ENTREVISTA | 09
ESPORTES | 15
MOVIMENTO DJACIRA ARAÚJO Entre na dança! Se jogue nos benefícios desta atividade
Bahia
Educadora e militante do MST, conversa sobre a importância da luta das mulheres no contexto atual
arquivo pessoal
Gabriela Barros
Salvador, março de 2020 ano 3 edição 20 distribuição gratuita
Educar para quê?
Arquivo escola
Estreamos o especial ‘Diálogos’ falando sobre Educação Pública, que não é somente um direito essencial, mas base de transformação, desenvolvimento e consolidação de uma sociedade mais justa e democrática.APUB
BRASIL | 08
DENÚNCIA
Povos indígenas isolados estão sob ataque
OPINIÃO | 10
ARTIGO
Organizados, resistiremos
VARIEDADES | 14
SAÚDE
Novo Coronavírus: precauções e cuidados
Brasil de Fato BA
Salvador, março de 2020
OPINIÃO | 2 EDITORIAL
A cidade não adormece nos olhos das mulheres TRANSFORMAR. As histórias de inúmeras mulheres se cruzam e formam redes de solidariedade e lutas incansáveis de resistência “A noite não adormece nos olhos das mulheres, a lua fêmea, semelhante nossa, em vigília atenta vigia a nossa memória”. (Conceição Evaristo) um contexto de N mais de 300 anos de colonização, 400 anos de
escravidão indígena e negra, associado ao projeto de criminalização da periferia e constituição das cidades como o não lugar, “a noite não adormece nos olhos das mulheres” brasileiras. Ambulantes, cozinheiras, empregadas domésticas, professoras, donas de casa, ubers, serventes, desempregadas, entre tantas outras, produzindo a riqueza de nossas cidades, porém em condições degradantes de sobrevivência. Em muitos casos, em situações de trabalho es-
cravo disfarçado de trabalho doméstico, relação familiar ou conjugal, gratidão, trabalho terceirizado, hora extra, etc. Pesquisas estatísticas de finais de 2018 para cá mostram que a taxa populacional feminina com idade para trabalhar é de 52,4% e vem aumentando, porém apenas 45,6% deste grupo estão ocupadas. Nessa “ocupação” destaca-se especialmente a condição de subemprego. Quando analisamos esses mesmos dados entre mulheres negras e/ou pardas, o índice ultrapassa os dados percentuais de 50%, enquanto que o desemprego entre pessoas brancas obteve uma redução de 40% para 34,6%. Ao associarmos esses dados ao número alarmante de mulheres desempregadas no Brasil (mais de 54%), identificamos um fenômeno não muito
como muita dificuldade. Na situação de não ter para onde ir, a mulher sobe o morro porque a cidade a marginaliza, a proíbe de ir e vir, de decidir por seu próprio corpo, pelo destino de seu próprio lugar de trabalho e moradia, de decidir por sua existência. Contudo essa mulher vem se rebelando e entendendo que o desemprego, a carestia do transporte público, a falta de saneamento básico, a falta de moradia, sucateamento da Educação, Saúde e Cultura nada mais são do que barreiras à sua felicidade plena e rompe a luta contra esse estado de coisas. Olha a cidade e a reivindica, vai às ruas e perde o medo de enfrentar quem a violenta, porque constata que, ainda que a cidade tenha se consolidado com o capitalismo, ela (A Cidade) é de quem a produz:
Fazendo da marcha feminista a libertação de nossa nação novo: a racialização e feminização da pobreza. A cada contradição urbana que surge ou se aprofunda, se mostra ainda mais este rosto feminino visivelmente negro no Brasil, em sua maioria trabalhadoras desde os 4 anos de idade, muitas alcançando a vida adulta sem escolarização alguma ou que concluiu o ensino médio
Expediente Brasil de Fato BA O jornal Brasil de Fato circula periodicamente com edições regionais na Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Mensalmente visibilizamos as vozes, as lutas e o cotidiano do povo baiano. Contra o monopólio da comunicação, na disputa das idéias e na construção de uma comunicação popular. Conselho Editorial: Áttila Barbosa, Ivo Saraiva, Edmilson Barbosa, Gabriel Oliveira, Allan Lusttosa, José Carlos Zanetti, João Carlos Salles, Vitor Alcantara, Emiliano José, Luciene Fernandes, Elen Rebeca, Moisés Borges, Leomarcio Silva, Leila Santana, Sebastião Lopes, Beniezio Eduardo, Allan Yukio, Amanda Cunha, Lucivaldina Brito, Marival Guedes. Redação: Anaíra Lobo, Carolina Guimarães, Danielle da Gama, Gabriela Gardênia, Hugo Dantas, Jamile Araújo, Lorena Carneiro. Edição: Elen Carvalho (0005818/BA) Diagramação: Diva Braga Coordenação da distribuição: Thais Conceição Tiragem: 30.000 exemplares Contato/Publicidade: redacaobahia@brasildefato.com.br Rede Social: facebook.com/brasildefatobahia Contato/Publicidade: redacaobahia@brasildefato.com.br
da classe trabalhadora. E sendo a classe trabalhadora esse rosto feminino, então a cidade é da mulher e sendo dela, é seu direito lutar por este território e conquistá-lo. Lendo o mundo, as histórias de inúmeras mulheres se cruzam e formam redes de solidariedade e lutas incansáveis de resistência. Acumulam-se nos espaços auto-organizados, nos bairros, associações, movimentos sociais, na política partidária, na economia solidária, no campo e na cidade, levantando as bandeiras por direitos, vão alargando o horizonte, acolhendo mais camaradas, e fazendo da marcha feminista a libertação de nossa nação. E descobrindo que a liberdade é uma condição possível, a cidade não adormece nos olhos das mulheres. Charge
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Salvador, março de 2020
FRASE do mês Elas são um tesouro para a Bahia e o Brasil. Elas representam as mulheres negras, a luta contra a discriminação e pela liberdade Margareth Menezes sobre as Ganhadeiras de Itapuã, que foram tema do enredo da Viradouro, campeã do desfile das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro
Divulgação.
O que as mulheres querem defender nesse 8 de março, Dia Internacional da Mulher?
Q
luta das mulheA res inaugura o ano da melhor forma,
ueremos defender o direito de ir e vir não apenas nas ruas, mas em todo e qualquer espaço de decisão econômica, política, cultural, ambiental. Vivemos em uma sociedade que desenvolveu formas perversas de controle da vida da mulher no espaço doméstico. E nós estamos aqui pra lembrar que não há machismo nem racismo que irá nos impedir de acessar céus, mares, ruas, becos, praças ou parlamentos.
vecom luta e resistência. Vimos um contexto de autoritarismo, com um governo de projeto econômico ultra neoliberal, conservador e reacionário. As mulheres vão às ruas para defender a democracia, nossos direitos conquistados, para celebrar a nossa capacidade de resistir, para comunicar esperança e mudança.
Léia Silva, pedagoga
Lua Marina Moreira, professora
Nota
SERVIÇ0S
CRB segue a todo vapor no Alto Sertão ntre os dias 13 e 15 de março, será realizado em GuanamE bi, no Alto Sertão do estado, a 5ª etapa do Curso de Realidade Brasileira (CRB) - Turma Zé Vieira. O CRB é um projeto organi-
zado por movimentos populares voltado ao estudo de temas sobre a formação social e política do Brasil. Nesse módulo, o debate será sobre Feminismo Popular e contará com a assessoria da professora e advogada Lua Marina Moreira. O CRB é gratuito e será realizado no Centro de Agroecologia no Semiárido (CASA). Para mais informações, entre em contato através dos números 71 99263-8824 ou 77 99953-6339.
