Jornal Brasil de Fato / RS - Número 34

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Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

RIO GRANDE DO SUL

Foto: Daniela Huberty/COMIN

DIVERSIDADE INDÍGENAS CHEGAM À UNIVERSIDADE E SÃO MAIS DE 80 APENAS NA UFRGS PÁGIN A 3

TERRA COMBATE A BOLSONARO JUNTA INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E CAMPONESES PÁGIN A 6

20 de abril de 2022 distribuição gratuita brasildefato.com.br

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Ano 3 | Número 34

OS DONOS DA TERRA Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

APÓS CINCO SÉCULOS DA CHEGADA DO INVASOR, OS POVOS ORIGINÁRIOS GANHAM AS RUAS E SE TORNAM PROTAGONISTAS DA CENA POLÍTICA


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EDIÇÃO N O 34 - 20 DE ABRIL DE 2022 - W W W.BRASILDEFATORS.COM.BR

CHARGE | Santiago

Opinião

Indígenas do Rio Grande, violências e resistências ROBERTO LIEBGOTT (*)

Editorial

A vergonha que pertence a Bolsonaro ▶ Pela primeira vez na história, o Brasil tem um presidente denunciado por genocídio. Pela primeira vez na história, um presidente brasileiro sofre não apenas uma denúncia por genocídio em um foro internacional, mas quatro. Esta vergonha pertence a Jair Bolsonaro. A mais recente destas denúncias aconteceu perante o Conselho de Direitos Humanos (CDH49) da ONU, agora em março. “Assistimos ao extermínio programado dos povos indígenas livres ou em situação de isolamento voluntário devido a uma ação deliberada do governo federal para permitir que esses povos sejam massacrados”, apontou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Nos anos recentes, a violência aumentou. Em 2020, pelo menos 201 terras indígenas foram invadidas por garimpeiros e madeireiros. E 113 indígenas, de diversas etnias, foram assassinados. Precedendo a invasão, vem o descaso quando não o incentivo oficial. Na acusação, lembra-se que a ausência de demarcação das terras dos povos originários abre o caminho para a barbárie e as mortes. Antes, em 2019, o Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos e a Comissão Arns denunciaram ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, na Holanda, indícios de crimes contra a humanidade e incitação ao genocídio cometidos pelo governo brasileiro. Em 2020, com outro objetivo, uma coalizão de mais de 60 sindicatos e movimentos sociais, especialmente do setor de saúde, escancarou no TPI a prática de genocídio no país durante a pandemia. No ano passado, foi a vez da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) expor à corte de Haia atos de governo qualificados como ecocídio e genocídio. Tais julgamento estendem-se por anos a fio. Não será algo capaz de alcançar Bolsonaro e seus cúmplices em pleno mandato. A expectativa, porém, é de que, neste ano, este Brasil cruel, estúpido e brutal seja derrotado. E, então, depois da derrota, poderá vir, para quem concebeu e construiu o crime, algo pior do que a derrota.

▶ No passado, nas terras do Rio Grande, habitavam dezenas de povos indígenas. Na contemporaneidade, vivem os Kaingang, maioria da população, cerca de 35 mil pessoas, os Mbya Guarani, em torno de três mil, os Charrua e Xokleng com algumas dezenas de famílias. Aqui, no início do século 20, foram estruturadas duas políticas para indígenas: uma pelo Estado, que precisava garantir a entrega de porções de terras para colonos europeus; outra, pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), comandado por militares que assumiram a relação com os indígenas, tendo como o horizonte pacificá-los e integrá-los. Criaram algumas reservas e promoveram a remoção forçada dos indígenas, liberando as terras para o "progresso colonial". Havia então duas teses em curso. A primeira, a de que os indígenas deveriam ser ensinados a viverem como brancos, integrando-se à sociedade e ao trabalho. A segunda vinculava-se à perspectiva de que deveriam, aos poucos, na medida em que não aceitassem a catequese política, religiosa, educacional do Estado, serem extintos violentamente.

OS P OVOS, A PE SA R DO SOFRIMENTO, SUBSISTIR A M.

