Brasil de Fato PR - Edição 291

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Opinião | p. 2

Anielle Franco na Time

Coluna de Giorgia Prates fala do protagonismo internacional

Mulheres que lutam

Atos no Paraná lembram do combate à violência e da luta por moradia e mais direitos em todas as áreas Paraná | p. 4 e 5

Paraná | p. 6

A disputa pelo pedágio

Deputados vão ao governo federal para mudar acordo

Cultura | p. 7

A arte de sobreviver

Artistas contam como enfrentam o dia a dia

Esportes | p. 8

Veio pra ficar

Futebol de mulheres bate recordes de público e ganha espaços

APÓS UM PERÍODO NEFASTO

8 de março retoma lutas e esperanças Paraná | p. 4 e 5

Ano 5 Edição 291 9 a 15 de março de 2023 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br PARANÁ
Lia Bianchini Agência Brasil Lia Bianchini

Um 8 de março para se retomar: lutas, esperanças e direitos

O8 de março de 2023 é o primeiro após o período nefasto que quase destruiu nosso país em quatro 4 anos. O governo Bolsonaro aprofundou os ataques às políticas de defesa à vida das mulheres e instigou discursos machistas e misóginos que repercutiram num crescente aumento de feminicídios no período.

A luta das mulheres em 2023, portanto, ganha um caráter de retomada das lutas numa perspectiva de ampliação da democracia. No Paraná, o primeiro ato aconteceu ainda no dia 7, uma ação organizada pela campanha Despejo Zero Paraná, que reuniu cerca de 2 mil mulheres mobilizadas pelo direito à moradia e acesso à terra para a reforma agrária.

Já o dia 8 tem como lema “Mulheres em resistência, contra todas as formas de violência. Por Terra, Teto e Trabalho, por democracia e sem anistia”, que traduz um desafio geral das forças populares para o próximo período, articulando pautas específicas do movimento feminista com agendas mais amplas, que tocam principalmente as mulheres mais pobres.

O momento aberto pelo governo Lula nos permite esperançar com dias melhores para a vida das mulheres, mas uma certeza ainda maior é de que só a mobilização e organização feministas terão a capacidade de pautar as transformações necessárias em nossa sociedade.

opinião

Anielle Franco na lista da Time: o protagonismo internacional da luta de uma mulher negra pelos direitos humanos

Giorgia Prates, Vereadora, presidenta da Comissão dos Direitos Humanos e 1° adjunta da Procuradoria da Mulher na Câmara de Curitiba

Março, mês da luta feminista, começou com uma notícia importante para as mulheres: a revista Time elegeu Anielle Franco como uma das doze lideranças mais influentes do mundo.

O protagonismo de Anielle mostra um avanço não só para nós, negras, mas para a sociedade como um todo. Como defendeu Angela Davis, filósofa norte-americana, “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura se movimenta com ela” e Anielle, protagonista em seu ativismo pelos direitos humanos, na literatura, na comunicação social, e agora enquanto ministra da Igualdade Racial, é mais uma entre tantas provas concretas do que defendeu Davis!

Desde o brutal assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018 (RJ), Anielle tem sido uma voz poderosa na luta por justiça e tem tra-

FOTOGRAFIA Giorgia Prates

balhado incansavelmente para manter vivo o legado de Marielle, cuja trajetória política inspirou mulheres de todas as classes, lugares e grupos étnicos, mas sobretudo aquelas que, como eu: negra, LBT e periférica, não se reconheciam nos espaços de decisões.

E como a sociedade ganha quando isso acontece? Explico: quando mulheres negras estão em espaços decisivos, novas perspectivas são postas à mesa de discussão e as políticas e ações são mais inclusivas, promovendo mudanças para parcelas negligenciadas e que, por consequência, levam desvantagem frente a outros grupos.

Quem não se lembra da frase: “É difícil trazer mulheres negras para Brasília”, declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), para justificar a ausência de diversidade racial em sua equipe.