GERAL l 3
mandou
BEM
Carolina Antunes-PR
Cinema brasileiro nos holofotes pesar do corte no financiamenA to e das críticas do governo Bolsonaro à produção audiovisual bra-
sileira, o Brasil bateu o recorde de filmes selecionados para o Festival Internacional de Cinema de Berlim, um dos mais importantes do mundo. São 19 produções e coproduções brasileiras que serão exibidas e concorrem a prêmios como o Urso de Ouro, o principal do evento. Outra conquista é a presença de Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau, como jurado da premiação. Viva o cinema nacional!
mandou
MAL
John Macdougall - Afp
Democracia em vertigem olsonaro cometeu crime de resB ponsabilidade ao divulgar um vídeo convocando a população para
atos no dia 15 de março contra o Congresso Nacional. É o que avaliam especialistas, que afirmam que a ação do presidente fere a Constituição Federal. Logo após a denúncia do vídeo, partidos, parlamentares, intelectuais e movimentos populares repudiaram a ação de Bolsonaro, considerada como um atentado à democracia no país. Em nota, as centrais sindicais pedem que o STF e o Congresso ajam sobre o caso.
4 I CIDADES
Brasil de Fato BA
Salvador, março de 2020
Salvador 471 anos: qual cidade o soteropolitano quer? ANIVERSÁRIO. Leitores do Brasil de Fato Bahia falam sobre o que desejam para a primeira capital do Brasil Por Jamile Araújo
N
esse mês de março, a cidade de Salvador completa 471 anos de fundação. A primeira capital do Brasil possui, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, uma população estimada de 2.872.347 pessoas. A população soteropolitana é conhecida pela alegria e por fazer festa com tudo. Mas quem aqui vive bem sabe que é o trabalho e o jeito de levar a “vida dura” de maneira “leve” que marca esse povo. Em mais de quatro séculos de existência, Salvador se formou e se transformou do ponto de vista físico e cultural, e ainda está se transformando. A cidade que tem 82% da população autodeclarada negra, também segundo o IBGE, vem resistindo e lutando diante da ausência de um projeto de desenvolvimento que pense as necessidades dos habitantes da cidade. Nessa edição, ouvimos três leitores do Brasil de Fato que responderam à seguinte pergunta: “Qual Salvador você quer”? “A Salvador que eu quero é a que combata
Zeppelin de 1931
Fotografia aérea feita pelo Zeppelin de 1931
o analfabetismo e possibilite para sua população uma educação crítica e ao mesmo tempo de boa qualificação técnica. Que tenhamos uma rede de saúde que busque a prevenção das doenças, postos de saúde funcionando efetivamente para evitarmos filas nos hospitais. Que o transporte privilegie o coletivo como ônibus e metrô para evitar o caos dos engarrafamentos e, ao mesmo tempo, ofereça preços acessíveis para população ter acesso a esses meios de transporte. Quero uma Salvador que preserve sua história e cultura de resistência aos colonizadores, mas que projete o futuro olhando seus desafios para superá-los e termos uma cidade digna e humana”. Juan Gonçalves, Advogado “A cultura é um direito de todos e está assegurado na Constituição. É um dos meios que as pessoas têm para obter mais conhecimento sobre o local onde vive. Observamos vários pontos culturais na cidade do Salvador, mas que ainda não são acessíveis para todos. Pois todos os pontos es-
tão localizados em área mais centrais. Quem mora afastado do centro não tem acesso a esses pontos. É preciso que, ao pensar em Cultura, se pense na realidade cultural da cidade, como e onde vivem as pessoas, a condição econômica, social, cultural para que, assim, todos possam ter acesso a cultura de qua-
Jamile Araújo
lidade. Que seja pensado espaços voltados para arte não só no centro da cidade, mas nos bairros distantes. Que Salvador tenha mais espaços acessíveis para arte, pois ela é de extrema importância na vida das pessoas, tem papel transformador. Através da arte podemos mudar várias realidades”. Maurício Lobo, Estudante “Uma Salvador com
Salvador em 1931 - Fotografia Aérea de Alfred Buckham
melhor transporte público, com mais segurança, melhores assentos e vale ressaltar os ônibus com ar condicionado e troca da frota antiga por uma mais nova, pois tem muito ônibus sujo e cheio de baratas. Uma cidade que tenha lazer para a população. Hoje não tem opões novas de lazer. Fora a praias, só temos o Parque da Cidade e o de Pituaçu. Precisamos de mais opções gratuitas para população. A cidade só movimenta em período de carnaval. Quero Salvador com mais opções de lazer que sejam acessíveis aos bolsos”. Juliane Amorim, Auxiliar Administrativa “Quero a Salvador que ainda não existe: uma cidade com o Sistema Único de Saúde -SUS fortalecido, abrangente, com atendimento de qualidade para a população, que tanto precisa - dentro de sua diversidade: a população de rua, a população Lgbt, o povo preto, as mulheres, as e os idosos, todas e todos na sua diversidade, sendo atendidas sem demoras e com muito respeito a cada especificidade. Uma cidade onde a informação e a defesa pelo SUS, público, gratuito e universal, vibram forte e valem mais do que as festas”.
Série Especial
Diálogos sobre Eduação |5
Salvador, março de 2020
Série especial Diálogos SOBRe Educação
este mês de março, o Brasil de Fato Bahia estreia o encarte especial ‘Diálogos’ que tem como objetivo convidar você, leitor, leitora, N a refletir conosco sobre alguns temas fundamentais para a construção da sociedade na qual gostaríamos de viver. Não temos a pretensão de oferecer as saídas ou respostas prontas, mas vamos colocar algumas perguntas que acreditamos serem pertinentes; nesse sen-
tido, estreamos com o tema da Educação Pública, que não é somente um direito essencial, mas base de transformação, desenvolvimento e consolidação de uma sociedade mais justa e democrática.
Educar para quê?
Arquivo escola
PROJETOS. Com o acirramento das disputas econômicas e ideológicas no campo da educação, devemos nos perguntar: o que queremos das nossas escolas? Anaíra Lobo e Carolina Guimarães
o final do ano pasN sado, uma pesquisa Datafolha revelou que
cerca de 70% da população brasileira defendia a total gratuidade do sistema educacional, da creche à universidade. A Constituição Federal de 1988 estabelece que a educação é um direito social e é dever do Estado proporcionar os meios para o seu acesso. Esse dever está regulamentado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que afirma que o Estado brasileiro é responsável pela Educação Básica, que inclui a pré-esco-
la, o ensino fundamental e o ensino médio. Todos esses dados parecem indicar que existe um consenso sobre a importância da educação e a quem cabe provê-la, mas não é assim que tem acontecido na prática. Apesar de, em 2014, a então presidenta Dilma Rousseff ter sancionado o Plano Nacional de Educação (PNE) – fruto de amplo debate e mobilização da sociedade civil e das entidades ligadas ao setor – que objetiva ampliar o acesso e melhorar a qualidade da educação no país, existe uma imensa dificuldade em garantir o seu cumprimento.
