Edição 19 do Brasil de Fato Bahia

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BRASIL | 8

ENTREVISTA | 09

APUB

ECONOMIA

Bahia

Coordenadora geral da ADUNEB repercute a aprovação reforma da previdência na Bahia e quais impactos para os servidores?

ADUNEB

Com Bolsonaro, informalidade atinge maior número dos últimos 4 anos

Ronalda Barreto

Salvador, fevereiro de 2020 ano 3 edição 19 distribuição gratuita

entre o sagrado e o profano, povo baiano mostra devoção e a alegria de viver

BAHIA | 05

SUCATEAMENTO Universidades Públicas (ainda) pedem socorro

CULTURA | 11

CULINÁRIA

Dendezeiro é símbolo de religiosidade e marca a comida baiana

Arquivos pessoais

Jamile Araújo

FEVEREIRO:

ESPORTES |15

BEM-ESTAR

Prática de atividades melhora saúde global dos idosos


Salvador, fevereiro de 2020

OPINIÃO | 2

Brasil de Fato BA

EDITORIAL

Alegria e rebeldia combinam com o carnaval

EXPRESSÃO. A festa mais popular do Brasil leva para as ruas nossos anseios e utopias

O

Favela, pega a visão não tem futuro sem partilha nem messias de arma na mão favela, pega a visão eu faço fé na minha gente que é semente do seu chão” (CARNAVAL 2020 - A VERDADE VOS FARÁ LIVRE. Compositores: Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo Intérprete: Marquinho Art Samba)

carnaval é sem dúvida a festa mais popular do Brasil. Todos os anos milhões de brasileiros vão às ruas e sambódromos, becos e avenidas, atrás do trio elétrico ou nos seus bloquinhos para celebrar a alegria e extravasar as dificuldades. Curtição entre amigos, a criatividade de fantasias e muito samba no pé combinam com o carnaval. Mas não só isso: carnaval é também o momento em que o povo brasileiro pode e deve fazer a denúncia sobre as difíceis condições econômicas e sociais que vivemos atualmente. Afinal de contas, certamente a festa desse ano seria mais feliz se não tivéssemos tantos trabalhadores desempregados, uma reforma da previdência que retira nossos direitos, um projeto de venda de empresas nacionais e entrega de nossas riquezas ao estrangeiro, além de um

presidente que só faz e fala besteira diariamente. Algumas escolas de samba do Rio estão fazendo de seus sambas-enredos verdadeiros atos de protesto. Quem não se lembra do histórico desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, que entrou no sambódromo com um ousado carro alegórico que estampava o ex-presidente Temer com uma cara de vampiro, ou da Mangueira, campeã do ano passado, que fez severas críticas ao prefeito Crivella e estampou o rosto de Marielle Franco em um bandeirão. O MST possui duas experiências muito legais que reúnem alegria e rebeldia no carnaval: o “bloco do MST”, que completa 10 anos em Olinda, e a escola de Samba “Unidos da Lona Preta” que neste ano vai para o seu 15º desfile em São Paulo. Através dessas intervenções carnavalescas, o MST politiza a festa sem perder a

Expediente Brasil de Fato BA O jornal Brasil de Fato circula periodicamente com edições regionais na Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mensalmente visibilizamos as vozes, as lutas e o cotidiano do povo baiano. Contra o monopólio da comunicação, na disputa das idéias e na construção de uma comunicação popular. Conselho Editorial: Áttila Barbosa, Ivo Saraiva, Edmilson Barbosa, Gabriel Oliveira, Allan Lusttosa, José Carlos Zanetti, João Carlos Salles, Vitor Alcantara, Emiliano José, Luciene Fernandes, Elen Rebeca, Moisés Borges, Leomarcio Silva, Leila Santana, Sebastião Lopes, Beniezio Eduardo, Allan Yukio, Amanda Cunha, Lucivaldina Brito, Marival Guedes. Redação: Carolina Guimarães, Bete Dantas, Danielle da Gama, Hugo Dantas, Jamile Araújo, Lorena Carneiro. Edição: Elen Carvalho (0005818/BA) Diagramação: Diva Braga Coordenação da distribuição: Thais Conceição Tiragem: 30.000 exemplares Escreva para nós: redacaobahia@brasildefato.com.br Rede Social: facebook.com/brasildefatobahia

ca profunda dos tempos da colonização. Em Salvador, tradicionalmente na segunda-feira de carO Ilê Ayê e o naval, partidos políticos de esquerda, movimenMalê Debalê tos populares e organizações de defesa dos dicontribuem reitos humanos desfilam com uma com seus cartazes e palavras de ordem na Mudanestética ça do Garcia. Por isso, carnaval comque resgata bina sim com rebeldia. a cultura Junte seus amigos, proponha na associação de dos povos moradores, arranje uma africanos caixa de som e coloque o bloco na rua para proempolgação dos foliões. testar e reivindicar aquiO tema em Olinda do ano lo que está faltando no passado foi “Lula Livre, seu bairro. E lembre-se: Chávez Vive”. jamais devemos nos esNa Bahia, os blocos afro quecer que carnaval não como o Ilê Ayê e o Malê combina com intolerânDebalê, contribuem com cia, racismo, machismo e uma estética que resgata qualquer tipo de precona cultura dos povos africa- ceito. Todo mundo tem nos que foram escraviza- direito de viver e ser feliz dos no Brasil, bem como na folia. E um recado escom o protesto contra pecial para os homens: o preconceito racial, re- NÃO É NÃO e ponto final. ligioso e de classes que segue sendo uma marCharge


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Salvador, fevereiro de 2020

GERAL l 3

FRASE do mês

mandou

BEM

As pessoas não estão alheias ao que a gente está vivendo no país. O Carnaval vive dentro de uma sociedade que está explodindo de contradições, de tensões. Se posicionar não é uma opção, é necessidade”.

midia ninja

BDF

Manu da Cuíca, uma das compositoras do novo samba-enredo da Mangueira

O que você acha que pode melhorar no Carnaval baiano?

O

Carnaval se tornou um espetáculo da mídia manipulado pelas grandes empresas de marketing para promover marcas, camarotes e grande artistas. Está, a cada ano, perdendo mais a sua essência. O Carnaval da Bahia deveria ter menos gastos com os grandes artistas já renomados e investir no resgate das bandinhas de rua nos bairros no interior, trazendo assim a cultura e a diversidade pra todo o estado.

Gordas sim, e com orgulho! movimento “Vai ter Gorda” realiO zou ato na Praia da Barra, em Salvador, no dia 12 de janeiro em come-

moração aos seus quatro anos de resistência. A ação envolveu mulheres de 6 cidades da Bahia e também aconteceu no Rio de Janeiro. As mulheres do movimento defendem não apenas o empoderamento do seu corpo, como também acesso ao trabalho, mobilidade e saúde dignas.

mandou

cho que o CarA naval deveria ter mais atrações populares,

mais representatividade, coisa que teve há um tempo atrás e que, atualmente, está se extinguindo. Não gosto de carnaval baiano, muito menos micareta. O que eu adoro, gosto mesmo, é Escola de Samba. Esse sim é meu carnaval.

MAL

arquivo pessoal

Nadson da Ilha, estudante

Hebert Santos, músico e tatuador

Nota

SERVIÇ0S

Trabalhadores da Petrobrás dão início à greve nacional esde o dia 01 de fevereiro, milhares de petroleiros D em todo o Brasil deram início à greve nacional dos trabalhadores da Petrobrás. A mobilização tem por obje-

tivo lutar contra a política de desmonte e privatização da empresa promovida pelo governo Bolsonaro, que tem levado ao fechamento de unidades de produção, demissão em massa de trabalhadores, perda de direitos e aumento do preço da gasolina, gás de cozinha e diesel. Cerca de 11 estados já estão mobilizados, e na Bahia, a greve se estende na Refinaria Landulpho Alves - RLAM, no Terminal Madre de Deus e nos campos de produção.

