razão
#7 03 2009
emoção prazer
devaneio
CAROL DA RIVA
Todos a bordo!
CAROL DA RIVA
CAROL DA RIVA
Daqui tudo ĂŠ bonito de se ver
expediente Eurobike magazine é uma publicação do Grupo Eurobike de concessionárias Audi, BMW, Land Rover, Porsche, Toyota e Volvo. Av. Wladimir Meirelles Ferreira, 1600 14021-630 - Ribeirão Preto - SP Tel.: (16) 3965-7000 www.eurobike.com.br Editorial: Heloisa C. M. Vasconcellos, Eduardo R. da C. Rocha Direção de arte: Eduardo R. da C. Rocha Coordenação e produção gráfica: Heloisa C. M. Vasconcellos Administração: Patricia Miller Comercial: Alexandra E. Henriquez Preparação e revisão: Rosemary Lima Produção: blue media Tiragem desta edição: 10.000 exemplares Impressão: Pancrom Distribuição: Eurobike Proibida a reprodução, total ou parcial, de textos e fotografias sem autorização da Eurobike. As matérias assinadas não expressam, necessariamente, a opinião da revista.
colaboradores
Carol da Riva, Ding Musa, Eduardo Petta, Érico Hiller, Fifi Tong, Kriz Knack, Lalo de Almeida,Oscar Pilagallo, Percy Faro e Simone Fonseca Foto da capa: Ding Musa
www.bluemediagroup.com.br 6 . Eurobike magazine
carta do editor
Caro leitor, Temos o prazer de apresentar, orgulhosos, mais um número da Eurobike magazine. Aproveitando o momento “volta às aulas”, conversamos com Denise Aguiar que, à frente da Fundação Bradesco, dá continuidade ao sonho do avô, o de construir e manter escolas para crianças carentes. Sonho esse que deixou de ser sonho e hoje é uma realidade muito palpável: 40 unidades distribuídas pelo país. Um exemplo e tanto de como aplicar bem o dinheiro. Em matéria de prazer, o voo de planador foi uma experiência incrível, e mais uma vez o fotógrafo Lalo de Almeida nos traz imagens arrebatadoras, captadas do alto do Rio Grande do Sul. Para a emoção dos fanáticos por Volvo, elegemos o XC60, um espetáculo de crossover que o fotógrafo Ding Musa levou para passear de madrugada pelas praças de São Paulo. E na segunda parte do percurso da Estrada Real, o jornalista Eduardo Petta estava inspiradíssimo, e ficamos sem saber se é um texto de viagem ou uma imensa poesia. Descubra você mesmo.
Boa leitura. Um grande abraço, Henry Visconde Diretor Presidente magazine@eurobike.com.br
Eurobike magazine . 7
#7 03 2009 12. raz達o 14. Entusiasmo
de amadora
8 . Eurobike magazine
22. emoção 24. Volvo XC60 por Ding Musa
34. XC60, o sonho real 36. BMW F800 GS e R1200 GS
44. prazer 46. O veleiro do ar 58. Eurobike também é festa!
60. devaneio 62. Caminho do ouro
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FIFI TONG
12 . Eurobike magazine
raz達o
Contribuir para o desenvolvimento do ser humano, fazer um pouco mais que a sua parte
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14 . Eurobike magazine
Entusiasmo de amadora À frente da Fundação Bradesco, Denise Aguiar leva adiante o projeto do avô, fundador do banco, de manter escolas em comunidades carentes de todo o país POR OSCAR PILAGALLO | FOTOS FIFI TONG
Denise Aguiar, no saguão de entrada da Fundação Bradesco, diante de um painel com desenhos de alunos estampados em capas de cadernos
Eurobike magazine . 15
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tância do estudo na vida da pessoa”, diz Denise, ao recordar que foi essa preocupação que o levou a criar a Fundação Bradesco.
No ano passado, numa das visitas
O objetivo era construir escolas onde
que faz regularmente às escolas da Fun-
o poder público não chegasse. Amador
dação Bradesco espalhadas pelo Brasil,
tinha a meta, hoje atingida, de erguer
Denise Aguiar Alvarez, diretora da enti-
pelo menos uma escola por estado.
dade, ouviu de uma criança que estuda-
Com quarenta unidades, a Fundação
va no internato da remota Canuanã, em
Bradesco está presente do Rio Grande
Tocantins: “Você que é a Amadora?”.
do Sul ao Amapá. “No início, ele mesmo
Na lógica infantil, a pergunta fazia todo
decidia os lugares”, afirma Denise, que
o sentido. Afinal, Denise – mais do que
não se esquece das frequentes viagens
neta do fundador do banco, Amador
do avô a Canuanã, onde as histórias so-
Aguiar, o homem que em 1956 criou a
bre Amador Aguiar foram passadas de
fundação – é quem leva adiante o pro-
geração para geração.
jeto do avô. Por isso, não é de se estra-
Ao assumir a fundação, em 1988,
nhar que ela tenha adorado a maneira
Denise deu um passo que tinha muito
como foi abordada. “Sou em mesma”,
de natural e hereditário. Natural porque
respondeu sem pestanejar.
ela tinha interesse profissional em edu-
Amador e “Amadora” têm uma história
cação infantil. “Sempre quis saber como
de longa convivência. Aos 51 anos, ela
a criança pensa e gostaria de ter feito
é a mais velha dos treze netos do ban-
um trabalho com crianças em situação
queiro. “Sempre morei do lado do meu
de rua”, conta Denise, que se formou
avô. Ele era como todo avô, que ‘estra-
em pedagogia na Pontifícia Universida-
ga’ os netos, faz o que pai e mãe não
de Católica de São Paulo e fez o mes-
fazem. Lembro de uma rampa na casa
trado na Universidade de Nova York. E
dele, que ele enchia de sabão em pó
hereditário, pois esse seria o legado de
e a gente escorregava – até o dia que
Amador Aguiar à neta. “Quando voltei
um de nós rachou o queixo.”
de Nova York, em 1987, ele já queria
Amador Aguiar era um homem sim-
que eu trabalhasse aqui. Fiquei um ano
ples, mas de uma simplicidade quase
como orientadora na pré-escola e no
caricatural, o tipo que, tendo nascido
ano seguinte ele me deu esse cargo”,
pobre, na roça, nunca se acostumaria
diz Denise, que, ao aceitar o convite-
a vestir meias, detalhe sempre men-
-convocação, abriu mão do projeto de
cionado para enriquecer o folclore
fazer o doutorado na França.
criado em torno do maior self-made
A carreira acadêmica foi substituída
man brasileiro do século passado.
pela prática empresarial. Mas Denise
O certo é que ele não teve oportunida-
comanda o braço filantrópico do impé-
segunda metade do século XX e hoje
de de estudar. Frequentou a escola até
rio financeiro sem esquecer os velhos
é praticamente hegemônica no mundo
o equivalente ao quinto ano do ensino
mestres dos tempos da faculdade. A
ocidental, o conhecimento é construído
fundamental. E depois teve de trabalhar.
maior influência? “Piaget, sem dúvida”,
em etapas e se dá a partir da adaptação
Foi essa carência que o fez valorizar
afirma, referindo-se ao pensador suíço
da criança ao seu ambiente.
a educação. Não queria para os outros
Jean Piaget (1896-1980), cujas pesqui-
Não é por acaso, portanto, que as es-
as dificuldades que enfrentara por não
sas com o desenvolvimento do aprendi-
colas da Fundação Bradesco adotaram
ter estudado. “Como ele não teve [edu-
zado das crianças deram origem à te-
o construtivismo. Não propriamente
cação formal], para ele isso era funda-
oria do construtivismo. Para essa cor-
aquela oriunda dos textos de Piaget,
mental. Ele falava muito sobre a impor-
rente pedagógica, que floresceu na
mas a interpretada pela psicóloga
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“Algum tempo atrás, o aluno que entrava numa escola da fundação nem vislumbrava a hipótese de entrar na faculdade, estava com a autoestima lá embaixo. É nosso papel abrir o horizonte dele, e a cada ano está aumentando o número de alunos que entram na faculdade.”
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18 . Eurobike magazine
argentina Emilia Ferreiro, que estudou com
Responsável pelas grandes decisões da fun-
o mestre suíço em Genebra. “A partir de
dação, Denise também gosta de se envolver
Piaget, a Emilia mostrou como a criança
com os detalhes. É ela, por exemplo, quem
olha esse mundo das letras. No meu tempo,
escolhe a ilustração das capas dos cader-
a gente aprendia a ler sob a ótica do adulto.
nos, confeccionadas a partir de desenhos
As cartilhas ensinavam o ma, me, mi, mo,mu.”
dos alunos. Mas não confia só no gosto
E como são as cartilhas das escolas da fun-
pessoal. “Mandei fazer uma pesquisa e des-
dação? “Não tem cartilha, a criança constrói
cobri que a partir do quinto ano os alunos
a sua forma de pensar, não há nada pronto.”
preferem cadernos com capas lisas, só com
Foi um trabalho que demorou vários anos.
cores”, afirma Denise, que, naturalmente, é
“Reunimos professores de escolas de São
quem escolhe as cores.
