The Cath- BOOK 2 - K. Bromberg

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K. BROMBERG

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Disponibilização: Eva

Tradução e Revisão Inicial: Ane Revisão Final: Iza Leitura Final: Faby Formatação: Eva

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Depois de uma reviravolta inesperada do destino, o apanhador estrela Easton Wylder questiona a lealdade de todos ao seu redor. Até mesmo a mulher que divide sua cama, Scout Dalton. Mas se Easton pensa que ser transferido para o último lugar que esperava seria o único desafio que a vida tinha para lhe dar, ele estava completamente enganado. Com um ombro machucado e sua carreira no limbo, a decisão de fazer uma mudança inesperada o leva a questionar tudo - o amor de Scout, a lealdade da família e se ele pode conquistar o único obstáculo que nunca conseguiu superar. O segredo que ele nunca compartilhou com ninguém.

Ele pode ser um homem se levado aos seus limites, mas ele está determinado a provar seu valor, não importa o custo.

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DEDICATÓRIA Para os românticos incuráveis: Algum dia você encontrará alguém que vai adorar as partes de você que ninguém mais sabe amar.

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CAPÍTULO 1

O que acabei de fazer? Minhas mãos tremem. Não só por Easton, mas por mim também. Eu tento escondê-las antes que os homens vejam. Pela promessa que fiz ao meu pai. Arrepios atingem o meu couro cabeludo. Puxam meu cabelo. Torce meu coração. Meu estômago se agita e a bile sobe até minha garganta. O relógio. Minha mão continua se movendo. Minutos passam. Mas sinto que o tempo parou junto com o meu coração quando eu disse aquelas palavras. Easton não está cem por cento pronto para ser reintegrado à programação. Ele não cumprirá o seu prazo. As expressões chocadas. Os olhos arregalados. A raspada súbita da cadeira de Cory quando ele saiu da sala, dedos discando seu celular, me deixando com nada mais que esperança de ter feito a coisa certa, quando cada parte dentro de mim está irritada com isso. Falando que estava errada. Que não interpretei bem o que vi. E ainda assim eu sei o que vi.

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Então as perguntas começaram. Cada minuto que passa causa mais dúvida para romper e quebrar minha certeza. As malditas perguntas intermináveis. A lista de pessoas que estou decepcionando cresce a cada minuto que passa Ter que falar sobre Easton quando tudo que eu quero fazer é chegar até ele. Vê-lo. Explicar tudo. Tocar nele e tentar acalmar o tumulto. Ter que explicar por que eu falhei. Por que a equipe de Doc Dalton falhou. Os ponteiros do relógio continuam a girar. Segundos se transformam em minutos. Minutos que eu quero pegar de volta. Minutos que não posso voltar. Cory retorna a sala, sussurra com o homem ao seu lado, enquanto os outros ao redor da mesa olham para mim. Esperando. Avaliando. Perguntando. Empurram a porta. O som dela batendo contra a parede ricocheteia ao redor da sala, mas não tem nada que bata mais forte do que o meu coração contra minhas costelas. Ele já sabe. Por uma fração de segundo nossos olhos se encontram. Eu vejo a dor. A raiva. As perguntas. E ele nem sequer sabe que sou a única que fez isto acontecer.

“Easton.” Seu nome é um apelo chocado pedindo perdão quando a minha consciência pesada grita com ele que a

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culpa é minha, mas assim que nossos olhos se encontram, ele balança a cabeça. “Não.” É tudo o que ele diz, o aviso é tão claro como o desgosto em sua expressão. Estou em estado de choque. Com os acontecimentos. Por vêlo. Por ter que encarar o que acabei de fazer. E antes que eu possa processar o que dizer a ele na frente destes homens, ele fala. “Uma negociação? A porra de uma negociação?” Sua voz reverbera no pequeno espaço e comanda a atenção dos homens sentados à mesa. Ele está lá, ainda com seu equipamento de aquecimento e sua expressão é uma máscara de incredulidade. “Dei a minha carreira a esta organização. Eu já recusei ofertas maiores, contratos mais vantajosos com outras equipes e é assim que você retribui minha lealdade?” Sua risada tem nada além de diversão. “Bem, vá se ferrar, Cory. Vá se foder você e tudo que está tentando fazer aqui.” “Eu só estou tentando gerenciar uma equipe, Sr. Wylder.” A voz de Cory é calma e nivelada, mas a insinuação de condescendência raspa sobre a minha pele. “Gerenciar uma equipe... ou arruinar uma equipe?” Easton dá um passo mais perto, ombros retos, a postura ameaçadora. Seu dedo bate na mesa com cada palavra que ele fala. “Você acha que é assim que deve tratar seus jogadores e depois esperar que eles conquistem a Série Mundial e você pode recolher o seu amado pequeno bônus? Pense outra vez.” “Boa sorte com sua futura equipe.” Cory lhe dá um aceno o dispensando. Easton ferve. Compreensível. Sua raiva tão palpável que sufoca a sala. Espero com sangue em minhas mãos e culpa em meu coração.

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“Você é um filho da puta sem coração, sabia disso?” Easton zomba enquanto suas mãos cerradas em punho estão ao seu lado. “Então ficará feliz por não ter que trabalhar mais para mim. Bom dia, Sr. Wylder.” Ninguém na sala se move enquanto os dois homens encaram um ao outro. Um é a imagem de arrogância calma e o outro uma bola de fúria contida. Vários segundos tensos passam onde questiono se Easton vai liberar essa fúria em Cory. Só quando estou quase convencida de que ele fará exatamente isso, Easton balança a cabeça lentamente enquanto encontra os olhos de todo mundo na sala, inclusive o meu, antes de se virar e sair da sala. Meu coração sai com ele. Meus pés querem desesperadamente fazer o mesmo. Luto contra o desejo de fazer exatamente isso — levantar, correr atrás dele, explicar — mas não posso. Eu tenho que ser uma profissional, o rosto que representa um negócio e não a mulher que teme ter perdido homem que ela ama. Ama? Ama. Puta merda. Eu realmente o amo. “Desculpe pela interrupção, Srta. Dalton,” Cory diz me distraindo da minha descoberta e puxando minha atenção para o assunto em questão. Aos seus olhos eu não cumpri o meu contrato e, portanto não consegui alcançar o desejo final do meu pai. Cory continua falando, mas eu não escuto. Vejo a dor nos olhos de Easton. Ouço sua voz em meus ouvidos.

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O Que. VocĂŞ. Faria. Scout? A resposta, Easton? Eu me sacrificaria para te salvar. Acabei de fazer. Espero que ele veja da mesma forma.

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CAPÍTULO 2

As notas de abertura dos Guns N' Roses enchem o estádio acima de mim e a introdução da canção — a música que escutei todas as vezes que entrei neste campo durante a minha carreira — são como sal na ferida. Welcome to the Jungle1... O que diabos está acontecendo? Preciso dar o fora daqui. Não consigo respirar. Preciso socar alguma coisa. Não consigo pensar em nada, com essa música lembrando onde eu deveria estar agora — no campo — ou na camisa do time que usei desde que era uma criança e que a partir de agora não poderei mais usar. Corro desesperado pelos corredores vazios, querendo me livrar do que de repente ele se parece, com uma prisão de concreto tentando me segurar e negar as coisas que eu amo.

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Welcome to the Jungle - Bem vindo à selvà.

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“É verdade, então.” Suas palavras estancam meus passos. “Você sabia?” Acusação comanda minha voz e não dou à mínima, porque cada parte de mim está implorando para que ele diga não e que eu consiga acreditar nele. “Não.” Tenho a resposta que queria. Olho para ele, querendo acreditar. Preciso saber que pela primeira vez eu sou mais importante que o jogo para ele e ainda assim pergunto novamente. “Não?” “Você não acredita em mim?” O tom de sua voz se agrava. “Sim. Não. Droga.” Ando a poucos metros dele, tiro meu boné, passo a mão pelo meu cabelo e expiro pelo que parece ser a primeira vez na última hora. Viro para encará-lo, questionando com olhos suplicantes. “Que diabos, pai?” É uma pergunta aberta, questionando como isso pode ter acontecido. Eu sei e ainda assim quero que ele responda, porque estou perdido pra caralho e nem sequer comecei ainda a processar minha nova realidade. O hino nacional começa a tocar e pela primeira vez na minha vida, enquanto estou usando meu uniforme, não retiro o meu boné e coloco minha mão sobre meu peito. Eu só não tenho mais essa vontade em mim. “Que time?” Sua voz soa tão solene quanto eu sinto. “Não faço ideia. Finn está tentando conseguir respostas.” Dou um sorriso, mas soa vazio. “Por que o Finn não estava lá?” Seus olhos estreitos coincidem com a confusão em sua voz.

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“Seu palpite é tão bom quanto o meu.” Ando alguns metros e em seguida, volto para encará-lo. “Mas não temos nenhuma maldita pista para que time ainda... então o que isso te diz?” Ele franze a testa e continua a me observar, sua mente girando sobre a mesma merda que tem mantido a minha em uma espiral sem fim. “Que Cory não esperava iniciar uma negociação.” “Bingo,” grito batendo minhas mãos juntas. “Então que porra está acontecendo, pai?” “Vai ficar tudo bem, Easton.” Seu tom soa nada convincente. Olho para ele com tanto para dizer, mas com uma mente tão confusa que não consigo encontrar as palavras para expressá-las. Acima a multidão ruge em meu céu e ecoa direto para o inferno que estou atualmente. A maldita parede parece tão tentadora para socar. Mesmo sendo feita de blocos de concreto. Ando de um lado para outro com a trilha sonora da minha vida tocando por todo o estádio. Um lugar que não pertenço mais. Tenho que dar o fora daqui antes que eu faça algo que me arrependa. Que se foda. “Estou dando o fora daqui.”

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CAPÍTULO 3

"Precisamos de tempo para considerar onde o seu contrato entra em ação após esta reviravolta inesperada nos eventos. Vamos nos reunir amanhã de manhã por volta das oito, depois que eu tiver conferido tudo com meus colegas.” Entorpecida. É como me sinto durante a inquisição por mais de uma hora de duração do Cory sobre o porquê Easton não estava cem por cento. Mentiras. Minhas respostas foram todas mentirosas, mas elas eram as únicas coisas que poderia dizer para apoiar minhas descobertas. Vazio. Vomito no banheiro. Meu sistema nervoso finalmente vence. Minha luta em manter em vez de expulsar o almoço que anteriormente compartilhei com Easton ainda na mesa de conferência. Mais morta que viva. Corro através do labirinto de corredores no estádio. Em algum lugar acima da massa de concreto um jogo acontece. Meninos com seus pais. Famílias juntas em um passeio. Primeiros encontros. Tempos felizes

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O que deveria ser o jogo do seu retorno. Só consigo pensar em Easton. Encontrá-lo. Falar com ele. Precisando de aprovação dele que eu fiz a coisa certa. Pressiono rediscar novamente. Seu nome pisca na tela, mas é o seu correio de voz que responde. Ele não. Pensei que hoje eu viraria as nossas vidas de cabeça para baixo, mas de uma maneira totalmente diferente. Ele estaria fora com a equipe em viagens longas. Eu estaria aqui reabilitando os jogadores lesionados. A rotina diária à qual nos tínhamos nos acostumado seria jogada para cima e virada ao contrário. Nós teríamos que descobrir um novo padrão, mas pelo menos estaríamos no mesmo lugar, trabalhando para a mesma equipe. Nem em um milhão de anos imaginei que faríamos isto de diferentes cidades. Quando saio dos túneis para o estacionamento fechado dos jogadores e funcionários, sou surpreendida pela luz brilhante do sol. Estou tão exausta, tão emocionalmente desorientada, que para mim parece ser noite. Assim que chego ao meu carro, o meu telefone toca. Desesperada para falar com ele, respondo sem olhar. “Easton!” Seu nome é uma lufada de ar. “Que inferno aconteceu lá dentro, Scout?” Ele sabe. “Pai.” Cada parte de mim cede em derrota. Enquanto meu pai é a única pessoa que eu deveria estar mais preocupada, é para Easton que tenho discado furiosamente, em vez de primeiro ligar para ele e explicar o que aconteceu.

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“Estou ouvindo os boatos. O que diabos aconteceu lá dentro?” Meus pés e palavras vacilam sabendo que preciso dizer a ele o que nem eu sei exatamente ao certo. Parece surreal para mim. “É uma longa história,” começo a falar enquanto entro no meu carro e continuo contando a minha versão dos fatos, sabendo quão ridículo soa até para os meus ouvidos. Quando termino e a linha cai em um silêncio opressivo que pesa tanto mim quanto o calor de Austin batendo através do parabrisa em meu carro. “Estou desapontado.” Sua voz soa profundamente grave através da linha seguida pelo chiado frágil de sua respiração. Força cobrindo a fraqueza devastadora por baixo. Mais ou menos como me sinto. “Eu fiz o que eu achei que era certo.” Minha voz é apenas um sussurro quando eu falo e as lágrimas ameaçam depois de ouvir essas duas palavras que cada criança odeia ouvir dos seus pais, estou desapontado. “O que era certo, então?” Ele pergunta. “Certo para você ou certo para Easton?” “Papai —” “Pessoas — homens especialmente — vêm e vão em sua vida, mas, a família sempre estará lá. Você precisa cuidar do que é seu primeiro. Sempre.” A picada de suas palavras é brutal e agora eu o odeio por dizêlas. Eu o odeio por me fazer questionar o que fiz. Por questionar minha lealdade aos dois homens da minha vida. Meu estômago pesa, mas não digo uma palavra.

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“Mentir é uma das formas mais rápidas para arruinar um relacionamento,” ele diz e não tem ideia de quanto essas palavras apertam meu coração, desde que temo ter arruinado duas relações. Com Easton e com os Aces. “Não é que —” “Eu lhe pedi uma coisa, Scout. Não me chame de volta se não for para falar que você fez isso.” “O quê?” Grito enquanto o pânico se instala. “Espere! Não desligue. Como? Eu quero dizer — o que aconteceu —?” “Volte lá amanhã e consiga o maldito contrato. Lute por aquilo que é nosso e não se deixe intimidar por eles,” ele diz com convicção antes de ser tomado por um acesso violento de tosse. “Você está bem —?” “Você misturou negócios com prazer, Scout. Você arriscou o contrato, permitindo que suas emoções ficassem no caminho. Conserte isso e garanta o contrato para o próximo ano. Não me ligue até conseguir.” A linha fica em silêncio e fico sentada no meu carro com o meu telefone no meu ouvido, com lágrimas escorrem pelo meu rosto e dúvida possui minha alma. Não faço ideia de como processar as últimas duas horas. Será que eu realmente arrisquei não realizar o último desejo de meu pai ao colocar Easton antes dele? “O que eu fiz?” Sussurro enquanto fecho meus olhos e solto minha cabeça no encosto de cabeça para tentar me desligar de tudo por alguns minutos. É inútil. O olhar no rosto de Easton quando ele invadiu a sala de conferências e o eco das palavras do meu pai em meus ouvidos, estão gravadas em minha mente. E se os rumores já estão circulando, eu preciso chegar a Easton antes da informação errada e explicar o porquê de

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tudo. A adrenalina do momento passou. E deu lugar ao medo de que realmente estraguei tudo e ninguém me perdoará. Recomponha-se, Scout. Uma batida na janela do lado do motorista me assusta. Eu viro a cabeça e olho para o homem que está parado lá — camisa branca e gravata, boca definida em linha reta, olhos castanhos sérios que exigem respostas — e ele se curva me dizendo com movimentos de sua mão para rolar a janela para baixo. “Quem é você?” Eu grito através do vidro e com hesitação limpo as lágrimas do meu rosto. “Abra a maldita janela. É melhor você começar a explicar o que diabos aconteceu lá dentro,” ele diz com os dentes cerrados. “Desculpe?” De jeito nenhum vou abrir a janela para esse cretino. Ele se afasta da janela, mãos para cima, como se só agora percebesse o quão ameaçador ele parece e as enfia nos bolsos. “O guarda de segurança está logo ali,” o cara diz isso levantando e apontando seu queixo para onde Arnie está nos observando da cabine de segurança. Olho para me certificar de que ele está lá e depois volto para o homem exigindo respostas e lentamente, abro a porta do carro, porque eu sei que isso tem a ver com Easton. Parece que tudo faz nestes dias. Os pelos da minha nuca arrepiam — minha guarda está alta, uma porta de aço para o desconhecido — enquanto saio do meu carro para encontrá-lo cara a cara. Minhas sinapses falham quando tento conectar meus pensamentos e reconhecê-lo. “Você não é uma Dalton.” Ele balança a cabeça. “Você disse para Easton que ele estava bem e então eu recebo uma chamada que ele foi negociado? Você está de gozação comigo? Doc sempre protegia

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seus jogadores a qualquer custo. Você com certeza não faz o mesmo. Que tipo de jogo você está jogando?” Um vá se foder morre na ponta da minha língua com o soco do seu insulto no meu peito. “Finn?” O agente de Easton me encara quando ele concorda. “Por que você não estava lá?” É uma pergunta simples, mas o homem que desejei uma hora atrás para me ajudar a entender os papéis que eu vi está em minha frente agora. Eu não confio nele. Ele deveria estar lá. Ele nunca deveria ter permitido que Easton assinasse o que vi. Um bom agente protege seu cliente por qualquer meio necessário. “Esta é uma boa pergunta.” Dou um passo para trás. “E o que isso significa?” Ele não me respondeu. “Por que você não me diz o que aconteceu lá dentro, Scout?” Ele faz parte disso? “Havia alguns papéis...” Eu começo, mas paro. Minha pulsação bate em meus ouvidos. Será que ele sabia? “Que papéis?” Ele insiste. Paranoia assume. Lágrimas queimam a parte de trás dos meus olhos enquanto questiono a minha própria sanidade. Porque não confiar na única pessoa que eu deveria ser capaz quando se trata de Easton? Mas ele não estava lá. “Eu preciso falar com Easton.” É a única coisa que tenho a dizer. Fico olhando para ele por um segundo — mais desperdício de tempo quando eu preciso gastá-lo para encontrar Easton.

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“Não há tempo. Eu preciso de respostas agora. Eu sou o agente dele, Scout. Você pode confiar em mim.” Eu penso nos papéis. A assinatura rabiscada que concordava com os termos ridículos. Qualquer agente que diz ao seu cliente para assinar algo assim não deve ser confiável. “Confiar em você?” Eu ri com um aceno de cabeça. Ele olha, punhos cerrados e músculo pulsando em sua mandíbula. “O que aconteceu naquela sala, Dalton?” Ele exige e dá um passo mais perto, a frustração evidente e postura ameaçadora. “Se você estivesse aqui, você já saberia e então talvez não estivéssemos nesta posição, não é?” Encerro antes de virar e entrar em meu carro. Minhas mãos tremem tão violentamente que estou feliz por ter o volante para segurar. Ele ainda está olhando para mim enquanto passo pelos portões no meu caminho para Easton. Giro pelo estacionamento do estádio cheio de carros parados com suas traseiras abertas enquanto seus condutores terminam suas bebidas, antes de entrar para assistir o jogo que já tem várias entradas finalizadas. As lágrimas mancham meu rosto enquanto eu dirijo. Não tenho nada mais do que um bolso cheio de esperança de que posso consertar isso com Easton, mas a dúvida que sinto é tão devastadora quanto o olhar que estava em seu rosto. Possui a minha alma.

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CAPÍTULO 4

Scout disse para eles que você não estava cem por cento. As palavras do Finn ecoam em meus ouvidos. Assim como a risada que dou para ele e que desaparece assim que percebo que ele está falando sério. Balanço o bastão. Madeira encontra couro e as costuras vermelhas. Meu grunhido ecoa nas paredes de concreto e a vibração de batida na bola viaja até os meus braços. É por isso que ela tinha aquele olhar em seu rosto quando invadi a sala de conferências. Chocada. Fodida. Culpada. Meu celular toca. Ele não parou. Os repórteres são implacáveis. Mas não tenho ânimo para andar alguns metros e desligá-lo. Ou esmagá-lo em pedaços. Easton. A forma como a sua voz disse meu nome ecoa na minha cabeça. Isso abafa a maneira como ela gemeu meu nome ontem pela manhã. Isso é que adiciona mais lenha a fogueira. Balanço novamente. Bato novamente. Mas não sinto nada além de raiva. Não sei nada além da fúria. Eu não sou nada além de mágoa.

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É tudo besteira. A porra de uma merda inútil. Nada disso faz sentido, exceto a expressão dela quando entrei para confrontar Tillman. Agora isso? A culpa em sua expressão chocada e em seus olhos arregalados. Eles fazem todo o sentido agora. Barca furada. Os drones da TV rugem. Os locutores discutem a velocidade do bastão de Drew. Eu quero ignorar, mas não consigo desligar. É como se precisasse assistir Santiago por trás do meu home plate para saber que está realmente acontecendo. Isso tudo é fodido demais. Eu saio da Batter’s Box2 e alcanço a garrafa de Jameson que coloquei na prateleira atrás de mim. A picada do uísque não tem nada a ver com o buraco queimando dentro de mim. Olho para a garrafa. A desvantagem — está meio vazia. O lado positivo pelo menos é que a novocaína3 líquida irá me entorpecer e, Deus, como eu preciso que a dor seja entorpecida. Como ela pode? A máquina lança a bola e bate contra recuo com um baque no mesmo tempo que o meu celular começa a tocar novamente. Ou talvez nunca tenha parado. Porra, não lembro porque só consigo pensar que ela se assustou. Eu disse que estava apaixonado — pedi a ela para morar comigo, pelo amor de Deus, quando eu nunca ofereci isso para Bàtter’s Box ou càixà de rebàtidàs: É o locàl onde o rebàtedor ficà nà horà de rebàter. Sào duàs demàrcàçoes retàngulàres dos làdos direito e esquerdo, pàrà que rebàtedores destros e cànhotos possàm rebàter dà melhor formà possível. 2

3 É um fàrmàco ànestesico locàl do grupo àmino ester. É usàdà principàlmente pàrà reduzir à dor de umà injeçào intràmusculàr, de queimàduràs e ou de cirurgiàs locàis.

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ninguém antes — e porra, Scout ficou assustada. Em vez de ter coragem de me dizer que não podia, ela foi pelo caminho mais fácil. Ela se livrou de mim de um jeito diferente. Meu peito dói como um filho da puta. Outro gole na garrafa. Uma torção do bastão em minhas mãos a irrita e faz as bolhas estourarem em carne viva em minhas mãos nuas. Agradeço a dor assim que retorno para a caixa e faço tudo novamente. O arremesso vem. Desta vez eu estou tão irritado, tão fora de foco que perco a bola completamente. O som corta apenas o ar — whiff4 — é ensurdecedor e saúdo a suspensão temporária do barulho na minha cabeça. Ela me traiu para me afastar. Longe da minha casa. Longe da minha equipe. Longe da minha família. Longe dela. Estou aqui sentado totalmente no escuro, esperando para ver onde será a porra do meu novo clube quando esta é a minha casa. Com minha gaiola de rebatidas e a visão do estádio pela parede de vidro lá em cima... pensei que jogaria aqui para sempre. Esta é a minha casa. Eu não posso ficar lá em cima onde verei o que não quero ver. Onde o perfume de Scout se agarra a sua blusa largada em minha cama e a mancha de batom em minha fronha que ela beijou na noite passada como uma brincadeira. Agora é como um maldito farol me fazendo pensar que isso pode ter sido realmente o seu adeus. Como se ela soubesse.

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A pàlàvrà Whiff representà do som que o bàstào fàz ào bàlànçàr pelo àr e nào fàz contàto com nàdà.

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“Caralho!” Grito a palavra com a próxima rebatida e, em seguida, me afasto do home plate com o bastão apoiado sobre meus ombros e o zumbido da máquina ainda lançando bolas a cada vinte segundos. Como é que eu vou cuidar da minha mãe agora? Tomo outro gole de Jameson. Minhas mãos estão doendo e o telefone tocando é um lembrete constante que Scout está em algum lugar do outro lado da linha. Leva todo o meu controle para não pegar meu bastão e destruí-lo em um milhão de pedaços. Não apenas para não ter que escutar o que ela tem a dizer, mas também por que eu não ficaria mais tentado em atender e ouvir a sua voz como eu quero desesperadamente. Whiff. Pancada ao vento. Agora eu preciso de alguém que me entenda e que se foda o resto, ela me entende. Como esta asneira me faz parecer ferrado? Meu riso bate nas paredes de concreto e minha própria histeria ecoa de volta para mim. Whiff. Pancada ao vento. O toque começa de novo, e faço a única coisa que eu sei para abafar. Ignoro o tormento das minhas bolhas abertas, entro na caixa e rebato com tudo o que tenho. Grunhido. Rebatida. Toque. Mais e mais até sentir meus braços como borracha e exaustos ao extremo — mas ainda sinto — e então rebato novamente. “Não é culpa da bola você sabe.” Whiff. Maldito Finn. “Deixe-me em paz.” “Você nunca atende o seu telefone?”

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“Se quisesse falar com você, eu atenderia. Mas não quero.” Faço um balanço desajeitado no bastão e a rebatida quase não se conecta. “Vá embora.” “Era eu ou o seu velho tentando a permissão do síndico do edifício para nos deixar entrar e então pensei que você me preferiria a ele.” Whiff. Pancada seca. Toque. “Eu disse que não queria falar até que você tenha respostas, então é melhor começar a falar ou você pode dar o fora.” Gemo com minha rebatida desta vez e estou tão cansado que poderia logo entrar em colapso, mas agora a porra do uísque é muito mais tentadora do que dormir. “Estou em comunicação com a equipe.” Apoio o bastão do meu ombro e volto para pegar a garrafa. “Eu estou em comunicação com a equipe,” imito o seu tom formal antes de tomar outra dose “É sobre a minha vida que estamos falando, Finn, não alguma negociação maldita. Então me diga, você sabe para onde diabos eu fui negociado?” Whiff. Pancada seca. Toque. “Nova York? Flórida? Minnesota?” Meu arremesso aumenta com cada cidade. O mesmo acontece com o meu temperamento. “Hein, Finn? Você ainda não tem respostas para mim?” Me viro para encará-lo. Whiff. Pancada seca. Toque. “Você vai desligar toda essa merda para que eu possa me concentrar?” Ele grita. Nós nos encaramos através das redes da gaiola de rebatidas. A memória de fazer amor com Scout contra ela é uma fodida faca em minhas costas.

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Então mudo meu foco de volta para Finn. Ele parece exausto — cabelo espetado, camisa amarrotada e desabotoada no colarinho, olhos cansados — quando ele é tipicamente sempre a imagem da perfeição. Boa. Pelo menos eu não sou o único que se parece com o inferno. Whiff. Pancada seca. Toque. “Por que você não estava lá hoje?” Faço a mesma pergunta que eu já lhe fiz três vezes, precisando desta vez ver o seu rosto enquanto ele responde. “Você não confia em mim?” Sua voz é gelada, mas ele que vá para o inferno. “Estou descobrindo que confiança e lealdade não tem importância alguma hoje em dia,” digo e encolho meus ombros em um que se foda. Ele dá um passo mais perto, envolve os dedos na rede para que seus braços pendurem acima de sua cabeça enquanto ele olha para mim através da barreira. “A reunião começou duas horas mais cedo do horário que me disseram. Eu verifiquei todas as minhas anotações. Minhas mensagens de voz. Eles disseram três horas. Você tinha um jogo começando as duas, então por que ter a reunião depois de ter começado. Eu deveria saber que alguma merda estava acontecendo. Tillman é um filho da puta sombrio. Eu deveria ter questionado o motivo,” diz ele com um aceno de cabeça e passa a mão pelo cabelo. “E Wylder, se você me insultar questionando minha lealdade novamente, você pode encontrar a porra de um novo agente.” A mordida em seu tom me surpreende e me diz exatamente o que eu preciso saber: ele está do meu lado. “Sim, bem, algo definitivamente estava acontecendo,” digo, ignorando a ameaça e a minha risada que segue sai carregada com sarcasmo.

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Whiff. Pancada seca. Toque. “Easton, por favor, desligue essa merda para que possamos conversar.” Mantenho meus olhos nele por mais um segundo antes de desligar o interruptor na parede atrás de mim. O giro suave da máquina abranda e preenche o espaço, enquanto ando para silenciar o toque no meu celular. A tela é preenchida com chamadas enquanto eu verifico. Repórteres. Companheiros de equipe. Finn. Meu pai. Para cada um desses, parece haver cerca de cinco de Scout. Mensagens de voz. Textos. A visão deles faz o meu peito doer, porque uma coisa ainda permanece, ela me traiu. Pego a garrafa para aliviar essa dor, mas deixo meu celular quando saio da gaiola de rebatidas pela primeira vez em mais de três horas. Vou direto para o banheiro sem dizer uma palavra para Finn. Quando saio do banheiro, ele parece ter um olhar mais atento em mim. “Você parece uma merda.” “Sim, bem, você pode me culpar?” Dou de ombros, olhando para a parede com as minhas camisas da Liga Infantil. É muito mais fácil olhar para lá do que para ele. “Só tentando dar sentido a essa merda que não faz sentido... olhando como tudo isso parece apropriado.” “Tillman do caralho.” “Isso é um bom jeito de colocar as coisas.” “O desgraçado não quer falar comigo até amanhã de manhã. Eu tenho uma reunião nove horas. Porra de nove horas,” ele grita. “Como se você fosse algum temporário em vez de seu jogador de franquia.”

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“Isso é o que eu não entendo,” digo e tomo mais uma dose de bebida. “É como se eles não tivessem nada configurado. Como se eles não estivessem esperando por uma negociação.” “É com isso que tenho sérias dificuldades em organizar minha cabeça. Tem que haver um problema aqui que estamos deixando passar,” ele diz quando cruza seus braços e inclina seus quadris contra a parede. “Em todos os meus anos, quando uma negociação é feita, você é informado com antecedência para arrumar suas malas e passar para a próxima equipe. Tudo o que me disseram foi para você limpar seu armário às 10h amanhã.” “Antes da entrada dos caras.” Eu ronco. “Um grande movimento covarde. Deus me livre de estar lá, quando a equipe voltar para ver quão desleal a merda do seu clube é para os seus jogadores. E sobre Boseman? Onde diabos ele estava em tudo isso?” Pergunto sobre o proprietário da equipe. O homem que tem sido como um tio para mim e não a porra de caralho nenhum quando eu mais preciso dele. “Ainda nessa viagem para a Amazônia, reinventando-se ou alguma merda bilionária assim. Eu deixei uma dúzia de mensagens quando não consegui um horário para falar pessoalmente com aquele idiota Tillman até amanhã.” “Fodida má sorte, cara,” digo enquanto arranco a garrafa de seu alcance quando ele tenta tirá-la da minha mão. “No caso de você não saber, são apenas seis horas, East,” diz ele, apontando para o quarto sem janelas. “Você já secou uma garrafa esta noite. Eu preciso que você controle o ritmo. Desacelere um pouco.” “Ah, então é por isso que você está aqui... para vir e arruinar toda a minha diversão?” Reviro os olhos. “Eu preciso de você um pouco sóbrio pela manhã.”

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Olho fixamente para sua mão estendida e com os meus olhos nele, lentamente levo a garrafa aos lábios em rebelião e sorriso. “Não é como se eu tivesse um emprego para ir ou qualquer coisa.” “Nunca se sabe. Eles podem ter como primeira coisa pela manhã colocá-lo em um avião e te enviar para Deus sabe onde —” “Essa é a porra do ponto, Finn. Deus. Sabe. Onde. Você tem noção?” Grito para ele com os braços abertos, minha paciência — e parece que a minha sanidade — acabaram horas atrás. “Porque eu não sei nada. E nem você sabe esse assunto. Quero dizer isso é tão fodido de tantas maneiras e—” “Olha cara, eu sei que você está chateado, mas nós temos que tentar fazer o melhor —” “Chateado?” Grito a plenos pulmões. A tentação de jogar a garrafa é mais forte do que a vontade de beber. “Eu dei o meu maldito coração e alma ao Aces e para quê? Por quê?” É como se um furacão de raiva está rasgando através de mim. “Para ser trocado?” “Eu sei cara. Eu sei. Não faz sentido para mim. Tenho o seu pai na minha bunda, tenho a imprensa respirando no meu pescoço e Scout se recusando a falar com qualquer pessoa além de você. Ao mesmo tempo, a organização maldita está tomando o seu tempo doce distribuindo os detalhes da sua negociação. Eu nunca vi nada parecido.” Meus pés param quando ouço o nome dela. A traição ainda é fresca e confusa e eu não sei o que diabos pensar sobre isso, então ando, depois sento e depois levanto de novo, incapaz de permanecer imóvel. O sorriso e o beijo que ela me deu quando saiu da minha casa mais cedo está queimando na minha mente. Por que ela mentiria? Mudo a direção, preciso, porque eu não posso pensar sobre ela. “E a minha mãe? Como é que eu vou cuidar dela quando estiver fora —”

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“Nós vamos descobrir alguma coisa.” “E encontrar um lugar para viver —” “A maioria dos times tem um bairro onde ficam os caras transitórios —” “E então há...” E depois há a porra da Scout. Ou melhor, havia a porra Scout. Eu tenho que me movimentar para diminuir a revolta que cresce sabendo que tudo o que existia entre nós acabou. Finn me espera parar, abaixo minha cabeça na tentativa de achar uma forma para lidar com tudo. Sua mão está no meu ombro, apertando em apoio. “Vamos lá para cima. Vou pegar um pouco de comida, enquanto você toma um banho. Então, podemos conversar um pouco mais, se quiser. Ou não.” “Não. Eu estou bem.” Não tenho estômago para subir pelas próximas horas. As luzes do estádio estarão acesas para a equipe de limpeza. A última coisa que preciso ver é como elas iluminam o céu para me lembrar do jogo eu perdi. O jogo que deveria ser o do meu retorno. Adicione a isso, que estou longe de estar pronto para enfrentar as muitas peças de roupa de Scout espalhadas por toda a minha casa. Ignorando a mão, começo a andar novamente. “Vamos lá, deixe que eu peça a comida. Vou pegar um pouco do seu sushi favorito —” “Não!” Mais memórias malditas vêm à minha mente. Scout no sofá experimentando sushi pela primeira vez. Scout sentada entre as minhas pernas assistindo um filme. Scout lendo sua sorte dos biscoitinhos tão fora da realidade como minha negociação ser apenas um sonho ruim. “Eu não estou com fome.” “Vamos lá, deixe que eu faça alguma coisa aqui, East,” implora.