Na sequência do episódio, foi Anielle quem criou um banco de talentos com mulheres negras tecnicamente capacitadas e dispostas a atuarem no Ministério

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

em questão. E é sobre isso: em um país onde metade da população é negra, quando não se governa para todas as pessoas o que resta é, deliberadamente, a vontade de exclusão.

O gesto de Anielle foi, na verdade, um enfrentamento educativo aos estereótipos e ao racismo manifestados por Tebet e enraizados na cultura de todo um povo. E esse gesto nos diz muito porque ele considera o que está sendo excluído e não desconsidera o que exclui, mostrando que existem caminhos quando se olha para todas as pessoas com integridade. Se esses grupos ganharem, ninguém sai perdendo. Compreende a lógica?

Juntas, nós podemos ter um Brasil mais igualitário, em que as violências e opressões não tenham mais espaço para operar. Por isso, como disse Marielle “eu sou, porque nós somos”. É chegada a hora da mudança e sempre estivemos prontas para promovê-la!

Leia o artigo na íntegra em brasildefatopr.com.br

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná . Esta é a edição 291 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Giorgia Prates e Paula Cozero ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS @brasildefatopr

Paraná, 9 a 15 de março de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
2 Opinião
SEMANA
editorial

Jornalista inicia campanha para lançar primeiro romance

“Fica tudo guardado nas minhas palavras. Naquelas que calo e em outras que deixo de dizer. Nem ouso repetir. Nunca um silêncio gritou mais alto e nem mais humanamente doce. Só ela se reconhece nesse espelho de olhar distante, que clama por um abraço.”

Essas palavras que saltam da página e encontram nossa razão, nossos medos e temores, deparam-se com a necessidade de reagir - ou não - e pertencem ao poema “Sobre fugas e encontros”, da jornalista ea Tavares. Ela pretende lançar seu primeiro livro a partir de nanciamento coletivo. ea está em busca de R$ 13 mil que possam viabilizar a publicação da obra via Editora Engenho das Letras. E seu sonho também é o nosso. Pro ssional ligada a movimentos sociais, feminismo, agricultura familiar e agroecologia, a autora nos oferece um outro cantinho do seu íntimo. Aquele que a gente planta às vezes escondido, às vezes querendo colher e acolher.

“Se alguém encontrar aqui uma única palavra que toque seu coração e faça todo sentido, será uma semente lançada para o encontro da unidade na multiplicidade”, diz ea.

1.820 dias. Quem mandou matar Marielle? E por quê?

Escreveu em seu Twitter, no 8 de Março, a escritora e jornalista Eliane Brum, em questionamento que faz praticamente todos os dias em suas redes sociais. A pergunta não quer calar e segue sem resposta...

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

8M sob nova direção Contrabando

O primeiro Dia das Mulheres do novo governo federal foi marcado por medidas concretas. Com a presença do presidente Lula foram anunciadas medidas como distribuição gratuita de absorventes, retomada de 1.189 obras de creches que estavam paralisadas pelo país, proposta de equidade salarial entre homens e mulheres e ratificação da Convenção 190 da OIT, contra violência e o assédio moral e sexual no trabalho.

Machismo e violência

Em seu discurso, Lula destacou: “Houve tempo em que o 8 de março era comemorado com distribuição de ores para as mulheres, enquanto os outros 364 dias do ano eram marcados pela discriminação, o machismo e a violência. Hoje, nós estamos aqui comemorando o 8 de março com o respeito que as mulheres exigem.” Entre os presentes ao ato destacavam-se ministras do atual governo e a ex-presidenta Dilma Rousse (PT).

Tudo joia aí?

Além das joias retidas, Bolsonaro recebeu outro pacote, com peças de uma joalheria caríssima, com relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário islâmico. Tudo entrou no País sem ser declarado à Receita, o que configura contrabando, pois as peças são avaliadas em centenas de milhares de reais, quando só podem entrar sem pagar impostos produtos de até mil dólares, pouco mais de R$ 5 mil. A coisa fica pior, pois o próprio presidente confessou que está com os objetos em entrevista à TV CNN Brasil.

