Brasil de Fato PR - Edição 262

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Arbitragem sem noção

Cultura | p. 7

Divulgação | CBF

Esportes | p. 8

História da cerveja

Homens do apito andam “estragando” o espetáculo

PARANÁ

Site e livro mostram a tradição da bebida em Curitiba

Ano 5 Edição 262 24 a 30 de junho de 2022 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br Divulgação

Despejo zero Ato reúne milhares na capital. Crise deixa pessoas sem alternativa de moradia

Brasil | p. 5 Fotos: Giorgia Prates

Educação | p. 4

Cidades | p. 6

Servidores protestam

O horror na Câmara de Vereadores

Funcionários públicos fazem manifestação contra perdas salariais

Opinião | p. 2 Movimentos lutam para que não haja despejos forçados em 2022

Giorgia Prates

Questão urbana

Renato Freitas, após cassação, relata o que sofreu durante o mandato


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 24 a 30 de junho de 2022

Cassação de Renato é uma afronta à democracia

EXPEDIENTE

editorial

A

cassação do vereador Renato Freitas, votada pela Câmara de Curitiba nesta semana, entra para a história da cidade como um marco de racismo institucional. Sem ter fundamento jurídico, a acusação de quebra de decoro parlamentar, devido à participação do vereador em uma manifestação, revela profundo desrespeito à democracia. Além disso, dá um recado

grave à população: pessoas negras, especialmente com pautas progressistas, não são bem-vindas à Câmara de Curitiba. Os opositores de Renato aproveitaram-se de notícias falsas para pedir sua cassação. A participação do vereador, em 5 de fevereiro deste ano, no ato em defesa da vida de pessoas negras, que se deu em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e que teve continuidade,

Pessoas negras, especialmente com pautas progressistas, não são bemvindas à Câmara de Curitiba de forma pacífica, dentro da igreja, foi usada como argumento para a perseguição. O vereador já indicou que

agirá para reverter a decisão ilegal. Mas, independentemente disso, todo o procedimento tomado pela Câmara até aqui representa um golpe contra o próprio sistema eleitoral. Uma afronta à decisão de milhares de curitibanos que elegeram Renato como seu representante no Legislativo Municipal. Contra o racismo, pela democracia e em respeito às eleições, é preciso defender Renato e seu mandato!

SEMANA

opinião

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 262 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Luiz Ferreira ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira, Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

Questão urbana hoje: por que lutamos? Pedro Carrano,

Jornalista e militante da União de Moradores e do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD)

A

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

s lutas por moradia no Paraná passaram por vários momentos na História recente. Das ocupações nos anos 80, em Curitiba, a partir do êxodo do campo e da busca de trabalho na capital, chegando às atuais ocupações devido à crise econômica, sanitária e ao alto custo de vida. Por isso, a principal luta dos movimentos urbanos neste momento é para que

não haja despejos forçados em 2022. As lutas por demanda sempre se chocaram contra o problema estrutural da ausência de políticas públicas robustas, da especulação imobiliária e da destinação das piores regiões para moradia dos trabalhadores. Diante disso, mecanismos como o Estatuto das Cidades (2001) não puderam ser aplicados na prática. Programas importantes como o Minha Casa Minha Vida, de acordo com estudos de Pedro Arantes e Mariana Fix, não atingiram os trabalhadores com menos de três salários

mínimos. Neste sentido, fica o aprendizado para o próximo período: o investimento em programas que façam parcerias com os movimentos populares, para geração de trabalho. Só em Curitiba estima-se mais de 450 assentamentos irregulares, com cerca de 50 mil casas. Ao mesmo tempo, fala-se em 46.898 imóveis vazios e 2.566 lotes vagos somente em Curitiba. No Paraná, a Conferência Popular de Habitação, organizada em 2022, ajudou na compreensão da ineficiência das companhias de habitação de economia mista; o au-

mento da criminalização por parte da PM; e os desafios ao perceber que, hoje, diferente dos anos 80, a base social das ocupações é conformada por migrantes e trabalhadores informalizados. Com isso, há três desafios centrais nos territórios: 1) A formação de militantes populares que estão surgindo nas novas áreas; 2) A unidade entre os movimentos urbanos no estado e no Brasil, uma luta hoje fragmentada 3) A construção e a luta por ferramentas de trabalho e geração de renda como espaço de construção e organização popular.