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“Consiga as respostas.” “Estou tentando —” “Eu sei, eu sei. Só não entendo por que ela mentiu e disse que eu não estava cem por cento, quando ontem à noite — Jesus fodido Cristo, apenas esta manhã,” desabafo mais para mim mesmo perdendo a noção do tempo neste túmulo de concreto, “ela me disse que não podia esperar para me ver no campo novamente.” “Você dormiu com ela?” Finn pergunta enquanto começa a juntar as palavras que acabei de falar. Acho que acabei de deixar o gato sair do saco. Detenho meu passo por um segundo e, em seguida, ignoro a sua pergunta. “E se eles mudaram os termos de seu acordo?” Desvio quando chego ao monte do rebatedor e retorno. “E se lhe disseram que o Doc Dalton não conseguiria o contrato da equipe?” “Eu pensei que você estava apenas tolerando ela.” Ele cava mais fundo, ignorando minhas perguntas. “Pensei que você colocaria esses fones em seus ouvidos e escutaria um dos seus malditos audiobooks para passar o tempo, para não ter que lidar com ela. Que porra aconteceu com isso, Easton?” Finn bloqueia meu caminho e eu desvio dele, mas não antes que ele estenda a mão para pegar meu bíceps. Meu braço oposto está armado em um segundo — meu punho pronto para voar. Meu temperamento está cansado de ser testado. Ele não vacila, embora muito de mim, precisa obter uma reação dele. Em vez disso, Finn apenas detém o meu olhar por um instante antes de olhar para o meu punho e depois de volta para os meus olhos com um elevar de suas sobrancelhas. “Por favor, me diga que você não foi simplesmente fodido por sua fisioterapeuta por causa de alguma besteira do tipo a amante desprezada.” Abaixo meu braço lentamente e esfrego a mão sobre meu rosto, mas não respondo.

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“Você está brincando comigo?” Pergunta ele com uma risada incrédula enquanto eu viro as costas e olho para uma foto minha e do meu pai, usando nossas camisas do Aces, no último dia em que compartilhamos o campo juntos antes da sua aposentadoria. Finn geme, e eu posso segui-lo apenas pelo som da sua voz. “O que aconteceu? Teve sua diversão e em seguida se encheu dela, enquanto ela estava esperava em algum lugar além do arco-íris maldito por você?” “Não exatamente.” A visão dela em pé no meu quarto, empurrando um babyliss em sua bolsa, calçando seus sapatos sensuais e aquele sorriso tímido nos lábios que chocados fizeram um O, quando eu pedi para ela morar comigo, enche minha mente. “Então o quê? Jogue um maldito osso, East, então eu saberei com o que estou trabalhando aqui.” “Esqueça.” “Não. Eu não vou esquecer,” ele diz na minha cara e puxa a garrafa da minha mão. “Este é o meu trabalho. Chegar ao fundo da merda para que eu possa descobrir o próximo passo enquanto você entra em campo onde quer que na porra do inferno eles mandem você. É assim que funciona. Então, que merda aconteceu aqui, Easton, porque eu preciso saber por onde começar.” Balanço a cabeça com minha mandíbula cerrada, não querendo admitir a derrota em voz alta. Eu posso ver as rodas de sua mente girando, imaginando, assumindo. Ele dá mais um palpite. “Ela disse que te amava, você não disse de volta e por isso esta foi a sua maneira que ela achou para se vingar de você, por não querer se comprometer com alguém?” Meu orgulho trava uma guerra com a necessidade de lhe dizer toda verdade que eu prefiro não admitir. “Na verdade, exatamente foi o oposto.” Minha voz é um sussurro, mas a ampliação de seus olhos

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e surpresa em sua expressão me diz que ele me ouviu alto e claro. “Ah merda,” ele diz em simpatia. “Sim,” eu digo quando encolho os ombros e me afasto dele. “Perdi minha equipe e fui fodido pela minha garota tudo no mesmo dia, então me deixe em paz e devolva a minha garrafa, sim?” “Sinto muito, cara. Isso dever ser difícil pra caralho.” Ele me entrega a garrafa e fica em silêncio, tanto que eu juro que quase posso ouvir. Então, novamente, talvez seja o Jameson falando. “Mais ainda não faz sentido. Se você não está cem por cento e reintegrado, então, a Dalton’s Terapia Física não consegue o contrato... portanto a menos que esses termos tenham mudado, ela também se fodeu.” “Exatamente,” digo em um rosnado frustrado. “É por isso que eu estou perdido aqui.” “Há uma maneira de descobrir.” Ele aponta para o meu celular. “Não quero falar com ela agora.” Eu me esforço para acreditar em mim mesmo. “Arranque o Band-Aid fora. É mais fácil saber do que ficar se perguntando.” “Não.” Eu sou inflexível. Ou pelo menos o meu tom é porque, porra, se eu não quero arrancar tudo dela e puxá-la para perto, tudo ao mesmo tempo. Isso tem que ser o álcool falando. “Eu te darei esta noite, mas nós precisamos de respostas de alguém desde que, Deus sabe, não vamos confiar em uma maldita palavra que saia da boca de Tillman pela manhã.” Dou um grunhido em resposta. “Podemos conversar amanhã antes de ir para a reunião.” Ele dá alguns passos. “Você vai ficar bem?”

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“Sim. Eu vou para mais algumas rodadas com a máquina.” E até mesmo isso não parece mais como uma fuga. “Ok. Vou mandar um pouco de comida.” Ele olha para o relógio e depois de volta para mim. “Tentarei cronometrar depois que as luzes do estádio estejam apagadas.” Ele sabe. Entende. E não acha que sou estúpido por isso. “Obrigado, Finn.” “Descanse um pouco.” Observo as portas do elevador fechar atrás dele e dreno o resto da garrafa. Minhas mãos doem como um filho da puta, mas ando para a gaiola de qualquer maneira. Este tipo de dor eu posso lidar. Estou acostumado com isso. “Tem que ser a porra dos papéis.” A voz de Finn me assusta assim que eu pego um novo bastão para verificar se há lascas. “Eles têm que ser o problema.” “O quê?” “Eu sabia que Tillman estava pregando algum tipo de peça. Eu sabia no meu íntimo, quando olhei aquele adendo que você assinou. Eu queria ir para Boseman e você me disse para esquecer... mas, East, eu acho que essa é a chave.” “O quê?” Fale minha língua, por favor. Ele caminha através do espaço com um propósito que me diz que descobriu algo, mas não há qualquer motivo para ficar animado. Eu ainda estou negociado. Ainda removido da minha vida aqui. “Preciso que você pense muito sobre isso,” ele diz com a voz grave, olhos intensos e tudo que lhe dou em resposta é uma risada. “A garrafa está vazia.” Eu jogo para cima e ela cai com um baque na grama. “Você acha que vou conseguir lembrar qualquer merda, agora?”

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“Estou falando sério, E. Quando você se machucou, você me disse que assinou papéis. O clube enviou cópias para mim. Foi um relatório médico de duas páginas com a sua assinatura no acordo sobre a segunda página.” “Não essa merda de novo,” dou um gemido. “Nós já batemos nesta mesma tecla incansavelmente, Finn. Eu fodi tudo. Assinei na linha pontilhada e agora estou pagando as malditas consequências por isso.” “Isto é exatamente correto. Você assinou na linha pontilhada. Mas quantas linhas pontilhadas estavam lá? Você sempre chamou papéis — no plural — e eu só presumi que você quis dizer os dois papéis que eu recebi... mas isso só me bateu... a maneira como Scout disse ‘os papéis' como se fossem o inicio e o fim de tudo. Você se lembra de quantas vezes você assinou o seu nome?” Minha cabeça está girando — por causa do Jameson e pelo que ele apenas perguntou. Olho para trás e tudo que eu lembro é a dor, desmaiar devido a ela e, em seguida, chegar ao vestiário com papéis na minha frente, uma caneta empurrada na minha mão e pontos em branco em minha visão. “Porra, Finn...” “É importante, Easton.” As palavras borradas nas páginas. Minha necessidade por Oxycontin5 para aliviar a dor superou a necessidade de entendê-las. “Dois... talvez três... mas dois, com certeza.” “Droga!” Ele bate as mãos e o som ecoa ao redor da sala. “O fodido do Tillman está por trás disso. Ele puxou algo em você. Eu o conheço. Aposto que a sua Scout viu isso.” “E você não estava lá.” As palavras são de acusação, embora ele já tenha explicado o motivo. Estou tão cansado de desculpas 5 Oxycontin é um medicamento à base da oxycodona, indicado para o tratamento de dores moderadas a severas. Causa dependência se o uso não for moderado.

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quando o meu mundo foi virado de cabeça para baixo a primeira vez em um jogo sujo e agora, ao que parece ser, em um negócio sujo. “Eu vou fazer isso direito,” ele diz, mas olho para ele, sabendo que ele não pode. “Se você não vai falar com Scout, eu vou.” “Faça o que você quiser. Isso não vai mudar nada.” Murmuro. “Mas eu terei munição quando entrar lá amanhã, em vez de um barril vazio.” Ele pega o telefone. “Qual é o endereço dela?” “Você pode ir?” “Sim. Certo. Estou no caminho certo. Eu posso sentir isso. Vou falar com ela East, e chegar ao fundo disso.” Seu sorriso enfraquece como se eu devesse está tão entusiasmado como ele por ter descoberto isso. Mas não estou. Estou devastado. Lágrimas queimam o fundo dos meus olhos e eu seguro essa merda longe tão rápido quanto posso, porque não vale a pena chorar mais. As mulheres vêm e vão. As equipes são equipes. Eu ainda posso jogar bola em qualquer lugar. Mas não é apenas uma mulher. É Scout. Aquela que me entende. E não é apenas uma equipe. É o Aces. Aquele cujo dei meu sangue muito antes de nascer. Que diabos está acontecendo?

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CAPÍTULO 5

Sinto muito, Scout. Ele não está aceitando nenhum visitante neste momento. É a mesma resposta que recebi quando eu corri para cá depois de deixar a reunião e a mesma que continuei recebendo cada vez que tentei entrar no edifício. O olhar no rosto de Easton continua assombrando minha certeza, enquanto estou do outro lado da rua, observando o porteiro Alec de prontidão em seu posto. O mesmo homem, que apenas esta manhã brincou comigo enquanto eu saía para o estádio, agora está a torto e a direito mandando pessoas embora. Repórteres. Companheiros de equipe. Eu. Olho para o meu celular novamente apenas para o caso de Easton ter respondido algumas das minhas mensagens. Eu sei que ele não respondeu porque o celular está grudado em minha mão, mas o olho de qualquer maneira. Ele tem tocado várias vezes embora. As chamadas de Finn querendo respostas. As chamadas de repórteres tentando chegar ao Easton. Uma chamada de Tino me perguntando que merda aconteceu. As chamadas de todo mundo que eu não quero e nenhuma da única pessoa que eu preciso.

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Então, tenho recorrido a isso — ficar sentada no escuro em frente ao seu prédio com meu estômago enjoado, o sal das minhas lágrimas secando em minhas bochechas e espero que diminuam — enquanto aguardo o turno do Alec terminar e o do Simon começar. Cada segundo parece uma hora. Cada pensamento só é agravado em dúvida e arrastado pela lama dos meus sentimentos enquanto eu espero para ver Easton. Explicar tudo. Pedir que me perdoe. Porque quanto mais fico sentada aqui, mais questiono tudo: se vi o que acho que vi, se eu tomei a decisão certa e como não pude perceber mais cedo que eu o amo. Porque, sim, eu o amo. Seu sorriso megawatt e seus gestos muito doces. A maneira como ele precisa tomar seu café da manhã para se tornar remotamente tolerável e como ele odeia que toquem a comida em seu prato. A maneira como ele ama sua mãe e respeita seu pai, apesar de tudo o que eles o fazem passar. A maneira como ele parece saber exatamente o que eu preciso, quando eu preciso dele, mesmo quando nem mesmo eu sei. A nossa dança no bar country. Nossa aventura para brincar e cuidar dos cães resgatados. Um piquenique em um campo de basebol. E, claro, com a minha constatação o pânico sufocante que atinge. E não porque tenho medo que ele vá me deixar, mas porque agora tenho a certeza... mesmo quando nem sequer sabia disso. Nada como uma pequena dose de realidade para tornar as coisas claras. Desesperada para conseguir algum contato com Easton, eu verifico meu telefone novamente. Nada. Mas quando olho para cima, Alec está dando a Simon uma rápida recapitulação na porta antes de caminhar pela calçada em frente a mim, então entra em seu carro e vai embora. É agora ou nunca, Scout.

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Mente limpa. Coração aberto. É a única maneira que eu posso corrigir isso. Saio para a calçada e corro diretamente até o cara da entrega do sushi, que acabei conhecendo tão bem de tanto fazer pedidos com Easton em sua casa. “Riku!” “Srta. Scout,” ele diz com um sotaque quebrado enquanto tenta reequilibrar sua carga de entrega que derrubei e tirei da ordem. “Sinto muito. Eu não queria —só estou — você está bem?” Tropeço sobre as palavras ao tentar ajudá-lo a reordenar seus pacotes. “Sim. Sinto muito. Eu não estava prestando atenção. Está noite está movimentada. Muitas entregas,” explica. “Parece que sim.” Sorrio com força, querendo ser cordial, mas realmente precisando muito chegar a Easton. Meu cérebro está tão esgotado, mas... “Este é para o Sr. Wylder? Estou indo para lá agora e posso entregá-lo para você.” “Sim,” ele diz com um aceno de cabeça ansioso, mas, em seguida, seu sorriso desaparece. “Mas meu pai ficaria muito bravo se eu não me certificar —” “Nós não vamos dizer a ele,” digo enquanto puxo uma nota de vinte fora da minha carteira e coloco em seu bolso. “Não se preocupe, apenas me diga qual pacote é o dele.” “Tem certeza que você não se importa de fazer esta entrega?” Ele se anima com a ideia e tenho certeza que a gorjeta de 20 dólares também não faz mal algum. “Claro que não. Eu estava indo para lá de qualquer maneira, então porque não ajudá-lo.”

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Ele me olha novamente, o medo de ficar em apuros com o seu pai guerreia contra a possibilidade de concluir suas entregas mais rapidamente, o que significa conseguir gorjetas maiores. Eu posso ver o minuto que o último ganha. “Muito obrigado.” Ele me entrega um saco cheio de recipientes de isopor empilhados. “O prazer é meu.” Com um enorme suspiro eu assisto Riku descer a calçada antes de correr em frente para me aproximar de Simon. “Ei, Simon, entrega de sushi para Easton.” Seguro o saco com o nome do restaurante impresso sobre ele. Repórteres chamam o meu nome enquanto ele olha cansativamente para mim e me pergunto se Alec passou todas as orientações que ele estava seguindo, sobre não permitir qualquer visitante para Easton. “Eu preciso o chamar e verificar primeiro,” ele diz trazendo o interfone ao ouvido. Meu sorriso permanece enquanto morro lentamente por dentro, sabendo que isso não vai funcionar. “Sr. Wylder, aqui é Simon da portaria... desculpe incomodá-lo, senhor, mas eu só queria ter certeza de que o senhor pediu alguns sushis para entrega... Ok.” Simon olha para algumas pessoas com câmeras do outro lado da rua e acena a cabeça. “Sim. Vou me certificar... de nada.” Engulo lentamente o nó que estava fechando minha garganta enquanto espero ele desligar e me dizer para deixar a comida com ele em vez de entregá-la pessoalmente. “Ele foi enganado,” Simon diz com um aceno de sua cabeça enquanto abre a porta e permite a minha entrada no edifício. “Ele com certeza foi,” murmuro enquanto passo com pressa por ele.

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Se eu cheguei a achar que estava nervosa antes — pensando e repensando o que diria, como diria e o que não poderia deixar de falar — agora sou um desastre enquanto aguardo o elevador subir lentamente, andar por andar para a casa de Easton. Os sons do elevador. As portas se abrem. O apartamento está banhado na escuridão, exceto pela luz frontal assim como na primeira vez Easton me trouxe aqui. As memórias daquela noite — nossa primeira vez juntos — o flash através de minha mente, mas desta vez as borboletas são muito mais do que a possibilidade de sexo pela primeira vez. Desta vez elas são mais sobre a possibilidade de perdê-lo. “Obrigado, Riku. Ponha sobre a mesa. Sua gorjeta está lá.” Sua voz é um estrondo profundo na escuridão e a tristeza misturada ao álcool que enrola sua língua faz partir meu coração. Congelo. Planos e discursos ensaiados vão todos por água abaixo, porque agora eu tenho que enfrentá-lo e não sei o que fazer. “Riku? É tudo —” Easton diz, segundos antes de entrar no hall e as palavras morrem em seus lábios quando ele me vê. Ele está horrível. E lindo. Tudo ao mesmo tempo. Seu cabelo está uma bagunça, seu rosto está gravado com stress, sua mandíbula com uma sombra de barba, seu peito nu e ele ainda está em suas calças de basebol desabotoadas na cintura. Mas são os seus olhos que me assolam. Sim, eles estão encobertos pela bebida, mas é o flash de dor que eu pego antes de ser limpo e substituído por raiva. Instável e incerta sobre o que dizer, eu apenas seguro o saco de comida para ele ver. Easton olha para o saco e, em seguida, volta para mim por um breve segundo antes de virar as costas e caminhar de volta para a escuridão. “Eu não estou com fome.” “Easton.” Seu nome é um apelo desesperado.

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“Se quisesse falar com você, eu teria ligado de volta. Mas não fiz e ainda não sei se quero fazer. Você sabe onde fica a porta.” Sinto um frio na barriga quando ele desaparece da minha vista. Momentaneamente atordoada, eu não me mexo com a fantasia ridícula que pode ter sido inventada na minha cabeça — a que Easton precisa tanto de mim que ele me puxa para o seu corpo e tudo logo fica bem — incinera com o gelo em seu tom. Vou atrás dele, desespero em minha voz e medo de estragar tudo em meu coração. “Eles iam se livrar de você.” “Bem, você se certificou disso. Poupe sua dignidade Scout, e vá embora. Não sobrou nada para dizer... suas ações, suas mentiras, disseram tudo.” “Não. Por favor. Ouça.” “Para quê?” Easton se vira para me encarar, mas ele é uma silhueta no escuro contra o céu noturno com a parede de vidro em suas costas. “Você quer que eu escute como você me fodeu? Minha carreira? Minha família? Como você fez para ter a merda da maldita certeza de não ter mais a porra do medo que eu te deixe, então você foi lá e fez isso por mim? Depois de tudo pelo que trabalhamos? Sério? Você estava tão assustada que me fez ser negociado?” A raiva em sua voz não tem nada sobre a angústia tingindo seu tom. Suas palavras são profundas e devastadoras. Ele acha que eu estava assustada? “Você realmente acha isso? Que sou tão egoísta, tão covarde, que eu propositadamente fiz você ser negociado para o meu próprio benefício?” “Nada me surpreende hoje. Nem uma porra a menos. Bem, exceto para a parte do ‘você foi negociado’... agora, isso com certeza me deixou chocado pra caralho.” “Easton, não é como —”

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“Você mentiu?” Há um nó em sua voz, como se o magoasse confirmar o que ele já sabe. Eu abro minha boca e, em seguida, fecho, a admissão tão difícil de fazer agora que estou de pé diante da pessoa que enfrenta as consequências de minhas ações. Quando ele avança, seu rosto parcialmente na luz, as sombras ainda dominando o resto e encontra meus olhos através do espaço, as palavras em meus lábios sofrem uma morte indigna. “Só me diga uma coisa, Scout. Você sabia que ia mentir quando você se despediu e me beijou? Foi tudo planejado? Você estava esperando que essa negociação fosse uma daquela súbita 'pegue suas malas, seu voo está prestes a sair com destino a sua nova equipe' para que você não tivesse que me ver novamente e enfrentar o que você fez? Dê uma boa olhada, querida, porque isto é o que parece.” Ele dá mais um passo para frente para que seu rosto fique banhado pela luz. “Isto é o que é ser fodido por alguém em quem confiamos. Não é bonito, não é? Então, obrigado pela sua preocupação, mas eu sei que é só para que você possa aliviar a sua culpa. Não pense que vou ajudá-la com isso porque eu sou o único que terá que viver com o que você fez.” “Eu sei e é por isso que tenho tentado falar com você, para poder explicar,” eu grito e dou um passo à frente, mas o olhar que ele me lança avisa para ficar onde estou. “Finn não estava lá e então —” “Eu nunca pedi a alguém para morar comigo.” Sua voz é suave e dolorida e a mudança repentina dos seus gritos segundos atrás suga todo o ar da sala. “Não é por isso que eu —” “Então cuspa.” “Os papéis —” “Eu sabia que você ia fugir ou me afastar e —” “Isso não é —”

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“E você arranjou uma maneira segura de me afastar para que pudesse obter o maldito contrato.” “Não! Apenas escute —” “Saia!” “Não.” “Nós terminamos.” “Eu estou apaixonada por você!” “Não,” ele grita, ele grita e sua mão bate na mesa ao lado dele para coincidir com o trovão em seu temperamento. Eu pulo ao som que ecoa pela sala, mas não tem nada batendo mais forte que o meu coração em meu peito. “Você não vai dizer isso para tentar fazer a coisa certa. Não percebe que suas palavras não significam nada pra mim agora? Você me disse que eu estava cem por cento e, em seguida, você lhes disse que não estava. Você acha que vou acreditar em você quando você diz que essas palavras para mim? Muito conveniente Scout. Você não pode sequer aguentar meu pedido para se mudar e mesmo assim você me diz que está apaixonada por mim para tentar consertar essa merda? Você está maluca —?” Eu estalo. “Você assinou os malditos papéis,” eu grito a plenos pulmões, finalmente capaz de obter uma palavra adequada. Ele cortou fundo com suas palavras, propositadamente para me machucar e é a minha maldita vez de atacar. Eu já me repreendi durante todo o dia maldito sobre o que eu fiz, mas no final não é tudo só por minha conta. “Você fez isso. Não eu. Ele também estava enviando você para uma equipe de Triple-A 6 no Maine ou para o outro lado da cidade, para os Wranglers, então fiz o que tinha que fazer.”

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Triple-A e o màis àlto nível de jogo nà Ligà Menor de Bàsebol nos Éstàdos Unidos e no Mexico.

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A sala fica em silêncio enquanto partículas de poeira dançam na réstia de luz a partir do hall de entrada e eu sei que, pela primeira vez desde que pisei meu pé aqui agora ele está me ouvindo. Easton tropeça para trás. Seus lábios abertos em choque. Suas sobrancelhas estão franzidas. “O que você acabou de dizer?” O bêbado encontra o sóbrio. “Que porra você está falando?” “Os papéis,” digo ainda engasgada com um soluço quando as emoções me alcançam. Sentindo uma chance de redenção na ponta dos meus dedos, eu vou em direção a ela. “Eles caíram fora da mesa. Foi uma confusão. O café derramou e vários papéis foram jogados no chão e quando eu tentei ajudar a reuni-los, a sua assinatura estava neles e eu não sabia o que fazer e —” “Então você decidiu agir por conta própria e —” “Um dos papéis tinha um acordo que, se você não alcançasse cem por cento, então eles poderiam negociar você,” eu tropeço. Há muita coisa para explicar, muitas palavras para sair de uma só vez e a pressão de fazer isto direito deixa a minha cabeça toda confusa. “Estou bem ciente do que estava escrito e a parte comercial.” Ele dá de ombros com um sorriso condescendente. “Você com certeza se certificou que acontecesse, não é?” “Mas e o outro... por que diabos você concordaria com isso?” “Outro? Concordar com o quê?” Ele avança, com raiva e acusação em seu rosto. “Você assinou consentindo que te enviassem para Triple-A.” “Que diabos você está falando?” Ele está em mim, num piscar de olhos — com cheiro de uísque e raiva — com as mãos no meu bíceps, me dando uma pequena sacudida antes de perceber o que está fazendo e se afastar em choque como se tivesse sido queimado.

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“Ele disse algo sobre você dar o seu consentimento ao Aces para te enviar ao Triple-A por um período de um ano, com um corte no salário, após o retorno da lista de lesionados, e —” “Isso é besteira,” ele grita. “Eu vi com meus próprios olhos. Você assinou. No lado esquerdo inferior.” Easton começa a falar e depois para, seus olhos perfuram os meus, mas então há um olhar que lentamente se aproxima do seu rosto. Um que acho que nunca vou esquecer e que não entendo, mas existe e é real. Na intensidade do momento em que meu pensamento trava através de minha mente, penso que uma expressão como essa nunca deveria estar em seu belo rosto. E antes que eu possa entender o que significa, ela se foi. Apagou e foi substituída com a cara séria que ele usa no jogo e que eu reconheço mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente, de tanto assistir seus jogos pela TV. Eu me esforço para explicar melhor. “Havia esses papéis. Os que você assinou. E então os das pastas de Cory. Notas. Rabiscos. Eles estavam em toda parte e eu estava tentando empilhá-los e... havia opções negociações formais. Pedidos para o seu rebaixamento para a Triple-A. Havia uma correspondência com Dallas sobre uma negociação envolvendo seu nome. Havia um e-mail para o gerente do Portland dizendo-lhes para rebaixar Gonzo para Double-A7, porque você seria negociado e jogaria para eles. Eu só tinha alguns segundos, Easton. Segundos. Para ler e decifrar e descobrir o que —” “Scout.” Sério. Preocupado. Confuso. Petrificada com o seu súbito silêncio, acrescento, “era você ser negociado ou ser rebaixado e então eu escolhi ser negociado para você.” 7

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Double-A e o segundo nível de jogo dà Ligà Menor de Bàsebol, ficàndo àtràs dà Triple-A.

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“Você escolheu?” Sua voz uma mistura de fúria e descrença quando ele recua de onde eu estou. Ele caminha de um lado a outro, apoiando suas mãos na nuca enquanto seu temperamento se manifesta fisicamente em sua postura. Congelada no lugar, vejo quando ele pega a garrafa na mesa e joga tão forte quanto pode. O som dela batendo contra a parede é ensurdecedor — uma garrafa de vidro de encontro a uma parede de vidro — seguido pelos sons dos cacos batendo no chão. É chocante e leva um minuto para me recuperar da sua explosão súbita. “East —” “Esta é a minha maldita vida,” troveja. Raiva vibra em sua voz. “Quem lhe deu as rédeas de decidir por mim? Com certeza não foi eu! Você tem alguma ideia do que você fez?” A dúvida que eu carrego comigo durante todo o dia lentamente desliza em pavor e enche cada grama do meu ser. Quando eu lhe respondo, é a primeira vez que me mostro insegura e me odeio por isso. “Mas era Dallas. Sua mãe está a meio caminho entre aqui e ali e —” “É a minha maldita mãe. É a minha fodida escolha. Quem você acha que é para escolher o que é melhor para mim? São um monte de decisões para alguém que não conseguia nem sequer suportar que eu lhe dissesse que estava apaixonado por ela, você não acha?” “Foi uma fração de segundo. Maine ou Dallas.” Por favor, veja um pouco o meu lado. “Besteira total.” Ele lança suas mãos de um modo como se ele tivesse terminado comigo e enquanto eu sei que fiz a escolha para ele e isto agora está com ele. “Por que você assinou estes papéis? Por que Finn deixou você concordar com isso? Por que ele não estava lá hoje?” Minha voz está mais estável desde que eu entrei aqui. Dou um passo em direção a

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ele, a necessidade de saber a resposta, uma vez que a sua assinatura foi o motivo da necessidade de tomar uma decisão em primeiro lugar. “Que tudo isso se foda,” ele zomba. “Não coloque a culpa em mim. Você não poderia lidar com nada disso, não é?” “Não. Sim. Quer dizer, eu fiz o que achava que era melhor —” “Melhor? Melhor? Você está brincando comigo?” Não consigo sequer compreender o que está acontecendo agora. Quer dizer, eu posso, mas pensei que uma vez que eu explicasse a ele... eu pensei que ele seria... Ok, não grato, mas pelo menos entenderia. Foi uma escolha entre a humilhação de ser rebaixado e enviado por todo o país ou ser negociado com uma equipe dentro de um raio de distância de duas horas da sua mãe. Minha cabeça está girando. A luta não faz sentido e ao mesmo tempo fazendo todo o sentido. Eu tento de novo. “Mas é Dallas.” “Não tem lugar nenhum, Scout, porque a negociação nem se completou ainda.” Meu coração se aperta em meu peito com suas palavras. “O que você quer dizer com isso? Eu não —” “Você é a primeira pessoa a expressar a cidade de Dallas... então isso significa que a minha troca ainda está em negociações e não foi concluída. Você pode ter visto os papéis, Scout, mas havia provavelmente mais. Outras propostas com equipes como os Orioles ou Tampa ou os Mariners.” Meu Deus. O que eu fiz? Pânico, descrença, choque. Todos três formando um redemoinho de emoções, rasgando meu sistema e causando mais estragos do que jamais imaginei ser possível. “Seu rosto diz tudo. Então, sim, obrigado por nada. Você ganhou Scout. Estou fora.”

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“Eu não ganhei merda nenhuma, Easton,” eu grito, agarrando em qualquer coisa quando o turbilhão de emoção se transforma em um furacão e bate em mim. “Você acha que isso me fez algum favor? Você acha que eu tenho o contrato? Eu nem sei ainda. Tenho que voltar na parte da manhã para descobrir—” “Você e seu precioso maldito contrato. Sempre foi sobre o contrato, não é? Eu não? Só você.” Nojo é o que eu ouço na mordida em sua voz. “Não. Não.” Dou um passo para trás para tentar acalmar a situação. Seu temperamento. Meus soluços. Suas acusações. Minhas negativas. “Por favor. Apenas me escute. Apenas me escute. A única razão pela qual me importo remotamente com o contrato é por causa do meu pai.” “Conveniente.” Ele aspira quando vira as costas para mim e se depara com as janelas o que me deixa hesitante. “Você não vê que eu sou a única que poderia perder tudo?” “Coitadinha. Perdoe-me se eu não estou sentindo muita simpatia por você e —” “Não, não é isso que eu quero dizer —” Corto minhas próprias palavras quando não posso mais segurar o meu soluço. É inútil. Essa conversa e tentar argumentar enquanto ele está bêbado. Lutar para explicar minhas ações, minhas decisões, a mim mesma, quando ele está certo. Não era minha função tomar uma decisão sobre a sua vida por ele, independentemente das circunstâncias ou minhas intenções altruístas por trás delas. Olho para ele — os ombros largos e a postura orgulhosa — e penso na primeira vez que o vi assim e para onde isso nos levou. Meu coração dói por ele. Pela estrada que ele trilhou, por quanto ele lutou para retornar, apenas para ser surpreendido por Cory.

