Revista Boa Vontade Mulher

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BOA VONTADE Mulher Pa iva

N et to

escreve

“O

Milênio

das

Mulheres”

Março de 2009

Uma justa homenagem da Legião da Boa Vontade — instituição brasileira com status consultivo geral no Ecosoc (ONU) — àquelas que batalham e contribuem, em todas as épocas, para um mundo melhor.

A notável Maria da Penha, que deu nome à Lei 11.340, que pune com mais rigor quem pratica violência contra a Mulher.

A força da

Mulher na Humanidade Publicação especial da LBV dirigida aos participantes da 53a Comissão do Status da Mulher da ONU Sede das Nações Unidas • Nova York • Estados Unidos • de 2 a 13 de março de 2009




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O Milênio das

Mulheres “A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto.” 4

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“O feminismo tem sido sempre o mesmo, mas enriquecido de novas reivindicações. Existe uma ala dele, principalmente no Primeiro Mundo, que agora está engajada na luta contra a pobreza, um fenômeno crescenHeloneida Studart te, ao contrário do que se podia antes imaginar, que atinge, de maneira muito dura e cruel, as mulheres, muito mais do que os homens. Elas trabalham em casa e fora de casa e têm de assistir, de viva-voz, olho no olho, todas as carências de sua família (...). Fica cuidando do filho doente que não tem remédio, preocupa-se por não poder dar vitamina às crianças e não ter como comprar frutas, vê mais vezes a conta da luz que está atrasada... “A ONU tem uma estatística mostrando que a mulher pobre trabalha mais que o homem, porque atua em várias frentes: no lar, na rua, na empresa, enfim, estão ativas em grande quantidade de tempo por dia. Em geral, quando saem para o emprego, já têm duas ou três horas de serviço executadas no próprio lar e, ao

José de Paiva Netto, jornalista, radialista, escritor, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV), membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI Inter), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da International Federation of Journalists (IFJ).

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uma justa homenagem ao ente humano, que dentre tantas virtudes possui o dom de trazer-nos à vida, separei trechos do meu livro O Capital de Deus, Editora Elevação. Antes de transcrevê-los, quero destacar que há muitas formas de ser mãe, como escrevi no Correio Braziliense, em 1987: mesmo quando não seja pela feição carnal, porquanto há outras sublimes maneiras de o ser, inclusive dar à luz grandes realizações em prol da Humanidade. Espero que apreciem. É notável a sensibilidade feminina também para com os assuntos transcendentais. Mirando as perspectivas dos próximos anos, em que, por força do instinto de subsistir, as consciências poderão mostrar-se mais fecundas a tudo o que diz respeito à ascensão moral e espiritual, convidei — nas diversas oportunidades em que me dirigi ao povo, naqueles dois dias, no Templo da Boa Vontade, na sede do ParlaMundi da LBV e na Praça Alziro Zarur*1, em Brasília/DF (Brasil), em frente ao Conjunto Ecumênico da Boa Vontade — os que

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Divulgação

João Preda

me privilegiaram com seu apreço, em 2000, a dar boas-vindas ao Milênio das Mulheres. Com atenção assisti, àquela altura, à entrevista concedida à Boa Vontade TV pela saudosa escritora Heloneida Studart (1932-2007), que dissertou sobre o relevante papel que elas vêm assumindo no âmbito da melhoria da qualidade de vida:

Vista parcial do histórico “Bem-Vindo, Ano 2000!” Em frente ao Conjunto Ecumênico da LBV, em Brasília/DF, ocorreu o grandioso Congresso que contou com a presença, segundo informações oficiais, de cerca de 200 mil pessoas, de todas as partes do Brasil e do exterior, para saudar a chegada do ano 2000. Sob a liderança de Paiva Netto, o povo presente reuniu-se pela Paz mundial.

*1 Praça Alziro Zarur — Iniciativa de Paiva Netto que contou com a colaboração do Casal Legionário Noys e Haroldo Rocha, atualmente em Portugal. BOA VONTADE MULHER |

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voltarem para casa, ainda têm tarefas a cumprir. O aumento dos espaços de lazer para elas, com a diminuição da carga trabalhista, é uma reivindicação do chamado novo feminismo”. Touché, cara Heloneida.

A Mulher e a estabilidade do mundo

para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da Mulher (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto*2.

Não há como impedir — consoante ainda hoje Há muito que aprender com o próximo Em Globalização do Amor Fraterno*3, mensaalguns de forma simulada gostariam — a destacada e frutífera participação delas nos vários setores da so­ gem endereçada à ONU, em 2007, ponderei: cie­dade para que o progresso alcance pleno êxito em magnífica cruzada de resgate da cidadania, conforme Nunca como agora se fez tão indispensável unir o exposto pela dra. Heloneida. Adesão que natural- os esforços de ambientalistas e seus detratores, mente inclui os que gerenciam as ações polí­tico-go­ver­ como também trabalhadores, empresários, econonamentais, em que é essencial o alento renovador da mistas, o pessoal da mídia, sindicalistas, políticos, Espiritualidade Ecumênica, militares, advogados, ciensem o que a eficiência per- Algumas das educadoras das escolas da Legião da Boa Vontade tistas, religiosos, céticos, manecerá aquém dos anseios ateus, filósofos, sociólopopulares. gos, antropólogos, artistas, A Mulher, o lado mais esportistas, professores, formoso da Humanidade, médicos, estudantes, dosingulariza o alicerce de nas de casa, chefes de todas as grandes realizafamília, barbeiros, mações. Aquilo que fisicamente nicures, taxistas, varnos constitui é gerado em seu redores de rua e demais ventre (...). Componentes do segmentos da sociedade, gênero feminino se traduzem na luta contra a fome e em elemento preponderante pela conservação da vida no para a sobrevivência das boas Planeta. O assunto tornou-se causas. Organizações estáveis condramático, e suas perspectivas, tam com mulheres estáveis. (...) O trágicas. Pelos mesmos motivos, meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial urge o fortalecimento de um ecume-

*2 Pedagogia do Afeto — Trata-se de um dos segmentos da proposta educacional (formada também pela Pedagogia do Cidadão Ecumênico) criada por Paiva Netto, cuja metodologia é aplicada com sucesso na rede de ensino e nos programas socioeducacionais desenvolvidos pela Legião da Boa Vontade, no Brasil e no exterior. Ambos “fundamentam-se nos valores nascidos do Amor Fraterno, trazidos à Terra por diversos luminares, destacadamente Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista”, como afirma Paiva Netto. Na Pedagogia do Afeto, o enfoque é sobre as crianças de até 10 anos de idade, aliando sentimento ao desenvolvimento cognitivo dos pequeninos, de forma que carinho e afeto permeiem todo o conhecimento e os ambientes de suas vidas, inclusive o escolar. A Pedagogia do Cidadão Ecumênico é direcionada à educação de adolescentes e adultos, dispondo o indivíduo a viver a Cidadania Ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade planetária. *3 Globalização do Amor Fraterno — Publicada em português, francês, inglês, espanhol, italiano, alemão e esperanto, a revista foi especialmente encaminhada por Paiva Netto à reunião do High-Level Segment 2007, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc) — no qual a LBV possui status consultivo geral —, realizada no Palais des Nations, escritório central da ONU em Genebra (Suíça). Foi recebida com muito entusiasmo pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, quando de sua visita ao estande da Legião da Boa Vontade no evento. O secretário referendou seu apoio à LBV ao assinar a capa da revista e ratificou votos de muito sucesso para todas as ações empreendidas pela Instituição. 6

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“— Não há uma polegada no meu caminho que não passe pelo caminho do outro”. (...)

O milagre das donas de casa

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Não há melhor financista do que a mãe de família, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, realizando verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunhas, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais simples. Sobretudo no campo da Economia, que não pode ser pega no grave crime de esquecer o espírito de Solidariedade, a ação da Mulher é basilar. Mohammad Ali Jinnah (1876-1948), jurista e político, Mohammad Ali Jinnah

fundador do Paquistão, em discurso que fez em 1944 na Muslim University Union, salientou: “— Nenhuma nação poderá surgir à altura de sua glória a menos que as mulheres estejam lado a lado com os governos”.

A Alma da Humanidade

Para finalizar, apresento-lhes um pequeno trecho de outra página — “A Mulher no conSerto*4 das nações” — que igualmente enviei à ONU, em nova oportunidade, e que foi traduzida por ela em seus seis idiomas oficiais, por ocasião da “51a Sessão do Status da Mulher”, em 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York. O evento sempre tem a presença da LBV, que leva a sua palavra de Paz às delegações do mundo, como ocorre novamente este ano: O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão de seu apoio. Ora, a Mulher, bafejada pelo Sopro Divino, é a Alma de tudo, é a Alma da Humanidade, é a boa raiz, a base das civilizações, a defesa da existência humana. Qual mãe deseja ver seu filho morto na guerra? Ai de nós, os homens, se não fossem as mulheres esclarecidas, inspiradas, iluminadas! Estas nossas afirmativas encontram ressonância nas do educador norte-americano Charles McIver (18601906), que dizia: “— O caminho mais econômico, fácil e certo para a educação universal é educar as mulheres, aquelas que se tornarão as mães e professoras de gerações futuras”.

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nismo que supere barreiras, aplaque ódios, promova a troca de experiências que instiguem a criatividade global, corroborando o valor da cooperação sóciohumanitária das parcerias, como, por exemplo, nas cooperativas populares em que as mulheres têm grande desempenho, destacado o fato de que são frontalmente contra o desperdício. Há muito que aprender uns com os outros. O roteiro diverso comprovadamente é o da violência, da brutalidade, das guerras, que invadiram os lares em todo o orbe. Resumindo: cada vez que suplantarmos arrogância e preconceito, existirá sempre o que absorver de justo e bom com todos os componentes desta ampla “Arca de Noé”, que é o mundo globalizado de hoje. A escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir (19081986) foi feliz ao inspiradamenSimone de Beauvoir te concluir:

Charles McIver

*4 A Mulher no conSerto das nações — Na língua portuguesa, em linhas gerais, conCerto (com cê) significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia. Já conSerto (com ésse) quer dizer reforma, reparo, restauro. Daí Paiva Netto, no início desse seu documento, ter explicado: “Antes de tudo, devo esclarecê-los sobre a palavra ‘conSerto’ grafada com ‘S’ no título deste artigo. Não se trata de erro ou distração no emprego do vocábulo em português. É ‘conSerto’ mesmo, porquanto, da forma que se encontra o mundo a pré-abrasar-se com o aquecimento global, é melhor que os gêneros confraternizem, unam forças e realizem o conSerto urgente do que ameaça quebrar-se, porque, do contrário, poderemos acabar nuclear ou climaticamente cozidos numa panela fenomenal: o Planeta que habitamos. (...) Isto sem falar no ameaçador bioterrorismo”. BOA VONTADE MULHER |

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Verdade seja dita, homem al­gum pouco realiza de verdadeiramente proveitoso em favor da Paz se não contar, de uma forma ou de outra, com a inspiração feminina. Realmente, pois, “se você

educar um homem, educa um indivíduo; mas se educar uma mulher, educa uma família”. Exato, McIver. (...)

Lei Maria da Penha Todos os dias, temos a extraordinária oportunidade para progredir moral, social e espiritualmente, aproximando a época em que viveremos numa sociedade realmente solidária. Contudo, 2009 logo trouxe em seu bojo fatos que em nada enriquecem a trajetória humana. A continuação das guerras, da pobreza e outros absurdos tais como a violência contra a Mulher persistem a desafiar tantos idealistas que se dedicam ao bem comum.

Dados estarrecedores

mulher. ‘Não adianta imaginar que vamos enfrentar a violência contra as mulheres sem a colaboração dos homens. Sem que os homens entendam que a violência contra as mulheres os prejudica, prejudica suas famílias, os seus filhos. É preciso que eles atuem ativamente. Então, precisamos não só da solidariedade dos homens, precisamos que eles atuem ativamente’”. De fato, porque dignificar a Mulher valoriza o Homem, dignificar o Homem valoriza a Mulher.

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Ricardo Leoni/O Globo

Antônio Cruz/Abr

A Agência Brasil divulgou, conforme dados da Contra a impunidade Fundação Perseu Abramo, que a cada 15 segundos Um avanço no que diz respeito a banir do nosso uma mulher é espancada em nosso país: “De acordo meio a impunidade dos agressores foi a indenização com a ministra da Secretaria Especial de Políti- obtida por Maria da Penha Maia Fernandes, 63, que cas para as Mulheres, Nilcéa dá o nome à lei que pune com Freire, as violências contra as mais rigor quem pratica violência mulheres vão desde o físico até contra a Mulher. Foi sancionada o psicológico, dentro e fora de pelo presidente Lula, em 2006. casa. (…) Em entrevista ao pro- Teve como relatora na Câmara grama ‘Bom Dia Ministro’, a Federal a dra. Jandira Feghali, ministra disse que não há como atualmente secretária de Cultura Jandira Feghali Nilcéa Freire afirmar se a violência contra do município do Rio de Janeiro. as mulheres aumentou. Assinalou, entretanto, que Matéria de Kamila Fernandes, da Agência Folha, de o número de denúncias cresceu e deve ser cada vez 13/3/2008, resume a luta dessa brasileira: “(...) Em maior. De acordo com ela, isso se deve à resposta 2001, a cearense conseguiu uma vitória na Comissão das mulheres à Lei Maria da Penha e às campanhas Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Orgade incentivo ao relato de agressões. De acordo com nização dos Estados Americanos), que determinou que a ministra, é preciso conscientizar a sociedade de o Estado do Ceará pagasse uma indenização de US$ que a violência contra a mulher não 20 mil por não ter punido judicialmente é um problema de mulheres. Para Nilo homem que a agredia e que até tentou céa, outra campanha — Homens pelo matá-la: seu ex-marido. (...) O valor da Dignificar a Mulher Fim da Violência — tem o objetivo de indenização não chega nem a cobrir as valoriza o Homem, conscientizar a população masculina despesas médicas que Maria da Penha dignificar o Homem e arrecadar assinaturas de homens teve depois das tentativas de homicídio. valoriza a Mulher. que não aceitam a violência contra a ‘Mas o significado vai muito além disso,


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“O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão de seu apoio.”