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FRASE DA SEMANA

Prefeitos contra Bolsonaro Prefeitos de diversos municípios preparam manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro para o dia 5 de julho. Eles se queixam das ações do governo federal que diminuem as receitas das cidades e aumentam as despesas. Para os executivos municipais, Bolsonaro transfere a conta da crise econômica para eles. A bronca deve crescer com a decisão do presidente de não compensar estados e municípios com a queda de arrecadação do ICMS. Bolsonaro quer inflar o Auxílio Brasil. Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), o congelamento dos impostos relativos aos combustíveis é avassalador. “É evidente que essa situação não é sustentável. As instâncias federais criam novas despesas e ainda aprovam medidas que reduzem a arrecadação dos municípios. Como é que o gestor vai atender o cidadão lá na ponta dessa maneira?”, argumenta o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. O Congresso Nacional aprovou aumento de despesas como piso do magistério e aumento no piso de agentes comunitários de saúde e de endemias enquanto quer cortar impostos estaduais, aumentar a isenção do IR e ampliar a desoneração do IPI. Agência Brasil

“Péssimo dia pro governo corrupto de Jair Bolsonaro. PF prende ex-ministro Milton Ribeiro... Até outro dia Bolsonaro dizia que colocava a cara no fogo por ele”

Antônio Tavares A Terra de Direitos, MST, Justiça Global, Centro de Estudos da Constituição/ CCONS e CEPEDIS/PUC-PR realizam, em 27 e 28 de junho, datas do julgamento do Estado brasileiro pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, debates sobre as violações de direitos humanos no Paraná, a luta pela terra e a atuação do sistema de justiça para o caso do trabalhador rural sem-terra Antônio Tavares, assassinado em 2000. Informações no site da Terra de Direitos.

Disse em seu Twitter a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, sobre a prisão do ex-ministro da educação do governo Bolsonaro. E complementou: “(ele) é pastor cabeça da organização criminosa, que cobrava propina em barra de ouro pra liberar verba da educação.” Divulgação | PT

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Datafolha sem novidade

Pastores saem junto

A pesquisa sobre as eleições presidenciais, divulgada pelo Instituto Datafolha na quinta, 23, aponta cenário de estabilidade. Todos os principais candidatos variaram dentro da margem de erro. Lula continua em primeiro, com 47% dos votos, contra 28% de Bolsonaro. A pesquisa foi feita na quarta e quinta-feira. E, provavelmente, não foi captou o efeito da prisão do ex-ministro da Educação do atual governo. O dado mais importante, porém, é que a candidata da terceira via, Simone Tebet estacionou no 1%.

Também saíram da prisão os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. A decisão foi tomada por um juiz próximo de Bolsonaro no mesmo dia em que o delegado da PF que investiga o caso, Bruno Calandrini, denunciou em mensagem enviada a colegas que houve “interferência na condução da investigação”. Mas os próximos capítulos do caso ainda prometem, com a possível criação de uma CPI do MEC no Senado. As assinaturas necessárias foram atingidas no mesmo dia em que os pastores deixaram o xilindró.

Ex-ministro sai da prisão

Dano eleitoral

O ex-ministro de Bolsonaro Milton Ribeiro deixou a prisão na quinta, 23, por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que cassou sua prisão preventiva. Ribeiro é acusado de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência em suposto esquema de liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC) para aliados, escândalo conhecido como Bolsolão do MEC.

A campanha de Bolsonaro e pessoas dentro Isac Nóbrega do Palácio do Planalto declararam o “off” a jornalistas de diversos veículos que a prisão do ministro caiu como uma bomba nas pretensões de Bolsonaro de manter o discurso de que em seu governo não há corrupção. Narrativa falsa, mas que era usada entre seus aliados em contraponto à candidatura do ex-presidente Lula.

Vale-gás Em desespero eleitoral, o governo Bolsonaro está propondo aumento do vale-gás para, em média, R$ 50, todos os meses. Atualmente, o benefício é pago a cada dois meses e a ideia é que as famílias possam comprar o botijão de 13 quilos que, em algumas cidades, chega a custar R$ 160. Segundo o IBGE, de abril de 2021 a abril deste ano, o preço do botijão de gás aumentou mais de 32% no Brasil.