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Muito parecido sobre como ele lutou por mim. Por que justo agora quando eu posso admitir para mim mesma que estou apaixonada por ele, vou perdê-lo? Literal e figurativamente. “Easton...” Eu cometi um erro. Eu devia ter parado por um tempo. Eu devia ter... Eu te amo. “Talvez não devesse ter mentido.” O escárnio em seu tom só serve para reforçar o que eu já sei. “Você não está me ouvindo. Se você realmente me ouvisse você veria isso...” “Acredite em mim, estou te ouvindo, agora mais do que nunca. É que são as suas ações e não suas palavras que falam merda.” “Eu fiz o que achei que era —” “Pare. Pare de dizer isso. Não significa nada para mim.” Ele anda até a cozinha. Vidro chacoalha antes de ele puxar outra garrafa de uísque do armário de bebidas e toma um longo gole enquanto eu silenciosamente peço que ele pare. Eu nunca o vi assim — impotente, desesperado, descuidado — e saber que contribuí para isso está me matando. Quando termina a bebida, ele bate a garrafa no balcão para dar ênfase. “O que você fez foi se colocar numa posição privilegiada com aquele filho da puta do Tillman. Eu estaria fora de cena — sem stress, sem distrações, nada de dormir com o jogador para estragar o contrato pairando sobre sua cabeça e não ter preocupação alguma se o cara vai te deixar ou não. Obrigado por ter certeza que isso não daria em nada. E obrigado por pensar que você sabe o que eu quero da minha carreira e por tomar uma decisão que você não estava qualificada para fazer. Obrigado por nada, Scout. Vá para a sua reunião amanhã. Aceite o que os Aces te der. Fique feliz

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com o resultado. Você me ferrou para servir o seu pai. Se compreendo, eu não sei.” Ele se joga em uma cadeira de frente para a vista e de costas para mim. “Terminamos, mas novamente, de acordo com você, eu acho que nós nunca começamos nada... assim, uh... vejo você por aí, Scout. Ou não. Você sabe onde fica a porta.” Easton faz um espetáculo ao levantar a garrafa no ar e, em seguida, a leva aos lábios. Quando termina a bebida, ele afunda ainda mais na cadeira e continua a olhar para a escuridão. Easton não diz uma palavra. Não há mais nada a dizer.

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CAPÍTULO 6

Eu deveria pegá-los. Os pequenos fragmentos verdes de vidro por todo o chão. Lembretes de Scout. Das explicações que ela deu. As palavras que eu lancei. De tudo o que está quebrado. Eu deveria pegá-los. Mas não quero. Fico onde estive sentado durante toda a noite. E agora eu acho que já amanheceu. Minha cabeça martela. Meu estômago está revirado. Meus olhos fixos. No Estádio vazio. Aquele que eu não suportei ver iluminado ontem à noite está vazio agora. Um mausoléu de memórias da minha carreira. Alcanço a nova garrafa de uísque, mas apenas corro meus dedos em torno de sua borda, sabendo que já não preciso mais. Mas tomo um gole de qualquer maneira. Levo a garrafa aos lábios para abafar sua voz na minha cabeça. Opções de comércio formal. Correspondência com Dallas sobre uma negociação envolvendo seu nome.

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Para bloquear a expressão em seu rosto e a esperança que lentamente desapareceu de sua voz com cada acusação que lancei para ela. Pedidos para o seu rebaixamento para a Triple-A. Havia um email para o gerente... você seria negociado e jogaria para eles. Posso querer colocar a culpa de tudo nela, mas eu fiz isso. Eu sabia que um dia isso aconteceria. Que o meu segredo estragaria algo que eu amava. Mas não assim. Não com esse tipo de consequências. Eu só tinha segundos, Easton. Segundos. O céu está cinzento. Triste, sombrio e miserável. Eu estou apaixonada por você. Outra dose. Em seguida, mais outra. Há muito barulho. Em minha mente. No meu coração. Por que você assinou os papéis? Por que Finn deixou você concordar com isso? Por que ele não estava lá hoje? Não há sol para iluminar o céu como de costume. Os tons rosa e laranja que o coloria ontem enquanto fazíamos amor lento e doce, se foram. Esfrego meu rosto. Tento afastar a memória porque dói como uma cadela. Os suspiros suaves. Seu gemido rouco. O cheiro de sua pele. A sensação de seus lábios. Eu estou apaixonada por você. “Puta que pariu Wylder,” digo para o nada, sabendo que eu deveria pensar apenas sobre o jogo. Sobre para onde estou indo. Sobre como vou me sentir enquanto limpo o meu armário. Sobre o

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que vou dizer à minha mãe quando encontrá-la mais tarde e contar sobre a minha partida. Mas eu estou sentado aqui pensando em Scout. Sobre a posição em que a coloquei. Sobre a decisão que ela tomou. Sobre como joguei a culpa sobre ela, porque era muito mais fácil do que contar a verdade. A garrafa pesa em minha mão. É tão tentador, mas desta vez eu escolho beber em vez de jogá-la como eu fiz com a outra. A luta em mim se foi. Ela me deixou quando Scout saiu. Quando a pus para fora. Quando eu a obriguei a assumir a culpa. Eu estou apaixonada por você. Ela falou sério? O que isso importa agora? Ela ainda me traiu. Ela não lutou por mim. Então, por que eu deveria lutar por ela? Levante-se, Easton. Tome um banho. Se recomponha. Comece a fazer suas malas. Pare de doer. Meu celular toca novamente. É a terceira vez em uma hora. Eu abrando. Acalmo. Desisto. “Finn.” “Acabei de pegar a papelada. O que ela te disse ontem à noite está certo. É Dallas. Os repórteres estão enlouquecidos por uma explicação, por isso Tillman vai realizar uma coletiva de imprensa às oito e meia para anunciar a negociação. Eu estarei lá, então

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vou extrair essa porra fodida dele durante a nossa reunião e exigir ver toda a documentação. Quero ver o que aquele saco de merda te fez assinar e...” Ele continua divagando, mas tudo que ouço é Dallas. Eu deveria me sentir aliviado. Deveria ser capaz de respirar um pouco mais fácil ao saber a localização. Ela estava certa. É perto o suficiente para que eu ainda possa cuidar da minha mãe. É perto o suficiente para eu voltar para casa. É o segundo melhor cenário para estar em Austin... e ainda assim não serei mais um Ace. A única certeza na minha vida não está mais lá. “... e eu vou deixá-lo saber quando Boseman retornar, quero que ele olhe para a merda que Cory aprontou. Quero as bolas do Tillman pregadas numa parede para —” “Cancele a reunião, Finn.” “O quê?” “Não há necessidade de lutar contra isso. Quando e onde eu preciso me apresentar aos Wranglers?” “Eu não entendo. O que está acontecendo?” A mesma coisa que eu fiz toda a minha vida. Desviar. Evitar. Distrair. “Estou farto. Acabou. Aceite os termos. Reserve-me um voo. Ou eu vou dirigir até lá. A-mesma-merda-de-sempre. Basta me avisar quando preciso me apresentar e eu estarei lá.” “Mas Cory precisa ser —” “Sem reunião, Finn,” digo com firmeza enquanto meus dedos apertam o gargalo da garrafa e meus dedos na minha outra mão terminam a chamada. O céu ainda é cinza.

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Tenho a sensação de que será assim por um tempo. Mas isto é por minha causa. Não por Cory. Não por Finn. Não por Scout. Tudo por mim. A culpa é pior que o medo. Mas não há necessidade de discutir mais. Eu posso lidar com isso. A culpa foi minha, depois de tudo.

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CAPÍTULO 7

Usei todo o meu controle para não passar em Easton quando fui para o estádio. Para ir lá e quem sabe encontrá-lo um pouco sóbrio. E chamá-lo de idiota por ter dito tudo o que me disse e admitir que, realmente, fui uma idiota por assumir que sabia o que seria melhor para ele com a decisão que tomei. Então gritaríamos um com o outro, lutaríamos e resolveríamos tudo entre nós. Em seguida, eu sentaria lá com ele esperando pela conclusão da sua negociação. Tentaria ajudá-lo recuperar um pouco do seu equilíbrio e quando enfim, ele tivesse a sua resposta, eu o tranquilizaria de que tudo ficaria bem. Mas eu não paro. Porque uma ressaca pode ser tão ruim quanto um porre. E porque ele deixou claro que eu sou a última pessoa que ele quer ver. Vou deixá-lo ter isso. Vou dar-lhe algum tempo. Mas se ele acha que vou deixá-lo terminar comigo tão facilmente, ele está louco.

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Ele lutou por mim. Para ganhar a minha confiança. Para me fazer querer mais com ele. Para me fazer ver que nem todos vão me abandonar. Para garantir que eu me apaixonasse por ele. E agora é a minha vez de conquistá-lo. Eu apenas não estou completamente certa de como fazer isso quando viveremos em cidades diferentes. Easton vale a pena. Preciso descobrir como fazer isso funcionar, mas darei cada grama de esforço para conseguir. Deus, sim, eu estava ferida na noite passada e ainda estou por algumas coisas que ele disse. Mas, depois de repetir a nossa luta na minha cabeça várias vezes, enquanto olho para o teto em uma cama menos familiar para mim do que a dele, eu percebo que há uma peça faltando no quebra-cabeça. É o olhar em seu rosto que se manteve piscando em minha mente. Ele não me disse alguma coisa e eu não consigo descobrir que coisa é essa. Estou petrificada que não serei capaz de corrigir isso. Consertar tudo isso. Meu estômago está em nós sem saber por onde começar. Depois, há o meu pai e seu maldito contrato. Ele é a razão que eu estou aqui sentada nesta sala, obrigada a encontrar o homem responsável por essa turbulência e um que eu não tenho a mínima confiança. O dever de uma filha contra a vontade de uma mulher. “Ainda demorará mais alguns minutos, Srta. Dalton,” a recepcionista diz enquanto aponta para a porta da sala de conferência fechada e com o logotipo do Aces nela. “Obrigado. Vou usar o banheiro, então.” O espelho do banheiro serve apenas para refletir a merda da noite de sono que tive e como fiz a maquiagem mal cobrindo isso. E

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o fato triste é que eu me odeio por estar aqui. Por escolher o contrato sobre a tentativa de fazer as coisas direito. Primeiro a família. E agora enquanto estou escolhendo o contrato, optando por fazer alguma coisa pelo meu pai, eu faço uma promessa a mim mesma que cuidarei de mim logo em seguida. Com uma respiração profunda e uma determinação que mal sinto, eu saio do banheiro e fico cara a cara com Cal. Nós dois congelamos. “Espero que tenha sido bem sucedida em tudo o que você tentou tentando realizar, Srta. Dalton, considerando que você fez isso à custa do futuro do meu filho.” Pinga desdém de sua voz. “Sua pequena mentira teve sérias consequências.” “Ela me custou mais do que você pode imaginar,” digo baixinho, a voz quebrando enquanto tento manter minha compostura. “Sério?” Ele zomba se aproximando de mim. “Você não tem ideia do que está custando a Easton. Você me diz para protegê-lo, elogiá-lo e então logo em seguida você o ferra? É o meu filho cuja vida foi virada de cabeça para baixo. Ele abriu mão durante anos de ganhar mais dinheiro para ficar aqui e ter uma vida em vez de viver em constante mudança como a maioria dos jogadores. Ser leal... mas, novamente, parece que você não sabe nada sobre a lealdade, não é? Sua máscara finalmente caiu, Dalton.” “Há mais na história do que —” “Srta. Dalton, Cory irá recebê-la agora,” a recepcionista interrompe e eu me pergunto o quanto ela ouviu. “Obrigado,” murmuro com um sorriso tenso.

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“Idiota,” Cal diz em voz baixa. Eu viro minha cabeça em sua direção, esperando por mais um segundo para me explicar, mas ele já está caminhando para o outro lado. A única coisa que não ficou implícito é se ele se referiu a Cory ou mim.

“... e é por isso que eu ainda acredito que a Dalton’s Terapia Física beneficiaria a organização Aces com sucesso em um contrato de equipe,” digo, completando o meu discurso com convicção o tempo todo olhando para o homem do outro lado da mesa e querendo saber como eu me meti nesta posição. Porque estou lutando por um contrato com uma equipe que não posso confiar — e estou de pé, neste caso — na frente do homem que seria meu chefe. “E ainda assim você não conseguiu Easton Wylder reabilitado e de volta ao plantel ativo no prazo estipulado,” ele rebate. “Correto.” Cada parte do meu corpo se revolta com a mentira. “Como expressei quando fui contratada, eu discordo da estipulação de um prazo. Mesmo sofrendo a mesma lesão, cada corpo tem um tempo de recuperação diferente.” “Mas eu acredito que suas outras palavras foram: ‘Eu posso tê-lo pronto até meados de agosto’.” Idiota. “Sim, está correto.” “Hmm,” ele murmura enquanto se senta em sua cadeira e me nivela com um olhar implacável como se estivesse tentando me intimidar. Eu encontro seu olhar e não recuo. “E o que devo fazer sobre o assunto da violação dos parâmetros do seu contrato?” “Que diz respeito à?”

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“Ter um relacionamento com o jogador ao qual foi contratada para a sua reabilitação.” É sobre isso que tudo se trata? Será que Cory queria apenas me chamar aqui para soltar suas merdas, bater no peito e me fazer lembrar que é ele que está no controle? Usar isso como desculpa para justificar ter negociado Easton? Mas, mesmo assim, ainda não explica por que a assinatura de Easton estava naqueles malditos acordos. Ou porque Finn permitiu. “Se bem me lembro, Srta. Dalton, eu estou me referindo à sua violação da seção D, parte cinco de seu contrato.” Cada parte de mim se apega a minha tentativa de manter a civilidade, quando tudo que quero fazer é dizer a ele onde ele pode enfiar o referido contrato. “Bem, vendo como a minha vida pessoal não é da sua conta —” “É da minha conta quando você está contratada com a equipe.” “Nota-se,” digo com tanta cortesia quanto possível enquanto tento recuperar o meu equilíbrio. “Mas pode perceber que mesmo estando em 'relacionamento' com o Sr. Wylder não influenciou em nada as minhas opiniões a respeito de sua recuperação, então o nosso 'relacionamento' não deve ser tomado em consideração. Você acha que eu lhe daria tratamento preferencial. Que eu ficaria balançada a considerá-lo cem por cento, para que com isso ele pudesse retornar a lista ativa. E de uma forma ou de outra, porque eu não ter mostrado qualquer tipo de favoritismo, ele foi negociado, o que me leva a sentir parcialmente responsável pela situação.” É a minha vez de olhar para ele com as sobrancelhas arqueadas em um ponto de exclamação ao meu comentário. “A negociação do Sr. Wylder não tem nada a ver com você. Havia acordos em vigor antes de você vir a bordo.”

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“Acordos? Como se recuperar em um quadro de tempo definido ou ser negociado? Trabalhei em um monte de clubes, mas eu nunca vi essas estipulações feitas na reabilitação de um jogador.” Estou esticando a corda, eu sei que estou, e ainda assim não consigo evitar. Tudo o que posso pensar é a devastação no rosto de Easton noite passada. “É uma prática padrão que programo para as equipes com quem trabalho.” “Prática padrão? Cortar custos é uma coisa, mas fazer um corpo curar como um relógio... eu não posso imaginar por que o proprietário permitiria uma política como essa.” Ele suspira como se já estivesse entediado com essa conversa. “Havia termos acordados pelo Sr. Wylder. Assim como os termos que você concordou e quebrou em seu contrato.” “Eu fiz.” Arrasto as palavras intencionalmente e não estou alheia à sua súbita mudança de assunto. “Minha preocupação, Srta. Dalton, é como vou ter certeza que se lhe for dado o contrato com a equipe, esta situação não volte a acontecer?” “Diga-me uma coisa, Sr. Tillman,” digo isso, me movo em meu assento e inclino-me com as mãos sobre a mesa para frente. “Esta cláusula de proibição de relacionamento, é uma parte padrão do seu contrato ou foi apenas alterada para mim? Se for esse o caso, primeiro eu odiaria pensar na organização como sendo sexista e segundo que seria também uma ignorância muito grande achar que os homens não podem ter relacionamentos com outros homens.” Ele franze a testa e por um segundo eu temo ter ido longe demais. Talvez Cory seja um desses homens que não conseguem lidar com ser desafiado por uma fêmea. Na minha linha de trabalho, eu aprendi desde cedo que as mulheres assertivas, muitas vezes assustam os homens.

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Cory mastiga o interior de sua bochecha por um momento e eu juro ver uma pitada de diversão em seus olhos apesar do silêncio sufocante da sala. “Duplamente notado... mas isso ainda não me dá uma resposta.” “Para qual pergunta?” “Como sei que isso não acontecerá novamente?” É uma pergunta carregada e uma que eu sei que preciso prestar atenção com cuidado. “Considerando que você está em meio a um processo de negociação do meu namorado, então é um ponto discutível. Eu estarei aqui e ele estará para onde você o mandar...” “Posso ver porque os caras da equipe gostam de você,” ele brinca, me deixando momentaneamente sem saber se isso é um elogio ou uma ofensa. Cory se levanta da mesa e caminha até a janela da sala de conferência para olhar para o estádio vazio. Quando ele não termina seu pensamento imediatamente, eu opto por permanecer em silêncio e espero ele terminar. “Eu vim aqui hoje quase decido a demiti-la. Existem regras. Você as quebrou. Havia termos em seu contrato e eu sou um defensor de seguir contratos ao pé da letra. Mais o importante, você não cumpriu o nosso acordo. Mas entre a reputação da sua empresa e sua capacidade de lidar com o que é jogado em você, tive uma pausa para refletir.” Ele se vira para olhar em minha direção e imediatamente o encaro de cabeça erguida. “Você está na metade da temporada, Sr. Tillman, o último dia do seu atual fisioterapeuta é na próxima semana e a maioria dos outros terapeutas qualificados para lidar com um clube e suas expectativas rigorosas já estão empregados.” Ele balança a cabeça e ri ao meu discurso de vendas. “É verdade, então é por isso que eu gostaria de lhe dar até o final da temporada para me mostrar o que você tem. Um período probatório, se você quiser. Você pode usar o pessoal que já temos ou trazer o seu

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próprio, mas você tem aproximadamente cinquenta a setenta dias, se fizermos os playoffs, para provar que você pode lidar com as necessidades desta equipe.” Engulo a emoção repentina que me invade e permito que o alívio me inunde. Eu ainda posso não decepcionar o meu pai. Espero que ele aguente o suficiente para ver. Mais cerca de setenta dias quando você está grato por cada próximo minuto, cada próxima respiração, pode parecer uma eternidade. “Eu vou redigir o contrato agora.”

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CAPÍTULO 8

“Easton, como se sente mudando de time pela primeira vez na sua carreira?” Os flashes das câmeras disparam e adicionam batidas de percussão na minha cabeça enquanto os repórteres me cercam. “Como está seu ombro? Você está pronto para jogar pelo Dallas?” Uma câmera bate no meu ombro. As perguntas são gritadas. Mãos nas minhas costas tentam me orientar. Microfones são enfiados na minha cara. “Easton, na coletiva de imprensa esta manhã, Cory Tillman afirmou que você está partindo com a equipe em boas condições. Gostaríamos muito de ouvir a sua opinião sobre essa afirmação.” Eu olho para cima e estou cego por outra enxurrada de flashes enquanto tento passar através da multidão de repórteres. Todas as perguntas que eu não quero responder. Outra pitada de sal na minha ferida aberta. “Easton, você tem alguma coisa a dizer aos fãs de Austin que te seguiram desde que você começou?”

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Essa pergunta me para e é algo que não posso ignorar. Faço uma pausa, os olhos baixos, escondido debaixo da aba do meu boné enquanto tento descobrir o que dizer. Sinto um tapinha em minhas costas que me faz afastar. “Precisa de ajuda?” Eu olho para o meu pai, surpreso como o inferno ao vê-lo aqui. Alívio me enche quando o som do estalar das câmeras assalta meus ouvidos, todos desesperados para capturar a oportunidade da foto. Pai e filho. O fim de um legado. Não há mais Wylders no plantel. “Vá em frente,” ele incentiva com outro aperto em meu ombro e um aceno de cabeça. Limpo minha garganta e enfrento os repórteres. “Austin será sempre minha casa, independentemente de onde eu jogue. As pessoas, a cidade e a atmosfera estão no meu sangue. Fui um dos poucos afortunados por ter tido a chance de ficar o tempo que fiquei com uma equipe. Vou sentir falta de meus companheiros. Vou sentir falta dos fãs incríveis daqui. Mas mais do que qualquer coisa, eu vou sentir falta de ser um Ace. Eu usei a camisa quando era um menino querendo ser como meu pai...” minhas palavras desaparecem quando olho à minha esquerda e vejo Santiago bem próximo, as mãos enfiadas nos bolsos, e ombro encostado a uma parede, me observando. Nossos olhos se encontram por um breve momento e eu odeio que ele está aqui, ouvindo o que parece ser um momento íntimo com a cidade que jurei que nunca abandonaria. “East...” Meu pai pede, obrigando-me a voltar minha atenção para a enorme quantidade de repórteres em torno, esperando que eu termine. “... e fui um dos afortunados que conseguiu crescer e ser exatamente o que queria ser. Então, sim, eu sentirei falta de Austin. Dos fãs. Do time. Até mesmo de vocês repórteres curiosos acompanhando sempre todos os meus passos.” Recebo as

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gargalhadas que estava esperando e aceno com a cabeça. Desta vez, quando tento ir embora eles deixam, enquanto meu pai permanece e responde as suas perguntas. Olhando para trás, eu o observo em seu elemento — com a atenção sobre ele, respondendo como ele se sente, sabendo que eu fui negociado pela equipe que ele tem sido fiel toda a sua vida. Eu não posso evitar, mas me pergunto se sua súbita aparição foi uma demonstração sincera de apoio para mim como meu pai, ou como um representante dos Aces querendo garantir que dei a declaração adequando para a empresa. Maldita dúvida. É como um câncer, você não pode apagar até que cresce e cresce e come cada parte de você. Olho para onde Santiago estava e, em seguida, de volta para o meu pai, ainda conversando amistosamente com os repórteres, antes de entrar para o clube, pela última vez.

“Então Dallas, huh?” Eu deveria saber que ele estaria aqui. Assim como sempre esteve ao longo da minha vida. Não há a troca Manny-meu-homem ou Easy-E8 que temos feito ao longo dos anos. Desta vez é diferente e eu sei que ele sente o mesmo. “Dá pra acreditar nessa merda?” Murmuro para tentar aliviar o clima. Balanço minha cabeça, mas meus olhos não saem da placa de identificação adornando meu armário. Isso é trabalho dele. Deixá8

Éàsy-É : Apelido àmigàvel de Mànny pàrà o Éàston.

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lo lá por mim em vez de removê-lo no minuto que a negociação foi feita, como é o protocolo típico. “Eu vivi minha vida inteira pensando que um rebatedor designado é trapaça e agora estou indo para uma equipe que joga com um.” “Traidor.” “Vamos salvar esse termo para Tillman.” “Concordo.” Sua risada me faz sorrir, embora eu esteja em desacordo com o motivo de estar aqui. “Você está bem?” Suspiro e balanço a cabeça enquanto olho para as barrinhas verticais riscadas no canto traseiro do meu armário. A contagem que mantive desde meu primeiro ano de quantos home runs eu bati e mesmo apesar de uma renovação do clube, ele os manteve lá para mim. Quando não respondo, ele dá uma risada ao puro estilo Manny. “Quero dizer, nós dois sabemos que você parece uma merda e é puro cheiro de uísque, mas” — ele coloca a mão no meu ombro e aperta — “Você está bem?” “O que posso fazer homem? Isso não faz parte do jogo?” Viro para olhar para ele por um segundo, encontro seus olhos por debaixo da aba baixa do meu boné, antes de voltar a olhar para a minha caixa cheia de merda que mantive ao longo dos anos. Amuletos e algumas cartas de fãs que eram importantes. Uma medalha de St. Christopher dado a mim por Dex, o menino do ‘Make-A-Wish9’ que passou um dia incrível comigo e, em seguida, o seu funeral que assisti três meses mais tarde. A nota esfarrapada que a minha mãe me deu na primeira vez que vesti o uniforme do Aces para entrar em campo. Tantas memórias. Tanta história.

9 Fundàçào nào governàmentàl que promove à reàlizàçào de sonhos de criànçàs que possuem umà doençà gràve que pode por suàs vidàs em risco.

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“Para a maioria, é parte do jogo, sim, mas não para você. Esta equipe é tudo que você conhece.” Eu quero dizer a ele obrigado por afirmar o óbvio, mas não tenho sequer vontade de ser sarcástico. Além disso, Manny não merece o meu humor de merda sendo atirado nele. Ele está do meu lado. “Não faz qualquer sentido, Manny. Nada disso faz. Então, só estou tentando o meu melhor para compreender o que está acontecendo e o fato de que amanhã eu possivelmente no uniforme dos Wranglers.” “Pode ser?” “Sim. Finn está organizado uma avaliação com o fisioterapeuta responsável. Seguir o protocolo e se for aprovado, então começo a jogar.” “Você obterá aprovação,” diz ele com certeza absoluta. “Eu vou? Você nunca sabe... cada fisioterapeuta tem sua própria opinião,” digo perpetuando a mentira de Scout. “Qual a distância de Dallas à Temple?” Manny pergunta sabendo que a minha indignação reside em mais do que apenas mudar de equipe. Ele sabe sobre minha mãe. Olho para ele por um instante antes de responder. “Dirigindo? É um pouco menos de duas horas.” Eu aceno, pensando em como isso complica as coisas. “É uma descida direta pela I-35, mas duas horas são duas horas, sabe com é?” “Sim... mas é melhor do que cruzar todo o país,” Manny brinca enquanto se senta ao meu lado, olhando para o lado oposto. Ele não diz mais nada, quando eu sei que ele quer. E como o silêncio se instala, ele faz o seu ponto com poucas palavras como de costume.

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Poderia ser bem pior. Isso é o que ele está implicando. E enquanto Manny pode estar certo, tudo sobre esta situação ainda arde como um filho-da-puta. “É verdade,” eu finalmente digo, mas não chego a sentir isso. “Você se sairá bem lá. Fuentes é outra coisa. Ele será um rebatedor divertido para você pegar. E um desafio. Sua bola curva é terrível. Então há o McAvoy. Ele tem uma boa velocidade —” “Eu agradeço Manny. Você está tentando me fazer sentir melhor por isso e eu digo isso sem nenhum desrespeito... não desperdice o seu fôlego.” “Isso não me espanta,” ele diz com um aceno suave. “Faz você se sentir melhor se eu disser que você está ferrado?” Minha risada desta vez é real, e desencadeia as batidas na minha cabeça. “É o mínimo que consegui. O que os caras estão dizendo?” Eu pergunto curioso sobre como Tillman está jogando isso. “Eles estão chateados. Confusos. O boato é que Scout atirou você aos lobos. Salvou-se de alguma forma por ter dormido com você.” “Você está me perguntando?” “Só se você pensa que eu estou.” E lá vai ele de novo com suas declarações sucintas. Eu sabia que ele voltaria ao seu ponto mais cedo ou mais tarde. O vestiário fica em silêncio. Esfrego medalha de St. Christopher entre meus dedos enquanto ele me dá o tempo que preciso para descobrir o que dizer. Eu poderia jogá-la aos lobos. Distrair. Afastar. Impedir as pessoas de fazer as perguntas que não desejo que sejam feitas. Fazer dela a vilã responsável. E, no entanto, não sou assim tão idiota. “Ela não me fez nenhum favor, isso é certo,” digo finalmente.

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Ele assobia suavemente. “Ferrado por sua menina e sua equipe. Isso é duro. Sinto muito, filho.” “Sim, bem, eu acho que uma fratura limpa é melhor do que algumas pequenas.” Mas inferno se essas fraturas não estão me atingindo onde mais dói. “Basta lembrar que nem tudo é o que parece ser.” Ele diz quando fica em pé. “O que quer dizer com isso?” Pergunto, olhando para cima para encontrar seus olhos. “Isso significa que ela estava lutando por você. E então, se os rumores são verdadeiros, ela realmente estava.” “Como diabos você sabe disso? Do que você está falando? Você estava lá?” “Só quando houve o caos completo. Café derramado sobre tudo. Papéis em toda parte. As roupas de Tillman salpicadas com café. Pessoas lutando, tentando salvar os documentos e limpar a bagunça.” “O que isso tem a ver com qualquer coisa, Manny?” Pergunto enquanto ele se dirige ao seu escritório e mantém um dedo antes de desaparecer por alguns segundos e depois volta com algo em sua mão. “Eu ajudei a limpar o café,” diz ele quando para a poucos metros de mim. “Eu estava lá quando o assistente de Tillman arrancou da sala de conferências precisando de toalhas de papel e assim sendo a minha função eu o ajudei. Não percebi que Scout estava lá até que eu saí e ouvi a voz dela. Presumo que ela estava debaixo da mesa pegando os papéis que estavam por todo o chão... mas eu não pensei muito sobre isso. Quer dizer, eu sabia do que se tratava a reunião e ainda assim não me preocupei porque era você. E era ela. Eu estava mais preocupado em acabar rápido para descer e lhe desejar sorte e que você soubesse que eu estaria nas

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arquibancadas. Mas então a chamada veio e você saiu correndo daqui. Quando descobri o que tinha acontecido, eu fiquei desnorteado, East.” “Você e eu.” “Foi uma grande merda. Eu estava tão confuso com tudo isso, que me levou a melhor parte do jogo para lembrar onde coloquei minhas chaves. Depois de pesquisar em todos os lugares, eu as encontrei no aparador na sala de cópia. Assim que estava prestes a sair, notei uma folha de papel no chão saindo por baixo. Não pensei em nada além de colocá-lo de volta na mesa para quem deixou cair... mas quando o peguei, era isso. É muito diferente do que os rumores dizem, então eu não quis deixar e causar problemas para ela.” “Que diabo é isso, Manny?” Tudo isso se acumulando e ele ainda segura isto. “Você tem um temperamento esquentado, às vezes. Só posso imaginar quanto tempo você ficou naquela gaiola de rebatidas na noite passada, quebrando bastões e esmagando bolas, para tentar se acalmar um pouco.” Dou um sorriso e levanto minhas mãos para que ele possa ver o quanto ele está certo. As bolhas estão rachadas e inchadas. “Eu te conheço melhor do que você imagina Wylder.” “Verdade.” E isso me deixa triste, o quanto ele faz e quanto sentirei falta de ver sua cara feia todos os dias. “Mas o que está no papel?” “Talvez você não devesse ser tão duro com ela, hein?” “Como você sabe que fui duro com ela?” É a sua vez de rir, em seguida, Manny levanta as sobrancelhas para mim. Sua expressão dizendo eu conheço você melhor do que você pensa. Rolo meus olhos quando ele olha para a porta fechada do vestiário antes de segurar o papel e limpar a garganta. “Obrigado, senhores, pelo tempo. Gostaria de lhes dar um resumo do progresso do Sr. Wylder até a presente data.” Manny continua lendo

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discurso preparado de Scout para Cory e com cada palavra, cada frase, as coisas horríveis que eu disse a ela na noite passada vêm escorrendo de volta. Sim, eu estava bêbado. Sim, eu estava com raiva. Mas fui tão estúpido ao ponto de achar que se a afastasse ela não olharia mais perto e descobriria a verdade? Claro que não. É Scout. Ela me afetou. Conseguiu me deixar completamente de pernas para o ar. “... E assim é minha opinião profissional que o Sr. Wylder está mais do que pronto para retornar à lista ativa. Não só eu acho que ele perdeu o medo de uma nova lesão, mas sua dedicação ao bemestar físico é inigualável comparado a qualquer outro jogador que já reabilitei até agora na minha carreira.” Manny olha por cima do papel e encontra meus olhos. Ele não diz mais nada, apenas entrega para mim e balança a cabeça antes de acariciar meu ombro. Olho para baixo, para o papel escrito com a caligrafia de Scout. Em letra de forma que eu me acostumei a ver em suas notas. “Será a primeira vez na minha carreira que eu não tenho um 'Wylder' em um desses,” diz ele com uma tristeza que eu sinto em cada osso do meu corpo. Ele desliza a placa de identificação do meu armário e entrega para mim. “Será estranho.” Nem me fale. E sem outra palavra, Manny sai do vestiário e me deixa sozinho. Eu estudo a placa de identificação, viro-a na minha mão algumas vezes e depois olho para a carta na minha outra mão. Fico olhando para as palavras na página até que elas borram e meus olhos queimam. Que diabos eu fiz?

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CAPÍTULO 9

Fiz um acordo com o diabo. É a única coisa que se repete em minha cabeça. De novo e de novo. Cada passo na calçada martela em meu cérebro. Comprometi a minha moral, desisti de um pedaço de mim mesmo e assinei um contrato de estágio com o Austin Aces e Cory Tillman. Um homem que não confio, nem se eu quisesse, e com uma equipe que só ferrou Easton. Tudo pelo meu pai. Para cumprir seu desejo de terminar sua carreira com um contrato em todos os clubes da liga principal. Mas, e quanto a mim? Em que ponto eu farei algo por mim? Quando enfrento a dura realidade de que sou a única que ficará aqui sozinha e lealdade familiar ou não, eu ainda terei que viver. E ele ainda morre. A cada passo, cada pensamento, eu me sinto mais e mais sozinha. Minhas emoções giram em um caleidoscópio de pensamentos frenéticos. Sinto-me fraca. Enganada. Cúmplice. E não há nada que eu odeie mais do que uma mulher que não se defende... E ainda assim eu fiz exatamente isso, vendi minha alma ao diabo e

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meu coração não está nisso para fazer o trabalho, mesmo quando sei que preciso. Primeiro a família. Acrescente a isso o fato de não ter a mínima ideia de como consertar as coisas com Easton. Não tenho uma mãe ou amigas a quem pedir conselhos e tudo o que sei sobre relacionamento aprendi apenas pelo ponto de vista masculino. Infelizmente isso não me dá mais nenhuma visão além de ignorar a pessoa, ir beber uma cerveja e empurrar a culpa para alguém. É meio difícil de lutar por alguém, quando ela está trancada em sua torre vigiada e deixando a cidade em breve. Mas ele matou dragões por você. E esse pensamento sozinho traz as lágrimas que tenho resistido há algum tempo enquanto destranco minha porta da frente. E para piorar a situação, quando entro, tudo no meu apartamento lembra Easton. Mais especificamente, a camada de poeira e a geladeira vazia é um lembrete austero de quanto eu tenho vivido com ele, embora nenhum de nós dois tenha reconhecido oficialmente. Jogo minha bolsa no sofá e me pergunto como possivelmente aceitarei o resultado das últimas vinte e quatro horas. Não posso simplesmente rebobinar? Refazer tudo? Eu gostaria de receber outra vez o pânico que senti quando Easton me pediu para morar com ele em vez deste sentimento frenético de tudo estar fora de controle. O toque do meu celular quebra minha linha de pensamento. Tenho um vislumbre ridículo de esperança que pode ser Easton, que ele está ligando para me dizer que quer me ver antes da partir, mas o pensamento morre rapidamente quando eu me lembro das coisas que ele me disse ontem à noite. Mas é o nome da pessoa no telefone que me assusta e me faz atender o mais rápido possível.

