ENTREVISTA
JAIRO BATISTA REFLETE SOBRE QUESTÕES TRABALHISTAS E O PAPEL DO SINDICATO
Ed. Especial Petrobrás
Araquém Alcântara
Bahia
BA
Salvador, outubro de 2021 ano 3 edição especial distribuição gratuita
PG. 03
HISTÓRICO
Como nasceu a Petrobrás na Bahia
PAG. 07
DIREITOS
Sindipetro Bahia se compromete com a defesa dos direitos dos terceirizados
PAG. 08
Sindipetro Bahia
Por que defender a Petrobrás é urgente?
PERFIS
Conheça um pouco de quem constrói a Petrobrás
Brasil de Fato BA
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EDITORIAL
Lutar pela soberania é lutar pelo trabalho digno, pela comida na mesa, pela produção de nossa riqueza
Sindipetro Bahia
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sta edição especial que chega até você é a primeira do Brasil de Fato Bahia desde que a pandemia de covid-19 começou. Nesses meses, seguimos construindo o jornalismo popular e reafirmando nossa missão de levar uma visão popular da Bahia, do Brasil e do mundo para todo povo baiano através do nosso site, rede social e das ondas do rádio. Contudo, diante do contexto de avanço das privatizações e ameaças à soberania do país, entendemos - após diversas reflexões coletivas- que era o momento de termos a edição especial do tabloide. Queremos contribuir com as discussões sobre a importância da defesa das nossas estatais e do Brasil. Com o lema “Defender a Petrobrás é defender o Brasil”, trabalhadores (as) da Petrobras, movimentos sociais e sindicatos têm defendido um patrimônio que é de todo
o povo brasileiro, e que, desde o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, vem sofrendo com pressões internacionais e ataques dos setores entreguistas em nosso país. Segundo o Sindipetro Unificado, desde 2018, o governo já se desfez indiretamente de 16,2% das ações ordinárias (com direito à voto) da Petrobras. Com isso, o Estado passou a deter apenas 50,2% da petroleira, o limite para manter seu poder de decisão. Além disso, a atual presidência da Petrobrás, tem implementado uma série de privatizações internas na empresa, que, em 2019, totalizaram R$ 67,1 bilhões. Somente durante a pandemia foram colocados 382 ativos à venda, segundo esse mesmo Sindicato. O reflexo dessas privatizações é a venda de fábricas de fertilizantes, termelétricas, gasodutos e refinaria como a Landulpho Alves (Rlam), a primeira de 08 a serem entregues ao capital internacional. O Conselho de Administração da Petrobras
O reflexo dessas privatizações é a venda de fábricas de fertilizantes, termelétricas, gasodutos e refinaria como a Landulpho Alves (Rlam) aprovou no dia 24 de março deste ano, a venda da Rlam por US$ 1,65 bilhão, bem abaixo de seu valor real, que, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), tem valor de mercado entre US$ 3 bilhões eUS$ 4 bilhões. O resultado
imediato dessa política é o desemprego e o aumento dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Para se ter uma ideia, em 2013, a Petrobrás empregava 86 mil trabalhadores próprios e 360 mil terceirizados. Em 2019, o número caiu para 57 mil trabalhadores próprios e 103 mil terceirizados. Como se não bastasse, desde 2017, o golpista Michel Temer determinou que a Petrobrás atrelasse o preço dos combustíveis ao mercado internacional, sofrendo com as variações e especulações de preço do barril do petróleo mundial. O impacto na vida da população é tão grande que, segundo o Sindipetro Bahia, o botijão de gás de 13kg, que hoje é vendido por mais de R$ 80,00 no estado poderia ser vendida a R$ 40,00 e a gasolina que ultrapassa facilmente os R$ 5,00 por litro poderia ser repassado por R$ 3,20. Importante ressaltar que mesmo durante a pandemia, com quase de 500 mil vítimas fatais e mais de 14 milhões de desemprega-
do no Brasil, o Governo Bolsonaro mantém a decisão do atrelamento dos preços de combustíveis ao mercado internacional, evidenciando sua opção, de importar combustíveis e gás natural, onerando a vida de todos nós enquanto poderia aumentar em pelo menos 70% da produção das refinarias, gerar empregos e reduzir o custo de vida das famílias, dando melhores condições de vida ao povo trabalhador. Por isso o lema “Defender a Petrobrás é defender o país” é tão importante nesse momento histórico. Lutar por essa estatal é lutar pelo nosso país, pela nossa soberania, é declarar que o interesse do povo brasileiro está acima dos interesses de mercado ou de uma elite entreguista. Lutar por nossa soberania é lutar pelo trabalho digno, pela comida na mesa, pela produção de nossa riqueza e que essa riqueza seja distribuída com todo povo brasileiro.
