Brasil de Fato PR - Edição 280

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Giorgia Prates
Trabalhadores perderam renda e direitos no último período Brasil | p.4 QUEM VAI AUMENTAR E QUEM VAI DIMINUIR OS SALÁRIOS? Governo corta recursos de saúde e educação. Escolas são afetadas e Crianças sem futuro com Bolsonaro Granadas na democracia? No dia 30, é o futuro do país que está em jogo Editorial | p. 2 O direito de melhorar de vida Trabalhadores querem voltar a ter conquistas Brasil | p. 4 Nas redes e nas ruas Toda ação será necessária para combate contra fake news Opinião | p. 2 Cultura | p. 7 História de sobreviventes Programa retrata mulheres que passaram pelo sistema prisional Ano 5 Edição 280 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 distribuição gratuitaPARANÁ doenças voltam Giorgia Prates Esportes | p. 8 O título da vida do Athletico Final da Libertadores acontece no sábado Reprodução Reprodução

Agora é rua, agora é redes, agora é Lula! Tiros e granadas na Democracia?

Entramos na reta final do segundo turno, em cenário com vantagem para Lula nas pesquisas, mas ainda indefinido na disputa contra Bolsonaro.

Como era esperado, a campanha de Bolsonaro neste mês abusou da difusão de fake news e de violência. O atual governante é um dos responsáveis pelo episódio, que se viu no domingo, quando o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) lançou granadas e atirou em agentes da PF que cumpriam ordem de prisão contra ele.

Ainda que Bolsonaro tenha reagido com o seu habitual duplo discurso, dizendo que não tinha “fotos com

Jefferson”, confirma-se que seus seguidores e parceiros estão dispostos a afundar a democracia conquistada com muita luta pelo povo desde o fim da ditadura nos anos 80.

O atual presidente tem, sim, um projeto golpista, an-

tidemocrático e contra a população mais pobre.

Ao longo da semana, a campanha de Bolsonaro deve forçar a intimidação, porque necessita da abstenção da base eleitoral do PT. Por isso, cada cidadão deve comparecer sem medo às urnas no domingo (30) e dizer não ao projeto destrutivo que Bolsonaro representa.

O Brasil de Fato Paraná sempre vai cobrar medidas num eventual governo Lula. Mas, neste domingo, pedimos o seu voto porque apenas Lula pode evitar a destruição de nosso país. Só ele representa moradia, alimento, renda, carteira assinada e estudo para nossos filhos.

Márcio Kieller, Bancário e presidente da Central Única dos Trabalhadores Paraná (CUT-PR)

Estamos num decisivo processo eleitoral, em que o que menos se vê é apresentação de propostas. De um lado porque não há propostas e de outro porque Lula é obrigado a ficar respondendo às fake news de Bolsonaro. Isso reduz seu espaço para a apresentação de suas propostas. E daí quem perde são as pessoas que esperavam ver propostas sendo apresentadas para poderem pesar entre o que têm e o que poderiam ter.

Mas nós, democratas e militantes do movimento sindical e popular, somos os que mais sofremos com o cenário, pois necessitamos explicar para a sociedade sobre a urgência de resgatarmos nossos direitos e lutar pela construção de uma nova política de valorização do salário mínimo, um salário que restabeleça a dignidade das trabalhadoras e trabalhadores, que traga novamente a possibilidade de termos e podermos fazer três refeições por dia.

Estamos diante de um cenário que nos coloca diante de uma encruzilhada histórica entre a civilidade e a barbárie. Sim, é isso: o caos! Pois se o desgoverno Bolsonaro imperar é isso que teremos. Seremos massa-

crados pelo sistema sem chance de nos organizarmos e lutarmos pelo que historicamente lutamos, que são nossos direitos.

E é isso que tem feito com que muitas pessoas e personalidades políticas se posicionem pelo lado da civilidade, declarando o voto em Lula, por entenderem que esta eleição pode ser um plebiscito para a instalação de um regime ditatorial baseado no autoritarismo e na vontade individual de Bolsonaro em desrespeito às pessoas e aos trabalhadores na sua diversidade: aos grupos LGBTQIA+, aos indígenas, quilombolas e também às mulheres, negros, negras e jovens.