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“Pai?” Estou ofegante e calafrios percorrem a minha pele, enquanto um medo profundo de que algo tenha acontecido com ele me domina. “Então?” É tudo o que ele diz e a súbita onda de pânico que senti, se transforma em uma cócega de irritação em minha nuca. “Então?” Eu imito com uma dose saudável de desdém. Por que ele está me ligando? Ontem foi tudo uma encenação? Aquilo de não ligue até conseguir o contrato e tudo mais? “Você conseguiu o contrato?” “Um estágio probatório até —” “Isso não é um contrato.” Sério? Isso é tudo que ele tem a dizer? Cerro os dentes e devolvo o comentário espertinho na ponta da minha língua. “Eu vou comandar a Reabilitação Física do Aces até o final da temporada, e, em seguida, a organização irá determinar se eles querem ou não me conceder o contrato para o próximo ano. Desculpe se isso não é bom o suficiente para você.” Há uma acidez inesperada em meu tom, mas tem sido dias difíceis e ele está sendo um idiota tentando me fazer sentir como se eu não cumprisse minhas responsabilidades. Ele faz um som evasivo na outra extremidade da linha e só serve para atiçar as chamas de raiva que nutria durante a minha caminhada para casa. “O que esse som deveria significar?” “Apenas desapontamento, é tudo.” Aí está esta palavra outra vez. “E daí? Você vai desligar agora? Não vai falar comigo até o final de outubro para ver se eu consigo ou não o contrato?” Sarcasmo laça o meu tom, mas todo o resto é cem por cento raiva. E

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mágoa. Estou farta desses joguinhos. Farta de me sentir culpada. Tão cansada de nunca me sentir suficientemente boa. “Você não lutou o suficiente.” Meu controle escapa. “Lutei o suficiente?” Eu guincho. “Acabei de fazer um acordo com o diabo, pai. Você vai ter o seu desejo. Não se preocupe. Terá o seu contrato, mas quando você se for, eu serei a única que terá que viver com isso. Não você. Eu sou a única que terá que trabalhar para um cretino total que parece sujar todas as decisões. Então você pode ganhar, mas eu sou a única que está se dando mal.” “Ahh, então isso volta para o jogador depois de tudo.” “Tem toda a razão. E o nome dele é Easton e não o jogador. Porque foi ele o prejudicado por duas vezes na mesma situação?” “Ele é bem grandinho, Scout. Ele pode se cuidar sozinho. Além disso, essas transações fazem parte de basebol.” “Fazem parte do basebol?” Eu grito, jogando minha mão livre no ar, como se ele pudesse ver. “Essa é a linha que você vai tomar quando algo interfere em seu maldito contrato? Porque este não é o basebol que eu conheço. Negociar jogadores da franquia porque eles não se recuperam a tempo não está certo. É obscuro. E esse não é o jogo que você me ensinou. É desagradável e injusto. É —” “Você sabe o que dizem sobre a vida e ela sendo justa.” Sua risada ressoa sobre a linha, mas tudo o que ouço é condescendência. Tudo o que sinto é a sua zombaria. “Estamos falando de uma pessoa. A vida de alguém. Não é um jogo.” “Mas é um jogo. Mente limpa. Coração duro, Scouty-girl.” E há algo sobre o mantra que eu ouvi toda a minha vida — o repetido para me endurecer, a menina sem mãe em um mundo cheio

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de meninos — que não me cai bem pela primeira vez desde que me lembro. “E se eu não quiser um coração duro, pai? E se eu quiser um cheio?” Deixo minha pergunta pendurar na linha com o ruído da sua respiração como único som. “Isso pode ter funcionado para você. E isso pode ter funcionado enquanto eu crescia e ter me ajudado a lidar com o fato de não ter uma mãe e, em seguida, novamente quando Ford morreu, mas agora... agora, eu quero sentir. Eu quero amar. Então você pode ter o seu coração duro. Você pode manter sua filha afastada para que você não tenha que vê-la chateada com o fato de que você está morrendo e que você é tudo o que ela tem, mas isso é uma porcaria. Você está nos negando tempo, momento, memória e riso. É uma grande besteira. É tão egoísta da sua parte que eu não posso manter minha boca fechada sobre isso por mais tempo.” Minha voz falha enquanto tento recuperar o fôlego. “Não é isso que eu estou —” “Não. Você não pode discordar de mim,” corto o que ele está falando como jamais fiz antes. Minhas mãos tremem e ando de um lado para o outro no quarto, me perguntando o que diabos estou fazendo, mas a dor é real e crua e eu não posso segurá-la mais. “Você é o único que está roubando tudo de mim para que você não tenha que sentir. Para que você não se sinta culpado. Que se dane. Eu não aceitarei mais isso de você. A morte é egoísta. E você está sendo egoísta também. Eu te amo com todo o meu coração. Tudo o que tenho é por causa de você. Tudo o que sou, devo a você... mas você sabe o quê? Dane-se.” “Scout.” É uma advertência que não dou atenção. O que ele vai fazer? Desligar na minha cara? Provavelmente. Então eu luto contra o desejo de refrear e deixar tudo como está. É muito, muito rápido, muito fora de controle e assim quando puxo uma respiração profunda dizendo a mim mesmo para pedir

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desculpas e esquecer este assunto, eu faço exatamente o oposto. “Eu não entendo o que está acontecendo com você. Você nunca teve um osso egoísta em seu corpo e ainda agora quando eu mais preciso de você, você está sendo egoísta. Então, quem você quer ser, pai? O cara do qual lembro ou o que eu me ressentirei, por estar muito ocupado se preocupando com o seu império e maldito legado, que não parou uma vez para pensar que eu sou o seu legado. Eu. Seu sangue. Eu sou a maldita pessoa que importa. Então talvez você deva pensar nisso antes de me dizer que o que fiz não foi bom o suficiente, ou que não coloquei minha família em primeiro lugar. Sou apenas uma pessoa e estou tão exausta tentando fazer todos felizes. Preciso voltar atrás e pensar sobre o que me fará feliz pelo menos uma vez. Eu! A única que vai restar.” Termino a chamada e jogo meu telefone no balcão da cozinha sem pensar duas vezes. Estou tão irritada, tão magoada, tão sobrecarregada que antes que perceba, as lágrimas correm pelo meu rosto e se transformam em enormes soluços, que não consigo controlar. É como se tudo o que estive segurando se foi e as comportas se abriram. A pior parte. Eu me sinto culpada por dizer o que disse, mas não vou voltar atrás, porque é verdade. E isso não me torna egoísta assim como o acusei de ser? Por precisar falar tudo aquilo para me fazer sentir melhor? Eu quero Easton. A admissão me faz chorar ainda mais, porque nunca precisei de ninguém e agora que preciso eu não sei como tê-lo de volta. Recuperá-lo. E se eu não puder fazer a gente se acertar de novo? Assim, eu choro ainda mais e deixo toda a emoção reprimida deslizar lentamente em cada lágrima. O tempo passa. As lágrimas diminuem, mas não param. “Abra a porta, Scout!”

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A voz de Easton ressoa através da porta fechada e embora cada parte do meu corpo ganhe vida ao som de sua voz, isso só faz com que os soluços retornem. Ele bate mais forte e eu fico hesitante em me aproximar da porta. Não quero que ele me veja assim e ao mesmo tempo tudo o que quero é vê-lo. Quando abro a porta e o vejo ali de pé, eu me desfaço completamente. Ele parece tão cansado, tão desgastado e a enorme tristeza que vejo em seus olhos provavelmente rivaliza com a minha. “Ea-Ea-ston, eu sinto muito,” tento controlar os soluços em uma tentativa de fazer isso melhor. Eu sei que não posso. A sorte já foi lançada. “Não,” ele diz. Não entendo o porquê, mas não precisa, porque dentro de um piscar de olhos, ele tem seus braços envolvidos em torno de mim e está me puxando contra ele. “Não. Não. Não,” ele continua a murmurar enquanto as lágrimas caem com ainda mais força. Não posso impedi-las. Eu tento, realmente tento. E o abraço ainda mais forte. Memorizo a sensação de seus braços, o barulho da sua voz através do seu peito, o calor da sua respiração em cima da minha cabeça, o som do seu coração debaixo da minha orelha e o cheiro do seu sabonete. E sabendo que de alguma forma acabei sempre empurrando todas essas coisas para muito longe apenas pela angústia de uma possível dor. “Eu sinto muito.” Repito isso por várias vezes, enquanto ele me abraça apertado e continua me dizendo não. Quando os soluços finalmente se acalmam, Easton se afasta um pouco e coloca as mãos em torno do meu rosto. Sacudindo a cabeça sempre tão sutilmente, ele olha para mim com olhos profundamente entristecidos e esfrega seus polegares para trás e para frente em minhas bochechas. O músculo em seu

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maxilar pulsa. Seus lábios separam e depois fecham como se ele estivesse tentando descobrir como dizer o que precisa dizer. Em vez de dizer alguma coisa, ele se inclina para frente e pressiona seus lábios nos meus. Ele me beija com uma paixão que eu nunca senti antes. É suave e doce, mas há muito mais para ele. É um Olá. É um adeus. É um pedido de desculpas. É uma declaração. E eu faço a única coisa que sou capaz de fazer quando se trata de Easton. Eu aceito. Dou tudo o que tenho. Cada pedaço de mim. Cada parte do meu coração. Mas desta vez não existe pânico. Não existe mais o medo dele partir, porque nós dois sabemos que ele irá, mas eu estou começando a me sentir segura de que ele voltará. É como se nesta loucura súbita, eu encontrei a calma. Eu o encontrei. Beijo-o de volta enquanto as lágrimas deslizam firmemente pelo meu rosto, as razões por trás delas lentamente mudam da tristeza sobre tudo com o meu pai à aceitação e querer muito mais com Easton. Nossas mãos deslizam sobre os nossos corpos enquanto nossas línguas dançam. A ponta dos meus dedos se tranquilizam sobre sua pele. O seu polegar acaricia ao longo da linha do meu queixo. O calor de seu corpo me acalma. O gosto de seu beijo me acalma. Parece como cada beijo que já compartilhamos antes e nada como eles ao mesmo tempo.

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E como se não estivéssemos perto o suficiente, Easton envolve o braço bom em torno da minha cintura e tenta me levantar, então eu fico na mesma altura que ele, sem quebrar o nosso beijo. Deslizo minhas pernas em torno de seus quadris e me deleito com a sensação. Dele. Do momento onde nós estamos despejando tudo que passamos os últimos dias neste beijo em vez de palavras que podem machucar, cicatrizar e ferir. Quando o beijo termina, ele descansa sua testa contra a minha e nós ficamos — conectados, mas em silêncio — com minhas pernas em volta dele enquanto exalo minha próxima respiração. “East —” “Não. Shh.” Ele balança a cabeça, sua testa se movendo sempre tão levemente contra a minha. “Sem desculpas. Sem conversa. Preciso de você, Scout. Agora, eu só preciso de você.” Respondo da única maneira que posso, inclino e pressiono meus lábios nos dele. E não sei por que eu esperava que houvesse urgência entre nós, mas não há. Não quando ele me leva para a cama e me deita. Não quando preguiçosamente removemos nossas roupas enquanto a doce sedução de nossos lábios continua sem pausa. Não quando ele separa minhas coxas e desliza em mim. O quarto se enche de gemidos suaves e doces elogios quando nossos corpos se juntam e nossos corações se unem. Minhas mãos deslizam pelas linhas duras das suas costas e eu posso sentir os seus músculos enquanto ele se move dentro e fora de mim. Não. Não há urgência. Deixo-o pegar o que precisa de mim. Prazer. Satisfação. Uma reivindicação. Uma ligação para a sua vida aqui que o deixa seguro e tranquilo de que tem um lugar para voltar. Um lar. Algo permanente. Nos entregamos ao momento, onde o prazer queima em êxtase e a luxúria dá lugar ao amor. E com um braço apoiado ao meu lado,

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Easton inclina para trás e me olha nos olhos, pela segunda vez desde que abri a porta. “Eu preciso ver você,” ele murmura e, em seguida, mói em mim de uma forma que é tão prazerosa, que o meu suspiro se transforma em um gemido. Seus olhos, nebulosos com luxúria escurecem ainda mais. “Goze para mim, Scout.” Outro impulso dos seus quadris. Outra onda de prazer. “Preciso ver o que faço com você.” Neste impulso Easton empurra tão profundo quanto ele pode ir e pulsa assim que o seu pau esfrega direto onde eu mais preciso. Minha mão agarra sua bunda, enquanto a outra aperta firme seu antebraço. Meu orgasmo se constrói lentamente, suavemente, provocando e estimulando até que não há nenhuma maneira que posso segurar. Assim, com os seus olhos nos meus e o meu corpo se rendendo ao seu, eu gozo em ondas. Uma após a outra até que tudo o que resta é o efeito cascata de formigamento nos meus dedos das mãos e dos pés. Logo após ele goza, não houve o gemido selvagem que eu me acostumei. Não há o impulso descontrolado de seus quadris. Ele mantém seus olhos nos meus enquanto pode, até que não consegue mais lutar contra isso. Seus olhos se fecham. Seu rosto fica tenso. Meu nome é um gemido trêmulo em seus lábios. E quando seu orgasmo passa e ele rola de costas me puxando junto com ele, tudo o que eu posso pensar é que enquanto Easton toma o que ele precisa de mim, ele não tem ideia que acabou de me dar mais do que ele jamais poderia imaginar. Eu precisava disso. Ele. Segurança. Amor. A perspectiva de ter um futuro com alguém.

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Nós deitamos lá, nossos batimentos cardíacos abrandando, enquanto eu tento descobrir como abordar o elefante na sala que o sexo não apagou. “Eu vi a sua declaração aos repórteres.” Finalmente digo para facilitar a conversa que precisamos ter, mas não queremos. “E...” “Eu acho que foi inteligente. Você definiu o tom e mesmo que Cory tenha convocado uma coletiva de imprensa, são suas palavras que serão ouvidas mais alto. Você vai negar qualquer rumor por sair como um profissional completo que ama a cidade que sempre chamou de casa.” Ele ri. “Bem, estou feliz que você acha que eu tinha essa premeditação, mas eu apenas reagi à pergunta. Esta cidade significa muito para mim, e será estranho não usar mais o uniforme do Aces.” E, claro, existe aquele punhal silencioso no meu coração. “Não posso dizer que lamento o suficiente, Easton. Eu não deveria ter —” “Não se desculpe. Você fez o que achava ser melhor.” Easton não diz mais nada, mas minha atenção paira sobre essas palavras, porque ele nunca disse que achou que era a melhor decisão. “Sim, mas você ainda está negociado.” Ele esfrega as mãos sobre o rosto, o som do atrito contra sua barba enche a sala. “Pedir desculpas não é algo em eu sou bom, mas quando erro, eu faço isso. Eu disse algumas merdas para você ontem à noite. Coisas que você não merecia independentemente de ter sido colocada em uma posição para tomar uma decisão ou não... então eu sinto muito, Scout. Por culpar você. Para acusá-la. Por ter sido um idiota.” “Obrigado,” murmuro enquanto ele me puxa ainda mais perto, embora já estejamos pele contra pele. “Eu não entendo mesmo...

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como isso aconteceu? Como Finn pôde te aconselhar a assinar esse acordo?” “Há muito mais do que isso. Não posso...” Sua voz desaparece, mas sua angústia é mais do que evidente. “Assinei depois da lesão e... após dez anos juntos, eu assino onde quer que ele diga para assinar.” “Como você pode confiar nele com algo mais, Easton? Novos contratos? Negociações? Qualquer coisa? Quero dizer, que ele sozinho —” “Estou lidando com isso,” ele diz bruscamente seguido por um suspiro pesado que oprime todo o ar. “Cristo... apenas... eu já estou cuidando disso, ok?” “Mm-hmm,” murmuro ainda insatisfeita com a resposta, mas mudo de assunto porque sei que ele tem muito com que se preocupar. “Meu voo sai pela manhã.” Essas palavras fazem o meu peito apertar. “Eu presumi.” Levanto sua mão e pressiono um beijo não centro da palma, enquanto as lágrimas ameaçam, mas por uma razão completamente diferente. Não vá. Fique aqui. Comigo. Entretanto, não digo nada a ele. Eu não posso fazê-lo se sentir culpado por ter que partir, quando eu fui o catalisador por trás disso tudo, então limpo minha garganta e tento aguentar. Mente clara. Coração cheio. “Há tanta coisa que eu preciso fazer e não tenho tempo suficiente para fazer tudo.” Sua voz é calma, resignada e tudo que eu quero fazer é facilitar, resolver isso.

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“O que posso fazer para te ajudar?” “Se dependesse de mim, eu ficaria aqui. Com você. Assim.” Ele pressiona um beijo no topo da minha cabeça entre as palavras e tão ridículo quanto parece, faz com que as borboletas revoem e flutuem sobre no meu estômago. Ele não me odeia. Não percebi o quanto eu temi isso até este momento. “Mas tenho que ir ver minha mãe.” Por mais que desejo ser egoísta e mantê-lo só para mim, sei que não posso. Eu nunca interferiria com a sua necessidade de cuidar de sua mãe, assim como sei que ele nunca faria o mesmo quando se trata do meu pai. “Gostaria que eu fosse com você?”

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CAPÍTULO 10

“Devo avisá-la que às vezes quando eu apareço, ela está...” Ele começa enquanto sai da caminhonete, puxando a minha curiosidade do lote de cascalho e trailers em torno de nós. “Não há necessidade,” digo baixinho quando encontro seus olhos, notando que ele não se moveu. Sua mão ainda está na porta do lado do motorista como se ele não pudesse decidir se ele quer fechá-la ou quer voltar e ir embora. Easton está desconfortável. Incerto. Agora que estamos aqui, ele não tem certeza se foi uma boa ideia me apresentar a esse lado de sua vida. Está na forma como ele mastiga o interior de sua bochecha e a hesitação em suas ações quando ele é geralmente tão seguro de si. Então eu faço isso por ele. Em vez de esperar que ele abra a minha porta, como ele normalmente faz, eu mesmo abro, saio e vou encontrá-lo para onde ele se moveu em frente a caminhonete. Easton olha para a porta da frente e, em seguida, para mim. “Só preciso vê-la antes de partir,” diz com resignação em seu tom e eu não posso dizer se é porque ele não me quer aqui ou não sabe se quer entrar.

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“Estou ansiosa para conhecê-la.” Estendo a minha mão e entrelaço os meus dedos com os dele para tranquiliza-lo em silêncio. Easton já me preparou para sua mãe e a sua doença e essa conexão é o meu lembrete para ele que eu não estou aqui para julgá-la ou como ele lida com ela. Além disso, quero aproveitar cada minuto que me resta com ele. Ele é louco se achava que me deixaria para trás. Ele pressiona um beijo em minha têmpora, seus lábios permanecem alguns minutos mais do que o normal antes de suspirar e começar a andar pelo caminho até a frente da casa. Plantas penduradas adornam a área frontal da grade com bugigangas coloridas de jardim acrescentando personalidade, o que me faz sorrir. E ainda mais engraçado, é que quando subimos os três degraus para uma das casas mais bem conservadas no parque, é que estou de repente um pouco nervosa. Vou encontrar sua mãe. E realmente eu quero que ela goste de mim porque sei o quanto ela significa para ele. Easton bate na porta e aperta minha mão quando uma voz de mulher grita: “Já vai.” Quando a porta se abre, a mulher do outro lado emite o suspiro mais doce. “Easton!” Ela está sobre o limiar da porta e em segundos já está nos braços dele, agarrando-se firmemente a ele e ele a ela. “Você veio me ver.” Sua voz é abafada por ela está pressionada contra o peito dele, mas o amor transbordando ali é inegável. “Oi, mamãe.” O carinho em seu tom é tão cativante. “Olhe para você.” Ela se inclina para trás e olha para ele, seu sorriso largo, suas mãos alcançando até tocar os lados de seu rosto e seus olhos só para ele. “Tão bonito. Você está bem? Fiquei tão irritada quando vi a coletiva de imprensa esta manhã. Eu estava no bar e —” “Às oito e meia da manhã?”

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“Não me venha com essa. Eu só parei para pegar um Bloody Mary ou dois e dizer oi a todos, isso é tudo.” Ela dá um tapinha em sua bochecha enquanto disfarçadamente eu o vejo cerrar os dentes tentado se controlar. “Mas e se eu precisar de você quando você estiver fora? E se —” “Eu trouxe alguém que quero que você conheça.” Ela começa a se virar, suas mãos imediatamente arrumam os seus cabelos, do jeito feminino mais verdadeiro. “Mas eu não estou composta... ” Sua voz desaparece quando ela me percebe ali, sem dúvida, olhando para o estado péssimo dos meus olhos que tem contornos vermelhos devido ao meu ataque de choro. Ela se vira para mim e pela primeira vez eu tenho uma visão completa da mãe de Easton. A semelhança entre os dois é estranha: olhos escuros na mesma forma amendoada, maçã do rosto com a mesma estrutura, o mesmo sorriso um pouco torto dele. Seus olhos parecem cansados, as linhas gravadas em seu rosto contam uma história toda própria, mas seu sorriso é gentil e acolhedor. “Olá, Sra. Wylder. É tão bom conhecê-la.” Estendo minha mão e ela agarra imediatamente para agitá-la calorosamente. “É tão bom conhecer você também.” Seu sorriso se alarga enquanto olha para Easton, minha mão ainda na dela. “Ela é tão bonita.” Coro imediatamente quando Easton ri. “Sim, ela é. Mãe, esta é Scout Dalton. Scout, esta é a minha mãe, Meg.” Ele olha para mim e pela primeira vez posso ver que toda apreensão despareceu. Meg me encara por um tempo mais longo que o normal, estreitando os olhos enquanto me dá um estudo rápido e ousado. “Oh, eu sinto muito, onde estão meus modos? Por favor, entre.” Em um instante, ela se torna uma bola de energia com as mãos nervosas enquanto se vira para entrar, batendo seu quadril contra o batente da porta, desculpando-se, em seguida, fazendo

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novamente quando entra. A mão de Easton está de volta a minha e dentro de poucos segundos ele me puxa contra ele pressionando o mais suave dos beijos em minha têmpora e murmura: “Obrigado,” antes de me conduzir através da porta. O interior está limpo, mas definitivamente bagunçado. As almofadas do sofá estão desgastadas em alguns pontos, o quarto está com caixas de produtos empilhadas e aparelhos que parecem nunca ter sido abertos e a televisão está ligada passando algum jogo de basebol. É um jogo do Aces, isso é óbvio, mas fico um pouco assustada quando vejo Easton, o seu número quarenta e quatro visível quando ele se vira e caminha de volta para o home plate. Encontro brevemente o olhar de Easton e ele apenas balança a cabeça como se isso fosse normal. Que ela vive no passado e assiste replays de seus jogos antigos. “Easton nunca trouxe uma menina para casa antes,” ela murmura enquanto endireita algumas revistas. “Quer uma bebida? Vamos tomar uma bebida,” ela diz, apesar de minha recusa educada. Ouço Easton suspirar suavemente enquanto seu olhar segue Meg quando ela voa para a cozinha. O som de garrafas tilintando enche o pequeno espaço seguido por sua autopunição murmurada. Escutamos mais algumas garrafas tilintando. Easton aperta a mandíbula e balança a cabeça antes de olhar de volta para mim. “Com licença, só por um segundo, ok?” “Claro.” Eu tento pegar seu olhar para lhe dizer que tudo está bem, que ela está apenas nervosa, mas tenho certeza que ele tem dito as mesmas desculpas para sua doença mais vezes do que ele pode contar. Além disso, Easton já deu três passos para a cozinha, sua voz é um murmúrio calmante antes que as garrafas tilintem mais uma vez. Dou privacidade aos dois, e ando para a parte mais distante da sala para observar as molduras que atravancam cada polegada da parede.

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E cada uma delas é de Easton. Parecidas com as camisas emolduradas de Easton em seu campo privado, porém estas fotos contam a história de sua vida em muito mais detalhes. Uma criança sentada no colo de sua mãe enquanto ela olha com adoração para seu marido. Um menino ao lado de seu pai com uma vara de pescar na mão e um pequeno peixe balançando no anzol. Um Easton ligeiramente mais velho, com um chapéu de cowboy grande demais em sua cabeça, de pé entre sua mãe e seu pai — todos deslumbrantes por mérito próprio. Fotos de uma infância da qual ele não fala muito. E, em seguida, as fotos começam a mudar. Cal se torna ausente enquanto muitas delas são agora de Easton em vários uniformes de basebol. A transição de menino para homem é visível em cada uma delas. Existem outras e suponho que sejam sobre seu baile de formatura, graduação e algumas festas familiares. Eu poderia olhar para elas para sempre, mas o murmúrio tranquilo no outro lado da sala chama a minha atenção. Easton está curvado para que assim possa ficar ao nível dos olhos da sua mãe, seus perfis são imagens espelhadas e ele está falando baixinho com ela, tentando acalmá-la. Então pega um copo no balcão que está cheio com um líquido âmbar e a entrega, com as mãos cobrindo as dela antes que ela leve aos lábios e toma um gole. Os dois fecham os olhos enquanto ela bebe — o dela pela necessidade e alívio que a bebida fornece e o dele por saber que o seu amor por ela não é suficiente para quebrar o ciclo. E quando ele olha para mim, a derrota está em seus olhos, mas assim é o seu amor por ela. Ele odeia seu vício — o que é muito óbvio —então, ele faz a única coisa que pode: amá-la. É devastador saber como é difícil para ele e ver isso em primeira mão.

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“O que você está pensando?” Seus dedos giram uma mecha do meu cabelo enquanto os vagalumes voam em torno de nós e os grilos e rãs adicionam à trilha sonora da noite. “Um monte de coisas,” murmuro contra o calor do seu peito nu. “Como?” “Como por que nós temos camas perfeitamente agradáveis e ainda assim sempre nos encontramos fazendo sexo em outro lugar.” Sua risada ressoa em seu peito. “Você está dizendo que não gosta da atmosfera ao ar livre?” Levanto minha cabeça para onde a luz da lua reflete na água do lago, ouço o farfalhar das árvores ao vento em torno de nós e sei que não existe outro lugar em que gostaria de estar senão aqui, agora. “É sem complicações e sem frescuras.” “Exatamente. Você é uma garota sem complicações e sem frescuras.” Easton planta um beijo no topo da minha cabeça. “E isso é romântico. Você pode dizer que não é, mas eu sei que secretamente você tem um coração romântico.” “Olha só, parece que alguém pode ter ouvido um livro de romance ou dois.” “Oh, por favor.” Com a sua mão livre ele dá um tapinha em minha bunda nua. “Eu sabia que não haveria distrações aqui e eu precisava disso. Com você.” “Concordo. Além disso, quem poderia dizer não a uma parada repentina no caminho de casa por algum mergulho nu e

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um pouco de amor ao luar?” Devolvo o beijo no meio do seu peito e adoro a forma como seus dedos apertam o meu cabelo momentaneamente. Um reconhecimento sutil de que eu o afeto. “Não esse cara.” Ele fica em silêncio por um pouco mais e, em seguida, diz: “Você disse que estava pensando em um monte de coisas. O quê mais?” “Vamos ver,” digo enquanto descanso meu queixo no seu peito e olho para ele. “Eu estava pensando como deve ser legal ter dois pais que te amam tanto e que fariam qualquer coisa por você. Eu nunca tive isso.” “Eu tenho sorte.” Seu suspiro preenche a noite ao nosso redor. “Mesmo com tudo isso com minha mãe e com a exigência do meu pai, eu sei que tenho sorte.” “Você é bom com ela, você sabe.” A risada que Easton emite é autodepreciativa. “Ás vezes, eu sinto que estou apenas alimentando seu vício, mas ao mesmo tempo, eu sei que fiz tudo o que podia para ajudá-la, então o que mais devo fazer? Afastá-la? Mantê-la sob sete chaves? Ela não deixará o maldito parque de trailers. Eu tentei comprar-lhe uma casa, trazê-la mais para perto... ela não fará isso. Como você pode ver com a gravação do jogo de basebol, ela está presa ao passado. Ela diz que o amor de sua vida vai voltar para ela um dia e só Deus sabe quem é. Às vezes eu acho que não é ninguém, apenas uma invenção de sua imaginação que o álcool incentiva a maioria dos dias. Outras vezes eu acho que é uma pessoa real.” “Talvez seja o seu pai.” Antes de pensar duas vezes, as palavras escapam e ele encolhe os ombros para elas. “Agora você está apelando para o garoto de dez em mim que rezava para seus pais voltarem a viver juntos, para que assim pudesse ter uma vida normal. Eu desisti dessa esperança há muito tempo atrás.”

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“Deve ter sido difícil.” “Não mais difícil do que o que você teve que lidar,” ele diz. Eu amo que ele diga isso tão casualmente e eu não sinta a necessidade de levantar minhas defesas. Depois de deixar o comentário assentar, eu retorno o assunto para ele. “Você é bom com ela. Você é doce e amoroso e acima de tudo paciente. Um monte de gente teria se afastado, mas não você. Você é o mundo dela e isso é inegável.” “Sim, bem, vamos esperar que enquanto eu estiver fora durante os próximos meses ela fique bem. Então no fim de temporada posso achar um plano de longo prazo para cuidar dela.” “Ela parece bem com isso. Como se a sua partida fosse uma coisa temporária.” “Ela esconde bem, mas eu posso dizer que ela está pirando.” “Como eu lhe disse, quando saímos, se ela precisar de ajuda, eu posso vir aqui quando estiver na cidade.” “Não posso pedir isso de você, Scout. É sempre um tiro no escuro com ela. Eu nunca sei o que vou encontrar quando eu apareço. Hoje foi bom. Ela sabia que eu viria, por isso ela não estava ocupando sua cabine fixa no bar. Outros dias, eu estou limpando tudo o que o álcool deixou.” “Você é um bom filho, Easton. E a oferta ainda está de pé.” “Obrigado.” Seu dedo traça uma linha para cima e para baixo em minhas costas e me arrepia apesar do ar quente da noite. “Quer falar sobre o que te deixou tão chateada quando eu apareci mais cedo? Posso pensar que foi sobre mim, mas não sou um completo idiota arrogante para fazer tal suposição.” “Tive uma discussão unilateral com o meu pai,” finalmente admito e depois fico em silêncio, não querendo estragar este tempo que me resta com ele.

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“Você não conseguiu o contrato, então?” As palavras duras que eu disse para o meu pai voltam à tona. “Esse é o problema, eu consegui. Cory me concedeu um contrato de estágio, até o final da temporada. Nesse tempo, ele decidirá se eles querem me inscrever para a próxima temporada.” “Você não parece feliz.” “Por que você está surpreso com isso? Eu sinto que estou traindo você por aceitar. Ter que trabalhar para Cory, para a equipe, apenas para cumprir os desejos do meu pai... isso me dá arrepios.” “Todos nós em algum momento fazemos coisas por nossos pais, que nem sempre nos faz sentir bem,” ele fala em um tom que diz está falando sobre si mesmo também. A mãe dele. O pai dele. “Eu disse isso ao meu pai. Falei algumas coisas que provavelmente não deveria, mas... não pude evitar. Entre o que você me disse ontem à noite e, em seguida, ter que lidar com Cory e sentir a minha moral comprometida, então, nem que tentasse eu conseguiria segurar mais.” Easton me puxa mais apertado contra ele e me mantém lá por um momento. Agradeço por ele não tentar dar conselhos ou corrigir alguma coisa e simplesmente apenas me deixar desabafar. “Eu entendo por que é importante para ele — o contrato — mas é realmente tão importante? Não deveria ser mais importante gastar o tempo que lhe resta com aqueles que se ama?” “E eu suponho que foi isso que você disse a ele?” Eu ri. “Em termos muito menos educados.” “Sim, bem,” ele diz, “há sempre aquele momento em que você tem que enfrentá-los. Não é fácil, mas você sempre se arrepende mais das coisas que não foram ditas.”