Racismo no metrô andra Weydee, mãe de gêmeas de S três anos, denunciou nas redes sociais o crime de racismo cometido por

um segurança do metrô de Salvador contra suas filhas. Ela relata que o homem chamou as crianças de “bucha 1 e bucha 2”, em referência à palha de aço usada como material de limpeza. O crime aconteceu na estação Rodoviária no fim de janeiro. A mãe pretende oficializar a denúncia na Delegacia especializada.


4 I CIDADES

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Salvador,fevereiro de 2020

Jamile Araújo

Milhares de pessoas homenageiam Yemanjá em Salvador Odò Yá. A tradição do presente remonta o século 20 e se mantém e renova a cada ano Jamile Araújo

O início do dia 2 é marcado pela alvorada de fogos às cinco horas da manhã.

E

m Salvador, “cidade que todo mundo é D’Oxum” como canta Gerônimo, no dia dois de fevereiro, milhares de pessoas de branco, saudaram ‘Yemonjá’, a mãe cujos filhos são peixes, a Rainha do Mar. A festa de Yemanjá, reconhecida este ano como Patrimônio Cultural da cidade de Salvador, é uma das festas populares que representam a fé do povo baiano. É a única festa do nosso calendário que homenageia um orixá, já que as demais envolvem elementos sincréticos, que mesclam o dia de homenagens a santos católicos associados aos orixás das religiões de matriz africana. Organizada pela Colônia de Pescadores, a tradição do presente para Yemanjá remonta o século 20, e se mantém e renova a cada ano. Inicia com a alvorada às cinco horas da manhã, mas o bairro do Rio Vermelho já está lotado desde a noite anterior. Bem cedo, forma-se uma enorme para

É a única festa do nosso calendário que homenageia um orixá quem quer colocar o presente para que os pescadores coloquem no mar no cortejo oficial, que sai na tarde deste dia. O branco das vestes, as flores, outros presentes, a emoção, pessoas de todas as idades, credos, bairros, cidades, estados, tons de pele e textura de cabelo: todas para saudar Odò Yá (Mãe das Águas), a que cuida de nosso Ori (cabeça). Stella Maris, cantora e proprietária do Espaço Cultural Casa da Mãe, que fica em frente a Colô-

nia de Pescadores e a Casa de Yemanjá, no Rio Vermelho, explica que a Casa da Mãe vai fazer 14 anos e é por ser filha da Rainha do Mar que o espaço tem esse nome, em homenagem ao Orixá. “Sou artista do cenário independente e abri a casa exatamente para estar movimentando a cena. Estar aqui no Rio Vermelho, achar essa casa aqui, foi um presente dela também. Estou participando todos os anos. A gente tem que saber o que colocar no mar. Eu peço que as pessoas tragam as coisas, faço o balaio, com coisas que são do fundamento como grãos, e por cima são flores e coisas que são biodegradáveis. Não vai perfume e nem espelho. A intenção é a fé dos pedidos, mas nada que prejudique o mar. Essa é uma campanha que a gente já faz há muitos anos”, afirma. A artista acredita que a festa é a mais linda e que mais representa a cultura baiana. “Porque tem muitas lavagens aqui, mas essa festa traz essa par-

te da fé que eu acho que as outras festas não tem. Tem uma fila que forma desde o dia primeiro aqui na frente para poder levar o presente, para os pescadores levarem para o mar. E eu não vejo isso em nenhuma outra festa na Bahia e em lugar nenhum. Ela é a que tem a maior representatividade da fé. Vários terreiros estão aqui durante o dia, várias comunidades. Fora as pessoas que têm fé e não são do candomblé, mas trazem uma rosa e pegam a fila de horas para botar o presente. É muito emocionante estar aqui todo ano e presenciar isso, ter essa vista privilegiada, é minha fé, minha devoção” conclui. Joana Astro, estudante de Gastronomia e natural de Alagoinhas, foi para o “presente” de Yemanjá pela primeira vez, apesar de morar em Salvador há sete anos. Gostou muito de participar da festa e diz que pretende estar novamente. “Foi uma experiência linda, na qual pude me perceber transbor-

Essa doce Mãe, que zela por todos os Orí, é a força que dá sentido à minha vida dando alegria ao ver uma grande quantidade de pessoas na beira do mar, na madrugada de um domingo, para saudar e homenagear um orixá publicamente, vestindo branco, portando suas guias, realizando suas orações sem medo de julgamentos. Essa doce Mãe, que zela por todos os Orí, é a força que dá sentido à minha vida, é a água que me acalma e a imensidão que me protege”, finaliza Joana.


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BAHIA | 5

Baianas contam como vão para a avenida carnavalizar FESTIVIDADES. Sem faltar o principal ingrediente “a alegria”, elas curtem de maneiras diferentes o carnaval Arquivo pessoal

“É carnaval / É hora de sambar /Peço licença ao sofrimento / Depois eu volto pro meu lugar / Dona tristeza, dê passagem à alegria / Nem que seja por um dia” (Depois eu Volto Batatinha)

Dicas para curtir a pipoca

Jamile Araújo

edindo licença ao P sofrimento e às desigualdades, como nas

palavras de Oscar da Penha [Batatinha], mas sempre resistindo e lutando, dando passagem à alegria que lhe é peculiar, é que o povo baiano faz contagem regressiva e dá as boas vindas à maior festa popular de rua do mundo, o carnaval. São muitas formas de curtir, seja para quem sai em blocos afro, quem curte a pipoca, quem acompanha as prévias e depois vai para um lugar tranquilo, quem prefere os circuitos alternativos, como o Batatinha no Pelourinho, ou ainda quem aproveite o período para “tirar” um dinheiro extra. Conversamos com três baianas que curtem o carnaval e toparam falar sobre suas experiências, confira.

de carnaval e tem condições físicas de brincas na pipoca consegue sentir a diferença. Por exemplo, quando a gente paga um bloco e sai no início do circuito dele e, na maioria das vezes, a gente encerra com ele. Nisso aí a gente gasta em torno de 10 horas. São 10 horas que você só vê e só escuta aquilo. Então brincar na pipoca me permite descer num bloco de pagode, depois pego um bloco afro, depois um bloco de samba e assim eu vou fazendo o meu carnaval”.

Dandara Matos, é soteropolitana e Curte o carnaval na pipoca.

isso crescer no seio dos meus tios, dos amigos, dos parentes e agregados. O Ilê Aiyê e o Olodum que tem uma relação muito forte; os blocos afros como MuzenComo tudo za e Malê. Então essa recomeçou lação com o carnaval de “Minha família é car- Salvador vem de dentro navalesca. Eu cres- de casa, uma família exci com a minha mãe se tremamente carnavapreparando para o Car- lesca”. naval e meu pai tamAs primeiras bém. Meu pai sai no Ilê vezes que e minha mãe sai no Olodum. Essa relação com curtiu a festa o carnaval vem com os meus tios que saem “Eu lembro de com 12 em blocos de samba. anos eu acho que foi a Na verdade, eu sou de primeira vez que eu saí uma família preta so- na rua, num carnaval, teropolitana que curte no bloco Alvorada. É o um carnaval preto so- bloco mais antigo que teropolitano. Então es- samba, que sai na sextou acostumada a curtir ta-feira. É um bloco de esse carnaval que são os samba muito antigo, dias de samba na quinta tradicional, que só sai e na sexta, por ter visto meia noite. Meus tios to-

dos saiam nesse bloco. Nesse carnaval, foi 2002 ou foi 2003, sobrou uma camisa e aí a minha tia decidiu me levar. É marcante para mim, porque é um bloco de samba de preceito. Então a gente saia meia noite, depois de todos os serviços religiosos serem feitos, tocava um hino, fogos, pra gente começar sair na avenida. Hoje não mais, mas quando eu saia e há muito tempo, nenhum bloco saia antes do Alvorada na sexta-feira”.

