artesanal, tem também seu charme, pois conserva as linhas tradicionais dos Série 1 de teto rígido, mas introduziu os vidros que abrem na vertical (com manivela) e não como nos britânicos, que apenas se deslocam na horizontal. Outra solução adotada foi a colocação de duas saídas de ar basculantes nas laterais traseiras, para a saída do ar quente do interior do veículo, o que com certeza ajudou muito neste Brasil de muito calor.
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No interior, para lá de espartano, apenas três bancos individuais voltados para a frente e dois laterais na parte traseira. O tanque de combustível fica embaixo do banco dianteiro direito. Os limpadores de para-brisa são independentes, elétrico (Lucas) para o motorista e manual (manivela) para o passageiro. Mario Barros do Amaral introduziu um pequeno refinamento no Série 1: mandou produzir uma tampa com chave para aquele compartimento vazio na direita do painel, um legítimo porta-luvas.
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Como ele, outros devem ter recebido o teto rígido “made in Brazil”, mas tudo leva a crer que este seja o único exemplar remanescente
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Land Rover Série 1 Ano: 1957 Motor: 4 cilindros com 1997 c.c. Combustivel: gasolina Potência: 52 HP a 4.000 R.P.M. Torque: 14 Kgm a 1.500 R.P.M Transmissão: 4 velocidades, manual com reduzida Tração: 4x4 ou traseira, roda livre na dianteira Embreagem: disco seco simples Freios a tambor com acionamento hidráulico Suspensão: molas semi-elípticas Distância entre eixos: 88 polegadas Comprimento: 4.400 mm Largura: 1.588 mm Altura: 1.930 mm
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Reinventar, transformar, transpor formas e funçþes
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Meia-noite em Havana Por Camila Fróis | Fernando Angeoletto
As viagens no tempo costumam ser bastante intensas. Em Cuba, não poderia ser diferente. A ilha merece ser percorrida calmamente, degustada nos pratos com frutos do mar, refrescada com drinques à base do melhor rum, cantada na voz de músicos conhecidos ou anônimos das calles e celebrada com estilo e sofisticação à beira-mar, nas águas do Caribe
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Nas primeiras caminhadas à meia luz entre prédios com arquitetura art déco das vielas de Havana, nos sentíamos dentro de uma das recentes tramas de Woody Allen, que incorporpou em grande estilo essa proposta da viagem ao passado. A sensação era de viver o deslumbre do personagem principal de Meia-Noite em Paris, só que em uma versão latina, menos maquiada, e, ao invés de Cole Porter, embalada pela mais vibrante das salsas. Para quem gosta de história, o filme é um prazer desde as primeiras sequências, que percorrem alguns dos pontos cardeais da capital francesa, já descrita como uma festa. Foi assim, aliás, que Ernest Hemingway a caracterizou em um de seus livros de memórias. O escritor é um dos expatriados americanos em Paris
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Invariavelmente mergulhada em poesia, a fórmula da volta no tempo é uma tradição quase infalível nos roteiros mais clássicos do cinema ou da literatura. O sucesso das tramas não têm muito segredo. Elas nos conquistam com pouco esforço, afinal, não é raro estarmos aqui, nesta época, sonhando com outra, geralmente um passado idealizado, que nos parece mais romântico, autêntico e cheio de glamour do que os dias contemporânos. Se as cidades de antes eram de fato mais sedutoras ou não, a experiência de se transportar no tempo é pra lá de instigante e aguça todos os sentidos.
PRAZER que participam ativamente do sonho acordado do protagonista de Allen, que descobre por acaso uma porta fantástica no tempo através de um carro antigo que o leva a festas, ruas e bares frequentados pelos maiores intelectuais e artistas dos anos 1920. Em Havana, não é necessário porta mágica para voltar no tempo, os carrões, assim como prédios e máquinas antigas, estão espalhados por toda parte, fazendo da cidade um museu a céu aberto. E mais, Hemingway é também um grande personagem do envolvente roteiro que vivemos na Cuba contemporânea, cujo cenário pouco se modificou desde a época em que inspirava os romances mais célebres do autor. Uma cena de um pescador no fim de tarde na praia de Cojímar remete facilmente às cenas de O Velho e o mar. O premiado livro foi ambientado nesta vila de pescadores, dez quilômetros a leste de Havana, onde ele costumava ancorar o barco pesqueiro El Pilar. Extremamente bon vivant, polêmico e popular, o americano viveu 21 anos em Cuba e se tornou um ícone, inspirando há décadas a boemia em sua capital e arredores. Hoje, os lugares que ele frequentava, a exemplo do silencioso vilarejo de poucas ruas e casinhas de alvenaria, usam a popularidade do escritor para atrair visitantes.
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Os discípulos de Hemingway Em Havana, o mais emblemático desses refúgios é o bar La Bodeguita del Medio. É lá que levas de turistas de todas as partes do mundo imitam a tradição do autor de degustar diariamente a famosa mistura de rum, açúcar, água com gás e folhas de hortelã, que compõem o mojito, principal drink cubano. O espaço, apesar de pequeno, é dividido em três andares e vários ambientes decorados com fotos de famosos. Com um delicioso clima
Antes de Fidel, a ilha do açúcar e do rum, das praias e da sensualidade caribenha, do mambo e dos cassinos, era, aos olhos dos americanos, uma espécie de paraíso na Terra. A boa vida de turistas americanos que se esbaldavam nas noites agitadas de Havana, descrita em panfletos turísticos da época
Celebre a vida ao ar livre Por isso, depois de se entregar sem culpa a um habano, renda-se também a uma caminhada sem pressa pelo entorno do La Bodeguita. Com um patrimônio histórico de quase cinco séculos, o bairro
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Quem não consegue entender a atração que o fumo exerce sobre as pessoas descobre, geralmente, que a explicação está na sensação de liberdade ao se entregar a um prazer atualmente quase proibido. A sociedade de hoje vê o tabagismo de forma mais crítica e a sua prática já não é mais associada à beleza, ou à intelectualidade, como em tempos passados. Em Cuba, porém, como nos anos 1950, há uma licença poética. Lá, o charme é o mesmo, afinal, o charuto conseguiu preservar aquela aura de requinte, charme e poder dos tempos pré-revolucionários.