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Como nasceu
a Petrobrás na Bahia
HISTÓRICO. A história da RLAM e da Petrobrás se confundem com parte importante da história do Brasil
Poço-Candeias da Petrobrás
C
fosse do Brasil. Com a operação da Refinaria Nacional, se iniciou um ciclo de desenvolvimento para a Bahia e para o Brasil. A operação da refinaria venceu a crença de que não existia petróleo em solo brasileiro. E por três décadas a Bahia foi o único estado a produzir petróleo no país. Já em 1953, com a criação da Petrobrás, a refinaria foi incorporada à estatal. Em 1957 mudou o nome para Refinaria Landulpho Alves, em homenagem ao engenheiro agrônomo e político baiano que lutou pela causa do petróleo no Brasil. “A Petrobrás faz parte da minha família” Uma das histórias de vida que fazem parte da história da Petrobrás é a de Gilson Sampaio, petroleiro aposentado, conhecido como Morotó. Gilson conta que foi na estatal onde seu pai trabalhou por 39 anos. “Hoje eu tenho orgulho de ter passado 32 anos da minha vida laboral colaborando para o crescimento da empresa, a Petrobrás faz parte da minha
família”, pontua. Gilson foi admitido na Petrobras em maio de 1982 e aposentado, após mais de três décadas de trabalho, em junho de 2014. Inicialmente trabalhou no setor de operações especiais (SEOPES), que realizava operações com arame, desparasitação, inje-
Entre 1997 a 2000, Gilson trabalhou no setor de sondas de produção terrestre e marítima nos campos de Dom João Mar e Terra, Taquipe, Candeias. “A partir de 2000 até 2014 fui deslocado para o campo de Massapê para dar partida FUP
ras da empresa. Localizada no município de São Francisco do Conde, onde hoje é a RLAM, havia antes uma fazenda banhada pelas águas do Rio Mataripe, Jamile Araújo onde se cultivava bananas. A unidade nasceu em 17 de seriada em setem- tembro de 1950, antes mesbro de 1950, a Re- mo da criação da Petrobras. finaria Landulpho Alves Seu nome era “Refinaria Na(RLAM), recentemente vendida pela Petrobrás por US$ 1,65 bilhão ao Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes, foi a primeira refinaria nacional de petróA operação leo. Sua criação se deu no da refinaria contexto de descoberta venceu a de petróleo na Bahia e foi fundamental para o decrença de que senvolvimento do Polo não existia Petroquímico de Camaçari, primeiro complexo pepetróleo em troquímico planejado do solo brasileiro país. A história da RLAM e da Petrobras se confunde com parte importante da cional do Petróleo’’. Neste período as ruas cohistória do Brasil, da Bahia nheciam a campanha “O e de milhares de baianos. Seja na importância para a Petróleo é nosso”, que denuneconomia dos municípios ciava os interesses estrangeie do estado, ou para os tra- ros na exploração do petróleo balhadores e trabalhado- e defendia que o “ouro negro”
RLAM
ção de vapor, injeção de água e óleo quente para desparasitação de poços de produção terrestres e marítimos. “Em 1992 fui deslocado para trabalhar com poços de produção e injeção de água nos campos de Taquipe, Candeias e Cassarongongo”, conta.
no projeto de produção e injeção de gás no campo de Massapê e Lamarão, onde entrou em operação a estação coletora de óleo de Massapê e a estação de compressores de Lamarão. Me aposentei em junho de 2014”, relata.