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“Vamos torcer para que eu não me arrependa das coisas que eu disse.” Muito menos o que eu não disse. Nossa conversa cai tranquila aos sons de grilos e rãs e ao barulho ocasional de freios na estrada algumas milhas a leste. E quanto mais tempo nos deitamos aqui e nos divertimos, mais eu penso nas últimas vinte e quatro horas. As coisas que eu disse para Easton. As coisas que eu não disse. O fato de ter dito que o amava e ele não aceitou. Que ele pensou que era um apelo desesperado para pedir perdão quando foi provavelmente a coisa mais verdadeira que eu disse em que toda a discussão. Preciso dizer de novo. “Easton, há uma coisa que eu quero esclarecer sobre a noite passada. Houve algo que eu disse que —” “Não,” ele diz enquanto se apoia em seu cotovelo e me movo até que estamos face a face. Ele coloca um dedo embaixo do meu queixo e levanta. “Não quero falar sobre a noite passada. Ou a nossa discussão. Ou basebol em tudo.” Ele se inclina para frente, roçando seus lábios nos meus, sua língua um toque de provocação. “Eu quero ficar aqui na grama alta com você.” Outro toque de seus lábios. “Ouvir sua risada.” Desta vez o beijo dura um pouco mais. “Provar sua pele.” Um beijo de boca aberta na parte inferior do meu queixo. “E fazer amor com você até que vejamos o nascer do sol.” Se ele aceitará um suspiro como uma resposta, então ele só terá isso e quando Easton se inclina para olhar em meus olhos, eu posso ver que ele já sabe disso. “Quero me afogar em você esta noite, Scout. Quero esquecer o mundo, esquecer o que vai acontecer amanhã e me afogar em tudo sobre você, começando agora.” Com meu coração em suas mãos e seus lábios no meu, Easton me deita e faz exatamente o que ele promete. Não há mais necessidade de conversa. Não há necessidade de mencionar o óbvio sobre o que vai acontecer amanhã de manhã. Não

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há nenhuma disputa para tranquilizar um ao outro que podemos sobreviver a isso... porque, por alguma razão, faremos. Eu sei disso. E essa é a sensação mais estranha de todas.

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CAPÍTULO 11

“Ei.” Pressiono um beijo em sua têmpora. “Mmm.” “Eu tenho que ir,” sussurro quando tudo o que quero fazer é subir de volta na cama ao lado de seu corpo quente muito tentador e fingir que não tenho que sair. Seu corpo se estica enquanto ela acorda e percebe que, embora o meu quarto ainda esteja escuro, está na hora da minha partida. Minha mochila no balcão da cozinha e meu pai esperando no carro para me levar ao aeroporto confirma isso. “East.” Sua voz está rouca de sono e o seu cabelo está uma bagunça selvagem que tenho certeza que ainda tem folhas da noite passada. Ambos chamam cada pedaço de mim para ficar. E quando ela toma consciência, se senta na cama com olhos alertas, mas seus movimentos ainda estão lentos. “Deixe que eu escove meus dentes. Eu preciso levantar. Eu preciso acompanhá-lo. Eu só —” “Shhh,” digo enquanto me abaixo para a cama. “Não se levante. Fique na cama e durma mais um pouco.” Puxo-a para um abraço e apenas a seguro. Inspiro. Seu perfume. Seu xampu. Nosso sexo ainda em sua pele.

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“Vou sentir sua falta,” ela murmura contra o meu peito e que se foda se eu não senti o seu queixo tremer enquanto ela luta para segurar as lágrimas. “Eu também, mas nos veremos em breve. Falaremos todos os dias. Vamos fazer isto funcionar, Scout. Não lutei tanto para te perder.” Ela se agarra a mim e posso sentir seus ombros tremer. Odeio ter que fazer isso com ela — partir — quando prometi que não faria. “Eu quis dizer o que eu disse,” ela finalmente diz. “O que foi isso?” Pergunto enquanto minha mão alisa o seu cabelo. “Eu te amo." E bem ali — três simples palavras de merda e eu sou um homem morto. Um caso totalmente perdido por essa mulher que é uma confusão de contradições e que inesperadamente roubou meu coração ao longo do caminho. Sim, ela disse na outra noite. Ela lançou isso em mim durante a porra da nossa discussão, mas uma mulher desesperada suficiente para declarar seu amor tentando manipular a situação não seria novidade para mim. Então, resolvi esquecer. Não tocar no assunto. E imaginei que se significasse algo para ela, então, ela diria novamente. E ela acabou de fazer exatamente isso. Então isto aqui, agora, é real. Tem significado para ela. Porra, essa sensação é muito boa. “Levou tempo suficiente.” Sorrio e a puxo um pouco mais enquanto ela se esforça para ficar longe de mim. “Você é um idiota arrogante,” ela diz em tom de brincadeira enquanto bate suavemente em meu peito.

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“Sim, bem, este idiota arrogante está apaixonado por você, também.” Coloco minhas mãos ao lado de suas bochechas para que possa olhar em seus olhos através da luz fraca. Eu quero que ela veja toda a verdade. “Oh.” Seu sorriso é instável e seus olhos brilham com lágrimas. “Sim. Oh. Mas é a verdade,” murmuro antes de colocar meus lábios contra os dela, com hálito matinal e tudo, porque eu não deixarei passar uma última chance de beijá-la. E quando saio da minha casa rumo a esta novidade desconhecida, sinto que talvez tudo isso possa funcionar. Nunca a deixei abordar como vamos lidar com isto. Não permiti que ela tivesse a chance de ficar assustada. Eu só disse a ela como seria. Eu vou trabalhar. Ela vai trabalhar. E vamos fazer toda essa coisa funcionar entre nós. Além disso, ela me ama. Ela me ama. Apenas quando pensei que tudo estava desmoronando, começo finalmente achar que talvez tudo tenha apenas começado a se encaixar.

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CAPÍTULO 12

Ele disse que me ama. É claro que eu estava nua, meio adormecida e Easton estava saindo, mas ele realmente disse que me ama. Que está apaixonado por mim. Quão perfeito pode ser desde que estamos tão longe de ser perfeitos, afinal? Ele disse que me ama e eu não me assustei. Para uma garota que tem se esquivado dessas emoções por toda a sua vida, ouvir essas três palavras e sentir como se estivesse andando nas nuvens em vez de querer correr, é uma mudança muito louca. Mas eu estou em sua cama, cercada por seu cheiro e sei que precisarei de muito esforço para deixar isto aqui, sabendo que não o verei novamente por um tempo. Eu rolo e encontro o meu celular perto de mim. Estranho. Sei que não o deixei ali de jeito nenhum. Quando eu pego, há uma nota de post-it em sua tela. Tudo o que diz é ‘Ouça-me’. Sento-me rapidamente, ansiosa para ouvir a mensagem como uma colegial ridícula à espera de sua primeira paixão ligar.

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“Bom dia,” a voz firme de Easton surge e me faz fechar os olhos já sentindo sua falta, embora ele tenha saído apenas algumas horas antes. “Pegue minha camisa. Vista. E então escute sua próxima mensagem.” Com um sorriso nos lábios, freneticamente eu olho ao redor do quarto procurando sua camisa, só então percebo que já existe uma sobre o travesseiro ao meu lado. Dou uma risada para o quarto vazio e pego a camisa, não sem antes sentir o seu cheiro e só depois vestila. “Primeiro de tudo, Kitty. Deixei algo para você no meu lugar favorito da cozinha.” Estou fora da cama, correndo pelo corredor até a ilha da cozinha, minha mente relembrando a semana passada, quando ele fez sanduíches de queijo grelhado para o jantar. Como subi no balcão para assistir e antes que eu percebesse, minhas coxas estavam separadas e a sua língua trabalhando em mim em um frenesi, isso acabou com sanduíches complemente torrados. Melhor queijo grelhado que eu nem cheguei a comer. Quando chego à cozinha, há um calendário em cima do balcão. Preciso de um minuto para descobrir o que estou olhando. Com rabiscos quase ininteligíveis, Easton marcou os dias do mês até o final da temporada com um D para os jogos dos Wranglers e um A para jogos dos Aces. “Veja os círculos laranja,” ele diz na mensagem. “Esses são os dias em que nos vemos, se estivermos de passagem por alguma cidade ou tivermos um ou dois dias folga. Eu estou reclamando uma prioridade para o caso de você decidir sair com seus outros namorados nessas datas.” Eu sei que ele está brincando, mas minha cabeça está balançando para frente e para trás como se ele fosse louco. “Próxima pista: A primeira vez que você veio ao meu

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apartamento, como foi que eu finalmente consegui que você viesse aqui?” Fico com as minhas mãos em meus quadris por um segundo enquanto olho para a parede de vidro e em seguida, percebo sobre o que ele está se referindo. O banheiro. Eu corro para o banheiro de hóspedes no hall de entrada e dou um sorriso com o que vejo lá. No balcão tem um porta CDs. É um audiobook. A Torre Negra: O pistoleiro, de Stephen King. “Se estou sendo obrigado a ouvir estes livros de romance que você enviou para o meu iPod, então você tem que ouvir o meu tipo de livro também. Além disso, esses voos de avião podem ser chatos e a última coisa que você vai querer fazer é falar com Tino e Drew. Aproveito para invocar os meus direitos e me manter calado para evitar uma autoincriminação por qualquer coisa que eles digam sobre mim... ouça esse livro.” “Vou te dar um teste e você vai querer a recompensa por acertar todas as respostas.” Meu sorriso não poderia ficar mais largo nem se eu tentasse. Pego o conjunto de CDs e escuto o resto da mensagem. “Qual é o único lugar que você estava ansiosa para ver? Eu acredito que tive que lutar para beijá-la, porque você não parava de falar sobre isso.” Agora, eu vou te beijar sem sentido, Scout, e eu quero aproveitar pra caralho. Então, pelo amor de Deus, mulher, use esses seus lábios em mim e não com palavras. Estou no elevador em um flash descendo para o campo privado. Quando as portas se abrem, estou hesitante em sair. Parece estranho estar aqui sem Easton. Este é o seu lugar. Seu consolo. E, no entanto a curiosidade tem o melhor de mim. Ligo as luzes e começo a andar procurando o próximo item. Levo apenas um segundo para ver o frasco de vidro no home plate.

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Quando o pego, tudo o que posso fazer é balançar a cabeça para as dezenas de pastilhas de menta dentro dele. “Há uma embalagem de pastilha para cada dia que resta até que a temporada termine. Nossa própria contagem regressiva. Além disso, joguei algumas embalagens extras para o caso de uma das nossas equipes fazer parte dos playoffs. Quando você chupar, pense em mim.” Sua risada é profunda e sugestiva. “E, finalmente, onde é o lugar em que fiquei, olhei para você com as luzes do estádio em seu cabelo e sabia que não havia retorno para você?” Eu faço uma careta no telefone. “Não revire os olhos, Kitty. Pense em quando você ficou lá e me pegou como ninguém jamais conseguiu.” Animada, entro no elevador indo para a parede de vidro, o lugar onde percebemos pela primeira vez que poderia haver mais entre nós do que apenas luxúria. Quando chego lá, eu não tenho certeza do que estou procurando. Fico olhando para o estádio vazio abaixo, hipnotizada por um momento enquanto recordo a primeira noite: os nossos dedos entrelaçados; o apartamento às escuras e o céu iluminado pelo estádio; o sentimento de ser compreendida. Leva um momento para ver um chaveiro com uma chave pendurada na base da janela. Incerta como isso me faz sentir, olho para aquilo por um momento enquanto tento compreender o que ele está me dando. O que está me dizendo. Porque sim, ele ofereceu isso outro dia, mas... foi antes de tudo acontecer e agora lá está ela — uma chave prata nova brilhante da sua casa anexada a um chaveiro dos Austin Aces. Pego o telefone enquanto dou risada de mim mesmo e com os meus dedos trêmulos passo para o próximo. “Eu sei, agora, que provavelmente está se perguntando se você deve ficar com medo ou não. Pensando nas palavras que disse e como isto torna as coisas reais — nos torna reais — e essa parte te assusta. Eu não fui para a cama a noite passada, Scout. Apenas fiquei sentado observando você dormir e me perguntando como fazer para isso dar certo. Como com

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nossos horários loucos e morando em diferentes cidades funcionaria para nós... mas ele vai. Então, tome esta chave. Use-a. Não apenas use. Mas saiba que está lá para você. O armário está com a metade desocupada para você. As gavetas. Tudo. E enquanto você está hiperventilando, escute isso... eu nunca conheci ninguém como você, Scout. Você me desafia. Você me faz rir. Você me incentiva. Mas mais do que tudo você me entende. Minha necessidade por esse jogo que eu amo tanto quanto odeio. Como amo meus pais, mesmo quando sinto que as cordas que eu ainda tenho amarradas a eles estão me estrangulando. Como fazer piquenique assistindo e torcendo por estranhos em um jogo da Liga infantil, ás vezes é tudo o que eu preciso. Então, quando você ficar com medo, quando você se perguntar como isso funcionará, lembre-se que eu te deixei uma chave porque eu planejo voltar para casa e para você. Você ouviu isso? Eu planejo voltar para casa...” Quando a mensagem termina cada parte do meu corpo está arrepiada. Eu só fico ali parada olhando para a chave com lágrimas borrando meus olhos e pressiono repetir mais uma vez. E outra vez.

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CAPÍTULO 13

“Ei.” A voz dele. É exatamente o que eu preciso ouvir. Depois do meu pai por teimosia se recusar a falar comigo. E depois de lidar com Cory e suas besteiras. Este inesperado telefonema de Easton é o que preciso para me centrar. “Ei, espertinho.” Tento agir com calma e não me sentir uma boba fazer apenas algumas horas que ele partiu e já ser uma confusão de hormônios femininos que não tenho nenhuma pretensão de me tornar. “O que você está fazendo?” “Fazendo meus olhos arder enquanto trabalho em alguns planos, cronogramas e seleção de pessoal para a equipe. O último dia de Sam é quarta-feira, então estou tentando descobrir quem devo manter da equipe e quem devo trazer, todo esse tipo de coisa.” Eu olho para a minha mesa coberta de papéis e em seguida, para fora da janela em direção ao vestiário, metade de mim espera ver Easton lá, me chamando e fingindo não estar falando comigo como ele fez antes.

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“Soa emocionante.” Dou uma gargalhada, a rouquidão em sua voz é sexy como o pecado. “É sim. Para mim, de qualquer maneira. Correu tudo bem com a equipe? Como é Chicago?” “É abafada como o inferno. Mas bom.” “É uma grande cidade. Eu trabalhei aí por um tempo no ano passado, mas com os Cubs, não com os Sox. Como os outros jogadores te trataram até agora?” “Bem. Como um deles. Eles ficaram um pouco chocados sobre a transação e estão solidários. Alguns escutaram boatos que esta não é a primeira vez que Cory ferra um jogador por isso eles estão fazendo um monte de perguntas. Pelo que sei, são apenas rumores e por isso eu realmente não estou comentando... é apenas diferente, sabe?” Há um traço de tristeza lá que ele soa de sua garganta. “Mas adivinhe o quê?” “Conte-me.” “Estou liberado para jogar esta noite.” A excitação em sua voz combina com o aumento súbito do que eu sinto. “Mesmo?” “Mathers não pôde acreditar que os Aces não tinham me liberado.” “Mathers é um terapeuta competente. Achei que ele veria a minha mentira e o reintegraria,” adiciono, imaginando o que Mathers deve estar pensando sobre minha própria competência considerando que dei Easton como inapto para jogar. “Estou feliz por você, mas eu já sabia.” Minha voz oscila na última palavra enquanto tento manter minhas emoções sob controle. “Você vai assistir?”

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Dou uma risada chamando a atenção de alguns jogadores que entram e saem do vestiário após seus treinos. “Eu não perderia por nada no mundo.” “Bom. Obrigado. Eu tenho que ir, mas queria chamar, falar com você... ouvir sua voz.” E o meu coração mole continua a derreter. “Ei, Wylder?” “Sim?” “Tenha um jogo.” Ele ri. “Isto seria como ter um bom dia?” “Sim. Tenha um jogo... mas bote pra quebrar, porque eu estou mantendo pontos.” “Pontos? São aqueles pontinhos que descontei antes?” Pergunta ele brincando. Porra, isso foi divertido. “Algo assim.” Eu sorrio quando seu nome é chamado em segundo plano. “Vou te ligar mais tarde?” “Tenha um jogo, Easton.” A chamada termina. Eu te amo. Eu testo dizendo isso na minha mente, os ridículos hormônios femininos assumindo novamente, mas quando você não está acostumada a dizer as palavras, você não sabe quantas vezes são vezes demais? Porque é quase como se agora que reconheço isso, percebo que eu senti isso o tempo todo. Nunca o teria deixado entrar de outra maneira.

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CAPÍTULO 14

“Você fica muito bem em azul, Wylder.” Sorrio enquanto olho para Stidwell e bato os punhos com ele. “Obrigado, cara.” “Estamos felizes por tê-lo, mas, porra cara, você foi injustiçado.” “Bem...” Levanto minhas sobrancelhas e dou uma risada. A picada ainda está lá, mas o meu novo equipamento azul de apanhador no banco ao meu lado entorpece isto um pouco. “Entendo. Você não pode falar sobre isso,” ele diz. “Por que vale a pena, todo mundo está falando de Tillman. Sobre a merda sombria que ele fez com você e agora por causa da sua grande visibilidade, as pessoas estão ouvindo queixas de Reagan sobre o que ele fez com ele em Baltimore no ano passado. Como ele puxou a mesma porcaria lá. O corte de custos a qualquer preço não é o caminho para ganhar um campeonato...” “Verdade,” digo, mas minimizo o assunto. Agora eu tenho um jogo para jogar — meu primeiro retorno — e o inferno se eu não estou empolgado para cruzar a linha e sujar minhas chuteiras. Olho para cima e mais dois caras se reúnem ao redor. Alguns que eu conheço

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de passagem. Alguns que não conheço. Alguns que joguei junto, quando eles estavam no Aces. Bem ciente de que qualquer coisa que eu diga pode ser citada, jogo pelo seguro. “Má sorte é uma cadela.” “É.” Ele diz quando entrega o meu boné. “Como eu disse, estamos contentes em tê-lo.” “Obrigado, pessoal.” E quando coloco meu boné, uma chuva de gliter azul chove em mim. Cabelo, rosto, roupas, chão. Em-cada-fodido-lugar. Os caras estão se dobrando de tanto rir enquanto Stidwell tenta manter uma cara séria. “Tino disse que precisávamos recebêlo adequadamente na equipe. Além disso, ele disse que azul é a sua cor.” Filho da puta. Não posso deixar de rir, e o maldito brilho cai na minha boca, porque meus meninos — a brigada anti-Santiago — sabia a maneira perfeita para me fazer relaxar antes de eu entrar em campo pela primeira vez no que parece uma eternidade. Eles fizeram com que eu me sentisse em casa.

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CAPÍTULO 15

“Oh, vamos lá. Você pode aguentar mais,” encorajo enquanto pressiono a perna de Dillinger, de onde sua panturrilha repousa sobre meu ombro. Ele faz uma careta e assobia um longo suspiro enquanto eu alongo os tendões tensionados que ele sobrecarregou na semana passada. Ouço os comentários abafados de alguns dos caras. Eu seria surda se não o fizesse. Estou mais do que ciente do que a minha posição corporal com Dillinger se parece para eles — como se eu estivesse tentando montá-lo — e ainda assim eu não me importo. Este é o meu trabalho. Deixá-lo restabelecido antes que ele arremesse esta noite. Cada vitória importa para o Aces a um jogo do primeiro lugar e a temporada lentamente chegando ao fim. “Posso ser o próximo?” Olho para onde Santiago está e depois retorno a minha atenção para Dillinger enquanto eu alivio a pressão e abaixo a sua perna. Saindo da minha posição entre suas coxas, olho para Santiago. “Eu não sabia que você estava machucado.” “Não estou, mas se você está distribuindo terapia livre assim, conte comigo.” Ele sorri e tudo sobre ele me dá arrepios.

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“Há uma longa e distinta linha na sua frente, Santiago. Caras que realmente precisam de mim. Então eu sugiro que você fique na parte de trás da linha. Se tiver o tempo, vamos ver sobre trabalhar em seus problemas, mas tenho certeza que corrigir seus problemas está acima da minha classe salarial.” Levanto minhas sobrancelhas e apenas olho para ele para que saiba que não aceitarei suas merdas. Dillinger assobia baixo e suave enquanto Santiago estreita os olhos e então se vira e vai embora. “Nem todos nós somos idiotas,” ele diz ganhando minha atenção, “mas parece que muitos deles estão agindo como um ultimamente.” “São os ossos do ofício,” respondo com um aceno de cabeça, tentando manter meu profissionalismo e a fachada garota-dura no lugar. Ao mesmo tempo, porém, estou aliviada de saber que não estou vendo coisas que não estão lá. A superabundância de toalhas caindo acidentalmente quando eu entro no vestiário. Os sugestivos e sarcásticos comentários aqui e ali. As ofertas para sair em um encontro apesar das minhas recusas continuarem. Enquanto Easton estava aqui, estas coisas não aconteciam, uma vez que era perceptível sua reivindicação sobre mim, embora nós pensássemos que estávamos sendo discretos. “Você está bem e alongado? Pronto para atacar todos esta noite?” Para ter um jogo. Eu sorrio e penso em Easton. “Sempre.” Ele me oferece um grande sorriso antes de sair para a parte principal do vestiário. “Você está bem?” Drew pergunta ao mesmo tempo em que ele bate na porta. “Sim,” respondo enquanto sopro um fôlego, mas o olhar em seu rosto me diz que ele não está comprando isso. “Tem certeza?”

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“Sim. Obrigado. Eu posso te ajudar com alguma coisa?” Pergunto curiosa sobre esta pequena visita fora do comum para ele. “Easton parece muito bem. Forte. Só aquele filho da puta sortudo voltaria para uma nova equipe depois de uma longa temporada no DL, bateria três home runs e jogou fora todos os caras que tentaram roubá-lo em sua primeira semana de retorno. É como se ele fosse sobre-humano ou algo assim.” Ele ri com um aceno de cabeça. “Nunca diga isso a ele ou jamais vamos conseguir que o seu ego passe pela porta.” “Agora essa não é a verdade. Você assiste todos os seus jogos?” “Claro.” Ofereço-lhe um sorriso malicioso. “Enquanto vocês jogam, eu sento aqui e assisto ao jogo dele pelo meu telefone.” “Traidora.” Desta vez, sua risada é alta e atrai mais a atenção dos rapazes. “O mesmo pode ser dito da gestão desta equipe e o que fizeram com ele.” “Sim. Os caras ainda não engoliram bem tudo isso. Todo mundo está no limite. Se o escritório pode fazer isso com Easton — o próprio Sr. Ace — então eles podem e farão isso a qualquer um. Não faz bem para a moral equipe.” “Como poderia?” “Há rumores de que Cory está no limite. Eu acho que Finn finalmente pegou Boseman e ele está chateado com o que Cory fez com East. Que ele nunca aprovou a negociação. A maldita mão esquerda não sabe o que a mão direita está fazendo e ainda pior, alguém se masturbou.” “Tão eloquente,” digo enquanto rolo meus olhos, mas estou mais intrigada do que nunca. Finn está tentando cobrir seu traseiro? Ao aconselhar Easton a assinar esse adendo, ele foi o único

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responsável por deixar o clube tomar uma decisão em primeiro lugar. E o fato de que ele ainda representa Easton faz meu estômago doer. Mas não é por isso que Drew está aqui para falar comigo. Posso dizer que há mais e estou curiosa sobre o que seria e assim eu faço essa conversa fiada render até que ele chegue ao assunto. “Sei que tem sido difícil para você. Os caras estão sendo idiotas, dando-lhe besteira constante e se exibindo nus por aí.” “Não é nada que eu não possa resolver,” digo. “Farei alguns gracejos sobre quão pequeno seus paus são e antes que você perceba, as toalhas ficarão e tudo vai parar.” “Sim, mas você não deve ter que lidar com isso. Você está sendo profissional e eles estão agindo como porcos machistas.” Pelo menos ele é preciso em sua descrição. “Vamos esperar que esses porcos sexistas jamais sofram qualquer lesão, porque eu não serei tão gentil com eles como eu faria com você.” Mas preciso tratar disso. E logo. Ou então Cory vai pensar que eu sou incapaz de executar o programa. “Eu gosto da maneira que você pensa.” Ele olha para mim e mastiga o lábio inferior por um momento antes de chegar ao seu ponto. “Eles sabiam que você estava dormindo com o East, de modo que eles só assumiram que você tem uma coisa por jogadores de basebol. Eu acho que eles estão pensando que podem ter uma chance com você também.” Eu gargalho sobre como isso é ridículo, mas depois percebo que ele não está brincando. “Não existe nenhuma chance. Ainda estou com o Easton.” “Hmm.” É tudo o que ele diz. O som maldito faz meu estômago cair aos meus pés e permite que a dúvida apareça quando não está lá desde que ele saiu.

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Claro, eu sinto falta dele. Claro que odeio saber que ele pode estar em um bar com seus novos companheiros de equipe e uma mulher pode estar dando em cima dele... mas aqui isso também poderia acontecer. Aquele pequeno hmm na garganta de Drew faz cócegas na base do meu pescoço e puxa as inseguranças adormecidas. “Há algo que você não está me dizendo?” Odeio ter que perguntar, bem consciente de que isso prejudica meu profissionalismo e ainda assim fico em silêncio esperando por sua resposta. “Não. Ele é um cara legal. É só que eu nunca o vi assim por uma mulher.” “Então... o quê? Você queria observar ao redor e ver se eu aceitaria qualquer uma das ofertas dos caras? Ter a certeza que sou fiel a Easton? Eu aprecio a sua lealdade para com o seu amigo, mas nós temos as coisas entre nós muito bem resolvidas.” O toque do meu telefone interrompe a conversa. Não quero fazer nada mais do que silenciar o seu toque e enviá-lo para a caixa postal, mas quando vejo o número de Sally na tela, o medo me faz responder o mais rápido possível.

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CAPÍTULO 16

As paredes brancas da clínica me faz sentir como se estivesse sugando cada grama da minha coragem enquanto eu corro pelo corredor. “Suas unhas estavam azuis. Eu deveria saber.” Sally torce as mãos enquanto se mantém ao meu lado para onde quer que eu vá neste labirinto do inferno. “Como você poderia saber?” Pergunto, mas realmente não presto atenção ao que estou dizendo, porque estar aqui me transporta de volta para três anos atrás. Volto para quando o médico me disse que meu irmão, Ford, tinha morrido. Como depois de ouvir essas palavras, eu senti como se cada gota de sangue tinha sido drenada do meu corpo e todo o oxigênio tinha sido sugado do quarto. A tristeza que foi nada menos que incapacitante. O vazio interior que parece continuar sem fim. Acorde, Scout. Este é o seu pai. Não Ford. E ele vai aguentar mais. Ele tem que ficar por mais tempo do que isso. “Encontrei tecidos com sangue. Ele disse que era porque havia se cortado, mas... eu devia saber que ele tossiu.” Uma lágrima desliza em sua bochecha e eu sei que ela se preocupa com o meu pai. A vizinha da porta ao lado virou melhor amiga e depois virou

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a nós-nunca-discutimos-a-relação-deles. No fundo eu sei que o amor está envolvido e neste ponto e tempo, pergunto-me por que nunca pressionei para saber mais. As coisas que você escolhe pensar quando você não quer pensar no agora. “Não tinha como saber, Sally. Isso não é culpa sua.” Códigos de emergência são chamados no sistema de som e sapatos rangem pelo chão enquanto enfermeiros e médicos correm para salvar outra pessoa, outra vida. E ainda assim eu sei que meu pai não pode ser salvo. “O líquido acumulado em seus pulmões. Eles chamam isso de um edema —” “Pulmonar,” termino para ela. Eu pesquisei esta doença em todas as direções desde domingo, desde que ele foi diagnosticado e conheço os sinais, os sintomas e a escala da morte. “A cardiologista mudou a medicação da pressão sanguínea para ajudar a limpar o fluido. Ela disse que assim que diminuir, ele será capaz de voltar para casa.” Um gemido de ‘Não, por favor, não,’ flutua fora de um quarto do outro lado do corredor e cada parte do meu corpo torce em desespero. Eu sei o que esse desamparo parece. “Eu não deveria ter chamado você em tal estado de pânico. Mas a ambulância chegou e fiquei com medo que ele fosse —” “Nunca se desculpe por me ligar, Sally.” Puxo-a para mim e nos agarramos uma na outra no meio do corredor, tentando encontrar conforto entre nós, mesmo quando sabemos que o homem que amamos está perdendo sua luta. Dia a dia. Hora a hora.

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Pouco a pouco. E quando nós afastamos, estamos com os olhos cheios de lágrimas, eu viro para descobrir onde estamos e para onde precisamos ir, sala 412. O medo, esperança, desespero, culpa — todos quatro executam um discurso tirânico dentro de mim enquanto me preparo para vê-lo. Para me desculpar pessoalmente pelas palavras raivosas que eu lhe disse na semana passada. Quando reúno coragem suficiente, entro no quarto com a mão de Sally no meu ombro em apoio e meu coração alojado na garganta. O meu pai está deitado na cama, os fios estão presos no peito e parece que está ligado a um exército de máquinas. Seu rosto está pálido e seus olhos estão fechados. Reparei como o seu cabelo está tão emaranhado — mais longo e despenteado— e imediatamente volto para quando eu era mais jovem e ele usava seu cabelo mais longo como era o estilo da época. Quando ele estava saudável. Invencível. Não querendo perturbá-lo, ando para frente e sento na cadeira ao lado dele enquanto Sally sai e me dá um pouco de privacidade. Ponho a mão sobre a dele, observo que as suas unhas estão ainda ligeiramente azuis e fico aliviada com o fato da sua pele ainda está quente, não fria como da última vez que segurei a mão da Ford. Fico olhando para ele, em seguida, memorizo as novas linhas gravadas em seu rosto e me pergunto se é dessa forma que isso acabará para ele. Em um hospital com ambientes desconhecidos. Ou será que será em casa durante o sono, com vista para o campo que ele tanto ama, cheio de memórias que construímos juntos? As lágrimas vêm com o pensamento. Da tristeza envolta em amargura. Sua mão se move sob a minha e eu levanto os olhos rapidamente para encontrar seus olhos cansados. “Oi.”

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Ele acena com a cabeça levemente e fecha os olhos por um piscar muito lento antes de abri-los e olhar para mim. “Não chore,” ele exige com a voz baixa e um pouco áspera. Inacreditável. “Não me diga o que fazer.” “Você vai ter que sair, se você chorar.” Sorrio, espantada quando eu não deveria estar. Ele nunca vai mudar, mesmo quando está assim. “Você não está em estado para dizer o que tenho que fazer, então você apenas fique deitado e descanse, enquanto eu sento aqui e me preocupo. Ou choro. É assim que será pai, quer você goste ou não. Entendeu?” Ele olha para mim por um momento, os olhos de aço endurecido, mas ele não tem força suficiente para mantê-los dessa forma por muito tempo. Eles começam a amolecer quando a doença enfraquece a sua força e o faz ceder. Papai balança a cabeça suavemente e fecha os olhos. “Obrigado por ter vindo, Scouty-girl.” E com essas palavras, eu sei que estamos bem. Ele me perdoou pelas coisas que eu disse a ele. Aperto sua mão suavemente. “Eu sempre estarei aqui, pai. Descanse um pouco.”

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CAPÍTULO 17

“Você está bem? Não consegui falar com você o dia todo.” Quero afundar no som de sua voz e fingir que seus braços estão em volta de mim. E saber ele está lá e não aqui, faz as lágrimas que têm queimado durante todo o dia ameaçar a retornar. “Sim.” É tudo o que posso falar além de um aceno com a cabeça, sem entregar o quanto preciso dele agora. Seus olhos castanhos se estreitam e enchem com preocupação através da conexão do Facetime. “Scout?” “Apenas um dia difícil.” Dou um sorriso e limpo minha garganta. “Meu pai foi levado para o hospital, então eu passei a maior parte do dia lá, só sentada ao seu lado e observando enquanto ele dormia...” Vou explicar tudo. “Eu sinto muito por não poder estar aí com você.” Seu sorriso é suave e sincero e sinto falta de tudo sobre os seus lábios. “Mas ele vai ficar bem? Quero dizer... por agora.” “Sim. Ele irá para casa em um dia ou dois. Assim que seus pulmões estiverem um pouco mais limpos... mas a médica disse que provavelmente acontecerá novamente. E, em seguida, novamente. Cada vez será pior até...”