Cidadania solidária já

Em minha obra Reflexões da Alma, da Editora Elevação, comento que — o estágio de fragilidade moral do mundo é tão avançado que, para acabar com a violência, só existe uma medicina forte: a da escalada da Fraternidade Solidária, aliada à Justiça, na Educação. Por isso, ecumenicamente espiritualizar o ensino é um poderoso antídoto contra a agressividade. Por falar na “Senhora de Olhos Vendados”, aqui um ilustrativo pensamento do ensaísta francês Luc de Clapiers, Marquês de Vauvenargues (1715-1747): “Não pode ser justo Pedro Apóstolo quem não é humano”. Por conseguinte, também não pode ser feliz. Pedro Apóstolo, em sua Primeira Epístola (4:8), pregava, dizendo: “Tende, antes de tudo, ardente Caridade uns para com os outros, porque o Amor cobre uma Photos.com

Luc de Clapiers

multidão de pecados”. Renovar é — com ardente Solidariedade, ou seja, com paixão e compaixão, Boa Vontade e Fé Realizante — sacudir as almas, despertar os espíritos, iluminando sua consciência, sem conduzir os Gandhi indivíduos ao derramamento de sangue, à dor ou à morte. Quase dois milênios depois, Gandhi (1869-1948), o ícone indiano da filosofia da não-violência, gênio inspirador do grande Martin Luther King Jr. (1929-1968), declarou: “Quando o Homem chega à plenitude do Amor, neutraliza o ódio de milhões”. E, como fez o próprio Mahatma, indica ao povo o caminho da libertação. P.S. — Quando falo sobre Amor, não o confundo com a aceitação covarde do que é aéMartin Luther King Jr. tico. Pelo contrário, o exercício do Amor exige o sentimento perfeito de Justiça. Ter Caridade não significa complacência com comportamentos criminosos impunes que envergonham uma sociedade que se preze.

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tem uma dimensão internacional contra a impunidade’, afirmou ela à Folha”.

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A batalhadora Maria da Penha, que dá nome à lei que pune com rigor a violência contra a Mulher, é homenageada pelas crianças da LBV.

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Paiva Netto

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Ao leitor

Esta edição especial é uma singela homenagem da Legião da Boa Vontade (LBV) a todas as mulheres, as anônimas e as que se destacam nos diversos campos de atuação do gênero humano. Elas que, cada dia mais, dividem com os homens desde as tarefas do lar até as decisões mais importantes para a Humanidade. A Alma feminina, aqui representada nas biografias de mulheres excepcionais, mostra-se capaz de contribuir para a solução de graves problemas que hoje afligem os povos. Fome, guerras, mudanças climáticas e tantos outros desafios exigem competência, carinho, coragem, força de trabalho, determinação e Amor, aspectos marcantes do Ser feminino. Como exalta o jornalista Paiva Netto, diretor-presidente da LBV, em sua mensagem especial intitulada “Milênio das Mulheres”: “A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Componentes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis contam com mulheres estáveis. (...) O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da Mulher (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto”. A revista abre espaço também para séria reflexão a respeito da violência doméstica contra a mulher e o compartilhamento igualitário de direitos e responsabilidades entre os gêneros. Outro destaque é a reportagem que ilustra as várias vertentes trabalhadas pela LBV para criar oportunidades de inclusão para mulheres que vivem nos bolsões de pobreza do Brasil. Boa leitura!

BOA VONTADE Mulher

BOA VONTADE Mulher PA IVA

N ET TO

ESCREVE

“O

MILÊNIO

DAS

MULHERES”

-AR½O DE

Uma justa homenagem da Legião da Boa Vontade — instituição brasileira com status consultivo geral no Ecosoc (ONU) — àquelas que batalham e contribuem, em todas as épocas, para um mundo melhor.

Maria da Penha, que deu nome à lei que pune com mais rigor quem pratica violência contra a Mulher.

A força da

Mulher na Humanidade Publicação especial da LBV dirigida aos participantes da 53a Comissão do Status da Mulher da ONU 3EDE DAS .A½µES 5NIDAS s .OVA 9ORK s %STADOS 5NIDOS s DE A DE MAR½O DE

4 Mensagem de Paiva Netto 11 Mulher na visão da ONU 14 Anne Frank 15 Asha-Rose Migiro 16 Bibi Ferreira 17 Cecília Meireles

BOA VONTADE Mulher

18 Eleanor Roosevelt 21 Gabriela Mistral 24 Irena Sendler 25 Maria Barroso 26 Madre Teresa de Calcutá 28 Maria Luiza Viotti 29 Maria Quitéria 30 Maurren Maggi 31 Shirin Ebadi 32 Tomie Ohtake 33 Wangari Maathai 35 Social — LBV: Equação do Amor 42 Especial — Violência doméstica contra a Mulher

edição especial Fechamento: 24/2/2009

Revista apolítica e apartidária da Espiritualidade Ecumênica Edição disponível também em inglês e espanhol

BOA VONTADE é uma publicação das IBVs, editada pela Editora Elevação. Registrada sob o no 18166 no livro “B” do 9º Cartório de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo. Diretor e Editor-responsável: Francisco de Assis Periotto - MTE/DRTE/RJ 19.916 JP Coordenador Geral: Gerdeilson Botelho Equipe Elevação: Adriana Rocha, Adriane Schirmer, Aline Portel, Alexandre Rueda, Aneliése de

Oliveira, Carolina Dutra, Charles Viana, Cida Linares, Daniel Guimarães, Danilo Parmegiani, Enaildo Viana, Felipe Duarte, Jefferson Rodrigues, Jéssica Botelho, Josué Bertolin, Leila Marco, Letícia Rio, Luci Teixeira, Maria Aparecida da Silva, Maria Corina Rocha, Natália Lombardi, Neuza Alves, Patrícia Maria, Paula Suelí, Raquel Bertolin, Rodrigo de Oliveira, Rosana Bertolin, Sarah Jane, Silvana Bosso, Silvia Ligieri, Thaís Afonso, Valéria Nagy, Walter Periotto e Wanderly Albieri Baptista.

Projeto Gráfico: Helen Winkler • diagramação: Felipe Tonin foto de capa: Leis & Letras/Genilson de Lima Impressão: Mundial Artes Gráficas Endereço para correspondência: Rua Doraci, 90 • Bom Retiro • CEP 01134-050 • São Paulo/SP

Tel.: (11) 3358-6871 • Caixa Postal 13.833-9 • CEP 01216-970 Internet: www.boavontade.com / E-mail: info@boavontade.com

A revista BOA VONTADE Mulher não se responsabiliza por conceitos e opiniões em seus artigos assinados.


C omiss ã o sobre o S tatus d a M ul h er d a O N U

Mulher na visão da

ONU Adriana Rocha e Danilo Parmegiani De Nova York/EUA

A

Adriana Rocha

como drogas, aids e doenças sexual­ 53ª sessão da Comissão somente transmissíveis (DSTs). É do bre o Status da Mulher (em diretor-presidente da LBV, José de inglês, CSW), que ocorre Paiva Netto, o pensamento: “Aids entre os dias 2 e 13 de março, reú— o vírus do preconceito agride ne representantes dos países memmais que a doença”, pois, apesar de bros e de entidades das Nações passados cerca de 30 anos do início Unidas (ONU) e de organizações da epidemia, a falta de informação não-governamentais associadas e, por conseguinte, o preconceito ao Conselho Econômico e Social ainda são os desafios mais fortes que (Ecosoc). Em pauta, a divisão se impõem no trato do problema. igualitária de responsabilidades Vale relembrar aqui a importante entre mulheres e homens, incluin- Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU contribuição do encontro de 2008. do cuidados no contexto do HIV/ Logo na abertura da 52ª reunião, o secretário-geral aids. A Legião da Boa Vontade (LBV), que participa das Nações Unidas, Ban Ki-moon, deu o tom das ativamente desses encontros da ONU, oferece sua discussões que direcionariam a CSW: “Há uma verexperiência nos assuntos em debate. As ações em- dade universal, aplicável a todos os países, culturas preendidas para valorizar as mulheres e as meninas e comunidades: a violência contra a mulher nunca é proporcionam suporte psicológico, jurídico, alimentar aceitável, perdoável ou tolerável”. Com essa ideia, e social, e ainda contribuem para a harmonia familiar sintetizou o espírito da campanha global, lançada ao transmitir-lhes valores universais e conscientizá-las naquela ocasião, no intento de pôr fim à violência da importância de vivenciá-los. contra as mulheres, ato que o secretário qualificou Daí por que a Instituição também atua com suas como flagelo. Isso porque uma em cada três mulheres Campanhas de Valorização da Vida, divulgando na no mundo é submetida a maus-tratos, sexo forçado ou mídia e em palestras nas escolas e nas comunidades abusos em algum momento na vida, conforme dados carentes informações sobre uma série de questões, divulgados por Ban Ki-moon. BOA VONTADE MULHER |

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A Legião da Boa Vontade promove diversas Campanhas de Valorização da Vida. Exemplo disso foi a marcha promovida pela Instituição, sob o slogan criado por Paiva Netto, que mobilizou 200 mil pessoas no Rio de Janeiro/RJ, Brasil, em 1o de dezembro de 1996.

“Aids — o vírus do preconceito agride mais que a doença.” Paiva Netto

Adriana Rocha

A mobilização se estenderá até 2015 — mesmo ano estipulado para o cumprimento dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) —, agindo em três frentes: a) promoção de iniciativas em âmbito global; b) priorização de programas a favor das mulheres dentro das Nações Unidas; e c) incentivo de colaborações com governos e entidades nacionais. A campanha objetiva mobilizar a opinião pública e os órgãos de decisão, em plano mundial, para assegurar a prevenção e a erradicação dessa violência. O tema é frequentemente realçado como debate prioritário nos encontros ocorridos na sede do organismo internacional, em Nova York.

Coração de ouro

A norte-americana Sharon Hamilton-Getz desenvolve um trabalho de voluntariado e Sharon Hamilton-Getz responsabilidade social ao expandir os conceitos da música e da arte para o resgate de mulheres e crianças. A presidente e fundadora do World Harmony Council and Forum & Harmony Glow Centered Business (Projeto Harmonia e Paz Mundial) ressaltou à BOA VONTADE que sua experiência de viajar pelo mundo a fez ver que elas precisam de voz: “Onde há uma mulher, geralmente, há uma criança. A maioria delas está sofrendo porque não recebe o devido cuidado. Se não há boas condições, a família inteira é prejudicada”. 12

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Ela enalteceu a participação da LBV nas conferências da ONU, dizendo que o amor está presente nas ações da Instituição. “Eu sei que há um grande coração na Legião da Boa Vontade, um coração de ouro. Como a LBV está focada em Deus, e não restrita a apenas uma crença, ela abraça a todos. (...) Deus é o que cura, o que transforma, o que faz a diferença. E, no final, é o Amor que prevalece. Se a mulher sabe que tem esse tipo de amor, então pode se encontrar e voltar a ser quem realmente é e superar qualquer situação, sentin­do-se completa, única e ligada ao Criador.”

Mensagem de destaque

A LBV, conforme destaca a sra. Getz, leva em suas participações a fraterna tese de proteção dos Direitos Humanos e Espirituais. Em 2008, a segunda edição da revista Globalização do Amor Fraterno chamou novamente a atenção de expressões nacionais e internacionais por seu conteúdo, que traz recomendações de boas práticas, constantes do artigo Oito Objetivos do Milênio — Responsabilidade de todos os de bom senso, de autoria do jornalista, radialista e escritor Paiva Netto, dirigente da Instituição, com uma abordagem de cidadania ecumênica. A dra. Monica Sharma, diretora de Formação de Lideranças e Capacidades nas Nações Unidas, convidou a LBV a apresentar sua experiência numa reunião com membros de delegações da ONU que atuam na luta pela Paz em áreas de conflitos no


Elias Paulo

LBV na ONU Breve histórico

No Brasil, a dra. Monica Sharma mostrou-se impressionada na visita que fez ao Instituto de Educação da LBV, na cidade de São Paulo/SP, em outubro de 2008: “Adorei estar com as crianças da Legião da Boa Von­­tade. A LBV são os Direitos Humanos na prática; é a expressão da Solidariedade. (...) Tanto nas crianças como nos professores, há um tipo de educação e estímulo, Amor e crescimento. A gente percebe isso nos olhos deles, nos sorrisos. Vemos bebês, jovens, que amadurecerão e servirão a Humanidade. (...) A aprendizagem sobre religiões diferentes, sobre respeitar a diversidade, sobre acessar o Amor no Cristo como uma maneira de conhecer o Amor em si”.

Adriana Rocha

Oriente Médio. Esse trabalho também foi destacado pela diretora-executiva da Organização de Mulheres para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, June Zeitlin, que na ocasião atuou como mediadora das discussões entre as ONGs. A seu pedido, a LBV redigiu um texto com recomendações, como contribuição da sociedade civil. Foi reparando no compromisso da Legião da Boa Vontade com a criatura humana, respeitando-a por completo, que a sra. Aparna Mehrotra, personalidade de destaque Aparna Mehrotra nos assuntos relacionados ao gênero feminino nas Nações Unidas, comentou: “Existe uma razão para sermos denominados Seres Humanos, não seres geradores, seres mães ou seres pais. É a humanidade o que nos distingue, os valores mais elevados do Amor e da compaixão. Então, uma atividade como essa, que se dedica ao aumento da quantidade de amor e compaixão em todos os aspectos das nossas vidas e para todas as pessoas, pode melhorar as circunstâncias em que nós e as nossas crianças vivemos nas nossas vidas”.

Desde 1994, a LBV tem trabalhado em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), por intermédio do Departamento de Informação Pública (DPI). Em 1999, tor­ nou-se a primeira organização da sociedade civil brasileira a conquistar na ONU o status consultivo geral no Conselho Econômico e Social (Ecosoc) e, em 2000, passou a integrar a Conferência das ONGs com Relações Consultivas para as Nações Unidas (Congo), em Viena, na Áustria. Um dos mais importantes desafios globais firmados em 2000, durante a Cúpula do Milênio, conhecido como os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), reuniu 191 países membros para a definição de um conjunto de metas a serem alcançadas até 2015, a fim de melhorar a qualidade de vida da Humanidade e buscar a sustentabilidade do nosso orbe. A LBV tem apoiado amplamente essa campanha mundial por meio de suas ações socioeducacionais, que já têm quase 60 anos, e pela articulação de outros atores sociais, promovendo encontros e disseminando informações em dezenas de cidades brasileiras, da América Latina e da Europa. Além do papel de mobilizar a sociedade civil em torno dos Objetivos do Milênio, desde 2006 a LBV atua na sede da ONU, em Nova York, também como vice-presidente do Comitê de Espiritualidade, Valores e Interesses Globais, grupo ligado à Congo. O intuito é contribuir para um debate aberto e prático sobre a importância da Espiritualidade no desenvolvimento global, bandeira defendida pela Legião da Boa Vontade desde suas origens, na década de 1940. Assim, vários seminários e eventos têm atraído a atenção de autoridades mundiais para o assunto.