O que a Pipoca tem? “Fazendo uma discussão social e ideológica entre a pipoca e o bloco, eu te diria que a maior diferença entre ela e os camarotes e blocos é a liberdade. Quem gosta

“Para o soteropolitano indico começar com um ponto fixo (eu quando comecei ficava na passarela do Campo Grande), nesse ponto você pode curtir tudo que passa por você, sem a necessidade de grandes movimentações. Quando a pessoa se sentir segura e confortável com a folia, é só começar ir atrás das atrações que mais gosta (eu comecei saindo do Campo Grande à Casa de Itália, hoje já subo e desço a Avenida Sete e Carlos Gomes). O importante é nunca extrapolar seu limite (eu não desço atrás de pipocas com índices de grandes apertos). Para o turista indico um soteropolitano, é sempre bom ter um te acompanhando nesse processo (não significa que ele não consiga sozinho)”.


Arquivo pessoal

“Esse brilho negro,

é brilho da paz, é o brilho do amor, é a força do Ilê Aiyê”

“Teve um ano (não me lembro bem a data) que no primeiro dia do bloco na Avenida estava chovendo muito!!! Tinha poças enormes de água e para quem não sabe a maioria das roupas dos blocos afros pesam muito quando molhadas. Estava com minha irmã, Jamile Barreto, toda encharcada e prometemos uma a outra que ficaríamos só para ouvir a primeira música. Resumo da história: acabamos curtindo o percurso todo, com as sandálias quebradas e foi um dos anos que mais nos divertimos”.

Jéssica Barreto, mora em Salvador, é Empresária e sai no Bloco Ilê Aiyê. Quem é que sobe a ladeira do Curuzu? Infelizmente só tive o primeiro contato com o Ilê Aiyê com 14 anos. Queria ter conhecido antes. Foi amor à primeira vista! (Risos) Cheguei na Senzala do Barro Preto e fiquei deslumbrada com tanta beleza, estilo e muita representatividade.

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vez que vou aos ensaios ou ouço as músicas do Ilê. As letras, muito bem feitas, contam minha história! Me emocionam de verdade”.

A coisa mais linda de se ver: é o Ilê Aiyê

“Ansiedade me define! Fico contando os dias para saída do Ilê. Sou Ilê o ano todo! Tento sempre estar presente aos ensaios, divulgo, indico e procuro uma forma de ajudar, dentro das minhas possibilidades, porque imagino o quanto seja difícil manA paixão ter de pé um bloco volpelo mais belo tado para cultura africana principalmente nos dos belos tempos atuais. Até por“Bom, quero come- que meu trabalho é volçar falando que está fora tado para nossa cultude cogitação me diver- ra. Tenho uma loja e satir carnaval sem o bloco lão afro e sei as barreiafro. Sou motivada pela ras que enfrento diariaenergia que sinto toda mente”.

Gabriela Alvarez, autônoma, moradora do bairro de São Caetano em Salvador, já curtiu muitos carnavais, mas hoje curte as festas que antecedem o carnaval, chamadas de “prévias”, e depois vai para um local mais sossegado.

Aproveitar as prévias e não ficar na festa nos dias de Carnaval Gosto das prévias por me lembrar mais um carnaval democrático, sem blocos e pessoas livres para se fantasiar e pular sem divisões por cordas.

no da noite. Sinto falta de pular carnaval durante o dia. Mas a alegria do povo baiano não muda”.

“Já é carnaval cidade, acorda pra ver” [Gerônimo]

Nem sempre foi assim Comecei a deixar de querer estar em salvador nos dias de carnaval, curtir as prévias e depois viajar. E agora tenho um filho, então procuro sempre unir lazer para mim e para ele.

Diferença e semelhança nas prévias e nas festas dos dias oficiais “Acho que nas prévias os horários [de saída dos trios] são mais cedo, nos dias oficiais se concentra no tur-

Dicas para o carnaval I - Mantenha-se hidratada/o - beba muita água, seu corpo precisará, ainda mais se consumir bebidas alcoólicas II - Se alimente bem III - Intercale a folia

com períodos de descanso, dormir é importante.

IV - Não economize no protetor solar, afinal ninguém quer pegar uma insolação em pleno carnaval V - Use preservativo, não vacile. Há distribuição gratuita nos postos. VI - Use roupas leves e confortáveis. ... VII - Documentos na mão e pertences protegidos. ... VIII - Não é não. Respeita as minas, as mona e as manas. IX - É permitido ser feliz, aproveitar a maior festa de rua do mundo, mas sempre com respeito ao próximo e responsabilidade.

Arquivo pessoal


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Universidades Públicas (ainda) pedem socorro

SUCATEAMENTO. Em 2020, orçamento previsto para a UFBA é 5% menor do que no ano passado Apub

Carolina Guimarães

Apub

m 2019, o anúncio, E feito pelo Ministério da Educação, do corte de

30% nas verbas das Universidades Públicas desencadeou uma onda de protestos em todo o país; a intensa mobilização da sociedade foi capaz de, enfim, reverter essa medida, já no fim do ano. As consequências, porém, dos meses de asfixia financeira permanecem e, ao que indica, serão agravadas com novos bloqueios em 2020. No dia 28 de janeiro, a Universidade Federal da Bahia publicou nota informando que o orçamento previsto para a instituição esse ano (R$ 162.375.657,00), é 5% menor do que o do ano passado – é o menor valor em termos absolutos – isto é, sem considerar a inflação do período – desde 2017. Ainda, cerca de 30% dele está sujeito a ser bloqueado, da mesma forma que ocorreu em 2019, com o agravante de que não há garantia da manutenção dos recursos para a assistência estudantil. “É, portanto, um engano pensar que o desbloqueio do orçamento, no ano passado, significava que os problemas da Universidade estivessem resolvidos. É bem

Apub

o contrário disso”, declara, na nota, o pró-reitor de Planejamento e Orçamento da Universidade, Eduardo Mota.

Cortes sistemáticos A defasagem do orçamento – que diminui ao invés de aumentar, como seria adequado à expansão da Universidade de acordo com o Plano Nacional de Educação – e os sucessivos bloqueios comprometem a organização e o equilíbrio orçamentário da Universidade. Medidas emergenciais de economia estão sendo tomadas – a UFBA, no momento de recesso letivo, funciona em horário reduzido, das 7h30 às 13h30, dificultando, por

