Brasil de Fato PR 4 Paraná
Paraná, 3 a 9 de junho de 2021
Brasil de Fato PR
A COVID-19 ANDA DE ÔNIBUS EM CURITIBA
Giorgia Prates
Prefeitura nega que transporte aumente casos. Mas taxa de mortes de motoristas é o dobro da nacional
“C
uritiba não possui aglomerações nos ônibus, apenas em casos pontuais, e não tem provocado um aumento das infecções por Covid’’. Foi com essa declaração que o presidente da Urbs, Ogeny Maia Neto, respondeu a vereadores em sessão da Câmara Municipal. Ele foi convidado para prestar esclarecimentos em relação a um estudo divulgado pela Prefeitura juntamente com o Sindicato das Empresas do Transporte Coletivo (Setransp). De acordo com a Prefeitura, ‘’o rastreamento, o Centro de Epidemiologia da Secretaria cruzou o banco de dados dos testes positivos para Covid-19 com os CPFs dos usuários do cartão-transporte da Urbs’’. O estudo
foi apresentado na semana em que o presidente da Associação Comercial do Paraná, Camilo Turmina, questionou a adoção da bandeira vermelha em Curitiba e o fechamento do comércio, falando do papel dos ônibus no avanço da pandemia na capital. “O ônibus é lugar latente de coronavírus. 50% de ocupação dos ônibus é de 4 pessoas por metro quadrado. Não tem como enxugar gelo. Não parem o comércio, comércio é vida. Comércio é emprego e renda”, criticou. Trabalhadores sofrem De acordo com dados do Sindicato dos Cobradores e Motoristas de Ônibus de Curitiba (Sindimoc) até o fechamento desta matéria, cerca de 62 trabalhadores morreram por conta da Covid-19. O dado revela o dobro da taxa Giorgia Prates
Gabriel Carriconde
de óbitos proporcional ao número total, de 0,4, e a média nacional é de 0,2. Para o presidente do Sindicato, Anderson Teixeira, os trabalhadores estão diariamente expostos. ‘’Temos solicitado à prefeitura vacinas e EPIs para nossa base, e na medida do possível estamos sendo atendidos, mas não garante total proteção’’, conta. Estudo da Prefeitura? Para especialistas, vereadores, trabalhadores e usuários, o estudo da Prefeitura não é conclusivo. Para o usuário Luis Gustavo de Oliveira, 23, que mora na Fazendinha e trabalha em Araucária, não houve redução nos principais entroncamentos, e nos horários de pico os ônibus continuam cheios. ‘’Eu não me sinto seguro, mesmo que eles façam a limpeza, eles não param durante o dia, e pessoal sem máscara no ônibus é normal’’, revela. O vereador Dalton Borba (PDT) enviou questionamentos para a Prefeitura em relação ao transporte. O parlamentar questiona a base de cruzamento de dados entre Urbs e Saúde. ‘’Sabe-se que há um grande número de assintomáticos ou com sintomas leves, que acabam não realizando testes e que também são usuários do transporte público. Esse número de pessoas não pode interferir nos resultados obtidos e não houve a conside-
ração destes na metodologia realizada’’, questiona. Para o infectologista e epidemiologista Moacir Pires Ramos, a literatura científica sobre o transporte coletivo e a pandemia foi feita apenas em países da Europa, Ásia e América do Norte, com estruturas mais avançadas e disponibilidade para usuários. Pires afirma que a possibilidade de infecção dentro do ônibus, sem o respeito ao distanciamento de mais de 1 metro e uso de máscara com boa vedação, é enorme. ‘‘Se existe aglomeração dentro do ônibus, a falha é do sistema, se não existe distanciamento de 1 metro 1,5 metro é aglomeração’’. O infectologista ainda critica a metodologia da pesquisa. ‘’E será que o cartão transporte consegue garantir a identificação e o cruzamento com os dados da Saúde? O período de incubação é de 2 a 7 dias, mas pode ser estendido de 10 a 14 dias, então eu posso estar no transporte hoje e apresentar só até daqui 10 dias, e utilizar o cartão de outro”. Pires Ramos defende ainda que para Curitiba ter um lockdown “de fato”, como feito na Europa, o transporte coletivo deveria ser paralisado. “Transporte urbano deveria ser só para trabalho essencial. Ônibus serviria só para isso, e você deveria se identificar e avisar para onde irá se deslocar”, reflete.