LBV

Leia na página 35 desta publicação o resumo do trabalho da LBV direcionado às mulheres BOA VONTADE MULHER |

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Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Anne Frank in memoriam

Um diário que não se cala Natália Lombardi

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agosto de 1944, o grupo foi mandado para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Tempos depois, Anne e a irmã, Margot, três anos mais velha, foram separadas dos pais, Otto e Edith, e transferidas para Bergen-Belsen, perto de Hannover (Alemanha), onde morreram por inanição e tifo. O pai, único da família a sobreviver ao Holocausto, com a ajuda de Miep Gies, sua antiga secretária, que se tornou protetora dos Frank durante os 25 meses que passaram no esconderijo, cuidou de espalhar a história narrada pela filha. A obra foi lançada em 1947 e traduzida para dezenas de idiomas. Gies, que ainda reside em Amsterdã, completou 100 anos. Anne morreu pouco antes de completar 16 anos, mas seu relato até hoje é considerado por muitos uma das obras de maior impacto do século 20. “Todo mundo tem dentro de si um fragmento de boas notícias. A boa notícia é que você não sabe quão extraordinário você pode ser! O quanto você pode amar! O que você pode executar! E qual é o potencial! (...) Que maravilha é ninguém precisar esperar um único momento para melhorar o mundo”, observou a jovem escritora judia. Arquivo BV

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oi vivendo num esconderijo com a família e amigos que a jovem judia Anneliese Marie Frank, ou Anne Frank (1929-1945), redigiu um dos relatos mais comoventes do Holocausto. “Cerca de dez anos depois do fim da guerra, vai parecer esquisito quando se disser como nós judeus vivemos, comemos e conversamos aqui”, escreveu em seu diário durante a Segunda Guerra Mundial. A família de Anne, assim como muitas outras, teve de fugir de Frankfurt quando a perseguição antissemita aumentou na Alemanha nazista. Chegaram a Amsterdã (Holanda) em 1933. Inteligente, a menina já chamava a atenção pela curiosidade e liderança na escola. Quando Anne Frank completou 13 anos, ganhou um caderno encapado com tecido xadrez vermelho e verde. Nele, naquela mesma semana, começou a registrar a ocupa­ção nazista na Holanda. Nesse tempo a família foi obrigada a se esconder nos fundos de um armazém, onde o pai da menina trabalhava. Anne passava boa parte do tempo dedicando-se a escrever o diário e a fazer atividades de disciplinas da escola. Após o “Anexo Secreto” ser descoberto, em


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Asha-Rose Migiro

A ilustre vice-secretária-geral da ONU Felipe Duarte

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Adriana Rocha

ao longo dos anos”. Pouco antes vice-secretária-geral da de assumir o posto nas Nações ONU, Asha-Rose MiUnidas, ela presidiu o Conselho giro (na foto, em 2007, de Ministros da Conferência Incom Amanda Vieira, Solternacional dos Grandes Lagos, dadinho de Deus, como são que resultou no Pacto sobre carinhosamente chamadas as Segurança, Estabilidade e Decrianças na Legião da Boa senvolvimento na região. Vontade), foi uma pioneira ao Durante a 51ª sessão da defender causas nobres em seu país de origem. Em 1997, inteComissão sobre o Status da grou a comissão pela reforma Mulher, a dra. Migiro ressaltou constitucional da Tanzânia. à revista BOA VONTADE: A doutora em Direito pela “O Amor e o entendimento Universidade de Konstanz, são muito importantes para Alemanha, foi a primeira mupossibilitar que as crianças lher a ocupar o cargo de mivivam mais felizes e possam nistra de Relações Exteriores e concentrar-se em coisas que Cooperação Internacional, em realmente representem um “As organizações da 2006, desde que o país africano se avanço para elas. Uma vez que sociedade civil são tornou independente, em 1961. Ana criança recebe amor, ela está parceiras fundamentais tes, foi ministra por cinco anos para sendo encorajada, aprende a amar para atingir a igualdade o Desenvolvimento da Comunidade, e, assim, cria condições para uma Gênero e Crianças. atmosfera de Paz para todos”. Ela de gênero. Por isso, Ela já trabalhou com o atual também reconheceu o esforço da congratulo-me com a secretário-geral da ONU, Ban Legião da Boa Vontade no combate LBV por conseguir agir Ki-moon, quando ambos desemà violência e à discriminação: “As penharam o cargo de ministro de diretamente em defesa da organizações da sociedade civil Relações Exteriores de seus ressão parceiras fundamentais para mulher.” pectivos Estados. Para ele, a dra. atingir a igualdade de gênero. Por Migiro é uma “líder altamente respeitada, que tem isso, congratulo-me com a LBV por conseguir agir defendido a causa dos países em desenvolvimento diretamente em defesa da mulher”. BOA VONTADE MULHER |

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Divulgação

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Bibi Ferreira Dama do teatro

Carolina Dutra

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A contribuição de Bibi para a dramaturgia toca triz, cantora, diretora e compositora, Abigail Izquierdo Ferreira, conhecida por Bibi Ferreira, as pessoas por gerações. Um exemplo marcante de nasceu no Rio de Janeiro em 1922. Filha do ator sucesso: em 1983, ela estrelou Piaf, a Vida de uma brasileiro Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Estrela da Canção. O espetáculo teve enorme reperAída Izquierdo, Bibi não poderia ter outro caminho cussão, com ótima aceitação do público e da crítica. senão o das artes e, desde cedo, mostrava talento. O A bela atuação da atriz lhe rendeu diversos prêmios, pai, em carta a um amigo, já pressentia o destino da e a peça permaneceu seis anos em cartaz. Depois de Piaf, a atriz seguiu para Portugal, onde menina: “Não quero mais morrer! Nasceu a primavera da minha vida. Ganhei uma filhinha de nome Abigail, dirigiu peças por quatro anos. No Brasil, durante a a quem chamarei de Bibi. Ela vai cantar, representar e década de 1990, dirigiu o aclamado Sua Excelência, o Candidato. Entre os grandes nomes que estiveram sob fazer muitas coisas bonitas em um palco”. Com a separação dos pais, Bibi foi morar com a a direção de Bibi estão Maria Bethânia, Clara Nunes, Marília Pêra, Marco Nanini, Paulo mãe. Ao seu lado, a pequena dançaGracindo, Baden Powell, Elizeth rina estreou aos 3 anos em Santiago, “Vivo para a arte e é ela Cardoso e Ítalo Rossi. no Chile. Quando voltou ao Brasil, que mantém o vigor de Mesmo com tantas realizações, entrou para o Corpo de Baile do que fizeram dela um ícone da Teatro Municipal do Rio de Janeiro. minha alma.” Nem por isso as coisas seriam mais Bibi Ferreira cultura brasileira, a notável artista poderia escolher o descanso: “Mas fáceis para ela. Aos 9 anos, teve a eu adoro desafios. Não acho a matrícula negada em um colégio pelo fato de ser filha de ator, à época um preconceito mínima graça em fazer algo que vou superar com facilidade”. comum contra quem pertencia ao meio artístico. A identificação com as ações sociais é outra caracBibi cresceu e começou a moldar seu caminho. Montou uma companhia de teatro, em 1944, por onde terística dessa artista. Em certa ocasião, manifestou o passaram importantes artistas. A carreira profissional, seu apoio à Legião da Boa Vontade: “O que a LBV faz no entanto, ganharia maior projeção a partir de 1946, é tão importante, tão sério, um ato de dedicação, de quando veio a oportunidade de substituir uma bone- humanidade e de uma beleza tão grande, que, quando ca que desaparecera pouco antes do início da peça falo na LBV, sempre fico muito emocionada. Ela impõe Manhãs de sol. Para ela, estar em um palco é algo úni- respeito. E você só tem admiração por aquilo que resco. “É o momento da criação. Da comunhão. É muito peita. Tenho uma grande admiração e a convicção de bonita esta comunhão palco e plateia. É o momento em que a LBV vai continuar a crescer ainda mais, porque ela é constantemente um ato de bondade”. que, através de vocês, eu me encontro com Deus.” 16

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Cecília Meireles Dom de transformar in memoriam

a vida em poesia

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Sarah Jane

Arquivo BV

a obra de Cecília inspirou o filme Os inônimo de cultura e referênInconfidentes, de 1972, com base em cia na arte literária, Cecília parte no seu livro O Romanceiro da Benevides de Carvalho MeiInconfidência, publicado em 1953, reles (1901-1964) dedicou a vida à após dez anos de pesquisa. Seguiu Educação. A única sobrevivente dos com o magistério e especializações quatro filhos de Carlos Alberto de em Literatura, Educação e Folclore. Carvalho Meireles e Matilde BeLecionou em universidades do Brasil nevides, nasceu em 7 de novembro e dos Estados Unidos e foi conferende 1901, no Rio de Janeiro/RJ. O pai cista internacional. faleceu meses antes do seu nasci­ Tantas atividades não a impedimento, e a mãe, antes de a menina ram, todavia, de dedicar-se a outra completar 3 anos. Foi criada pela importante área de sua vida: a maavó materna, Jacinta. ternidade. As três filhas vieram do Os muitos percalços, porém, não primeiro casamento: Maria Elvira, a abateram, pelo contrário: “(…) “A noção ou o Maria Mathilde e Maria FernanEssas e outras mortes ocorridas na da; esta última se tornou artista teatral família acarretaram muitos contratemsentimento da consagrada. Com as crianças, a infância pos materiais, mas, ao mesmo tempo, transitoriedade virou um dos temas favoritos da escrime deram, desde pequenina, uma tal de tudo é o tora. Além de livros para este público, intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o efêmero fundamento da minha Cecília criou a primeira biblioteca infantil no Brasil e continuou trabalhando pela e o eterno. (...) A noção ou o sentimento personalidade.” qualidade na Educação. da transitoriedade de tudo é o fundaCecília Meireles Suas poesias foram traduzidas para mento da minha personalidade”. idiomas diversos, como espanhol, franO gosto pelos estudos foi uma constante em sua vida. Tanto que na Escola Estácio de Sá, cês, italiano, inglês, alemão, húngaro, indiano e urdu, e no Rio de Janeiro, recebeu de Olavo Bilac — inspetor musicadas por compositores consagrados, a exemplo de escolar que se tornou grande poeta brasileiro e autor do Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Lamartine Hino à Bandeira Nacional — uma medalha de ouro por Babo, Norman Frazer, Fagner, entre outros. Hoje, fazer o curso com distinção e louvor. Cedo conheceu Cecília Meireles dá nome a ruas, escolas, salas culturais a poesia: aos 9 anos, escreveu o primeiro poema e, aos e bibliotecas e, por suas notáveis contribuições, deixa 16, lançou Espectros, o primeiro livro. Tempos depois, uma marca preciosa na História brasileira. BOA VONTADE MULHER |

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Eleanor Roosevelt Eleanor Roosevelt liderou ativistas dos direitos civis e políticos do mundo inteiro. Juntos, puderam transformar o sonho de uma declaração universal em realidade. Na foto de 1949, a primeira-dama dos EUA mostra o pôster em espanhol. Ela foi fotografada também com as versões em inglês e francês.

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UN Photo

in memoriam


Porta-voz das multidões Alexandre Rueda

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Arquivo BV

ascida em Nova York e descendente de imi- alta sociedade de Nova York se daria aos 18 anos. Em grantes dos Países Baixos, Anna Eleanor 1905, veio o casamento com Roosevelt, um primo Roosevelt (1884-1962) foi uma humanista, di- distante, com quem teve seis filhos. O matrimônio sofreria grande provação em 1921, plomata, destacada ativista social e dos Direitos Humanos, defensora das garantias e reconhecimento da quando, de férias no Canadá, Franklin contraiu pojuventude, dos afro-americanos, liomielite, que o deixou com grande dificuldade de das mulheres, dos pobres, das movimento, sobretudo das pernas, afastando-o da minorias. Também foi embai- vida política. A mãe dele recomendou o caminho da xadora na Organização das aposentadoria. Mas, contando com o encorajamenNações Unidas (ONU) entre to inabalável de sua devotada mulher, como braço 1945 e 1952, representando seu direito, retornou à política mais forte do que antes. país, por nomeação do presiden- No decorrer dos acontecimentos, por necessidade, Franklin Roosevelt te Harry Truman (1884-1972), Eleanor teve de superar a timidez, e para tanto foi sucessor de seu marido, Franklin Delano Roosevelt treinada a exercer o papel de oradora. Em 1939, por conta da discriminação, a cantora (1882-1945), na presidência dos EUA. Teve uma infância marcadamente infeliz e difícil, negra Marian Anderson (1897-1993) fora impedio que lhe moldaria a integridade de caráter. Com a da de apresentar um concerto para seleto grupo de perda prematura da mãe, aos 8 anos, passou a viver mulheres da aristocracia norte-americana, no Constitution Hall, em Washington (D.C.). com a avó materna. Dois anos mais tarde, Tal afronta repercutiu em todo o perderia o pai. Com 15 anos l e ív d n fu n mundo. A primeira-dama interveio e é mandada à Inglaterra para Com inco e e conseguiu que se transferisse a apreestudar em Allenswood, uma d personalida sentação para o Lincoln Memorial, escola no subúrbio de Londres. e inação, apesar d rm te e d a céu aberto e para enorme público. Este seria um marco na vida ades, ela não No Domingo de Páscoa, 9 de abril, da menina Eleanor. Na escola, todas as dificuld u e lv o nv se e d e de pé na escadaria do monumento a diretora — mulher enérgica e se intimidou a rm fo l ta e histórico, perante mais de 75 mil erudita, ligada a círculos literád sua caminhada e d pessoas de todas as etnias — sem rios, artísticos e políticos — teve z o tornou a porta-v se e u q contar a audiência nacional de grande interesse pela tímida e das na luta multidões engaja rádio, que contabilizava milhões solitária garota órfã. O retorno à

umanos.

pelos Direitos H

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Arquivo BV

Marian Anderson, no Lincoln Memorial, na capital dos EUA, Washington.

de ouvintes — vieram as primeiras palavras de Marian por meio da música: “O meu país eu canto” (“My Country ‘Tis of Thee”). O estrondo de aplausos irrompeu da multidão e, naquele dia, sua voz não foi calada pelo preconceito. Independentemente da etnia, a senhora Roosevelt recebia todos na Casa Branca. Entretanto, sabia que suas ações poderiam provocar o descontentamento de apoiadores políticos de seu marido e, mesmo assim, preferiu colocar a política de lado e seguir a própria consciência, que seria a marca de sua trajetória. Um dos conselheiros da confiança do presidente Roosevelt, Rexford Tugwell (1891-1979), descreveu as tentativas da esposa para influenciar o marido na política do New Deal: “Ninguém que tenha visto Eleanor Roosevelt sentar-se encarando o marido e, sustentando seus olhos firmes, dizer a ele: ‘Franklin, eu acho que você deveria...’ ou: ‘Franklin, certamente você não irá...’ nunca se esquecerá da experiência... Seria impossível dizer com que frequência ou em que medida processos governamentais americanos tomaram novas direções por conta de sua determinação”*.