Outra questão ainda mais dramática é a suspensão da nomeação de professores e servidores técnicosadministrativos

exemplo, o bom andamento de experimentos e pesquisas que não podem ser encaixados em “horário comercial”. Ainda, a situação atingiu o setor de trabalhadores e trabalhadoras terceirizados, que ocupam, especialmente, funções de vigilância, portaria e limpeza. Após meses de incerteza, agora em janeiro, a empresa Liderança, que presta os serviços de limpeza da UFBA, demitiu cerca de 200 trabalhadores. A justificativa, foi a mudança da metodologia de medição das áreas a serem limpas. O resultado é que, quem fica, acaba tendo uma carga de trabalho maior. Em algumas unidades, a situação é ainda mais delicada, como no caso da Creche da UFBA, que atende bebês a partir de seis meses até crianças de quatro anos e tem especificidades quanto ao espaço e necessidade de limpeza. Não é somente a falta de dinheiro que tem afetado as Universidades. Há outras medidas que, embora não tenham despertado

ngela*, atualmente lotada na UFBA, mas que já estava em vias de assumir um cargo em outra universidade. Com planos feitos e em preparação para a mudança, ela foi surpreendida com a notícia de que não seria mais nomeada: “soube por um grupo de WhatsApp de professores, em que alguém enviou o ofício do Ministério da Educação com a suspensão geral”, conta. “Eu nem acreditei que aquilo pudesse ser verdade, quando tentei conversar com pessoas da gestão da faculdade na qual eu exerceria minhas funções, elas nem sabiam ao certo o que tinha ocorrido”. Ela classifica a medida como “irracional”. “Se o concurso foi autorizado é porque havia vaga aberta, seja por aposentadoria ou exoneração. Trata-se de medida para impedir a reposição de vagas sucateando a universidade e forçando a renovação de contratos precários de professores substitutos, que não assumem atividades de pesquisa e extensão”, denuncia.

tanta atenção, são igualmente graves para o funcionamento das instituições e para a vida da sua comunidade. Uma delas, foi a Portaria 2.227/19, que limita o deslocamento de pesquisadores, inclusive para participar de congressos e apresentar trabalhos científicos. A SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência enviou uma carta ao MEC, subscrita por mais de 60 entidades científicas, destacando como a Portaria “inibe a interação entre os pesquisadores brasileiros, prejudica a internacionalização e o protagonismo da ciência e da tecnologia nacionais”. Outra questão ainda mais dramática é a suspensão da nomeação de professores e servidores técnicos-administrativos, expressa no Ofício-circular nº 1/2020/CGRH/Difes/Sesu/Sesu-MEC, de 08 de janeiro. No documento o MEC, na prática, proíbe a contratação de pessoal, mesmo aqueles *Nome fictício a pedido da já aprovados em concur- fonte, que prefere não se so. É o caso da professora identificar


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Com Bolsonaro, informalidade atinge maior número dos últimos 4 anos Fernando Frazão/Agência Brasil

PNAD. Contingente de trabalhadores nessa condição aumentou em 1 milhão de pessoas; desemprego teve leve queda Cristiane Sampaio

trabalho informal O registrou alta de 0,3% no país em 2019, se-

gundo dados da Pesqui- Taxa de informalidade passou a ser de 41,1% em 2019, totalizando um contingente de 38,4 milhões de pessoas; número é o maior desde 2016. sa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstaO IBGE mostra ainda que res desocupados, subotística (IBGE) nesta sextaJá o índice de desem-feira (31). O índice repreprego, medido pela taxa houve criação de 1,8 mi- cupados por insuficiênsenta um aumento de 1 média de desocupação, lhão no número de ocupa- cia de horas trabalhadas milhão de pessoas nessa caiu de 12,3% para 11,9% ções, mas 446 mil foram va- ou na força de trabalho condição. no ano passado. Esta é gas sem carteira assinada e potencial. Com isso, a taxa de inA Pnad mostra ainda a segunda queda anual 958 mil são de ocupações formalidade passa a ser de consecutiva. Em núme- de trabalhadores por conta que os números de em41,1% da força de trabaros absolutos, a pesquisa própria, entre os quais 586 pregadores e de trabalho, totalizando um conlhadores domésticos se contabiliza 12,6 milhões mil não têm CNPJ. Também é destacado na mantiveram estáveis entingente de 38,4 milhões de pessoas desocupadas de pessoas. É o maior núem 2019, o que demons- Pnad o contingente refe- tre o último trimestre do mero desde 2016. (outubro-dezemtra queda de 1,7% em re- rente à população subuti- ano lizada na força de trabalho, bro) e o anterior. O priA informalidade consilação a 2018. dera o conjunto dos traNo entanto, se confron- que atingiu o maior valor meiro grupo engloba 4,4 balhadores sem carteira tado com o menor pon- da série histórica, com 27,6 milhões de pessoas pelo assinada, incluindo trato da série histórica – que milhões de pessoas em país e teve leve recuo balhadores domésticos, ocorreu em 2014, com 2019, ficando 79,3% acima (-0,1%) se considerada a empregadores sem CNPJ, 6,8 milhões –, o índice da do menor índice – registra- média anual. Já o segunpessoas que atuam por último grupo engloba população sem trabalho do em 2014, quando a mar- do soma 6,4 milhões de conta própria sem CNPJ aqueles que atuam no teve expansão massiva, ca foi de 15,4 milhões de pessoas registrou um aue ainda os trabalhadores segmento sem remunecrescendo 87,7% em cin- pessoas. O grupo de subu- mento sutil de 0,4% em tilizados inclui trabalhado- relação a 2018. familiares auxiliares. Este ração. co anos.

Desemprego

O índice da população sem trabalho teve expansão massiva, crescendo 87,7% em cinco anos


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ENTREVISTA | 9

Reforma da previdência é aprovada sob protestos dos servidores ADUNEB

MOBILIZAÇÃO. Processo foi conduzido sem discussão com os trabalhadores, afirma Ronalda Barreto, da ADUNEB.

Em todo esse tempo houve apelo aos deputados para que não votassem a PEC

Danielle da Gama

A

reforma da previdência na Bahia foi aprovada em dois turnos na noite do último dia 31, em meio a fortes protestos de servidores. A proposta havia sido suspensa dias antes pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), pela ausência de estudo sobre impacto financeiro e orçamentário, mas a decisão foi revista. Conversamos com Ronalda Barreto, coordenadora geral da Associação dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (ADUNEB) que nos conta como se deu o processo e como as novas medidas irão impactar a vida dos servidores públicos do estado.

BDF: Como a reforma na Bahia foi influenciada pela reforma do Governo Federal, aprovada em 2019? O estado tinha um prazo para adequar-se? Ronalda Barreto: Eram

dois os pontos que necessitavam de urgente adequação: a criação do Regime de Previdência Complementar e o aumento da alíquota de desconto, aspectos que a Bahia já cumpriu em 2016 e 2018, respectivamente. Para os demais

pontos, bem mais simples, há um prazo de 2 anos, o que não justifica a pressa do Governo. A Bahia antecipou-se ao governo Bolsonaro. Em todo esse tempo houve apelo aos deputados para que não votassem a PEC. Era evidente que muitos deles não concordavam com o conteúdo e com o processo. A votação da Comissão de Constituição e Justiça deu-se sem nenhuma discussão entre os seus membros, o que demonstra que os parlamentares votaram por compromisso com o governador e não com o povo.

BDF:Como os demais governos do Nordeste vêm agindo? R.B Tenho notícias no Rio Grande do Norte, a governadora Fatima Bezerra (PT) instituiu uma comissão de estudo, está realizando reuniões de diálogo com seg-

mentos do funcionalismo. O Governador Rui Costa destacou-se pelo autoritarismo no processo. Apresentou o projeto sem nenhuma discussão quer seja com parlamentares ou partidos políticos, muito menos com as entidades representativas do funcionalismo. Outra postura que não condiz, sobretu-

do com um ex-sindicalista, diz respeito às declarações que desqualificam o trabalho dos sindicatos e buscam colocar a opinião pública contrária aos servidores públicos. É uma postura semelhante à do governo federal e que tem como objetivo maior favorecer os fundos privados de previdência.