Paulo e eles desenvolveram um livro didático
O envolvimento com os detalhes se justifica.
a partir de trabalhos que faziam na sala de
Devido à escala, não há detalhes pequenos
aula.” Mais tarde, o resultado foi oferecido às
na Fundação Bradesco. “Só de uniformes,
demais escolas, com as devidas adaptações
são R$ 5 milhões por ano”, ela exemplifica.
regionais. “Isso é o mínimo que a gente gos-
E é preciso conhecimentos específicos,
taria que o professor usasse do primeiro ao
como saber que, se o grafite do lápis não
quinto ano – é um norte, uma base.”
estiver bem centrado, ele quebra na hora de
É sobre essa base que está assentada a es-
apontar, tornando caro o que era barato.
trutura da Fundação Bradesco, responsável
De onde vem tanto dinheiro? Da própria fun-
por um dos maiores e mais antigos programas
dação. “Temos a maior parte das ações do
de responsabilidade social do Brasil. Com um
banco e vivemos com os dividendos. Por
orçamento de R$ 231 milhões previsto para
isso somos independentes, não precisamos
este ano, a entidade tem recursos garantidos
pedir para ninguém”, explica Denise. E com-
para manter as unidades em funcionamento.
pleta: “Como dizia meu avô, temos que rezar
Com a crise, Denise conta que o projeto de
para o banco continuar indo bem”.
construir até mais duas unidades teve de ser
Mais complicado do que administrar o patri-
adiado, talvez por dois anos. Os números re-
mônio deixado por Amador Aguiar é saber
lativos ao que já existe, no entanto, revelam
se a fundação está cumprindo o objetivo
a dimensão superlativa do empreendimento.
que ele imaginou, que é oferecer educação
São mais de 110 mil alunos distribuídos entre
de qualidade a comunidades carentes. Para
o ensino fundamental e médio, que também
obter esse dado, a única maneira é aferir
recebem gratuitamente assistência médica
o conhecimento dos alunos e compará-lo
-odontológica. A operação emprega cerca
com os níveis do ensino público. Denise
de 2.600 pessoas.
tomou a iniciativa para medir o nível de co-
Fazer essa máquina girar nos eixos exi-
nhecimento dos alunos da fundação. “No
ge mais do que boa vontade – exige uma
ano passado, liguei para o ministro Fernando
administração profissional. Embora sem fins
Haddad [da Educação] e pedi para ele liberar
lucrativos, a fundação funciona como uma
para a gente as questões da prova Brasil, às
empresa. “Cada diretora tem que saber
quais não temos acesso porque não somos
quanto está gastando. Elas não lidam com
escola pública. Fizemos as provas das pon-
dinheiro, mas precisam saber quanto custa
tas, ou seja, na quarta série, na oitava série e
educar um aluno”, afirma Denise Aguiar. E
a do Enem” [Exame Nacional do Ensino Mé-
quanto custa? Ela consulta a planilha e in-
dio]. A média foi superior a 5, mais alta que a
forma: são R$ 3.038,00 por ano. “É mais ou
média do Brasil, em torno de 3. “Para o Brasil
menos igual à escola pública, mas nós da-
é muito, para a gente é pouco.”
mos tudo, do material escolar à roupa, e os
A Fundação Bradesco tem outro parâme-
nossos alunos têm um índice de cárie quase
tro, uma prova que estabelece um ranking,
igual ao da Suécia.”
por matéria, entre as quarenta escolas.
Reunimos professores de escolas de São Paulo e eles desenvolveram um livro didático a partir de trabalhos que faziam na sala de aula.” Mais tarde, o resultado foi oferecido às demais escolas, com as devidas adaptações regionais.
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meçando a germinar no Brasil. Hoje, o em-
enfim, é uma minicidade.”
presário bem-sucedido até se sente mal se
Denise, nos momentos de lazer, gosta de na-
não contribuir. É uma obrigação. Ele tem que
dar (“duas vezes por semana na raia lá em
devolver para a sociedade alguma coisa que
casa”) e de ler. Voraz e onívora, é daquelas
“Cada escola tem uma nota, e tem a obri-
a sociedade deu a ele.”
que num feriado na praia devora um livro por
gação de melhorar, de acordo com metas.
Denise Aguiar não foge de temas polêmicos.
dia, ficção e não-ficção. Uma leitura recente
Quem vai mal recebe treinamento direto.
Cotas raciais? “É um efeito-dominó. O aluno
que a marcou foi Um antropólogo em Marte,
Temos uma cobrança muito grande.” Esse
[negro] não chega lá porque a escola pública
do neurologista inglês Oliver Sacks. “Ele con-
esforço tem amplo reconhecimento por par-
não tem qualidade. O caminho é melhorar
ta a história de um homem que, cego desde
te dos alunos: o índice de evasão é inferior
o nível da escola pública. As cotas podem
a infância, volta a ver aos 50 anos. Só que ele
a 3%, para um contingente de quase 1,5 mi-
ser um caminho para alguns, mas por outro
detestou, a vida dele virou um inferno. Isso
lhão nos últimos dez anos. O êxito da funda-
lado criam racismo.” CEUs? “Conheço um
me fez pensar muito, porque aqui na funda-
ção chegou a ser estudado como case pela
ou outro CEU [Centro Educacional Unificado,
ção temos muitos deficientes visuais.”
Harvard Kennedy School.
uma das bandeiras políticas da ex-prefeita
A música também faz parte da vida de
E para onde vão todos esses alunos? Para o
Marta Suplicy em São Paulo]. Têm uma es-
Denise. No i-Pod, a variedade é grande, de
Bradesco, certo? Errado. A ideia não é trans-
trutura ótima, mas é preciso ver como são
Astor Piazzolla a Amy Winehouse, além de
formar a fundação num celeiro de mão de
o custo e a manutenção. E saber se terão
Seu Jorge, o cantor brasileiro que ela mais
obra para a instituição financeira. No máximo,
continuidade.” Política educacional do go-
admira. Em fevereiro, ela o recebeu para um
são aproveitados os três melhores de cada
verno Lula? “A política educacional do gover-
jantar, e ele pegou o violão e cantou. “A voz
estado – e isso quando há vagas, o que nem
no está melhorando desde o tempo do Paulo
dele é uma orquestra”, comentou Denise,
sempre é o caso, já que em algumas comu-
Renato [ministro da Educação de Fernando
depois de ter mostrado em primeira mão ao
nidades nem há agência do banco. Os alu-
Henrique Cardoso] e está tendo continuida-
compositor de “Burguesinha” o mais recente
nos vão para onde, então? Muitos vão para
de, sobretudo com relação à avaliação.”
filme da Fundação Bradesco.
a faculdade. “Algum tempo atrás”, lembra-se
Apesar do cargo que ocupa, Denise tem
Talvez Denise Aguiar, mesmo enquanto lê
Denise, “o aluno que entrava numa escola da
vida mansa, dá expediente de algumas
ou ouve música, nunca pare totalmente de
fundação nem vislumbrava a hipótese de en-
horas por semana em seu escritório na Cida-
pensar em educação. Talvez ela seja mesmo
trar na faculdade, estava com a autoestima
de de Deus, sede do Bradesco, em Osasco,
uma amadora, no sentido de entusiasta.
lá embaixo. É nosso papel abrir o horizonte
na Grande São Paulo. Bem, pelo menos essa
dele, e a cada ano está aumentando o nú-
é a impressão de muitos interlocutores – an-
mero de alunos que entram na faculdade.”
tes de conhecê-la. “Me perguntam: quantas
Quanto aos que não vão para a faculdade,
vezes você trabalha por semana? Eu digo:
acabam sendo procurados no mercado. “As
todos os dias. Aí perguntam: de manhã ou
empresas todas vão atrás.”
de tarde? De manhã e de tarde, eu respon-
Denise Aguiar está à frente de uma institui-
do.” Essa é a rotina da principal executiva da
ção que não teria nada de especial – se a
Fundação Bradesco, quebrada apenas por
sede fosse nos Estados Unidos. Lá, é co-
outros compromissos profissionais, como
mum que as elites se envolvam em projetos
reuniões de entidades às quais ela está liga-
de natureza filantrópica. A diferença não pas-
da, como o MAM (Museu de Arte Moderna)
sa despercebida à ex-estudante da Univer-
e o Gife (Grupo de Institutos, Fundações
sidade de Nova York. “É uma coisa cultural.
e Empresas), do qual é presidente.
Nos Estados Unidos, é muito importante ser
E há as visitas às escolas, claro. Algumas
voluntário. Ao se tornar adulto, o ex-aluno
são verdadeiras aventuras. Para ir a Canu-
se sente obrigado a devolver alguma coisa
anã, em Tocantins, é preciso tirar no mínimo
para a escola.” Mas ela sabe que isso não
três dias entre ida e vinda. “É longe. A gente
é tudo. “Tem também o lado das leis fiscais,
desce em Gurupi, pega uma caminhonete,
que favorecem esse tipo de iniciativa – no
anda uns 140 quilômetros, metade terra, até
Brasil, é diferente.” De qualquer maneira, ela
chegar ao internato onde moram mil alunos,
percebe mudanças de atitude. “Isso está co-
com barbeiro, lavanderia, padaria, açougue,
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Força e determinação. Novo Porsche 911 Carrera 4S Cabriolet. Com o sistema de injeção direta de combustível (DFI), a gasolina é injetada diretamente na câmara de combustão. Resultado: mais potência, mais torque e menos consumo.
DING MUSA
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Compartilhar o que nos faz vibrar Inevitável!