O que são medidas protetivas?

Cerca de 33% das mulheres brasileiras com mais de 16 anos já vivenciaram violência física e/ou sexual por parte de parceiro ou ex-parceiro. E a violência contra a mulher cresceu em 2022, segundo pesquisa do Datafolha.

Instrumento importante que a Lei Maria da Penha dispõe para proteção da mulher violentada/ ameaçada é a medida protetiva. Quando ela faz denúncia na Casa da Mulher Brasileira ou na delegacia, pode pedir proteção para que que segura durante o processo. Isso envolve, por exemplo, o afastamento do agressor do lar, proibição de aproximação da vítima e seus familiares, suspensão de posse de armas e de visitas a dependentes.

A Patrulha Maria da Penha, que atende no 153, serve para acompanhar quem está com medida protetiva vigente e funciona nos maiores municípios paranaenses.

Mas a efetividade da medida protetiva depende da qualidade do serviço público. Por isso, é preciso cobrar a ampliação da Patrulha no estado, e que servidores públicos da rede de atendimento tenham formação para lidar com a violência contra a mulher.

O escândalo da tentativa de Bolsonaro de ficar com joias de cerca R$ 16 milhões mandadas pelo governo da Arábia Saudita não para de ter novos capítulos. Na quarta, 8, o canal GloboNews mostrou imagens de um militar indo ao posto da Receita no Aeroporto de Guarulhos para tentar retirar as joias. Não conseguiu porque não tinha documentação necessária, mas tentou pressionar o funcionário com telefonemas do ajudante de ordem de Bolsonaro e do chefe da Receita Federal.

Vale ainda lembrar: o 180 recebe denúncias da vítima e de testemunhas e, em caso de emergência, deve-se ligar para o 190.

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Geral 3
FRASE DA SEMANA
Divulgação Reprodução
QUE DIREITO É ESSE?
Paula Cozero Paula Cozero Advogada e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares Faça parte desse sonho doando em apoia.se/livrodathea Imagem circulou na redes sociais

No 8 de março, mulheres vão às ruas por mais políticas públicas e contra todas as formas de violência

Atividades culturais, atos políticos e debates aconteceram em várias cidades do Paraná

O8 de março de 2023 teve como lema: “Mulheres em resistência, contra todas as formas de violência. Por Terra, Teto e Trabalho, por democracia e sem anistia”.

Em todo o Brasil, mulheres saíram às ruas com essas pautas e outras específicas de cada movimento social e de cada cidade. Em Curitiba, no final da tarde, centenas delas se concentraram em ato político na Praça Santos Andrade e, depois, marcharam pelas ruas centrais da cidade. Antes, ao longo do dia, movimentos sociais e sindicatos realizaram várias atividades políticas e culturais.

O tom das falas no ato

político foi de fortalecer as lutas neste momento para a consolidação de políticas públicas para as mulheres e contra todas as formas de violência. Presente no ato, a deputada estadual Luciana Rafagnin destacou a importância de quem veio antes.

“Este é um momento muito importante, um dia para refletir e pensar sobre todas as mulheres que nos antecederam e que muito lutaram para que hoje pudéssemos ter liberdade e democracia para poder estar aqui em uma praça comemorando conquistas, mas também fazendo uma reflexão sobre os desafios que ainda temos”, disse.

A indígena Kixirrá Jamamadi, do Movimento de Trabalhadoras e Trabalha-

dores por Direitos (MTD), destacou a importância de atos como esse para fortalecer as lutas das mulheres.

“Estamos aqui lutando por espaço, por vez, por voz e por dignidade, sobretudo no nosso trabalho, como indígenas artesãs. E estamos aqui em solidariedade com as lutas de todas as outras mulheres”, diz.