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Ele apenas balança a cabeça para me deixar saber que ele entende. “Eu sinto muito.” “Está bem. Tem sido um dia.” Ele olha para mim através do silêncio da conexão, parecendo tão cansado quanto eu me sinto, mas sem saber Easton me dá tudo que preciso agora. Ele. Só ele. Isso é tudo que eu pareço precisar ultimamente. “Oh meu Deus,” digo com um aceno de minha cabeça enquanto tento escapar do meu medo. “Você bateu outro home run esta noite. Você é como um rolo compressor incrível.” “Shh,” diz ele rapidamente como uma criança, os olhos piscando um aviso que me faz rir mais do que deveria. Eu seguro minhas mãos em rendição. “Minhas desculpas. Como eu poderia esquecer as superstições de basebol? Se você falar sobre isso, você traz má sorte.” “Algo assim.” Seu sorriso é contagiante. Sinto falta da sensação dele contra os meus lábios. Sinto falta do raspar de sua barba contra a minha pele. Sinto falta dele. “Você assistiu ao jogo?” “Claro. Eu assisto todos os seus jogos. Este eu assisti com meu pai, embora contra as ordens da enfermagem, subi ao lado dele em sua cama e assistimos. Ele criticou tudo sobre você, você deve saber.” “Claro que ele fez.” Ele ri. “Como é que me saí na escala de sondagem Dalton?” “Ele acha que você está bem. A rotação do seu braço. A força em seus arremessos. Tudo. Quero dizer, como ele pode não confirmar quando você jogou fora o Jenkins tentando roubar —”

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“Venha me visitar este fim de semana.” A maneira como ele diz isso para toda minha linha de pensamento. “Mas eu pensei que o plano era —” “Os planos mudam. E eu sinto sua falta.” Oh, meu coração, meu coração batendo disparado. “Estarei em Nova York. Os Aces têm uma pausa de dois dias e sua próxima parada é Nova York, então você só chegará mais cedo. Passe o fim de semana comigo. Preciso te ver.” Meu coração dispara e minha resposta é automática. “Sim.” Sua risada é drogada de sono. “É melhor trazer esses brownies de pontinhos extras com você.” Eu ri pelo que parece a primeira vez durante todo o dia. “Você ganhou tantos, Wylder, pode ser necessário começar a me chamar Betty Crocker10.” Melhor ainda do que Betty Cocker11.

10

A marca BETTY CROCKER é a mais consumida pelas donas de casa americanas. A marca comercializa e oferece mais de 25 tipos diferentes de mistura de bolos, além de sobremesas diversas. 11 Aqui a Scout faz uma brincadeira com o nome da marca Betty Crocker com Betty Cocker, que significa Betty paparicadora/mimadora.

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CAPÍTULO 18

Droga. É patético que no momento em que ela entra no saguão do Hotel, cada parte de mim se agita para a vida? Meu coração. Meu pau. A porra da minha respiração. A saia e as botas de cowboy que ela está usando apenas incentivam todas as fantasias que tive com ela. As que estão em meu repertório mental desde que eu saí de casa. Tem sido dez longos dias. Alguns pontos altos com o esforço e retorno ao jogo no pico da minha forma e os pontos baixos em ter que dormir em uma cama vazia todas as noites. Olhando ao redor, ela ajusta sua bolsa no ombro. Um homem passa e vira a cabeça para dar uma segunda olhada. Cai fora filho da puta. Ela é minha. Eu pego meu celular e digito: Ei Betty Crocker, vire à sua direita. Estou na cabine de trás. Ela sorri quando o texto chega ao seu celular antes de caminhar em direção ao bar ostentoso. É preciso um segundo para que seus os olhos se ajustem ao ambiente escurecido, mas no

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momento em que ela me vê, seus lábios se movem naquele seu sorriso tímido antes dela andar em minha direção. Eu assisto seus quadris balançar. A forma de suas pernas. O salto de seus seios. E cada parte do meu corpo exige que me levante para que não desperdice nenhum tempo e aproveite tudo e muito mais, mas inferno se não quero saborear o momento também. “Este lugar está ocupado?” Ela pergunta com olhos me devorando, apesar do sorriso tímido nos lábios. Então é assim que ela quer jogar? Pode vir Kitty. “Isso depende. Está?” Meus olhos correm para cima e para baixo pelo comprimento do seu corpo e meu pau endurece em conhecimento de quão viciante é tudo que está por baixo. Ela angula a cabeça para o lado e me olha por um segundo. Olhos cinzentos me dizendo muito mais que seus lábios. “Isso depende do que você tem em mente.” Meu riso é brilhante, mas tenso. “Oh, eu tenho um monte de coisas em mente, querida, mas sou um homem de ação. Eu prefiro fazer as coisas em vez de simplesmente falar sobre elas.” “E que tipo de coisas você... gostaria de fazer?” Sua voz está ofegante. Seus mamilos endurecem contra o tecido de sua camisa. “Por que não senta e descobre?” Ela olha para onde dou um tapinha no assento ao meu lado e em seguida de volta para mim. “Meu pai me ensinou a nunca falar com estranhos.” Sorrio quando levo o conhaque aos meus lábios, meus olhos fixos nos dela por cima da borda do copo. “E o meu sempre me disse o quanto é importante fazer novos amigos.”

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Ela quebra o personagem por um momento — seu sorriso aumenta enquanto balança a cabeça — antes de estender sua mão e continuar a brincadeira. “Kitty. Muito prazer.” “Easton. Acredite em mim, Kitty, o prazer é todo meu.” Ela senta ao meu lado e olhamos um para o outro por alguns segundos, olhos dizendo o que nossos corpos estão pedindo. “Oi,” ela finalmente diz. "Oi.” “O que te traz à cidade?” “Eu jogo basebol.” “Com grandes bastões e bolas, esse tipo de basebol?” Ela finge inocência e porra se ela não é adorável. “Algo assim.” Eu mastigo a parte interna da minha bochecha e aprecio este jogo. “Você sempre bebe antes de ter um jogo?” Ela acena para meu copo. “Só quando estou celebrando.” “E o que exatamente você está celebrando, Easton?” Juro por Deus, o tom ofegante em sua voz é como unhas arranhando suavemente sobre as minhas bolas. É tão sexy. “Nós vamos chegar a isso em um momento,” murmuro apoiando meu cotovelo na parte de trás da cabine. Corro o dedo sobre o meu lábio inferior. Preciso de algo para ocupar minhas mãos, uma vez que tudo o que elas querem fazer é tocá-la. “E quanto a você? O que te traz à cidade?” “Eu sou uma confeiteira.” Meu riso é alto, mas ela mantém personagem. “O que é que você assa, Kitty?”

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“Brownies.” “Brownies?” “Uh-huh.” “Você sabia que por acaso eu adoro brownies?” Digo quando cedo ante a tentação e a toco. Minha mão fica em sua coxa e, inferno, se tocá-la não me faz querer acelerar este jogo apesar da promessa para levar isso lento. “Você gosta? O que é exatamente você ama sobre eles?” Permaneço olhando para seus lábios enquanto ela fala e imaginando eles em torno do meu pau. O batom vermelho deixando um anel como uma marca. “Eu gosto da massa,” digo e olho ao redor do restaurante para garantir que estamos fora do alcance da vista, porque eu não posso segurar mais. Ela está aqui, ao meu lado, jogando este pequeno jogo tímido e caralho se não vou agir sobre isso. Que homem não gostaria? “A massa?” Ela se vira um pouco, assim como faz na cabine da minha caminhonete com seu joelho dobrado no assento e seu corpo inclinado em minha direção. E é claro que eu olho para baixo. Preciso. Coxas bronzeadas e tonificadas me cumprimentam. Minha boca enche de água. Meu pau endurece. Meu controle é testado. “Mm-hmm,” murmuro quando coloco minha mão bem onde eu quero correr a minha língua — até o interior de sua coxa — e deslizo para cima, sua saia subindo junto. Seu corpo fica tenso e eu amo que ela me quer tanto quanto eu a quero. Sexo pelo Skype é divertido. Assistir ela gozar é quente. Mas não é a mesma coisa. Não como isso. O toque. O perfume. A reação. Nem um pouco.

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“Eu gosto de mergulhar meu dedo nela.” Puta. Merda. Meus dedos esfregam suavemente sobre a sua buceta e tudo o que sinto é o calor de sua pele. Ela não está usando calcinha. Sua respiração falha. Seus dedos apertam a toalha da mesa. Suas pernas separam um pouco mais. “Em seguida, trabalho em torno das bordas da tigela coberta com a massa.” Eu deslizo o meu dedo entre os lábios e dou um gemido quando eu a encontro totalmente molhada. Sua boca se abre. Suas coxas apertam enquanto eu mergulho meu dedo dentro dela. “E então eu gosto de colocá-la na minha boca. Chupar tudo.” Corro o meu dedo novamente para alcançar o seu clitóris. Suas mãos fecham em punho. Seus quadris levantam ligeiramente até que suas coxas batem na parte de baixo da mesa implorando por mais e eu faço exatamente o que eu disse. Puxo minha mão e coloco o dedo na minha boca. Puta que pariu. Seu gosto. É o suficiente para enlouquecer um homem sensato. Acrescente a isso o olhar em seu rosto — puro sexo — e sei que a nossa farsa acabou. Inclino-me para frente e pressiono meus lábios nos dela. Um beijo provocante que me dá uma dica do que eu tenho perdido e reafirma que preciso do resto. Agora. “Acredito que quero mais dessa massa, gatinha Kitty,” murmuro contra seus lábios. “Sendo você um homem de ação, eu sugiro que pegue o que quiser.” “Não aqui,” eu digo, amando como seus cílios piscam alerta. “Este lugar é muito respeitável para as coisas que eu planejo fazer com você.” “Oh.” “Você perguntou o que eu estava celebrando, agora é a hora de mostrar.”

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Jogo algumas notas sobre a mesa, pego sua bolsa do assento e com a mão na minha, tento andar o mais discretamente possível com uma ereção do tamanho do Texas. Entramos em um elevador e no minuto as portas se fecham, eu estou nela. Lábios e língua e mãos e corpo. Somos uma massa de vontade, necessidade, desejo e ganância. Pressionando contra a parede, é como se eu não pudesse chegar perto o suficiente dela. Minha mão está sob sua saia. Minha língua entre seus lábios. Sua mão pegando o meu pau. O elevador para no meu andar. A campainha apita. Chocados nos afastamos rápido com a expectativa de sermos flagrados. Felizmente, quando as portas se abrem não há ninguém lá. Com a mão na minha, seguimos para o meu quarto. Nós não falamos. Movimentos rotineiros parecem difíceis quando estou chapado com o maldito gosto dela. Penso em ações. Uma após a outra. Um pé na frente do outro. Cartão de acesso. Luz verde. Maçaneta. Gire. E no minuto que a porta fecha atrás de nós, continuamos o que começamos. Somos um frenesi de roupas saindo e lábios tentando se encontrar no meio. Nós somos um rosário de frases entrecortadas. Meu Deus. Senti sua falta. Rápido. Não posso esperar mais. Isso é bom. Oh Deus. Agora. Agora mesmo. Que se foda essa merda lenta. Serei implacável. Meus dedos estão em sua buceta. Suas unhas estão cavando em meus ombros.

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O orgasmo é o meu jogo final. Minha língua deslizando sobre ela. Provocando seu clitóris. Manipulando seu ponto mais sensível. Em seguida, deslizando dentro dela. O seu sabor é minha própria fixação. As marcas de arranhões nas minhas costas é o único troféu que preciso. Meu pau deslizando entre seus seios. Em seguida, seus lábios em torno dele. Sugando. Trabalhando nele. Suas unhas provocando minhas bolas. Um vale tudo. Afasto suas coxas. Enterro meu pau nela. Penetrando até seus músculos tensos. Sua buceta pulsa. Seu gemido enche a sala. Uma corrida até o fim. A onda de prazer. O aumento de minhas bolas impulsionam o meu pau. Minha visão fica manchada. Minha cabeça fica tonta. Seu nome em meus lábios. E então, quando nos recuperamos, começaremos outra vez. Talvez então eu possa ir devagar. Talvez então eu não me sinta tão fora de controle. Talvez então eu comece a ter minha dose completa dela. Então, novamente, talvez não. Esta é Scout, depois de tudo.

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CAPÍTULO 19

“Teremos todos os tipos de primeiros hoje,” brinco enquanto caminhamos de mãos dadas, através das entranhas do Yankee Stadium12. “Teremos sim.” Ele ri. “Sexo no hotel para o número um.” Dou uma palmada nele. “Não foi isso que eu quis dizer, seu pervertido.” “Embora seja verdade.” “É, mas estou me referindo mais a isto.” Aperto a mão dele e paro de andar forçando-o a fazer o mesmo, as nossas mãos ficam estendidas entre nós. “Eu consegui te ver antes de um jogo e desejar boa sorte.” Seu sorriso é tímido e convidativo e me pergunto se alguma vez chegará um momento em que ele me olhará assim e borboletas não se agitarão dentro de mim. Easton puxa minha mão e me coloca entre seus braços. “Isso é um primeiro muito bom,” ele diz tirando uma mecha de cabelo da minha testa e prendendo-a atrás da minha orelha. Mas é a maneira como ele olha para mim — como se pudesse 12 O Yankee Stadium é o palco dos jogos de basebol do New York Yankees quando atua como mandante das partidas em sua cidade, Nova York.

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ver minha alma — que me enfraquece e me revigora de uma maneira que nunca pensei que seria possível. “Posso imaginar outro primeiro.” “O que seria?” Ele se inclina e me beija. Um breve toque de línguas. Uma rápida perda de fôlego pelo soco de emoção que ele envolve naquele beijo carinhoso. Quando Easton se inclina para trás e eu fico em minha ponta dos pés, seu sorriso está no território megawatt. “Eu posso te beijar. Em público. Sem me preocupar com quem vai ver ou qual cláusula do contrato vamos violar —” “Violador de regras,” provoco, mas percebo que ele está certo, e o beijo outra vez. “Só quando se trata de você.” Nós olhamos um para o outro por um segundo, com sorrisos vertiginosos em nossos rostos que parecem ridículos, mas não conseguimos controlar. “Você vai ficar bem?” Ele pergunta, referindo-se ao fato de que vou me sentar sozinha na arquibancada. “Quem eu?” Dou risada abrindo meus braços. “Estádios são a minha segunda casa.” “Desculpa. Como eu poderia esquecer?” Dou alguns passos para trás, meus dentes afundados no meu lábio inferior quando olhamos um para o outro antes que ele balance a cabeça, então se vira e anda pelo corredor em direção ao vestiário. “Ei, espertinho.” Ele se vira. Olha para mim. “Tenha um jogo, pode ser?” Aquele sorriso retorna com força total. “Sempre.”

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Os acordes do hino nacional terminam e de alguma forma, em toda a multidão, Easton me encontra no banco, ele foi capaz de me colocar no setor de visitantes ao lado do home plate. ‘O mais próximo que você pode ficar de mim sem ser no campo’, ele disse. E quando dou risada, sua resposta foi ‘você é minha por apenas quarenta e oito horas e eu não vou perder um único minuto ficando separado de você’. Para um homem que não lê romances, ele sabe como me fazer derreter. Nossos olhos se encontram, ele tira seu boné e balança a cabeça, um leve sorriso nos lábios antes de correr fora do campo para o abrigo dos reservas. “Ele é uma pessoa diferente com você, sabia.” Assustada, eu viro para a esquerda e encontro Finn sentado lá. Imediatamente minhas defesas se erguem em descontentamento e a falta de confiança dispara em todos os sentidos com a simples visão dele. “Ninguém te perguntou.” Ele ri e eu me esforço para manter o controle. “Posso dizer que você está emocionada por me encontrar aqui.” “Não é da minha conta se você está aqui ou não.” Viro-me para assistir o jogo. O primeiro arremesso é lançado. Um arremesso válido que parece ter saído baixo e questionável e Johnson, o jogador dos Wranglers, com o bastão, se sente da mesma forma pelo jeito que olha para trás para o árbitro do home plate. “Bons lugares, hein?” Porcaria. Isso significa que ele fez isso para Easton, em vez de me fazer sentar no setor para familiares, que normalmente tem os bons lugares. Eu engulo de volta o meu sarcasmo e o substituo com boas maneiras. “Obrigado. Sim, eles são.”

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A multidão aplaude quando Johnson elimina um rebatedor e corre de volta para o abrigo de reservas. Eu mantenho meus olhos lá, estudo Easton sentado no banco com seus protetores de pernas, a forma que ele ri sobre algo que um de seus companheiros de equipe fala. É o aquecimento para vê-lo em seu elemento e detonando com tudo isso. As próximas duas saídas acontecem rapidamente e os ciclos das entradas a partir do topo para o final da lista de jogadores acontecem normalmente. Easton corre para o home plate, totalmente concentrado e eu tenho que dizer que é sexy como o inferno assistir um homem fazer o que ele faz de melhor. Especialmente quando Easton agacha e me dá uma visão de sua bunda perfeita. “Posso perguntar o que tem em mim que te irrita tanto?” Finn finalmente pergunta depois da minha recepção totalmente fria. “Só se você quiser que eu seja honesta.” “Não é um ato, não é? Você realmente não gosta de mim.” Viro-me para olhar para ele e balanço a cabeça. Ele não se intimida com o meu olhar, apenas o mantém sem vacilar. “Eu não confio em você. Qualquer agente que diz ao seu cliente para assinar um acordo como você fez com Easton, não está zelando pelo seu cliente, mas simplesmente o largando por conta própria. A questão é qual é exatamente o seu interesse? Você recebe sua comissão de quinze por cento, independentemente de onde Easton jogar, então por que dar-lhe maus conselhos a menos que você e Tillman tenham algo acontecendo em paralelo?” Ele levanta as sobrancelhas e toma um gole lento de sua cerveja, então olha de volta para o jogo que se desenrola diante de nós. Ele observa Easton arremessar para a primeira base e quase apanhar o corredor levando uma generosa vantagem na base.

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“Entendo.” É tudo o que ele diz, mas sua expressão diz muito mais que eu não consigo decifrar. “Você está tentando me dizer que algo diferente aconteceu?” Desta vez, quando ele se vira para mim, seus olhos são mais duros e há uma acidez na voz. “Só para que fique claro, Tillman é um filho da puta e eu espero que ele receba o que eu acho que chegará para ele. No que diz respeito à Easton, ele é como um irmão para mim. Eu nunca faria nada para machucá-lo ou a sua carreira intencionalmente. Você não tem que gostar de mim. Você não tem que confiar em mim. Tudo o que importa é o que Easton acha. Enquanto nós dois estivermos torcendo pela mesma coisa para ele — sucesso, saúde, uma longa carreira, felicidade — isso é tudo que importa.” A emoção em sua voz me surpreende e não há realmente nada mais que eu possa dizer para refutar o que ele diz. Porque é verdade. Eu não tenho que gostar dele para amar Easton.

Meu joelho sacode para cima e para baixo. Minhas mãos estão entrelaçadas. Finn está sentado na borda do seu assento. Tensão enche as arquibancadas. O placar está empatado com apenas um para cada e o arremessador dos Wranglers estragou as coisas logo no início do ciclo. Seus arremessos não atingiram os pontos que eles precisavam para bater e agora depois de duas rebatidas ainda há corredores na primeira e terceira base. Isso significa que o corredor na primeira vai roubar a base. Com menos de dois eliminados, o apanhador não pode arriscar arremessar para a segunda base e tirar o corredor dela,

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porque isso significa que o corredor na terceira pode tentar marcar é muito arriscado. Não é qualquer apanhador também, mas Easton Wylder é Easton Wilder. Finn sabe disso também. Isto é o que o distingue dos bons apanhadores e faz dele um dos grandes. Sua arrogância. Sua crença justificada em suas habilidades. Sua confiança em seu corpo. Eu estudo Easton. Sua postura atrás do home plate com uma mão enfiada nas costas, os dedos se contraindo em antecipação, esperando a bola ser lançada para que ele possa fazer o que faz melhor. O arremessador verifica os dois corredores na primeira e terceira para tentar impedi-los de ficar muito longe da base. Ele finaliza. Ele arremessa. Com reflexos rápidos, Easton joga a bola com precisão a laser para a segunda base. A eliminação é feita. O corredor está fora. E antes que o árbitro termine de jogar o polegar de volta em sinal de ‘você está fora’, o interbase está jogando de volta para o home plate onde o corredor da terceira base corre para baixo da linha em direção a Easton. Ele pega a bola dividida segundos antes que o corredor bata com força total. Easton é derrubado no chão com o corredor em cima dele, mas segurando a bola firmemente. O árbitro assinala fora e eu pulo do meu assento torcendo como uma louca em um estádio cheio torcedores dos Yankees. Faço um high Five com Finn. Ele assobia para celebrar. Mas é quando eu olho para trás em direção ao home plate, que o meu coração cai. Easton ainda está sentado lá. Seu protetor de

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peito está sendo retirado dele. Seu rosto uma máscara de dor que eu já vi antes. "Não. Não. Não.” Estou fora do meu assento voando pelo corredor com a necessidade de chegar a ele quando eu não tenho ideia para onde ir. Tudo o que sei é que preciso chegar lá agora. “Finn, onde? Diga-me onde? Me leve até ele.” Ele corre em minha frente, tecendo dentro e fora de fãs, enquanto cada parte de mim rejeita o que eu acabei de ver. Parece uma eternidade, mas são só alguns minutos antes que fiquemos sem fôlego enquanto descemos em um elevador. Quando a porta se abre um guarda de segurança está lá. “Eu sou o agente de Easton Wylder. Ela é a sua fisioterapeuta pessoal. Precisamos chegar até ele agora.” Ele nos olhos enquanto minhas mãos tremem, tentando pegar em minha bolsa o passe que Easton me entregou mais cedo. Isso não pode estar acontecendo. “Aqui,” grito quando encontro e seguro para que ele veja. Antes que ele tenha uma chance de responder, corro pelo corredor e sou seguida por Finn em direção ao vestiário. O ombro dele estava bom. Forte. Não pode estar acontecendo de novo. Por favor, não volte a acontecer. Posso ouvi-lo antes de vê-lo. Seu grito de dor. Seu gemido ‘Porra’. E quando abro a porta, meu coração despenca. Ele está em uma maca, com o rosto distorcido em agonia enquanto o médico da equipe avalia seu ombro. “Easton.” É a única coisa que eu digo enquanto encosto ao seu lado.

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“Quando joguei... eu senti rasgar,” ele diz, um homem crescido reduzido a lágrimas. Mas essas lágrimas não são de dor. Eles são de um homem valente aterrorizado possibilidade de perder a única coisa que já conheceu.

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CAPÍTULO 20

A dor, é brutal. Eu detono um Oxycodona. Ele entorpece temporariamente. A cirurgia foi um sucesso. A voz do Dr. Kimble toca nos meus ouvidos. O olhar de esperança no rosto de Scout está fresco em minha mente. Mas já faz uma semana e a dor ainda é tão cruel. Os aplausos do estádio fora do meu apartamento são a porra de um tapa na cara, toda vez que os escuto. As notas de abertura de Welcome to the Jungle13 ecoam até onde estou sentado. Os fogos de artifício da parede do campo esquerdo no final de uma vitória. Todos são lembretes do que estou sentindo falta. O que estou perdendo. “Você tem certeza que está bem?”

13

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Musicà tocàdà em càdà evento no estàdio do seu àntigo clube, o Austin Aces.

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Olho para o meu pai que está agindo como uma maldita babá. Como se isso não fosse humilhante. Mas Scout está no trabalho — com o Aces — e eu estou aqui. Quebrado. Ferido. Completamente fodido e sentindo pena de mim mesmo. “Eu tenho algumas notícias que podem animá-lo,” ele diz tentando parecer otimista. “Nada vai me animar a menos que você me diga que Santiago foi atingido por um ônibus. Ele é a razão para tudo isso. Ele começou a reação em cadeia. O filho da puta.” A cabeça dele balança com a minha honestidade e eu realmente não me importo. Eu estou em um lugar ruim. Eu caí no maldito buraco do coelho fodido e se eu continuar devorando estes Oxys, eu posso querer ficar por lá. “Não foi assim que te criei.” O aviso é dado e é preciso toda a minha restrição para dizer que você não me criou em tudo, a minha mãe o fez. Mas estou lúcido o suficiente para saber que é uma atitude idiota, então mordo a minha língua e resisto a atirar minha miséria sobre ele. Quando não digo mais nada, ele continua. “Eu acho que Boseman vai demitir Tillman.” Eu deveria estar feliz com este anúncio, me sentir vingado, mas tudo o que sinto é despeito. “Um pouco tarde demais para mim. Não é como se isso fosse me ajudar. Além disso, ele é outra pessoa que precisa ser atropelado por um ônibus,” eu digo, sem remorso, os comprimidos começam a fazer efeito, começam a me relaxar, mesmo que tudo o que sinto seja raiva. “Filho.”

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“Nada de filho. Nem porra nenhuma. Você me escutou? A sua cabeça estava tão enfiada no rabo dele que estou muito surpreso por você não está olhando através do seu umbigo. Você não tem o direito de me censurar.” “Eu vou te dar isso. Só desta vez,” ele zomba. “E relevar por causa dos medicamentos e pela dor. Mas você precisa lembrar com quem está falando, sendo você um homem adulto ou não.” Encaramos um ao outro — essa expressão calma, passiva que é tudo menos o argumento que estou apontando para ele. “Desculpe, não posso ser tão perfeito como você.” Sua risada é tingida com um sarcasmo que não entendo. “Sou tudo menos perfeito, Easton. Quanto mais velho fico, mais aparente isso se torna.” Um rugido mudo de aplausos filtra através da janela do estádio. Eu cerro os dentes e aperto meus olhos fechados por um momento enquanto eu tento encontrar civilidade. Não é uma tarefa fácil nos dias de hoje. “Pai, eu estou bem. Scout vai voltar daqui a pouco. Você pode ir.” “Não acho que seja —” “Tudo o que eu farei é dormir. Por favor.” Todos precisam me deixar em paz. “Tem certeza disso?” “Sim." Ela protela um pouco, tenta enrolar, mas finalmente, as portas do elevador se fecham. Silêncio. Finalmente.

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Outra pílula de Oxy. Fecho os olhos e espero que a calma me alcance. O lado positivo disso é que estou de volta a Austin. Estou com Scout. Eu consigo dormir na minha própria cama. A desvantagem, eu não posso nem segurá-la. Vejo-a sair para trabalhar todos os dias para aquele filho da puta que me ferrou. E não consigo jogar o jogo que eu amo até a próxima temporada Frustrado. Temperamental. Puto. Eu mudo para a cadeira junto à janela para ver o que eu não posso ter. A única boa notícia do dia é que a Maldita Má Sorte levantou sua cabeça. Vamos torcer para que ela encontre força total em Tillman. E talvez ela faça um pequeno desvio e resolva o placar com o Santiago.

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CAPÍTULO 21

Ele está sentado no mesmo lugar em que o deixei. Com a mesma roupa de ontem. Eu tenho que fazer alguma coisa para tirá-lo dessa merda. Faz duas semanas e todos os dias ele parece se tornar cada vez mais deprimido “Ei.” Jogo minhas chaves no balcão e pego o frasco de Oxy, calmamente contando quantos ainda estão no frasco para me certificar de que ele não está supermedicado. “Ei.” Nenhuma emoção. Nada. Três comprimidos estão faltando. Eu posso lidar com esse número. Apenas uma coisa a menos para me preocupar quando se trata dele. “O que você fez hoje?” “A mesma merda. Apenas o dia diferente,” ele responde com o sarcasmo tingindo seu tom. Aproximo-me de onde ele está sentado em sua cadeira bem em frente à janela e passo a mão pelo seu cabelo com os meus dedos coçando suavemente o seu couro cabeludo.

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“Que tal se vestir e ir buscar alguma coisa para comer?” Sugiro, assim como eu fiz há dois dias. “Eu não estou com fome,” ele resmunga. “Que tal assistir a um filme?” “Estou farto de ver televisão.” Eu ando para sua frente, coloco minhas mãos em meus quadris e olho para ele. Easton não levanta a cabeça. Ele não encontra os meus olhos. É como se eu nem estivesse presente. Frustrada, preocupada com ele e precisando ficar perto de alguma forma, eu tento a única coisa que resta e que consigo pensar. “Eu tenho uma ideia,” digo com um sorriso em meus lábios e a sugestão atada ao meu tom. Coloco minhas mãos nos braços de sua cadeira e abaixo para lhe dar um beijo. “Não.” A mão em seu braço bom levanta e me empurra. Tropeço alguns passos para trás. Constrangimento mancha minhas bochechas, enquanto as lágrimas queimam quente em meus olhos. Meu queixo treme quando tento combater a humilhação e luto para lembrar que ele está fora de si e que esse não é realmente ele. Mas ainda dói. “Eu sei que você está lutando com isso, Easton. Sei que você está chateado com o mundo e com o seu corpo... mas eu estou aqui. E não tenho nenhuma ideia do que fazer mais para ajudá-lo.” Ele finalmente levanta os olhos para encontrar os meus. Eles estão frios e sem qualquer emoção. “Seu corpo eu posso ajudar a curar” — seu riso é alto e condescendente — “mas a sua mente? Eu não posso te ajudar nisso se você não diz o que você precisa de mim.” “Eu não preciso de você pra nada.” E essas palavras só servem para me cortar mais fundo.

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“Você se recusa a ir a qualquer lugar perto das janelas quando eu estou em casa. Você diz que não quer ser lembrado do que você está perdendo e ainda assim cada vez que volto para casa, você está sentado aí, olhando exatamente para isso. Você não sai. Você não fala comigo. Você não faz nada. Já se passaram duas semanas desde a cirurgia e eu ainda estou dormindo no quarto de hóspedes.” Estou lamentando. Eu sei que estou, mas somente porque estou muito preocupada e sinto a falta dele desesperadamente, mas me sinto completamente impotente. “Você não entende,” ele finalmente diz com o olhar ainda fixo na vista da parede de vidro. “Você está certo,” digo, caindo de joelhos na frente dele. “Eu não entendo. Então me ajude a entender. Por favor, Easton. Só me deixar entrar.” “Eu disse que não preciso de nada e eu quis dizer isso.” Suas palavras ferem independente de quantas vezes ele repita. “Eu acho que você deve conversar com Finn e considerar a oferta,” digo, tentando fazê-lo se concentrar em algo diferente do lugar que ele está perdido. “Você também acha que dar um passeio vai fazer tudo melhorar. Por que não beija meu dodói enquanto você está nisso? Tenho certeza que vai fazer milagres e me curar. Certo?” “Não seja um idiota.” “Então não aja como minha mãe.” Seus olhos encontram os meus. Eles são duros, com raiva e inflexível. “Acho que vou dormir na minha casa esta noite.” Prendo o soluço que ameaça sair. “Boa ideia,” ele zomba e depois olha para trás em direção à janela, efetivamente me dispensando.

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Eu fico lá por um instante, na esperança de que ele se desculpe por ser um idiota, que ele me peça para ficar, mas ele não faz nada disso, então eu saio. Quando saio do edifício, paro indecisa, mas em última análise decido andar alguns quarteirões até em casa, para tentar arejar a cabeça e aliviar a dor. Enquanto eu sei que ele está tendo um tempo difícil, aliado ao fato de que ele deu o máximo para voltar ao jogo e logo em seguida ser afastado, justamente no momento em que estava fazendo um retorno assassino, me faz não ter a mínima ideia de como lhe mostrar o lado bom das coisas. Eu preciso tirá-lo dessa depressão. A cada passo, percebo que tenho uma ideia de como ajudá-lo. Eu disco o meu celular. “Scout?” “Ei, Drew.” “Como está o idiota?” Dou risada porque ele não tem ideia de como está certo. “Se você quer saber a verdade, agora ele foi promovido ao status idiota do caralho.” “Ohh. Tão ruim, hein?” “Sim,” digo sabendo que pareço estar brincando. A dor ainda é real, no entanto. “Eu acho que ele precisa de alguma intervenção de testosterona.” “Nós tentamos. Liguei ontem o convidando para sair com a gente depois do jogo. Eu mesmo ofereci o meu serviço de motorista, mas ele recusou.” “Isso é porque você dirige como um louco.” Eu ri. “Todo homem tem de ter uma raia selvagem.” “Oh, por favor.” Olho em volta enquanto me aproximo da parte de trás do estádio, a marca de meio caminho entre nossas

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casas. “E se você levar a festa para ele? Ele não sairá de casa. Eu tenho certeza que ele não quer que as pessoas o vejam com sua tipoia ou se ele realmente está chateado com o mundo... mas ele continua me afastando e...” Minhas palavras desaparecem e eu tento lutar contra as lágrimas. No entanto, tenho certeza que ele pode ouvi-las no vacilar da minha voz. “Você está bem, Scout?” A preocupação inunda sua voz. “Sim. Vou ficar. Tivemos uma briga e eu só preciso de uma pausa por esta noite.” “Tem certeza?” “Sim.” Limpo minha garganta. “Sim. Estou bem.” “Vá para casa. Saia com seus amigos. Faça alguma coisa e deixe o filho da puta por nossa conta. Vou ligar para Tino e JP e recrutar outros. Vamos com tudo. Ele não será capaz de recusar um pacote de nós. Além disso, temos uma longa viagem de avião amanhã para recuperar o sono.” Eu estou distraída por algo à minha esquerda através da abertura estreita da parede exterior. Por um instante acho que vejo Cal e Santiago falando no estacionamento do estádio. “Obrigado, Drew,” digo distraída dando um passo para trás para olhar novamente. Mas quando olho novamente, é apenas Cal com as mãos em seus quadris e uma expressão que não consigo entender a distância.