Atualmente, existem aqui seis grandes realidades indígenas distintas, mas que se interligam e interagem. Aquelas onde os indígenas vivem em reservas do SPI, em torno de 10; outras que foram demarcadas como terras tradicionais - menos de 20 - seguindo a Constituição de 1988; outras áreas cedidas ou compra-

ALÉM DA PARALISAÇÃO DAS DEMARCAÇÕES, HÁ EM CURSO A ANTIPOLÍTICA INDIGENISTA, QUE BUSCA DESCONSTRUIR AS CONQUISTAS DO PASSADO. das pelos poderes públicos e destinadas ao assentamento de famílias; e, a grande maioria das terras indígenas, mais de 50, estão com os procedimentos de demarcação iniciados, mas paralisados; há, ainda, dezenas de comunidades Kaingang, Guarani e Xokleng em acampamentos ou terras degradadas, sem acesso à água potável, a lugares de plantio e à matéria prima para a confecção de artesanatos comercializáveis; e, para nunca esquecermos, a realidade dos indígenas em contextos urbanos, que somam quase mil famílias somente em Porto Alegre. Além da paralisação das demarcações, há em curso a antipolítica indigenista, que busca desconstruir as conquistas do passado. Há, por fim, a discriminação e o racismo. A sociedade, em geral, age sempre com intolerância em relação aos indígenas, tratando-os como preguiçosos, incapazes e violentos. Mesmo assim eles se mobilizam em âmbito local, regional e nacional, como no Acampamento Terra Livre. E nós, cada um e cada uma, precisamos aprender e seguir em luta pelo Bem Viver, por um outro mundo possível, como eles. (*) Cimi Sul - Equipe Porto Alegre

www.brasildefators.com.br (51) 98191 7903 redacaors@brasildefato.com.br /brasildefators @BrasildeFatoRS brasildefato.rs CONSELHO EDITORIAL Saraí Brixner, Sandra Lopes, Enio Santos, Neide Zanon, Ademir Wiederkehr, Luiz Muller, Télia Negrão, Diva da Costa, Grazielli Berticelli, Bernadete Menezes, Gelson José Ferrari, Salete Carollo, Cedenir Oliveira, Lucas Gertz Monteiro, Vito Giannotti (In memoriam) | EDIÇÃO Ayrton Centeno (DRT3314), Marcelo Ferreira (DRT16826) REDAÇÃO NESTA EDIÇÃO Ayrton Centeno, Katia Marko, Marcelo Ferreira, Walmaro Paz, Fabiana Reinholz e Marcos Corbari | DIAGRAMAÇÃO Marcelo Souza | DISTRIBUIÇÃO Alexandre Garcia e Saraí Brixner | IMPRESSÃO Gazeta do Sul | TIRAGEM 25 mil exemplares.


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Diversidade

Indígenas chegam à universidade trazendo outra forma de ver o mundo FABIANA REINHOLZ PORTO ALEGRE

▶ “A permanência das pessoas que ingressam na universidade através de Ações Afirmativas, como as estudantes indígenas, é uma luta dura e importante. Não adianta só colocar as pessoas para dentro dos muros, das salas. É preciso dar condições para que elas sigam seus estudos e dentro da visão de mundo que acreditam e vivem”. Este texto consta na carta dos estudantes indígenas da Universidade Federal do

Rio Grande do Sul, enviada à instituição em 2017, reivindicando uma moradia para os povos originários. Cinco anos passados, no início de março de 2022, o enfrentamento veio à tona novamente. Após intensa mobilização e a ocupação do prédio hoje abandonado onde funcionou a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SMIC), de Porto Alegre, na entrada do Túnel da Conceição, a UFRGS cedeu a antiga creche da instituição como moradia própria para os povos originários.

Fotos: Alass Derivas | @derivajornalismo

No avanço do processo de reparação histórica, a mais recente conquista é a implantação das casas dos estudantes indígenas

Indígenas e apoiadores no espaço conquistado, a antiga creche da UFRGS

QUATRO UNIVERSIDADES JÁ ADOTARAM A INOVAÇÃO

▶ Gah Té Iracema, kujà, pajé do povo Kaingang - recentemente foi indicada pela UFRGS para o título de Doutora Honoris Causa - ressalta que há muitos anos os indígenas reivindicavam uma casa própria do estudante, um modo de ajudar na preservação da cultura original. Um espaço que

permite às crianças confeccionar o artesanato tradicional. Com a cedência do espaço, a UFRGS passa a ser a quarta universidade gaúcha a ter um espaço destinado aos alunos indígenas. Começou com a UFSM, em Santa Maria, em 2018; no ano seguinte, veio a da FURG, em Rio Grande; e a

REPARAÇÃO HISTÓRICA Gah Té Iracema na ocupação do prédio abandonado da Prefeitura de Porto Alegre

MAIS DE OITENTA INDÍGENAS ESTUDAM NA UFRGS O primeiro vestibular específico para estudantes indígenas na UFRGS aconteceu em 2008. Desde então, a luta se intensificou ▶ “Não basta ter o acesso se não tem condições mínimas de permanência para que a gente possa fazer esse processo de formação, de qualificação, que seja um processo de não sofrimento”, destaca a mestranda em ciências sociais, Angélica Kaingang. “Nossa luta é por direitos, que eles sejam respeitados em relação aos nossos modos de vida, independente de qualquer política pública

que a gente venha a acessar ”, prossegue.