Elza Campos, da União Brasileira de Mulheres (UBM) afirmou: “Estamos muito felizes de estar aqui no movimento, na luta concreta nesta data, que é uma das mais importantes da luta feminista. Vamos juntas lutar para garantir políticas públicas para igualdade de gênero”, disse.

Na Praça Santos Andrade, o ato contou com apre-

sentações artísticas do Bloco Afro Pretinhosidade, do Coletivo de Mulheres Indígenas e Slam. Às 19h30, as mulheres marcharam até a Boca Maldita segurando cartazes destacando pautas prioritárias, especialmente as voltadas para o fim da violência de gênero, o direito à terra, à moradia e à

não anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. O 8M foi organizado pela Frente Feminista de Curitiba. Pelo Paraná, várias cidades também receberam atos no Dia das Mulheres, como Londrina, Francisco Beltrão, Guarapuava, Maringá, entre outras.

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Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini
4 Brasil
Lia Bianchini Fotos: Lia Bianchini

Em ato em Curitiba, mulheres reivindicam fim dos despejos e direito à terra e moradia

Após marcha na terça (7), mulheres entregaram pauta de reivindicações a autoridades

Cerca de 2 mil mulheres percorreram o Centro de Curitiba cobrando o fim dos despejos e direito à moradia e à terra, na terça (7). A ação foi organizada pelas mulheres da Campanha Despejo Zero Paraná. O ato faz parte das mobilizações do 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.

Com o lema “Mulheres em resistência, contra todas as formas de violência. Por Terra, Teto e Trabalho, por democracia e sem anistia”, a manifestação terminou em frente ao Palácio das Araucárias, no Centro Cívico. Dentro do Palácio, mulheres entregaram uma pauta de reivindicações a autoridades municipais e estaduais.

Bruna Zimpel, do MST, lem-

brou, na audiência, que no Paraná são cerca de 20 mil pessoas camponesas em áreas irregulares e cerca de 80 imóveis ocupados, muitos destes há mais de 10 anos. “Todas as áreas ocupadas têm condições jurídicas para avançar na regularização. Temos terras improdutivas,

áreas públicas, áreas confiscadas, terras de devedores da União, terras já ofertadas ao Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], terras do Estado do Paraná”, apontou.

Representando o MTST, Mariana Kauchakje afirmou que “a questão

da moradia, no Brasil, é uma questão de gênero”. “Mais de 60% das casas que compõem os espaços de ocupação são chefiadas por mulheres, que tiveram de tomar a difícil decisão de parar de ter que todo mês não saber se vão pagar aluguel ou alimentar um filho. E elas tomaram a decisão corajosa de ocupar um vazio urbano porque o estado não fez por elas, falhou com elas”, disse.

Estiveram na audiência os desembargadores do Tribunal de Justiça Maria Aparecida Blanco e Fernando Prazeres; Roland Rutyna, superintendente Geral de Diálogo e Interação Social do governo do estado (SUDIS); Nilton Bezerra, superintendente do INCRA/PR; Aline Bilek e Regis Sartori, do Ministério Público Estadual (MP/PR), além parlamentares e prefeitos.

Mulheres de áreas

de ocupação por

Terra, Trabalho e Teto

Acampanha Despejo Zero integra atos em todo país no 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. No Paraná, cerca de dois mil mulheres do MST realizaram a marcha por Terra, Teto e Trabalho, da Praça 19 de Dezembro até o Tribunal de Justiça (leia matéria acima).

As ações do dia foram protagonizadas pelas mulheres na definição da pauta e na negociação com o governo. Mobilizadas em 18 ônibus, apenas na cidade, além de 600 mulheres do campo, foram destacadas duas lideranças de cada uma das comunidades e dos movimentos para participar. Quem são essas protagonistas das lutas? A reportagem do Brasil de Fato Paraná conversou com algumas durante o ato.