O atual desgoverno promove o empoderamento da milícia e dos grandes grupos de empresários que esperam que Bolsonaro aprofunde a retirada de direitos.

Leia o artigo na íntegra no site www.brasildefatopr. com.br

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 280 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EXPEDIENTE EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABOROU NESTA EDIÇÃO Márcio Kieller ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO
OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016
2 Opinião
O ex-deputado federal Roberto Jefferson lançou granadas e atirou em agentes da PF que cumpriam ordem de prisão contra ele
SEMANA editorial
opinião
Ricardo Stuckert

Isenção de imposto de renda para salários até R$ 5 mil é uma proposta de Lula. Retirada da dedução de gastos com saúde e educação do IR é estudada pelo governo Bolsonaro. A medida de Lula corrige a defasagem do imposto, colocando mais recursos nas mãos dos trabalhadores. Já a do governo Bolsonaro deve aumentar o valor pago pela classe média.

Na avaliação do economista Sandro Silva, do Dieese, a isenção até R$ 5 mil ainda tem impacto direto nas pessoas que ganham acima disso. Segundo ele, como o imposto é cobrado por faixas, deve ocorrer a diminuição do percentual de quem ganha mais.

Já o m da dedução de saúde e educação atinge diretamente a classe média. Seria o mecanismo que o governo Bolsonaro encontrou para arrecadar R$ 30 bilhões.

Já o Dieese considera que corrigir os valores da tabela do IRPF não é suciente para alterar a estrutura da contribuição e torná-la mais justa para assalariados. Uma possibilidade seria a inclusão de, no mínimo, duas novas faixas de renda, com alíquotas de 30% e 35%.

Outra seria corrigir a tabela do IR pessoa física pela In ação e pactuar na sociedade uma reforma tributária solidária ampla, que permita reduzir a desigualdade e a pobreza absoluta.

Violência sem fim

Depois das cenas lamentáveis do final de semana do ex-deputado Roberto Jefferson jogando granadas e atirando na Polícia Federal, a semana continuou com violência. Na noite da segunda (25), um apartamento com

Xuxa e Angélica

As apresentadoras infantis mais famosas do Brasil nas décadas e 80 e 90 voltaram a car juntas na defesa do voto em Lula no próximo domingo. Xuxa escreveu artigo na “Folha de S. Paulo” com o título: “Você apoia a pedo lia?”, em que critica Bolsonaro (PL), que fez insinuações em relação a meninas venezuelanas em entrevista a um podcast. “Sou lha, sou mãe e fui abusada por velhos babões que se sentem machos quando chegam perto de uma menina ou menino ‘bonitinho’ e se acham

bandeira do MST foi alvo de disparo de arma de fogo, no bairro Ahú, em Curitiba.

Na hora do tiro, uma criança de 6 anos estava lá e, por sorte, não foi ferida. A Polícia Civil do Paraná investiga o caso.

no direito de ‘pintar um clima’. Sempre que falo sobre o assunto, recebo milhares de ataques, alguns extremamente agressivos”, escreveu Xuxa.

Vou de Lula

Já Angélica, que é casada com o apresentador Luciano Huck, que pensou em ser candidato a presidente, publicou em seu Twitter, na terça, 25, que: “Domingo deixou de ser sobre um partido, deixou de ser sobre um candidato. É sobre o futuro que deixaremos para nossas crianças, nosso povo e nossa terra. É sobre a defesa da democracia e o resgatar do melhor em nós. Por isso o meu voto é 13.”

Frente ampla

A poucos dias da eleição, o ex-presidente Lula declarou que fará um governo amplo, não só de esquerda e com um único mandato, sem reeleição. A ideia é reforçar os chamados “valores democráticos” em contraposição aos discursos e ao acirramento do presidente Jair Bolsonaro (PL). Busca atrair os poucos indecisos que ainda não optaram por um dos candidatos na eleição de domingo.

Pedalada pela democracia

No domingo (23), ativistas de Curitiba realizaram evento para pedalar e debater sobre mobilidade urbana e a defesa da democracia. Evento que ocorreu em mais de 25 cidades do Brasil. Em Curitiba, aconteceram o cinas de mecânica para bicicletas, compostagem e customização de camisetas. Para crianças, teve piquenique e “pedalzinho”.