Medidas ineficazes “O governo não se preocupou com isso desde 2019, quando Bolsonaro assumiu e, agora, às vésperas da eleição, quer ampliar o vale-gás e dar um auxílio diesel aos caminhoneiros”, critica o coordenador-geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra. O dirigente lembra ainda outra medida que não resolve o problema do alto preço dos combustíveis, a redução temporária do ICMS dos estados.


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Milhares de servidores do Paraná vão às ruas por pagamento da data-base

Giorgia Prates

Ratinho Jr. tem dívida de mais de 36,56% por falta de correção nos salários Ana Carolina Caldas

N

os últimos seis anos, a renda dos servidores do Paraná caiu mais de 30% devido à falta de reposição das perdas inflacionárias pelo governo do estado. Na terça (21), milhares de trabalhadores das mais diversas categorias profissionais fizeram um dia de paralisação e foram às ruas reivindicar o pagamento da data-base e cobrar o ajuste do desconto previdenciário dos aposentados. Devido às regras do período eleitoral, o governo tem até dia 1º de ju-

lho para encaminhar projetos com ajustes e reposições salariais para votação na Assembleia Legislativa. Pela manhã, após a concentração na Praça 19 de dezembro, no Centro de Curitiba, os mais de 20 mil servidores presentes no ato dirigiram-se até o Palácio do governo, com faixas pela reposição salarial e melhores condições de trabalho. No início da tarde, representantes dos sindicatos acompanharam a sessão da Assembleia Legislativa (Alep) e, mais tarde, foram recebidos pelo Secretário de Administração do governo.

APOSENTADOS

Economia à custas dos servidores Nádia Brixner, da coordenação do Fórum de Entidades Sindicais (FES), relembrou que existe lei aprovada, desde o início do ano, que garantiu 3% da data-base em janeiro e mais 3,39%, valor este que o governo ainda não implementou. “Temos já estabelecido em lei, só falta o governador pagar. Sabemos, baseado em dados da própria Secretaria da Fazenda, que há recurso para pagar os 3,39% e mais os 12,13%, que é a inflação deste ano. Hoje, o governo tem em caixa R$ 11 bilhões. Para pagar a data-base, precisaria de cerca de R$ 1,5 bilhão. Basta vontade política”, afirma. Para representantes do FES, o governo está economizando à custa dos servidores. Com o congelamento de salários e redução do número de funcionários públicos do Paraná entre 2018 e 2021, o governo do Paraná “economizou” R$ 2,4 bi-

lhões. Percentualmente, os custos com salários do funcionalismo do Paraná caíram de 44,56% em 2018 para 38,99% da receita do estado em 2021. Desde 2016, os salários do funcionalismo do Paraná não recebem o reajuste integral da inflação. Durante esses anos, servidores tiveram 2% de reajuste em 2020 e 3% de reajuste em

2022. Com isso, as perdas salariais acumularam defasagem de 36,56% nos últimos seis anos. Segundo Olga Estefânia, presidente do SindSaúde, dados levantados pelo sindicato apontam que os servidores da saúde, por exemplo, perderam em média R$ 34 mil por ano. “A perda para o nível profissional é de R$ 50,6 mil por Giorgia Prates

ano em salários. Para o nível Execução, a perda é de R$ 27,7 mil, e, para o nível Fundamental, é de R$ 6,5 mil anual. Somente com o funcionalismo estadual da Saúde o governo ‘economiza’ mais de R$ 233 milhões por ano”, explica. Presente no ato, Ana Carolina Nadolny, do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Paraná (Sindijus), reforçou a importância da reivindicação, principalmente após o período mais crítico da pandemia. “Este ato que une servidores ativos e inativos é de extrema importância, mostrou nossa força. Não é possível, depois de um momento tão difícil que todos os trabalhadores passaram, que o governo sacrifique ainda mais servidores que em nenhum momento deixaram de prestar serviço de qualidade para a população paranaense”, diz.

Outra reivindicação dos servidores foi o ajuste no desconto previdenciário dos servidores inativos. Com a Reforma da Previdência, o desconto é feito sobre o salário de todos os aposentados que recebem acima de 3 salários mínimos. O FES reivindica que seja feito apenas para quem recebe acima de R$ 7.087,22 (valor do teto do INSS). “A maioria dos nossos aposentados são os mais penalizados porque não têm reajuste salarial. O único reajuste é a partir da data-base e ainda precisam contribuir muito mais com a previdência”, afirma Nádia Brixner. O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria de comunicação do governo do estado pedindo posicionamento oficial sobre as demandas dos servidores. Até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.