A questão da permanência pode ser vislumbrada na batalha pela casa do estudante indígena.

“Desde 2011/2012, a maioria dos ingressantes na UFRGS começam a ser mulheres e dessas mulheres a maioria mães. Então, nossa luta por moradia se tornou muito mais gritante em re-

lação às mães estudantes indígenas. Essa demanda não era suprida pela universidade com a casa do estudante”, explica Angélica. A UFRGS tem atualmente 77 estudantes indígenas na graduação, sendo 52 do sexo feminino e 25 do masculino. Na pós-graduação são sete alunos (as), sendo três homens e quatro mulheres. No total, 84 universitários (as) vieram das aldeias e terras indígenas.

▶ Angélica considera a presença indígena nas universidades uma reparação histórica. Durante muitos anos, os governantes favoreceram uma política de assimilação dos povos indígenas. Baseava-se na ideia de que os indígenas seriam uma categoria transitória. Nesta concepção, eles mudariam e deixariam de ser indígenas para se tornar cidadãos brasileiros, trabalhadores. Com a Constituição de 1988 surge outro paradigma quando reconhece a divergência e acatar o modo de vida dos povos originários. “Nossa presença vem carregada com toda essa questão”, diz. Nota que a sociedade brasileira têm uma conta histórica a pagar aos primeiros habitantes do país. “As ações afirmativas no en-

sino superior vem ao encontro dessa dívida histórica ”, enfatiza. Iracema acentua que indígenas tem seu conhecimento ancestral e é importante os jovens estarem nas universidades para entender essa outra cultura. “Para cursar a universidade, tivemos que batalhar para trazer essas vagas”, repara. “O que é uma vergonha. Na lei sempre diz que são direitos iguais, mas nós tivemos que lutar. Nós, lideranças, tivemos que pousar diante da universidade para os nossos jovens terem direito de ter estudo”. Para Angélica, os indígenas trazem outra vivência, outra forma de ver o mundo. “Ensinam que as diferenças não vem para ser excluídas. Ao contrário, elas vem para somar”, complementa.


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Terra, teto e liberdade pauta 522 anos da chegada dos br Indígenas

Quatro lideranças denunciam o descaso e a violência contra os povos originários “Autonomia, livre determinação e sustentabilidade” é a principal preocupação do povo Kaingang, o mais numeroso do Rio Grande com aproximadamente 30 mil pessoas. Quem cita é Fernanda Kaingang, nascida em chão indígena e hoje formada em direito. Fernanda comenta que o chão onde sua gente vivia foi expropriado e entregue aos imigrantes sem terra que fugiam da fome e das guerras na Europa do século 19. Também foram usadas para a reforma agrária. “Hoje, a situação do povo Kaingang é de violência e conflito, devido ao arrendamento ilegal”, repara. Ela se refere à prática ilegal de uso da terra ancestral por brancos favorecidos por lideranças indígenas. O panorama então não anima nenhuma comemoração embora este mês abrigue o Dia do Índio, 19 de abril. “Esta data foi inventada por não indígena. Todo dia é dia do índio”, reage o cacique dos Guarani, a segunda etnia mais populosa no estado. “Não é data de comemorar. É uma lembrança do terror e da morte dos nossos parentes”, reforça André. “Não há o que comemorar uma vez que estamos perdendo nossos espaços e o direito à terra”, diz Angela Charrua. “Muito antes do Brasil ser Brasil nós já estávamos aqui. O que celebramos é a nossa resistência, é nossa resiliência”, acentua Fernanda. E emenda: “Celebramos o fato de serem 305 povos remanescentes do maior massacre que a história já viu e que os nossos livros de história não contam. É um crime de lesa humanidade que não terminou”. E tudo ficou pior com um governo que ostensivamente desrespeita e atropela os povos originários.