A morte do marido e os novos rumos

Sua atuação também foi muito importante durante

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Thomas D. Mcavoy

“Ninguém que tenha visto Eleanor Roosevelt sentar-se encarando o marido e, sustentando seus olhos firmes, dizer a ele: ‘Franklin, eu acho que você deveria...’ ou: ‘Franklin, certamente você não irá...’ nunca se esquecerá da experiência... Seria impossível dizer com que frequência ou em que medida processos governamentais americanos tomaram novas direções por conta de sua determinação.” Rexford Tugwell Um dos conselheiros da confiança do presidente Roosevelt

a Segunda Guerra Mundial. Eleanor foi pioneira na defesa de causas políticas e sociais de maneira independente e desembaraçada, sem ficar na sombra do marido ou do legado do tio, o também presidente Theodore Roosevelt (1858-1919). Depois da morte do marido, viria ainda a ser delegada dos EUA na ONU, continuando ativa no cenário político internacional, na defesa das causas sociais, principalmente as relacionadas às mulheres. Nas Nações Unidas, presidiu o comitê que aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, feito que levou o então pre­ sidente norte-ame­ricano, Harry Truman, a chamá-la de primeira-dama do mundo. Tudo isso demonstrou a grande capacidade de Eleanor de prosseguir sua carreira política e como ativista social, indo muito além das incumbências de primeira-dama. Ademais, quando deixou a Casa Branca, em 1945, as fronteiras para as sucessoras já tinham sido desbastadas. Assim, com inconfundível personalidade e determinação, apesar de todas as dificuldades, ela não se intimidou e desenvolveu sua caminhada de tal forma que se tornou a porta-voz de multidões engajadas na luta pelos Direitos Humanos. * Rexford Tugwell, “Remarks”, Roosevelt Day Dinner Journal, Americans for Democratic Action, 31 de janeiro de 1963.


Gabriela Mistral

in memoriam

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scritos encantadores com Alma de poeta. Em resumo, esta é a característica que elevou Gabriela Mistral ao patamar de uma das mais consagradas poetisas de todos os tempos. Lucila Godoy y Alcayaga — nome de batismo desta educadora, escritora, diplomata e feminista — nasceu no dia 7 de abril de 1889, na cidade de Vicuña (Chile). O pseudônimo Gabriela foi adotado em homenagem ao poeta italiano Gabriele D’Annunzio, e o Mistral veio de Frederic Mistral, um poeta provençal, o qual ela admirava bastante. Gabriela diplomou-se professora aos 18 anos e lecionou no ensino básico e fundamental durante longo período. Nessa época, transferiu-se para o povoado de La Cantera, onde se apaixonou por um modesto empregado da estrada de ferro, a quem endereçou seus primeiros versos. Mais tarde, o rapaz viria a se suicidar. Com o coração brutalmente ferido, aprendeu a transformar as tragédias da vida — que não foram poucas, a exemplo do abandono do pai aos 3 anos — em poemas, cantando versos de um amor sublimado a seus leitores. Em 1945, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Foi a primeira vez que a América Latina conquistou a honraria — atualmente, representando a região, são cinco os ganhadores na categoria. Contudo, Mistral continua a ser a única mulher sul-americana premiada com a láurea. Sua poesia foi traduzida para diversos idiomas e influenciou o trabalho de muitos escritores latino-americanos, inclusive do também chileno Pablo Neruda e do mexicano Octavio

Arquivo BV

Primeira latino-americana a ganhar o Nobel de Literatura

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Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Sua poesia foi traduzida para diversos idiomas e influenciou o trabalho de muitos escritores latino-americanos Paz, ambos ganhadores do Nobel de Literatura, respectivamente, em 1971 e 1990. Por vinte anos, a partir de 1933, atuou como consulesa de seu país, em Lisboa, Madri, Nápoles, Los Angeles, entre outras cidades. Também esteve no Brasil nos anos 1940, guardando sempre em seu coração uma ternura comovente tanto pela terra como pela gente brasileira. O ano de 1923 foi marcante na vida de Gabriela como educadora: depois de desempenhar importante papel no sistema educacional chileno e de publicar seu primeiro livro de poesias (Desolación), recebeu o convite do governo do México para elaborar um plano de reforma educacional do país. A partir da exposição de sua obra pelo mundo e da projeção internacional, a diplomata chegou a atuar na antiga Liga das Nações, em Genebra, Suíça, e em diversas instituições de ensino superior na Europa e na América Latina, além de ter sido membro honorário de várias sociedades culturais no Chile, Estados Unidos, Espanha e Cuba. Lecionou Literatura Espanhola na Columbia University, na Middlebury College e na Vassar College, nos EUA, e na Universidad de Puerto Rico, em Porto Rico.

Além de prêmios, a pensadora chilena recebeu inúmeras homenagens pelo legado literário e intelectual. Sua memória é cultuada até hoje. Exemplo disso foi a referência a ela feita pelo escritor Paiva Netto em artigo publicado em centenas de jornais, sites e revistas, no Brasil e no exterior, e divulgado em milhares de emissoras de rádio e TV. Na matéria, intitulada “Gabriela Mistral, Renan e Eça de Queiroz”, o jornalista reproduz trecho de um dos mais notáveis poemas de Mistral, no qual ela confere um sentido especial ao ato de servir, publicado na revista BOA VONTADE, em 1957. “Toda a natureza é um anelo de serviço. (...) O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: O Servidor”. Gabriela Mistral faleceu em 10 de janeiro de 1957, em Nova York (EUA), e foi sepultada em Montegrande, no Chile, conforme desejou. Seu espírito de humanidade continua vivo, enchendo de vitalidade sua obra. [A.R.] A revista BOA VONTADE no 9, de março de 1957, prestou homenagem à querida Mistral, detalhando sua biografia e reproduzindo o poema abaixo.

O prazer de servir Gabriela Mistral

Toda a natureza é um anelo de serviço. Serve a nuvem, serve o vento, serve o mar. Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu; onde houver um erro para corrigir, corrige-o tu; onde houver uma tarefa que todos recusam, aceita-a tu. Sê quem tira a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades dos problemas. Há alegria de ser sincero e de ser justo; há, porém, mais que isso, a formosa, a imensa alegria de servir. Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para tomar! 22

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Não te seduzam as obras fáceis. É belo fazer tudo o que os outros se recusam a executar. Não cometas, porém, o erro de pensar que só tem merecimento o executar as grandes obras; há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa; arrumar uns livros, pentear uma criança. Aquele critica; este destrói: sê tu quem serve. O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: O Servidor. E tem Seus olhos fixos em nossas mãos; pergunta todos os dias: Serviste hoje? A quem? À árvore, ao teu Amigo, à tua Mãe?


Templo da Boa Vontade é aclamado pelo povo como uma das Sete Maravilhas de Brasília/DF - Brasil

Com o apoio das Mulheres, o diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, fundou o Templo da Boa Vontade (TBV). Aclamado pelo povo como uma das Sete Maravilhas de Brasília/DF, Brasil, desde que foi inaugurado, em 21/10/1989, já recebeu mais de 19 milhões de peregrinos e turistas. Segundo dados oficiais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Distrito Federal (SDET), é o monumento mais visitado da capital do País. Ao lado do ParlaMundi e de sua sede administrativa, o Templo da Paz forma o Conjunto Ecumênico da Legião da Boa Vontade.

Visite! SGAS 915 – Lotes 75/76 – Brasília/DF – Brasil I n f o r m a ç õ e s : ( + 5 5 6 1 ) 3 2 4 5 - 1 0 7 0 • w w w . tBOA bVONTADE v . c MULHER o m .|b23r


Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Irena Sendler

in memoriam

Coragem e Fraternidade Aline Portel

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Divulgação

uitos ainda desconhecem a história de heroísmo de Irena Sendler, um exemplo de coragem da alma feminina firmada em objetivos de Paz. Nascida em 1910, na Polônia, a enfermeira católica trabalhava em serviços sociais, mesmo antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com famílias pobres. Em 1942, durante o Holocausto, com o estabelecimento do Gueto de Varsóvia, pôs em risco a própria vida ao unir-se ao Conselho para Ajuda aos Judeus, provendo alimentação, roupas e cuidados médicos aos confinados. Infiltrando-se no departamento do gabinete sanitário, destinado ao controle de doenças contagiosas, Irena e outros colaboradores reunidos por ela entravam em contato com as famílias e propunham levar as crianças para fora do gueto, a lugares seguros. Dessa forma, conseguiu retirar dali, sem autorização, mais de 2.500 crianças. Ela as recolhia em ambulâncias, como se fossem vítimas de tifo, em sacos de alimentos, cestos de lixo, caixas de ferramentas e até mesmo em casacos, a fim de não levantar suspeitas. Irena arquivou os dados pessoais

“Cada criança salva com minha ajuda é uma justificativa para minha existência na Terra.” Irena Sendler 24

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de cada resgatado: nome verdadeiro, a família a que pertencia, e a família e local aos quais era destinado. Enterrou essas informações em recipientes de vidro no jardim da casa de uma amiga. Em 1943, Irena foi presa e torturada, mas não revelou a identidade e o destino das crianças. Na prisão, encontrou uma pequena estampa de Jesus com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, o que lhe renovou as forças. Foi então condenada à morte, mas, no caminho para a execução, um soldado a deixou fugir, subornado pelo movimento de resistência Zegota. Ela prosseguiu com suas ações humanitárias até o fim da guerra. Morreu em maio de 2008, aos 98 anos de idade. O primeiro reconhecimento pelos atos de heroísmo dela ocorreu na Polônia, em 1965, quando recebeu o título de Justa entre as Nações, do Memorial Israelense do Holocausto. Em 2007, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz. “A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade”, afirmou Irena, que surpreendeu pela incansável consciência do dever humanitário de que todo esforço ainda não é o suficiente.


ndação Pro Arquivo Fu

Maria Barroso Em defesa dos

Dignitate

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Direitos Humanos

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Leonardo Mattiuzzo Leila Marco

aria de Jesus Simões família, infância, Solidariedade Barroso Soares — nassocial, dimensão feminina, saúcida em 2 de maio de de, integração de deficientes e 1925, em Fuzeta (Portugal) — prevenção da violência. licenciou-se em Ciências HistóLançou, em terras lusitanas, rico-Filosóficas pela Faculdade o debate e a reflexão acerca da de Letras de Lisboa, onde conheviolência, denunciando, então, de ceu Mário Soares, com quem forma veemente, todas as situase casou em 1949 e teve dois ções em que os Direitos Humanos filhos: Isabel e João Barroso O estadista português Mário Soares e Edson eram desprezados, defendendo e Arantes do Nascimento, Pelé, recebem das Soares. Ao terminar a faculdade, mãos do jornalista Paiva Netto a Comenda da auxiliando as causas de vítimas da na década de 1950, começou a Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica, guerra, fome, racismo, xenofobia; cursar Arte Dramática no Conser- no ParlaMundi da LBV, em Brasília (1997). das mulheres e crianças maltravatório Nacional Português, tendo tadas; preocupou-se de maneira representado, durante quatro anos, singular com o povo timorense. no Teatro Nacional. No entanto, por suas posições Das muitas instituições que fundou ou ajudou a políticas como membro da Oposição Democrática criar, se destacam a Associação para o Estudo e Preao regime de Salazar, foi impedida de atuar, sendo venção da Violência (APEV), Emergência Infantil, demitida logo após. a Fundação Pro Dignitate e a Fundação Aristides Se não bastasse isso, embora com habilidade e com- de Sousa Mendes. petência para a licenciatura, foi proibida, também, de Em 28 de julho de 1997, assumiu a presidência da exercer a profissão de professora, mesmo em escolas Cruz Vermelha portuguesa, a qual dirigiu até 2003. privadas, durante o regime. Suas atividades têm continuado no mesmo ritmo, Passados alguns anos, em 1969, candidatou-se a em âmbito nacional e internacional, e graças a este deputada pelo mesmo partido que defendera no tempo labor ininterrupto granjeou a simpatia da sociedade de juventude. Foi eleita pelos distritos de Santarém, civil portuguesa e brasileira, como protagonista huPorto e Algarve, mantendo sempre grande presença, manitária em áreas essenciais. sobretudo na vida cultural, por meio da divulgação da Sobre programas socioeducacionais mantidos pela poesia portuguesa e estrangeira. LBV de Portugal, certa vez comentou: “Conheço De 1986 a 1996, período em que Mário Soares muito bem a LBV! Aliás, quando estive no Porto, duexerceu a presidência da República Portuguesa, rante a visita do então presidente brasileiro Sarney, em dois mandatos consecutivos, ela desenvolveu tive ocasião de me inteirar melhor sobre a Legião atividades de apoio às áreas de Cultura, Educação e da Boa Vontade”. BOA VONTADE MULHER |