Eu acordo. Estou desorientada. Estou no sofá. Meu sofá. Não o de Easton. Meu pulso acelera enquanto tento descobrir com o que sonhei.

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E assim que meu coração começa a se acalmar, há um tilintar na minha janela. Isso me assusta pra cacete, mas também me faz pensar que não estava tendo qualquer pesadelo e foi isso que me acordou. Olho para o relógio — são três da manhã — e pego meu celular na mesinha ao meu lado, pronta para discar 911. Estou exagerando? Por chamar a polícia quando há um galho batendo na janela ou alguma bobagem do tipo. Assim, enquanto eu tento me convencer dessa teoria, o barulho acontece novamente — tink — mas desta vez são várias ao mesmo tempo, quase como se... Mas que diabo é isso? Levanto do sofá, agacho e rastejo até a janela. Eu provavelmente pareço ridícula, mas não mais ridícula do que pensar que há alguém jogando pedras na minha janela nas primeiras horas da manhã. Quando puxo as cortinas para olhar para fora, o ruído bate outra vez. Estou assustada com isso e fico surpresa quando olho para fora e vejo Easton em pé no meu quintal. Abro a janela em um segundo. “Easton. O que você está — são três da manhã.” Sua risada flutua até onde estou e tão louca quanto estou com ele, esse som é muito bem-vindo. “Você sabe o quão patético eu sou?” Ele pergunta, mas termina a pergunta com mais risos enquanto tropeça e afirma minha suposição de que ele está muito mais do que um pouco bêbado. “Nem sequer posso ser um Romeu decente. Você está apenas no primeiro andar e eu não consigo jogar pedras para o alto, porque tenho que usar a mão esquerda. Como você pode ver, minha pontaria canhota é uma merda.” Estou no segundo andar, mas acho que ele teve uma noite boa o suficiente com os caras para esquecer como contar corretamente. Eu prendo o sorriso no canto dos meus lábios, assim como ele estar aqui puxa as cordas do meu coração.

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“Adivinha o quê?” Ele pergunta baixando a voz para um sussurro como se contasse um segredo. “O quê?” “Eu estou bêbado pra caralho.” Sua risada ecoa. “Mas eu precisava vir aqui. Para te ver. Você sabe que você mora muito longe de mim? Muito longe. Longe demais. É por isso que você precisa desistir de seu contrato porque é longe demais para andar quando se está bêbado. E eu estou bêbado. Espere, onde eu estava?” Ele coça a cabeça com seu braço bom e parece um garotinho que acabou de acordar de um sono pesado — seu cabelo está uma bagunça, suas roupas estão amarrotadas e um sorriso tímido está em seus lábios. “Oh. Sim. Explicando. Eu precisava vir aqui para me desculpar. Desculpas? Essa é a palavra certa? Sim. Eu acredito que é.” Não posso deixar de rir. Ele parece adorável e eu juro que ele está realmente sorrindo pela primeira vez desde a sua lesão em Nova York. “E então você decidiu caminhar até aqui. Você poderia ter ligado, sabia?” “Não. Não é bom o suficiente.” Ele balança a cabeça um pouco demais e em seguida, basicamente ri quando o mundo em torno dele gira por causa do álcool. “Eu queria tentar ser como um de seus livros de romance, então decidi vir e olhar para você em sua varanda.” “Mas eu não tenho uma varanda.” Isto é muito divertido, ele é muito divertido, para não lhe dar um pouco de dificuldade. “Onde está sua imaginação? Finja, você pode?” “Ok. O que é que eu vou fingir? Que estou em uma varanda agora?” “Isso me faz parecer com Romeu.” Ele vira seu cabelo com a mão fingindo ser longo. “Eeeewwww.” Dou risada.

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“Você está arruinando a cena que eu estou desenvolvendo.” Ele repreende. “Sim. Desculpe.” Tento manter uma cara séria, mas é incrivelmente difícil de fazer quando ele é tão amável “Continue. Por favor.” “Como eu estava dizendo, eu pensei que deveria atravessar toda a cidade e dizer, Scout, eu fui um pau. Um grande, gordo e peludo. Não um depilado. Do tipo que é tão nojento que você tem pentelhos em seus dentes e não pode tirá-los.” Oh. Meu. Deus. Eu me curvo de tanto rir. Lágrimas caem dos meus olhos de tanto que eu rio e tento absorver o que ele diz. É um desastre de trem hilariante e tudo o que fico pensando é que espero que meus vizinhos não estejam ouvindo nada disso. Quando eu paro de rir e posso manter uma cara séria, ele está ali com as mãos em seus quadris e suas sobrancelhas levantadas silenciosamente perguntando se eu já acabei. “Sinto muito. Eu não tive a intenção de rir de você.” Falo abafando o riso. “Mas como exatamente você sabe sobre os pentelhos de um homem em seus dentes?” “Oh. Deus. Não.” Então seus olhos se arregalam quando ele percebe o que ele disse e como isso soou. “Eu estava apenas falando. Não de conhecimento. Isso é só... estou fazendo algo aqui. Estou me desculpando, certo?” Ele é tão adorável. “Há apenas um problema com o seu pedido de desculpas, Espertinho.” “O que é isso?” “Romeu e Julieta se matam no final.”

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“Oh.” Seu rosto é uma imagem de choque e independente do quanto ele tenta conter sua própria risada, os risos escapam novamente. “Eu acho que isso mostra que não consigo ler merda nenhuma.” “Vamos apenas dizer que os detalhes não são o seu forte.” Ele dá de ombros. “Ei, Scout.” Sua voz é mais grave agora e atrai minha atenção. “Ei, Easton.” “Eu te amo.” E lá vai ele roubar meu coração novamente. “Você está perdoado.” “Bom,” ele diz animadamente enquanto meio que corre, meio tropeça até as escadas para minha porta da frente. “Porque quando este álcool queimar, meu braço vai doer como um filho da puta, e com certeza vou precisar de suas habilidades de fisioterapia.” “Oh sério?” “Sim.” Ele olha de volta para mim. “De preferência, o tipo de habilidade vestida com um uniforme branco bem apertado com um zíper frontal e um monte de decote. Oh, e ligas. Ligas me excitam.” Deixo a janela enquanto ele divaga e desço correndo. Quando abro a porta, ele está olhando para mim — e meio grogue — mas ele ainda é a melhor coisa que eu vi o dia todo.

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CAPÍTULO 22

“Só checando para ver como você está?” “Eu estou bem, Scouty-girl. Bem.” “Mentiroso.” “Talvez.” Sua risada é interrompida por um acesso de tosse. “Como está indo o programa?” Olho para os gráficos e os quadros que tenho forrando minhas paredes de escritório e dou um sorriso. “Bem.” Eu acho. “Tenho Ramos viajando com a equipe para que eu possa ficar e trabalhar com Dillinger e Wiseman.” E para estar em casa apenas no caso de você precisar de mim. “O joelho e o cotovelo.” “Sim.” Balanço minha cabeça em nossa forma abreviada. “Eu quero ser a única a acompanhá-los após a cirurgia.” “E tenho certeza que você enviar Ramos na viagem teve absolutamente nada a ver com Easton ainda estar na cidade.” Eu sorrio. Suspiro. E então minto. “De modo nenhum.” “Eu vou começar a acreditar quase ao mesmo tempo em que você começar a acreditar que estou indo muito bem.”

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CAPÍTULO 23

“Não se esqueça de nos avisar sempre que você precisar de uma pausa de East,” Tino chama do vestiário enquanto eu saio. “Nós tivemos um grande momento.” JP fala abafando o seu riso. “Eu não quero saber,” digo com as mãos para cima em sinal de rendição simulada. Já estive em clubes suficientes para não ficar chocada com o que eles estavam falando. Além disso, a ignorância é uma bênção. E, no entanto, quando passo pela porta, eu não posso evitar o sorriso automático lembrando como essa noite terminou. Com Easton na cama comigo pela primeira vez em duas semanas. Claro que ele estava apoiado em todos os tipos de travesseiros para aliviar qualquer pressão sobre os músculos e os tendões lesionados, mas ele ainda estava na cama ao meu lado, seus dedos ligados aos meus. “Privilégio não garante que você possa lidar com o esporte.” Escuto a voz de Cal antes de vê-lo. E quando me aproximo, estou surpresa ao ver Santiago à sua frente. Eles se assustam quando me veem de pé lá, mas não há como apagar a tensão que se agarra no ar entre eles.

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“Tudo bem?” Pergunto quando eu sei muito bem que a conversa não é da minha conta. “Sim. Tudo bem,” Cal diz, dando um passo em minha direção. “Só discutindo uma questão de equipe.” “Oh.” Meus olhos voam de Cal para Santiago e depois de volta para Cal, incerta se eu acredito no que ele disse. “Ok.” Que diabos foi isso? A troca ainda está na minha mente enquanto vou para casa, mas provavelmente estou fazendo mais dela do que realmente há. Talvez Cal estivesse defendendo Easton. Talvez ele estivesse dizendo a Santiago que ele nunca será capaz de ocupar o lugar de seu filho. E talvez os porcos possam voar. Dou risada com o pensamento enquanto espero educadamente a menina da irmandade sair do elevador, acenando para ela um breve olá, antes de entrar e virar a chave no painel para me dar acesso à cobertura. Só quando eu entro no apartamento que percebo o quanto estou exausta. Encontro Easton lendo alguns papéis no sofá, então largo a minha bolsa no balcão e sigo em direção a ele. Assim que me vê ele joga seus papéis na mesa e sorri “Oi.” “Oi.” Ele parece tão convidativo que logo sento e me enrosco ao seu lado da melhor forma que posso sem machucar o seu ombro. “O que está lendo?” Pergunto. “É, uh... nada. Eu estou apenas olhando alguns dos mostruários e novos panfletos para os próximos projetos para o Centro de Alfabetização.” Ele pressiona um beijo no topo da minha cabeça. “Acho que eu poderia muito bem fazer alguma coisa enquanto estou lesionado.”

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“É muito honroso da sua parte, Sr. Wylder. E muito sexy.” Ele ri. “Sexy, né?” “Incrivelmente.” “Quanto sexy?” “Pontos brownie apontam bem o tipo de sexy.” “Eu terei que manter isso em mente e usá-lo para minha vantagem no futuro.” Easton ri e me puxa mais apertado contra si e como o silêncio confortável se instala em torno de nós, tudo que eu posso pensar é que ele cheira como casa. Parece estranho, mas depois de viajar tanto em minha vida, e nunca ter nada de permanente, esse é um pensamento bem-vindo. “Eu conversei com Finn hoje.” Prossiga com cuidado. Esse é o meu primeiro pensamento considerando as últimas vezes que ele falou com Finn sobre a oferta em ser um comentarista convidado em um jogo pela Fox Sports, acabou em uma grande discussão. “Você fez?” Pergunto inocentemente. “Sim.” Ele fica em silêncio enquanto enrola uma mecha do meu cabelo. “Eu ainda não decidi o que fazer. Tenho receio que isso soe como se eu estivesse desistindo. A percepção pública é sempre dura... um minuto eles estão fofocando que aceitei participar porque estou acabado e a próxima coisa que você, sabe são, os Wranglers acreditam e desistem... e então eu estou realmente acabado.” “Você está sendo absurdo,” bufo sabendo quão frágil é o ego de um homem, mas também pensando que essas luvas de pelica precisam sair para que ele possa enfrentar a realidade. “As pessoas pensarão exatamente o contrário disso, que você pode estar acabado e nunca mais vai voltar. Mas, em vez disso, vão pensar que você foi muito inteligente em encontrar uma segunda ocupação, enquanto se recupera para a próxima temporada.”

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“Eu acho que você está subestimando quão viciosa a imprensa pode ser.” “Quem se importa com o que a imprensa pensa? Você com certeza nunca deu importância, então por que começar agora?” “Não é assim tão fácil, Scout. Você olha para o mundo através desses óculos cor de rosa.” “E daí? Talvez eu goste de rosa.” Dou de ombros, nem um pouco ofendida pelo meu ponto de vista positivo. “E é fácil. Você fala sobre basebol durante toda a sua vida. Você vai ficar em frente às câmeras e falar sobre a única coisa que você conhece por dentro e por fora. Dê algum comentário brilhante e uma boa visão do jogo e é isso. Eu já assisti diversas vezes você fazer exatamente isso na emissora oficial dos Aces e posso afirmar que você tem um dom natural.” “Isso não é a única coisa que eu conheço por dentro e por fora,” ele ri com a voz repleta de insinuações, enquanto sua mão encontra a curva da minha bunda e aperta. “Verdade,” murmuro com aquela calorosa sensação oscilante retornando com uma vingança, porque ele definitivamente me conhece por dentro e por fora. “Mas não haverá câmeras ou comentários brilhantes em nosso quarto.” “Você é uma desmancha-prazeres,” ele diz brincando. “E você está mudando de assunto.” “Você percebeu?” Rolo meus olhos. “Você tem medo de parecer um inútil, um acabado... que tal começar a olhar por uma perspectiva mais otimista? É visibilidade. É manter seu nome relevante no jogo enquanto você não pode estar em campo. Quem sabe? Talvez ele vá levar a algo que você pode fazer fora do campo quando o seu tempo no basebol acabar um dia.”

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“Depois de basebol é a morte.” “Pare de ser tão dramático. Você sabe que isso não é verdade. Chegará um dia em que você não poderá mais jogar. Por que não começar a tentar descobrir uma maneira de permanecer no jogo, mesmo não jogando?” Ele fica em silêncio e eu sei que isso já despertou seu interesse. “O basebol é tudo o que conheço.” Sua ansiedade é palpável e por mais que tente, não sei como ele não pode ver o que estou tentando dizer. “Esse é o meu ponto. Se é o que você sabe, então tente capitalizar sobre ele e planejar para o futuro.” “É assustador pensar nisso. Sobre o que acontece quando o meu braço apagar de vez e meus joelhos não suportarem mais o abuso. Sobre quando o jogo acabar sabe?" Sua voz é crua com uma vulnerabilidade que eu nunca esperava. “Eu sei,” respondo e pressiono um beijo no centro de seu peito antes de mudar para que possa ver seu rosto. Existem linhas de preocupação que estragam seu belo rosto e que eu gostaria muito poder tirar. “Easton, não há nenhum outro esporte no planeta onde você joga cento e oitenta e seis jogos em uma temporada. Nenhum. Isso é um monte de desgaste em seu corpo. Em algum momento no futuro distante, não valerá mais a pena. Você tem que perceber que há vida após basebol. A questão é, se você quer que uma vida livre e clara sem lembrar o que está perdendo diariamente, ou se você quer ser uma parte dela de alguma forma, porque o basebol sempre estará em seu sangue.” Eu odeio ver as lágrimas brilhando em seus olhos. Odeio saber que ele está tão chateado pela simples menção do fim de sua carreira como jogador. Então, novamente, ele tem vivido neste estado desde o ano passado com um vislumbre cruel da grandeza entre suas

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lesões... Talvez por esse motivo ele saiba muito bem a dor que sentirá quando chegar o momento. O vazio que permanecerá. “Você acha que eu posso fazer isso?” Odeio que um homem sempre tão confiante em si mesmo pareça com um menino agora. “Eu sei que você pode.”

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CAPÍTULO 24

“Ele está dormindo agora. Quer que eu o acorde?” Sim. “Não. Está tudo bem, Sally. Como ele está?” Incomoda a pausa que ela faz antes de responder. “Ele está dormindo mais e mais a cada dia. Eu odeio isso, mas ao mesmo tempo sei que é o único momento que ele realmente se sente em paz. O médico disse que é basicamente o que podemos esperar; Cada vez mais as horas de sono aumentarão enquanto o seu coração enfraquece.” Aperto meus olhos fechados, e respiro fundo para tentar reter as lágrimas. Eu sei a verdade, independente do quanto eu me agarre à esperança. Não quero que ele morra. “Como você está, Sally? Tem certeza que não precisa que eu contrate uma enfermeira para te dar um tempo? Você tem uma vida própria.” “Já lhe disse que estou bem. Além disso, você sabe como ele é teimoso. É um milagre ele mesmo me permitir estar aqui para ajudálo,” ela diz.

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“Eu agradeço. Realmente agradeço. Se houvesse uma maneira de obter este contrato para ele e cuidar dele ao mesmo tempo, eu faria tudo sozinha.” “Eu também o amo, Scout. Você não precisa me agradecer.” E há algo sobre a forma como ela diz essas palavras que faz a primeira lágrima escorregar. É estúpido não pensar neles como um casal, mas encontro consolo em saber que meu pai foi capaz de experimentar o amor novamente depois de dedicar toda a sua vida amorosa a Ford e a mim. “Fico feliz que ele tem você.” Minha voz é apenas um sussurro quando finalmente consigo encontrar as palavras. “E quanto a você? Como vai? Eu sei que você deve estar sob muita pressão para conseguir este contrato para o seu pai. Só sei que ele te ama de qualquer maneira.” Aceno minha cabeça enquanto olho para onde Easton está fazendo a barba na pia do banheiro e sei que o que ela diz é verdade, mas eu ainda gostaria de ouvir isso do meu pai. “Pode... você pode dizer a ele que eu liguei? Não é nada importante. Eu só queria ouvir sua voz.” “Digo sim. Que tal eu colocar o telefone lá com ele? Eu sei que parece bobagem, mas às vezes quando preciso saber se ele está bem, apenas sento ao seu lado e escuto sua respiração. Talvez se você escutar também, isso ajude a colocar um pouco de tranquilidade em sua mente.” Ela tem razão. Parece bobagem e ainda assim eu me encontro dizendo: “Obrigado. Gostaria muito.” “Foi o que pensei. Basta desligar quando você se sentir melhor.” Há um ruído no telefone enquanto ela anda e depois um farfalhar quando coloca o telefone próximo a ele.

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Depois, apenas o som de sua respiração. Ainda é o mesmo guizo somente um pouco mais alto do que da última vez que nos falamos, mas ele ainda está lá. Eu precisava disso. Para saber que ele ainda está comigo. Para saber que o seu coração ainda bate. E, assim como quando eu era uma garotinha assustada por monstros debaixo da cama, eu me aconchego mais profundo debaixo das cobertas e ouço sua respiração para acalmar meus medos. Não posso me aconchegar contra ele e ter a sua grande mão segurando a minha como ele fazia naquela época, mas ainda sinto a mesma sensação. Saber que ele ainda está lá me acalma. Ele me salva novamente das coisas que não quero enfrentar.

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CAPÍTULO 25

“Ei, Scout.” Viro minhas costas imediatamente ao som de sua voz. “O que posso fazer por você, Santiago?” Pergunto enquanto viro o rosto para encará-lo, ninguém nunca deixa as costas para ele por mais de um segundo. “Ouvi dizer que é uma grande noite para o seu namorado. Ele vai tentar se tornar útil.” Na minha visão periférica vejo alguns dos outros caras pararem o que estão fazendo em seus armários e caminhar em nossa direção. “Então você não precisa de nada, ok?” Pergunto colocando uma imagem de inocência. Não vou dar ao cretino o que ele quer — a minha irritação. “Aposto que o papai armou isso para ele. Você não acha? Com todas essas suas conexões, aposto que ele montou isso para o seu menino-prodígio-bonito apenas para manter o precioso nome Wylder no centro das atenções.” “Tenha uma boa noite, então.” Dou um sorriso repugnantemente doce para ele, viro e caminho em direção ao meu

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escritório. Quando dou a volta em minha mesa e me sento, Tino já está em pé na porta. “Você está bem?” “Por mais que eu tente, não sei como você lida em compartilhar o mesmo uniforme com ele todas as noites e muito menos o mesmo maldito campo,” digo. “É um trabalho.” Ele dá de ombros. “Haverá sempre colegas de trabalho que você odeia e você só tem que lidar. Não há mais nada que se possa fazer.” “Fale sobre o espírito da equipe. Vamos Aces!” Com sarcasmo laçado ao meu tom, eu soco meu punho no ar em um falso apoio. “Acredite, a maioria de nós sente o mesmo. Nossa única esperança é que o Boseman expulse o Tillman e em seguida, empurre Santiago atrás dele.” “Dedos cruzados para que ele faça, porque com certeza faria o meu trabalho muito mais fácil.” Ele olha por cima do ombro quando um dos caras ri alto antes de olhar de volta para mim. “Como ele está?” Ele pergunta em voz baixa. “Easton não vai admitir isso, mas acho que ele está nervoso.” “Por quê? Ele fez isso uma centena de vezes antes com o canal local aqui.” “Eu sei.” Relembro as palavras sussurradas de encorajamento que lhe dei enquanto ele me beijava em despedida antes de sair para o seu voo esta manhã. “Mas ele está.” “Antes da viagem esta noite, eu e alguns caras vamos para o Slugger beber alguma coisa e assistir a transmissão em um apoio silencioso a ele. Você é bem-vinda, se quiser.”

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Meu sorriso é automático. “Obrigado, mas ainda tenho algum trabalho para fazer aqui e então provavelmente eu assistirei casa.” “Não pode lidar com toda essa testosterona, hein?” Ele brinca. “Alguns dias, não.”

Meus joelhos sacodem para cima e para baixo enquanto as primeiras notas da abertura da Fox Sports surge na tela. Não são muitas vezes que realmente assisto a um jogo na televisão por pura diversão. Geralmente estou estudando o desempenho de algum jogador que estou reabilitando ou avaliando se preciso modificar alguma coisa no programa deles. Eu nunca propositadamente sintonizo apenas para assistir as emissoras. Mas hoje é diferente. Hoje Easton está dando um grande passo para fora da sua zona de conforto e como disse no texto que lhe enviei há uma hora, eu estou muito orgulhosa dele por fazer isso. As câmeras se movem por todo o campo — a grama verde, linhas totalmente brancas e os jogadores se posicionando em torno — antes que o locutor oficial comece a falar. “Bem-vindo a mais uma noite de verão de basebol aqui na Fox, senhoras e senhores. O céu está claro, a pipoca está estourando e os bastões estão balançando aqui em Amco Park no nacional favorito de toda a América,” ele diz enquanto a câmera muda para mostrar a cabine de transmissão. Eu grito como uma colegial quando vejo Easton. Sei que sou suspeita, mas ele está tão bonito com seu fone de ouvido e um sorriso que só aqueles mais próximos podem

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visualizar o seu nervosismo. “Obrigado por sintonizar. Eu sou Bud Richman e hoje temos um convidado especial, Easton Wylder, do Austin Aces mais recentemente e agora no Wranglers Dallas, para falar com a gente durante o show antes do jogo. Obrigado por se juntar a nós. Como vai o ombro?” “Bem. Curando,” ele diz enquanto corre os olhos entre as câmeras e Bud. “Você está pronto para uma boa batalha de bastões esta noite?” Easton sorri. “Isso é definitivamente o que se espera do jogo desta noite.” “Diga-nos, Easton, como jogador, como você avaliaria uma ou outra equipe se estivesse que enfrentá-los?” Easton fala por alguns minutos sobre arremessos e defesas e eu posso vê-lo fisicamente começa a relaxar. Há uma camaradagem fácil entre ele e Bud, o que é agradável e bem natural. Easton sai como profissional e bem informado e tenho certeza que a sua visão é atraente para os espectadores do sexo masculino, enquanto sua aparência é mais agradável para as telespectadoras. “Estamos a minutos do primeiro arremesso, Senhoras e senhores, então sem mais delongas, eu deixarei Easton ter a honra de anunciar a formação inicial.” A câmera muda de Bud para Easton e há silêncio total enquanto o rosto de Easton parece como um cervo encarando faróis. Seus olhos se arregalam e em seguida, ficam apavorados quando ele diz ‘uh’ um par de vezes antes de olhar para Bud em busca de ajuda. São apenas alguns segundos, mas o meu coração salta para a minha garganta pelo olhar em seu rosto. “Opss, sinto muito por isso, Easton. Parece que nos esquecemos de mostrar ao novato como trabalhar os interruptores

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aqui na cabine. Eu odeio quando fazemos isso.” Ele ri como um profissional experiente, enquanto eu estou gritando para a TV sobre como eles poderiam jogar Easton na cabine de imprensa e não mostrar antes os malditos controles. “Entretanto, começando pelo Colorado Rockies esta noite, rebatendo primeiro e jogando no campo central...” Bud lista o conjunto de formação das duas equipes enquanto ando pela sala de estar. Tenho certeza que Easton está lívido e constrangido e tudo que eu quero fazer é consertar a situação para ele. Isso foi uma enorme trapalhada por parte de Fox e tenho certeza que Finn lhes dará sua opinião se ele já não está fazendo isso por telefone. A transmissão vai para um intervalo comercial sem a câmera panorâmica focalizar em Easton e leva todo o meu controle para não pegar o telefone e ligar para tranquilizá-lo e lhe dar apoio. Quando o intervalo comercial acaba, a câmera passa a maior parte do tempo no campo antes de finalmente focar outra vez na cabine. Easton está lá ao lado de Bud, sua postura um pouco mais dura do que antes, sua feição um pouco mais severa. Bud continua a falar e desta vez quando Easton responde as suas respostas não têm a energia que tinha antes. É quase como se ele estivesse segurando ou com medo de aprofundar o assunto. E o seu desconforto soa alto e claro para o espectador. Eles falam sobre os arremessadores e o que esperar de cada equipe para a noite e em seguida, Bud encera o bloco. “Quando voltarmos, fãs de basebol, estamos indo para o primeiro arremesso com as duas equipes que podem acabar sendo uma prévia de seus playoffs da liga nacional. Easton, por que você não diz ao pessoal de casa quem são os nossos patrocinadores.” E quando a atenção se desloca de volta para Easton, ele está congelado novamente. Quase como se uma vez que a câmara foca, ele não pode falar. Bud olha para ele e ri baixinho.

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“Desculpe aí, Easton. Parece que a cabine não quer funcionar para você hoje. Estou dando instruções a Easton aqui para ler o teleprompter e não está funcionando. Vamos aproveitar este intervalo e assim que voltarmos vamos ter certeza de listar nossos patrocinadores. Fiquem atentos para uma noite emocionante do basebol, pessoal.” E quando eles cortam para o comercial, eu me forço a respirar. Isto não é bom. De modo nenhum. Eu espero com a respiração suspensa para que eles voltem do intervalo comercial e quando eles fazem, o jogo começa. Bud inicia o jogo. Ele fala sem parar e qualquer comentário extra de Easton só é adicionado quando Bud pede. Sua personalidade é nula. Seu desempenho é forçado. É um desastre. Quando a nona rodada chega ao fim e o sangramento para, tudo que eu fico pensando é, eu o empurrei para fazer isso. Eu deveria ter recuado? Eu não deveria ter falado nada quando ele não estava confortável em primeiro lugar?

“Ei,” digo cautelosamente quando ele atende seu telefone. “Não agora, Scout. Eu não quero falar agora.” Sua voz não é nada menos que a devastação frustrada. “Pode me dizer se você está bem?” “Vejo você amanhã, quando chegar em casa.”

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E a linha silencia.

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CAPÍTULO 26

“Posso te servir outro?” “Duplo, por favor.” Puxo meu boné mais para baixo e agradeço a iluminação fraca do pequeno bar, nos arredores de Austin. Ele desliza o líquido âmbar pelo balcão cheio de riscos do bar. “Obrigado.” “Indo para qualquer lugar especial?” Ele pergunta, tentando conversar. Eu não quero que ele faça. “Casa.” “Isso não soa como se fosse uma coisa boa.” Ele ri. “Não, esta noite não é,” murmuro enquanto tomo um longo gole e deixo a queimadura fazer seu curso. “Você irritou sua mulher?” “Algo parecido.” Olho para o meu celular e vejo outro texto de Scout e depois fico olhando para ele por um tempo e perguntando como eu vou encará-la, então desligo o telefone. Eu ainda não estou pronto para falar com ela.

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Desapontá-la novamente. Para que Scout saiba que o homem que ela ama não é quem ela pensa que ele é.

“Easton? Você está bem, filho?” A porra da pergunta do dia e nem sequer me esforço mais para responder. Apenas vinte e quatro horas desde a minha transmissão caótica de merda e eu ainda estou me escondendo. Mas Manny apenas aguarda tranquilamente tomando um assento em uma fila atrás de minha, enquanto eu continuo olhando para os lugares vazios em torno de mim. A grama intocada em minha frente. A terra preparada em plena perfeição. “Obrigado por me deixar entrar aqui.” “Claro. A qualquer momento. Este lugar ainda é a sua casa. Você sempre será um Ace no meu livro.” Medito sobre as suas palavras. Elas podem ser verdade, mas agora não sinto que pertenço a lugar algum. “Eu sinto falta da magia,” digo finalmente. Minha confissão me surpreende, mas nunca disse palavras verdadeiras. “Você teve um ano difícil,” ele diz em voz baixa. “Eu costumava sentar aqui quando era criança. Antes dos assentos serem preenchidos para o jogo e os caras saírem do vestiário para a prática de rebatidas, eu costumava sentar aqui e sentir a magia no ar. Era como se eu soubesse que algo especial ia acontecer naquela noite.” “Lembro muito bem. Encontrei você aqui muitas vezes. Eu costumava sempre me perguntar o que você estava pensando.”

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“E se eu nunca conseguir retornar, Manny?” Estou ansioso por outra bebida. Qualquer coisa para entorpecer esse medo que roubando a minha coragem e que me trouxe aqui em vez de voltar para casa... onde deveria estar. É mais fácil continuar a correr — se esconder do que enfrentar a verdade que finalmente me alcançou. “Às vezes as coisas acontecem na vida que no momento parece ser de uma maneira, mas na realidade é uma recarga mágica para que você possa encontrá-lo novamente.” “Não dessa vez.” Ele faz um som evasivo, mas não diz nada. Ficamos sentados em silêncio no reino mágico da minha infância enquanto eu tento descobrir como dar os próximos passos que preciso. “Scout está procurando por você, sabe. Ela ligou aqui preocupada.” “Sim.” “Ela é uma boa pessoa.” “Com certeza ela é.” Suspiro. É uma pena que eu não sou.

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CAPÍTULO 27

“Onde você esteve? Já se passaram quatro horas desde que o seu avião pousou e eu estava aqui doente de preocupação.” Corro para o hall apenas a tempo dele passar esbarrando em mim sem encontrar meus olhos ou dizer uma palavra. Há alívio em vê-lo são e salvo, mas logo bate a raiva quando sinto o cheiro rançoso de álcool. Estive doente de tanta preocupação, enquanto ele estava bebendo em algum bar? “Easton?” Sigo-o até o quarto onde ele deixa sua bolsa cair no chão e em seguida, sai mais uma vez passando por mim sem falar. Isso é ruim. Ele deve ter visto os comentários on-line. A tempestade de imbecis no Twitter usando suas hashtags de merda #EastonComeuMosca #EastonCraqueBurro, os memes já circulando dos seus olhos arregalados olhando para a câmera. Os especialistas tiveram a sua palavra por trás dos seus teclados e grosseiro seria uma boa colocação para eles. Corro atrás dele, apesar do seu desejo óbvio em ser deixado sozinho, porque isso é o que você faz quando você ama alguém. Você tenta ajudar.

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“Por favor. Fale comigo,” digo enquanto ele para na parede de vidro e olha fixamente para a vista. Levanto a minha mão, querendo oferecer conforto, mas hesito. “Não.” É um aviso. Uma ameaça. Um reflexo da sua mentalidade. Ele quer lutar. Está em seus ombros. No aperto de seus punhos. Na agressividade em sua postura. O silêncio se estende, sua raiva e descontentamento sugando todo o ar ao nosso redor até que começa a corroer em mim também. Por ter ficado preocupada quando ele não se incomodou em ser atencioso e pelo menos me deixar saber que estava bem. Porque Easton está se fechando, me afastando em vez de virar para mim como seria o normal em qualquer relacionamento. “Você sabe o que é viver toda a sua vida com uma mentira?” Quando ele fala, as palavras são quase inaudíveis, mas a renúncia misturada com rancor é o que toca mais alto. “O que isso significa?” “Diga-me, oh Scout que usa os óculos cor de rosa, exatamente como você classificaria o meu desempenho na noite passada?” A questão é tão carregada que não há nenhuma maneira que eu posso atender e satisfazer seja o que for que ele está procurando. “Isso não é justo para —” “Tão ruim, hein?” Sua risada é autodepreciativa na melhor das hipóteses. “Tão ruim que não consegue nem mentir para mim e dizer que não foi horrível e que não sou agora a chacota do basebol? O atleta burro que não consegue colocar duas frases juntas?” “Mas você fez,” digo tentando moderar o meu palavreado para não provocar ainda mais o seu temperamento já no limite. “Você começou firme. Você fez um trabalho incrível dando uma visão e

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feedback. Você foi natural. E então o teleprompter não funcionou e Bud não te ensinou os controles —” “Você sabe o que é ser comparado à Cal Wylder toda minha vida?” “Ninguém está comparando você com ele nesta situação.” Estou tentando desesperadamente seguir seus pensamentos repentinos. “Você não é o seu pai, Easton.” “Você está certa, eu não sou,” ele troveja, cada sílaba uma agressão verbal combativa. “Eu nunca poderia ser como ele. A porra do homem perfeito que não faz nada de errado e transforma tudo o que toca em ouro, como Midas.” A campainha do elevador toca, nos alertando que alguém está chegando. “Ah, você vai querer ver isso? Tenho certeza que isso é o bom e velho Cal chegando para dar tapinhas nas minhas costas e me agradecer por ser o filho fodido manchando sua perfeita maldita reputação.” “Easton.” É um apelo para que ele pense antes de abrir a porta e descarregar sua raiva sobre seu pai. Ele aperta o botão para abrir as portas e diz: “Bem-vindo ao partido fodido de Easton!” Mas não é Cal em pé lá. É a menina da irmandade. Seu rosto suaviza quando ela vê Easton, enquanto cada parte de mim tenta fazer sentido de por que a menina do lobby tem acesso à cobertura. Acesso que só Easton pode conceder.