“ELE É UM HOMEM QUE NÃO TEM CORAÇÃO” “Muito antes do Brasil ser Brasil nós já estávamos aqui. O que celebramos é a nossa resistência, é nossa resiliência” (Fernanda Kaingang)

“Somos muito maltratados. Está tentando (o governo Bolsonaro) acabar com os povos indígenas. Mas ele não vai conseguir. Estamos vivos”, protesta André. “Desde quando foi visto ou publicado o acesso dos charruas a projetos do governo federal?”, indaga Angela. “Bolsonaro quer acabar com as ter-

"Nosso cocar tem luta de mulheres, crianças, juventude e nossos anciãos. Não pode ser desconfigurado por um não indigena que é contra os próprios indígenas” (Angela Charrua) ras tradicionais dos povos indígenas e também acabar com os indígenas”, ataca Cullung Veitchá Teie. Para a cacica dos Xokleng, o presidente “fez de tudo para arrancar os indígenas dos seus territórios para mandar matar também onde está acontecendo a retirada de minérios dentro da reserva indígena”. E define: “Ele é um homem que não tem coração, que para ele não existe indígena, nem negro e nem pobre, essa é a realidade de hoje”.

Acampam

cocar. “Quem colocou o cocar na cabeça dele não respeita nem suas raízes e nem seus antepassados”, aponta Angela. “Nosso cocar - agrega - tem luta de mulheres, crianças, juventude e nossos anciãos. Não pode ser desconfigurado por um não indigena que é contra os próprios indígenas”. No Rio Grande do Sul, a maior concentração de florestas coincide com as áreas indígenas. André Guarani tem Foto: Mirella Rabaioli

Foto: Arquivo pessoal

▶ No Rio Grande do Sul no século 17, viviam cerca de 40 povos indígenas. Hoje existem quatro: Kaingang, Guarani, Charrua e Xokleng. Séculos depois que as caravelas de Pedro Álvares Cabral aportaram em Porto Seguro, os quatro povos reivindicam aquilo que lhes foi arrebatado na conquista feita a ferro e fogo: terra, moradia e liberdade. “Precisamos de terra demarcada e garantida. Pra plantar, pra viver em liberdade”, reclama o cacique André Guarani, de Maquiné/RS. “Não somos assistidos pela Funai. Falta estrutura para moradias e acesso à terra”, concorda Angela Charrua, da aldeia do Lami, no Sul de Porto Alegre. “Queremos o nosso território, a nossa terra, a nossa mãe de volta. Queremos reconhecido o nosso direito de morar e viver na nossa casa”, repercute a cacica Cullung Veitchá Teie, coordenadora da etnia Xokleng na aldeia de São Francisco de Paula/ RS.

“LEMBRANÇA DE TERROR E MORTE”

Foto: Arquivo pessoal

FABIANA REINHOLZ E AYRTON CENTENO

“CARTA BRANCA PARA A VIOLÊNCIA”

Na opinião de Fernanda, não se pode dizer que Bolsonaro mentiu. Argumenta que, na sua campanha, disse que não demarcaria um centímetro de terra indígena ou quilombola. “Tem havido uma carta branca de impunidade para a violência”, critica. “É violência direta. É genocídio assumido, declarado”, acrescenta. “Voltamos ao período do extermínio que marca lá o início do confronto, do contato entre povos indígenas e essa sociedade dita superior”, analisa. “Há 500 anos, a nossa realidade não é exatamente fácil. Mas o governo Bolsonaro representa um retrocesso em todas as áreas”. O presidente é questionado também sobre sua foto posando com um

“Somos muito maltratados. Está tentando (o governo Bolsonaro) acabar com os povos indígenas. Mas ele não vai conseguir. Estamos vivos” (Andre Guarani)


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VINTE TERRAS REGULARIZADAS E 45 AGUARDANDO REGULARIZAÇÃO

tam a luta nos rancos remanescentes no Rio Grande do Sul Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

Trinta mil Kaingang, 2,5 mil Guarani, 150 Xokleng e 43 remanescentes Charrua. Esta é a população indígena do Rio Grande do Sul. São os dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Na informação do governo estadual, existem 20 terras indígenas regularizadas em solo gaúcho. Estão situadas principalmente no Norte e Noroeste. Outras 45 áreas aguardam regularização, na sua maioria (37) sob a rubrica “em estudo”. No Brasil, existem hoje 1.296 terras indígenas. O número inclui 401 já demarcadas; 306 em alguma etapa do procedimento demarcatório; 65 que se enquadram em outras categorias que não a de terra tradicional; e 530 sem nenhuma providência para dar início à demarcação.

NO PLACAR DAS DEMARCAÇÕES, TEMER E BOLSONARO LEVAM ZERO Compare os números de todos os presidentes do período democrático no quesito demarcação de terras indígenas. Vale lembrar que a Constituição Federal de 1988 fixou prazo de cinco anos para a demarcação de todas as terras indígenas do país. A realidade, porém, discorda do que a lei estabeleceu. Os dados são do CIMI.