como “uma mistura exótica de Casablanca, Las Vegas e Monte Carlo”, durou até 1959, quando o levante revolucionário acabou com a jogatina, expulsou o Tio Sam, estatizou os hotéis e restaurantes luxuosos e dominou a sede do governo de Fulgêncio Batista. Hoje, meio século depois, os sinais da decadência econômica decorrente do embargo pós-regime ficam claros no abandono de prédios centenários, na escassez de produtos básicos para a população e na total defasagem tecnológica do país. Mas não ofuscam a beleza e o charme contagiante da capital. Na verdade, mesmo sem os ianques, a cidade continua em festa desde aquela época, celebrando os prazeres da boa música, da gastronomia caribenha e do tradicionalíssimo rum Havana Club, esbanjando a energia da vida ao ar livre. Com um clima tão vibrante, é impossível não deixar as ideologias de lado para fazer uma elegia ao povo cubano, à sua cultura coloridíssima e multifacetada e ao país que é muito maior que o regime dos Castro.
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cosmopolita, em que se ouve diversos idiomas, o lugar é perfeito para se fazer a experiência mais clássica da ilha. Além dos mojitos e dos pratos tradicionais cubanos, é preciso experimentar os inigualáveis habanos, os charutos mais famosos do mundo. Eles são cultuados quase religiosamente em toda Cuba.
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Havana Vieja é uma das regiões mais encantadoras de toda Cuba. Uma vez por ali, vá com calma: as ruazinhas são repletas de casas antigas com arquitetura hispânica, pequenos ateliês e muitas praças arborizadas. Uma das mais bonitas é a Plaza da Catedral, que exibe vários prédios restaurados com ares europeus em sua volta, inclusive o charmoso Palacio de los Marqueses, onde hoje funciona o restaurante El Patio, com irresistíveis mesas ao ar livre e ótima música ao vivo. Música ao vivo em Cuba, por sinal, é quase um pleonasmo… A cada esquina, a cada lobby de um elegante hotel, a cada praça, a cada restaurante, a música é executada e bailada em ritmo caliente, exalando pelas ruas. Nada melhor que caminhar meio sem rumo, somente seguindo o som do chá-chá-chá, até encontrar os artistas anônimos misturados às árvores na feira de livros da Plaza de Armas, em frente às casas e mansões da elite colonial da Plaza Vieja, ou nos animados restaurantes da famosa rua Obispo. Também em Havana Vieja, fica o imponente Capitólio Nacional (inspirado no Capitólio dos Estados Unidos, em Washington) e o Gran Teatro de Habana, famoso por ser a sede do reconhecido
Balé Nacional de Cuba, fundado por Alicia Alonso. Ambos, porém, estão fechados para reforma. Na mesma região, é imperdível uma caminhada pelo arborizado Paseo del Prado, onde os artistas costumam expor seus quadros, alguns músicos arriscam seus ensaios e as bailarinas do Gran Teatro de Habana ficam zanzando entre uma aula e outra. Nos fins de semana, os artistas plásticos dão aulas de pintura para as crianças sob as árvores. Na Plaza de la Revolución, no centro, é possível subir na mais alta torre de Cuba, com vista para toda a cidade e para o mural gigante de Che Guevara e a frase “Hasta la victoria siempre”, no Ministerio del Interior. No fim da tarde, o deleite é por conta do pôr do sol no Malecón, uma espécie de varanda de Havana sobre o mar. Quando as águas estão mais agitadas, as ondas chegam a três metros de altura e se chocam contra o muro, fazendo splashes sensacionais que molham os desavisados. O espetáculo é divertido e delicioso de se ver ou sentir. O clima é o dos casais namorando, cubanos pescando e crianças brincando.
Noites latinas Guarde ao menos uma noite para um dos eventos tradicionais da ilha: o Cañonazo, que acontece sempre às 21h. A cerimônia revive os tempos áureos da Fortaleza de la Cabaña, no Castillo del Morro. Pontualmente, o canhão se volta para a baía de La Habana e dispara. Isso depois de uma cerimônia teatral, executada por soldados a caráter. O evento vale a pena pela sensacional vista da bacia de Havana iluminada pelas luzes da cidade. A vida noturna em Havana é obviamente embalada pelos ritmos latinos. Cuba sempre foi terra de grandes pianistas e de uma percussão que tem um estilo muito próprio. Para ir além do clichê guantanamera, reserve noites para as principais casas de shows, cabarés e teatros da cidade e prepare-se para dançar.
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Depois de desfrutar do clima nostálgico e romântico da capital, não pense duas vezes. A ordem é partir direto para o Caribe. Chegar a Varadero (140 quilômetros de Havana) é ter a certeza de que a ilha socialista sabe muito bem como paparicar os capitalistas. Ali, esqueça da história e entregue-se à única, primitiva e sedutora atração. Os 22 quilômetros de praias de areia branca e fininha emoldurando as águas cristalinas fazem de Varadero a enseada mais famosa de Cuba, e um dos destinos mais populares do Caribe, preferido dos pelicanos e dos europeus. Além das águas calmas e turquesas, a rede hoteleira com bandeiras internacionais e opções de resorts de luxo all-inclusive fazem do lugar o principal destino para curtir praia, mergulho e muita paz entre a piscina do hotel e à beira-mar.
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Bem-vindo ao Caribe
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Para os mais dispostos, dá para programar atividades de aventura como caiaque, mergulho autônomo nas barreiras de corais e até passeios off road que levam a points surpreendentes, como a gruta inundada de Saturno, em que é permitido o mergulho em um abismo de 22 metros de profundidade. O público mais sofisticado também vai celebrar a gastronomia de Varadero. O Restaurante Las Américas, antiga Mansão Xanadú, ilustra a ostentação característica do destino antes da revolução. A mansão foi edificada pelos mesmos arquitetos que construíram o Capitólio cubano, que é uma réplica do americano. À mesa, como não poderia deixar de ser, uma carta diversificada de peixes e dos frutos do mar do Caribe.