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O fotógrafo, o carro e a praça. Volvo XC60 por Ding Musa “Onde você gostaria de fotografar o XC60?”, perguntamos ao Ding Musa. “Nas praças de São Paulo que fazem parte da minha infância.” Assim o fotógrafo – que expõe seus trabalhos em galerias de arte mundo afora – cria uma luz muito especial para o mais novo lançamento da Volvo
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Design esportivo e uma combinação de sistemas inteligentes de segurança – claro, é um Volvo! Se você errar um pouco na curva, ele ajuda a corrigir a rota Eurobike magazine . 27
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Aparência robusta, músculos bem definidos. Os traços fluidos revelam o charme de um esportivo
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S贸 para os muito exigentes Eurobike magazine . 33
XC60, o sonho real POR PERCY FARO
No Brasil, a Volvo coloca o pé no segmento que mais cresce atualmente na indústria automobilística mundial – a dos utilitários premium – com o XC60, crossover apresentado no Salão de Genebra, em março do ano passado, e a estrela sueca no Salão Internacional do Automóvel 2008, em São Paulo. Estima-se um incremento de 75% neste segmento em 2009, e DNA é o que não falta para o XC60 ampliar com sucesso o portfólio da Volvo no Brasil.
pagem mesmo em condições de trânsito mais críticas, e a distribuição perfeita do peso entre os eixos dianteiro e traseiro, que faz o carro se comportar da forma mais segura, independente da situação. Simultaneamente, o sistema DSTC (Dynamic Stability and Traction Control) registra o nível de derrapagem, dando a oportunidade de detectar ligeiras patinagens. Isso pode ocorrer se o motorista repentinamente alivia o pedal do acelerador em uma curva, por exemplo, quando faz uma manobra atrasada e brusca para sair de uma estrada. Ao medir a taxa de derrapagem, o DSTC permite antecipar o início da correção de rota,
motorista livre para se concentrar apenas na direção. O XC60 é considerado o carro mais seguro já produzido pela Volvo. Em relação ao estilo, e como o nome do segmento revela (cruzamento de carro de passeio com utilitário esportivo), o novo crossover da Volvo reúne o que há de melhor nos dois tipos de carro. Na linha de cintura inferior da carroceria as formas criam uma aparência robusta, que combina com a grande altura em relação ao solo e as rodas largas. Já na linha superior, os traços fluidos e sedutores revelam o charme de um esportivo. Disponível no Brasil na versão com motor ARQUIVO VOLVO
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Se para Stephen Odell, presidente e CEO da Volvo Cars, o XC60 tem como ponto forte a síntese entre design esportivo arrojado e uma gama de sistemas inteligentes de segurança que ajudam o condutor a evitar acidentes, para o consumidor ele vai além disso. De um lado, é um projeto que tem como público-alvo pessoas com elevadas exigências em relação a design, alta tecnologia e credibilidade da marca; de outro, reúne a força de um SUV com tração integral e surpreende pelas novidades em segurança veicular. A principal delas é o City Safety, um dispositivo que ajuda o motorista a evitar ou reduzir os efeitos de uma colisão em baixa velocidade que, diga-se de passagem, são responsáveis por boa parte dos incidentes em trânsito urbano. Se o carro está na iminência de se chocar contra o veículo da frente, ele freia automaticamente mesmo que não haja ação por parte do condutor. A elevada rigidez torcional e a configuração esportiva do chassis garantem controle preciso e minimizam tendências de derra-
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tornando o processo muito mais preciso. O XC60 ainda traz como item de série o RSC (Roll Stability Control), um controle ativo de estabilidade que, sempre que identifica risco considerável de derrapagem, reduz o torque do motor e as forças de frenagem são direcionadas a uma ou mais rodas para conter qualquer tendência de derrapagem. De quebra, como opcional, o HDC (Hill Descent Control), que oferece progressão lenta em primeira marcha em descidas utilizando para isso os freios e o torque do motor. Como resultado, controla a velocidade do carro e mantém uma velocidade constante de “rastejamento”. Isso deixa o
turbo de seis cilindros, com 285 cv de potência, o propulsor T6 é perfeito para direção esportiva. Concebido para proporcionar elevada potência com os menores níveis possíveis de consumo de combustível e emissões, é otimizado graças à tração integral AWD que transfere o máximo de potência para as rodas. O XC60 conta com transmissão automática de seis velocidades, dimensionada para atender a grande demanda dos motores T6. Além, é claro, de um modo que permite trocas manuais de marchas para os que preferem uma condução mais esportiva. Afinal, para ser real, o carro dos sonhos tem de ser completo.
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Aventureiras alemãs por excelência BMW F800 GS e R 1200 GS exploram os arredores de Ribeirão Preto
POR PERCY FARO | FOTOS ÉRICO HILLER
36 . Eurobike magazine
Se o design glamoroso, imponente e rico em detalhes dos automóveis fizeram das décadas de 1950 e 1960 os anos dourados no mundo das quatro rodas, no de duas rodas prevalecia a busca pelo aprimoramento das características técnicas dos modelos produzidos em série. Norton, Harley Davidson, Indian, Triumph e BMW eram algumas marcas que disputavam palmo a palmo cada conquista. Entre elas, a BMW já se destacava pela tecnologia avançada incorporada ao sistema de transmissão: o uso de cardã no lugar de corrente, um diferencial que ainda hoje é uma referência no mercado.
O tempo passou, os processos produtivos foram aprimorados, a tecnologia evoluiu. As motos BMW percorreram os mesmos caminhos e chegaram à era da eletrônica embarcada. E o sucesso da marca é garantido também no volume de vendas. Em 2008, a BMW Motorrad comemorou recorde de comercialização no mercado brasileiro, com 1.408 unidades, o que representa um crescimento de 72% em relação a 2007.
da campeã de vendas no Brasil, vem a irmã mais nova, a F 800 GS, lançada em vários mercados internacionais e já disponível também no Brasil. Na verdade, as perspectivas da BMW Motorrad para 2009 são bastante abrangentes e reúnem a mais ampla gama de modelos de todos tempos. Nos segmentos Enduro, Tour, Urban, Sport e HP estarão disponíveis motocicletas que atendem a todos os gostos. E satisfazem todas as emoções.
O carro-chefe da marca no país, aliás como em todo o mundo, novamente foi a big-trail R 1200 GS, com 845 unidades emplacadas no ano passado, segundo o Denatran. Na esteira
Aliás, adrenalina nas alturas foi a tônica de teste-drive promovido pela Eurobike, nos arredores de Ribeirão Preto (SP), reunindo três experientes pilotos. Experientes e extremamente ligados à marca.
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“A paixão por máquinas sempre esteve presente na minha vida. Piloto de aeronaves por profissão, foi muito fácil identificar-me com a BMW, até pela sua logomarca, cujo desenho lembra uma hélice de avião girando. O nível de tecnologia inovadora é muito alto, como também é sua história e tradição. Tudo isso junto proporciona mais que uma sensação de pilotagem. O ponto forte da GS é a versatilidade para qualquer terreno, a estabilidade no fora-de-estrada. A posição de pilotagem também me convenceu a optar pelo modelo. A motorização, junto com o sistema de transmissão a cardã, me dá muita confiança na disponibilidade da motocicleta, principalmente em longos percursos. É praticamente impossível ocorrer uma falha mecânica. O controle de tração e o ABS são itens de segurança que ajudam muito na pilotagem. É difícil observar esses itens em outras marcas. Outro ponto de muito conforto é o aquecimento das manoplas que auxiliam muito em caso de chuva e frio.” José Luiz Felicio Filho
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“Pilotar uma BMW é puro prazer e total liberdade, mas com um aspecto especial que a diferencia das outras motos: a segurança. Acho a GS 800 uma moto perfeita, extremamente versátil. Posso fazer viagens longas, andar por estradas de terra e usá-la no dia a dia, tudo com muito conforto e segurança. É uma moto com centro de gravidade perfeito, pois o tanque de combustível é embaixo do banco, ou seja, no centro da moto, o que dá ao piloto maior dirigibilidade e estabilidade, tanto na terra quanto no asfalto. Em relação ao motor, não poderia ser melhor: é muito potente, com enorme poder de retomadas e velocidade final incrível. Enfim, acho que a GS 800 é perfeita para quem gosta de aventuras sem abrir mão da segurança.” Francisco Castilho
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“A sensação e a emoção de pilotar uma BMW está acima das expectativas, é a sincronia entre piloto e moto. Os pontos fortes que observei no teste foram a imponência, a performance e a agilidade em terrenos acidentados, que me surpreenderam bastante. Quanto ao conjunto mecânico, prefiro denominar como verdadeira orquestra sinfônica, tal a sua perfeição. Desde a posição de pilotagem, conforto de bancos, posição do garupa, suporte para malas, bolha regulável, é tudo um escândalo de gostosura. A atração pela BMW é muito grande, tanto que já possuo a mesma marca há doze anos. A tecnologia alemã é reconhecidamente a melhor do mundo.” Silvio Martucci
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BMW F 800 GS – Equipamentos de série
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Gerenciamento eletrônico do motor (BMS-KP) Rodas raiadas Descanso lateral com inibidor de partida Mangueiras de freios tipo “Aeroequip” Caneragem do painel fixada ao chassi Sistema Eletrônico Can-Bus Ajuste de altura do farol baixo Luzes de emergência (pisca-alerta) Assento único Escapamento de aço inox Freio dianteiro com disco duplo Chave única para ignição, trava e tanque de combustível Para-brisa Guidom de alumínio com seção variável Protetor de cárter de plástico – alumínio opcional Para-lama dianteiro próximo à roda Imobilizador eletrônico (EWS) Painel de instrumentos com hodômetros parcial e total, velocímetro, conta-giros e relógio Tomada auxiliar 12V Tomada de interface para diagnóstico Ajuste contínuo do retorno do amortecedor traseiro Ajuste hidráulico de pré-carga de mola traseira Ignição e trava de guidom integradas
BMW R 1200 GS – Equipamentos de série
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
Gerenciamento eletrônico do motor (BMS-K) com duas velas de ignição por cilindro Escapamento de aço inox com coletor polido e ponteira escovada BMW Motorrad Palaver Ajuste hidráulico de pré-carga da mola traseira Rodas de liga leve com desenho de duplo raio Mangueiras de freios tipo “Aeroequip” Guidom com seção variável sem barra central Ajuste contínuo do retorno do amortecedor traseiro Tomada para diagnóstico no GT1 Ajuste de altura do farol baixo Sistema Eletrônico Can-Bus Luzes de emergência (pisca-alerta) Bagageiro Cavalete central Protetor de cárter Controle de detonação Tampas dos cabeçotes de magnésio BMW Motorrad Telelever Nove posições de ajuste manual da pré-carga do amortecedor dianteiro Descanso lateral com inibidor de partida Suspensão traseira com amortecedor de ação progressiva
• • • • • • • •
Farol permanente Imobilizador eletrônico (EWS) Painel com velocímetro digital e conta-giros Tomada auxiliar 12V Kit de ferramentas Manetes de freio e embreagens ajustáveis Ignição e trava de guidom integradas Para-brisa ajustável
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Fotos meramente ilustrativas.