BDF: Quais são as principais consequências para os trabalhadores? R.B Entre muitas, três desADUNEB

tacam-se pelo nível de perversidade: para o servidor obter 100% da média dos 90% maiores salários, terá que trabalhar 35 anos se mulher e 40 anos se homem mesmo após atingir a idade mínima; a aposentadoria por invalidez corresponderia a 60% dos 90% maiores salários do servidor/a, rebaixando os seus proventos; em caso de morte do servidora/a na ativa, o processo é ainda mais perverso, deixando sua família em situação difícil: calcula os proventos nos moldes da aposentadoria por invalidez “aposenta o defunto”, estabelece uma cota familiar de 40% e uma cota de 20% por dependente (a emenda do relator modificou para cotas de 50% e 15% por dependente). Caso o cônjuge tenha menos de 42 anos, perderá esse valor de forma escalonada a depender da idade e os filhos perderão com a maioridade ou conclusão do ensino superior. Um/a esposo/a com apenas um filho ficaria, ainda, com 80% desse valor. Veja quantos rebaixamentos dos valores para manter o padrão de vida da família.

BDF: Qual sua percepção sobre a votação na Assembleia Legislativa? R.B Uma votação que deveria se dar em dois turnos, supunha-se, com tempo para debate, deu-se de forma açodada, em uma verdadeira “correria” em plena sexta-feira à noite e com uso da força contra os trabalhadores. Os deputados saíram por portas secundárias, escoltados pela polícia.


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Artigo |

Educar para transformar Bruna Weyll *

m 2015, o goverE no da Bahia, liderado pelo governador Rui

Costa (PT), elaborou o “Programa Educar para Transformar – um Pacto pela Educação”, com dois grandes focos: a expectativa no aumento do sucesso escolar e a reafirmação cotidiana do método de trabalho coletivo. O programa previa uma intensa participação de estudantes, profissionais da educação e famílias, além do envolvimento dos demais se-

Toda a sociedade precisa de uma educação pública que atenda às suas necessidades tores. Este pacto, que reúne a Secretaria de Educação e mais 10 secretarias do estado, coloca-se em consonância com a visão nacional daquele momento, em que o Brasil tinha como lema a “Pátria Educadora”, que situa a educação como o pilar central em ambos os programas de governo, ainda que demonstre que a preocupação evidente é com os indicado-

Artigo |

res de avaliação.A forma arbitrária com que está sendo realizado o projeto de reorganização escolar, com fechamento e venda de escolas (a exemplo da venda do Colégio Odorico Tavares), o conteúdo da portaria n° 770 de 09 de setembro de 2019 que oferece às “organizações sociais” (empresas) a administração das escolas, a pressa com que vem sendo implementada a Reforma do Ensino Mé-

dio (Lei 13.415/2017), a política de militarização e o contingenciamento dos gastos nas universidades estaduais, têm evidenciado que a prioridade do governo não é mais a transformação, mas a desresponsabilização do Estado. Aqui na Bahia, educar para transformar tem sido uma bandeira de resistência dos estudantes e movimentos populares, uma vez que o governo estadual tem ido na contramão desse projeto. Nunca é tarde para se reorganizar e encontrar novas saídas. Toda a sociedade precisa de uma educação pública que atenda às suas necessi-

dades e, de fato, precisamos de uma educação que transforme e dê possibilidades, sobretudo para a juventude trabalhadora, que tem encontrado tantas barreiras para sua qualificação e profissionalização. Por isso a exigência de mais investimentos em infraestrutura e espaços democráticos para fortalecer o vínculo da sociedade com suas escolas é tão importante para que possamos alterar essa realidade e alcançar o sucesso escolar a partir da reafirmação do trabalho coletivo. *Militante do Levante Popular da Juventude

Masculinidade(s) e violência de gênero Alexandre Santos Pereira*

significado de masO culinidade por muito tempo esteve vinculado à ideia tradicionalista dos atributos obrigatórios ao homem para se reconhecer enquanto tal, negando inicialmente para si as características culturalmente classificadas como “femininas”, como a sensibilidade e o (auto) cuidado, e absorvendo para o masculino a virilidade (Bloc & Georges, 1996), baseado em sociedade fundamentalmen-

te patriarcal. Se o homem em questão for negro, adicione uma série de características que o hiperssexualize e reduza sua condição de intelectualidade e humanidade. Entretanto, através das novas demandas sociais e do surgimento e expansão dos estudos de gênero, falar sobre masculinidade passou a exigir falar sobre masculinidadeS, que possuem diferentes posições nas relações de poder e apresentam possibilidades outras de se identificar como homem, que mesmo ainda dentro do contexto patriarcal, buscam se distanciar da perspec-

Construir uma identidade enquanto homem não precisa ter qualquer relação com o conjunto de comportamentos de risco tiva tradicionalista e conservadora. Direcionando o conceito ao fenômeno social da violência de gênero, estudar masculinidades se torna imprescindível para uma série de frentes de ação para intervir no problema: contribuir para a proteção das vítimas, para responsabilizar proporcional e peda-

gogicamente o agressor e multiplicar, para as pessoas envolvidas e para toda a sociedade, a ideia de que construir uma identidade enquanto homem não precisa ter qualquer relação com o conjunto de comportamentos de risco (para os outros e para si, consequentemente) que o “pacote masculino” tradicionalista impõe.

A complexidade do desafio de enfrentar as estruturas deste sistema é enorme, mas se faz urgente enfrentá-lo. Enquanto não forem aplicadas políticas outras que proponham a este homem que gradativamente é ensinado a violentar, um modelo de responsabilização que lhe leve à consciência e reflexão sobre sua própria condição na sociedade, continuará se perpetuando o ciclo já conhecido de dor, revolta e vingança e morte, sentimentos que encontram terreno fértil nas superlotadas celas nos complexos prisionais Brasil afora. Assessor Técnico - Psicólogo


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Salvador, fevereiro de 2020

CULTURA | 11

“Mancha de dendê não sai”

Zineb Benchekchou - Embrapa

CULINÁRIA. Dendezeiro é símbolo de religiosidade, força e resistência negra africana no Brasil

Jamile Araújo

odemos dizer que P o dendê é uma das marcas da culinária baia-

na. Difícil encontrar quem não goste de uma moqueca ou um acarajé quentinho. Em Salvador, nas sextas-feiras, é possível sentir de longe o aroma do “azeite de cheiro” que tempera e colore a ‘comida baiana’ nos restaurantes. Mas qual a origem do dendezeiro, “Elaeis guineensis” ou Igi Ope em iorubá, e do azeite de dendê? O Babalorixá, antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Vilson Caetano de Sousa Júnior, explica que não tem como falar do dendezeiro e não remontar o tráfico de africanos para o Brasil a

partir da segunda metade do século XVI. “Provavelmente, o azeite de dendê começou a ser importado para o Brasil juntamente com os africanos. O homem africano, a mulher africana, tinham vontades, e graças a essas vontades, houve o comércio não apenas de plantas, sementes, bebidas, especiarias, mas de tecidos e outros produtos que faziam parte de sua vida. Então o azeite de dendê chega no Brasil para atender exigências dessa população africana”. O professor ressalta que o dendezeiro ocupa um papel fundamental no processo de construção das várias visões de mundo iorubás.“O dendezeiro vai estar no mito fundante de várias sociedades iorubás, no qual vão con-