O PNE estabelece 20 metas educacionais a serem cumpridas ao longo de 10 anos, porém, um estudo realizado em 2019 pela Campanha Nacio-
nal pelo Direito à Educação, revelou que 16 delas estavam estagnadas e apenas quatro foram parcialmente cumpridas. Agravando esse cenário,
Esses dados parecem indicar que existe um consenso sobre a importância da educação e a quem cabe provê-la, mas não é assim que tem acontecido na prática
a diminuição progressiva do investimento público imposta com a aprovação da Emenda Constitucional do teto de gastos, em 2016, a atual política de asfixia financeira, tanto na educação básica quanto na superior, e o clima de intimidação com os profissionais da educação, acusados de “doutrinadores”. Foi a partir dessas inquietações, que a reportagem conversou com as professoras Uilma Amazonas, Marta Lícia de Jesus e Zuza Jaegermann buscando traçar um panorama sobre quais os desafios, contradições e propostas que elas en-
Série Especial
Salvador, março 2020
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Marta Lícia de Jesus Foto Carolina Guimarães
xergam para a educação brasileira e baiana, a partir de suas diversas vivências. Docente da Faculdade de Educação da UFBA, a professora Uilma atuou no Programa de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); Marta Lícia, também do quadro da Faced/UFBA, trabalha com formação de professores e políticas educacionais, além de ser dirigente do Sindicato de professores das instituições federais de ensino superior da Bahia (Apub); a professora de sociologia, Zuza é educadora do Movimento Sem Terra (MST) e membro da coordenação coletiva da Escola Técnica em Agroecologia Luana Carvalho, uma iniciativa do Movimento cujo projeto pedagógico e manutenção são uma experiência de organização coletiva.
Quem ensina? A Meta nº15 do PNE visa garantir que até 2024 “todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam”. De acordo com o Observatório do PNE, em
O Fundeb entrou em vigor em 2007 e avançou no sentido da ampliação do direito à educação 2018, esse índice era de 79,9% no Brasil e 67,2% na Bahia, ou seja, ainda persistem professores sem formação específica atuando nas salas de aula. A melhoria desse índice passava pelo Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), um programa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), uma fundação ligada ao Ministério da Educação. O Programa articula as Universidades Públicas e as secretarias de educação dos estados para atender às necessidades de formação de professores. No site da CAPES, o último edital do Parfor é de 2018. “A gente considerava que [o Par-
Uilma Amazonas Foto Anaíra Lobo
for] conseguia dar um salto qualitativo na ideia de formação de professores, articulado nacionalmente com as metas e, principalmente, fechando a relação dos professores que atuam na escola pública serem formados em universidades públicas”, explica Marta Lícia. “E depois diz que quer valorizar a educação básica...”, diz Uilma. E continua: “acabar com essa política de formação de professor vai reduzindo mesmo o alcance dessa qualidade na educação básica. Porque, por exemplo, a Bahia ainda tem professores sem formação atuando em sala de aula, então por que desativou o programa? Que avaliação foi feita?”, questiona.
Quem financia? Atualmente, a principal política de financiamento para Educação Básica, que foi resultado dos movimentos sociais ligados à educação, é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), formado por recursos provenientes dos impostos e transferências dos estados, distrito federal, municípios e com complementação da União. Antes Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), o Fundeb entrou em vigor em 2007 e avançou no sentido da ampliação
Zuza Jaegermann Foto Arquivo escola
do direito à educação, a partir da compreensão de que o poder público era responsável por mais de uma etapa do sistema educacional. Com a Proposta de Emenda à Constituição 15/2015, atualmente em tramitação, se objetiva tornar o Fundo em uma política de Estado, já que este tem validade até dezembro deste ano, e aumentar e o valor oriundo da União, que hoje é de 10% do valor correspondente à contribuição total dos estados e municípios. Apesar da importância da PEC para garantir o financiamento da educação, há críticas sobre o texto que recua em diversos aspectos na concepção desta política. O relatório da Comissão que analisa a PEC teve forte influência do lobby de empreArquivo escola
Série Especial
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sários da educação privada e apresenta pontos problemáticos como a inclusão do Salário Educação – que é uma fonte extra de recursos para o sistema educacional – ao valor total do Fundo, a fragilização do Custo Aluno Qualidade (um dispositivo que calcula o investimento necessário por aluno), que seria regulamento através de Lei complementar e vinculação da transferência de recursos a resultados aferidos a partir de um sistema de avaliação geral, implantando uma “meritocracia” que desconsidera as desigualdades regionais. “Todo mundo precisa melhorar, a educação é um projeto de nação, a escola pública precisa melhorar, mas a polêmica é que eles querem introduzir uma competição na educação pública, deixando de considerar a diversidade”, diz Marta. Outra meta fundamental para a garantia do financiamento, a nº 20 do PNE, que estabelece a ampliação do investimento público em educação de forma a atingir o equivalente a 10% do PIB até 2024, está praticamente inviabilizada com o teto dos gastos. Políticas que tratavam de modalidades ou grupos sociais mais específicos estão, quando não extremamente ameaçados,
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Salvador, março de 2020
Tem vários desafios nessa transição de uma escola tradicional para uma escola emancipatória, democrática, libertadora, que forme a pessoa de maneira plena sendo extinguidos. É o caso do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que através do decreto nº 20.252 de 20 de fevereiro de 2020 extingue a Coordenação responsável pela Educação do Campo da estrutura do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). “Essa relação com o poder público é construída a base de pressões, negociações e luta constante para conseguir garantir realmente o direito à educação pública. Todo início de ano começamos sem equipe, sem serviços gerais, sem merenda, sem livro, sem material didático. A gente demora meses para conseguir o básico que garante o direito. Se não fosse a comunidade que cola junto para poder ajudar a limpar a escola, para fazer a merenda, para trazer alimento,
se não fosse a equipe de educadoras militantes que doam força do trabalho todo ano e ao longo do ano, realmente isso não seria possível”, afirma Zuza.
Quem decide o que ensinar? Ainda que as escolas tivessem o financiamento adequado, o debate em torno da educação não deixaria de passar pelo que muita gente chama hoje de “pauta ideológica”. A discussão em torno do “conteúdo” a ser ensinado nas escolas não é nova – foram anos necessários para a aprovação, em 2018, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento que norteia a formulação dos currículos escolares por todo o país, estabele-
cendo as competências e habilidades mínimas que os estudantes devem desenvolver. Apesar de um avanço, a BNCC não escapou das disputas sobre o que a escola “pode” ou “não pode” falar, como questões de gênero e diversidade – no final de 2017, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação denunciou à ONU os efeitos do projeto “Escola Sem Partido” e a retirada, imposta pelo governo Temer, dos termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” do texto da BNCC. A Reforma do Ensino Médio, priorizando a carga horária de português e matemática, foi outra demonstração de uma visão conservadora para a educação. Hoje, o governo Bolsonaro aprofunda essa disputa com a narrativa da “doutrinação de esquerda” em sala de aula e uma suposta necessidade de proteção das crianças e jovens de uma educação “ideológica” – como se alguma neutralidade fosse possível nesse caso. “Essa discussão vai resvalar na mudança da política da definição dos livros didáticos e incidir diretamente no conteúdo da formação de professores. Isso tem a ver com conteúdos não só de Direitos Humanos, mas conteúdos identitários que vão, na verdade, conformar o nosso tipo de memória em relação a quem somos e quem desejamos ser, com projeto de nação”, aponta Marta referindo-se ainda ao momento de revisionismo em relação a temas da história nacional, como escravidão e ditadura militar, por exemplo. Importante ressaltar que essa discussão “ideológica” não está dissociada da econômica – o mercado da produção de livros didáticos movimenta, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) cerca de R$ 2 bilhões ao ano.