Trinidad Localizada na parte central da ilha de Cuba, entre o mar do Caribe e a Sierra del Escambray, Trinidad é uma cidade histórica super bonita, patrimônio da humanidade, com casinhas coloridas e construções antigas bem preservadas, espalhadas por suas ruas de pedra. Além do seu centro histórico ser lindo, a cidade fica nas proximidades da incrível praia de Ancón e do Parque Topes del Collante, com seus vales, morros e cachoeiras. Outro ponto alto de Trinidad é a sua música. Impossível ficar indiferente à paixão dos cubanos pela arte que ali ganha tons ainda mais interessante e nos convida a gozar a vida e bailar ao
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estrangeiros e cubanos é perfeito para quem quer arriscar os primeiros passos de alguma dança latina, sem constrangimento. Para quem curte o clima cultural, mas não dispensa o conforto e requinte, o ideal é se hospedar nos resorts na própria Playa de Ancón, a quinze quilômetros da cidade. A cor surreal da água, as barracas de palha e as árvores verdinhas, que nascem milagrosamente na areia, nos dão a certeza de estar nas Antilhas.
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ar livre nas praças, restaurantes e espaços culturais. Os diversos grupos musicais parecem não viver da arte, mas para a arte. Na Casa de la Música, ao lado da Plaza Mayor, a salsa é praticamente non stop. As primeiras bandas começam por volta das 15h e o agito segue até a madrugada. O espaço é aberto, com várias árvores no entorno e um restaurante responsável por abastecer as mesas com muitos drinques. O clima de interação entre
PRAZER A mítica música caribenha A música é mais uma fascinante forma de viajar ao passado cubano. Apesar da diversidade de ritmos da ilha, os veteranos que protagonizaram o álbum Buena Vista Social Club permanecem como ícones da música caribenha há décadas. Nos anos 1990, com a reunião de grandes nomes em um único grupo, tendo à frente Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Barbarito Torres e Omara Portuondo, aconteceu o inevitável: o disco vendeu muito e iniciou na época uma onda de música caribenha no mundo, com bandas, clubes de salsa e revitalização do estilo que vivera o auge nos anos 1940 e 1950. Para prestigiar o mito, confira as apresentações da Orquestra Buena Vista Social Club (que inclui os veteranos Barbarito Torres e Manuel “Guajiro”) nos principais hotéis da cidade, como o Mercure Sevilla ou o Hotel Nacional.
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Para dançar salsa, praticamente todos os cubanos recomendam a Casa de la Música. Há duas, uma no centro de Havana e outra mais afastada, em Miramar. Esta última é mais cara, popular e bem falada. Já a do centro é menos moderna, mas tem programação variada. Não se esqueça, porém, que hoje a música cubana tem outras influências. Além da tradicional combinação de salsa, da rumba e do chá-chá-chá, na ilha há jazz, pop e muito reggaeton. Quem quiser uma música ao vivo sofisticada irá deliciar-se no Jazz Club La Zorra y El Cuervo, que conta com artistas nacionais e internacionais tocando jazz e blues.
Serviço
para o mar, do pôr de sol e do amanhecer no malecón (à beira-mar). www.hotelhabanalibre.com
Hotelaria pré-revolucionária de Havana
Hotel Nacional
Música
Preciosidade da arquitetura art decó, foi inaugurado em 1930, sendo principal abrigo de estrelas hollywoodianas, presidentes ocidentais e mafiosos no período pré-revolução, quando exibia um famoso cassino. Ainda hoje o hotel preserva a arquitetura, o charme e a badalação da época. O hotel também inclui o famoso Cabaret Parisiense, uma das melhores casas noturnas em Havana. www.hotelnacional.com.br
No Café Taberna (Plaza Vieja) acontecem as apresentações de alguns dos músicos do Buena Vista Social Club, que, vez em quando, também cantam no bar do Hotel Nacional.
Hotel Habana Libre Além do ambiente elegante, é muito bem localizado, no bairro do Vedado, rodeado de cinemas, teatros, da famosa sorveteria Coppelia, da Universidade de Havana e de centros comerciais. Por ser o hotel mais alto da cidade possui também as melhores vistas panorâmicas
Já para contemplar o tradicional Balé Cubano, o Gran Teatro de La Habana (ou o Teatro Nacional enquanto o Gran Teatro está em reforma) recebe os principais festivais e apresentações de dança. Para quem quer dançar, ver e ser visto, a pedida é a Casa de La Música de Miramar (bairro Miramar), onde acontecem shows de bandas locais e DJs tocam ritmos latinos. Apesar de ser mais próxima da maioria dos hotéis, a Casa de La Música do centro é menos requintada. Quem quiser uma música ao vivo sofisticada irá deliciar-se no Jazz Club La Zorra y El Cuervo, que conta com artistas nacionais e internacionais tocando jazz e blues.
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Com um lobby árabe e um interior colonial requintado, fica no coração de Havana Vieja, no Passeo Martí. O bar do hotel sempre tem música ao vivo e bastante movimento. De lá pode-se visitar os principais pontos turísticos da cidade. www.hotelinglaterracuba.com
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Hotel Inglaterra Em Havana Vieja estão localizados os hotéis mais antigos e tradicionais, como o Hotel Inglaterra, que já teve como hóspede o cubano José Martí, e o Hotel Ambos Mundos, onde o escritor Ernest Hemingway escreveu a maior parte do livro Por quem os sinos dobram. Os grandiosos cinco estrelas, como os da rede Meliá e o Hotel Nacional, se situam em Vedado, a parte moderna da cidade.
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Design art.
O quê?
Por Ana Augusta Rocha
O design art, seus produtores e galeristas ganham cada dia mais público na cidade de São Paulo e em outras capitais do Brasil. Surgem galerias especializadas que respondem aos anseios de um público que almeja mais do que forma e função em seus objetos e mobiliário do cotidiano: a vida como conceito e arte É o que parece ser, que não é. Ou é. Pode ser que não. É, é, é!!!. A música “O quê?” dos Titãs pode ser a trilha sonora perfeita para você começar a ler esta matéria, que flutuará entre dois temas, lambendo (desculpe o termo, que se verá, mais à frente, como apropriado) ora arte, ora design, ora utilidade e função, ora poesia e devaneio. Tudo isso junto? É, é.