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“Se tiver de sair daqui, não sei para onde vou”, diz participante de ocupação

Enfraquecimento de políticas habitacionais e crise econômica aumentam necessidade de moradia José Pires

D

esde o dia 10 de junho deste ano, Curitiba tem nova ocupação coletiva. Um terreno de 1,8 hectare, no bairro Campo de Santana, no sul da capital, que pertencia à Construtora Piemonte e há mais de 30 anos estava sem destinação. Agora, abriga cerca de 400 famílias. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi quem organizou a ocupação. Duas ocupações foram promovidas pelo movimento desde o início da pandemia. Outra, que se chama Marielle Franco, fica a cerca de 1 quilômetro de distância e surgiu no final de 2020. Lá vivem 350 famílias. Durante toda a pandemia de Covid-19, várias ocupações coletivas foram criadas no Paraná. Muitas acabaram por meio de reintegrações de posse determinadas pela Justiça. Dados da Campanha Despejo Zero revelam que, desde março

Comer ou pagar o aluguel” Quando soube da nova ocupação, Maevelin da Silva Pinheiro, amazonense de 23 anos que mora em Curitiba há alguns meses, decidiu tentar a sorte ao lado do filho de 4 anos. Pagando R$ 800 de aluguel no bairro Campo Comprido, ela não encontrou saída quando ficou desempregada. “Tem sido muito difícil por causa do frio e da incerteza. Se precisar sair daqui, não sei pra onde vou, por mim eu morava até na rua,

de 2020, 1.706 famílias foram despejadas no estado. Agora, segundo estimativa do Núcleo Itinerante das Questões Fundiárias e Urbanísticas (Nufurb) da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), mais de 100 mil pessoas que vivem em ocupações no estado podem ser alvo de despejos a partir de 30 de junho, por causa do fim dos efeitos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu o cumprimento de mandados de reintegração de posse durante a pandemia. O levantamento aponta que, entre março de 2020 e maio de 2022, houve aumento de 12% no total de decisões de reintegrações de posse que estão nas mãos da Polícia Militar, prontas para serem cumpridas. A maior parte delas deve ocorrer em áreas rurais (111) e 72 em áreas urbanas. Destas, quase metade (31), na capital. mas com meu filho não posso”, diz. A crise econômica, agravada pela crise de saúde, tem relação direta no aumento das ocupações coletivas. É o que destaca o desembargador Fernando Antônio Prazeres, da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. “Nossa Comissão visita as áreas em conflito e procura manter diálogo com os ocupantes. Sempre indagamos a respeito das causas que motivaram a ocupação e as respostas pouco variam: desemprego, diminuição de renda e a impossibilidade de pagar aluguel. É certo que a pandemia só agravou a situação”, afirma. O fortalecimento das políticas

Giorgia Prates

DESPEJO ZERO REÚNE 4 MIL MANIFESTANTES Cerca de 4 mil pessoas de comunidades e áreas de ocupação participaram de ato da Campanha Despejo Zero, no Centro de Curitiba, que concentrou 7 movimentos populares, áreas indígenas e diversas áreas do campo com risco de despejo ao final de junho. Depois, representantes do movimento participaram de negociação em que estavam presentes a Defensoria Pública do Estado, na figura de João Victor Longhi, governo do Estado, advogados populares, padre Valdecir Badzinski, da diocese de Guarapuava e secretário Executivo da CNBB, e a Comissão de Direitos Humanos da Alep. Participaram da mesa também com os movimentos populares representante da comissão de conflitos fundiários e Roland Rutyna, da Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social. Foram entregues dossiês com a memória e registro do processo de cada comunidade, bem como uma carta geral de reivindicações por nenhum despejo e garantias às diferentes áreas de ocupação. Giorgia Prates

credito foto

públicas de moradia é, para Daisy Ribeiro, advogada da Terra de Direitos, um caminho fundamental para a diminuição do déficit habitacional no Paraná. “As políticas habitacionais sofreram um enfraquecimento significativo nos últimos anos. Curitiba, por exemplo, destinou apenas 0,25% do orçamento para o setor de habitação entre os anos de 2013 e 2020. A isso somamos a crise econômica e o desfecho é um inchaço nas ocupações que já existem e o inevitável surgimento de novas”, ressalta. Segundo a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), 400 mil famílias estão na fila dos programas de habitação da companhia.