Homologações de Terra por Presidente

mento Terra Livre reuniu indígenas de todo o país na luta contra os ataques aos povos originários

sua explicação para o caso. “Nosso papel é cuidar da floresta”, justifica. “Ela nos dá o sustento da vida. Nossa luta é manter a floresta em pé. Não é só pra nós mas pra humanidade. É isso que os não indígenas deveriam entender e não estão entendendo”.

“Temos na nossa ancestralidade charrua um enorme cuidado pelas florestas, pela nossa mãe terra”, repara Angela. “O chão que pisamos é sagrado para os charruas pois será sempre marcado para nós como uma tatuagem na nossa pele”. Fernanda acrescenta: “As fotos dos satélites mostram que as principais áreas de biodiversidade no Rio Grande do Sul e no Brasil coincidem com terras indígenas”. E descreve: “A relação que temos com o território é de respeito, de equilíbrio. Somos parte da terra e a terra é parte de nós. Então, o nosso corpo é parte do nosso território. Quando o nosso território é agredido nós somos agredidos”. E o que os indígenas poderiam ensinar à sociedade brasileira no século 21? “O que é mais valioso para nós não é a mercadoria, o dinheiro ou a ciência. É o bem-estar, o bem viver, o respeito ao próximo, ao outro, com as diferenças

“Bolsonaro quer acabar com as terras tradicionais dos povos indígenas e também acabar com os indígenas” (Cullung Veitchá Teie)

JOSÉ SARNEY (1985 /90)

FERNANDO COLLOR (1991 /92)

ITAMAR FRANCO (1992/1994)

FERNANDO HENRIQUE (1995 /2002)

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003/2010)

DILMA ROUSSEFF (2011/2016)

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Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo

“O CHÃO QUE PISAMOS É UMA TATUAGEM NA NOSSA PELE”

que ele tiver”, exemplifica Fernanda. É uma visão muito próxima daquela de Angela. Ela explica que “o mundo não é apenas formado por dinheiro e ambição e que, enquanto a sociedade se portar assim, teremos cada vez mais pessoas doentes. Mas não só doença do corpo mas de uma alma vazia”.

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MICHEL TEMER (2016 /2018)

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JAIR BOLSONARO (2019/2021)

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EDIÇÃO N O 34 - 20 DE ABRIL DE 2022 - W W W.BRASILDEFATORS.COM.BR Foto: Juliana Pesqueira - Apib/Coletivo Proteja

Terra

Indígenas, quilombolas e camponeses enfrentam avanço da grilagem sobre territórios tradicionais Luta contra “projetos de morte” une diferentes povos que fazem de seu modo de vida uma forma de preservação da natureza MARCELO FERREIRA PORTO ALEGRE

▶ As três refeições diárias dos sete mil indígenas que participaram do 18° Acampamento Terra Livre (ATL) tiveram sabor de luta e solidariedade. Toneladas de alimentos sem veneno vieram de assentamentos da reforma agrária e foram preparados pelo MST, numa demonstração de unidade na defesa da terra. Dinaman Tuxá, que integra a articulação dos povos indígenas, destaca que o evento buscou implementar a alimentação saudável como forma de resistência. “No Acampamento Terra Livre conseguimos concretizar a luta dos povos indígenas e a luta do MST, representada através dos seus alimentos”, diz. Membro da direção do MST/ RS, Jeronimo Pereira da Silva destaca que o objetivo da luta pela reforma agrária popular é apresentar para a sociedade um modelo que visa a democratização da terra. “A função social da terra é produzir alimentos. Isso nos coloca juntos na luta porque, tanto indígenas quanto camponeses, são guardiões dos bens comuns da natureza”. “Nós, movimentos do campo e indígenas, somos o principal alvo

do agronegócio”, acrescenta Xiru, como é mais conhecido. Lembra que o modelo “é subsidiado pelo estado, não produz comida, degrada a natureza, expulsa trabalhadoras e trabalhadores do campo e indígenas de suas terras para entregar para empresas estrangeiras”.

AGENDA ANTI-INDÍGENA

A primeira medida provisória do presidente (MP 870/19) passou a atribuição de demarcar terras indígenas e quilombolas para a ministra Teresa Cristina, da Agricultura. Com a Funai e o Incra enfraquecidos, nenhuma terra foi demarcada e as desapropriações foram suspensas. Agora, com o PL 191/20, Bolsonaro quer entregar as áreas indígenas para o garimpo e o agronegócio. Além disso, o PL 490/07, que limita o reconhecimento de novas terras tradicionalmente habitadas por povos nativos, foi desengavetado por sua base no Congresso.