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Pois se estamos acostumados a ver obras de arte alcançando preços estratosféricos em leilões internacionais, estranhamos quando um objeto, dito funcional, faça o mesmo, não? É, é. Mas exemplos não param de pipocar. Num mundo sedento por diferenciação, seres de alto poder aquisitivo não se importam em pagar por exclusividade e até estranhamento. Em 2009, por exemplo, uma cadeira de alumínio de Marc Newson, designer australiano radicado em Londres, chegou lá. Foi arrematada no leilão da Phillips de Pury, especializada em arte contemporânea, pelos expressivos 1,1 milhão de libras esterlinas.
Galerias ou lojas? Designers ou artistas? Leo Capote é talvez um dos nomes mais fortes dessa nova geração de designers-barra-artistas. Cada vez mais na mídia, foi lançado pelo Coletivo Amor de Madre, loja-galeria que se
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Arte de usar ou objeto para ousar? Os dois. Essa tem sido a escolha de alguns designers brasileiros que começam a despontar numa paisagem até então dominada pelos aclamados irmãos Campana. Próximos uns dos outros — eles se conhecem, convivem, e são todos de uma certa forma amigos — revelando então que o mundo do design art em São Paulo ainda é pequeno. Mas nem por isso menos promissor. Os investimentos em mobiliário diferenciado na cidade tem se mostrado cada dia mais expressivos.
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Bruno Freire
E assim vamos, mundo afora. Objetos de designers criados em edições limitadas e com forte apelo artístico e conceitual são chamados de design art e navegam em mares de galerias, têm marchands e toda a entourage do mundo das artes.
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situa no sofisticado território que engloba a Gabriel Monteiro da Silva e a Estados Unidos, ruas que concentram o design em São Paulo. Me lembro da primeira vez que vi seus móveis na vitrine. Susto, surpresa, encantamento. Desconstruindo e resignificando — completamente! — objetos do cotidiano, Leo faz cadeiras compostas por centenas de colheres de aço inox, mesinhas a partir de martelos, bancos a partir de pás de construção. Materiais muitas vezes brutos, frios e pesados dos quais ele extrai leveza e lirismo. O ponto de partida de Leo foi o território afetivo e familiar de uma loja de ferramentas em Santa Cecília, comércio do avô materno, Renato Matta, onde trabalhava desde bem pequeno, pois ali era proibido ficar de mãos abanando. “Todos tinham que contribuir ajudando, desde crianças. Era o recado de meu avô, enfatizando que nada na vida, afinal, cai do céu”, conta Leo. A loja era ponto de encontro de arquitetos e designers, como os próprios Campana, que tem seu atelier também no bairro. “Eu vivia montando coisas, inventando peças, fazendo soldas na loja. E com essa minha compulsão, chamei a atenção de pessoas-chave para meu percurso. Meu irmão mais velho, arquiteto e hoje sócio de um grande escritório em São Paulo, me dizia que esse talento tinha uma cadeira
O design art brinca, evoca, convoca. A que a vida cotidiana possa ser mais divertida ou talvez conceitual ou quem sabe artística mesmo, e ainda assim não perder a funcionalidade.
Fotos Marcelo Stefanovicz
O que é pode não ser. A Cadeira de Colher e a luminária Secador,
O conceito que ancora tudo é que as peças tenham conceito (pura arte), além de terem uma utilidade (função do design). É uma proposta
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(acadêmica) e se chamava Desenho Industrial. Humberto e Fernando Campana acenaram com um estágio, tão logo estivesse pronto”, relembra. O conselho do irmão se transformou numa faculdade e a estada com a dupla Campana numa espécie de pós-graduação para Capote. Lá, ele viu como nasciam ideias e que, por mais absurdas que parecessem no papel, ganhavam vida naquele espaço para depois ganhar o mundo. O sonho era possível. Quando acabou a faculdade, já tinha uma oficina própria na garagem da casa da família, e suas criações passavam a ser utilizadas como elementos cenográficos e chamativos em vitrines. “Entendi que estava no caminho certo e que minha compulsão em subverter materiais fazia sentido para mais pessoas.” Rapidamente, esse sentir e esse sentido de Leo ganharia mercado e visibilidade.
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de Leo Capote, trazem o inusitado para o cotidiano
Fotos Marcelo Stefanovicz
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de nos descolarmos um pouco mais do cotidiano para vivermos uma vida mais sensorial e poética. “Essas peças, que valem como esculturas, se espelham à produção da arte contemporânea; são um investimento e têm uma valorização constante no tempo”, alerta Marcelo Stefanovicz, artista plástico e designer, que divide o atelier com Leo Capote e que mergulha, cada dia mais, no design art. “São peças com um forte apelo visual, utilitárias, e ao mesmo tempo realizadas com toda a sofisticação dos processos industriais e tecnológicos de hoje. Representam um mergulho do artista em matérias que raramente andam juntas: o mundo das artes plásticas com o das soluções industriais”, explica. As peças tanto podem ser únicas quanto podem pertencer a uma série de baixa tiragem. Em comum, está o desejo de transpor as fronteiras, tanto da arte quanto do design. O trabalho de Marcelo é marcado pela mistura de técnicas e materiais, operando junções que não seriam, digamos assim, “normais”. Numa pequena mesa lateral, trabalho feito em dupla com Leo Capote, vemos um tampo de resina esculpido milimetricamente, nascendo, quase que numa fusão com uma massa de aço
A ressignificação de objetos do cotidiano, criando utilitários como essa mesinha lateral de Leo Capote e a luminária de Marcelo Stefanovicz, inquietam, convocam e evocam uma vida fora do comum
André Dib
em São Paulo, com curadoria de Waldick Jatobá
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Mobiliário com uma função: inquietar o olhar. Peça criada por Capote e Stefanovicz para o MADE, Mercado de Arte e Design, que aconteceu em setembro,
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inox superprensada. Inesperados pés de madeira nobre, entalhados de forma clássica, finalizam o conjunto. O olhar invariavelmente se “gruda” a essas peças, na tentativa de decifrá-las. A mesinha esteve exposta e foi comercializada no MADE, o Mercado de Arte e Design, concebido pelo curador Waldick Jatobá, que aconteceu no Jockey Clube de São Paulo no início de setembro. “Esse ainda é um mercado novo e que se forma pouco a pouco. Não somente no Brasil, mas no mundo”, completa Marcelo.