Em 2020, a Cohapar entregou 2.533 imóveis. Já a Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab) tem fila de 50 mil famílias e entregou no ano passado 115 moradias. Em nota, sobre o fato de a Prefeitura de Curitiba destinar em média a 0,25% do orçamento para habitação, a Cohab respondeu: “Além deste orçamento os projetos habitacionais de Curitiba recebem recursos do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS), governo federal, organismos internacionais como Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), além de parcerias com a iniciativa privada”.


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Paraná, 24 a 30 de junho de 2022

“Câmara de Curitiba é um espetáculo do circo dos horrores”, diz Renato Freitas Vereador teve mandato cassado após participar de ato antirracista em igreja Lia Bianchini e Frédi Vasconcelos

A

pós quatro meses de processo, a Câmara de Curitiba decretou a cassação do mandato de Renato

Freitas (PT), na quarta (22). A sanção tem efeito imediato e não restam recursos na Câmara. A defesa ainda pode recorrer da decisão na esfera judicial. Freitas já afirmou que usará essa via, com base

nas irregularidades, segundo ele, cometidas pela Câmara ao longo do processo. O petista foi acusado de quebra de decoro parlamentar após participar de ato antirracista, que culminou na entrada dos

manifestantes na Igreja do Rosário, no Centro de Curitiba, em fevereiro. Na manhã seguinte à sua cassação, Freitas concedeu entrevista ao Brasil de Fato Paraná. Confira trechos a seguir:

Leia a entrevista completa www.brasildefatopr.com.br

Assista à entrevista

https://www.youtube.com/ watch?v=MBQUMDO5Ecw Giorgia Prates

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Brasil de Fato Paraná – Qual é a sensação hoje, ao acordar cassado pela Câmara Municipal de Curitiba? Renato Freitas - A sensação que eu tenho não é de desespero, não é de lamento. Eu acho que não há o que temer nem lamentar, uma vez que a gente escolheu um caminho estreito contra os grandes interesses. Sabíamos que os riscos eram muito grandes de lutar contra o coronelismo, essa elite branca que domina a política. Essa é mais uma etapa de um processo de perseguição que eu vivo desde que me entendo por gente, sobrevivendo nas periferias de Curitiba. A denúncia de racismo permeou todo o processo da sua cassação. Como foi o seu mandato até aqui, dentro de um ambiente formado majoritariamente por homens bran-

cos e ricos? Foi absolutamente hostil. Com demonstrações explícitas de racismo. Em sessões oficiais, fui chamado de moleque, mano, maconheiro, foi dito que eu não tinha maturidade para estar naquele lugar. O líder do prefeito na Câmara, vereador Pier Petruziello, me perguntou se eu, eventualmente, levava cachaça para a Câmara, se eu bebia antes das sessões. Tudo isso tentando me colocar num estereótipo de pessoa negra que já foi utilizado em filme nos Estados Unidos há mais de 100 anos.

Em sessões oficiais, fui chamado de moleque, mano, maconheiro, foi dito que eu não tinha maturidade para estar naquele lugar

Durante o processo, chamou a atenção uma fala sua de que as pessoas que davam “tapinha nas costas” na Câmara foram as que forçaram sua cassação. Pode explicar melhor isso? Essa Câmara de Vereadores é um grande teatro, um espetáculo do circo dos horrores. Eles são hipócritas porque não acreditam naquilo que fazem e dizem. O único compromisso deles é com o poder e com o dinheiro. Isso ficou muito evidente. O maior ensinamento que tiro desse processo todo é o nível de hipocrisia arraigado na Câmara de Vereadores, que não deixa que a população de fato seja representada. O povo é coadjuvante nesse teatro e os protagonistas são aqueles que têm condições de comprar os vereadores que se colocam à venda. O prefeito é o grande comprador, digamos assim, porque ele é quem distribui os cargos comissionados.


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Shows na Jornada O cantor Otto (20h) e a Banda Mais Bonita da Cidade (18h) se apresentam na Jornada da Agroecologia, em Curitiba no próximo sábado, com entrada gratuita no palco montado no campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná. Além deles, haverá mais de 20 atrações culturais, feira de produtos agroecológicos, comidas típicas e dezenas de oficinas e seminários.