Novo encontro

O passeio reuniu cerca de 400 bicicletas e teve o encerramento no Largo da Ordem em encontro com o Bloco feminista de Carnaval ELA PODE, ELA VAI, e o Aroeira grupo percursivo de Maracatu de Baque Virado. Com o sucesso, os coletivos organizadores convidam a população para um próximo encontro, no sábado (29), às 14h, na Praça Rui Barbosa.

Primavera vermelha

Na sexta (28), a partir das 19h, no Stand by Music, MST, Cefuria, Marmitas da Terra e Núcleo Periférico realizam festa antes do 2º turno das eleições. Adriana Oliveira, coordenadora do Marmitas da Terra, ressalta a importância da união. “Este momento tem sido uma guerra, inclusive na disputa eleitoral. É muito importante para a gente transformá-lo em algo solidário, festivo para comemorar o trabalho e a resistência”, diz. É na Alameda Augusto Stellfeld, 264 - São Francisco, Curitiba.

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR
“É de se perguntar como criminoso reincidente investigado há anos pela PF obteve armamento pesado, digno de guerra, como “metralhadora” e granada?” Questionou sobre o caso Roberto Jefferson a jornalista Daniela Lima, da CNN, em seu Twiter. E complementou: “Esse tipo de armamento não precisa de autorização das Forças para ser vendido? Ele teve? Se não, quem comprou pra ele?” FRASE DA SEMANA Geral 3 NOTAS BDF Por Frédi Vasconcelos
Divulgação Lula, Bolsonaro e o imposto de renda Reprodução
Reprodução

O que cada candidato a presidente fará com o salário mínimo

Gabriel Carriconde

Com a renda média do trabalhador despencando 5,1% no último trimestre deste ano, segundo o IBGE, o debate sobre o salário mínimo é um dos principais neste segundo turno das eleições. Trabalhadora do setor de limpeza, Valdirene Lopes, 56, diz que a situação para pagar as contas de casa é “de aperto”. Lembra que em anos anteriores o salário que ganhava dava para sustentar a família, mas atualmente, todo mês, é de “amarrar a barriga”.

“Trabalho desde muito cedo, antes a gente conseguia se virar bem com o salário que eu ganhava, pagávamos as contas e sobrava um pouquinho. Hoje, todo mês é um aperto”, relata.

Na semana passada, o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, levantou a possibilidade de desvincular da inflação o valor do salário mínimo no próximo ano. Isto é, podendo reduzir ainda mais o valor. Os trabalhadores que ganham o mínimo já não têm ganho real desde 2019. Até o primeiro ano de mandato de Bolsonaro, o mínimo era corrigido pela inflação mais o crescimento do PIB. Isso acabou e hoje falam em não garantir nem mesmo a reposição da inflação.

Aumento real Enquanto o ministro de Jair Bolsonaro defende a ideia de criar um novo critério para o reajuste do mínimo, o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propõe retomar o aumento real. “Nos nossos governos dávamos o aumento acima da inflação mais o crescimento do PIB”, disse o candidato petista, em entrevista ao podcast Flowcast.

Sandro Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acredita que Bolsonaro não tem sido claro em relação ao que pretende fazer com o mínimo. “Nos últimos anos, apenas foi repondo a inflação. Apesar do discurso ter mudado, ele não tem sido claro em relação a qual regra seguirá”, analisa.

Para o presidente da CUT-PR, Márcio Kieller, os reajustes dados nos últimos para os trabalhadores têm sido menores. O sindicalista acredita que caso Lula seja eleito, haverá o retorno da política de valorização do mínimo. “Temos alertado que, desde 2016, tem sido interrompida a política de valorização do mínimo, e o ex-presidente Lula tem apontado que vai voltar a valorizar o salário”, diz.

Trabalhadores querem a volta de mais conquistas

Os trabalhadores nos períodos de governos do PT, principalmente entre os anos de 2003 a 2012, tiveram mais ganhos na pauta sindical e salarial. Isso também levou ao aumento no número de mobilizações, paralisações e greves por melhorias econômicas, num cenário de mais estabilidade e oferta de empregos. Os trabalhadores conquistavam e tinham o direito de buscar mais avanços.