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A famosa poltrona Egg, do arquiteto e designer dinamarquês Arne Jacobsen, em releitura criativa de Leo Capote. Milhares de parafusos soldados nesse mobiliário-arte de peso. Mais de 100kgs de aço que ele mesmo elaborou e reuniu, peça a peça. Quem duvidar, que peça para Leo mostrar seu braço cheio de marcas de queimaduras das soldas
A paixão pela madeira e por deixá-la impecavelmente trabalhada (“tão lisa que dá até para lamber”, brinca Bruno) ele desenvolveu no trabalho com o artista plástico Edgard de Souza e em um curso de marcenaria clássica que fez com o mestre Antonino, na Lapa, durante anos. Bruno materializa então essa mistura (e conflito?) que se estabelece entre o desejo pelo rigor clássico ao trabalhar com os materiais e a desconstrução proposta pela arte. “Tudo pode ser inspiração: a paixão, o medo...” Essa coleção de articulados nasceu quando eu tive de matar uma aranha gigantesca que frequentava meu quarto na praia, e me detive — apesar do horror que tenho por esses bichos — nas patas e sua incrível construção. Fiquei olhando um bom tempo e corri para a oficina imediatamente. Assim nasceu essa coleção, hoje exclusiva da MICASA, e que projetou meu trabalho aqui e fora do país”, explica Bruno.
As mesas aracnídeas de Bruno não caminham pela casa, mas parece que poderiam. Inquietam, eventualmente acendem e podem ser manuseadas de forma a se curvar ou fazer um maneirismo, ou quase estabelecer o primeiro passo para uma dança. Aí mora o encantamento. Quando algo fixo e pretensamente imóvel sugere que a qualquer momento pode ganhar vida.
Bruno Freire é outro talento em evidência. Sua coleção de Articulados é exclusiva hoje da MICASA, outro importante endereço do design art da cidade de São Paulo. “Eu sempre tive o hand made dentro de mim. Uma verdadeira compulsão em montar e desmontar, desde pequeno”, situa Bruno, que também foi lançado pelo Coletivo Amor de Madre há alguns anos. Mistura de arquiteto intuitivo, produtor e designer de interiores, Bruno buscou o curso de Artes Plásticas da Faap para refinar seu repertório e desenvolver novas técnicas. “O engraçado é que, naquele templo das artes, eu tinha a compulsão de criar objetos... Foi uma luta. O corpo de professores querendo que eu criasse telas e esculturas e eu produzindo mesas”, ri Bruno. O resultado desse embate conceitual foi uma nota baixa por parte da banca de encerramento do curso e a produção de utilitários inquietantes e conceituais que logo chamaram a atenção de lojas e galeristas.
Fruteira Colher Pedreiro. Soldagem de 13 colheres de pedreiro originais em formato circular, com acabamento em pintura eletrostática em diversas cores. cabos encerados.
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Inspira, pira, respira
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Fotos Marcelo Stefanovicz
Mobiliário que agrega o extraordinário. O mais puro design art.
Bruno Freire
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Ao lado, Leo Capote e Marcelo Stefanovicz, à direita, Bruno Freire
ONDE ENCONTRAR
MICASA tem uma incrível seleção de design brasileiro e internacional e representa, com exclusividade, os articulados de Bruno Freire.
Para um mergulho inicial no mundo do design art, três nomes são essenciais:
R. Estados Unidos, 2109, Jardim América – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3088-1238
CONCEITO FIRMA CASA é uma loja de design high-end, recentemente reinaugurada, com projeto arquitetônico exclusivo do SuperLimãoStudio e concepção artística e conceito paisagístico dos irmãos Campana. O novo espaço está dividido em dois ambientes: o showroom multimarcas e galeria de design art com peças únicas ou de edição limitada. São os representantes exclusivos da Coleção Parafusos de Leo Capote.
ATELIER LEO CAPOTE E MARCELO STEFANOVICZ. Eles a chamam de OUTRA OFICINA e é certamente um local para se mergulhar nesse mundo criativo e mão na massa, cheio de ferramentas e referências de materiais.
Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1487 – São Paulo (SP) Tel.: (11) 3385-9595 contato@firmacasa.com.br
R. Baronesa de Itu, 42, Santa Cecília – São Paulo (SP) Tel.: (11) 2338-7736 garagem42@gmail.com
As visitas devem ser agendadas com antecedência, pois os artistas fazem diferentes horários de produção.
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Bali
é puro luxo O culto ao belo faz parte da alma dos balineses. Sorte de quem visita a chamada Ilha dos Deuses
filme Comer, Rezar e Amar. Nessa época, era apenas reduto de surfista. O ninho dos meus sonhos. Dos anos que passei a desenhar ondas perfeitas na capa dos cadernos de escola, das fotos nas revistas de surfe, das dezenas de vezes que vi e revi o lendário Morning of The Earth, de Alby Falzon e David Elfick, de 1971, quando as longas ondas de Bali ganharam as telas do cinema pela primeira vez na história, sob alucinante trilha sonora. O taxi nos deixou em frente a uma ponte. Descemos por estreita escadaria penhasco abaixo, passando pela boca de uma caverna até colocar os pés no elo perdido: a praia de areia branca e fina. Na frente da retina, uma piscina natural cercada pelos arrecifes de corais. E no horizonte, a onda famosa a girar em águas turquesas.