Audi A3 Sportback e Novo Audi A4.
Duas personalidades.
Eurobike Campinas Av. José de Souza Campos, 1197 Tel. 19 3344 1200 Eurobike Ribeirão Preto Av. Independência, 1853 Tel. 16 3913 1100 Eurobike São José do Rio Preto Av. Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1070 Tel. 17 3354 1300
Com uma única assinatura: Eurobike. Dois grandes lançamentos a sua espera na Eurobike.
LALO DE ALMEIDA
44 . Eurobike magazine
prazer
No ar, olhando o mundo como pássaro. Voar é elevar as sensações
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prazer
O veleiro do ar Osório, cidade gaúcha, é um dos melhores lugares do Brasil para a prática do volovelismo, esporte conhecido também como voo a vela ou voo de planador
POR SIMONE FONSECA | FOTOS LALO DE ALMEIDA
Sábado, 8 de fevereiro de 2009, nove
Frederico, funcionário do aeroclube e
horas da manhã. Osório, Rio Grande
piloto do rebocador, passa com uma
do Sul. A meteorologia sugere que o
prancheta
tempo pode mudar a qualquer instan-
quem será o primeiro a voar. À exceção
te. Um ciclone subtropical que se forma
da repórter, na pista, só homens. Todos
ao sul da Argentina é a maior ameaça.
pilotos de recreio, que uma ou duas ve-
O vento, indomável como um cavalo
zes por mês vêm a Osório para praticar
selvagem, faz com que a biruta aponte
o voo a vela. E fazem isso há mais de
a cada momento para um lado, exibin-
vinte anos.
nas
mãos
perguntando
do uma engraçada dança dos ares. Jairo vem de moto de Tubarão, Santa Em terra firme, três homens abrem
Catarina. Percorre mais de 220 quilô-
as portas do hangar do Aeroclube de
metros só para poder passar alguns
Planadores Albatroz, enquanto outros
minutos no ar, a bordo de um dos 17
três olham para o céu e confabulam
planadores da frota do Albatroz. Jorge
sobre formação das nuvens, das cor-
Neumann é filho de um dos fundadores
rentes térmicas, possibilidades de voo
do aeroclube e vem de Porto Alegre jun-
de colina e outras linguagens do ar que
to com o amigo Nei Biazetto também
só iniciados conhecem. Um pouco mais
para voar. O brilho nos olhos dos três
afastados, alguns novatos no esporte
é contagiante. E a tranquilidade deles
olham, maravilhados, os aviões que,
em afirmar que o ciclone, o vento e as
pouco a pouco, são retirados do han-
nuvens não impedirão o voo traz mais
gar. Um rebocador, outro avião para ins-
confiança para nós, aventureiros de pri-
trução e três planadores.
meira viagem.
46 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 47
prazer
48. Eurobike magazine
O vento é a turbina
desprendem da terra – para alçar altitudes
Planador é uma aeronave sem motor, mais
mais elevadas. Exatamente como fazem os
pesada que o ar. Para voar, deve ser alçado
grandes pássaros, como urubus, cegonhas,
por um rebocador a determinada altura, mí-
condores e albatrozes.
nimo de 800 metros, e só então pode continuar sua viagem sozinho. O vento é sua tur-
Outros tipos comuns são o voo de colina,
bina. Graças a ele, os planadores se mantêm
em que o piloto segue as correntes ascen-
voando como se fossem veleiros singrando
dentes que sopram em direção aos topos
por imaginárias ondas do ar.
das colinas, e o voo de ondas estacionárias, em que pode se alcançar altitudes de até
Os controles são parecidos com os de um
10 mil metros e ficar voando por várias
avião normal – velocímetro, bússola, altí-
horas. Como um cruzeiro em “alto ar”.
metro, freio aerodinâmico, rádio, manche, pedais e um desconector que libera o cabo
Em todas as modalidades, o grande desa-
que liga o planador ao rebocador. Mas o fato
fio é permanecer lá em cima. As asas de um
de não ter motor torna imprescindível que
planador têm de produzir sustentação sufi-
o piloto esteja atento a tudo que acontece à
ciente para compensar o seu peso. Quanto
sua volta. Onde as nuvens estão se forman-
mais rápido se deslocar, mais se sustenta.
do, que tipo de terreno está sobrevoando,
Como não há motor para tracionar, o plana-
onde os grandes pássaros voam sem bater
dor precisa conseguir velocidade de outras
as asas, onde está a pista do aeroclube. Em
formas: aproveitando as correntes, apon-
voo a vela não se liga o automático.
tando o aparelho para baixo e trocando altitude por velocidade. Mais um ponto para
A presença de espírito e sensibilidade são
a destreza do volovelista, como também
tão importantes para um piloto de planador
é chamado o piloto de planador.
que algumas companhias aéreas europeias, como a Lufthansa, por exemplo, exigem que
O sonho de voar
seus pilotos façam regularmente horas de
Os planadores são o desenho de um sonho
voo a vela, de modo a apurar suas habilida-
antigo do homem. Ao longo dos séculos,
des.
inventores, curiosos, corajosos e aventureiros se lançaram no ar, munidos de traqui-
Jorge Neumann nos diz inclusive que
tanas e asas das mais variadas formas, na
Chelsey Sullenberger, o piloto americano
esperança de voar.
que pousou com sucesso o Airbus A-320 da US Airways nas águas do Rio Hudson,
Alguns conseguiram a façanha por alguns
em Nova York, em janeiro passado, era um
metros, outros por alguns quilômetros, mas
experiente piloto de planador. E contou vários
foi só em 1889 que a primeira aeronave
outros exemplos de como pilotos da aviação
sem motor finalmente decolou com suces-
comercial conseguiram driblar tragédias gra-
so. Seu inventor foi o engenheiro alemão
ças a seu conhecimento de aeromodelos
Otto Lilienthal, que conseguiu realizar mais
sem motores.
de 7 mil voos com planador. Seus estudos foram compilados no livro O voo das
As várias formas de voar
aves como fundamento da arte de voar,
Existem várias modalidades de voo a vela,
que é considerado a pedra fundamental
mas o voo das térmicas é a mais difundida
para as atuais teorias da aerodinâmica.
em todo o mundo. É chamado assim porque o planador se aproveita das correntes
Na virada do século XX, em 1900, os irmãos
térmicas – massas de ar quente que se
Wright conseguiram voar num planador
Eurobike magazine . 49
prazer
50 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 51
prazer
biplano e, seis anos depois, em 23 de
a Luftwaffe, que durante a II Guerra
outubro, Alberto Santos Dumont fazia
Mundial demonstrou seu poderio ofen-
em Paris um pequeno voo em seu avião
sivo como Força Aérea Alemã. No seu
motorizado 14-bis. Foi uma demonstra-
início, esse grupo era inteiramente com-
ção pública que inaugurou uma nova era
posto por pilotos de planador.
da aviação, baseada na tração motora. A partir da década de 1910, as aten-
Em outros países os planadores passa-
ções europeias concentraram-se nos
ram a ser utilizados em cursos de pilota-
aviões, ficando os planadores relegados
gem. No Brasil, essa atividade iniciou-se
a experiências conduzidas por curiosos.
em 1929, com Guido Aliberti, em São
Mas ao final da Primeira Guerra Mundial
Paulo.