Em 2012, por exemplo, 93% das negociações salariais tiveram aumento real, acima da inflação. Porém, já em 2015, em meio à crise e à pressão de um golpe contra o governo Dilma Rousseff, este número de conquistas passou para 63% das negociações, de acordo com dados do Dieese.

Pautas defensivas Em 2016, depois da chegada de Michel Temer ao governo, as reivindicações dos trabalhadores tornaram-se defensivas, contra a retirada de direitos. Naquele ano, 78% das paralisações na indústria privada tinham reivindicações defensivas e quase 60% denunciaram o descumprimento de direitos.

Na sequência, em 2018, de acordo com o Dieese, mais de um terço, ou 37% das mobilizações, teve como pauta o pagamento salarial em atraso. E apenas 76% das reivindicações dos trabalhadores tiveram atendimento. No governo Bolsonaro, cai o número de greves entre 2020 e 2021, com grande salto para 95% das negociações salariais tendo caráter defensivo e de manutenção de direitos.

Greve de desalento O alto número de greves no ano é sinal de vitalidade econômica, porque os trabalhadores sentem um ambiente econômico bom para pedir mais. Em 2010, foram 446 greves, em um cenário econômico favorável, chegando a 873 greves em 2012.

Durante o governo de Bolsonaro, marcado pelo desemprego, o Dieese apontou o surgimento das chamadas “greves de desalento”. São “mobilizações sem esperança”, resultado das terceirizações e precarizações dos serviços. “Encampados principalmente pelos trabalhadores menos qualificados, empregados por empresas prestadoras de serviços terceirizados exigem a regularização dos salários há meses em atraso”.

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR
Ministro de Bolsonaro fala em mexer no reajuste. Lula promete aumento real
Atendimento de reivindicações baixou nos governos de Temer e Bolsonaro
4 Brasil
Pedro Carrano Giorgia Prates
Giorgia Prates

Educação e saúde pioram para crianças no governo Bolsonaro

OPaís do Futuro vem colocando cada vez mais o futuro de suas crianças em risco. Vários fantasmas voltaram a assombrar mães e filhos nos quatro anos do governo de Bolsonaro. Fome, desnutrição infantil, atraso escolar, estudantes fora da escola e a volta de doenças como sarampo, paralisia infantil mostram uma realidade difícil.

É o que conta, por exemplo, Jaqueline Ferreira, mãe solo de quatro filhos e que vive com a coleta de recicláveis em Curitiba. O sonho de garantir um futuro melhor para suas crianças parece cada vez mais distante. “Eu vi tudo aumentar. Para dar uma vida melhor para eles, tudo tem gasto, já que quase não temos mais aju-

Crianças fora da escola

da do governo”, diz. Jaqueline sonha em garantir uma boa educação aos filhos, mas confessa que está difícil. “Hoje em dia a escola não consegue mais ajudar os pais, por exemplo, com materiais e uniformes. Eu tenho três adolescentes e,

muitas vezes, fica faltando coisas pra eles estudarem direito”, conta.

A situação fica pior na saúde. “Infelizmente, não tem saúde nesse país. Há mais de um ano espero consulta para minha filha de 15 anos com fonoaudióloga.

Meu outro filho precisa de oncologista para conseguir operar e há mais de dois anos estamos na fila”, relata.

Fome e desnutrição infantil Maria Isabel Correa, vice-presidente do Conselho de Segurança Alimentar do Paraná (Consea- PR), lembra que a gestão Bolsonaro começou a desmontar políticas públicas voltadas para segurança alimentar.

“Ele eliminou o Consea nacional. A partir daí, começou a desestruturação das políticas públicas inclusivas. Uma delas é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, que, na gestão dele (Bolsonaro), não teve reajuste. O PNAE é muito mais que oferecer alimentos, é alimentação saudável. E há um número significativo de crianças que só

comem na escola”, cita.

Para ela, a falta de alimentação saudável nessa etapa da vida cobra um preço muito alto. “O desenvolvimento de qualquer pessoa depende da alimentação. Os alimentos mais baratos, hoje, são os processados e ultraprocessados, sendo responsáveis por doenças como obesidade infantil, diabetes, hipertensão e muitas outras”, diz.