Ele ainda afirma que, por ser símbolo da identidade, no processo de desconstrução das identidades negras, o dendê foi relaNão está cionado a causa de dosomente enças, como por exemplo, em teses produna nossa zidas pela Faculdade culinária, de Medicina da Bahia, está e depois associado ao entranhado demônio. “O dendê é o elemento, por excelênna nossa cia, do orixá Exú, orixá vida, do princípio da comusobretudo nicação, que foi mau nas nossas compreendido e demonizado, que recevisões be título de Elepô, Ele de mundo = Senhor, Epô= azeite de dendê. Ele é o Senhor tar a criação do mundo a de Epô, o Senhor do azeipartir do dendezeiro, que te. Dentro da cozinha de representa uma árvore sa- santo o azeite de dendê grada na qual você con- vai ter uma função prita a história do mundo a mordial”. partir dela”. O fato é que o dendê Vilson Caetano diz ain- define a cozinha baiada que entre os usos estão na como ‘uma cozinha a construção, combustí- colorida, marcada pelo vel, alimentação, cosmé- vermelho alaranjado do ticos e também para pro- azeite de dendê’. “Acho teger do mal. “ Acho que que tem um afirmatié muito feliz um trabalho vo muito interessante, a que tenho junto a uma ideia de que ‘mancha de comunidade quilombo- dendê não sai’. Ao mesla de Maragogipe, chama- mo tempo que esse dendo ‘Dendezeiro: a plan- dê passou por um prota de onde se tira de tudo’. cesso de demonização, O óleo do fruto do dendê, ele é imperativo, porque chamado de xoxó, sempre realmente faz parte das foi usado pelos africanos nossas vidas, não está como cosméticos, no ca- somente na nossa culibelo e no corpo, não ape- nária, está entranhado nas para o corpo não fi- na nossa vida, sobretucar ressecado, mas para do nas nossas visões de proteger de doenças e dos mundo”. maus espíritos”, explica. “Dendê é símbolo de

religiosidade negra africana no Brasil, de luta e resistência de nós, homens e mulheres negros, que ao longo da história contamos e recontamos a nossa história a partir da presença desses reis e rainhas que nos deixaram vários legados, e dentro desses legados está essa visão de mundo que iniciei contando, representada por essa planta e que hoje faz parte de nosso cenário nacional e de nossas vidas”, conclui Vilson.

Dendê: poder da transformação e o colorido da vida A atriz e professora Maíra Guedes, fala que o dendê para ela é o poder da transformação e a energia da vida e a memória afetiva que tem quando usa o dendê para cozinhar é de festa, de reunião. “Sempre penso em muita comida e muita gente, nos encontros mesmo, os rituais como aniversários e coisas que a gente quer fartura. Sempre penso em gente pra comer comigo, em fazer panelas enormes, não se faz vatapá pouco, não sei fazer caruru pouco. Comida de dendê, comida de Epô como se chama lá na roça, é fartura e é o colorido da vida”, finaliza.


12 | CULTURA

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Salvador, fevereiro de 2020

Cultural

Agenda Espetáculo itinerante Divulgação

Passeio noturno pelo zoológico

Divulgação

Prévias em Salvador Divulgação

Inscrições abertas para Festival de Dança MatheusBuranell

O

espetáculo ‘Circuito Jorge Amado’ é realizado até o dia 14 de fevereiro, saindo do Largo do Pelourinho, sempre às 19h, e percorrendo algumas ruas do bairro turístico. Durante a apresentação, baianos e turistas acompanham o divertido velório do clássico personagem Quincas Berro D´Água. Ao longo do cortejo surgem cenas inspiradas no mundo literário de Jorge Amado, com a presença de Gabriela Cravo e Canela, Compadre de Ogum e Dona Flor e seus Dois Maridos. Tudo termina no Cabaré da Zazá, instalado no restaurante Cantina da Lua. O evento faz parte da programação do Pelourinho Dia e Noite.

Q

uer ter uma experiência diferente de visita ao zoológico? A dica é curtir a visitação noturna que o Zoológico de Salvador, localizado no bairro de Ondina, oferece gratuitamente nas segundas e quintas, das 18h30 as 20h. Os grupo são compostos de, no mínimo, 15 e, no máximo, 25 pessoas. Não é permitida a presença de crianças menores de oito anos. De acordo com o Inema, durante a visitação, é possível assistir ao teatro de sombras, além de palestra sobre educação ambiental e ronda orientada.O agendamento pode ser feito através do telefone (71) 3116-7954.

Visita ao museu Divulgação

acervo do Museu TemposO tal, inaugurado em 05 de novembro de 1997, é composto

por postais, estampas e fotografias, em sua maioria, procedentes da coleção de Antônio Marcelino do Nascimento. As peças, datadas do final do século XIX e meados do século XX, representam imagens de valor histórico, artístico e documental, não só da Bahia e do Brasil, mas também de diversos países do mundo, sobre as mais variadas temáticas. Destacam-se nas coleções as imagens representativas da Bahia Antiga e os cartões-postais da Belle Époque, que chamam a atenção pela variedade dos materiais nos quais foram confeccionados.O Museu fica na rua Gregório de Matos, 33, Pelourinho. A visitação pode ser feita de terça a domingo das 10h as 18h.

uem gosta de sair Q atrás dos trios elétricos curtindo as prévias de carnaval soteropolitanas já pode conferir a programação das atrações que animam o Furdunço e o Fuzuê. As duas festas são tradicionais e acontecem nos dias 15 e 16 de fevereiro no circuito Orlando Tapajós (Ondina- Barra). Entre as atrações estão: Ilê Ayiê, Banda Filhos de Jorge, Afoxé Daraju de Ode, Afro Ókánbi, Grupo de Cultural Congos de Cairú, Adão Negro e Afrodisíaco.

Vivadança Festival Internacional abre O inscrições de propostas para a sua programação. A Mostra Baiana de Dança Contemporânea, a Mostra Casa Aberta e a Batalha de Break já estão recebendo inscrições de espetáculos, coreografias e duplas de B.boys e B.girls para apresentação e competição.O festival é um projeto selecionado pelo Edital de Eventos Calendarizados com apoio financeiro do Governo do Estado. Para se inscrever, os B.boys e B.girls precisam ler atentamente o edital e regulamento da Batalha, além de preencher o formulário de inscrição no site: www.festivalvivadanca.com.br. Anúncio


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Coluna de Ciências |

VARIEDADES | 13

Crônica |

Dieta detox é eficaz? O corpo é muito bom em se desintoxicar sozinho Luiza Hoffmann.

Renan Santos

s dietas detox estão na A moda. Trata-se do consumo de determinadas fru-

tas, legumes ou verduras, geralmente na forma de sucos, que teoricamente possuem função desintoxicante no organismo. Emagrecimento e cura de doenças são o tipo de promessa oferecida por seus defensores. Primeiro, o que é uma toxina? Qualquer substância inútil ao organismo e que prejudique o seu funcionamento normal. Nossas células produzem toxinas o tempo todo, resultado do metabolismo. Além disso, é possível absorvê-las do ambiente, por meio da água e do ar ou pela ingestão de alimentos. Desintoxicar é o ato de eliminar essas substâncias do corpo. O próprio organismo já possui diversos mecanismos bem eficazes para isso, que raramente deixam uma toxina se acumular por longos períodos. Os principais órgãos envolvidos nesse processo são o fígado e os rins. Também participam os pulmões, o intestino e até a pele. Via de regra, o fígado metaboliza a toxina (transforma-a em outra menos prejudicial) e passa a bola para os rins, que farão a eliminação por meio da urina. Quando se diz que algo possui ação detox significa que ele ajuda nesse processo, certo? Que, de alguma forma, alguma substância contida nele auxilia o trabalho do fígado. Ou, talvez, o sentido seja outro. Que, ao seguir a dieta, a pessoa deixa de se intoxicar com as substâncias presentes nos alimentos comumente ingeridos, tipo uma trégua de alguns dias dada ao fígado. Independente da teoria assumida, os estudos científicos realizados até o momento para se testar a eficácia dessas dietas não demonstraram que a ação detox seja real. Até porque, elas nem chegam a afirmar que toxinas estão sendo atacadas, ou que mecanismo está envolvido no processo. Assim, fica difícil até a realização de estudos mais rigorosos sobre o tema. A própria ideia de que estamos constantemente intoxicados, e que precisamos nos desintoxicar, é mal abordada. Como disse, o corpo é muito bom em se desintoxicar sozinho. Sempre digo que não há tratamento ou alimento milagroso, seja para emagrecer, seja para se curar. Se você vir alguém afirmar que tal coisa é a grande solução para a saúde, desconfie. Provavelmente, ela só quer te vender algo. Cuidar da saúde é algo relativamente simples, mas que exige esforço. Por isso, buscamos sempre um atalho mágico que facilite as coisas. Infelizmente, não é assim que funciona. Quer perder peso e melhorar a saúde? Foque em boa alimentação, atividade física, pare de fumar e beber. Eita! Bem mais difícil do que tomar um suquinho verde de vez em quando, né? Um abraço e até a próxima! *Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais