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Madre

O anjo

Divulgaçã

o/Editora

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a pequena cidade de Skopje, hoje capital da República da Macedônia, um belo país montanhoso nos Bálcãs, nascia em 27 de agosto de 1910 aquela que ganharia admiração não somente nos bairros miseráveis e nas ruas mais tristes da Índia milenar, mas também no mundo inteiro, tornando-se uma das grandes heroínas da Humanidade. Seu nome: Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais tarde, conhecida pelos pobres do corpo e da Alma como Madre Teresa de Calcutá, nome escolhido numa singela homenagem a outro exemplo abnegado de mulher — Teresa D’Ávila, religiosa espanhola do século 16. Aos 18 anos, surge-lhe o pensamento da consagração total a Deus na vida. Obtendo o consentimento dos pais, viajou para a Irlanda e, por indicação do sacerdote que a orientava, logo entrou, em 29 de setembro de 1928, para a ordem religiosa Casa Mãe das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, em Rathfarnham, perto de Dublin (Irlanda). A miséria material e espiritual de tanta gente tocava o seu coração. Tomou uma decisão e foi de mu-


Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

in memoriam

Teresa de Calcutá bom dos doentes Irani Maria

dança para a longínqua Índia, para viver no convento do mesmo nome, em Darjeelin. Madre Teresa, porém, sentia um desejo enorme de trabalhar nas ruas, onde entendia ser mais útil na ajuda aos necessitados. Coordenou colaboradores com os mesmos ideais, reuniu suas energias e foi à luta. Fundou, em Calcutá, um centro de atendimento para Irmãos portadores de hanseníase, demonstrando que empreenderia grandes esforços em prol dos doentes. Esse trabalho assistencial começou depois que o governo indiano doou um terreno nas redondezas de Asansol, no qual foi criada a Shanti Nagar (Cidade da Paz). Em 1948, cria a Ordem das Missionárias da Caridade, tornando-se cidadã indiana. Já com 85 anos, teve forças suficientes para criar, em Nova York, o primeiro centro para vítimas da aids. Dedicava-se também a ensinar as crianças a ler e escrever. Madre Teresa recebeu, em 1971, o Prêmio João XXIII para a Paz. Em 1979 foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. O dinheiro dessas premiações foi sempre destinado à construção de novos centros de assistência. E assim se multiplicariam suas obras de Amor e desprendimento por diversos países, nas quais mais de três mil freiras trabalhavam como Missionárias da Caridade. Nessa época, os problemas de saúde física começaram a se agravar, em consequência da sua vida de serviços árduos. Por várias vezes esteve à beira da morte. Anos mais tarde, em uma dessas ocasiões,

embora desenganada pelos médicos, voltou à labuta após ter tido a visão de um anjo que lhe informara que a tarefa ainda não havia terminado. Viveu mais dois anos, vindo a falecer em 1997, na velha Índia, onde lutou por quase toda a existência.

Homenagem

Por ocasião da inauguração do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, em Brasília/DF, Brasil, no Natal de Jesus, em 1994, Madre Teresa manifestou, por meio de bela carta, seu apoio à criação daquele Fórum, destinado a valorizar a Vida Humana e Espiritual: “Prezado sr. José de Paiva Netto, confio-lhe minhas preces por todos. Que as bênçãos de Deus estejam com vocês da Legião da Boa Vontade, e que muitas pessoas conheçam o Amor de Jesus através do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica e do TBV e mantenham viva a Boa Nova de Seu Amor no mundo, amando uns aos outros como Ele nos amou. Que Deus os abençoe”. Ainda a respeito desta grande missionária, José de Paiva Netto, dirigente da Legião da Boa Vontade, fez questão de exaltar a humildade e a dedicação dela aos mais carentes, com a inclusão da serena imagem do rosto dela no painel A Evolução da Humanidade, exposto no TBV, monumento ao lado do ParlaMundi, para que sua presença fique eter­ namente viva nos corações de Boa Vontade. BOA VONTADE MULHER |

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Maria Luiza Viotti Garra e talento na diplomacia

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UN Photo/Ev

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om admirável carreira na área de política externa — em que atua há mais de 30 anos —, a embaixadora do Brasil nas Nações Unidas Maria Luiza Ribeiro Viotti vem demonstrando as conquistas do País nos interesses comuns com as Nações Unidas, compartilhando suas boas práticas igualmente com outras nações. Nascida em Belo Horizonte/MG, em 27 de março de 1954, iniciou a carreira diplomática em 1976, quando ingressou no Ministério das Relações Exteriores para prestar serviço na área de divisão de operações de promoção comercial. Nela, pôde colaborar para a expansão das relações comerciais entre Brasil e China e com países africanos. O primeiro cargo nas Nações Unidas veio em mea­dos da década de 1980, como primeira-secretária da Missão Brasileira junto à organização. De volta ao País de origem, passou a exercer diversas funções no Ministério das Relações Exteriores. Tendo como marca a defesa das causas brasileiras no cenário internacional, Viotti novamente foi designada para trabalhar na ONU, em 1999. Nas conferências de que participa, a embaixadora tem ressaltado os compromissos sociais, econômicos e políticos do governo brasileiro para o estabelecimento de uma vida mais digna a todos os seus cidadãos. Em recente entrevis28

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ta à Rádio ONU, ela comentou os êxitos obtidos na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): “O Brasil já alcançou a primeira meta, que é a redução da fome e da pobreza. Essa conquista foi muito valorizada no exame do Brasil pelo Conselho de Direitos Humanos. Temos feito progressos também na área de saúde, de combate a doenças como HIV/Aids, tuberculose e malária, na área de combate à violência contra a mulher e do combate ao racismo”. Desde o início da carreira, a sra. Maria Luiza Viotti tem se destacado na defesa das mais variadas bandeiras para o fortalecimento, ainda maior, da política externa brasileira. Suas lutas passam pela busca de estratégias para a Paz e pelo desenvolvimento de Guiné-Bissau, bem como pelo esclarecimento dos benefícios do etanol como alternativa sustentável para a questão do uso equilibrado dos recursos energéticos. Atualmente, uma das prioridades da diplomata é trabalhar pela ampliação do número de membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU, fazendo com que o Brasil também tenha assento cativo no órgão. Por tudo isso, a sra. Viotti é peça importante na apresentação cada vez mais ampliada da riqueza natural, da cultura e das boas realizações do Brasil. [F.D.]


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Maria Quitéria in memoriam

Heroína da Independência do Brasil

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Arquivo BV

esde muito jovem, a baiana Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), conhecida como a Joana D’Arc brasileira, demonstrou habilidades para servir ao exército. A filha de Gonçalo Alves de Almeida e Joana Maria de Jesus teve a vocação reprovada pelo pai e pela segunda madrasta. Imbuída do ideal de liberdade e com a certeza de que lutaria na principal guerra da Indepen­dência do Brasil, assim considerada pelos historiadores (travada em Salvador), fugiu de casa, emprestou do cunhado a farda e o sobrenome (soldado Medeiros) e alistou-se nas forças de defesa da Bahia para lutar contra as tropas portuguesas. O disfarce não durou muito. Uma semana depois foi descoberta, contudo, manteve a posição dentro do efetivo, graças à sua coragem, habilidades como soldado e bravura em combate, que chamaram a atenção dos militares. Desse modo, prosseguiu na luta até que o conflito fosse vencido pelos brasileiros. Após a vitória, quando o exército libertador entrou na capital baiana, a heroína da Independência foi ovacionada pela população. As home-

nagens prosseguiram no Rio de Janeiro, onde ela foi recebida pelo imperador D. Pedro I, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro. Maria Quitéria aproveitou a ocasião e solicitou ao imperador uma carta para pedir o perdão do pai. Meses depois de retornar à fazenda de Serra da Agulha, ela se casou com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. A partir de então, Maria Quitéria levou uma vida muito pobre até seu falecimento, em 1853. Tempos mais tarde, em reconhecimento aos feitos da heroína da Independência, o nome de Maria Quitéria foi gravado em uma medalha militar e em comenda na Câmara Municipal de Salvador. Por determinação ministerial, a imagem dela está em todos os quartéis, estabelecimentos e repartições militares do País. Por decreto presidencial de 28 de junho de 1996, foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. [S.J.] BOA VONTADE MULHER |

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Divulgação

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Maurren Maggi Brasileira de ouro

Aneliése de Oliveira

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do Rio, em 2007, com a marca de 6,84 m. O melhor para a saltadora ainda estava por vir: a Olimpíada de Pequim, no ano passado. Ao iniciar a prova, pediu ao público o acompanhamento de palmas ritmadas e logo no primeiro salto, de uma série de seis, registrou a incrível marca de 7,04 m, garantindo a medalha de ouro. A conquista de tornar-se a melhor do mundo no salto em distância, depois de ter pensado em parar, coroou a atleta e marcou a memória dos torcedores ali presentes e de milhões de brasileiros que acompanhavam pela TV a emoção de Maurren. No lugar mais alto do pódio, segurando a medalha de ouro, dedicou a vitória à filha, Sofia. No entanto, não são apenas essas as conquistas que incrementam o currículo de Maurren. O apoio às causas sociais também faz dela uma campeã. No ano de 2007, por exemplo, participou da Campanha Natal Permanente da LBV — Jesus, o Pão Nosso de cada dia!, convidando a população a se unir pelos menos favorecidos, pessoas atendidas durante o ano pela Instituição. “Se cada um fizesse a sua parte, teríamos um Brasil e um mundo muito melhor para se viver. Eu estou fazendo a minha parte”, declarou. Arquivo BV

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paulista de São Carlos Maurren Maggi, 32, conquistou o lugar mais alto no pódio de diversas competições, o respeito das adversárias e o coração dos torcedores brasileiros. Foi a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro em esportes individuais para o atletismo do Brasil em olimpíadas. Com uma trajetória marcada pela superação, ficou conhecida em 1999, depois de estabelecer o recorde sul-americano no salto em distância, com 7,26 m, na Colômbia, e o ouro na mesma categoria nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg (Canadá). A partir daí, a atleta passou por um período difícil na carreira. Na Olimpíada de Sydney, em 2000, ficou com o 25º lugar, por causa de uma lesão durante uma prova. Três anos depois, em razão de dopping, foi suspensa do Pan-americano de Santo Domingo e, em 2004, proibida de ir à Olimpíada de Atenas. Enquanto esteve afastada, teve a filha Sofia. “Sempre cogitei a ideia de não retornar”, disse na época. Contudo, por acreditar na força transformadora do esporte em sua vida, Maurren decidiu voltar em 2006. Com eficiência e técnica, trabalhou muito e mostrou a si mesma e ao público que é possível superar situações desfavoráveis e dar a volta por cima. Recomeçou a carreira e conquistou a medalha de ouro no Pan-americano


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Shirin Ebadi

Primeira muçulmana agraciada com o Nobel da Paz

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Divulgação

amadã é considerada a mais antiga cidade persa. A sua rica cultura explica por que é ainda hoje uma das províncias mais importantes do Irã, antiga Pérsia. Foi nessa cidade milenar, que atualmente conta com cerca de meio milhão de habitantes, que nasceu, em 1947, uma grande personalidade iraniana: a jurista Shirin Ebadi, figura de destaque nos esforços pela democracia e pelos Direitos Humanos. Os traços de sua personalidade desde cedo revelaram a influência do pai: Mohammad Ali Ebadi foi um pioneiro conferencista ao tratar de direito comercial, além de autor consagrado. A família, de muçulmanos praticantes, muito cedo mudou-se para a capital, Teerã. Ebadi graduou-se em Direito em 1965 e, três anos e meio depois, entrou para o Departamento de Justiça. Em 1969, exerceu oficialmente a função de juíza, enquanto continuava os estudos para o doutorado, obtido um ano depois. Primeira mulher a ocupar o cargo de juíza no Irã, presidiu em 1975 a corte legislativa do país. Porém, teve de deixar o posto por causa da Revolução Iraniana de 1979. “Tornaram-me uma escrivã na mesma corte que um dia presidi. Todos nós protestamos. Como resultado, promoveram todas as ex-juízas para o posto de ‘experts’. Não consegui tolerar mais a situação, e eles aceitaram meu pedido de aposentadoria antecipada.”

Depois de anos confinada em casa, finalmente conseguiu sua licença para advogar novamente, em 1992. Continuou sendo perseguida: teve o escritório arrom­ bado e arquivos, documentos e computadores confiscados. Ebadi abraçou a função de defender oprimidos e, a partir daí, a história se desenrola aos olhos de todos. Fez a defesa de casos difí­ceis, que ganharam fama além das fronteiras do Irã. Famílias das vítimas de assassinatos, casos de abuso infantil e refugiados do regime contaram com sua representação legal. No período em que esteve afastada, escreveu muitos livros. Também ganhou diversos prêmios, entre eles o Nobel da Paz de 2003, o primeiro concedido a uma muçulmana, por sua luta pela igualdade de direitos para mulheres e crianças, principalmente, e por reformas políticas no Irã. A jurista, que diz ter passado a infância em uma “família cheia de bondade e amor”, identifica-se com as propostas da Legião da Boa Vontade para a construção de um mundo melhor a partir da vivência do Amor Fraterno e do respeito às diferenças. Durante evento promovido pela ONU, ao conhecer a revista Sociedade Solidária, afirmou: “Meus votos de que a LBV contribua para que o povo brasileiro possa viver em Paz, livre do medo e da intimidação que os caminhos da violência impõem”. [N.L.] BOA VONTADE MULHER |

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Tomie Ohtake

Dama das artes plásticas Jéssica Botelho

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Divulgação

arte de Tomie Ohtake ultrapassa meio século de reconhecimento e aplausos da crítica e do público, o que lhe rende hoje o título de dama das artes plásticas brasileiras. Dona de estilo ímpar, traduzido em sua capacidade de construir a obra e a vida, ela nasceu em 1913, na cidade de Kyoto (Japão). Quando criança, tomou contato com a escrita oriental, indispensável para se expressar com clareza, usando caracteres e ideogramas. Para a menina, da caligrafia ao desenho foi um passo natural. Em 1936, com 23 anos, imigrou para o Brasil e fixou-se na cidade de São Paulo. O interesse pela arte vinha desde a adolescência, mas o desejo de tornar-se artista se confirmou ao visitar uma exposição do artista plástico japonês Keisuke Sugano, em 1952, com quem, aliás, teve algumas aulas. No começo da carreira, Tomie retratava paisagens, principalmente aquelas próximas de onde morava. Pouco depois trocou a arte figurativa pela abstrata, o que marcaria seu estilo. A primeira exposição individual, em 1957, teve lugar no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM). Desde a década de 1960, quando se naturalizou brasileira, aumentou a participação de sua obra nos principais espaços de arte nacionais e internacionais. Esteve presente em cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, fez cerca de 50 32

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exposições individuais e 85 coletivas, no Brasil e no exterior. Recebeu, ainda, numerosos e significativos prêmios em quatro décadas de atividade. Em 2000, a relevância de Tomie no cenário brasileiro reafirmava-se nas obras de grandes dimensões para espaços públicos, como imensos vitrais e esculturas com até 40 metros de comprimento. Outro marcante fato de sua trajetória é a inaugura­ção, em 2001, do Instituto Tomie Ohtake. Sediado em São Paulo, tem como missão difundir, por meio de exposições, oficinas e cursos, as grandes transformações ocorridas desde os anos 1950 nas artes plásticas, na arquitetura, no design, com reflexão sobre elas, e apresentar as mais novas tendências estéticas do mundo. A fama e a carreira consagrada nunca modificaram o desafio a que Tomie Ohtake se propõe: o eterno reinventar. Essa incomum capacidade de inovação da artista permeia diferentes fases de sua pintura e composições de gravura e escultura; atualmente, expande sua produção tridimensional. Com isso, vem encantando o público até hoje.