Dados da PNAD Contínua, do IBGE, revelam que a proporção de crianças com até 6 anos vivendo abaixo da linha da pobreza saltou de 36,1%, em 2020, para 44,7%, em 2021. E, com isso, o quadro de desnutrição infantil voltou a subir em 2019. Segundo o Instituto Desiderata, mais de 700 mil brasileiros de 0 a 5 anos estão nessa situação.

VOLTA DE DOENÇAS

A escola é também o sonho de um futuro melhor. Porém, os cortes na educação atingiram diretamente sua qualidade. Tânia Dornelas, da Campanha Nacional de Direito à Educação, a rma que a queda de investimentos trouxe di culdades para o acesso e permanência de crianças e adolescentes na escola.

“Entre 2019 e 2021 a execução orçamentária para a educação caiu R$ 8 bilhões em termos reais e continua em declínio em 2022. Essa ausência de investimentos se materializa na falta de acesso à educação básica como um todo, deixando crianças fora da escola”, explica. O número de crianças que não frequentam a

escola ou não concluíram seu ciclo quase dobrou de 2020 para 2021, saltando de 540 mil para 1,07 milhão.

há outros agravantes. “A merenda escolar não tem reajuste desde 2017,

os cortes previstos para o ano que vem já afetam o programa responsável por ônibus escolares, formação continuada dos professores e a compra do material escolar”, conclui.

Doenças infantis que já haviam sido erradicadas no Brasil estão reaparecendo. Desde 2021 há queda no número de crianças vacinadas, principalmente contra poliomielite, sarampo, rubéola e catapora. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas. Para Aline Almeida Bentes, médica, professora do Departamento de Pediatria da UFMG, algumas das causas são a disseminação de fake news sobre vacina pelo próprio presidente e a falta de investimentos na saúde pública. “Os recursos que deveriam ser destinados à saúde tiveram cortes, trazendo falta de insumos, médicos e remédios nas unidades de saúde. O que foi agravado pelos maus exemplos do presidente, com o discurso antivacina e a falta de compromisso com a saúde da população”, diz.

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR 700 MIL crianças de 0 a 5 anos estão desnutridas
Ana Carolina Caldas
Período tem queda de investimentos em áreas essenciais para desenvolvimento dos filhos
Giorgia Prates
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Crianças com até 6 anos vivendo abaixo da linha da pobreza 36,1% 2020 44,7% 2021

Orçamento federal 2023: governo Bolsonaro corta recursos da educação, saúde, assistência social e segurança pública

Informe Institucional | SISMUC

Todos os anos, o governo federal deve indicar quanto e onde gastará o dinheiro público no período do ano seguinte, com base no valor arrecadado pelos impostos, ou seja, no valor que você pagou. No Orçamento para 2023, o governo do presidente Jair Bolsonaro propôs o menor orçamento dos últimos 10 anos.

Educação em risco - De acordo com o INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), o orçamento disponibilizado para a educação será de R$ 34,3 bilhões. Se este valor fosse atualizado pela inflação até junho de 2022 (índice de 11,89%), o recurso deveria ser de R$ 38,8 bilhões. Isso afetará a oferta de bolsas de estudos, faltará dinheiro para os custos com segurança, limpeza, água e luz, transporte, alimentação, internet, além do pagamento de servidores.

A educação infantil também será prejudicada com o corte de 97,5% das verbas para a construção de novas unidades de ensino para crianças de 0 a 3 anos. É importante lembrar que, aqui em Curitiba, segundo a pró-

pria Prefeitura Municipal, são mais de 15 mil crianças na fila de espera por uma vaga nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs). Questionamos como ficará a qualidade da educação na primeira infância?

“O Governo Federal tem a obrigação de destinar recursos para as prefeituras investirem na educação infantil, conforme previsto no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Mas, de acordo com o orçamento do Bolsonaro, falando apenas da implantação de escolas para educação infantil, são apenas R$ 2,5 milhões reservados, valor para apenas cinco novas creches Isso é no mínimo desumano com quem espera por uma vaga em um CMEI”, afirma Juliana Mildemberg, coordenadora geral do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc).

Quem salva a saúde Após as sequelas da pandemia, mais do que nunca a saúde é prioridade. Infelizmente, o Governo Federal ainda não entendeu isso, visto que o orçamento para saúde apresenta perda de R$ 21 bilhões

em relação ao plano orçamentário que está em vigência (dados: INESC).