Reprodução

A arte de ser simples *Z Carota

saber se uma pessoa cozinha bem? Prove o arroz com feijão Quer dela Zé Carota descobri um restaurante pertinho de casa, vizinho da loja em que compro ração e areia pro meu gato, e fui nele não por recomendação de alguém, mas por preguiça. agora volto por dois outros pecados capitais, cobiça e gula, contidos numa mesma tentação: feijão – e eu sou capaz de coisas indizíveis por um bom feijão. o estabelecimento é simples, limpo, barato (14, 15 dinheiros por um prato capaz de satisfazer um viking com bons modos) e – hosanas nas alturas – silencioso. fui lá ontem, fiz um prato bem bonito de arroz e feijão, ao qual acrescentei 5 gotas de pimenta no feijão e 13 segundos de um azeite do bom por sobre o arroz, e pronto. enquanto pesava o prato, o cozinheiro se chegou: senhor, servimos saladas e carnes também, o senhor viu? vi, mas tudo é nada perto desse teu feijão. obrigado, mas o senhor já provou o frango que faço na cachaça e com redução de frutas vermelhas? povo gosta bem. fico feliz pelo povo, por você, mas hoje eu tô pela ampliação do arroz com feijão, que, insisto, é um colosso, uma bondade mesmo. ok - respondeu, mas não sem indisfarçável contrariedade. bati o prato, paguei, e, encafifado se o camarada das caçarolas acreditara, mesmo, que eu estava satisfeitíssimo, resolvi ter um particular com ele, reforçando a satisfação com um argumento aprendido com minha vó napolitana, que cozinhava bem à beça: meu camarada, minha vó paterna, que me ensinou a comer, dizia o seguinte: “quer saber se uma pessoa cozinha bem? prove o arroz com feijão dela. não tem muito recurso: é tempero, fogo certo e tempo exato de preparo e cozimento. se acertar isso, é porque cozinha muito bem qualquer coisa”. é teu caso, batuta. é a terceira vez que venho aqui pelo teu arroz com feijão. parabéns, e muito obrigado. ok, senhor. vou fazer de conta que o senhor tá sendo sincero, mas vou torcer pro senhor provar as outras coisas que faço. cozinha chic, sabe? ok, chef. essa repulsiva epidemia gourmet e essa abominável histeria de reality shows com e para “chefs” estão destruindo, respectivamente, a essência das comidas (e do comer) e a autoestima de grandes e naturais talentos. *Z Carota é jornalista e escritor.


VARIEDADES | 14

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Salvador, fevereiro de 2020

Direitos de Fato Trabalho Escravo: uma história ainda contemporânea

Nossa cozinha cozinha Moqueca de Caroço de Jaca Diva Braga

data 28 de janeiro é marcada pelo Dia Nacional de ComA bate ao Trabalho Escravo, instituído em 2009, dia da chacina que assassinou auditores fiscais do trabalho na cidade mi-

neira de Unaí, há 16 anos, enquanto que realizavam uma fiscalização de rotina em fazendas na área rural desse município. O trabalho análogo à escravidão, segundo o previsto no art. 149 do Código Penal, é caracterizado por jornada exaustiva, sobrecarga de trabalho, condições degradantes, restrição de sua locomoção em razão de dívida com o empregador e esforço excessivo, sendo a sua prática considerada crime e punida com pena de reclusão de dois a oito anos. Além da sua tipificação penal, no ano de 2003 também foi criada a Lista Suja do Trabalho Escravo, cadastro de empregadores que cometeram esses crimes, que compõe a base para combate dessa prática junto com o sistema de fiscalização, o qual conta com mais de dois mil fiscais do trabalho atuando nacionalmente, verificando denúncias e resgatando trabalhadores onde foi constatado o trabalho escravo. De acordo com o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo, com dados de 2003 a 2018, foram mais de 45 mil pessoas resgatadas nessas condições no Brasil. Só em Pernambuco, foram quase 800 vítimas. Considerando o perfil dos resgatados no estado, 80% eram trabalhadores agropecuários e 28% estavam na fabricação de açúcar. Para denunciar casos de trabalho escravo, basta discar 100, sendo garantido o anonimato. *André Barreto é advogado trabalhista e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia.)

Para entrar em contato e tirar dúvidas mande um email para contato.pe@brasildefato.com.br ou um whattsapp para 8199060173

Dica de Saúde

Ingredientes Amada por uns e odiada por outros, a jaca é uma das frutas da estação. Para diversificar consumo, existem várias receitas salgadas com a fruta, que é uma ótima opção para quem não come carne e outros produtos de origem animal

Ingredientes: • • • • • • • • • • • •

2 xícaras (chá) de caroços de jaca fresco 2 colheres (sopa) de azeite de oliva 1 cebola média picada 2 tomates picados ½ pimentão verde picado 1 banana amassada 1 vidro pequeno de leite de coco 1 colher (chá) de sal 3 grandes dentes de alho fatiados ½ colher de sopa de coentro seco moído 3 colheres (sopa) de azeite de dendê 1 maço de coentro picado

Modo de preparo: 1. Cozinhe os caroços de jaca numa panela de pressão com 1 litro de água por 20 minutos. Escorra, retire a casquinha externa e reserve. 2. Em uma panela, esquente o azeite de oliva e refogue a cebola picada, o tomate e o pimentão picado. 3. Acrescente ao refogado os caroços de jaca cozidos, a banana amassada, a cebola fatiada, o pimentão fatiado, o leite de coco e o sal. Deixe ferver. Junte o dendê e o coentro, misture e apague o fogo.

Casos suspeitos de infecção pelo coronavírus aumentam no Brasil Da Redação

O

ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta segunda-feira (3) que o governo brasileiro vai reconhecer emergência em saúde pública em razão do avanço do novo coronavírus. A ação libera o governo para ter gastos considerados emergenciais sem processo de licitação, o que, segundo o ministro, é necessário neste momento. O governo informou que subiu para 14 o número de casos suspeitos até a tarde desta segunda-feira. Outros 13 casos foram descartados pelo Ministério da Saúde. Nenhum, por ora, foi confirmado.

Sobre a doença novo coronavírus é transmitido de forma simiO lar à gripe comum, mas com alta capacidade de contágio entre pessoas. A higiene, principalmente das mãos, é uma das formas mais efetivas de se prevenir o contágio pelo novo coronavírus. Ainda não há vacinas ou medicação para combatê-los.