essa situação mudou. Marinheira de segunda viagem
52 . Eurobike magazine
Proibidos pelo Tratado de Versalhes
“Empurre a alavanca frontal para frente;
de utilizarem aviação a gás ou motor,
as duas alavancas sobre a sua cabeça
os alemães passaram a treinar seus
para trás e levante o seu cockpit. Solte o
pilotos em planadores. Tanto que for-
seu cinto de segurança com um puxão
maram um verdadeiro exército do ar,
e salte do avião com os braços cruza-
dos na altura do peito e – preste aten-
trás do planador de dois lugares, com
ção, muita atenção – só depois de pular
a presença segura de Jairo à minha
é que você vai abrir seu para-quedas.
frente, fechei os olhos em meditação
Entendeu?”
rápida e, quando abri, acenei para todos que estavam na pista nos olhando
Atentamente eu reproduzia mentalmen-
com atenção e cuidado. Lalo, compa-
te cada palavra do Frederico, ensaiei
nheiro de aventuras, estava em outro
com gestos todas as orientações e, ao
avião tirando as fotos que ilustram essa
fazer isso, comecei a sentir os níveis
narrativa.
de adrenalina subindo. Claro que nada iria acontecer. Estava muitíssimo bem
Colocar um planador para voar é um
acompanhada por Jairo, experiente
trabalho que envolve várias pessoas.
piloto que me conduziria para meu se-
Inicialmente o avião reboque se posi-
gundo voo a vela. O primeiro havia sido
ciona na cabeceira da pista, um pouco
em São José dos Campos, no final dos
à frente do planador. Depois algumas
anos 1980.
pessoas esticam o cabo e ligam as duas aeronaves. Tão logo o piloto do plana-
Devidamente instalada na parte de
dor esteja pronto, ele faz um sinal e o Eurobike magazine . 53
prazer reboque inicia os procedimentos para a decolagem. Depois de alguns metros de pista, o planador já está no ar antes mesmo do avião. Quando estávamos subindo, Jairo me tranquilizava narrando tudo o que iria acontecer, um passo a passo do voo. Falou sobre a dança dos ventos, sobre a turbulência e a sensação de mergulho no vazio parecida com a de uma montanha-russa; falou da maravilha que é voar, como esvazia a mente das preocupações cotidianas. Narrava o nosso voo num tom de voz sereno. Assim que atingiu a altura necessária, Jairo me avisou que soltaria o cabo, um cordão umbilical que nos une ao rebocador. Na hora, um pequeno tranco e depois o silêncio. Um silêncio majestoso, embalado pela música do vento. Fiquei extasiada, exatamente como no meu primeiro voo. Estávamos a 1500 metros de altitude e Jairo virou o manche para a direita em direção ao Morro da Borússia, onde iniciaríamos nosso voo de colina. Subíamos cada vez mais e ele falava para eu prestar atenção no climb, um instrumento que nos permite perceber se estamos subindo ou descendo. Me explicou todos os outros controles, dando uma primeira aula de pilotagem. Enquanto isso, lá embaixo, o mundo ia se distanciando, as lagoas de Osório ficavam cada vez menores e os carros de verdade pareciam miniaturas, matchboxes. Planar é mesmo um prazer indescritível. Vê-se tudo sob outra perspectiva. Um dos espetáculos mais bonitos de se ver naquela região são as torres aerogeradoras que fazem parte do Parque Eólico de Osório, o maior do Brasil. São imensos cata-ventos de 98 metros de altura que giram suas hélices para captar o ar e transformar em energia. Lá de cima, as 75 torres juntas, dispostas em várias fileiras, fazem uma 54 . Eurobike magazine
Eurobike magazine . 55
prazer
imagem surpreendente e reconfortante – é
dade de sua atenção. Ele pegou sua moto
Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Ca-
bom saber que não é preciso mais do que
e voltou para Tubarão e eu segui o meu ca-
tarina. Para mais informações, consulte o
vento para produzir energia!
minho, totalmente relaxada. Foi curioso estar
site da Federação Brasileira de Voo a Vela:
de volta ao elemento terra e ver novamente
www.planadores.org.br.
A cada minuto a altitude aumentava, sobre-
em tamanho grande tudo aquilo que olhei lá
A maioria dos clubes oferece a opção dos
voamos o Morro da Borússia, pegamos al-
de cima bem pequeno: as lagoas, os carros,
voos panorâmicos. Mas quem quiser pilotar
gumas térmicas, vimos urubus planando ao
as torres eólicas. Planar é mesmo uma ex-
um planador, deve fazer um curso de forma-
nosso lado, contornamos a colina, fomos
periência transformadora. Todo mundo devia
ção. Um piloto pode sair formado com 25
em direção às lagoas. Eu procurava registrar
fazer pelo menos uma vez na vida. Eu reco-
horas, desde que realize um mínimo de 45
tudo com meus olhos. Naqueles instantes
mendo!
voos, sendo 30 com instrutor e 15 solo.
Para saber mais sobre voo a vela
O voo a vela reúne mais de 100 mil pilotos
Aeroclube de Albatroz:
em todo o planeta. Atualmente o recorde
www.albatroz.com.br
de distância supera os 2.400 quilômetros. A
até me esqueci dos ensinamentos do Frederico. Estava segura no nosso navegar. Depois de quarenta minutos, começamos a fazer o trajeto de volta para o aeroclube. O
velocidade varia de planador para planador,
planador foi descendo lentamente até mirar
Além do Rio Grande do Sul, o voo a vela
podendo chegar a 300 quilômetros por hora,
a cabeceira da pista. O piloto Jairo pousou
pode ser praticado em mais nove esta-
com médias superiores a 150 quilômetros
com perfeição. Aplaudi silenciosamente.
dos brasileiros: Pernambuco, Mato Gros-
por hora. E a altura máxima é aquela que as
Feliz, desci para terra firme. Apertei as mãos
so, Goiás, Brasília, Espírito Santo, Rio de
condições atmosféricas permitirem.
do meu amigo, agradecendo pela generosi56 . Eurobike magazine
prazer
Eurobike também é festa! FOTOS KRIZ KNACK
Com o intuito de prolongar o bom astral das férias de verão, o empresário Bruno Dias idealizou, para comemorar os aniversários dos empresários Guga Guizelini e Felipe Aversa, a festa Love the Real Life, em pleno janeiro, na Eurobike BMW São Paulo. Para esquentar os motores e dar uma injeção de ânimo no ano que se inicia. A empreitada foi um estrondoso sucesso. Em grande estilo, os DJ’s Diego Moura, Jazz-e, com Ricardo Patriarca e o saxofonista Andres Salazar, e Alê Reis puseram 600 pessoas para dançar até o dia clarear. Com apoio de Ballantines, Absolut e Red Bull, a Eurobike mostra que também tem vocação para promover o encontro entre amigos, muitos já clientes da casa, que puderam desfrutar do espaço em clima pra lá de animado. Love the Real Life, neste caso, significa que a vida em São Paulo também pode ser muito boa, comenta Bruno, entusiasta por natureza. 58 . Eurobike magazine
Mariana Santana, gerente da Eurobike BMW, Eduardo Rosemberg, Jr. Duarte e o piloto Lucas Di Grassi
Eurobike magazine . 59
CAROL DA RIVA 60 . Eurobike magazine
devaneio
Sobre o mar sorria. E quanto mais sorria, mais onda boa trazia
Eurobike magazine . 61
devaneio
62 . Eurobike magazine
Caminho do Ouro De Ouro Preto a Paraty, redescobrindo os tesouros da Estrada Real
cipalmente escravos – para Vila Rica (Ouro Preto), Ouro Podre, Vila do Carmo (Mariana), Sabará. No lombo das mulas, a pé, em
POR EDUARDO PETTA | FOTOS CAROL DA RIVA
liteiras, a transposição da Serra do Mar e da do Carmo ecoou pelo mundo. Como um
Serra da Mantiqueira, com destino às minas,
ímã, o ouro atraiu migrantes de toda a colô-
faz nascer o Caminho do Ouro, até 1767, a
nia, milhares de portugueses. Nem devia vir
principal artéria colonial do Brasil. Rota de 43
mais gente do Reino, ou este se despovoa-
dias cheia de perigos, amaldiçoada por ban-
ria! – receou a Corte em 1709. Já faltavam
didos e taxada por “registros” do comércio,
braços na província do Minho – e era ne-
as “Casas de Quintos de Ouro”, que D. João
A obsessão do ouro não largara o espírito
cessário proibir a saída. Homens, mulheres,
V, preocupado com o contrabando, mandou
crédulo dos paulistas. Não o de lavagem,
índios, pardos, pretos, brancos. Aos borbo-
construir em Guaratinguetá e em Taubaté
incapaz de fixar o andarilho à terra. Mas
tões, das vilas, aldeias e rincões do Brasil,
(Taba-eté), a aldeia de cima, no planalto, e
o de bateia, à mão de semear – abundan-
deu-se a invasão às minas e o nascimento
em Paratii, a aldeia de baixo, junto ao por-
te –, diziam os índios, nas montanhas cen-
dos arraiais. Povoamento rápido. No frene-
to – para controlar o fluxo do metal precio-
trais. Para achá-lo, continuaram a penetrar
si da opulência, a falta de abastecimento.
so. Quando o ciclo do ouro minguou, a via
sertões. Saindo de Taubaté, atravessaram
O mercado das Gerais precisava de comi-
ainda seria utilizada para escoar o café. Mas
a Mantiqueira e, orientados pelo inconfundí-
da, carne, animais, roupa, couro. Precisava
em 1888, com o fim do tráfico de escravos
vel Itacolomi (pedra da criança), chegaram ao
de tudo, pois tudo que possuía era apenas
e a construção da Estrada de Ferro, ligan-
que se chamou “Minas Gerais dos Catagua-
cobiça, avidez de fortuna. E fome de ouro.
do o Vale do Paraíba ao Rio de Janeiro, o caminho morreu. A conservação feita pelos
ses”. Ficou-lhe o nome: Minas Gerais, isto é, por toda a parte, pelos córregos, pelos gro-
Começa o comércio. Pela antiga trilha dos
escravos foi suspensa. No início do século
tões, ao sopé dos montes, minas de ouro.