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Principais unidades da
foram vendidas
DESMONTE. Os petroleiros e movimentos populares refletem os possíveis impactos desse desmonte Jamile Araújo
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larmente conhecido como gás de cozinha; a Transpetro, que atua na área de logística e administra o Terminal Marítimo de Madre de Deus (Temadre) e a BR Distribuidora, que atua no segmento de distribuição e comercialização de combustíveis derivados de petróleo”. Na conclusão, os estudos apontam a importância da Petrobrás na economia baiana. “Respondendo diretamente por 11,3%, da produção e indiretamente por 12,7%, de tudo que é produzido na Bahia”. Aponta ainda, que “a exclusão dos setores de Extração de Petróleo e Gás Natural, Refino de Petróleo e Fabricação de Intermediários para Fertilizantes, estima-se uma redução da produção da economia do estado (Valor Bruto de Produto – VBP) em cerca de 24%. Uma parte deste total, 11,3%, seria
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Petrobrás vem passando por um processo de desmonte no estado da Bahia desde 2017. Em 2020, a estatal arrendou, por 10 anos, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN), da Bahia e de Sergipe, para a Proquigel Química. Em abril deste ano, o Conselho de Administração da empresa aprovou a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), primeira refinaria do Brasil, por US$ 1,65 bilhão ao Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes. Os petroleiros e movimentos populares refletem os possíveis impac-
tos desse desmonte e a necessidade de defender a Petrobrás e a soberania nacional. De acordo com o trabalho “Importância da Petrobras na Bahia: Possíveis impactos econômicos da política de desinvestimentos”, presente no Texto para Discussão nº 15, publicado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), a Bahia era o único estado do Brasil em que a Petrobras atuava em todos os segmentos de negócios. O estudo, publicado em março de 2020, relata as unidades da empresa e as respectivas áreas de atuação: “as usinas termelétricas Bahia I, Muricy, Rômulo Almeida e Arembepe, em Camaçari e a Usina Celso Furtado, em São Francisco do Conde; a Unidade de Operacional da Bahia (UO-BA), responsável pela exploração e produção de petróleo e gás natural; a Refinaria Landulpho Alves (RLAM); a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (FAFEN-BA); a Torre Pituba (EDIBA), unidade de suporte técnico administrativo e logístico das unidades do Norte e Nordeste; além das subsidiárias Petrobras Biocombustível (PBIO); Liquigás, responsável pelo engarrafamento, distribuição e comercialização de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), popu-
verificado diretamente com a exclusão da produção dos três setores. A maior parte da redução, 12,7%, seria verificada de forma indireta, nos demais setores da economia baiana”. [Precisa fazer um fechamento ou abertura para essas aspas. Talvez mudar a pontuação, por exemplo, acrescentar “:”, ou inserir um verbo como “pontuam, ressaltam etc]. Radiovaldo Costa, Diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro Bahia), explica que o desmonte da Petrobrás no estado da Bahia se iniciou a partir de 2017 e se intensificou a partir de 2019. “O desmonte se intensificou no governo Bolsonaro, com várias ações nos diversos segmentos de atuação da empresa no estado”. Costa relata que o estágio da venda das unidades da Petrobras no estado é avançado e as principais unidades da empresa na Bahia já estão à venda ou foram vendidas. “Como é o caso da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), dos campos de petróleo no estado. Das termelétricas e tam-
bém da própria FAFEN, que apesar de não ter sido vendida, foi arrendada, transferida para a iniciativa privada. Então é um dos estados onde esse processo está mais acelerado em todo o país”, afirma. O diretor do Sindipetro Bahia conta ainda que os petroleiros têm lutado muito, e com ações na grande imprensa alertando a sociedade dos riscos do processo de privatização para a sociedade e os prejuízos que vai trazer para os trabalhadores. “Realizamos mobilizações e greves desde 2018. Inclusive com participação de outras entidades da sociedade civil e também do movimento sindical. Com mobilização política envolvendo vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, governadores, senadores. Ou seja, temos feito todo um trabalho de mobilização política social e sindical buscando barrar esse processo”, ressalta Costa.