A fama e a carreira consagrada nunca modificaram o desafio a que Tomie Ohtake se propõe: o eterno reinventar.


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Wangari Maathai Pela sustentabilidade, democracia e Paz

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árvore tornou-se no Quê­nia um símbolo da luta pela democracia, pela Paz e preservação da cultura africana. Isso graças ao trabalho de Wangari Maathai, eleita a “Mulher do Ano”, em 1983. Nascida no distrito de Nyeri dessa nação, no dia 1o de abril de 1940, transformou em realidade o que parecia utopia para o povo queniano: melhorar sua qualidade de vida. Passando a infância em contato direto com a Natureza, ao longo do tempo percebeu a destruição da diversidade biológica e a diminuição da capacidade das florestas para conservar água, por causa da má administração dos recursos e da invasão de áreas verdes por plantações comerciais, dificultando, desse modo, a sobrevivência em seu país. Formada em Ciências Biológicas pela Mount St. Scholastica College, em Kansas (EUA), e mestre pela Universidade de Pittsburgh, Wangari foi a primeira mulher do Centro-Leste da África a buscar doutoramento, obtendo o diploma de Ph.D., em 1971, pela Universidade de Nairóbi. E foi nela que lecionou Anatomia Veterinária, sendo, em 1976, chefe do departamento dessa matéria — cargo nunca antes ocupado por alguém do sexo feminino. Ainda em 1976 começou a atuar fortemente no Conselho Nacional de Mulheres do Quênia. A partir desse trabalho iniciou, em 1977, o Green Belt Movement (Movimento Cinturão Verde). As

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Josué Bertolin

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Em quase 30 anos de trabalho, Wangari Maathai e o Green Belt Movement não apenas ajudaram as mulheres de seu povo a plantar 30 milhões de árvores — que proporcionaram combustível, alimentos, abrigo, emprego e melhoria do solo e das bacias hidrográficas, reduzindo, assim, a pobreza, resolvendo problemas ambientais e atendendo às carências fundamentais das famílias —, mas também se mostraram capazes de transformar o pensamento de inferioridade arraigado na população, levantando a autoestima dos compatriotas.

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se mostraram capazes de transformar o pensamento de inferioridade arraigado na população, levantando a autoestima dos compatriotas. O Green Belt Movement zela pela herança cultural africana, por isso busca manter as tradições, respeita a biodiversidade de cada local e colabora para preservar as sementes nativas e plantas medicinais. Em 2002, membros desse movimento, organizações da sociedade civil e o povo queniano foram capazes de instituir uma transição pacífica para um governo democrático. Nesse mesmo ano, a professora Wangari foi eleita para o Parlamento com esmagadores 98% dos votos. Em seguida, nomeada ministra-assistente do Meio Ambiente, Recursos Naturais e Vida Selvagem, do 9o Parlamento do Quênia, cargo que exerceu até 2007. À militância pacífica pela recupe­ração das florestas, ela aliou a luta para pôr fim à dívida externa dos países pobres. Divulgação

mulheres, responsáveis por suprir as necessidades básicas de suas famílias, eram as primeiras a perceber os estragos ambientais, enfrentando imensas dificuldades em cumprir suas funções sociais por causa da escassez de alimentos. Ao perceber isso, a “Mulher do Mundo”, de 1989, não se intimidou diante do desafio de mudar a história dos acontecimentos, levando-a a ser, em 2004, a primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, democracia e Paz. Em quase 30 anos de trabalho, Wangari Maathai e o Green Belt Movement não apenas ajudaram as mulheres de seu povo a plantar 30 milhões de árvores — que proporcionaram combustível, alimentos, abrigo, emprego e melhoria do solo e das bacias hidrográficas, reduzindo, assim, a pobreza, resolvendo problemas ambientais e atendendo às carências fundamentais das famílias —, mas também


André Fernandes

LBV

Equação do Amor +

Educação Ecumênica Solidariedade Empoderamento da Mulher Clayton Ferreira

+

Suelí Periotto*, supervisora educacional da LBV * Suelí Periotto é conferencista, pedagoga pós-graduada em Gestão Escolar e Metodologia das Ciências Humanas e docente do Instituto de Educação José de Paiva Netto.

Suelí Periotto

S

ão em sua maioria bem jovens. Olhares simples, mas expressivos, cheios daquela luz de quem traz em si o dom da vida. O grupo está reunido para algo especial: no estúdio da Super Rede Boa Vontade de Rádio (que gentilmente cedeu o espaço), elas gravam uma música, cuja letra e melodia foram compostas por elas, durante o Curso de Gestantes do Programa Cidadão-Bebê, desenvolvido pela Legião da Boa Vontade em seu Centro Comunitário, na capital paulista. A iniciativa, que possui articulação em todo o Brasil e no exterior, destina-se à orientação e BOA VONTADE MULHER |

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Belém/PA

São Paulo/SP

LBV Arquivo BV

Joílson Nogueira

59 anos

“Você veio de repente/ Como um sol a brilhar em minha vida/ Espero o melhor para você e para o seu futuro”, cantarolam as futuras mamães. E completam: “Filho querido, que tenha muita saúde/ Quero ser uma boa mãe/ Às vezes tenho medo de ter meu bebê/ Mas que Deus me dê forças para

cuidar de você./ Sua chegada mudou para melhor/ As nossas vidas/ Sua família o espera com amor, carinho e dedicação”. A singela canção, resultado da atividade de musicoterapia, expressa bem as dificuldades vencidas e a consciência que adquiriram ao longo dos 11 encontros de que participaram na primeira jornada do programa, em que foram aprendendo temas pertinentes à gravidez e à criança, bem como ao bem-estar físico, emocional e espiritual delas. “Nós realizamos uma sensibilização sonora, de acolhimento para esses bebês que virão ao mundo. Vejam

Voluntária norte-americana (E) em atividade da LBV em São Paulo/SP

Rio de Janeiro/RJ

apoio às mulheres desde o período gestacional até o primeiro ano de vida do bebê, a fim de promover uma gravidez saudável e combater a mortalidade infantil.

Amicucci Gallo

Daniel Trevisan

A canção

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Teresina/PI

Erineu Fernandes

Domingos Tadeu/Palácio do Planalto

“Eu vejo, dentro de todas essas atividades da Legião da Boa Vontade, uma que, como jornalista, me parece a principal: a LBV debate os problemas nacionais e internacionais, tenta conscientizar o cidadão para os seus deveres. (...) Tomara que isso se multiplique.” Carlos Chagas

que, depois que os bebês nascerem, vão continuar tomando contato com esse trabalho pela música”, comenta a estagiária Juliana Alves Lima, que atuou como voluntária na iniciativa. A assistente social Iara Pereira da Silva explica: “O curso tem por finalidade fazer com que a criança encontre um lar com muito amor, compreensão, harmonia, de modo que as pessoas possam sempre receber uma nova vida com satisfação”. Ela conta que são formadas diversas turmas ao longo do ano e, na primeira fase do Cidadão-Bebê, gestantes do quarto ou quinto mês, em situação de vulnerabilidade ou risco social, fazem suas inscrições, passando a participar de palestras sobre temas como “A fecundação e o desenvolvimento do feto”; “A importância da alimentação na gravidez”; “Planejamento familiar”; “Depressão na gestação e pós-parto: como evitar”; “Dicas e cuidados com o bebê”; e “A importância da amamentação”, assuntos que são enriquecidos com a Espiritualidade Ecumênica, importante diferencial da ação.

Palestras e dinâmicas educativas

Os encontros no ambiente da LBV são iniciados com uma prece ecumênica. Em seguida, é feita a sessão de musicoterapia com a abordagem de uma das temáticas citadas acima, por meio de palestra

Jornalista, professor universitário, comentarista de rádio e TV e articulista de destacados jornais brasileiros.

ou de dinâmica. As gestantes recebem cestas de alimentos e o enxoval para o nenê. O nascimento da criança assinala o término da primeira fase. A assistente social e uma enfermeira vão até a casa da nova mamãe para ver como os dois estão passando. Nesta visita, é entregue um calendário a ela para que ingresse na segunda etapa: o “grupo de mães”, quando os assuntos tratados estarão mais relacionados ao bem-estar da criança, como evitar acidentes domésticos, cuidados com a alimentação, e trabalhar, também, a autoestima da mãe para que possa dar o melhor de si ao filho. “Fazemos um controle da vacinação da criança, por meio do cartão dela, e efetuamos a pesagem e a medição mês a mês, orientando a mãe a procurar o pediatra sempre”, complementa Iara. E os resultados são positivos, a exemplo do que conta a nova mamãe Lucimara Aparecida Costa: “Estou bastante feliz, gostei de fazer o curso, aprendi muita coisa e tudo o que aprendi aqui levo para casa”. BOA VONTADE MULHER |

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Albuquerque Conceição de

Estados Unidos

A assistente social Iara conclui: “A gente busca sempre tratar as pessoas com o máximo carinho para que se tenha no dia-a-dia a concretização dos ideais da LBV”.

Programa gera emprego e renda

Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a Instituição vem implementando projetos que visam criar cooperativas e associações para dar oportunidades de emprego em comunidades menos favorecidas. Entre as histórias de sucesso está a da Associação de Mulheres Artesãs “Sra. Sebastiana da Silva Terra”, no bairro Maria Casagrande, por onde passaram muitas mulheres de histórias diferentes, que, por meio do programa de convivência da LBV, se uniram para encontrar formas de gerar renda. A

associação prestava serviços a gráficas da região, confeccionando sacolas para lojas, caixas e outros produtos de papel cartonado. O crescimento da demanda fez com que a LBV, em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), realizasse cursos para a melhoria da qualidade de serviço e sobre procedimentos legais. A cooperativa cresceu e, após aumentar o quadro de participantes, foi aberta uma empresa em seu lugar: a AB Fomm Comércio e Confecções de Embalagens. “A nossa comunidade, num contexto geral, perdeu aquela característica de mendicante. Muitos buscaram o que tinham de buscar e cresceram, se desenvolveram. Olho todo esse trabalho e fico encantada, agradecida a Jesus, ao Irmão Paiva

“A nossa comunidade, num contexto geral, perdeu aquela característica de mendicante. Muitos buscaram o que tinham de buscar e cresceram, se desenvolveram. Olho todo esse trabalho e fico encantada, agradecida a Jesus, ao Irmão Paiva Netto e à nossa querida LBV.” Eunice Terra Atendida pela LBV

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Adelar Pereira

Arquivo BV

Um dos programas promovidos pela LBV dos Estados Unidos é o Jardim da Boa Vontade e da Paz, realizado em salas de aula de escolas públicas norte-americanas (fotos à esquerda e acima, com as revistas Globalização do Amor Fraterno e Paz para o Milênio, publicações da LBV encaminhadas à ONU). A Jovem Legionária Mariana Malaman (à esq.) é uma das voluntárias que aplicam a atividade, cujo objetivo é formar um olhar crítico e pensar maneiras de expandir a Cultura de Paz.


Goiânia/GO

Netto e à nossa querida LBV”, conta Eunice da Silva Terra, que era a coordenadora da associação e agora responde pela empresa. Hoje, a AB Fomm faz parte do mercado de trabalho e mudou a realidade de dezenas de famílias. As ações da LBV buscam criar uma consciência espiritualizada e preparada para enfrentar os grandes desafios do milênio, fundamentadas no Novo Mandamento de Jesus, o Cristo Ecumênico: “Amaivos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35). “Nós encontramos na LBV a valorização do Ser Humano e de seu Espírito eterno para que cada um tirasse de si o maior potencial e o colocasse a serviço da comunidade

e de si próprio. A LBV acreditou no nosso desejo e conseguimos chegar até aqui”, conta Eunice, emocionada.

Arquivo BV

João Preda

Uberlândia/MG

Senhora vence depressão e vontade de suicidar-se

Pedro Reis

Fotos: Arquivo BV

Eunice da Silva Terra explica que “a LBV se tornou uma ponte na qual essas mulheres trabalham, melhoram sua capacidade, sua condição espiritual e, depois, vão em busca de outras oportunidades”. Para ela, a grande contribuição oferecida pela LBV é levar o equilíbrio emocional a essa gente. “Nós tivemos o caso de uma senhora de 61 anos, que veio para cá com uma série de problemas familiares, sobrevivente de uma quarta tentativa

Porto/Portugal

Buenos Aires/Argentina

Cuiabá/MT BOA VONTADE MULHER |

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o grupo de mulheres tem criado também alternativas de geração de renda e contribuído para dar a essas batalhadoras um respaldo emocional, aju­dan­do-as no exercício pleno de sua cidadania. Lá a LBV tem uma experiência enriquecedora, em que carinho e Solidariedade são as ferramentas principais. Atividades em grupo — dinâmicas, palestras e oficinas de trabalhos manuais — e atendimentos individuais são desenvolvidos. As narrativas dessas mulheres falam por si. Laura Gonçalves, do bairro Santa Tereza, diz que aprendeu “na LBV a trabalhar com Boa Vontade”, de maneira bem natural, enquanto participa dos cursos de pintura e de pano de prato. “Além de aprender coisas que têm ajudado a sustentar minha família, me sinto bem nas atividades, como a oração que fazemos antes do encontro. Isso me ajuda, me faz ter vontade de vencer a cada dia, pois tenho dois filhos com problemas de saúde. Sempre me levanto alegre, sabendo que vou à LBV”, conclui. Arquivo BV

de suicídio. Estava muito deprimida, em situação lastimável, mas em três dias já cantarolava as músicas que ouvimos na Super Rede Boa Vontade de Rádio. Ela foi melhorando até que conseguiu uma colocação de trabalho; saiu daqui outra pessoa. E isso tem acontecido com outras pessoas com problemas financeiros, conjugais, que passando por aqui se transformam. A gente fica com saudades, mas o objetivo é servir e seguir.”