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A primeira vez que estive em Bali com a Carol foi em meados dos anos 1990. Vi a ilha de cima, da janela do avião, e o coração disparou. Lá embaixo, um mundo verde com vulcões e crateras rasgando o céu azul. A aeronave ganhou o mar e costeou já baixinho as falésias até pousar no aeroporto, praticamente sobre o Oceano Índico. Serpenteando campos de arroz com muitos tons de verde e florestas cheias de macacos, um taxi nos leva. Lembro de passar por vilas onde mulheres vestidas em trajes de cerimônias jogavam água sagrada nos templos hindus, preenchendo as estátuas de Ganesha e Shiva com flores, incensos perfumados e cheirosos jasmins. Era o começo do nosso namoro e passamos três meses jogados na praia de Padang Padang, que anos mais tarde ficaria famosa nas telas de cinema pelo
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Por Eduardo Petta | Fotos Carol Da Riva
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Havia apenas um warung (quiosque) na praia para comer e beber. Os donos, o casal Ketut e Made, arranjaram um colchão para a gente ficar. Todas as noites, depois que os turistas iam embora, nos acomodavam sob o teto de palha. Ketut e Made nos adotaram como membros de sua família. Com eles íamos à casamentos, batizados e cerimônias nas luas cheias e prestar reverência aos deuses hindus. Naquela época ainda não havia luxo nessa região, conhecida como Bukit. Zero internet, telefone, televisão, eletricidade, hotéis. Quando queríamos ligar para o Brasil era preciso pegar a moto e viajar quase duas horas até Kuta, perto do aeroporto. As noites eram de céu estrelado. Estar ali era quase de graça: o pernoite, o peixe fresco que chegava nas canoas, a água de coco direto dos coqueirais e as frutas exóticas desse ponto do globo, oito graus ao sul do Equador. Cada dia era vivido como um presente. E não queríamos nunca ter ido embora daquela água quentinha. Mas tínhamos vinte e poucos anos e uma vida pela frente. O Brasil nos chamou. Vieram novos desafios,
projetos, casamento, casa, filho, e só em junho de 2011, dois setênios depois, voltamos a Bali. Grávidos. E dessa vez para ficar. A cria que chegou envolta na barriga veio à luz meses depois, no pequeno vilarejo de Lot Tunduh, subúrbio de Ubud. A magia deu-se em casa, ao som de mantras, numa banheira florida. De testemunha, a parteira e o vulcão Gunung Agung, o mais sagrado de Bali, com seus 3 mil metros de altura.
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É lógico que a fissura pelo surfe e pela yoga nos inspiram a viver aqui. Para Carol, Bali é ainda o nirvana da fotografia, desfile diário de belas mulheres e homens sorridentes, a transitar entre templos e campos de arroz. Vira e mexe nos derretemos pela gratidão com que celebram a vida. Gosto de ver o sol raiar entre os vulcões, de meditar nos lagos repletos de flores de lótus, de caminhar entre os arrozais descalço com a Luisa no colo, de surfar com o Tiago, de conversar com as pessoas. Mas nada
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Hoje, com quase dois anos de vida, Luisa preenche o seu dia com as crianças da vila. Já balbucia o balinês, veste trajes típicos e ensaia passos de legong na escola, a dança local ritmada pela orquestra de gamelão. Meu filho, Tiago, no auge de seus 9 anos, estuda na Green School, escola feita de bambu, focada em criar líderes para um mundo melhor. Carol e eu usamos a ilha como base para explorar a cultura asiática.
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disso explica o mistério. Nosso amor pela ilha foge aos domínios do consciente. E por mais que tente lhes falar do que nos cativa, acredite, Bali é muito mais... Ubud é zen, Ubud é arte Nova vida, novos tempos. Nosso lar está longe da praia. Meia hora. Fincamos residência em Ubud, coração cultural, artístico e espiritual de Bali, localizado no interior da ilha, aos pés dos grandes vulcões. O centro de Ubud é cheio de cafés e lojas de grife. Mas basta sair do seu quarteirão principal para mergulhar no mundo dos arrozais. Ou em imagens que nos levam ao passado: crianças empinando pipas, velhas senhoras de peitos desnudos equilibrando cestas de fruta na cabeça. Cenas que parecem tiradas das telas do pintor e escritor mexicano Miguel Covarrubias. “Os balineses são felizes como um ser humano pode ser”, anotou Covarrubias em Island of Bali (1937, sem tradução para o português). O livro virou um clássico entre os viajantes vindouros e ajudou a povoar o imaginário de Bali por décadas. Hoje, em Ubud, há mais curandeiros por metro quadrado do que chefes de cozinha em Paris. Aqui reúnem-se terapistas do mundo inteiro: mestres de ioga, gurus da medicina ayurvédica, acupunturistas, colonterapistas e tantos outros istas, que juntaram-se aos grandes xamãns balineses (os balians) para formar a energia mítica de cura e bem-estar. Nessa batida do novo milênio, a vila vê brotar,como cogumelos, toneladas de opções para desintoxicar corpo e mente da rotina moderna.
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No mural da frente do Bali Buda, cartazes anunciam tudo que acontece em Ubud, para quem quer alinhar os chacras e viver uma vida saudável. A cidade está cheia de bons endereços assim. Um exemplo é o Alchemy, onde as alegres paredes estão pintadas com dizeres como “Meu corpo é meu templo” ou “Você é o que você come”. O buffet de saladas serve a linha da raw
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Muita gente passa dias, semanas ou meses em função da ioga. Dezenas de estúdios oferecem treinamento para professores, além de aulas de hora em hora, de todos os estilos. É pagar, entrar e fazer. O mais famoso é o Yoga Barns, palco de encontro também para kirtans (rodas de música indiana ) e para se curar pela dança (healing songs). No Radiantly Alive, a classe de Vinyasa Flow, do guru e DJ Daniel Aron, arrasta mais de cinquenta pessoas para suar juntos em posturas de malabaristas. Daniel sempre passa mensagens positivas em suas aulas. “Tudo é possível. Se você acredita ou não, de qualquer forma você está certo”, costuma dizer. Depois da aula, a turma costuma atravessar a rua e tomar uma água de coco ou um suco no Bali Buda, o restaurante e empório de comida “natureba”.
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food (comida viva), que não mata os nutrientes dos alimentos. Se você pensa que é sem graça e sem gosto, errou. De sucos verdes divinos, passando por sorvetes e docinhos de chocolate de cacau puro adoçados com açúcar natural, o menu é de lamber os beiços. Outro erro é pensar que estes locais não combinam com elegância. O Clear Cafe, de mesas de mármore e cadeiras confortáveis, é um charme ao anoitecer, com as luzes de velas e seus pratos servidos com arte. Se passar por lá, peça um Tropical Twister, o suco energizante cor-de-rosa, que leva fruta-dragão vermelha, maracujá doce e cerejas. Depois de alimentar o corpo, muita gente se entrega aos spas. São mais de cem em Ubud. Dos que cobram vinte reais a hora aos mais sofisticados, é difícil achar alguém que não saiba fazer massagem, tradição ensinada de pai para filho nas casas balinesas. “Nós gostamos de cuidar bem uns dos outros”, diz Ketut Jasi, dona do simples mas charmoso Cantika Spa, que planta e prepara os próprios óleos de ervas naturais usados nos tratamentos. Outra característica de Ubud é a arte. “Pintor, escultor, músico, dançarino. Aqui em Ubud, todo mundo é artista”, diz Mario Blanco, filho do exótico colecionador de arte Antonio Blanco, funda-
Os artistas estão concentrados em nichos. Quem quiser estátuas de pedra deve pegar a Jalan Batu Bulan. Bambu? Gianyar.