O MST foi o responsável pela alimentação no Acampamento Terra Livre

ressalta que a resistência quilombola só foi possível a partir do acolhimento do povo negro sequestrado da África pelos indígenas. “Foi essa aliança que permitiu resistirmos para reconstruir as nossas liberdades expressas na territorialização negra, quilombola e originária”. Para ele, o inimigo comum está materializado nos que se benefi-

ciam da “infâmia colonial, racista e rentista que perdura há 522 anos e é responsável pelas condições miseráveis de vida impostas aos nossos povos”. Entende que a resistência quilombola tem a tarefa de se somar na luta contra “os projetos de lei de morte”, bem como “para que o STF afaste definitivamente a famigerada, racista e genocida tese do Marco Temporal”.

ESCALADA DA VIOLÊNCIA NO CAMPO EM 2021

75% 1.100%

AUMENTO DE

AUMENTO DE

NO S A S S A S SIN AT O S EM C ONFL I T O S NO C A MP O

AUMEN T O DE N A S MOR T E S EM C ON SEQUÊNCI A DE C ONFL I T O S NO C A MP O

QUILOMBOLAS NA MESMA LUTA

2020 2021

20 35

Membro da Frente Quilombola/RS, o advogado Onir de Araújo

2020

2021

09 109

Fonte: Relatório Conflitos no Campo Br asil 2021, da Comissão Pastor al da Terr a (CP T)

Sementes de solidariedade ▶ Em 2021 o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), apoiado pelo MPA e MST, da Via Campesina, realizou o projeto Sementes de Solidariedade. A iniciativa compartilhou 20 toneladas de sementes crioulas e agroecológicas e insumos para comunidades indígenas, quilombolas, camponesas e espaços periféricos no Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Também participaram do projeto CIMI, Cáritas, CPT, Cooperfumos, Coonaterra, Cooperbio, Coptil, ArpaSul e Copsat, Bionatur e Origem Camponesa. “O projeto fez parte de uma ação

maior, voltada ao combate à fome, problema social que retornou com força ao país nos últimos anos e foi agravado durante o período da pandemia”, explica Frei Sérgio Görgen, à época exercendo a coordenação do ICPJ. “Aproximadamente seis mil pessoas foram beneficiadas nos dois estados”, contabiliza. O projeto beneficiou 1.859 famílias com sementes e mudas ou 6.318 pessoas em 67 comunidades de 37 municípios. Foram distribuídos 10.795 quilos de semente de milho crioulo e 2.559 de sementes de feijão, além de 7.805 sachês de sementes de hortaliças diversas, 3.500 ramas de mandioca e 1.559 mudas nativas frutíferas.

Doações para a segunda fase do projeto Sementes de Solidariedade podem ser encaminhadas para o PIX: instituto@padrejosimo.com.br . Informações com Darlan, pelo WhatsApp (53) 999405838)

Foto: Arquivo ICPJ

MARCOS CORBARI / SEBERI

Projeto levou sementes crioulas e agroecológicas a indígenas do RS e de MS


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Cultura

Povos originários contam a sua própria história KATIA MARKO PORTO ALEGRE

▶ As telas de cinema cada vez mais são um território dos indígenas, que com a câmera na mão deixaram de ser apenas personagens de filmes, séries e novelas, e passaram a construir sua própria narrativa. O mais recente filme lançado em Porto Alegre foi "Guata". Com 56 minutos de duração, o documentário da Flow Filmes é uma produção Brasil/Argentina. Nele Jorge Morinico e Epifanio Chamorro, diretores Mbya-Guarani do filme e professores, buscam se encontrar para investigar juntos a importância que o guata (caminhar) tem para os Guarani enquanto prática existencial, cosmopolítica e filosofia de vida. Morinico também di-

rigiu "Bicicletas de Nhanderú", uma imersão na espiritualidade presente no cotidiano dos Mbya-Guarani da aldeia Koenju, em São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul. Integrante do coletivo Comunicação Kuery e um dos realizadores do Tela Indígena, Gérson Gomez Karaí afirma que as produções são uma forma de resistência. “A nossa resistência é manter sempre viva a nossa espiritualidade, o nosso conceito, o nosso modo, o nosso jeito de ser, a nossa maneira de falar, que possamos ser respeitados, a gente é um povo muito oprimido”, destaca.