O boletim divulgado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e Umane, revela queda no investimento em 12 programas do Ministério da Saúde. Os principais cortes foram na Atenção Primária à Saúde, na Política Nacional de Promoção à Saúde e Atenção a Doenças Crônicas Não Transmissíveis.

O Programa Médicos pelo Brasil tem corte previsto de 31%. A ação de Pesquisa e Inovação em Saúde terá redução em mais de 65%. Já o programa “Alimentação e Nutrição para a Saúde” sofrerá em 63%.

O desmonte na assistência social - Os recursos para manutenção do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) sofrerão corte de 95%. Isso impactará diretamente no funcionamento do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). Para famílias mais vulneráveis economicamente, esses centros são o primeiro contato para acessar outros direitos, como escola e saúde.

Políticas públicas com obstáculos, pedidos parlamentares sem barreiras

Enquanto o futuro dessas políticas públicas que atendem à população beira o colapso, o Congresso Nacional conta com uma reserva de R$ 38,8 bilhões do orçamento de 2023 para emendas parlamentares, sendo R$ 19,4 bilhões para as emendas de relator: o famoso orçamento secreto — distribuição de verbas como moeda de troca em negociações políticas, com pouca transparência.

Só no orçamento da saúde, por exemplo, R$ 10,4 bilhões estão reservados para emendas de relator, sem considerar os outros tipos de emendas, como individuais e de bancada. O governo do presidente Bolsona-

ro destinou ao orçamento secreto a verba que seria para o programa de prevenção ao câncer. O valor passará de R$ 175 milhões para R$ 97 milhões em 2023.

“O orçamento secreto do Governo Federal é vergonhoso e demonstra o desinteresse com a população, o serviço e os servidores públicos. Enquanto esse valor altíssimo tem destino incerto e obscuro, vemos os nossos direitos de acesso às políticas públicas básicas serem negados. A saúde, educação, assistência social e segurança não são privilégios, são direitos fundamentais para garantir a dignidade humana”, finaliza Juliana Mildemberg.

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Conheça as histórias de mulheres sobreviventes

Projeto entrevista mulheres que passaram pelo sistema prisional

Opodcast “Gentes – Mulheres Sobreviventes”, entrevista mulheres que passaram pelo sistema prisional e traz reflexões sobre inclusão social, vida profissional, afetiva, traumas e sonhos a partir de uma conversa com a antropóloga Luana Camargo e convidadas. O podcast foi lançado em 14 de outubro e pode ser ouvido nas plataformas digitais Spotfy, Deezer e Google Podcasts.

O projeto foi idealizado pela produtora cultural Luana Camargo, que, desde 2017, pesquisa especialmente o encarceramento feminino, através da antropologia da memória e trajetórias de vida.

Luana é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia da Federal do Paraná e especialista em Antropologia Cultural pela PUC/PR. Além de articuladora da Frente Estadual

pelo Desencarceramento do Paraná.

Fruto da pesquisa da antropóloga, a série é formada por quatro episódios e apresenta a narrativa de mulheres que saíram do cárcere. “O principal objetivo é mostrar como o sistema de justiça marcou a vida dessas mulheres e como a desigualdade de gênero aprofunda as violências e

DICAS

ausências do estado para com elas”, afirma Luana. A produtora também destaca que o podcast visa a alcançar um público amplo que, muitas vezes, só tem contato com o sistema prisional a partir de uma mídia punitivista e sensacionalista.

A série traz histórias com novas perspectivas sobre a questão do cárcere. Além dos quatro episódios, o po-

dcast também promove oficina de empreendedorismo e estratégias de projetos direcionado a pessoas egressas, familiares e pessoas que se relacionem com o tema do cárcere a partir das perspectivas dos direitos humanos.

Chamada de “Oficina Novos Rumos”, é parte da contrapartida social e tem como objetivo preparar as egressas do sistema prisional para o mercado de trabalho. Para Anna Carolina Azevedo, coordenadora da oficina, um dos maiores desafios é enfrentar o mercado de trabalho.

“O mercado de trabalho ainda é bastante preconceituoso, não inclusivo e possui grandes ressalvas a esse público. Então, como capacitar essa mulher egressa, bem como seus familiares, para que possam chegar preparados para o mercado de trabalho e também para aquelas que desejarem empreender seus próprios negócios”, questiona.