Programação

Feira agroecológica

As diversas atividades da Jornada de Agroecologia, que vai até o domingo (26), podem ser conferidas no site e nas redes sociais do Brasil de Fato Paraná ou no site da jornada (https://jornadadeagroecologia.org.br/). As atividades, que passam por oficinas, palestras, shows e aulas sobre alimentação saudável e sem veneno, são gratuitas e sem necessidade de inscrição, é só chegar e participar.

Alimentos saudáveis e fresquinhos, direto das mãos de quem produz, artesanatos, panificados e uma variedade de itens fazem parte da Feira da Jornada. A produção vem de assentamentos e acampamentos da reforma agrária, de povos indígenas, de comunidades tradicionais e de coletivos da economia solidária de todas as regiões do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Site conta a história das primeiras cervejarias artesanais de Curitiba

Reprodução Pilsen Engelgardt

Página traz trechos do livro, além de rótulos e mapa das cervejarias atuais

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 5 espigas de milho orgânico com palha ¼ de xícara (chá) de coco fresco ralado 1 xícara (chá) de açúcar 1 pitada de sal

Ana Carolina Caldas

A

o experimentar uma cerveja artesanal, a maioria dos curitibanos pode não saber que essa tradição cervejeira começou, em 1858, na capital do Paraná, pelas mãos de cervejeiros alemães, italianos, suecos e austríacos. A produção era caseira e a venda era para vizinhos e familiares. Essa história e a atualidade que coloca Curitiba como importante polo cervejeiro do país são temas do livro “Cervejarias de Curitiba”, escrito a partir da pesquisa do historiador

DICAS MASTIGADAS Pamonha

Victor Graciotto Silva e do designer José Humberto Boguszewski, com publicação pela Máquina de Escrever Editora e Produção Cultural. Victor destaca que este “boom” de cervejarias hoje em Curitiba revela uma tradição de mais de 150 anos, Reprodução Pilsen Engelgardt

tema central do livro. “Em 2000, mais precisamente, começamos a acompanhar a volta da produção artesanal de cervejas em casa, assim como acontecia na antiguidade”, diz. O designer José Humberto destaca que tanto o site como o livro trazem preciosidades do processo de pesquisa. “Um exemplo são os rótulos das cervejas, cujos símbolos, caligrafias e cores permitem entender mais sobre questões culturais de cada período histórico da cerveja em Curitiba.” Site Para divulgar o livro e a pesquisa, o site www.cervejariasdecuritiba. com.br será lançado no sábado, 25. Lá, além de vídeos, também será possível encontrar trechos da obra, acesso a um acervo de rótulos das primeiras cervejas de Curitiba, fotografias inéditas de cervejeiros, das fábricas e do hábito de beber cerveja de 100 anos atrás. Também será disponibilizado mapa interativo com os caminhos atuais das principais cervejarias da capital paranaense.

Modo de Preparo Retire as espigas da palha, com cuidado. A palha será usada como recipiente para a pamonha. Leve uma panela grande com bastante água ao fogo alto e deixe ferver. Mergulhe as palhas por 1 minuto e transfira para uma tigela. Rale as espigas de milho. Peneire o milho ralado, até tirar todo o líquido. Junte ao líquido coco, açúcar e sal e misture bem. Faça um tubo com as palhas da pamonha, fechando o fundo com um barbante. Coloque o creme dentro da palha e amarre bem com um barbante, de forma que não seja possível vazar. Coloque as pamonhas em uma panela com água fervente e deixe cozinhar por 30 minutos. Reprodução


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Teimosia custa caro Por Cesar Caldas

No início do mês esta coluna expôs o pífio aproveitamento de 24,1% dos pontos disputados pelo alviverde longe de seu torcedor nas nove temporadas mais recentes na Série A, o que explica em grande medida os rebaixamentos de 2017 e 2020. Alerta em vão. Neste ano, foram conquistados apenas 2 (dentre 18) pontos em outras cidades – percentual de 11,1%, mesmo jogando diante de públicos insignificantes em Florianópolis, Goiânia e Bragança Paulista. Nessas circunstâncias, Morínigo escala um time recuado, o que tem tornado natural e inevitável o gol do adversário. Há ainda quatro partidas do tipo no 1º Turno, em 24/6, 10, 16 e 20/7, diante de Internacional, Fortaleza, Flamengo e Corinthians, respectivamente. Sem uma sensível melhora no desempenho do time até a 19ª rodada, o returno repetirá a triste realidade de brigar no máximo por uma vaga na Sul-Americana.