índios Goianazes, descem os lingotes de
XX, Paraty registrou 600 habitantes. Era uma
ouro a Paraty. Embarcados nas naus, par-
cidade fantasma. Os ricos casarões desmo-
O ano era o de 1694. E a notícia do mui-
tem rumo ao Rio de Janeiro e de lá, Portugal.
ronavam. E o caminho de tanta riqueza foi
to ouro encontrado no Tripuí e no Ribeirão
Na outra mão, sobem as mercadorias – prin-
engolido pela mata.
Eurobike magazine . 63
devaneio 2009. Ouro Preto. Tocamos todos para a dianteira do Land Rover para ver o trem partir. Café-com-pão, café-com-pão, cafécom-pão. A bulha da locomotiva aumenta na estação. Fumaça na chaminé, o maquinista toca o apito pela terceira vez. Café-com-pão, café-com-pão – cada vez mais rápido. As rodas se movem. Os olhos dos passageiros passam ligeiros espiando pelas janelinhas do vagão, até o último desaparecer no túnel, rumo a Mariana. O Land atravessa os trilhos e sobe em ladeira de pedras brilhantes. Igrejas suntuosas margeiam a rua espetando suas torres contra o Pico do Itacolomi, ao fundo. Descemos, andamos. Domingo de missa abre as portas em Ouro Preto. O sino badala, o povo entra para pedir o pão nosso de cada dia. Na igreja São Francisco, o padre diz amém cercado das obras de Athaíde e Aleijadinho. O guia Helimoar Bispo conta a história da cidade, da igreja, dos artistas. Explica que Aleijadinho sempre se recriava em suas obras. “Os pequenos anjos esculpidos no púlpito da igreja têm a sua face quando criança, os cabelos cacheados, o nariz aquilino. Ele também se copiava nos santos – já mais velho –, tanto em homens, como em mulheres. Primeiro perfeito. Depois, acometido pela doença, degenerado”. Os santos sofrem com as chagas em suas mãos, rostos, pernas. Antônio Francisco Lisboa vive. É possível escutar o sofrimento na sinceridade de suas peças do barroco rococó, estilo único de Ouro Preto. A beleza frondosa dos entalhes, o delírio das formas de contorção, a criatividade e ousadia de criar com o que a terra oferece. Se não havia o lioz de Lisboa ou o mármore alentejano, dava-se cabo pelo arenito local, ornava-se de pedra-sabão. Se não havia a pedra da Bahia, fazia-se nas Minas de cedro, jacarandá, vinhático. Ouro Preto é mergulho nas artes, na fé, é percorrer em catedrais que concorriam entre si, histórias do país. A matriz do Pilar cintila 64 . Eurobike magazine
Nas cidades do Caminho do Ouro há sempre uma ladeira de pedras centenárias a margear igrejas setecentistas. Centro histórico de Mariana Página ao lado: Banho de dourado nas pupilas–Igreja Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto
Eurobike magazine . 65
devaneio ouro. Seu interior, preparado para o triunfo eucarístico: 400 quilos a dourar pilares, santos e colunas. Em outros santuários, se não há tamanho brilho, ostenta-se anjos e arcanjos, balcões, sanefas, baldaquinos e outras contribuições da arte mineira ao barroco brasileiro. O sol nasce na Serra do Espinhaço. Antes que o dia desperte, bater perna, pisar pedra em Ouro Preto, em suas ruas e ladeiras empoeiradas, pela feirinha de artesanatos, pelas lojas de souvenir, de gemas preciosas – elas ainda existem –; tomar uma cachaça nos botecos com sotaque mineiro; comer ora-pro-nóbis, tutu, feijão-tropeiro, queijo -minas; viajar pelos museus: do Oratório e da Inconfidência. Parar na Praça Tiradentes e gritar: Viva a Liberdade! Pensar. Aqui ficou exposta a cabeça de Joaquim José da Silva Xavier, o alferes, posto à forca para servir de exemplo aos revoltos. Imaginar. Aqui se deu o mais cruel assassinato contra os emboabas. O enforcamento de Filipe dos Santos. Seu corpo amarrado em cavalos, arrastado pelas ruas, depois esquartejado, a cabeça pendurada no pelourinho, onde hoje fulgura a bandeira mineira na praça. O desenho da bandeira? Sugestão de Tiradentes. No triângulo vermelho o lema dos inconfidentes: libertas quae sera tamen, um verso do poeta Virgílio, traduzido como “liberdade ainda que tardia”. Tarde demais para o dentista. Assim como Filipe, sua cabeça também ficou exposta na praça que hoje leva o seu nome. Foi apenas uma noite. Roubada na calada da madrugada, descansa em tumba misteriosa. Todo carnaval, a Praça Tiradentes é do povo. Alegria, alegria – cantam os milhares de foliões na antiga Vila Rica, dando voltas em torno da estátua do herói. Ouro Preto é o lar de 10 mil estudantes espalhados em repúblicas mil. Lar de 70 mil operários que trabalham no aço, ferro e manganês pela economia do Brasil. Viva a liberdade! Viva a liberdade! – cantavam os insurretos contra a derrama – as cobranças abusivas da Coroa – 66 . Eurobike magazine
Primeira capital do estado, Mariana 茅 a mais antiga das cidades hist贸ricas de Minas Gerais
Eurobike magazine . 67
devaneio
no longínquo dia 21 de abril de 1792 em que Joaquim José da Silva Xavier perdeu a vida e Tiradentes entrou para a história. De volta a 2009. As altas torres e campanas das tantas igrejas de Ouro Preto, com o maciço do Itacolomi ao fundo, encarapuçado de nuvens, ficam para trás. Adeus terra de Marília e Dirceu, de memórias ricas e tristes. Agora o Land é do mundo, é Minas Gerais. Tomamos o traçado do Caminho Velho do Ouro. A Estrada Real. E para Paraty apontamos nossa bússola. Próxima parada: Tiradentes. Chegaremos amanhã. Não, não chegamos. Muita coisa para conhecer pela jornada. Uma passadinha por Mariana e suas belas catedrais. Outro giro em Ouro Branco e Itabirito, feitas de ferro, aço, progresso e pontes de metal. Um aceno
68 . Eurobike magazine
Medalhão da fachada da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto – a menina dos olhos de Aleijadinho. Acima, fachada da Basílica de São Pedro dos Clérigos de 1743, em Mariana
Arte na estrada: caixinhas pintadas em pedra-sabão em Ouro Preto; pimenteira de madeira em Tiradentes. Abaixo: O Defender e o carro-de-boi. Encontro de gerações pela Estrada Real
Eurobike magazine . 69
devaneio a Itabira de Drummond, sem o morro que o minério comeu. Será que o retrato na parede do poeta ainda dói? Um pouco à direita, passagem por Congonhas do Campo, para ver os doze apóstolos de Aleijadinho no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Diante do profeta Oseias, quase dá para perguntar: como vai a vida, Oseias? Seguimos a Via Crucis, acompanhando os afrescos da Ceia do Senhor, conjunto de 66 figuras de tamanho natural que Aleijadinho executou por volta de 1800. E voltamos a nossa “rodo-via-sem-crucis”, até Lagoa Dourada, capital mineira do rocambole, receita trazida por libaneses no século passado. Engorda só de olhar. Mais um pouco, finalmente, a doce Tiradentes. E com o gosto de doce na boca, encontramos na primeira esquina com seu Chico Doceiro, 77 anos, “70 deles mexendo no tacho”. Hoje é dia de? “Doce de banana”. Três horas remando. “Não posso perder o ponto”. Braços rijos de atleta – acrescenta açúcar. O aroma invade os espaços, faz levitar. “Vai estar pronto daqui uma hora.” Enquanto isso, Chico nos oferece cajuzinhos e canudinhos de doce-de-leite. “Com açúcar e com afeto, sejam bem-vindos a Tiradentes.” Fundada em 1702, com o nome de Santo Antônio do Rio das Mortes, a cidade natal do alferes é o contraponto de Ouro Preto. Se não tem a sua história e opulência, também não tem suas vicissitudes. Aqui reina o simples, a tranquilidade, a leveza no andar. Até as ladeiras são mais suaves, o clima e o sol, mais amenos. Seu centro histórico preservado parece um bibelô: igrejas, casario colonial pintado e restaurado, grossos muros floridos por primaveras e ruas de pedras onde turistas e artistas plásticos dividem espaço com um variado paraíso gastronômico. Das casas de doces de encher prateleiras, da real comida mineira do Pau de Angu, do leitão à pururuca, do frango ao molho pardo, passando
70 . Eurobike magazine
Vale a pena esticar até o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, para ver de perto a obra-prima de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Abaixo: as ruas de Tiradentes são pura poesia
pelo bacalhau português do Atrás da Matriz aos pratos sofisticados e maravilhosos do poético Traga Luz, come-se muito bem em Tiradentes. E nunca se acaba sem sobremesa. E nunca se come com pressa. Tiradentes (ganhou este nome em 1889, logo após a Proclamação da República) é para vagar devagarinho, esquecer das horas, afinal, a vida nessas paragens se resume em: comer, andar, dormir e, claro, comprar – namorar é opcional. Difícil resistir às compras. Cada porta é uma lojinha. Se cobrir? Vira shopping. Mas vale a pena pesquisar antes de gastar. Os charmosos móveis rústicos são produzidos em Santa Cruz. Arte Sacra em São João Del Rei. Rezende Costa possui as melhores lojas de tear. E o colorido artesanato? Em Bichinho, onde todo mundo é artista. Na camiseta de uma loja, a poesia diz A Oficina de Agosto, em Bichinhos, é referência no artesanato mineiro contemporâneo
tudo: “Bichinho é ninho colorido encravado na Serra de São José, vilazinha bordada de cor e fé, pipa, pião, história, lampião. É lata,
Eurobike magazine . 71
devaneio
ferro, fuxico e madeira. Artes feitas na brincadeira, sonhos talhados por artesãos. Pura na encantação”. Encantados, acabamos ficando em Tiradentes além do previsto. E tivemos que compensar com uma viagem longa até Caxambu. Pulamos no caminho: Carrancas e suas cachoeiras, Aiuruoca, o mágico Vale do Matutu e outros prazeres da Mantiqueira. A culpa foi toda do Land. Ele queria caminhos inexplorados. “Desbravar faz parte da minha filosofia”, dizia. Consultamos o mapa e achamos um trecho de estradas tortuosas que prometiam: as Terras Altas da Mantiqueira. Saímos de Pouso Alto e fomos em direção a Virgínia, e entre campos de pêssegos e girassóis, subimos rumo a Marmelópolis. Soltamos a voz da reduzida na estrada e fomos em frente. Pedra, buraco, pedra, buraco, costela de vaca, balança, chocalha, olha a vaca, olha a mula, Marmelópolis. Bola de meia, bola de gude, há um menino, há um moleque. Havia muitas crianças em Marmelópolis, mas ne72 . Eurobike magazine
nhum sinal de marmelo no ar. Fomos dormir
zontes. Montanhas, florestas e lá embaixo a
em Delfim Moreira, em um lugar chamado
Via Dutra e as cidades do Vale do Paraíba:
Fazenda Boa Esperança, chão coberto de
Cruzeiro, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida.