E quais as alternativas? A professora Zuza reflete a partir da experiência da Escola Luana Carvalho, que funciona desde 2015, após a ocupação do prédio destinado à escola por famílias camponesas que colocaram em prática a rotina escolar junto com os educadores e educadoras do MST. “A gente percebe que quanto mais conseguimos envolver os educadores nesse projeto Político e Pedagógico (PPP) da escola do campo, mais a gente fortalece o coletivo e tem a mínima autonomia”, diz. Para a professora do MST, há brechas para trabalhar um conteúdo contextualizado ainda que tenha que dialogar com a Base. “Temos algumas experiências, como no extremo sul da Bahia, onde a questão da agroecologia conseguiu ser inserida”. Após 5 anos de mobilização, a Escola atua em toda a Educação Básica e conta com uma parceria da Universidade Estadual da Bahia na promoção do ensino pré-universitário. “A gente tem vários desafios nessa transição de uma escola tradicional para uma escola emancipatória, democrática, libertadora, que forme a pessoa de maneira plena”, afirma Zuza. Para Marta, é preciso desconstruir a ideia de que a ampliação da participação e convivência com a diversidade prejudicaria a disciplina, a ordem necessária ao ambiente escolar. “Tem que ter disciplina para participar, tem disciplina para ter uma escola democrática. Olha, se alfabetiza sim, passa na universidade sim, entende? Sem com isso perder o seu processo de humanização, perder sua capacidade de criticar a sociedade que está aí, perder a capacidade de saber a que classe você pertence e que tipo de luta você vai ter que empreender”, conclui.
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Brasil de Fato BA
Salvador, março de 2020
O desmatamento na Amazônia é maior em territórios com povos Gleilson Miranda/Secretaria de Comunicação do Estado do Acre
DENÚNCIA. Brasil é alvo de denúncia na ONU por risco elevado de genocídio dessa população
das com registros de isolados (37 Terras Indígenas, sete Unidades de Conservação federais e cinco Unidades de Conservação estaduais) somam 474.394 hectares.
Redação
urante o primeiro D ano do governo de Jair Bolsonaro (sem par-
tido) o desmatamento na Amazônia foi maior em territórios com a presença de povos indígenas isolados. Segundo dados oficiais do sistema Prodes (Inpe), o desmatamento nas Terras Indígenas em 2019 foi 80% maior em comparação com o ano de 2018. Já
Desmatamento na Amazônia é maior em territórios com povos indígenas isolados.
Brasil, e os crescentes riscos de etnocídios (quando a cultura tradicional é destruída) e de genocídios dessas populações”, informou o ISA em nota distribuída à imprensa. “As mudanças legislativas e atos executivos e administrativos estabelecidos até o momento indicam a precarização do aparato nacional para a proteção dos povos indígenas no Brasil, o que reResulta em uma ameaça sulta em uma ameaça didireta ao direito à vida, reta ao direito à vida, integridade, cultura, proprieintegridade, cultura, dade, liberdade e meio propriedade, liberdade e ambiente sadio de milhares de pessoas”, diz o domeio ambiente sadio de cumento que apresenta milhares de pessoas uma série de medidas a serem tomadas pelo Estanos territórios com a pre- em relatório do Instituto do brasileiro para garantir sença de povos indígenas Socioambiental (ISA) que a sobrevivência dessa poisolados o desmatamento foi apresentado na terça- pulação. -feira (3) na Comissão de aumentou em 113%. Desmatamento em Os dados do desmata- Direitos Humanos da Ormento se baseiam no Pro- ganização das Nações áreas com povos indígenas isolados des, do Instituto Nacio- Unidas (ONU) com o obnal de Pesquisas Espaciais jetivo de denunciar “a fráDas 54 Terras Indígenas (Inpe). O levantamento gil situação dos povos inaponta que seis Terras In- dígenas em isolamento no com registros de povos dígenas que possuem dez registros de povos indígenas isolados estão entre os 13 territórios que respondem por 90% do desmatamento registrado em 2019 nas TIs localizadas na Amazônia brasileira. Hoje, são 115 registros de grupos indígenas isolados no Brasil, 28 deles confirmados. Os números constam
indígenas isolados (83 registros), 37 delas registram desmatamentos que somaram, até julho de 2019, 336 mil hectares. Em 2019, o desmatamento nessas Terras Indígenas foi 113% em comparação com 2018 e 363% maior em comparação com 2017. Das nove Unidades de Conservação federais com registros de grupos isolados (nove registros), sete registram desmatamentos que já consumiram mais de 136 mil hectares. Em 2019, o desmatamento nessas áreas foi 98% maior em comparação com 2018. Nas sete Unidades de Conservação estaduais com registros de grupos isolados (oito registros), cinco registram um desmatamento acumulado de 1.320,4 hectares. Em 2019, o desmatamento nas Unidades de Conservação estaduais foi 4.693% maior em comparação com 2018. No total, o desmatamento acumulado até julho de 2019 nas 50 áreas protegi-
Pastor na chefia de povos isolados da Funai O relatório aponta que o desmonte nas políticas ambientais durante o governo Bolsonaro são responsáveis por agravar a situação dos povos isolados e a Fundação Nacional do Índio (Funai) é apontada como o “órgão que apresenta a pior situação” dentro desse quadro. “As atividades estão praticamente paralisadas com os cortes orçamentários e a alteração de quadros e coordenações. A instituição sofre influência de alas religiosas e ruralistas, como foi o caso da nomeação de um missionário para a Coordenação Geral dos Povos Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) e que pode colocar em risco a política de não contato, que nos últimos 30 anos evitou epidemias e massacres dos povos isolados”, diz o documento. A nomeação do pastor Ricardo Lopes Dias para essa coordenação é alvo de uma ação civil pública por parte do Ministério Público Federal (MPF). Os procuradores que assinam ação afirmam que o cargo ocupado por Dias permite acesso a dados sobre identificação e localização dos povos em isolamento voluntário e de recente contato que podem ser utilizados por missões evangelizadoras.
Salvador, março de 2020
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ENTREVISTA | 9
Por que precisamos do feminismo? 8 DE MARÇO. Djacira Araújo, educadora e militante do MST, conversa sobre a importância da luta das mulheres no contexto atual
Arquivo pessoal.
Jamile Araújo
Djacira: É necessário in- safios das mulheres tensificar a prática da edu- do campo? cação feminista que aporta Djacira: Estamos viven-
N
o mês de março, marcado pelo Dia Internacional de Luta das Mulheres, entrevistamos Djacira Araújo, educadora da Escola Nacional Florestan Fernandes e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sobre os desafios das mulheres brasileiras. Confira:
BdF BA: É possível pensar uma sociedade sem violência e com equidade entre mulheres e homens? Djacira: É uma questão bastante complexa, porque requer também questionar e enfrentar o grave problema civilizatório que é a opressão de gênero e construir ações capazes de enfrentar e combater a violência contra as mulheres e o feminicídio; esses horrendos males que resultam de uma racionalidade individualista, patriarcal e racista, que se impõe com a supremacia de um certo tipo de indivíduo como ser superior. Os corpos femininos e a vida das mulheres estão profundamente
Luta feminista revela que a desigualdade tem raízes históricas, culturais e econômicas marcados pela violência patriarcal e classista que lhes é imposta cotidianamente. No entanto, nós feministas acreditamos que é possível pensar uma sociedade sem violência. Para tanto, a luta feminista revela que a desigualdade tem raízes históricas, culturais e econômicas, e que a opressão de gênero é resultante da forma que as sociedades organizam o seu desenvolvimento e sua reprodução.
aos homens e mulheres novas forma de se relacionar, novos hábitos e comportamentos que se alicerçam nos valores humanistas e socialistas. É preciso combater os dogmas religiosos os quais justificam e fortalecem a violência psicológica contra as mulheres. A educação popular e feminista deve pautar novas relações entre as pessoas, educando as mulheres para luta contra opressão e fortalecendo a solidariedade e a coletividade, valorizando mais as pessoas e não os objetos. A educação feminista é uma concepção de vida que valoriza o outro, combatendo os preconceitos, as desigualdades, opressões e todas as formas de violência, e essa educação só pode ser efetivada com o protagonismo das mulheres na luta e não fora da luta da classe trabalhadora.