“Gostei de ver outras mulheres fazendo lutas”

Dircelia de Ribeiro de Oliveira, 38, (foto acima), três filhos, trabalha na área de limpeza. Integra desde o início a ocupação Britanite, no bairro Tatuquara, em Curitiba. Também gosta de atuar na comunicação, tanto que produz vídeos para cerca de 20 mil seguidores no Tik Tok. “Vamos que vamos pra luta por moradia. É importante nos organizarmos para ter conhecimento, fazer amizades. Gostei de ver outras mulheres fazendo lutas”, afirma.

“Onde tiver uma luta, eu estou junto”

Eronilda Rodrigues Steinhaus, 60, (foto ao centro) é cozinheira e há 34 anos moradora da área Ferrovila, no Novo Mundo, local que ainda não passou por regularização fundiária. Eronilda nunca parou de lutar e transmitiu o interesse pela ação social para sua filha, Eliane. Hoje, a prioridade de Eronilda é contribuir nas experiências de cozinhas comunitárias da União de Moradores e Trabalhadores (UMT), seja o sopão no bairro, seja o apoio às ações do MST. “Participo das cozinhas para poder ajudar as pessoas mais necessitadas, que precisam. Mas onde tiver uma luta, eu estou junto”, afirma.

“Estou conquistando uma casa para ela”

Josi Carneiro, 49, (foto abaixo) é costureira, como ressalta, “sempre em coletivo”. A ocupante da área Guaporé 2 conta que participou da primeira ocupação ao lado ex-marido, mas logo tomou a dianteira e passou a lutar por conta e experiência própria. A necessidade que a mobilizou para hoje ter conquistado uma casa no assentamento Corbélia (CIC). Porém, a luta continuou agora na Guaporé para o direito da filha. “Eu pagava aluguel e fui para ocupação, consegui minha casa, e vim para a Guaporé para conseguir a casa para minha filha, estou conquistando uma casa para ela”, diz. Josi vivenciou, em 17 de dezembro de 2020, o despejo forçado da primeira área da Guaporé, “desde o começo ao fim”, com a dor que isso acarreta. Agora, defende que a luta é pelo não esquecimento. “É fundamental que as autoridades nos enxerguem”, comenta.

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Pedro Carrano
Brasil 5
Fotos: Pedro Carrano

Governo estadual e federal travam queda de braço por pedágio no Paraná

Disputas na Alep e fortes declarações de políticos esquentam o debate

Gabriel Carriconde da proposta, com fortes reações na bancada governista e no governo paranaense. Parlamentares da oposição defendem que a licitação seja feita pela menor tarifa, sem limite de desconto ou cobrança de aporte, e que não haja a abertura de novas praças de cobrança.

Assinado no ano passado, entre Ratinho Jr e o governo Bolsonaro, o acordo para um novo modelo de pedágio nas rodovias estaduais está provocando debates acalorados na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e fortes disputas entre lideranças ligadas ao governo paranaense e o governo federal. O acordo de 2021 previa a concessão de mais de 3 mil quilômetros de rodovias paranaenses, a criação de 15 novas praças de pedágio, obras de duplicação, viadutos e contornos, além da divisão dos contratos em seis lotes.

Após a eleição de Lula, parlamentares do PT na Alep, críticos ao acordo, vêm tentando mediar junto ao governo federal a revisão

Frente parlamentar

Criada em 2019 para fiscalizar e promover debates sobre o antigo contrato de pedágio, a Frente Parlamentar do Pedágio na Alep (dominada pela oposição) foi encerrada na última terça (7) pelo presidente da casa, Ademar Traiano, alegando que numa nova legislatura a frente teria que ser extinta por conta do regimento da casa.