araucárias e sete cachoeiras.
Lá longe, Taubaté, a aldeia de cima. E um
Amanhece. O céu de um fevereiro azul como
clarão ainda além, São José dos Campos, a
a chama da paixão. Mergulhamos na cacho-
gigante do vale, terra da Embraer, dos crâ-
eira. A água gelada trinca os ossos, o miolo
nios do ITA. Amanhã cruzamos o “rio Dutra”
da mente, congela os pensamentos. Água
para a serra do lado de lá: a Serra do Mar.
transparente, cheiro de mato, Mata Atlântica, ipê-amarelo florido, lírios da paz – muitos. Dei-
Último café da manhã em Delfim Moreira.
to nas pedras, esquento o esqueleto, olho o
O pão de queijo caseirinho do Luís derrete
céu, escuto o murmúrio do rio. Um avião cru-
na boca, acompanhado de geleias de amo-
za o céu azul. A cortina de fumaça branca fica
ra e framboesa. Despedida mineira. Café
no ar, e vai desmanchando em forma de co-
com biscoitinho de polvilho igual da minha
ração. Reflete a alma. Passa breve a manhã.
avó. Café preto curtido na lenha, na brasa,
O dono Luís, simpatia, preparou o almoço.
cheiroso que só. Levantamos a tropa. A cachoeira do Luís fica para trás. Dá sauda-
Delfim Moreira, terra fria de grandes picos:
des. O motor do Land acelera, o barulhinho
Marins, Pico da Mina, altitude a beirar os três
bom vai diminuindo, sumindo no espaço.
Entre Delfim Moreira e Marmelópolis, as terras altas da Mantiqueira mostram toda a sua beleza. Caminhos de terra pouco explorados
mil metros. O Land a gostar de pedra, poeira, buraco, lama, mato, desvios, atalhos.
Desce a serra, cruza a Dutra, sobe a serra,
O Land é do Tao. O que importa para ele é
no meio do caminho, Cunha, cidade perdida
o caminho. Mesmo que o final seja o miran-
no tempo até os anos 1970, quando o ca-
te da Pedra do Cabrito. 360 graus de hori-
sal de ceramistas japoneses Mieko e Mário Eurobike magazine . 73
devaneio Konishi vieram visitá-la. Gostaram do clima, do barro e inauguraram o primeiro forno naborigana – um método de queima que leva uma semana para ser concluído, possibilitando a produção de 1200 peças nas várias câmeras existentes no forno. Depois deles, uma legião de ceramistas veio morar em Cunha, que foi se descobrindo pela arte, pelo barro da vida, dando vida ao barro da arte. Mas também podia ser pela natureza de suas cachoeiras, ou pela gente caipira e simpática a viver em cada uma de suas quebradas. Encravada na Serra da Bocaina (como aqui lhe chamam a Serra do Mar), Cunha é um emaranhado de pequenas vilas e caminhos a cruzar fuscas, tropas de cavalos e gente serena, como o céu de estrelas que cai sobre a noite e nos leva à Pousada dos Anjos. Um casal nos hospeda. Ele, fotógrafo. Ela, dona da pousada, espalha arte em cada canto. Ele espalha os livros numa oca, biblioteca de uma vida. No meio da oca, uma cadeira de dentista. Não precisa dizer “xis”. Só deitar e ler. Ou escutar o duelo entre grilos e cigarras na sinfonia noturna. Até que os anjos do sono cheguem aos seus sonhos. Amanhece na Pousada dos Anjos. Borboletas e libélulas bailam no ar. A bruma se entrelaça num suspiro. A estrada convida. Ouvindo os passarinhos cantar eu vou... Uma placa: Pedra da Macela. Desvio. Caminhada, subida, quarenta minutos. O cheiro do verde, o sol a brilhar, a mil e poucos metros de altura avista-se: a Serra beijando o mar. Em algum lugar do beijo, um abraço na baía de Paraty. Alguma coisa me faz sentir amor. Contar as ilhas é contar as estrelas. A pequena cidade presépio está lá embaixo. Todo o oceano está lá embaixo. Meu coração está ao alto. O que pensavam os homens nascidos nas Minas, ao primeiro contato com o mundo azul? Chega o atlântico dia. Adeus Cunha, anjos, cerâmicas. Vamos baixando a altitude. Mui-
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Visões da paulista Cunha: a cerâmica do casal Mário e Mieko - simples e expressiva como um haicai; a deliciosa biblioteca do fotógrafo Marcos Santilli na Pousada dos Anjos; estradas de terra por todos os cantos; e a espetacular vista da Pedra da Macela, com a baía de Paraty ao fundo
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tas curvas. Antes de chegar, uma caminha-
tes, degustando as suas famosas “águas
da de dois quilômetros pelo pedaço do an-
ardentes”. Cai a tarde, acendem os lam-
tigo caminho do Ouro, no bairro da Penha,
piões. Em um café – são tantos, um banqui-
restaurado por arqueólogos há dez anos.
nho, um violão, música, cultura, literatura.
Pedras centenárias de diversos tamanhos
Paraty é boêmia, madrugada, rodar a noite
trazidas de navio desde Portugal, devolvidas
por suas calçadas e seja o que deus quiser.
as naus no mesmo peso em ouro. A trilha termina na cachoeira do Tobogã, onde na-
Amanhece Paraty. Não dá para ficar na
tivos praticam o surfe no limo das pedras.
cidade. O sol esquenta demais o concre-
Piruetas insanas sobre rochas milenares.
to. Passear, explorar. Uns vão às cachoeiras – são muitas –, mas a preferida escor-
Mergulho no rio. O gesto a imitar os tropei-
re na Fazenda Graúna, bem em frente ao
ros. Limpeza para adentrar Paraty, estacio-
Le Gite de Indaiatiba, a melhor cozinha de
nar no Chafariz da Pedreira, onde lavadeiras
Paraty. A vida imita a história. Um francês ca-
e moradores se abasteciam de água. Então
sou com uma mineira, de aliança e panela,
o passeio pelas ruas desalinhadas – prote-
num atalho do caminho do ouro. Menu do
ção contra o vento canalizado. Olá, casario
casal: ceviche com frutas, robalo ao molho
colonial – mais portas que janelas, sinal de
de manga, ravióli de taioba – para comer
comércio. Alô, símbolos maçons – nas me-
lambendo os dedos. Pedra preciosa do ca-
lhores mansões. Como vai, ó cais – com
sal: a filha Jade – nove anos de felicidade.