CINEM A COMO E S TR ATÉGI A

O realizador conta que a ideia de fazer filmes surgiu da necessidade apontada

por lideranças para registrar o cotidiano das aldeias, resultando na criação do Comunicação Kuery, fundado em 2011, e que já conta com diversas produções, disponíveis em https://comunicacaokuery. wordpress.com/.

Foto: Divulgação/Comunicação Kuery

Seja nas telas de cinema, na literatura, na música ou nas artes plásticas, indígenas registram suas visões de mundo e resistem através da arte e cultura

PA L AV R A COMO SOBRE V I V ÊNCI A

Outra expressão artística adotada pelos povos indígenas é a literatura. A escritora e pesquisadora macuxi Julie Dorrico explica que, intrinsecamente vinculada às lutas dos povos originários, a literatura indígena aborda, em forma de arte, “conflitos que envolvem ser indígena hoje no Brasil”. "Passamos essa mensagem de que os povos indígenas existem, que têm subjetividades e direito à soberania, autonomia, terra, narrativas ancestrais e culturas próprias", completa. Doutora em teoria da literatura pela PUC-RS, ela é autora do livro Eu

Com o cinema, indígenas passam a contar sua própria história

sou Macuxi e outras histórias, publicado pela editora Caos e Letras. Além de administrar o perfil @leiamulheresindigenas no Instagram, Julie é curadora da "I Mostra de Literatura Indígena: o território das palavras ancestrais", inteiramente online.

Segundo ela, na década de 1990 surgiram alguns atores indígenas como Daniel Munduruku, Kaká Werá, Olívio Jekupé e Marcos Terena, que passam a publicar livros. Isso foi crescendo. “Atualmente, temos cerca de 60 autores, acredito que até mais, e não param de surgir”.

DICAS DE LITERATURA INDÍGENA ▶ Ideias para adiar o fim do mundo e O amanhã não está à venda, de Ailton Krenak, líder indígena, escritor, jornalista e produtor gráfico. ▶ Coração na aldeia, pés no mundo, um cordel escrito por Auritha Tabajara, a primeira mulher indígena no Brasil a publicar um livro em formato de cordel. ▶ A queda do céu, um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. ▶ As serpentes que roubaram a noite e outros mitos, escrito por Daniel Munduruku e ilustrado pelas crianças da aldeia Katõ. Daniel é escritor, professor e psicólogo. O autor tem 52 obras ao todo, sendo a maioria de literatura infanto-juvenil. ▶ A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio.Este foi o primeiro livro escrito por um autor indígena brasileiro, Kaka Werá, que traz novas possibilidades de ver os índios na história e na literatura.

A N I A R A É A M A S C O T E DA C A M PA N H A T R IB U TA R O S S U P E R- R I C O S. AC O M PA N H E N O S S A S R E D E S: facebook.com/tributar.os.super.ricos | @OsTributar |

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▶ Nhemombaraete reko rã’i: fortalecendo a sabedoria. Reúne desenhos, histórias e ensinamentos da cultura guarani. Foi escrito por José Verá, morador da Aldeia Yvyty Porã, terra indígena conhecida entre os não-indígenas como “Aldeia do Campo Molhado”, no município de Maquiné, litoral norte do Rio Grande do Sulm ▶ A Terra é mãe do índio, Metade cara, metade máscara e A cura da Terra, de Eliane Potiguar, professora, empreendedora e escritora indígena brasileira.


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Desmonte

Povos originários querem retomada de políticas abandonadas por Bolsonaro Invasões, violência, fome e doenças ameaçam as terras indígenas Fotos: Alass Derivas | @derivajornalismo

WÁLMARO PAZ PORTO ALEGRE - RS ▶ A posse do território está no centro da discussão do desmonte feito pelo governo Bolsonaro nas políticas de proteção aos povos originários. Durante o Acampamento Terra Livre (ATL) encerrado no dia 14, lideranças pediram o andamento nos processos das demarcações, paralisados há anos. Informações da Fundação Nacional do Índio (Funai) indicam que existem atualmente 680 processos e mais de 200 deles, ou seja 35% do total, ainda aguardam regularização. O acampamento reuniu sete mil indígenas de 200 povos no complexo da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília, segundo contagem da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “Lutamos pela retomada das demarcações principalmente no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Na Amazônia, apesar de haver um grande número de terras demarcadas, sofremos diariamente com violência e as invasões", afirmou Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Apib.