O poder da prece

Outra proposta do Centro Comunitário e Educacional é ensinar a reciclar coisas que iriam para o lixo e transformá-las em materiais que podem ser

Arquivo BV

Montevidéu/Uruguai

Arquivo BV

Arquivo BV

“Não há melhor financista do que a mãe de família, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, realizando verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunhas, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais simples.” Estas palavras do diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, em sua mensagem (página 4 desta edição), resumem bem a importância de elaborar ações voltadas para esse público crescente. Estudo do Instituto Brasileiro de Geo­grafia e Estatística (IBGE) aponta que o número de mulheres chefes de família cresceu 79% entre 1996 e 2006 no Brasil. Em Porto Alegre/RS,

Arquivo BV

Chefes de família

Belo Horizonte/MG

La Paz/Bolívia


comercializados. Maria Alcedina do Nascimento, do bairro Sarandi, em Porto Alegre, comenta esse serviço: “Há alguns anos participo do programa da LBV e aprendo. O curso de que mais gosto é o de reciclagem. Já tive muitos problemas de depressão, mas depois de vir todas as semanas aqui, eu e minha família estamos melhores, graças a Deus e às orações que nós sempre fazemos antes das aulas”.

Obra, que visam à formação de uma sociedade verdadeiramente solidária. Lá, a Pedagogia do Afeto, inovadora proposta do educador José de Paiva Netto, é também aplicada com êxito, desenvolvendo Cérebro e Coração. No universo escolar, a LBV faz um trabalho socioeducacional com as famílias, relacionado ao contexto social em que vivem. Todos os meses, as atividades reúnem os pais dos estudantes para discutir a Maria Alcedina do Nascimento Multiplicando o raio de importância da participação da Atendida pela LBV ação família na escola, a Educação Nas cidades do Rio de JaneiInfantil, a escola na comunidade, ro, São Paulo, Brasília, Curitiba e Belém, enquanto higiene bucal, educação preventiva odontológica, milhares de alunos estudam nas escolas da LBV, entre outros assuntos. suas mães se esforçam para ganhar o pão de cada Segundo a diretora da escola da LBV, Margaridia. Nesses centros educacionais, o envolvimento da Martins, os efeitos desse trabalho de extensão dos familiares é forte, multiplicando o raio de ação são muito positivos, principalmente, para as mães. da Obra. Por isso, os profissionais da área pedagógica têm No coração da região amazônica, em Belém/ levado essas temáticas também para escolas comuPA, a Escola de Educação Infantil Jesus, mantida nitárias e associações de bairros, ampliando para pela Legião da Boa Vontade, recebe diariamente milhares os bons resultados. cem alunos que vivem em situação de risco soAo desenvolver as potencialidades individuais e cial. São meninos e meninas de 3 a 6 anos, que coletivas dessas crianças, a Obra confirma o que o permanecem em período integral, num ambiente próprio povo cunhou: “A LBV nasceu para amar e permeado pelos princípios éticos e espirituais da ser amada”. (grifos nossos)

Clayton Ferreira

Manaus/AM

Olinda/PE

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Arquivo BV

“Há alguns anos participo do programa da LBV e aprendo. O curso de que mais gosto é o de reciclagem. Já tive muitos problemas de depressão, mas depois de vir todas as semanas aqui, eu e minha família estamos melhores, graças a Deus e às orações que nós sempre fazemos antes das aulas.”


Violência E s pe c i al

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contra a

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doméstica


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a pré-história, o ho- organizada têm trabalhado para eliminar esse mal mem habitava ca- com leis mais severas. Durante a Convenção Interamericana para Prevevernas, caçava para sobreviver, comunicava-se nir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, por grunhidos e gestos. So- conhecida também como a Convenção de Belém ciedade primitiva. Século do Pará, realizada pela Organização dos Estados 21: avança a globalização, Americanos (OEA), em 1994, definiu esse tipo de veículos híbridos, satélites, violência como “qualquer ato ou conduta baseada internet, reprodução huma- no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento Sandra Fernandez, na assistida... A lista do visí- físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na socióloga, Nova York/EUA vel progresso tecnológico é esfera pública como na esfera privada”. extensa e não há tempo nem espaço para listar 10% de todas as conquistas. Diferentes culturas Os dois momentos extremos da HumanidaO núcleo das relações de afeto, composto por de, descritos acima e completamente diferentes pessoas que convivem em um mesmo espaço físinas posturas e nos costumes, estão separados co, é muito complexo de ser observado. Difere por por milênios. A violência pode ser caracterizada localização (Ocidente, Oriente, Oriente Médio), como uma das mais antigas manifestações forma de governo, herança cultural (sosociais, não raro, um aspecto crescente ciedade patriarcal), religião, grau de no campo coletivo e individual, soinstrução, região (cidade/campo) e A cada bretudo com a conivência estatal outros aspectos. A propósito disso, e a influên­cia cultural. Uma das abro parênteses para explicar que 16 segundos uma formas mais recorrentes é a a nossa concepção de violência mulher é agredida pelo praticada contra o gênero fedoméstica é ocidental, isto é, parceiro e 70% dos casos minino, realidade antiga que, quando há o exercício do pomesmo com a modernidade dos der no âmbito familiar, de um de assassinato de mulheres costumes e o desenvolvimento sobre o outro, utilizando-se de têm como autores os tecnológico, tornou-se comum, agressões sistemáticas explícitas independentemente de forma de ou veladas. Assim, vale destacar cônjuges. governo, costumes religiosos, lína questão de localidade e herança gua, cultura, poder aquisitivo ou grau cultural para entendermos que muitos de instrução. hábitos geradores de violência doméstica Um estudo realizado em diversos países, reunido estão diretamente ligados a esses dois conceitos. pelas Nações Unidas, mostra que o número de cri- Não podemos esquecer que devemos procurar olhar mes praticados contra a mulher, a criança e o idoso o outro com os olhos do outro, pois o que para cerequivale ao da violência gerada por guerras. A cada tas sociedades é considerado natural para outras é 16 segundos uma mulher é agredida pelo parceiro crime, conforme os costumes locais. Por exemplo, e 70% dos casos de assassinato de mulheres têm para os tradicionalistas a figura patriarcal define o como autores os cônjuges. que é certo ou errado e a forma de punição, e todos Em 1993, na cidade de Viena, Áustria, durante os que estão sujeitos a essas regras de convivência a Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos aceitam esse processo com a naturalidade de quem Humanos, um importante passo foi dado para ajudar foi criado sob tal conjunto de valores culturais. na solução desse conflito. A agressão contra as mu- Assim, para eles determinada conduta não é crime, lheres passou a ser reconhecida como uma violação mas, ao mesmo tempo, é inadmissível para quem dos direitos. A partir daí, governo e sociedade civil tem uma maior liberdade de expressão. Isso não BOA VONTADE MULHER |

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Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Relatora da Lei Maria da Penha no Senado

Waldemir Rodrigues/Agência Senado

A senadora brasileira Lúcia Vânia é reconhecida na política por ser a primeira mulher a representar o Estado de Goiás na Câmara dos Deputados; também foi a primeira goiana a ocupar uma vaga no Senado e a presidir a Comissão de Assuntos Sociais, sendo eleita por unanimidade. Nascida na pequena Cumari, Lúcia Vânia é formada em Jornalismo. Elegeu-se por três vezes deputada federal e, para o Senado, obteve mais de um milhão de votos para exercer o cargo no período de 2003 a 2011. Atuante na área social, a senadora foi presidente da Comissão de Assuntos Sociais e está à frente da Organização das Voluntárias de Goiás, entre outras participações. Empenhou-se em diversas áreas pela valorização da mulher. A senadora foi relatora da Lei Maria da Penha na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Para ela, a iniciativa encoraja as mulheres a denunciarem casos de violência doméstica, familiar e outras, “garantindo uma rede de proteção social para aten­d ê-las”. Ela atribui a esta lei o aumento das denúncias e do indiciamento e condenação de agressores no Brasil no último ano.

violência doméstica e familiar e prevê punições mais rígidas contra o infrator com pena de reclusão. O Brasil faz parte das estatísticas que apontam que, na América Latina e no Caribe, esse tipo de crime atinge de 25% a 50% da população feminina. A decisão de criar essa lei, por parte do governo brasileiro, contribui para a ampliação do debate e estimula mudanças nos países envolvidos nessa pesquisa. A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres divulgou, em janeiro de 2009, levantamento segundo o qual o número de denúncias pelo 180 — número da central de atendimento à mulher — subiu de 204.978 de janeiro a dezembro de 2007 para 269.977 no mesmo período do ano passado, o que representa um aumento de 32%. Desses relatos registrados pela central, quatro resultaram em homicídio. Outra pesquisa, realizada pelo Ibope e pela Themis (Assessoria Jurídica de Estudos de Gênero), aponta que a maioria das denúncias é feita por mulheres que sofrem agressões diariamente. Uma parte delas (17%) informa que a agressão é semanal. Nos Estados Unidos, por dia quatro mulheres morrem em razão da violência doméstica, segundo a National Organization for Women (NOW). Tra­ta-se de crimes cometidos por cônjuge ou namorado, totalizando 1.400 assassinatos por ano, de acordo com o FBI. A organização estima que, anualmente, de 2 a 4 milhões de mulheres de todas as etnias e classes sofrem com a violência doméstica nos EUA. Desse total, 170 mil necessitam de hospitalização ou de atendimento emergencial.

Ciclos da violência significa que uma sociedade seja melhor que outra. Os conflitos existem. O que difere é o olhar, o viés utilizado para observá-los, sem esquecer que devemos nos respeitar mutuamente, porque, conforme nos ensina o jornalista e escritor Paiva Netto, somos todos Seres Humanos e Espirituais.

Lei Maria da Penha

Uma discussão ganhou evidência no cenário brasileiro: a Lei 11.340, de 2006, chamada Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir e prevenir a

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A psiquiatra norte-americana Lenore Walker ganhou notoriedade na década de 1970 com sua tese sobre os ciclos da violência doméstica, que ajudou a definir como funciona a agressão, de modo sistemático, na esfera familiar. Na maioria dos casos de violência doméstica contra a mulher, o ciclo começa pela fase da tensão, em que se acumula uma série de conflitos, repletos de insultos e ameaças. É um sofrimento que pode durar semanas, uma forma de agressão mental, emocional, como que enviando mensagens de que o pior está por vir. Em seguida, vem a fase da ação brutal,


Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Maria da Penha Uma luta justa e urgente

Regina do Nascimento e Valéria Nagy

nacional (Cejil), em 1997, o caso ganhou novo rumo. O órgão, por meio do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), levou o fato à Organização dos Estados Americanos (OEA). No ano seguinte, a Comissão de Direitos Humanos da OEA iniciou investigações sobre o caso e sobre o atendimento a mulheres vítimas da violência doméstica no Brasil. Em 2002, duas reuniões foram realizadas na OEA, resultando na prisão do agressor. Para a mulher que inspirou a criação da Lei, todo esse esforço, no entanto, não alcançará o objetivo maior se o teor dela não for conhecido pela sociedade. Por isso, defende maior participação da mídia e agradece aos que divulgam esses princípios, como fez ao tomar conhecimento do artigo “Lei Maria da Penha”, do jornalista Paiva Netto, publicado no mês de janeiro em centenas de jornais, revistas e sites do País. (Leia o texto na p. 8) “Agradeço a ele pela matéria, gostei demais. Desperta em cada mulher que tem uma vida de violência, ou que não conhece nada sobre a lei, a vontade de se inteirar sobre o assunto. Se a família é saudável, certamente conhece quem precisa desse conhecimento. Paiva Netto é uma referência; sei que a Legião da Boa Vontade é um local em que as pessoas trabalham para o Bem. (...) Acho que nossos espíritos são irmãos, no íntimo nós que trabalhamos pela questão da Paz, do bom viver da Humanidade, entendemos o que o outro faz e admiramos suas ações”, declarou.

em que toda a tensão acumulada na primeira fase se revela em descarga descontrolada. O agressor atinge a vítima com toda a sorte de maus-tratos: empurrões, socos e pontapés. Pode valer-se de objetos como garrafa, pau, ferro ou o que encontrar pela frente. Depois, inicia-se a última fase, a da lua-de-mel ou da reconciliação, uma tranquilidade doentia, em que o parceiro pede perdão e promete mudar a conduta, ou age como se nada houvesse ocorrido. No caso do

homem, mostra-se mais atento, carinhoso, presenteia a mulher, fazendo-a acreditar que o que passou não se repetirá. Porém, uma vez reconquistada a confiança da parceira, todo o processo recomeça. Segundo a dra. Walker, esse ciclo de violência pode tornar-se vicioso, estendendo-se por anos a fio, sem perspectiva de interrupção. Não raro, termina em tragédia, com uma lesão grave ou até o assassinato da mulher.