Soberania Nacional De acordo com Gabrielle Sodré, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Petrobrás, e suas unidades, são estratégicas para a garantia e manutenção da soberania nacional. “Manter sua administração em solo nacio-
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Petrobrás na Bahia já
ou estão à venda
“Defender a Petrobrás é defender o Brasil” “A Petrobrás representa um importante patrimônio para toda a população brasileira”, afirma Elder Reis, militante do Levante Popular da Juventude e diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE). Reis acredita que ter a Pe-
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nal e seu controle nas mãos do Estado brasileiro nos dá a capacidade de construir um plano nacional de desenvolvimento popular, com investimento em áreas como saúde, educação, segurança e tecnologia”. A militante explica que o plano de destruição da soberania nacional com a entrega de empresas estatais acontece há muito tempo, mas que há uma movimentação intensa nos últimos anos para que a venda dessas empresas aconteça. Sodré chama atenção também para a privatização de outras empresas estatais como a Eletrobrás e os Correios. “Aqui no estado da Bahia temos os exemplos da recente venda da RLAM para os Emirados Árabes, assim como as constantes tentativas de privatização da Embasa”, ressalta.
trobrás como uma empresa estatal significou muitos avanços em diversas dimensões da sociedade brasileira. ”Desde o maior investimento em saúde e educação, através da destinação de 100% dos royalties do pré-sal para serem investidos diretamente nessas áreas, até mesmo o significativo aumento dos postos de emprego, seja em refinarias, em plataformas de extração do petróleo, etc. Além do aumento expressivo no aumento da produção de conhecimento, ciência e tecnologia”, pontua. Para o diretor da UNE, o desmonte da Petrobrás significa mais do que a privatização de uma empresa pública gerida pelo Estado. “A privatização da Petrobrás representa um ataque à possibilidade de construirmos um Brasil comprometido com a superação das desigualdades sociais, com o desenvolvimento do seu povo e com a necessidade de construção de uma vida
digna para toda a população brasileira. Isso significa dizer que, sem a Petrobrás o que sobra é o aumento do desemprego, os sucessivos cortes no orçamento das universidades públicas, maior sucateamento da educação básica e mais desafios para uma atuação ampla e efetiva do SUS”, diz Reis. Segundo Gabrielle Sodré, a Petrobrás cumpre um papel fundamental de proporcionar a manutenção de programas sociais, desenvolvimento da indústria nacional e geração de empregos e renda. “Vivemos um momento de crise sanitária e social com intensa retirada de direitos e piora das condições de vida do povo, em que colocar comida na mesa, garantir a compra do gás de cozinha, ou pagar a conta de luz torna-se cada vez mais difícil, já não cabe mais no bolso do trabalhador ter o mínimo de dignidade para viver”, reitera. E completa: “Defender a per-
manência de nossas empresas estatais enquanto empresas públicas é mais que uma bandeira, é defender o povo brasileiro e nossa perspectiva de futuro e dias melhores”.
“O Petróleo é nosso” “A conquista da Petrobrás, em 1953, foi marcada por um amplo movimento de lutas e mobilizações sociais, protagonizadas pela juventude da época, através de movimentos sociais e entidades como a União Nacional dos Estudantes, através da construção da Campanha O Petróleo é Nosso. Por isso, defender a Petrobrás é defender o Brasil; é olhar para o passado para defender o nosso presente e, mais do que isso, lutar pelo nosso futuro”, diz Elder Reis. Reis relata que a juventude está na ponta de lança dos ata-
ques diários sofridos pela população, e que o projeto que a sociedade propõe para os jovens é de desemprego, fome e violência. “Se olharmos para os dados sobre o desemprego no país, percebemos que a juventude é a mais afetada. Os cortes no orçamento das universidades públicas expulsam a juventude desses espaços importantes de produção do conhecimento e formação profissional. Enquanto o governo federal desmonta a Petrobrás e vende os nossos direitos, conquistados com muita luta, esse mesmo governo apresenta para a juventude um projeto resumido a extermínio, violência policial, desemprego, fome e desamparo”, argumenta. Ele diz que defender que a Petrobrás continue funcionando como empresa estatal significa afirmar um projeto de vida para toda a juventude e todo o povo. “Um presente e um futuro onde seja possível manter os nossos sonhos vivos e, mais do que isso, onde seja possível realizá-los. Nós, jovens, somos o presente, mas também somos parte do futuro desse país. Portanto, temos uma responsabilidade coletiva de fazer desse país um lugar onde a fome, o desemprego e a dependência econômica não façam mais parte da nossa realidade. A Petrobrás, nosso grande patrimônio, é uma importante ferramenta para alcançarmos parte desse nosso sonho teimoso de um Brasil que olhe com atenção e cuidado para as necessidades do seu povo”, conclui.