BdF BA: Por que pensar uma educação feminista e reconstruir práticas e relações de BdF BA: Quais são gênero? os principais de-
ciando a maior investida de desterritorialização dos povos do campo, desde a colonização de 1500. Hoje tanto os/as sem terra quanto os/as indígenas, os/as quilombolas, os/as pequenos/as agricultores/ as estão sob ataques do agro, hidro e minério negócio. As mulheres do campo seguem em resistência, lutando pela terra, defendendo os territórios conquista-
Educação feminista é uma concepção de vida que valoriza o outro, combatendo os preconceitos, as desigualdades, opressões
dos, denunciando a extinção das políticas públicas e dos programas de educação no campo, denunciando o fechamento das escolas, eliminação das políticas de créditos para a agricultura familiar, a privatização e estrangeirização das nossas terras, dos minérios, a liberação do uso dos agrotóxicos e o consequente envenenamento da terra, da água e dos alimentos provocados pelo agronegócio. Elas vem denunciando o aumento da violência em função do machismo e o racismo estrutural do estado brasileiro, que tem um braço armado no campo que são as milícias financiadas pelos ruralistas e estimuladas pelo governo de Bolsonaro. Milícias essas que vem promovendo os assassinatos e as chacinas no campo.
BdF BA: Como as mulheres do campo estão se preparando para as lutas do mês de março? Djacira: Diante do cená-
rio de agravamento da violência contra as mulheres e os movimentos populares do campo é que nós mulheres estamos internamente fortalecendo a auto-organização, o trabalho de base e nos preparando para retomada das lutas de massa. A partir de março estaremos mobilizadas em todo o Brasil, pautando a luta pela reforma agrária, a defesa dos nossos territórios, realizando ocupação de terras e nos somando a luta das mulheres no dia 8 de Março em defesa da democracia, da soberania contra a violência e o feminicídio e exigindo a punição aos mandantes e assassinos de Marielle Franco assassinada no dia 14 de março de 2018.
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Brasil de Fato BA
Salvador, março de 2020
Artigo
O SEGREDO QUE AS ÁGUAS NOS CONTAM Caroline Anice*
e pararmos para S escutar, as águas nos contam segredos
e carregam a sabedoria ancestral do nosso povo. É no movimento das águas que aprendemos sobre o movimento da vida. Nós somos água, principalmente água. Só é possível vida porque existe água e só há calor onde existe umidade. Umidade nos lembra da humildade, tão valorosa para a gente de nossas terras, que sustenta a vida embai-
xo de sol quente, suor e trabalho. Sem humildade, o egoísmo e a ignorância reinam, destruindo a possibilidade de uma realidade onde o respeito seja a base da construção de um outro mundo. No balanço das ondas do mar, as águas nos exigem coragem para atacar e força o suficiente para chegar onde queremos, mas nos dizem também que, por vezes, é necessário aprender a retroceder, recuar. As águas nos ensinam a mergulhar, afirmam a capacidade que temos de ir lá fundo e voltar. Não é possível viver ver-
Artigo
As águas nos ensinam a mergulhar, afirmam a capacidade que temos de ir lá fundo e voltar dadeiramente apenas na superficialidade: é necessário conhecer mares profundos, inima-
gináveis e também alimentar as fantasias que os sonhos despertam, sem viver apenas nelas. A natureza não é como os nossos inimigos: as águas turvas de um rio não devem nos causar medo mas despertar em nós o desejo pela entrega aos mistérios da vida e a sabedoria para enfrentar o desconhecido. Se me perguntassem que elemento representa a nossa América Latina, diria, sem dúvidas, que são as águas. A falta de silêncio do mar é o grito e a rebeldia de um povo que afirma a necessidade de ultrapassar a linha do horizonte daqueles sem fé, sem
amor e sem verdade que queremos nos dominar. As águas sabem também ser revoltas, invadir e destruir cidades inteiras de submissão para afogar os planos daqueles que nos querem sem vida. As águas abram os caminhos para darmos os passos mais coerentes, justos e necessários para curar e transformar a nós mesmas, nós mesmos, a sociedade e o mundo em que vivemos. Viva o poder das águas! Escritora, psicóloga e militante do Levante Popular da Juventude.
ORGANIZADOS, RESISTIREMOS Jairo Batista*
D
esde 2016, já era claro que entraríamos num momento histórico muito difícil para a classe trabalhadora. A submissão do atual governo aos interesses externos e do grande capital tem resultado em um verdadeiro massacre aos direitos do povo brasileiro. A situação da Petrobras é emblemática. A política de preços que atrela ao mercado internacional (bolsas de valores, dólar), os preços dos derivados de petróleo (gás de cozinha, ga-
solina, diesel e outros) tem ido na contramão dos interesses nacional. A outra ponta dessa engrenagem é a extinção de postos de trabalhos. As unidades operacionais têm diminuído sua capacidade de carga, motivada pela decisão do Governo Federal de importar gasolina, diesel e outros produtos que poderiam ser fabricados aqui no Brasil. A falsa alegação de não dar lucros é desmentida com facilidade, quando podemos constatar que a UO-BA (Unidade Operacional da Bahia), por exemplo, é um negócio de 3,5 bilhões de reais por ano. O processo de desmonte e privatização
A classe trabalhadora tem reagido em nosso Estado segue acelerado. A RLAM já está em fase avançada de negociação.Transpetro, Termoelétricas, Liquigás, e PBIO devem seguir esse mesmo destino. O prédio administrativo da Petrobras na Bahia contava, nos últimos meses de 2019, com 3.500 trabalhadores. Os planos da estatal são de transferir esses trabalhadores para
outros estados, ficando apenas alguns, temporariamente, na Bahia. Já os cerca de 2 mil trabalhadores terceirizados devem ser demitidos sumariamente. Em resumo, somente no setor petroleiro, na Bahia, nos últimos seis meses, temos mais de 3.000 demissões de terceirizados e mais de 600 transferências compulsórias e desligamentos de trabalhadores próprios. Seguramente, isso gera forte impacto na vida de milhares de famílias, bem como na economia do nosso Estado. A classe trabalhadora tem reagido. Seguiremos na luta, a exemplo da greve que durou
20 dias, onde trabalhadores petroleiros cruzaram os braços com muita unidade e organização. Fizemos com que a atual gestão da Petrobras sentasse à mesa para ouvir os trabalhadores e negociar. Faremos os enfrentamentos necessários pela soberania brasileira, contra as privatizações e desmonte do sistema Petrobras e para o restabelecimento o Estado Democrático de Direito, calcado na dignidade da pessoa humana conforme o legislador constituinte estabeleceu. *Inspetor de segurança na Petrobras e Coordenador geral no Sindpetro BA.
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CULTURA | 11
CRIA: uma experiência de Teatro para transformação da realidade do a escola, incentivar o consumo à cultura, espaços coletivos, em que eles possam descobrir sua voz e representar”, pontua.