seus barcos coloridos, onde antes nadavam as naus. Delícia flanar Paraty, a espiar
Quem não vai à cachoeira, vai à praia, dou-
ateliês, xeretar lojinhas, saborear restauran-
rar a pele. E aí pode ser de barco, saindo
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Página ao lado: Paraty merece ser vista do mar. Abaixo, cachoeira no sertão da Graúna Nesta página: Canoas de um tronco só descansam na sombra das amendoeiras na praia do Sono. Abaixo, as mesinhas do Le Gite de Indaiatiba – pra comer, rezar e agradecer
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“Vês os Pires, Camargos e Pedrosos, Alvarengas, Godóis, Cabrais, Cardosos, Lemes, Toledos, Pais, Guerras, Furtados E outros que primeiro assinalados Se fizeram no arrojo da conquista” Escreveu assim Cláudio Manoel da Costa, no poema Vila Rica. “Vê o mar meu filho. É de graça. É teu, é meu, é de todo mundo” escreveu o autor dessa matéria sob o sol de Paraty
do cais, para as ilhas e praias locais – com
um tronco só coloridas descansam recolhi-
almoço no Catimbau; pode ser em Paraty-
das na areia, sob a sombra das amendoeiras,
-Mirim para acessar o Saco do Mamanguá
emolduradas pela grande muralha da Serra
– o fiorde brasileiro; ou saindo de São Gon-
do Mar. O sol se vai e a lua cheia prateada
çalo, com destino à Ilha do Pelado. De carro,
brota entre as montanhas da serra. “O que
o rumo é Trindade, mas nunca em tempora-
você enxerga na lua?” – pergunta Carol. “En-
da ou final de semana – o caos no paraíso.
xergo sempre Ave-Maria com o menino Jesus no colo a lhe embalar o sono.” Mas desta
Nosso último ato. Como os tropeiros, ca-
feita imagino a mãe sussurrando em sua ore-
minhamos. Estacionamos o Land na Vila
lhinha uma doce canção de ninar. A letra diz
do Oratório, vizinha a Laranjeiras, o con-
que o verdadeiro caminho do ouro é o cami-
domínio espetacular, e partimos a pé para
nho do coração. Esse pode ser em qualquer
a praia do Sono. Vila de pescadores, dia
lugar. E o mato nunca vai engolir no final.
de sol vertiginoso, a luminosidade dilacera as pupilas, a brisa do mar lambe o rosto, as ondas do mar lambem a costa. Canoas de
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Ouro Preto Onde ficar Solar do Rosário: Rua Getúlio Vargas, 270. (31) 3551-5200. www.hotelsolardorosario.com.br Recém-reformado; oferece os melhores quartos da cidade. Pousada Minas Gerais: Rua Xavier da Veiga, 303. (31) 3551-5506. www.pousadaminasgerais.com.br Mais simples, porém bem confortável. Onde comer Bené da Flauta: Rua São Francisco, 32. (31) 3551-1036. Comida mineira, ambiente com arte. Atrações No centro histórico são imperdíveis a Igreja São Francisco de Assis (contrate um guia e enriqueça o passeio) e a Matriz Nossa Senhora do Pilar. Veja também: Museu do Oratório, da Inconfidência e das Reduções; o Teatro Municipal e a Casa dos Contos. Aproveite para comprar panelas de pedra-sabão na feirinha de artesanatos. Na região, não deixe de visitar: a charmosa Mariana (em seu pequeno centro histórico, na Catedral da Sé, toda sexta e domingo, às 11h acontece concerto de órgão de música barroca); e Congonhas do Campo, onde estão os apóstolos e outras obras de Aleijadinho no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos.
goiabada derretida em castanha de caju. Atrás da Matriz: Rua Santíssima Trindade, 201 – centro. (32) 3355-2150. A casa serve pizzas, mas o imperdível são as receitas de bacalhau em postas largas e gordas. Pau de Angu: Estrada para Bichinho – 4 km. (32) 9948-1692 – 12h/19h. Saborosa comida mineira preparada na hora, como a linguiça de pernil e os doces mil. Onde comprar No centro histórico: docerias, biscoiterias, cachaçarias, produtos artesanais, queijos, móveis rústicos e artesanato em geral podem ser encontrados em várias portas. Os melhores ateliês de jóias, cerâmicas, esculturas e tear: no Largo da Forra, nas ruas Rezende Costa e Ministro Gabriel Passos. Destaque para as facas artesanais Burza; bules, cálices e castiçais de estanho do Quinto do Ouro, e os docinhos do Chico Doceiro (rua Francisco P. de Morais, 74, (32) 3355-1900). Muitos ateliês estão em Bichinhos. Ali vale a pena passar na Oficina de Agosto, do artista plástico Toti; e nas bonecas de papel machê, do Marcello Maia.
Pousada charmosa, cheia de detalhes e cantinhos, com quartos superconfortáveis e uma superbiblioteca. Onde comer Quebra-Cangalha: Rua Manuel Prudente de Toledo, 540. (12) 3111-2391. Tradicional. Le Provence: Rua Jerônimo Mariano Leite, 317 – Vila Rica. (12) 3111-1282. Reservar. Este é mais que um restaurante, é um evento. O chefe Daniel Cohen, do Le Condon Bleu, prepara um cardápio degustação com o que há de mais fresco no dia, tudo da terra ou do vizinho mar – delicioso. Reserve muitas horas para apreciar. Atrações As cerâmicas e os ceramistas de Cunha. São muitos. Destaque para o casal Mieko e Mário, pioneiros. (12) 3111-1468. O núcleo do Parque Estadual da Serra do Mar, com trilhas e cachoeiras, (12) 3111-2353. E a vista incrível da Pedra da Macela (1850 m) – acesso pelo km 65 da SP-171 p/ Paraty – 31 km do centro (4,5 km de terra), mais 40 minutos de caminhada.
Atrações Museu do Padre Toledo, com quadros de Athaíde; Museu do Automóvel; Matriz de Santo Antônio, Chafariz de São José e o mirante da Igreja São Francisco de Paula. Além do passeio de maria-fumaça para São João del Rei (sentese à direita, nos últimos vagões) e a visita a Bichinho.
Tiradentes Delfim Moreira Onde ficar Solar da Ponte: Largo das Mercês. (32) 3355-1255. Possui os melhores quartos e um ótimo atendimento do dono, John Parsons. Pousada Brisa da Serra: Rua Santíssima Trindade, 520 – 1,5 km. (32) 3355-1838. Clima de sossego e charme. Peça o quarto com ofurô. Onde comer Tragaluz: Rua Direita, 52 – centro. (32) 3355-4837. Receitas sofisticadas e preparadas com arte. Clima agradável. Experimente a sobremesa de
Onde ficar Fazenda Boa Esperança: Acesso pelo km 197 da BR 459 –15 km. (35) 3799-9333. www.fazendaboa.com Local maravilhoso, com sauna, sete cachoeiras, e o dono é uma simpatia. Serve refeições. Cunha Onde ficar Pousada dos Anjos: Acesso pela SP-171 p/ Paraty, km 57 – 12 km. (12) 3111-8019. www.pousadadosanjos.com.br Eurobike magazine . 79
devaneio Paraty Onde ficar Pousada do Sandi: Largo do Rosário, 1. (24) 3371-2100. www.pousadadosandi.com.br No coração do centro histórico, em clima despojado e ambiente alegre, a pousada possui quartos charmosos e um ótimo café da manhã.
Onde comer Le Gite de Indaiatiba: da união do francês Olivier da Corta com a mineira Valéria nasceu a cozinha mais estrelada de Paraty, com delícias como o bife a bourguignon, o mafé (frango) senegalês, o clássico ceviche marinado no limão com frutas e o arrasador red hot chili camarões grelhados em azeite perfumado e risoto de pitanga. Margarida Café: Praça do Chafariz, 100
Para Cepílio, Sonho e Cachadaço, as praias de Trindade (só fora de temporada) estão a 20 km. Para Sono, Antigos e Antiguinhos, trilhas na mata, a partir da Vila do Oratório – 33 km.
– centro histórico. (24) 3371-2441. A música, o clima, a comida. Adoro esse lugar. Atrações Cachaças: Paratiana, Corisco e Maria Izabel são produtos locais. Porto da Pinga (Rua da Matriz, 12. (24) 9907-4370). Construções históricas: Casa da Cultura – para começar a entender tudo; Igreja de Santa Rita dos Pardos Libertos e Nossa Senhora do Rosário.
Casa Turquesa: Rua da Praia. (24) 3371-1037. www.casaturquesa.com.br Um charme. Le Gite de Indaiatiba: Acesso pelo km 558 da BR-101 p/ Angra dos Reis – 20 km do centro (2 km de terra). Opção para quem quer viver um clima romântico longe do agito na beira da cachoeira particular. 80 . Eurobike magazine
Onde comprar Mosaicos e azulejos na Mônica Rendeiro; miniaturas de saveiros no Atelier da Terra; telas sobre bananeira no Inke Atelier; balões coloridos de cabaça no Armazém Santo Antônio; artesanato indígena no Tronco Tupi e as jóias e peças exclusivas de bijuteria da Sobral. Passeios
Para São Gonçalo, com Ilha do Pelado – 33 km p/ Angra dos Reis. Para o Saco do Mamanguá, o ideal é ir de carro até Paraty-Mirim (19 km) e de lá pegar um barco. Para sair de barco pelas ilhas e praias da região, há duas escolhas: alugar uma traineira no cais da cidade (pesquise, pechinche) ou alugar um barco ou veleiro particular (com opção de pernoite) no site: www.paraty.tur.br/nautica/charter.php Para expedições, trilhas e roteiros alternativos, como Martins de Sá: Paraty Adventure. (24) 3371-6135. www.paratyadventure.com. Caminho do Ouro. Contrate um guia da Associação de Guias de Paraty. (24) 9814-0767 (Armando ou Oscar).