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“Estamos seguindo firmes na defesa da soberania brasileira”, afirma Jairo Batista
Arquivo Pessoal
O coordenador geral do Sindipetro BA reflete sobre as questões trabalhistas e o papel do sindicato no enfrentamento à privatização da Petrobrás Elen Carvalho
E
m meio ao avanço da privatização da Petrobrás, sindicalistas, demais trabalhadoras e trabalhadores da estatal, bem como movimentos e organizações populares denunciam os ataques aos direitos trabalhistas e se organizam para frear o desmonte. Para falar sobre as questões trabalhistas e o papel do sindicato nesse contexto de ataques, conversamos com Jairo Batista, que exerce a função de coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros do estado da Bahia (Sindipetro BA) e entrou na Petrobras em 2004, na função de Inspetor de Segurança.
Brasil de Fato Bahia:
O cenário atualmente é de muita luta, muita resistência contra a entrega do patrimônio brasileiro
Qual o cenário da Petro- uma riqueza tão importante brás na Bahia atualmen- para o povo brasileiro, este? pecialmente o povo baiano,
para um estado que não é o Jairo Batista: Desde o Gol- brasileiro, que, no caso da pe de 2016, a Petrobrás vem RLAM, está sendo entregue passando por um processo aos Emirados Árabes Unide privatização muito forte e dos. O cenário atualmente é ele se acelera com a ascensão de muita luta, muita resistêndo governo Bolsonaro, a par- cia contra a entrega do patritir de 2019. A Bahia sempre mônio brasileiro. foi um estado privilegiado, do ponto de vista de ter todas BDF: Quais consequênas atividades do setor petro- cias já vêm sendo sentilífero funcionando. Isso tem das pelos trabalhadores sido entregue à iniciativa pri- de todos os níveis da esvada, e aquelas promessas de tatal? que isso melhoraria para o consumidor final não se con- J.B: O impacto é direto tanto cretiza, porque nós sabemos para os trabalhadores próque não é verdade. Temos prios da estatal quanto para uma reclamação no STF, vi- aqueles trabalhadores que sando obstar essa entrega de são prestadores de serviço.
A companhia vem se utilizando de assédio, criando um ambiente inóspito de trabalho, justamente para esses trabalhadores não terem outra opção senão pedir demissão. Isso em relação aos trabalhadores próprios. O próprio Ministério Público do Trabalho reconheceu que há, de fato, o uso do assédio como instrumento de gestão dentro da companhia. Em relação aos terceirizados, a partir dessa decisão de diminuir o espaço e atuação da Petrobras, 50% desses trabalhadores foram suprimidos. Isso causa impacto não só nas relações de trabalho, mas também para o estado da Bahia, para os municípios que têm a Petrobras como a sua principal empresa, o seu principal recebimento em termos de tributos.
BDF: Qual a importância da organização sindical e como o Sindipetro Bahia vem agindo para frear o processo de privatização? J.B: São diversas ações, que vão desde as mobilizações Arquivo Pessoal
A companhia vem se utilizando de assédio, criando um ambiente inóspito de trabalho, justamente para esses trabalhadores não terem outra opção senão pedir demissão
constantes nas bases até a greve, que, surpreendentemente, o judiciário atuou no sentido de coibir esse direito constitucional dos trabalhadores, mas não fez com que nós desistíssemos. Nós fizemos um recuo e continuamos no processo de mobilização junto à base. Temos um momento difícil também com a pandemia, já que não podemos nos aglomerar, então todas as atividades foram realizadas sob essa perspectiva de obedecer o que recomendam as autoridades de saúde. Fizemos mais de 16 audiências públicas nas Câmaras Municipais e algumas audiências públicas na Assembleia Legislativa do estado. Temos a esperança de ter a venda da refinaria suspensa, porque temos um corpo jurídico atuando junto ao TCU e ao STF. O enfrentamento se dá nas diversas trincheiras, sempre no sentido de preservar o que para nós é essencial para a construção de um país livre e soberano. A gestão da Petrobras contra-atacou de forma muito vil, punindo dirigentes sindicais e cortando salários de trabalhadores que participaram de alguma forma das atividades sindicais. Mas estamos seguindo firme na defesa da soberania brasileira, do reestabelecimento da democracia, na defesa dos empregos, dos direitos e, agora, também da vida e por mais vacina.
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Sindipetro Bahia se compromete com a defesa dos direitos dos trabalhadores do setor privado de petróleo
Sindipetro BA.