10 jogos e contando... Por Douglas Gasparin Arruda

O jogo desta quarta sacramentou a boa fase que a equipe do Furacão vem passando. Já são 10 jogos de invencibilidade. Depois de uma vitória importante contra o maior rival, fora de casa, o Rubro-Negro precisava segurar a empolgada equipe do Bahia, jogando na Arena Fonte Nova. E o começo da partida foi intenso: em pouco menos de 10 minutos, o Bahia abriu o placar e logo levou o empate, com o gol de Christian. Aos 30 minutos, a virada veio com gol de Pedro Rocha. Foi um jogo com a cara do Felipão: seguro e efetivo para a meta de passar para as quartas da Copa do Brasil. Mas o grande destaque da noite certamente foi Khellven, com duas excelentes assistências. Sem tempo para descanso, na próxima semana o Furacão já tem mais um jogo decisivo: pela Libertadores, na Baixada, enfrenta o Libertad.

Paraná, 24 a 30 de junho de 2022

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Precisamos falar sobre a qualidade da nossa arbitragem Os “homens do apito” estão se especializando em estragar o espetáculo com decisões estapafúrdias Reprodução

Luiz Ferreira, redação BDF-RJ

É

impossível falar em qualidade do futebol brasileiro sem falar da qualidade das nossas arbitragens. Qualquer discussão sobre estrutura de competições em todos os níveis e gêneros que não envolva a necessidade urgente de profissionalização e reciclagem das autoridades máximas dentro de campo não é nada além de palavras jogadas ao vento e pérolas jogadas aos porcos. Quem acompanhou a rodada do final de semana passado do Brasileirão percebeu isso mais uma vez. Aliás, esse não é um assunto novo. Os “homens do apito” estão se especializando em estragar o espetáculo com decisões estapafúrdias e uma vontade de querer ser a estrela do espetáculo no lugar dos jogadores. Falo de quem está com o apito na boca e de quem comanda o VAR. As decisões tomadas nos lances capitais de Corinthians x Goiás e Internacional x Botafogo (só para citar duas partidas) escancararam o problema. E a situação só piora mesmo com o recurso da tecnologia à disposição de todos. Pelo menos nas Séries A e B do Brasileirão. Isso porque está claro que só há um critério para a arbitragem brasilei-

ra: é não ter critério. Não quero entrar de cabeça nas (muitas) polêmicas de cada jogo. É verdade que vários lances que acontecem dentro de campo são puramente interpretativos e requerem concentração e frieza por parte de quem está apitando. Não é fácil ser árbitro de futebol. Nunca foi, aliás. Tomar uma decisão rápida com toda uma torcida xingando e ameaçando a integridade física e mental de tudo que é jeito é tarefa que poucos conseguiram realizar com um certo êxito. Mas é impressionante como nossos árbitros parecem ignorar

regras básicas do futebol. Ultimamente, os caras estão conseguindo errar até em marcação de lateral e tiro de meta! Coisas que qualquer um entende rapidamente. E o que mais irrita é que são erros repetidos em lances semelhantes. O estádio e os times que estão em campo são as únicas coisas que mudam. E o VAR, a ferramenta tecnológica que veio para diminuir os erros e tornar o jogo mais justo, se transformou em mais um meio para que árbitros ruins e/ou malintencionados se tornem os protagonistas. Leia na íntegra em www.brasildefatorj.com.br.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Seleção de olho na Copa América A seleção brasileira está em fase de preparação intensa para a Copa América, que será disputada entre os dias 8 a 30 de julho na Colômbia e garante os três primeiros colocados na Copa do Mundo de 2023, além de uma vaga direta para as Olimpíadas de 2024. A treinadora Pia Sundhage convocou no início do mês de junho 23 atle-

tas e mais 1 reserva para compor o selecionado. O Brasil busca aumentar a hegemonia do continente e vai atrás do oitavo título na competição com um elenco bastante renovado: das 24 convocadas, 11 nunca disputaram uma competição oficial pela seleção adulta. Além disso, é a primeira vez em décadas que não contaremos com

três nomes históricos da seleção: Cris, Formiga e Marta. Cris já não estava sendo convocada, Formiga aposentou e Marta sofreu uma lesão recentemente. Como preparação para o torneio, as brasileiras têm dois amistosos pela frente: a Dinamarca, no dia 24, em Copenhague, a Suécia, no dia 28, em Estocolmo. Vamos pra cima!


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