Os arredores de Ubud oferecem boas trilhas para fazer a pé ou de bike. Uma leve e bonita é a que acompanha o rio Campuhan. Outra bem tranquila é a do rio Sayang. Pernada mais séria é a subida ao topo do vulcão Batur para ver o dia nascer. Começa às três da madrugada e termina às onze da manhã. Para fazer
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Atraídos pelos artistas, muita gente vem a Ubud para comprar no mercado popular. Não recomendo. O mercado de Sukawati, mais ao sul, por exemplo, é mais barato e completo.“O melhor é ir direto à fonte. Venha ver o artista em ação e compre de suas mãos”, diz Mario Blanco. “Assim você incentiva os artistas e paga menos.”
Cestarias e máscaras? Em Mas. Se não te interessa rodar tanto, tudo bem. O centro de Ubud tem centenas de lojas de cangas, artesanatos e, claro, roupas de ioga. Carol sugere duas: as joias de rudraksha (uma semente indiana usada como proteção há 3 mil anos) com pedras preciosas da Shivaloka, que caiu nas graças de artistas de Hollywood, e a Uluwatu, de roupas descoladas. Para os homens, eu indico as camisetas de bakit, a arte de cera quente em pontos, da Bamboo.
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dor do Blanco Renaissance Museum. Quem gosta de fine art, aliás, vai se encantar com as galerias e museus de Ubud. Além do Blanco, vale uma visita às pinturas do Neka Art Museume do Puri Lukisan Museum.
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em grande estilo, vá com o pessoal do hotel mais luxuoso de Ubud, o Amandari. Seus passeios incluem sempre um piquenique com sanduíche de salmão e taças de espumante. Uma coisa que indico à todos é alugar uma moto automática estilo vespa, fácil de guiar, e sair sem destino. É incrível como você está numa rua movimentada, vira à esquerda ou à direita e em cinquenta metros está num arrozal sem fim. Vá devagar. Pare. Desça da moto, caminhe. Fale com as pessoas. E não vá embora sem purificar-se no Tirta Empul, o Templo das Águas, do século 9, onde todos os dias centenas de balineses se banham nas fontes de águas sagradas. Não há benção melhor. Cultura do mar
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A vila mãe é Uluwatu, praia de ondas tubulares e desafiadoras. Encravados no despenhadeiro de Uluwatu ficam dezenas de warungs nativos que formam uma espécie de arquibancada do surfe. Pertinho das ondas, no ponto mais ao sul da península, está o Pura Uluwatu — um dos templos mais visitados de Bali. E apesar de clichê, vale a visita.
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Mas vamos ao mar, porque o mar é a minha praia. Nosso endereço nos finais de semana é a península de Bukit, no extremo sul, paraíso dos surfistas do mundo inteiro, onde vivemos na década de 1990. Quem conhece Bali sabe o que significa a Bukit: grandes penhascos despencando verticais em um mar azul de ondas bravias circundando pequena praias que só aparecem nas marés secas.
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Uluwatu tem dezenas de hospedagens. Recentemente, hotéis divinos resolveram investir. Um desses superlativos é o Alila, de serviço tão impecável que cada hóspede tem um particular manager para tudo. Quem puder se dar esse luxo, pode experimentar o tratamento Journey to You, seis horas de culto aos prazeres da carne. Começa com ioga, segue-se um farto café da manhã, até chegar ao momento spa. Massagem na cabeça, no couro cabeludo, no corpo todo. Fui embalado com creme de abacate e capim cidreira, esfoliado, massageado e entregue novo entre o primeiro e o último chá de gengibre. De Uluwatu é possível seguir a muitas outras praias de Bukit. A oeste ficam as mais famosas, como Padang Padang (hoje, infelizmente, não mais o idílico lugar que nos abrigou), Balangan e Binguin — todas superlotadas. Ao leste, as selvagens, como Nyang-Nyang, Timbis e Pandawa, de acesso difícil, sempre vazias. Em Timbis, se você tiver coragem, é possível fazer voo duplo de parapente em cima dos corais. “O mais lindo do mundo”, garante o guia carioca Felipe Saboia, que oferece o serviço. Existem opções bacanas para celebrar na noite de Bukit. O Trattoria possui mesas com luz de vela, ótima pizza, saladas e todo mundo se vê. Uma opção mais sofisticada é o espanhol El Kabron, com seu ceviche. Agito mesmo, só aos domingos,
quando o Single Fin, em Uluwatu, recebe show ao vivo e gente jovem em clima despojado. Muita gente prefere ficar no centro do burburinho de Bali. Eu não gosto da área de Kuta, devastada pelo turismo. Nesse caso, é melhor ficar pelos lados de Seminyak, com dezenas de hotéis cinco estrelas e mar perfeito para se iniciar na arte do surfe. O programa mais legal de Seminyak é tomar drinques nos chamados clubs, espaços sofisticados, com espreguiçadeiras e DJs, na hora do pôr-do-sol. As casas mais famosas são: KU DE TA e Potato Heads. Todas funcionam da mesma forma. De manhã até o começo da noite, só paga o que consumir. De noite, vira balada paga, com gente linda do mundo todo, bem vestida, de todas as idades, dançando na pista. Dou ainda uma última dica. A Deus ex Machina, em Canggu, ao oeste de Seminyak. Mistura de restaurante, bar, galeria e casa de shows, a casa decorada com modelos de motos e pranchas de surfe vintage literalmente dita a moda na ilha. Costa leste e norte Cada vez que quero lembrar como era a Bali de 15 anos atrás, quando a conheci, vou para costa leste. Gosto de dirigir pelas
Essa é a região dos Bali Aga, o “povo das montanhas”. Os Bali Aga não aderiram ao sistema de castas hindu e possuem dialeto e crenças próprias, mais perto do animismo que vigorava na ilha, antes da chegada do hindu-budismo javanês durante os séculos 9 ao 15. “Nós somos os originais”, diz I Nyoman Diana, líder comunitário da vila de Tenganan, famosa pela produção do ikat duplo, tecido tradicional feito com algodão nativo e fibras de abacaxi.