Leis & Letras/Genilson de Lima

A cearense Maria da Penha Maia Fernandes é uma das guerreiras que desenham, no Brasil, a trajetória das conquistas femininas. Biofarmacêutica aposentada, hoje atua na Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), dando exemplo de coragem e como símbolo vivo da luta contra a violência doméstica. Em agosto de 2006, foi sancionada a Lei 11.340, que leva seu nome, a qual coíbe e previne a violência doméstica e familiar contra a mulher, além de introduzir mudanças no Código Penal, no Código de Processo Penal e na Lei de Execuções Penais. “Antes muitas mulheres queriam sair da violência doméstica e não tinham mecanismos para isso. Temos o direito de viver sem violência”, afirmou Maria da Penha. O drama vivido por essa mulher ganhou notoriedade internacional em 1994 com o lançamento de Sobrevivi, posso contar, livro escrito pela própria Maria da Penha, no qual relata sua história de luta por justiça e contra a opressão que recebia do marido. Em 1983, ela sofreu duas tentativas de homicídio premeditadas por parte do seu esposo, Marco Antonio Heredia Viveros, colombiano naturalizado brasileiro, economista e professor universitário. Viveros ficou em liberdade por 19 anos, período em que o processo permaneceu suspenso em razão de recursos da defesa. Quando o livro de Maria da Penha chegou às mãos de um membro do Centro pela Justiça e pelo Direito Inter-

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Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Photos.com

res entronizam a máxima “ruim com ele, pior sem ele”. Como pagar o aluguel? Como educar sozinha os filhos? São questionamentos difíceis de responder e de julgar. Acima de qualquer outro sentimento, há a legítima preocupação com os filhos, o que a faz perpetuar essa turbulência de conflitos. Pela análise dos números da violência doméstica contra a mulher, é possível observar que essa prática não vê cor, etnia ou classe social. Está presente em todos os Entre os segmentos sociais, na casa do pesquisadores existe o rico, do professor, do médico, consenso segundo o qual a do executivo etc., desmistifimulher tem muita dificuldade em cando assim a ideia de que apenas o pobre embriagado reconhecer a existência de ciclos é violento.

de violência em sua vida na esfera doméstica e resiste a admitir Luz no fim do túnel Diante do desafio de tratar que “o seu príncipe virou de tema tão delicado e urgente, sapo”. percebi que não há outra saída senão

Entre os pesquisadores existe o consenso segundo o qual a mulher tem muita dificuldade em reconhecer a existência de ciclos de violência em sua vida na esfera doméstica e resiste a admitir que “o seu príncipe virou sapo”. Pode parecer irônico, mas o inverso do descrito na fábula infantil ilustra bem quão difícil é o rompimento do imaginário, isto é, admitir que fez escolhas erradas e assistir a um profundo e belo sentimento reduzir-se a ofensas e dor. Muitas mulhe46

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despertar todos para a consciência de uma cidadania plena. Um caminho apontado pela Legião da Boa Vontade é a valorização da mulher por meio de campanhas e programas de inclusão, promovendo “Educação e Cultura com Espiritualidade, para que haja Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, na formação do Cidadão Ecumênico”, lema este da Instituição que sinaliza um novo horizonte. Uma pessoa instruída com base no conceito de cidadania plena não aceitará formas de convivência que excluam a harmonia, o entendimento e a facilitação do diálogo. É necessário e urgente todo esforço da sociedade para abolir e erradicar do cotidiano qualquer tipo de violência. No caso em que a vítima é a mulher, os esforços são mais urgentes, pois ela é um agente educador de gerações, que atua diretamente na manutenção da ordem social. No seu livro Em Pauta, p. 58, Paiva Netto ressalta: “O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão do seu apoio. Ora, a Mulher, bafejada


Fotos: Arquivo BV

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Relatora da Lei Maria da Penha na Câmara dos Deputados Divulgação

Nascida em Curitiba/PR, Jandira Feghali é médica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atual secretária de Cultura do Rio de Janeiro/ RJ, ela ingressou na política em 1981, à frente da Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói/RJ e, posteriormente, elegeu-se deputada estadual e federal. Em sua carreira, presidiu a Comissão Especial do Ano da Mulher na Câmara dos Deputados. Foi relatora da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. Feghali comemorou a iniciativa ao dizer que o Brasil “foi o primeiro governo Contra a violência que, de fato, concretizou medidas doméstica, um caminho em defesa das mulheres e que colocou em prática uma políapontado pela Legião da Boa Vontade tica de gênero clamada há é a valorização da mulher por meio tantos anos”. de campanhas e programas de inclusão, Certa vez, enquanpromovendo “Educação e Cultura com to discursava em uma audiên­c ia pública na Espiritualidade, para que haja Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, na Assembleia Legislativa do Rio, uma mulher se formação do Cidadão Ecumênico”, lema pronunciou: “Sou esposa este da Instituição que sinaliza um de um traficante. Se eu o pelo Sopro Divino, é a Alma de novo horizonte. denunciar significa uma delatudo, é a Alma da Humanidade, é a ção, e serei assassinada quando boa raiz, a base das civilizações, a deretornar”. Isso a fez perceber outra fesa da existência humana. Qual mãe deseja realidade. “Casos concretos como esse ver seu filho morto na guerra? Ai de nós, os homens, nos permitiram perceber o tamanho, a abrangência, a se não fossem as mulheres esclarecidas, inspiradas, complexidade do tema, que exigia de nós respostas iluminadas!”. abrangentes, complexas e amplas para que fosse Repararam que o autor concede à célula-mãe elaborada esta lei”, completa. família o status de organização? Na família está o Por sua atuação como parlamentar, recebeu medainício da cadeia dos laços que tecem a sociedade. lhas e condecorações, entre elas a Medalha Tiradentes, Um lar violento provoca anomalias. Devemos penda Assembleia Legislativa do Rio.

sar nisso. Eis o desafio.

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Consciência para a Paz Para especialista em Direito de Família, a violência no lar é a “maior chaga da sociedade”.

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modo, um tipo de violência. E faz um apelo: “Não se deixem bater, denunciem. Há que se tomar consciência disso; (...) a cada 15 segundos uma mulher é vítima da violência doméstica”. Entre as atitudes, esclarece a especialista em Direito de Família, “a lei determinou que se tomassem 42 providências, tanto governamentais como não-go­ver­ namentais, nas esferas federal, estadual e municipal. Agora, a mulher registra a ocorrência e, em 48 horas, a delegacia encaminha o caso para o juiz especializado”. Ela explica, ainda, que com a criação dessas instâncias não apenas se determina a prisão do agressor, mas também que haja o acompanhamento psicológico, tendo em vista a sua reabilitação. A dra. Berenice ressalta a importância de casar as ações punitivas da Lei com políticas que previnam situações de agressão no lar. Inspirada pela premissa da LBV de valorizar o Ser Humano e seu Espírito eterno para que se diminuam os altos índices de violência moral e física, a advogada afirma: “As pessoas estão perdendo o seu referencial porque não existe uma política ética e uma sociedade comprometida com a Educação. (...) Se não fossem os segmentos atentos a essas questões, com Solidariedade e comprometimento social, como faz a Legião da Boa Vontade, certamente estaríamos em situação muito mais difícil”. Ao término da entrevista, a dra. Berenice autografou um exemplar da obra A Lei Maria da Penha na Justiça para o dirigente da LBV, com esta mensagem: “Caríssimo mestre Paiva Netto, obrigada pelo teu belo exemplo de solidariedade. Um abraço!”. [N.L.]

Charles Viana

Autora de A Lei Maria da Penha na Justiça, livro no qual aborda a efetividade da Lei 11.340/2006, a dra. Maria Berenice Dias se tornou uma das autoridades brasileiras mais atuantes na luta contra a violência doméstica. A advogada, que foi a primeira desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, conta à BOA VONTADE o que mudou desde a implementação da lei. Ocupando hoje a vice-presidência nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam), a dra. Berenice afirma que, apesar da violência, muitas mulheres vítimas de maus-tratos apostam na relação de afeto e acreditam na mudança de conduta do parceiro e na manutenção da estrutura familiar, mesmo que isso signifique “pagar um preço muito alto com sua integridade física e psíquica”. Além deste agravante, diversos estudos apontam problemas de aprendizagem por parte de crianças e adolescentes acostumados a presenciar cenas de agressão no lar; por consequência, repetem mais de ano e podem abandonar a escola cedo, além de apresentarem maior tendência a repetir, na vida adulta, o mal exemplo no lar. “Eles reproduzem um modelo que vivenciam em casa. Terão problemas no colégio, comportamentais, envolvimento com drogas e até tentativas de suicídio”, adverte a dra. Berenice. A advogada diz não concordar com a postura de algumas mães que preferem não denunciar o agressor, no caso, o marido, por se achar “presa” a ele, pai de seus filhos. Para a dra. Berenice, permitir que eles vivam em um ambiente hostil também é, de certo

Dra. Maria Berenice Dias com a edição no 223 da revista BOA VONTADE


Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Por uma sociedade

fraterna

Senadora fala da organização feminina para a igualdade de gêneros e pela Paz

P

ara a parlamentar Serys Slhessarenko, é preciso o entendimento de que, apesar de a igualdade entre homens e mulheres estar determinada na Constituição brasileira e em leis internacionais, ela “não será dada de presente, tem de ser conquistada”. A opinião é fruto da experiência de quem não encontrou caminhos fáceis até chegar ao atual cargo de segunda vice-presidente do Senado Federal. Eleita no dia 3 de fevereiro, a senadora se tornou a primeira mulher a representar o Estado do Mato Grosso em tão elevado posto. Serys ressalta a contribuição da organização feminina no Congresso Nacional nesse sentido e cita projetos votados pelo Senado e pela Câmara, a exemplo da Lei Maria da Penha. E explica o motivo do empenho: “Costumo dizer que parece que a única coisa democrática no Planeta é a violência contra a mulher. Porque ocorre em países desenvol-

Leila Marco

vidos e pobres, com quem é da classe alta, média ou da camada popular; todas sofrem”. À frente do Conselho Nacional da Mulher Cidadã no Senado, ela tem trabalhado pelo fim da discriminação e da violência contra o gênero feminino. Segundo a senadora, nesses dois anos em que a Lei Maria da Penha está em vigor, evitou-se o que era comum anteriormente, ou seja, o agressor pagar pelos maus-tratos com penas alternativas: “Agora é crime mesmo! Sujeito até a prisão”. Além disso, ela lembra que em alguns Estados diminuiu pela metade a reincidência desse tipo de violência. “Isso porque é costumeiro a mulher, dentro desse processo, estar sujeita a sofrer a segunda, a terceira agressão”, comenta. Mesmo com esses progressos, a parlamentar lamenta que ainda não haja o número necessário de abrigos, delegacias e juizados especializados em todo o

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Biografia — Formada em Direito e Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Serys Slhessarenko é mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e possui curso de Método e Técnicas de Pesquisas em Ciências Sociais pela Fundação Getulio Vargas/RJ. Embora tenha nascido em Cruz Alta/RS, foi em Cuiabá/MT que construiu a vida profissional e familiar. Mudou-se para a capital mato-grossense em 1966, ano em que se casou. Lá criou os quatro filhos e quatro netos. Vinte e quatro anos depois, elegeu-se pela primeira vez deputada estadual no Mato Grosso, tendo sido reeleita por duas vezes consecutivas para o mesmo cargo. Em 2002, começa a participação como senadora, atuando fortemente em questões ambientais e na melhoria da qualidade de vida das mulheres. BOA VONTADE MULHER |

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Mulher respeitada e agente de mudança A senadora Serys Slhessarenko, que há muito acompanha o trabalho da LBV e de seu dirigente, comentou a repercussão do artigo do jornalista Paiva Netto “A Mulher no conSerto* das nações”, encaminhado por ocasião da 51ª Sessão do Status da Mulher, ocorrida de 26 de fevereiro a 9 de março de 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York/EUA. O documento foi tão bem recebido pelos participantes da reunião que a ONU traduziu o trabalho para os seis idiomas oficiais do órgão. Nele o autor faz uma homenagem à Alma feminina, ressaltando o papel essencial das mulheres para a sobrevivência dos povos. Ao recordar o texto, disse: “Eu diria que a sensibilidade do professor, do educador — porque é um educador maior — Paiva Netto é relevante, pois é uma pessoa de conhecimento internacional, extremamente respeitada, por conseguinte, com credibilidade para falar de muitos assuntos. E esse da mulher, a forma como se posiciona, a visão que tem dessa questão, que ela precisa participar do conserto com ‘s’, no sentido de consertar o mundo, a sociedade, em nível mundial, é muito importante”. Para a parlamentar, é preciso que o texto seja ainda mais divulgado; e explica: “A postura dele é de grande valor para o Planeta. Que continue escrevendo mais artigos, demonstrando essa sensibilidade para o mundo, por meio de órgãos como a ONU, o próprio Congresso Nacional, para divulgarmos esse material, repercutir no plenário, nos nossos Estados. É de pessoas com a credibilidade dele que precisamos para a mudança de mentalidade, para que as pessoas acreditem realmente naquilo que está sendo dito, porque precisamos construir a Paz”. * Conserto e concerto — Na língua portuguesa, em linhas gerais, “conCerto” significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia, enquanto “conSerto” quer dizer reforma, reparo, restauro. 50

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País. No entanto, afirma que existe uma quantidade razoável deles nas cidades maiores, onde “a Justiça dá um bom apoio à questão”. Houve mudanças em termos da lei, o que impede agora, por exemplo, que a mulher retire a denúncia feita. “Se uma mulher chegar ao pronto-socorro machucada, o médico é obrigado também a informar como isso aconteceu e encaminhar o registro para a delegacia”, explica.

Não esconder a violência sofrida

Para a senadora, é bom ter cautela, mas não medo de denunciar, pois muitas vidas seriam poupadas se, na primeira ameaça, fosse levado o fato às autoridades competentes. “Você tem de buscar ajuda também na família, levar alguém junto para que se inteire. É o tipo de coisa que não pode ser escondida, pois, se o fizer, estará fadada a sofrer a segunda, a terceira, a quarta, sei lá quantas violências”, argumenta. Serys também não acredita na validade do dito popular: “Em briga de marido e mulher, ninguém deve meter a colher”. Ela entende que as autoridades, principalmente, precisam se inteirar do assunto e tomar providências para coibir tal atitude. “Quantos vizinhos poderiam ter salvado vidas de mulheres que estavam gritando, pedindo socorro. ‘Ah, mas eu não vou.’ E, quando silenciam, às vezes é tarde, ela está muito ferida, machucada, ou até foi assassinada. Uma pancada bem forte na porta, chamar a polícia, faz parar rapidinho. Temos de ter esse sentimento de Solidariedade, de generosidade, deixar de lado essa história de que não temos nada com isso; temos tudo com a construção da Paz”, defende. Segundo ela, certamente a pior violência é aquela que ocorre dentro da casa, sendo mais prejudicial do que a discriminação no trabalho, no meio social, porque está escondida na aparente relação afetiva de um lar. “Porque lá estão nossos filhos e filhas, nossos menininhos, que crescem vendo o pai, o padrasto, alguém que mora no local agredir e acham que é normal. Poderão fazer o mesmo com a namorada, a esposa, a irmã, até com a própria mãe, porque pensam que a mulher é um objeto, uma coisa que não merece respeito. (...) A gente só quer a igualdade, homens e mulheres construindo a sociedade com Fraternidade, sabendo que todas nós somos gente, temos os mesmos sentimentos, desejos, sonhos, direitos, absolutamente iguais”, declarou.


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