Radiovaldo Costa*
O
processo de transferência das atividades da Petrobrás para a iniciativa privada é hoje uma triste realidade na Bahia. Com o desmonte da estatal no estado, muitas unidades da Companhia foram vendidas ou colocadas à venda. Os Campos Terrestres de Petróleo e Gás são um exemplo do método predatório utilizado pela atual gestão da Petrobrás, visando a entrega do patrimônio público e a privatização desta grande petrolífera brasileira, que chegou a ser
a quarta maior empresa do mundo em valor de mercado, no ano de 2010, no governo Lula. Apesar dos lucros que ainda geram e da importância para os diversos municípios da Bahia, estes campos foram, podemos dizer, entregues às empresas privadas, que, hoje, festejam o bom negócio feito em detrimento do mal negócio para a população baiana. Já está em fase de transição a operação dos Campos Terrestres de Petróleo e Gás do Polo Rio Ventura (Água Grande, Bonsucesso, Fazenda Alto das Pedras, Pedrinhas, Pojuca, Rio Pojuca, Tapiranga e Tapiranga Norte) e Polo Recôncavo (Candeias e Dom João). Vendidos pela Petrobrás, os campos serão operados pela empresa comSindipetro BA
Botijões serão vendidos por R$50,00.
Da Redação*
A
direção do Sindipetro Bahia está preparando uma série de ações de venda de gás de cozinha a preço justo e audiências públicas em Salvador e também em diversas cidades do interior do esta-
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do para comemorar o aniversário de 68 anos da Petrobrás e discutir a atual politica de preços da estatal, que está levando aos sucessivos aumentos nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha. “A ação, além de ter um viés solidário devido à situação da maior parte da população
Petroleiro é todo aquele que trabalha na indústria do petróleo pradora, a 3R Petroleum. A direção do Sindipetro Bahia fez inúmeras mobilizações, audiências públicas e reuniões com prefeitos, deputados e senadores para tentar barrar o processo de venda destes campos devido aos prejuízos para os municípios, estado e para os trabalhadores, uma vez que vai haver redução de postos de trabalho e diminuição dos valores de
impostos pagos como ICMS, ISS e dos royalties. Mas, uma vez que o processo de venda foi efetivado, apesar da luta do Sindipetro para que isto não ocorresse, a entidade sindical vai cumprir o seu papel, como sempre fez, lutando pelos direitos destes trabalhadores. É preciso deixar claro que petroleiro não é só quem trabalha na Petrobrás, petroleiro é todo aquele que trabalha na indústria do petróleo. E estes trabalhadores petroleiros do setor privado vão continuar sendo representados pelo Sindipetro Bahia. Neste sentido, o sindicato já se antecipou e após negociação, fechou o Acordo Coletivo de Trabalho dos empregados da Pecom, empresa argentina contratada pela 3R Petroleum para operar alguns destes campos a partir dos
meses de junho e julho. Garantimos a contratação de mão de obra local e conseguimos avanços e garantia de direitos. Vamos continuar lutando para defender este segmento da categoria petroleira, que chega com salários mais baixos, menos direitos e sofre com a precarização no ambiente de trabalho, ficando mais expostos e sujeitos a acidentes do que os trabalhadores concursados. Eles terão a garantia de um sindicato combatente ao seu lado. Ao mesmo tempo continuaremos a nossa luta contra a privatização. E isto não é uma contradição. *Diretor de Comunicação do Sindipetro Bahia.
Sindipetro Bahia realiza ação de venda de gás de cozinha a preço justo em Salvador brasileira, que sofre com o desemprego, a disparada da inflação e os altos preços dos alimentos e gás de cozinha, tem também o objetivo de denunciar a política de Preço de Paridade e Importação (PPI), adotada pela atual gestão da Petrobrás e que é responsável pelos aumentos constantes nos preços dos derivados de petróleo”, explica o Diretor de Comunicação do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa. O PPI leva em conta o preço do barril de petróleo, o do dólar e os custos de importação, o que na pratica significa
dizer que a Petrobrás produz em real, mas vende os seus produtos ao consumidor em dólar. De janeiro a agosto desse ano a gestão da Petrobras subiu 51% a gasolina e 40% o gás de cozinha e o diesel, provocando um efeito cascata que vem sendo sentido pelo consumidor, que está pagando quase R$ 7,00 pelo litro da gasolina e mais de R$ 100,00 pelo botijão do gás de cozinha. “Ao contrário do que o governo Bolsonaro vem dizendo, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços) não é o culpado pelo aumento dos produtos derivados de petróleo. Esta é uma grande mentira que vem sendo contada. A culpa pelos altos preços do gás de cozinha, da gasolina e diesel é do governo Bolsonaro que insiste em manter a política do PPI na Petrobrás”, afirma Radiovaldo.