Dia da animação

O Museu da Imagem e do Som do Paraná recebe na próxima sexta (28) a mostra “Dia Internacional da Animação”, com programação intensiva de curtas-metragens de desenhos animados nacionais e internacionais. As exibições começam a partir das 19h30, em celebração ao 28 de outubro, data conhecida mundialmente como Dia da Animação.

Centenas de cidades

O evento acontece no mesmo dia e horário em centenas de cidades do Brasil, sendo este o primeiro ano em que o MIS-PR participa da mostra. Con ra a programação pelo site www. diadanimacao.com.br. A entrada é grauita. O MISca na Rua Barão do Rio Branco, 395.

Programação do Halloween

2 laranjas

Modo de preparo Preaqueça o forno a 180 ºC.

manteiga

refratário raso que comporte cerca de 2 litros. Numa tigela pequena, quebre um ovo de cada vez e transfira para outra tigela maior. Junte a manteiga e misture com o batedor de arame (se a manteiga estiver gelada, leve ao micro-ondas por 30 segundos para que derreta). Adicione o açúcar, aos poucos, mexendo bem a cada adição até formar um creminho. Acrescente as raspas de laranja, o coco ralado e misture com uma espátula para incorporar. Transfira para o refratário untado e leve ao forno para assar por cerca de 40 minutos ou até a casquinha ficar bem dourada. Opcional: servir com sorvete.

Curitiba terá programação de Halloween no mês de outubro. Alguns espaços da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) já estão com programação gratuita. Tem contação de histórias e lmes de terror na Cinemateca. As crianças também terão um programa especial, a roda de leitura O Povo das Histórias de Assombração. A contação de histórias trará contos de assombração dos Maraguá, povo originário conhecido entre outros aspectos culturais por ser mestre das histórias de assombração. Con ra no site www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR
Cultura 7 Divulgação
MASTIGADAS | Cocada de forno A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 4 xícaras (chá) de coco fresco ralado (cerca de 500 g) 6 ovos orgânicos 3 xícaras (chá) de açúcar 2 colheres (sopa) de manteiga derretida raspas de
orgânicas
Unte com
um
Ana Carolina Caldas Divulgação Reprodução

A Glória é Delas

A tão desejada taça da Copa Libertadores da América está em disputa no Equador e não estamos falando de Athletico e Flamengo. No dia 13 de outubro começou a disputa do maior torneio continental da América para as mulheres. A competição tem sede equatoriana e vai até o próximo dia 28. As representantes brasileiras eram Corinthians, Ferroviária e Palmeiras. Eram, porque agora nas semi nais, restou somente o time alviverde – mostrando que a competividade no torneio não se restringe ao seu time masculino. Nas quartas de nal, o Corinthians perdeu para o Boca Juniors por 2x1, em um jogo abaixo do esperado para o padrão das corintianas. E a Ferroviária foi derrotada pelo Deportivo Cali pelo mesmo placar, com gol das colombianas no nal do jogo. O Palmeiras teve um típico jogo de Libertadores nas quartas de nal, venceu o Santiago Morning (CHI) de virada no último segundo, após cobrança de falta. As palestrinas Katrine e Day Silva balançaram as redes. O próximo confronto do Palmeiras é na quarta-feira, 26, contra o América de Cali. Na outra chave das semi nais, os algozes Boca Juniors e Deportivo Cali se enfrentam. A nal é na sexta-feira, às 19h.

Athletico e Flamengo disputam R$ 80 milhões e o título

Vencer a Libertadores fica na história e enche o cofre para o ano que vem

Ao entrar em campo no próximo sábado, 17h, em Guayaquil, no Equador, Athletico e Flamengo buscarão o título mais importante das Américas e, no caso do time paranaense, conquistar seu maior feito esportivo. Além disso, correrão atrás de 16 milhões de dólares, mais de 84 milhões de reais pela cotação atual da moeda dos Estados Unidos.

E pouco importam as partidas que ainda fariam pelo campeonato Brasileiro na terça (25), após o fechamento deste texto. Nada de Arena da Baixada contra o Palmeiras nem de Maracanã contra o

Para ficar por dentro

O quê: final da Libertadores 2022 Onde: Guayaquil, Equador Quando: sábado, 29, 17h Transmissão: SBT, ESPN e ConmebolTV

Santos, a cabeça dos dois times já está no Estádio Monumental, palco da grande final.