QUA RENTA MIL GA RIMPEIROS N A RE SER VA YA NOM A MI

Os Yanomami, por sua vez falaram da série de ataques violentos a comunidades, com circulação de drogas, armas e violências contra crianças. Segundo a Apib, 273 comunidades são afetadas diretamente pela atividade ilegal na terra indígena, a maior do país, que abriga cerca de 29 mil pessoas. O relatório calcula que, de 2016 a 2020, o garimpo cresceu 3.350% no local.

Mais de 8 mil indígenas se reuniram em Brasília numa demonstração de resistência contra o projeto de extermínio

Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara, a associação Yanomami que representa a maioria da etnia no Brasil, denunciou que mais de 40 mil garimpeiros circulam atualmente no território demarcado há 30 anos. Com as invasões, o número de casos de malária entre os indígenas também explodiu, com mais de 1.800 ocorrências registradas em 2020, segundo aponta o estudo.

FOME DUR A NTE A PA NDEMI A

O aumento da fome e a desassistência em saúde, educação e habitação às etnias indígenas Guarani, Kaingang, Xokleng e Charrua do Rio Grande do Sul são os problemas levantados no relatório sobre implementação de políticas públicas nas comunidades indígenas em solo gaúcho. O levantamento apurou a vulnerabilidade alimentar durante a pandemia e nos meses subsequentes entre os quatro povos. Coordenador da etnia Guara-

ni no Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPI), o cacique Cláudio Costa destaca a metodologia utilizada para apurar a situação das 52 comunidades. Ele indica urgências também nas habitações e nas escolas indígenas, muitas delas desaparelhadas e sem acesso à internet, ferramenta que permitirá também a participação dos conselheiros das aldeias nas reuniões do CEPI. Respondendo pela coordenação Xokleng no CEPI, a cacica Cullung Veitchá Teie refere o direito ancestral aos territórios que sua etnia reivindica. Vitimados por um processo violento de remoção dos territórios que ocupavam há séculos, os Xokleng quase foram extintos. Há dois anos tentam retornar ao trecho que ocupavam dentro da Floresta Nacional (FLONA) São Francisco de Paula. Desde então, estão acampados ao longo de uma rodovia, aguardando decisão do governo federal e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), que administra o local.

Acampamento Terra Livre foi momento histórico de luta do movimento indígena brasileiro

Mais do que nunca, os indígenas são resistência MIGUEL ANTONIO ORLANDI, DOUGLAS FILGUEIRAS E DANIELA VAN DER STRAETEN PIMENTEL* No atual momento, marcado por uma crise sistêmica, que atinge a moral social, acabamos por relativizar a Verdade e tornar verdadeira a Mentira. Processo que dura algumas décadas, fato motivado pelo extenso período de ditadura, terminado não pela imposição popular, mas porque a elite resolveu mudar e o mundo pediu o fim da tortura e das mortes. Infelizmente nosso país ainda esconde as mazelas do passado. Escondemos a escravidão, a tortura, a morte dos mais pobres, a criminalização dos movimentos sociais, a injusta distribuição da terra... e o mais grave: fingimos não existirem indígenas no Brasil. Disfarçamos em nossos livros de história, não falando nada desta população que ocupou a Pacha Mama antes dos colonizadores chegarem. Pior que negar é ser indiferente em relação ao que aconteceu. É condenar nossos irmãos indígenas ao esquecimento. O capitalismo neoliberal, onde impera o lucro e o individualismo sobre a vida e o meio ambiente, impede a existência da Casa Comum, de sermos e convivermos com o diferente. Enquanto ruralistas expulsam e assassinam o povo indígena, o governo usa suas estruturas para criar cortinas de fumaça, institucionalizando a milicianização do estado no campo e na cidade! É imoral a elasticidade praticada por alguns juristas buscando legitimar o absurdo da retirada de direitos já garantidos dos povos indígenas. A Constituição de 1988 reconhece os mesmos direitos e deveres de qualquer brasileiro ao povo indígena. Ainda temos o perigo em análise no Supremo Tribunal Federal (STF), ou seja, a relação possessória e de uso da terra no julgamento do RE nº 1.017.365, o chamado Marco Temporal. Nossa estrutura jurídica, econômica, cultural e social foi construída a base do trabalho escravo e do assassinato dos povos originários. A saída está nas alternativas sistêmicas, nas comunidades, na solidariedade, na valorização do meio ambiente e da vida, na Casa Comum. Mais do que nunca, os indígenas são resistência. É dando voz aos coletivos que não sucumbiremos. É hora de voltar a colocar a mão na terra, no barro, lembrando que é aí que impera nossa essência. É da Mãe Terra que somos filhos e filhas. * Membros da Associação do Voluntariado e da Solidariedade - AVESOL


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