ARTEEDUCAÇÃO. Em 26 anos de trabalho, ONG transforma a vida de jovens negros de comunidades em Salvador através da arte
Foi o teatro que me formou cidadã
Jamile Araújo
arte está presente A em nosso dia a dia de diversas formas, mas
uma reflexão importante é que não se trata apenas de entretenimento. Mais que nos divertir, música, pintura, escultura, dança, teatro e outras linguagens artísticas pode transformar a realidade. Uma experiência é a do Centro de Referência Integral de Adolescentes CRIA, organização não governamental sem fins lucrativos, que existe desde 1994. O CRIA foi criado pela professora Maria Eugênia Millet, e trabalha com adolescentes a partir da metodologia da arte-educação, mais especificamente através do teatro. Tem como objetivo central a garantia de direitos de crianças e adolescentes da cidade de Salvador. Carla Lopes, Diretora de Artes do Centro de Referência, diz que a atuação do CRIA está focada em comunidades populares, hoje com 60 jovens na casa, divididos em três grupos de teatro, cada grupo com uma temáti-
Arte-educação é baseada nos princípios de acolhimento, escuta, orientação e revelação
ca específica, como enfrentamento ao extermínio da juventude negra, educação para a diversidade, e enfrentamento ao tráfico de seres humanos para fins sexuais. “A gente procura ‘cercar’ o adolescente, conhecê-lo e trabalhar em diversas dimensões, porque a educação é um processo que não é só o momento em que está na sala, tenta estar perto da família, acompanhan-
A diretora explica que a metodologia de arte-educação é baseada nos princípios de acolhimento, escuta, orientação e revelação. “Após a identificação, ele passa a integrar o CRIA, a gente acolhe, tem a escuta sensível, orientação e revelação através da arte, tudo isso num processo de teatro, de jogos, dinâmicas, pesquisas, trabalho, muito exercício de fala, de visitação a espaços públicos, museus, saídas culturais, teatro, cinema, pra que ele possa ter a possibilidade de escolha”, ressalta. São 26 anos de trabalho do CRIA e os resultados são significativos. Jovens que passaram pelo centro, ingressaram em diversas áreas seja na carreira artística, teatro, TV, música, educadores em escolas públicas, grupos firmados de atuação comunitária em diversos bairros, número alto de jovens ingressando, permanecendo e concluindo cursos em universidades e faculdades. É o exemplo de Fernanda Silva Nogueira, atriz e professora, que ingressou no CRIA com
14 anos, e essa foi a primeira vez que subiu em um palco ‘oficial’ de teatro. “Eu iniciei a minha carreira no CRIA. Foi o lugar onde aprendi a fazer teatro, a estar em cena. E nunca mais saí. Com o teatro do CRIA eu construí meu projeto de vida, descobri a minha identidade de mulher, negra, nordestina, lésbica, candomblecista. Aprendi a conviver em grupo, a respeitar as diferenças e o tempo do outro, segredo das relações interpessoais. Foi o teatro que me formou cidadã”, destaca. A experiência de Fernanda no CRIA desenhou o seu futuro. “Com 18 entrei no curso de licenciatura em teatro na UFBA. A primeira da família numa universidade pública. Fui ser a professora que comecei a ser no CRIA, já que uma das contrapartidas da instituição era multiplicar os conhecimentos apreendidos lá dentro. E assim eu fazia na minha comunidade e logo depois nas escolas em que comecei a estagiar. Me formei com 21 e voltei ao CRIA como arte educadora. Agora com 29 anos estou no último ano do mestrado no programa de pós graduação em artes cênicas da UFBA”, conclui. Carla enfatiza ainda que o maior desafio do CRIA hoje é a sustentação do projeto. “Os apoios estão ‘fugindo’ cada vez mais, parece que não é interessante apoiar esse tipo de trabalho empoderador, focado e centrado no jovem. A gente tem levado com muita dificuldade e num processo de troca de governo pra cá tem ficado cada vez mais difícil fazer arte-educação com essa população”, finaliza.
12 | CULTURA
O que
tu indica
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BIBLIOTECAS PÚBLICAS
s bibliotecas públicas são, normalmente, usadas como espaços para pesquisas e estudos por quem prefere lugares silenciosos e/ou A não dispõem de local apropriado em casa ou nas escolas para estudar. No entanto, nas bibliotecas também é possível ampliar os conhecimentos através de outras ferramentas que não apenas os livros. A exemplo da ação realizada pelas bibliotecas públicas da Bahia, que
estão promovendo uma série de exposições, visando, não só uma maior integração entre público e unidade como também, trazer uma diferente abordagem das obras literárias, além de levantar debates acerca da cultura local. Por isso, fizemos um pequeno apanhado do que você pode aproveitar durante o mês de março ao visitar a Biblioteca Central do Estado da Bahia, a mais antiga da América Latina e primeira biblioteca pública do Brasil. Localizada na rua General Labatut, 27, Barris, em Salvador. Lembrando que todas as atividades listadas são gratuitas.
Exposição Biobibliográfica Viva Carolina Maria de Jesus, 106 anos 2 a 31 de março, 8h30 às 21h (segunda a sexta) e 8h30 às 13h (sábado). Divulgação.
A exposição conta com seis painéis que retratam a vida e a obra da escritora Carolina Maria de Jesus, catadora de papel, moradora de uma favela no Canindé, zona norte de São Paulo. É considerada uma das mais importantes autoras contemporâneas do Brasil, tendo como destaque o livro Quarto de Despejo: diário de uma favelada, publicado em 1960. Local: Foyer – Térreo
Exposição Conceitos de Raridade
Exposição bibliográfica Castro Alves vive
Abordagem histórica sob a luz da análise bibliológica.
2 a 31 de março, 8h30 às 18h (segunda a sexta) Exposição de livros raros e valiosos do poeta Antonio Frederico de Castro Alves, mais conhecido apenas por Castro Alves, que teve seu trabalho marcado pela temática do combate à escravidão. O poeta dos escravos publicou seu primeiro trabalho em 1863, intitulado “A Primavera”.
2 a 31 de março, 8h30 às 18h (segunda a sexta). Conceitos de raridade bibliográfica na abordagem histórica do documento e a importância da análise bibliológica para segurança dos acervos raros. A exposição terá uma parte permanente e novas apresentações de imagens de documentos durante o decorrer do ano. Local: Sala de Exposições da Subgerência de
Obras Raras e Valiosas – 2ª andar
Obras Raras e Valiosas – 2ª andar
Notícias sobre Feminicídio 2 a 31 de março, 8h30 às 18h (segunda a sexta). A exposição faz um apanhado a partir dos jornais que circulam no Estado da Bahia sobre Feminicídio de 2018 a fevereiro de 2020. Local: Recepção da Subgerência de Periódicos – 1º andar
Exposição Fotográfica Salvador, 470 anos 2 a 31 de março, 8h30 às 18h (segunda a sexta). Em comemoração aos 470 da cidade do Salvador, o fotógrafo Nilton Souza expõe fotos aéreas da cidade na atualidade, retratando as mudanças ocorridas em sua topografia.