Se a cabeça não está nos jogos daqui, há uma diferença entre os dois times. Dorival Júnior declarou que vai usar os titulares contra o time da Baixada Santista, o que tem deixado muitos torcedores temerosos por causa de possíveis contusões. Já Felipão deve deixar para depois a disputa das seis primeiras posições do Brasileirão, que dão vaga na Libertadores do ano que vem, e entrar com time totalmente reserva na partida que pode dar o título nacional deste ano aos alviverdes do Parque Antárctica.

Capitão tenta pela segunda vez Thiago Heleno ainda jogava no Cruzeiro quando viu escapar o título da Libertadores. Em 2009, enfrentou no Mineirão o Estudiantes de La Plata, quando na segunda partida o time mineiro saiu na frente, mas levou a virada em casa, depois de ter empatado na primeira partida na Argentina.

Depois de passar por outros times, como Corinthians, Criciúma e Figueirense, está há sete temporadas no Athletico, tenta mudar o resultado desta final e é a aposta de Felipão para conduzir o jovem time paranaense na final contra o favorito Flamengo, o time mais experiente e mais caro do Brasil.

15 dias de suplício

Na mídia tradicional, redes sociais, grupos de mensagens, estádio e bares em seu entorno em dias de jogos, o assunto é o mesmo desde o início do Brasileiro: evitar a queda à Série B. Este colunista tenta desde maio injetar algum ânimo escrevendo sobre chances de classi cação à Sul-Americana, mas, faltando 15 dias para o m da competição, não há otimismo que resista aos fatos. Diante de cinco jogos nais perigosíssimos e sem tempo para treinar, resta aos atletas darem tudo de si. Não derrotar o rebaixado Juventude na próxima quarta (2/11), às 19h, será prenúncio de catástrofe. Afora isso, os 17.262 pagantes (em parte adversários) do jogo contra o vice-líder Internacional, com R$ 300,00 cobrados pelo ingresso inteiro mais “barato”, expõem a nu a política deliberada de afastar ao máximo o torcedor coxa-branca do Alto da Glória, exatamente quando o time mais precisa dele.

Adeus, Valente

O tricolor anunciou o acordo com uma fornecedora de material esportivo até dezembro de 2024. Trata-se da portuguesa Claw, presente em países como Espanha, Qatar, Austrália e Angola, mas que no Brasil chega por meio da gente. Para além da dúvida sobre o potencial da empresa, o que a torcida paranista está se perguntando é sobre a Valente, a nossa marca própria. Após a saída da Spieler, marca que fabricou os produtos da Valente desde 2019, o que a torcida esperava era uma nova fabricante, não um retorno ao sistema antigo, ainda mais se tratando de uma marca desconhecida. Caso se concretize o seu fim, a Valente vai deixar saudades. Em seu legado ficam camisas clássicas pensadas em parceria com a Fúria, como a camiseta com o escudo branco, eleita uma das mais bonitas de todos os tempos, e o terceiro uniforme azul de 2019, que simula a plumagem da gralha azul.

A soma de todas as ansiedades

Um nal de semana para car marcado na história. Entre sábado e domingo, duas decisões gigantescas vão movimentar as emoções pelo Brasil afora. Primeiro, a nal da Libertadores, o dia que pode se tornar o mais importante da história do Furacão. Descrever a ansiedade da torcida nesse momento é impossível. E como se não bastasse, teremos no domingo uma das eleições mais importantes do Brasil República. É uma soma de sentimentos que não deveriam estar tão próximos. Apesar da vantagem nas pesquisas, não há como não estar preocupado com a votação de domingo, e isso sem dúvidas interfere nos sentimentos que antecedem a nal da Libertadores. Gostaria de estar apenas ansioso com meu time. Mas o contexto não me deixa dormir tranquilo. Que segunda-feira seja um dia de ressacas comemorativas!

Paraná, 26 de outubro a 2 de novembro de 2022 Brasil de Fato PRBrasil de Fato PR8 Esportes
ELAS POR ELA Fernanda
Haag

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