Presidente do PT no Paraná, e até então presidente da frente, o deputado Aril-

Deputados petistas se reúnem com ministro Rui Costa, em Brasília

son Chiorato criticou a decisão, chamando de aberração o que foi feito. “..Esse atropelo do regimento feito nesse parecer conduzido pela Mesa na figura de vossa excelência. No início, ela [frente] tratava sobre os contratos que iam terminar. Foi alterado para a Frente Parlamentar sobre os pedágios, inclusive com a incorporação dos novos modelos de pedágio”, disse. Traiano se defendeu dizendo que estaria cumprindo o regimento. “Aqui não há manobra, eu estou cumprindo o que determina o regimento interno desta Casa, que é a Bíblia do Poder Legislativo”, afirmou. Dois deputados já protocolaram a criação de uma nova frente, além

de Chiorato, o deputado da base do governo Delegado Jacovós (PSD).

O encerramento da frente é visto como uma possível resposta ao encontro entre Chiorato com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, em Brasília, que também teve participação do deputado estadual Luis Claudio Romanelli e da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann. “O ministro foi muito receptivo e ficou sensibilizado pelos apontamentos técnicos que reforçam a necessidade de revisão do modelo defendido pelo governador Ratinho Jr., que prevê 15 novas praças, 35 anos de contrato e tarifas mais caras que antes”, afirmou o deputado petista.

Em contrapartida, na segunda-feira (5), o líder do governo Ratinho Jr na Alep, deputado Hussein Bakri (PSD), disse que o governo do estado esperará só até o final de março para uma definição federal. Caso o governo Lula não concorde com o atual modelo, o Paraná não cederia as rodovias. “A decisão cabe agora, única e exclusivamente, ao governo federal. Ele vai decidir se é contra o a favor desse modelo que foi colocado. Se for a favor, vem e toca com os ajustes que o ministro fez. Se for contra, o governo federal fica com as suas rodovias e o Paraná fica com as suas rodovias. O que ninguém quer”, afirmou Hussein.

A declaração jogou mais lenha na fogueira e provocou a reação da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. Em suas redes sociais, a deputada afirmou que Ratinho Jr. faz ameaças. “Para iludir o povo e tentar emplacar um modelo de pedágio que criou junto com Bolsonaro e que é extremamente prejudicial aos usuários e ao desenvolvimento do estado. Pode tirar o cavalo da chuva, governador! Não vamos permitir!’’, escreveu.

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AMEAÇAS
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6 Cidades
Assessoria Gleisi Hoffmann

Amor pelas artes resiste, mesmo com machismo e lutas do dia a dia

Etarismo, machismo, preconceito e desigualdade de gênero nas artes. Mesmo com tantas dificuldades, “continuar sendo artista é pelo amor.” Essa é a síntese da resposta dada por mulheres artistas entrevistadas pelo BdF Paraná. Nas histórias, três delas dizem como encontram forças para superar as dificuldades.

Mãe periférica e o amor pela arte Atriz, produtora e fotógrafa, Juliana Biancato começou a se interessar por artes no bairro Boqueirão, em Curitiba, onde voltou a morar recentemente. “Eu fazia parte de um grupo de jovens na comunidade e participava de peças de teatro, coral. Até que, aos 14 anos, fui aprovada numa peça que iria viajar pelo estado e fui com eles”, conta. De lá para cá, começou com fotografia e, depois, com a área de produção, principalmen-

te na música e no audiovisual. Juliana se apresenta como mãe solo periférica e diz que os desafios são diários. “São muitos os desafios, até pela sobrevivência, para pagar as contas e colocar comida em casa. Eu preciso fazer muitos trabalhos, taxas em bares e eventos”, relata.

Ainda diz que o mercado é cruel para as mulheres. “Não podemos envelhecer, não podemos ficar para trás nas tendências de estética e nos círculos “mainstream”, fala. Apesar das dificuldades, o amor a faz continuar. “É uma resposta simples, mas não tão fácil na vivência. É o amor, é a arte que mora em mim ou que foge de mim, é o amor que pode nos paralisar diante dos arrebatamentos e é justamente o que nos move na transformação para a matéria arte em decomposição eterna.”