Local: Sala de Exposições da Subgerência de Periódicos 1º andar
Local: Corredor da Subgerência de
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Esses dados parecem indicar que existe um consenso sobre a importância da educação e a quem cabe provê-la, mas não é assim que tem acontecido na prática
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VARIEDADES | 13
Crônica |
CIÊNCIA, COISA BOA! É CERTO USAR ÁGUA SANITÁRIA NA HIGIENIZAÇÃO DE ALIMENTOS? Reprodução
O tema de hoje foi sugestão conjunda Ana Carolina e do La Cruz. VaLimão e vinagre ta leu, galera! não possuem Para início de conversa, o que entena capacidade demos por “limpar”? Os alimentos in (como frutas, legumes e verde matar os natura duras) são comercializados da formicrorganismos ma como foram retirados do ambiente. Consegui imaginar três coisas diferentes que podemos chamar de “sujeira” e que estão presentes nesses alimentos. A primeira seriam restos de terra, poeira ou até mesmo óleos e gorduras que por acaso foram parar na superfície do alimento durante o processo de colheita, transporte ou comercialização. Para limpar esse tipo de sujeira, água, sabão e uma boa esfregada são suficientes. Ingerir esse tipo de coisa geralmente não faz mal à saúde. Por isso, essa limpeza serve para que a sujeira não interfira na aparência e no gosto da comida. A segunda diz respeito aos microrganismos presentes no produto. Vírus, bactérias, protozoários, ovos de vermes etc. Esses seres podem nos causar problemas graves. Assim, é muito importante eliminá-los da nossa comida. A forma mais eficaz de se fazer isso é sim utilizando água sanitária (ou, na verdade, de uma substância presente nela, o hipoclorito de sódio). Ela possui a capacidade de bagunçar a estrutura das proteínas presentes nas células. Assim, mata a grande maioria desses seres microscópicos. E, por isso, é tão indicada para a desinfecção de alimentos, objetos e superfícies. A forma correta para fazer isso é a seguinte. Dissolva uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água. Mergulhe os alimentos nessa solução e deixe agir por 15 minutos. Em seguida, lave tudo com água corrente. Esse passo final é importante para eliminar a água sanitária dos alimentos, uma vez que sua ingestão não é indicada. Ela pode nos fazer mal também! Ah! Limão ou vinagre também podem ser usados na higienização? Não. Eles não possuem a capacidade de matar os microrganismos presentes nos alimentos! Por fim, o terceiro tipo de sujeira presente no que comemos são substâncias químicas tóxicas que por ventura foram parar neles. Por exemplo, agrotóxicos ou metais pesados presentes no solo contaminado. Nesse caso, a higienização é mais difícil. Pode até ser feita, com produtos como Bicarbonato de Sódio. Porém, muitas vezes eles se encontram também no interior dos alimentos, o que dificulta muito a sua retirada total. Por isso, nesse caso, é tão importante a eliminação do uso de agrotóxicos, que tanto mal fazem à nossa saúde. Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais
Para Meire, com amor *Z Carota
nas matérias sobre a Alessandra Negrini, algo ainda pior do que a patrulha unicórnia: os comentários de ordem estética. jovens masculinos, os de fato e os tardios (tios Sukita), lhe criticando as formas mais robustas e os “peitos caídos”, ou, no máximo, dizendo que, apesar disso, ainda “dá um caldo”. obviamente, punheteiros de pornô, habituados à visão daqueles corpos e rostos postiços. vendo as fotos de perfil de alguns, é de a gente se perguntar como conseguem acreditar que até uma boneca inflável não broxaria com eles, especialmente ao abrirem a boca. já entre as jovens femininas, as de fato e as tardias, a coisa se divide entre garotas para as quais os 30 anos, para mulheres, são o início do fim (?), e jovens tardias tentando adivinhar onde “ela mexeu” e onde faltou mexer, e não ocorrendo a ambas o principal: ela está plena, vê-se onde não há tempo ou cirurgia que faça a verdade ser oculta, que é no brilho dos olhos. comum a todos e todas, a triste incapacidade de perceberem que a graça (amplo sentido) das pessoas está justamente na imperfeição que nos humaniza a todos e no fato de que não há ou não deveria haver - um padrão no que se faz melhor quanto maior a diversidade de encantos, de mistérios e, últimos, mas não menos importantes, de borogodós - e Negrini, mãe de Deus, tem borogodó em todos os poros. de minha parte, se Alessandra Negrini viesse ao meu encontro com as melhores piores intenções a bordo de uma charrete, eu já começaria beijando os cavalos, e não porque tenho apenas 4 anos a mais do que ela: aos 19 anos, em BH, namorei Meire (in memorian), então com 34 anos, que me ensinou muito, corrigindo o punheteiro que eu era, à época. eternamente obrigado, Meire. ❤ *Z Carota é jornalista e escritor.
VARIEDADES | 14
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Dica de Saúde
Nossa cozinha
Novo Coronavírus: precauções e cuidados Informações do Dr. Ronald Selle Wolff*
E
Diva Braga
Torta aberta
Massa
2 copos de trigo 1 copo de leite 1 pitada de Sal 1 colher de sopa de fermento
Cobertura:
Legumes fatiados: Abobrinha Beringela Tomate Cebola 2 ovos Batata Pimentão Queijo mussarela fatiado Azeite a gosto
Modo de preparo:
Misture todos os ingredientes da massa e vá acrescentando um pouco de farinha até formar uma bola. Polvilhe uma superfície e sove a massa. Deixe descansar por 20min e abra com rolo, e cobrindo a forma, que deve ser redonda, fazendo uma “cama” para os legumes. Depois de colocá-los, bata dois ovos com um garfo, tempere com sal e despeje sobre os legumes, depois regue com azeite, cubra com fatias de queijo e leve ao forno por 30 min.
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lá vamos nós mais uma vez assombrados pela ameaça de mais uma epidemia. Desta vez é o Novo Coronavírus. Vamos, então conhecer essa situação para podermos lidar com ela da melhor forma, ou seja, para nos prevenir de “pegar” o vírus ou para tratar a doença se formos contaminados.
Como saber se estou com a doença? Os sintomas principais são: tosse seca, dor de cabeça, febre, corisa (nariz correndo) e dor de garganta. Então se tiver febre e sintomas respiratórios deve procurar o pronto socorro? Não. Precisa, além de febre e
sintoma respiratório, ter viajado, nos últimos 14 dias, para Alemanha, Austrália, Camboja, China, Coréias do Norte e do Sul, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália, Japão, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietnã. Ou se, além dos sintomas citados, tiver contato com caso suspeito ou confirmado.
Sempre tem febre? Não. Em crianças menores de 5 anos, idosos, pessoas com baixa imunidade ou que possam ter utilizado medicamento antitérmico pode não ter febre.
A doença pode “pegar” de uma pessoa para outra? Sim! Pode ser pelo ar, por espirro ou tosse, pelo toque, em
aperto de mão ou beijo, por exemplo, contato com objetos contaminados (que tenham sido tocados por pessoa com a doença) e seguidos de contato com a boca. Portanto, sempre lavar bem as mãos com água e sabão, ou álcool a 70%.
Deve-se usar máscaras? Não há necessidade de uso de máscaras no momento. Apenas profissionais de saúde que atendem casos suspeitos. Não há necessidade nenhuma de alarde ou pânico. Coronavírus é mais um agente que induz doença viral entre tantos. Evitar de passarmos informações sem verificar a veracidade para prevenir pânico e corridas desnecessárias aos serviços de saúde. No mais, lembremos que o que produz saúde não são hospitais e medicamentos, o que produz saúde é qualidade de vida. E qualidade de vida é produzida por boa alimentação, amizades, companheirismo, amor nas famílias, protagonismo nas lutas sociais, confiança entre amigos e amigas, e, sobretudo, muito amor pela vida! Grande abraço a todos e todas que lutam... *Médico de homens, mulheres e de almas, militante do MPA e assessor médico do Instituto Cultural Padre Josimo. Membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares. **Fonte: Boletim da Sociedade Brasileira de Infectologia, de 26/02/2020
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ESPORTES | 15
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Entre na dança! Se jogue nos benefícios desta atividade MOVIMENTO. A dança traz bem-estar e oferece estilos para todos os gostos Gabriela Barros
Decisões técnicas tomadas por profissionais sobre que caminhos seguir ficam sempre à mercê do jogo político entre conselheiros.
Espetáculo “BAILE”, da Cia Baile, dirigida pela Natália Silva.