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ESPORTES | 15

Salvador, fevereiro de 2019

Prática de atividades melhora saúde global dos idosos BEM-ESTAR. Exercícios físicos são a maior estratégia de intervenção não medicamentosa, de acordo com professora Núcleo MotriS

Jamile Araújo

O

número de idosos cresce no Brasil. De acordo com a pesquisa “Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2018”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com idade acima de 65 anos ou mais aumentou 26% entre 2012 e 2018. Já a população de até 13 anos diminuiu cerca de 6%. A partir daí, precisamos pensar como chegar a essa fase com qualidade de vida. A professora da Universidade Federal da Bahia, Marcela Rodrigues de Castro, do Núcleo MotriS - Núcleo de Pesquisa em Motricidade e Saúde, explica que o idoso, como todo organismo vivo, acaba por ter um declínio nos sistemas que compõem, gerado pelo processo de multiplicação celular. “Começamos, consequentemente, a perder a funcionalidade do nosso corpo. Por exemplo, a gente começa a

ter mais dificuldade para realizar atividades físicas que exijam resistência ou maior grau de força, e isso vai prejudicando nossas atividades diárias, como subir escada, arrumar a casa ou varrer. Como sequência, vai impactar também em aspectos psicológicos, como auto estima, autocuidado, autonomia, autoconfiança entre outros”, pontua. Segundo Marcela, a atividade física é considerada hoje a maior estratégia de intervenção não medicamentosa, tanto preventiva, quanto terapêutica, porque apesar de não evitar o envelhecimento, retarda o declí-

Ela vai prevenir determinadas consequências que o declínio desses sistemas vai gerar no organismo humano

nio desses sistemas. “Ela vai prevenir determinadas consequências que o declínio desses sistemas vai gerar no organismo humano. O plano um é sempre praticar atividade física ao longo da vida, se isso não foi possível por um motivo ou outro, é de suma importância que, na fase idosa de nossa vida, que introduzamos a atividade física como estratégia de intervenção terapêutica”, explica. A pesquisadora afirma que, de maneira mais prática, o envelhecimento pode causar perda de massa magra, diminuição da capacidade cardiorrespiratória e alterações em capacidades funcionais, a exemplo do equilíbrio e coordenação motora. “Além de aspectos psico-sócio-comportamentais. Já temos indicativos de que a atividade física é bastante eficiente em pato-

logias de cunho psiquiátrico e mental, como o Mal de Parkinson e o Alzheimer. A ciência caminha na direção da utilização da atividade física para o controle e prevenção dessas patologias, proporcionando melhor qualidade de vida e maior longevidade para essa população. Temos a maior população idosa dos últimos tempos. Isso chama atenção dos profissionais de saúde para que aprenda a lidar de maneira menos invasiva, leia-se cirúrgica e medicamentosa, e de muito mais preventiva que curativa”, ressalta.

to funcional. Porém, a gente tem percebido a necessidade de atividades que estimulem outros sistemas, como o sistema visual, sistema proprioceptivo [percepção das sensações recebidas nos músculos, tendões, ligamentos e articulações], e que estimulam capacidades físicas como equilíbrio e coordenação”, observa e acrescenta: “cada vez mais estamos direcionando nossa atenção para atividades que chamamos de ‘atividades na perspectiva global de movimento’, nas quais não olhamos só o fortalecimento de um membro inferior, mas também o quanto o fortalecimento desse membro vai influenciar no equilíbrio desse idoso”, conclui Marcela.

A atividade física é Onde bastante praticar? eficiente em Hoje, em Salvador, existem algumas pospatologias sibilidades. As opções privadas são acadede cunho mias e escolas. Já púsão as praças psiquiátrico blicas, e projetos em Universidades públicas, e mental Mas quais atividades físicas podem ser realizada por idosos? “De um lado as atividades cardiorrespiratórias e atividades que envolvam estímulos neuromusculares, ou seja, que vão favorecer o ganho de massa magra. Entre essas atividades estão musculação, pilates e treinamen-

a exemplo do Projeto Fluir movimento Intervenção, do Núcleo MotriS. Este projeto direciona aulas de pilates gratuitas para a população de idosos, onde atuam estudantes bolsistas de áreas como Fisioterapia, Dança, Educação Física treinados pelo Núcleo.


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Salvador, fevereiro de 2020

16 | ESPORTES

GOL DE PLACA NA Sucesso no judô GERAL

Coronavírus afeta esportes

O

surto de pneumonia do Coronavírus, que já matou mais de 100 pessoas na China, preocupa o Comitê Olímpico Internacional (COI). A entidade acompanha a propagação da doença, cujo surto pode colocar em risco a Olimpíada de Tóquio, prevista para iniciar dia 24 de julho. Algumas competições pré-olímpicas já foram transferidas de local ou foram canceladas por conta do vírus.

katherine Campos

Aalexandre Vidal

Reuters

Site de peito aberto

Contratação histórica

O

24 vezes Baêah!

pra brincadeira. Em janeiro, o país encerrou sua participação no Grand Prix de Tel Aviv, em Israel, com nada menos que cinco medalhas, todas conquistadas pela seleção masculina. Agora, os atletas chegam com ainda mais confiança para as Olimpíadas de Tóquio. Sucesso para nossos judocas!

Meninas no baba

craque Gabigol já confirmou: ele fica no Flamengo em 2020! Depois da Inter de Milão emprestar o jogador por um ano ao time carioca, Gabigol brilhou dentro e fora do país na temporada. Foram 43 gols marcados e a conquista dos títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro. O Flamengo pagará R$83,5 milhões pela contratação do atleta, o valor mais caro já pago por um clube brasileiro.

O

Em Salvador, o Projeto Esporte na Cidade ainda está com vagas abertas para meninas de 7 a 17 anos interessadas em jogar futebol. O projeto oferece aulas gratuitas de futebol de campo no estádio Pituaçu e acontecem às segundas e quartas, manhã e tarde. Para ter direito à vaga, as alunas precisam estar matriculadas e ter frequência na rede pública de ensino. O direito ao esporte é para todos e todas!

GOL

CONTRA

Desrespeito ao trabalhador EC Bahia

Esporte CluO be Bahia foi denunciado pelo Mi-

nistério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) por irregularidades na Central de Atendimento aos Sócios (CAS) do clube, que funciona na Arena Fonte Nova. A ação foi iniciada no começo de janeiro e o clube é acusado por “trabalho excessivo” e “horas extras não respeitadas”. Em resposta ao portal A Tarde, o clube afirmou que vai apurar a denúncia e corrigir o que precisa ser corrigido.

Declaração da Semana

Democracia em vertigem

Hugo Dantas

Bete Dantas

o último dia 28 de janeiro, o Bahia iniN ciou mais uma campanha, desta vez contra a homofobia. Flávio jogou a partida

a última reunião do Conselho DeN liberativo do Vitória, ocorrida em dezembro de 2019, foi aprovada a co-

com a camisa 24 para demarcar a campanha #NúmeroDoRespeito. O 24 é o número do “Veado” no jogo do bicho, e, por isso, é associado pejorativamente aos homossexuais. Santos, Fluminense e Flamengo também aderiram à campanha. A ação do Bahia também homenageou Kobe Bryant, astro do basquete que morreu no dia 26 de janeiro em um acidente de helicóptero. Kobe jogava com a camisa 24.

equipe brasileira A de judô masculino mostrou que não está

brança compulsória de taxa para participação no órgão. Cem reais por mês ou mil reais à vista. Esse é o valor para quem desejar ser conselheiro(a). Desconsiderando o contexto de precarização das relações de trabalho, desemprego estrutural e fragilização das políticas públicas, estabelece-se mais um filtro ao processo de democratização e popularização do clube. Um lamentável retrocesso!

A

única coisa que me conforta é saber que ele morreu fazendo o que mais amava. Sendo um pai. O pai de uma menina” Elle Duncan, apresentadora que se emocionou ao falar da morte de Kobe Bryant, ídolo do basquete que faleceu num acidente de helicóptero junto com sua filha


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