*Com informações da assessoria da imprensa do Sindipetro BA.
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Quem constrói a Petrobras no dia a dia
Conheça um pouco de algumas pessoas que trabalham na Petrobrás da Bahia
Elen Carvalho
Attila de Souza Barbosa é Técnico de Operações Pleno da Refinaria Landupho Alves e faz
15 anos de empresa em julho. O que o levou a trabalhar na Petrobras foi “a oportunidade de trabalhar em uma grande empresa estatal e a estabilidade econômica e emocional que isso daria a mim e à minha família”. Sobre a sua experiência de trabalho na empresa ele diz que “tem sido maravilhosa, tenho aprendido muito. A Petrobras é uma empresa que dá oportunidade das pessoas se desenvolverem muito tecnicamente e como cidadãos”. Quando perguntado sobre os impactos para a sua vida e da sua família caso a Petrobras seja privatizada, ele conta que “traz muitas incertezas e tira nossa tranquilidade. Coisas que não precisávamos nos preocupar, como nosso plano de previdência complementar (Petros) e nosso plano de saúde, patrimônios importantes para nós trabalhadores, passam a sofrer ameaças que tiram nossa tranquilidade, sem falar para aqueles que pretendem ficar na empresa e vão ter que forçosamente se submeterem a transferências de local de trabalho, podendo até mudar de estado e tendo que se separar de amigos e familiares em processo traumático, já que as empresas que vem assumindo as áreas da Petrobras não nos dão a segurança e condições de trabalho que a Petrobras nos dar”. Seu desejo diante de tudo isso é que “as instituições democráticas e republicanas do país atuem e interrompam esse processo de desmantelamento da maior e mais importante empresa do país, dado a sua importância estratégica na soberania e segurança energética do Brasil”.
Christiane Barroso Petersen da Silva é técnica na RLAM há 15 anos. O que a levou
a trabalhar na Petrobras foi a “melhoria de emprego, já que a Petrobras abriu concurso na área tecnológica, com boas condições de trabalho e garantias de direitos”. Ela afirma que sua experiência de trabalho na estatal “foi uma experiência profissional enriquecedora e que se complementava entre o crescimento pessoal e o crescimento da empresa e do Brasil. Vivi a emoção de estar numa das maiores empresas do mundo, que fazia a economia crescer, gerando lucro, emprego e renda. Além dos avanços científicos. Depois de 2016 as condições mudaram e começou uma política de privatização, um modelo que deixa de ter uma importância social e econômica para o Brasil”. Sobre os impactos da privatização para ela e sua família, ela conta que “impacta a todas as famílias brasileiras. Atinge a economia, a estabilidade emocional, com a diminuição de postos de trabalho e as transferências que muda a rotina das famílias”. O seu desejo é que “a conjuntura mude, através de novos entendimentos políticos, jurídicos e sociais, resgatando a maior empresa do Brasil, que deve se manter sendo do povo brasileiro”.
Expediente: O jornal Brasil de Fato circula periodicamente com edições regionais na Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mensalmente visibilizamos as vozes, as lutas e o cotidiano do povo baiano. Contra o monopólio da comunicação, na disputa das idéias e na construção de uma comunicação popular.
Conselho Editorial: Áttila Barbosa, Edmilson Barbosa, Gabriel Oliveira, Allan Lusttosa, José Carlos Zanetti, João Carlos Salles, Vitor Alcantara, Emiliano José, Luciene Fernandes, Elen Rebeca, Moisés Borges, Leomarcio Silva, Leila Santana, Sebastião Lopes, Beniezio Eduardo, Allan Yukio, Amanda Cunha, Lucivaldina Brito, Marival Guedes. Redação: Jamile Araújo e Elen Carvalho. Edição: Elen Carvalho (0005818/BA) Diagramação: Diva Braga
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