Danielle da Gama
á quis praticar alJ gum tipo de dança, mas teve receio de
não ser adequada para você? Pode ficar tranquilo e arriscar os primeiros passos: a dança pode ser praticada por pessoas de todos os perfis, além de estar presente em nosso cotidiano, como em festas e ritos. E não existe idade para começar – você só precisa encontrar a modalidade que lhe fizer bem. Alexandra Costa trabalha com performances em Artes Visuais desde 2010, mas foi recentemente que iniciou sua especialização em dança na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Ela ressalta a importância do autocuidado que pôde aprender com pes-
soas que fazem da dança uma profissão: “não é um cuidado estético, é realmente de manutenção, de ter uma consciência corporal”. A artista afirma que não há um corpo “padrão” para dançar, “até mesmo porque as pessoas vão acabar inventan-
Como atividade física, libera endorfina, hormônio ligado à sensação de bem-estar
do outros movimentos, outras formas que vão calhar com o corpo que elas têm”. E para quem se acha “duro” ou “desengonçado” demais, ou mesmo que dança é uma espécie de “dom”, não há desculpa. Para Alexandra, “no fundo todo mundo sabe dançar”. Ela considera que todos trazemos “nossa narrativa corporal para várias coisas”: “Se a gente começa a entender que andar é dançar, cozinhar é dançar, correr, pegar ônibus é dançar, eu acho que a gente tira a dança daquele status de que ‘só quem dança é quem estuda dança’, ‘quem está na escola de dança desde ‘x’ anos’”. E completa: “O lance é tirar deste status de que é algo impossível de se chegar”. Natália Silva, professora de dança formada pela
No fundo todo mundo sabe dançar FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia) e estudante da licenciatura em dança na UFBA, dá aula para públicos tão variados como crianças de 2 a 9 anos e idosos, além de ser diretora da companhia de dança “Baile”, em que pesquisa danças na cultura hip-hop. De acordo com ela, a dança ajuda na coordenação motora, equilíbrio e agilidade, melhora aspectos da autoestima e da socialização Gabriela Barros
ca, Natália vê como fruto de padrões sociais estéticos que precisam ser desconstruídos. Isso acaba se aplicando na dança, pontua, muito em função do ballet clássico e da imagem “daquele corpo magro e flexível”: “O ballet vem da Europa e daquelas mulheres que têm aquele tipo de corpo. E na verdade a dança é, sim, para todos”, destaca. Para ela, independe do estilo que se escolha ou com que se identifique. A diversidade é um ganho: “Nós não somos todos iguais, temos anatomias diferentes, e isso abre possibilidade para outros tipos de pensamento, para outras movimentações, para outros tipos de danças”. Do ballet e do sapateado ao zouk, da dança do ventre à dança de rua... são várias as opções. Ao pensar nessa escolha, Natália acha importante considerar também de onde veio cada dança e o que elas têm a ver com nossa vida e nossos gostos. Ela acredita que a música se Gabriela Barros
e, como atividade física, libera endorfina, hormônio ligado à sensação de bem-estar, atuando sobre fatores ligados a quadros de depressão. A professora lembra que a aula de dança pode ser o momento de deixar para lá as preocupações do dia a dia e extravasar, canalizando emoções negativas. Além disso, ensina, a dança age “no processo de conhecer o próprio corpo, entendendo suas limitações, até onde vai, compreender o seu tempo”. Quanto à ideia de um corpo “ideal” para a práti-
liga à nossa raiz: “Nós temos as danças populares brasileiras, por exemplo, que nasceram relacionadas com o corte de cana, com a natureza, com a coletividade”, diz. “A dança afro, as danças da cultura hip-hop como o break, estão ligadas também ao contexto social e ao resgate da autoestima, mas também ao resgate da ancestralidade de cada um”, conclui.
Brasil de Fato BA
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16 | ESPORTES
NA GERAL reprodução instagram
Garrett Ellwood-USTA
Tomaz Silva Agência Brasil
GOL DE PLACA
Menina-prodígio Reprodução facebook
Basquete para todos
Adeus ao tênis tenista russa MaA ria Sharapova surpreendeu o mundo com o
anúncio da sua aposentadoria aos 32 anos. A atleta, que já foi número 1 no ranking de tênis e 5 vezes campeã mundial, encerrou a carreira após inúmeras lesões no corpo que dificultavam seu desempenho nas quadras. Após 28 anos jogando tênis, Sharapova é considerada hoje uma das maiores tenistas de todos os tempos.
O
jogador João Pedro, atacante do time sub17 do Bahia, foi convocado para a seleção brasileira da sua categoria. Na lista dos 24 atletas escolhidos, João é o único que joga num clube do Nordeste. O atacante fará uma semana de treinamentos sob o comando do técnico Dudu Patetuci e jogará um amistoso na Granja Comary. Vai que é tua, João Pedro!
O Barradão é nosso! Hugo Dantas
esde 2017 o tricolor de aço não perde na casa do rival. No domingo, 1 de março, foi dia de mais um clássico e a hegemonia tricolor falou mais alto. O Bahia venceu por 2x1. O confronto foi entre os times de transição. O primeiro gol foi do zagueiro Anderson e o adversário empatou com Eron. A mística do gol de Raudinei aconteceu, e Arthur Rezende brocou, virando o jogo aos 49 minutos do segundo tempo. A bola fora do jogo foi a torcida única, clássico sem as duas torcidas não é um clássico.
Basquete 3x3 para cadeirantes. A competição inédita reuniu 120 para-atletas de várias partes do país na Associação Atlética da Bahia (AAB), na Barra. Nessa modalidade, que reúne 3 competidores de cada equipe, os atletas precisam conduzir a bola e, ao mesmo tempo, controlar a cadeira de rodas. É muito esforço e talento dos nossos para-atletas!
Olimpíada de Tóquio no Tênis de Mesa. A jovem venceu o Campeonato do Oeste Asiático disputado na Jordânia e carimbou o passaporte para os Jogos. Até o momento, ela é a atleta mais jovem classificada para a competição entre todas as modalidades. Sucesso para Hend Zaza!
GOL
CONTRA
Pé no freio para o racismo LAT Images - Fotos públicas
piloto Lewis HaO milton, seis vezes campeão de Fór-
mula 1, criticou a falta de diversidade nesse esporte. O atleta, que atualmente é o único homem negro entre os pilotos da Fórmula 1, declarou em entrevista que ao longo dos 14 anos nessa categoria viu poucos avanços na democratização da competição. Ao receber o prêmio Laureus de melhor esportista masculino do ano, em fevereiro, Hamilton afirmou que precisa “trabalhar em uma agenda de igualdade”.
Diálogo necessário
Declaração da Semana
Gabriela de Gardênia arço representa as lutas de mulheM res contra opressões. E eu, como fanática pelo meu time Vitória, o convido a repensar qual a sua responsabilidade nas causas de combate à violência doméstica sabendo que o agressor, pode, também, ser aquele homem que senta ao nosso lado em dias de jogos. Campanhas que incentivem as denúncias são ideais para o acesso à justiça e o futebol não pode marcar falta. Por tal, ECV, que tal adotar medidas de apoio às mulheres a denunciar agressões através do disque 180?
EC Bahia/ Felipe Oliveira.
D
alvador recebeu em S fevereiro a primeira edição da Copa Brasil de
Bahia na seleção
atleta síria Hend Zaza, A de apenas 11 anos, conquistou uma das vagas para a
sso vai comigo aonde eu for. É Ibilidade necessariamente ter responsasocial, força humanis-
ta. É difícil levar isso para o futebol. Não só eu, como todo o Núcleo de Ações Afirmativas conseguiu passar essa mensagem de uma sociedade mais justa e que luta contra o preconceito -Guilherme Bellintani, presidente do
Bahia, sobre ações do clube contra LGBT