Outra costa que demoramos um tempo para descobrir foi a costa sem ondas, ao norte e noroeste da ilha, quase encostada em Java. Grata surpresa. Só o caminho para chegar lá já vale a viagem, cruzando pelas altas montanhas de Bedugul, com mais de mil metros de altura, e o sagrado templo do lago Bratau, erguido sobre as águas, até descer ao litoral e alcançar o Parque Nacional de West Bali. Até 1930, o parque nacional era o habitat do tigre de Bali, hoje extinto. Mas ainda estão lá: macacos, veados e o starling-bird, a ave símbolo de Bali.
A costa leste é perfeita para casais no espírito lua de mel. Esse culto ao romance é levado à sério pelo Amankila, com luxuosos bangalôs com vista para o mar. Além de três piscinas com
O melhor é ficar dentro do parque, no discreto e impecável The Menjangan Beach Club, com quartos espaçosos de pés na areia. No café da manhã do Menjangan, animais como veados
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bordas infinitas, o hotel possui uma praia particular de areias escuras e águas calmas, para inspirar o amor.
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estradinhas sinuosas que cruzam Klung Klung, Padang Bai, Candidasa e Amed, e ir parando para apreciar a paisagem de terraços de arroz irrigados por um milenar sistema de águas chamado subak.
DEVANEIO e macacos costumam dar o ar da graça e são muito mansos. Do hotel é possível passear pela floresta a pé, de bicicleta ou à cavalo. Mas essa nem é a melhor parte. O mais bonito fica embaixo da água. Nos arrecifes de corais da ilha Menjangan, a meia hora de barco do hotel, a visibilidade impressiona até mergulhadores experientes, com um show de peixes coloridos.
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A última ilha Muita gente casa a viagem à Bali com outras ilhas da Indonésia — são mais de 17 mil. Faz muito bem. Não é fácil ao brasileiro viajar até o Anel de Fogo do mundo, como é conhecida esta região de mais de trezentos vulcões. São quase trinta horas de voo. Aos que perguntam: indico Flores e Komodo aos mergulhadores; Sumatra aos surfistas e amantes dos orangotangos; e Papua, para quem é muito aventureiro. Muita gente também gosta de ir
à vizinha Lombok e às Gillis Islands, onde as praias são muito mais bonitas do que Bali, mas sem a ternura do povo balinês. Agora, se você me perguntar qual o nosso cantinho preferido, anote aí: Nusa Lembongan. Uma ilha à meia hora de speed boat saindo de Sanur, na costa leste de Bali. Tem bons restaurantes, como o Indiana Kenanga, com chef francês três estrelas Michelin. Tem altas ondas, mergulho com arraias, saltos de penhascos, corais, manguezais. É uma Bali em miniatura, mas melhor: sem carros nem trânsito. Não tem campos de arroz, é verdade, mas tem o cultivo de algas à beira-mar; um trabalho poético, com os canoeiros empurrando as embarcações no sobe e desce das marés. Acho que é por isso que amamos tanto Lembongan. Daqui dá para ver com nitidez, em todo o seu esplendor, o Gunung Agung, o vulcão sagrado, que abençoou o nascimento da Luisa. A montanha sagrada que presto reverência, assim como todos os balineses, a cada amanhecer do planeta azul.
Onde Ficar
Bem-estar
Alila Uluwatu Resort – Jl Belimbing Sari, Banjar Tambiyak, Desa Pecatu Tel.: 0361 848 2166 www.alilahotels.com/uluwatu
Cantika Spa – Jalan Bisma, Ubud Tel.: 0361 794 425 http://www.indoline.net/santika/
Amandari – Kedewatan, Ubud Tel.: 0361 975335 www.amanresorts.com/amandari/home.aspx
Yoga Barn – Jl Monkey Forest, Ubud Tel.: 0361 971 236 www.theyogabarn.com Onde Comer Indiana Kenanga – Nusa Lembongan Tel.: 081 916 236322 www.indiana-kenanga-villas.com
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Amankila – Manggis, Karangesam Tel.: 0363 41333 www.amanresorts.com/amankila/home.aspx
Radiantly Alive Yoga – Jl Jembawan 3, Ubud Tel.: 0361 978 055 www.radiantlyalive.com
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The Menjangan – Jl. Raya Gilimanuk, Singaraja, km 17, Desa Pajararakan, Buleleng Tel.: 0362 94700 www.themenjangan.com
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Trattoria Uluwatu – JI Labuan Sait, Padang Padang, Uluwatu Tel.: 0361 822 7741 El Kabron – Jl. Pantai Cemongkak Pecatu, Padang Padang Tel.: 0361 780 3416 Alchemy – Jl Penestanan Klod, Ubud Tel.: 0361 971 981 www.alchemybali.com Bali Buda – Jl Jembawan, 1, Ubud Tel.: 0361 976 324 Clear Café – Jl Hanoman, 8, Ubud Tel.: 0361 889 437 Alchemy – Jl Penestanan Klod, Ubud Tel.: 0361 971 981 www.alchemybali.com Baladas Signle Fin – Blue Point, Uluwatu Tel.: 0878 6203 9866 Deus ex Machina – Jl Batu Mejan, 8, Canggu Tel.: 0361 368 3386 www.id.deuscustoms.com KU DE TA – Seminyak www.kudeta.net Potato Head – Seminyak www.ptthead.com Onde comprar
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Shivaloka – Jalan Hanoman, Ubud www.omshivaloka.com Bamboo – Jl Jembawan, 1, Ubud Tel.: 0361 976292 Uluwatu – Jalan Monkey Forest, Ubud Tel.: 061 977557 www.uluwatu.co.id