Fotógrafa para ocupar seu lugar no mundo “A minha vida era bastante limitada, numa Curitiba classe média. A fotografia me levava para outros modos de vida e trazendo curiosidades, uma vontade de estar com as pessoas. Com o tempo fui transformando isso em uma profissão”, conta a fotógrafa e professora Milla Jung. Há mais de 20 anos atuou como fotógrafa documentarista e, há cerca de 10 anos, na área multimídia.

No início foi bastante difícil por viver com uma geração de fotógrafos bastante machista. “Ser mulher na

fotografia sempre foi muito difícil. Lá atrás eu vivia com uma geração de fotógrafos muito machistas que vinham do trabalho de rua. Isso significava ter corpo para carregar o equipamento. E, também, que o fotojornalismo precisava de um olhar mais objetivo, e achavam que as mulheres estavam ali só atrapalhando caminho”, diz.

Para Milla, apesar de muitas transformações e conquistas, o mundo das artes ainda é bastante difícil para as mulheres, ainda mais se for mãe. “Ser mulher e mãe é quase uma impossibilidade no mundo das artes. Ter um filho é quase como você decretar que está fora do circuito artístico e da vida acadêmica. O etarismo, a misoginia e o machismo são gravíssimos nas artes”, cita.

Perguntada por que não desiste, responde que é para ter seu lugar no mundo. “Continuo para não ficar doente. É o que me faz respirar, é o meu lugar no mundo. Se eu olhasse

para este sistema da arte, o que me traz de retorno, eu não continuaria. É um trabalho de resistência, de organizar minha própria raiva, minha reação com o mundo.”

Em busca de estabilidade A poetisa e produtora cultural Maluz desde criança sempre teve muito interesse por leitura e escrita. Hoje se realiza na poesia e há oito anos atua na produção cultural, mas somente em 2022 conseguiu trabalhos remunerados. Maluz passou por vários obstáculos. “Queria cursar Cinema na Faculdade de Artes. Tentei duas vezes e não passei. Não consegui por ser periférica e precisar conciliar estudos, cuidar de irmã mais nova e trabalhar”, diz.

Mais tarde se formou em Tecnologia de Produção Cênica, depois do cursinho solidário em Curitiba. A partir daí, Maluz atuou em assistência de produção, mas sempre de forma voluntária. “Essa área ainda é vista como algo solidário. No início quase não pagam. Só comecei a ser remunerada mesmo em 2022”, diz. Maluz também cita sua nova realidade de mãe solo e as dificuldades para conciliar trabalhos. “Acabo tendo que levar meu filho e, se não tiver outras mãos pra ajudar, é muito solitário e pesado. Mas tenho conseguido pegar trabalhos com uma outra visão de mundo, que conseguem entender e dar uma assistência.”

DICAS MASTIGADAS | Arroz Doce

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes

1 xícara (chá) de arroz Terra Livre

3 xícaras (chá) de leite Terra Viva

2 xícaras (chá) de água

1/3 de xícara (chá) de açúcar

1/2 lata de leite condensado

1 canela em rama

3 cravos-da-índia

1 pitada de sal canela em pó a gosto

Modo de preparo Numa panela média misture leite, água, açúcar e sal. Junte o arroz, a canela e os cravos. Leve ao fogo alto e mexa até começar a ferver. Abaixe

o fogo e deixe cozinhar por mais 20 minutos, mexendo de vez em quando, até os grãos ficarem macios. Misture o leite condensado e deixe cozinhar por mais 5 minutos para ficar

cremoso. Transfira para uma tigela e cubra. Deixe amornar antes de levar para a geladeira. Polvilhe com canela em pó a gosto na hora de servir.

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Arquivo Pessoal
Se forem mães, o caminho fica ainda mais difícil, solitário e excludente para as mulheres
Cultura 7
Gilson Camargo Kraw Penas

Classificação imperiosa

Nos 108 estaduais disputados até 2022, o Coritiba terminou entre os quatro primeiros colocados em 90 ocasiões – 83,3% de todos os campeonatos. Foram 39 títulos, 23 vice-campeonatos, por 20 vezes o 3º lugar e em oito a 4ª colocação. Sete gerações – a mais antiga corresponde aos trisavós dos avós dos atuais adolescentes coxas-brancas – estão acostumados a ver o alviverde brilhar como nenhum outro clube nos gramados deste Estado. Não se concebe, assim, qualquer placar no próximo domingo (12/3) que não resulte na classi cação às semi nais do Regional. Será a terceira tentativa no ano de derrotar o FC Cascavel (4ª divisão do futebol brasileiro), já enfrentado sem nenhuma vitória duas vezes na competição em intervalo de 16 dias. É imperiosa a recuperação, após os recentes vexames diante de São Joseense, Azuris (ambos “sem-divisão”) e Operário.

Mais um 8 de Março

Chegou mais um 8 de março, Dia Internacional das Mulheres — no plural, porque não há mulher universal. Dia de luta política e não de ganhar flores para reforçar um ideal de feminilidade (os chocolates e o pix estou na fase de aceitar). Mas o que esse dia significa para o futebol?

Nenhuma novidade que o esporte em geral, e o futebol, em particular, se constituiu como um espaço de hegemonia masculina: feito por homens e para homens. Essa cultu-

ra corporativista machista segue até hoje, basta ver os inúmeros casos de violência contra mulher perpetrados por jogadores. E nem vou falar dos absurdos alegados na defesa do caso Daniel Alves — aliás, quantos atletas e profissionais da área se pronunciaram sobre a situação? Um silêncio ensurdecedor.

Com relação ao futebol de mulheres, em setembro do ano passado escrevi o texto “Futebol de Mulheres é realidade” falando sobre as finais do Brasileirão e a quebra do recorde de público, projetando a chegada do dia em que não será novidade noti-

O time feminino do Furacão saiu do CT do Caju com um gosto amargo. A primeira vitória no Brasileiro esteve próxima. Logo no começo da partida, Nathalia, na insistência, abriu o placar para o rubro-negro. Mas o balde de água fria chegou no nal da segunda etapa: aos 44 minutos, Bianca empatou a partida, e segurou o Athletico na 11ª posição. O ponto positivo é que a evolução do time em campo é visível. Mas a falta de sorte e de paciência – lembrando que no primeiro jogo o cartão vermelho acabou sacramentando a derrota – custaram caro demais. Pelo masculino, o jogo do próximo domingo tem tudo para ser tranquilo por dois motivos: a vantagem do primeiro jogo, 5x2, fora de casa; e a excelente fase do Furacão no ano, com 94% de aproveitamento, o melhor do Brasil junto com a equipe do Grêmio.

ciarmos as 40 mil pessoas reunidas em um estádio para assistir a uma partida da modalidade. Continuo com esse pensamento otimista. Nos últimos anos houve um avanço significativo na estruturação do futebol de mulheres: mais competições, melhor calendário, maior visibilidade e cobertura midiática, interesse de patrocinadores, crescimento de público, melhores condições para as atletas. E arrisco dizer que estamos em um ponto de não retorno. É o famoso “foguete não tem ré”.

Será o suficiente? Já chegamos ao ideal almejado? Definitivamente

não. Soa clichê, mas ainda há muito a ser feito. O Brasileirão 2023 iniciou com problemas de transmissão e as primeiras rodadas não serão transmitidas na televisão aberta. O descaso da diretoria do Ceará com sua equipe feminina é absurdo. Goleadas acontecendo por uma disparidade enorme entre os times. Enfim, existem problemas perenes na modalidade — e precisamos enfrentá-los. Mas como o futebol de mulheres é (e sempre foi) resistência, seguiremos na luta para alcançar o respeito e a igualdade que merecemos.

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8 Esportes
Fernanda Haag Divulgação | CBF
O futebol de mulheres é resistência, seguiremos na luta por respeito e igualdade

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