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“Easton.” Sua voz é suave e simpática. “Eu queria ter certeza de que você estava bem e não precisava de mim...” Suas palavras desaparecem quando ela me nota de pé ali. “Não agora, Helen,” Easton diz isso com uma bondade que ele não tem me dado desde que atravessou a porta. Ele olha sobre o ombro para mim — olhos arregalados em pânico — e depois de volta para ela. “Eu não posso... somente... não agora.” Sua mão fecha em punho e bate suavemente na parede ao lado como se não tivesse certeza ou não soubesse mais o que dizer. “Eu sinto muito. Eu não queria...” Ela diz outra coisa que ele responde — murmúrios tranquilos, que não consigo ouvir de onde estou — que deixa claro que eles se conhecem e estão confortáveis um com o outro. Ela dá um passo para trás para dentro do elevador, olhando rapidamente em minha direção com preocupação em seus olhos antes de desviar o olhar quando as portas se fecham. Eu fico em silêncio, atordoada e confusa sobre como eles se conhecem quando eu vivi basicamente aqui nos últimos três meses e uma ‘Helen’ não foi mencionada uma única vez. Mas com certeza passei por ela lá embaixo mais vezes do que posso contar. No meu estado emocional disperso, salto para a pior conclusão e mesmo sabendo que isso não pode ser verdade — que Easton está me traindo com a doce estudante do lobby — meu estômago se revolta. “Quem é ela?” Acusação está carregada nessas três palavras. “Deixa para lá, Scout.” Ele balança a cabeça e continua a olhar para o punho ainda descansando na parede. “Não. Eu não vou deixar pra lá. Que merda é essa?” Me torno mais insistente enquanto os segundos passam. Meu coração dispara e aquela mistura profunda de descrença e medo começa a repercutir dentro de mim. Estou certa? Ele me enganou o tempo todo? O jogador é realmente um jogador?

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“Scout.” É um aviso que eu não presto a mínima atenção. “Nada de Scout. Eu te amo, Easton. Eu te amo quando eu nunca pensei que pudesse amar alguém, mas não mereço ficar com a merda das sobras só porque estou sozinha e perdida aqui. Estou tão confusa agora. Você teve um dia duro ontem. Entendi. Você quer ficar chateado e sair para tomar uma bebida ou dez antes de voltar para casa. Tudo bem, mas da próxima vez lembre-se que existe alguém aqui esperando por você. Preocupando-se com você. E o que significa que você tem que pensar nelas mesmo quando você está no seu maldito pior estado. Você tem que pegar o seu telefone e dizer que você precisa de tempo e espaço — ser atencioso — para que elas não fiquem em um frenesi preocupado achando que você está morto largado em alguma vala, enquanto está desaparecido durante quatro horas. Isso é o que se faz quando está em um relacionamento, Easton. A menos que esta é a sua maneira de me dizer que não estamos em um.” Engasgo com as palavras, o pensamento de repente me afundando. “Se for esse o caso, a visita de Helen faz muito mais sentido para mim.” “Você está delirando,” ele rosna e fica parado, piscando os olhos algumas vezes como se estivesse lutando com o que eu disse. Então, pela primeira vez desde que entrou pela porta, ele finalmente encontra meus olhos. Eu vejo a derrota em si. Vejo tristeza. Mas acima de tudo agora eu vejo medo e isso só aumenta o pânico que sinto. “Você realmente acha que ela é... que eu sou... Porra!” “O quê?” Eu defendo. “Apenas me diga.” “Maldição!” ele diz jogando as mãos para cima enquanto ele anda de um lado para outro, agitado e necessitando se mover. “Ela estava vindo por causa da noite passada.” “Da noite passada?” Minha cabeça gira para entender como ela está conectada a sua transmissão da noite passada e sua incapacidade de explicar me assusta. “O que sobre a noite passada?

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Você não quer falar comigo sobre a noite passada, mas você já falou com ela? Quem diabo é ela?” Ele emite um grunhido frustrado como nunca vi antes. Soa como um homem à beira da ruptura e não entendo e estou com medo por ele. “O teleprompter não estava quebrado. Eles não se esqueceram de ensinar merda nenhuma.” “Ok.” Estico a palavra enquanto tento fazer a correlação entre isso e ela e tudo o que está acontecendo aqui. “Easton, eu não entendo o que —” “Você quer a verdade?” Ele grita enquanto se vira para me enfrentar. Eu sempre tive. “Eu pensei que você estava me contando à verdade.” A risadinha que ele emite faz nada, mas me tranquiliza. “Ah que tudo se foda... Eu não posso mais fazer isso.” Meu coração para e eu sinto que não posso respirar. “Fazer mais o quê?” Eu sussurro com medo da resposta. Nós. Isto. O quê? Ele caminha novamente. Posso ver a sua agitação. Posso sentir sua hesitação. Cada passo que ele dá me assusta mais. Eu o perdi? Silenciosamente espero ele dizer isso. Para me dizer que ele não pode fazer mais isso comigo. Que nós terminamos. Sinto-me doente. Um minuto depois ele para alguns centímetros à minha frente, seu rosto uma imagem de desespero. “Estraguei tudo ontem à noite.” Lágrimas surgem. Meu pulso dispara. Minha mente gira. “Você dormiu com Helen?” Eu mal posso organizar as palavras e quando

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consigo encontro com o seu riso. Alto. Histérico. Incrédulo. E cada parte de mim se revolta por ser ridicularizada. Estou em seu rosto dentro de dois segundos, minha raiva levando a melhor sobre cada parte de mim. “Você é idiota!” Ele pega a minha mão antes que o meu tapa se conecte com sua bochecha. Eu me esforço para ficar longe dele enquanto minhas emoções ficam fora de controle e em um redemoinho vicioso golpeando através de mim. “Não, Scout. Você não está entendendo,” ele finalmente grita como se o magoasse. Eu juro por Deus que é melhor ele começar a explicar, porque suas palavras estão insinuando uma coisa e suas ações estão dizendo outra. “Não estou traindo você.” “Então, o que é? O que é este segredo maldito que você não pode falar comigo?” Ando de um lado do quarto para o outro, minha adrenalina aumentando e as emoções à flor da pele. “Você tentou ser um comentarista esportivo. Não correu bem. Grande merda. Você segue em frente. Você encontrar outra coisa. Você esquece. Que porra tem isso de tão difícil?” “Não é assim tão fácil,” ele diz com sua expressão suavizando e suas sobrancelhas franzidas. “Sim, realmente é.” “Não quando se vive uma mentira, não é.” Esse sentimento de pavor retorna, mas por razões completamente diferentes. O homem que está diante de mim agora parece completamente derrotado e isso é dez vezes mais irritante para mim do que seu temperamento. “Easton? O que é?” “Helen é a minha tutora.”

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Sua explicação é tão inesperada, eu não posso ajudar a risada que cai dos meus lábios, mas ela morre uma morte curta quando seu rosto permanece sério. "Tutora?" “Não consigo ler, Scout. É isso que você quer saber? Que o meu cérebro não pode ler nada melhor do que uma criança de oito anos de idade? Que as palavras na página mudam e embaralham quando eu olho para elas e então patinei por toda a minha maldita vida mantendo esse segredo de todos?” Sua voz se agrava quando seu medo se manifesta em cada palavra que ele fala. Meu coração se quebra em pequenos pedaços por ele, enquanto ele está aqui no meio de seu hall de entrada com lágrimas brotando em seus olhos. “Então esse é o meu segredo. Você está feliz agora?" “Não.” É uma resposta sussurrada refletindo como estou atordoada enquanto ele olha para mim, um homem quebrado pelo manto da vergonha ao qual se enrolou por toda a sua vida. E é apenas uma fração de segundo de tempo, mas vejo o minuto que ele sente o peso do que acabou de confessar. Ele suspira e cambaleia para trás alguns passos antes de virar, pressionando o botão do elevador e entrando nele. Chamo por ele antes que as portas se movam, mas ele não as impede de fechar. Ele só abaixa a cabeça e as deixa fechar. E eu fico olhando para elas em estado de choque, com um golpe tão violento que meu cérebro ainda não compreendeu a magnitude do que ele claramente lutou contra por anos. Eu deveria correr atrás dele. Eu deveria impedi-lo de sair e dizer a ele que tudo vai ficar bem. Mas eu acho que nós dois precisamos de um pouco de tempo entender o que ele acabou de confessar. Estou atordoada.

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Completamente, totalmente atordoada.

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CAPÍTULO 28

“Ele não está aqui,” Manny chama e me assusta quando eu corro pelo do clube. “Ele estava aqui cerca de duas horas atrás, mas então foi para casa.” Ele dá um passo à vista, a preocupação escrita por todo o rosto. Ele deve saber como Easton estava chateado com o resultado da transmissão. “Ele voltou para casa, mas depois saiu de novo. Eu realmente preciso encontrá-lo.” “Ele finalmente te contou, não foi?” Meus pés vacilam em suas palavras e o olho perguntando se ele está falando sobre a mesma coisa que estou preocupada. E ainda assim ele não pode saber. Mas o olhar em seu rosto, a preocupação e empatia que está emitindo, me diz que ele sabe. “Não se preocupe,” ele diz depois de olharmos um para o outro por alguns minutos. “Você não precisa dizer nada para mim e trair sua confiança. Gostei de você antes, mas agora eu gosto de você ainda mais por causa disso... mas saiba que eu sei. Easton não sabe que eu sei, mas eu sei. Quando era pequeno, eu era o único que sentava e ajudava Easton com sua lição de casa. A regra do pai dele era que tinha que concluir antes de ser autorizado a sentar no banco

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de suplentes e assistir o jogo. Eu era o único por perto para ajudá-lo enquanto ele lutava para entender e terminar.” Meus olhos enchem de lágrimas quando penso no menino frustrado escondendo o seu problema do mundo. “Manny, não sei o que dizer.” “Você não precisa dizer nada, Scout. Eu sabia que ele não conseguiria manter o segredo para sempre e, no entanto nunca foi meu lugar dizer nada a ele. É o seu negócio. Mas ele é como um filho para mim e meu coração se partiu por ele ontem à noite quando assisti a transmissão. Ele estava tão incrível e logo em seguida já não estava mais. Eu sabia o porquê e eu me odiava por não estender a mão para ele e tentar ajudá-lo de alguma forma.” “Não é culpa sua,” digo, mas sua expressão diz que não acredita que isso é verdade. Acho que ele está tão chateado sobre ter assistindo a humilhação de Easton como eu estou. “Só sei que acho que ele nunca disse isso a ninguém. Para um homem ter que admitir suas deficiências para a mulher que ama e temer que ela vá olhar para ele como inferior uma vez que o que ele tem é uma maldita pílula difícil de engolir.” “Eu nunca pensaria menos dele. Na realidade, penso mais dele por finalmente admitir isto.” Ele enxuga a umidade no canto de seus olhos, apesar de seu sorriso mudo. “Eu sabia que você faria. E para que conste, eu não sei nada sobre nada.” Ele balança a cabeça. “Tenho que voltar ao trabalho e você precisa sair daqui, já que é o seu dia de folga.” Mas não me movo, eu permaneço no local enquanto contemplo meu próximo passo. “Experimente o campo da Liga infantil,” aconselha antes de virar e caminhar pelo corredor. Claro. O lugar que ele vai para clarear a cabeça. Com cada passo que dou no meu caminho até o parque, reproduzo os fatos e números que pesquisei depois que

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Easton saiu. Aqueles que me impediram de correr atrás dele e negar o tempo que provavelmente ele precisava para chegar a um acordo de que mais alguém conhece o seu segredo. Depois de proteger isso durante uma vida, provavelmente é difícil de processar. Cada pedaço de mim suspira em alívio e cede ao desespero quando chego ao parque e vejo uma figura vestido de preto sentado sozinho na encosta do campo externo. Easton. Chego perto de onde ele está sentado e me sento ao seu lado sem dizer uma palavra. Nosso silêncio se estende enquanto retiro pedaços de grama e os separo. Espero pacientemente, sabendo que Easton precisa dar o primeiro passo nesta conversa. O procurei para mostrar que não fugirei, mas não posso forçar o que acontece em seguida. Deixá-lo liderar essa conversa onde quer que ela vá para que isso possa ajudálo a se sentir no controle de algo quando todo o resto em seu mundo parece tão fora de controle. Enquanto espero por ele para descobrir o quanto ele quer ou não quer falar sobre isso, eu penso sobre a minha pesquisa no Google depois que ele saiu. Artigo após artigo sobre atletas universitários de primeira linha com habilidades de leitura e escrita inferiores a crianças do ensino infantil e ainda assim eles foram graduados porque eram a base de qualquer equipe que jogaram. Pesquisei dislexia, tentando descobrir se é isso que Easton quis dizer sobre como as palavras mudam e embaralham. Eu me empanturrei de informação, lendo o mais rápido possível para tentar entender mais e para ocupar o meu tempo e me impedir de correr atrás dele. E procurei por sinais que eu perdi em nosso tempo juntos, mas não havia realmente muitos. Ele se tornou um mestre em disfarces.

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Ele tem uma instituição de caridade para alfabetização. Eu pensei que ele estava tentando ajudar crianças — ser um bom rapaz. Seria estúpido tirar a conclusão de que ele próprio sofria da mesma coisa. Penso nos papéis que ele estava olhando e jogou sobre a mesa. Ele me disse que eram lições para as crianças. Olhando para trás, eu me pergunto se eles eram as lições que Helen passava para ele. Ele amava audiobooks. Grande negócio. Um monte de pessoas adoram audiobooks. Isso não significa que eles não possam ler. Tento pensar em qualquer momento que se destaca onde ele foi mais do que óbvio e eu não encontro. Easton é tão experiente escondendo isto que nem sequer a mulher com a qual ele vive percebeu isto. E então a ficha cai. O contrato. As assinaturas concordando em ser negociado ou o rebaixamento para o Triple-A. E como se ele estivesse lendo minha mente, ele finalmente fala. “Não foi culpa do Finn, sabe?” “Eu percebo isso agora,” digo baixinho. “Ele nem estava lá. Eu assinei os papéis. Tudo aconteceu tão rapidamente. Tillman empurrou os papéis na minha frente e eu não tinha tempo para descobrir o que eles diziam. Eu não consegui fazêlos ter qualquer sentido.” “Você estava com dor.” “Isso não é desculpa.” Sua risada é depreciativa. “Deixei você assumir que isso era coisa do Finn, culpá-lo, e isso é uma merda da minha parte por permitir você pensar mal de um cara que não fez nada, além de me proteger durante toda a minha carreira. Eu sou a razão pela qual fui negociado com os Wranglers. Porra, isso é difícil de dizer em voz alta.” Ele faz uma pausa e se deita na grama, olhando para o céu que está ficando laranja com o pôr do sol se aproximando. “Eu sou o único que causou tudo isso. Sou o único que me colocou

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na posição que ninguém jamais teria concordado e tudo porque eu não posso ler.” As palavras engasgam em sua garganta, quase como se elas fossem fisicamente difíceis para ele dizer em voz alta e eu entendo. Elas devem ser. Concordo com a cabeça, sem saber o que dizer. Eu quero mantê-lo falando como eu fiz da última vez que me sentei ao seu lado na encosta gramada no campo externo. Desta vez, porém, não há jogo acontecendo para causar distração. É somente ele. E eu. E tudo que não foi dito. O campo diante de nós está vazio. As bases foram removidas. As linhas de giz apagadas por pequenos pés que as atropelaram. A prova que tudo pode ser feito para parecer perfeito caso fosse necessário. Assim como Easton teve que fazer. “Eu sempre fui capaz de superar isso. Escorregar. O colegial foi fácil — eu me tornei o mestre em trapaças. Notas escritas na palma da mão. Papéis deslizando para a borda da mesa da menina sentada ao meu lado. Um pouco de paquera ajudava muito nessa idade. A faculdade foi mais difícil, mas quando descobri que poderia pagar pessoas para escrever meus papéis ou estava sempre convenientemente doente durante o período de exames, foi-me dado mais espaço para manobra — levar para casa testes que outros fizeram por mim... é só dizer e atletas lucrativos como eu, conseguem. A administração não se importa se você não pode passar em uma classe — eles vão resolver tudo para você — desde que você ganhe o Campeonato da Série Mundial e traga mais dinheiro para sua universidade. Investimento em publicidade e troféus da equipe pode financiar uma enorme quantidade de salários. E quando eu não conseguia ler um livro, eu pegava os audiobooks. Eles eram particularmente úteis, por que assim eu podia escutá-los através de um aplicativo de voz que o kindle possui.”

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“Como Whispersync14?” “Às vezes, sim.” Eu o olho e odeio que ele nem me olha nos olhos. Easton não deve ter medo do que estou pensando dele. “Então quando fui convocado no segundo ano, foi o maior alívio não ter que estar constantemente estressado sobre gerenciamento de tudo. Compreendi que tinha batido no sistema e não morri por isso. Eu era um jogador da liga principal de basebol. Por que eu precisava corrigir esse problema agora? Eu tinha Finn, em quem confiava e se realmente precisasse ler algo, inventava uma desculpa para poder levar para casa e ter um tempo para descobrir.” “Seus pais não sabiam? Finn não sabe?” Pergunto pensando em como foi fácil para Manny entender isso, mas sei que este não é o meu segredo para contar. Ele levanta da grama e anda de um lado para outro por alguns centímetros, a energia nervosa o devorando. “Eu sempre achei que eles sabiam — quero dizer, como não podiam? Mas com o meu pai viajando o tempo todo e eu tirando boas notas, eles achavam que de alguma forma eu havia conseguido superar a dificuldade de leitura que tinha me incomodado na primeira e segunda série...” “Entretanto, isso deve ter sido tão difícil para você.” “Difícil?” Ele ri. “Isso é um eufemismo. Eu me tornei o mestre da distração quando tenho que ler algo. Quero dizer, dê-me tempo suficiente e eu posso entender as palavras. Eu posso decifrar quais estão no caminho errado e então sondar o som da palavra — Meu Deus, eu me sinto como um perdedor dizendo isso para você. Sou um adulto e tenho que estudar um parágrafo por uma hora como um aluno da terceira série para que eu possa compreendê-lo.”

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O Whispersync permite à voce sincronizàr seu conteudo entre dispositivos e àplicàtivos Kindle compàtíveis. O App fàz o bàckup dos seus dàdos e dà suà ultimà pàginà lidà nà Nuvem em dispositivos e àplicàtivos compàtíveis. Voce pode àcessàr o seu conteudo e retomàr à leiturà de onde pàrou.

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Easton para de se mover, fecha os olhos e aperta a ponte do nariz enquanto tenta controlar a raiva e a vergonha, antes de virar as costas pra mim. Seus ombros são fortes e orgulhosos e não posso imaginar o que isto lhe faz, ter a necessidade de explicar algo que a maioria o repreenderia. Mas eu não. “Easton... você não tem que explicar nada,” murmuro baixinho. Ele ri em resposta e puxa uma respiração profunda, mas permanece de costas. “Sei que não... mas, ao mesmo tempo eu acho que preciso. Você provavelmente já pensa menos de mim por isso, então eu preciso contar tudo agora.” “Não. Eu não penso. Eu acho você corajoso, East —” “Corajoso?” Ele se vira com os braços abertos e rosto uma máscara de confusão. “Como você pode achar alguém que basicamente passou sua vida inteira enganando pessoas e as induzindo a pensar que ele é inteligente, pode agora ser corajoso?” “É isso que você acha que estava fazendo? Enganando as pessoas? Eu chamo isso de sobreviver, Easton. Claro que não era vida ou morte, mas era a sua batalha. Sua luta.” Levanto para que eu possa juntar palavra por palavra. “E ninguém está autorizado a lhe dizer que você não é importante ou que você se torna menos homem por causa disso. Então eu não quero ouvir você dizer isso novamente. Eu não acho isso. Estou aqui. Eu não irei a lugar nenhum. Então, você precisa descobrir como lidar com o fato de que eu sei e não acho ou penso menos de você em nada. Você entendeu?” Ele só me encara como se quisesse acreditar em mim, mas tem medo. E detesto cada pedaço de dúvida e insegurança que o assola. Alguém grita no campo e ele se vira para ver o que é. Um homem e dois meninos em idade escolar correm para o campo. Nós assistimos enquanto eles começam a arrumar o que parece

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ser uma prática de rebatidas: um balde de bolas com o pai no monte do arremessador, um garoto colocando um capacete no home plate e o outro agarrando sua luva e correndo para o campo esquerdo. O pai nos olha por um momento, os estranhos no campo, antes de colocar o seu boné informando que ele nos vê e então se volta para instruir seu filho no home plate. Nós assistimos a esta velha dança entre pais e filhos. O pai arremessa, o filho rebate e o pai o instrui antes de iniciar o processo novamente. O menino que está no campo externo próximo de onde estamos, nos olha de vez em quando ou sempre que precisa pegar uma bola que cai perto da gente. Ele tem as mesmas características físicas de Easton e por um breve momento, eu imagino Easton como um pai fazendo a mesma coisa com seus filhos algum dia. O pensamento traz um sorriso aos meus lábios. “O garoto tem um bom balanço,” ele diz depois de um tempo recuando para um tema fácil de conversa. “Você deve saber,” eu aceno rápido com o elogio. “Conte-me sobre Helen. Isso deve ter sido um grande passo para você.” Basta dizer o nome dela para lembrar o medo fugaz que senti com a possibilidade da sua traição. Não gosto que ele ainda hesite, mas preciso deixar bem claro que ele pode falar comigo sobre isso. Quanto mais ele falar, menos se sentirá isolado no que deve ter sido um mundo muito paranoico e solitário. “Depois que assinei o acordo e Finn viu, eu soube que tinha estragado tudo. Ironicamente eu nem sabia o quanto era ruim, considerando que Cory apenas transmitiu o acordo comercial e não falou nada sobre o Triple.” Ele balança a cabeça. “Idiota.” Ele ri e balança a cabeça. “Verdade. Finn ficou preocupado quando descobriu o que Tillman tinha feito. Fazendo com

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que eu assinasse sem representação. Daí em diante, ele começou a questionar cada movimento que Cory fez quando ele me procurava e tentou alertar Boseman sobre eles.” Aceno e fico feliz por eu ter estado tão errada sobre Finn. “Mas quanto mais o Finn pressionava, mais o meu medo aumentava que ele fosse descobrir a verdade. Então, tentei fazê-lo recuar. Eu disse para deixar sua queixa ao Boseman sobre Cory ter me feito assinar o acordo sob pressão. Assegurei que não importava de qualquer maneira porque eu estaria reabilitado, saudável e tudo seria restabelecido. Mal eu sabia o que mais Cory estava planejando.” Ele balança a cabeça. “Foi minha culpa, Scout. Eu deixei você culpar Finn, mas foi cem por cento minha culpa. Cristo, essa foi à primeira vez que minha incapacidade de ler teve um efeito monumental na minha vida.” “Você estava com dor severa. Você não pode saber se teria feito algo diferente.” “Eu dei a mesma desculpa para mim no início. Acredite em mim, eu sou o rei de virar a verdade para me fazer sentir melhor... mas, houve sérias repercussões desta vez. Eu sabia que precisava fazer alguma coisa e logo em seguida, coincidentemente, tive uma reunião com os voluntários no Projeto de Alfabetização. Helen estava trabalhando lá para conseguir horas para uma de suas disciplinas— ela está estudando para o seu certificado de ensino na Universidade do Texas. Ela é ótima com as crianças, paciente, bem preparada. Eu soube que além de estudar ela também estava trabalhando em dois empregos para pagar a faculdade... então fiz uma oferta para ela: Eu pagaria por suas mensalidades, se ela fizesse tutoria para mim. Depois de perceber que eu não estava brincando, ela ficou emocionada com a perspectiva. Depois meu advogado elaborou acordos vinculativos em mais de sete mil formas diferentes para que não revelasse a quem ela estava tutorando. Uma vez que ela assinou tudo, eu a deixei saber quem eu era.”

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Imagino o quanto ela deve ter ficado surpresa, enquanto observamos os dois meninos trocarem de lugar. Eles param por um momento para falar enquanto passam um pelo outro, os dois olham brevemente em nossa direção antes de se estabelecer em suas novas posições. “Fizemos algum progresso. Eu me tornei mais rápido em enganar os olhos para fazer as letras seguir o caminho certo e reposicioná-las, mas ainda tenho um longo caminho a percorrer.” “Mas pelo menos você está no seu caminho.” “Estar no meu caminho não resolve o que aconteceu ontem à noite. Deus, aquilo foi horrível.” Ele suspira a palavra e esfrega as mãos sobre o rosto enquanto revive a noite. “Eu não sabia que teria que ler qualquer coisa, Scout. Jamais teria concordado com isso se eu soubesse. Pensei que era a mesma coisa que eu fazia nas transmissões daqui. Você só fala, atira um monte de merda sobre basebol e é isso. Agora eu sou uma hashtag universal e garoto propaganda para atletas estúpidos em todos os lugares.” “Não foi tão ruim —” Eu começo, mas ele levanta a mão. “Não faça isso. Eu não preciso ser protegido. Vi tudo, desde os posts em mídias sociais até ouvir Jim Rome me dar um pontapé no rádio. Eu sei o quão ruim os comentários são e você sabe o quê? Eles estão certos. Quando o teleprompter começou a rolar, ele estava se movendo tão rápido que eu não conseguia usar as estratégias que a Helen está me ensinando para enganar meu cérebro e fazer as letras terem sentido. Eu congelei. Claro e simples. Fui pego tão desprevenido que tentar encobrir só teria feito pior. Foi ruim. Eu sei disso. E os críticos e os gladiadores anônimos do teclado com certeza sabem disso.” “Por tudo o que sei, é apenas o que Bud disse. O teleprompter estava quebrado e eles não te ensinaram os controles do equipamento.”

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“Em um mundo perfeito, sim. Mas este mundo está longe de ser perfeito. Bud estava lá. A equipe de filmagem e engenheiros de som estava lá. Eles sabem que não havia nada errado... e tudo o que preciso é que um deles tome uma cerveja com um amigo, faça um comentário corriqueiro e a próxima coisa que você sabe, Easton Wylder é exatamente o que todas as crianças na escola costumavam me chamar. Burro. Estúpido. Lento. Retardado.” “E?” “E o quê?” Ele se vira para olhar para mim como se eu fosse louca. “Quem já ouviu falar ou convive com você sabe que não é verdade. E isso é um monte de gente, Easton. Só porque você não consegue ler bem não significa que você não é inteligente. Você se certificou de ser educado em outras maneiras... então qual é o grande negócio se as pessoas descobrirem? Não, me escute,” digo quando ele começa a querer discutir comigo. “As pessoas não precisam saber que você não sabe ler. Tudo o que eles sabem é que você tem dislexia e o teleprompter estava se movendo muito rápido para você.” “Por que eu faria isso?” ele diz as palavras em um sussurro como se fosse incompreensível que eu tenha sugerido algo tão ridículo. “Porque a dislexia não é algo para se envergonhar. Há tantos outros lá fora como você, Easton. Pessoas que estão envergonhadas porque elas também têm uma deficiência de aprendizagem e estão com medo que os outros farão chacota com a sua condição. Como as crianças em seu programa, por exemplo. E se eles soubessem que o homem que idolatram é exatamente como eles e ainda assim bem sucedido?” Easton balança a cabeça. “Há poder em compartilhar suas deficiências com os outros. Pode te deixar vulnerável, mas pode também permitir e incentivar que outros superem seus próprios obstáculos.”

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Sua mão sobe para puxar a sua nuca enquanto ele se vira para ver os meninos e seu pai ainda no mesmo lugar. Arremesso. Rebatida. Instrução. Repetir. Focalizar neles é o único modo em que Easton pode escapar do tumulto da insegurança dentro dele. O garoto no home plate rebate uma bola para o campo de esquerda. O ruído do bastão é inconfundível, uma vez que voa alto no céu. O pai dá um enorme grito para o outro filho correr em nossa direção. Quando a bola para a poucos centímetros a nossa frente, Easton avança e pega apenas quando o garoto reduz a velocidade e para antes dele. “Acho que isso pertence a você,” ele diz, enquanto estende a bola. Quando o menino olha para cima da bola para Easton e percebe quem está de pé na frente dele, sua expressão é absolutamente inestimável. “Puta merda,” ele diz e depois se assusta quando percebe que xingou e coloca a mão até a boca “Você é — ele está — oh meu Deus — não diga ao meu pai que eu disse merda. Pai!” Por esta altura o pai da criança está andando em nossa direção, curioso sobre o estranho falando com seu filho e com o outro menino não muito atrás. Sua reação é tão inestimável quando reconhece Easton. Os três estão de queixo caído em choque. Uma vez que o pai se recupera, ele levanta a mão. “Leo Tompkins. E estes são Ollie e Archie. Somos todos grandes fãs seus. Como está o seu ombro machucado? Um Wrangler? Mesmo? Como vai você — desculpe, estou divagando. Eu vou parar agora.” Easton ri e o som é muito bem-vindo após o desânimo que eu ouvi em sua voz hoje. “Easton Wylder. É um prazer e o ombro está em um processo lento, mas está curando.” Eles apertam as mãos. “E esta é Scout Dalton.” Apresentações são feitas e, em seguida, Easton se volta para Ollie e Archie. “Você dois têm um bom balanço.

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Continuem a praticar com o seu pai e vocês logo baterão para fora do parque como se fosse nada.” Os dois meninos parecem fascinados pelo elogio — olhos arregalados e cheios de descrença — e eu queria que Easton pudesse ver que isso é o que as pessoas veem. Não suas deficiências ou o que ele considera como falhas. Mas isto. Todo o pacote. O herói bemapessoado que meninos e meninas de Austin, e além, desejam crescer e ser igual um dia. “Obrigado,” Ollie diz. “Quando crescer eu quero jogar como você.” “Você pode autografar uma bola de basebol para nós?” Archie pergunta. “Claro, mas não tenho uma caneta aqui,” Easton diz enquanto as crianças e o pai se olham desolados quando percebem que ninguém tem. “Que tal isso? Que tal vocês irem amanhã ao estádio antes do jogo. Vocês chamam por Manny Winfield na bilheteria. Vou acertar para que vocês façam uma turnê pelo vestiário e pelo abrigo durante a prática de rebatidas.” “Você está falando sério?” Ollie pergunta com sua voz aumentando um tom a cada palavra enquanto Archie pula euforicamente. “Muito sério.” “Muito obrigado. Isso é muito generoso de sua parte,” Leo diz colocando os braços sobre os ombros dos dois meninos. “Vamos deixar o Sr. Wylder sozinho agora. Já tomamos bastante do seu tempo.” “Não é um problema,” Easton diz enquanto Leo guia fisicamente seus filhos para se virar e começa a caminhar para o outro lado. “Ollie, tente manter suas mãos quietas antes do arremesso. Vai ajudar com a velocidade do seu bastão. Archie feche

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sua postura um pouco para que você possa chegar ao campo externo.” Os dois olham para trás e dão acenos ansiosos antes de caminhar em direção ao campo interno e a vibração contagiante deles flutua de volta para nós. “E se um desses meninos não pudesse ler? Você acha que eles pensariam menos de você se soubessem que você também têm problemas, ou você acha que eles ainda pensam que você é o seu herói? Eu sei em qual apostar.” “Nunca pedi para ser o herói de ninguém Scout e muito menos o representante para o analfabetismo. Há um monte de responsabilidade que vem com algo assim quando eu já tenho merda suficiente para lidar.” “Ok,” murmuro. Ele está irritado e estou o empurrando quando não deveria estar, mas eu sei que isso o ajudaria. Não só seria dar a este homem abnegado um tipo diferente de motivação para derrotar seus demônios, ele também mostraria que o público ainda o ama independente do que considera serem as suas falhas. “Obrigado por ter vindo... por falar comigo... mas eu meio que quero ficar sozinho agora.” Olho para ele — para aqueles olhos castanhos conflituosos — tanto quanto eu quero ficar, sentar com ele e ajudá-lo a não se sentir tão sozinho, sei que preciso dar-lhe o tempo que ele está pedindo. Pressiono um beijo na parte de trás do seu ombro. “Ok.” A contragosto eu começo a me afastar e depois paro. “Não há condições para o meu amor por você, Easton. Não é porque você joga basebol ou sua capacidade de ler ou sua persona pública que me atraem em você. Essas coisas vêm e vão e mudam com o tempo. É o seu coração que eu amo. É a sua capacidade de se abrir para mim, mesmo quando você não quer. O homem que você é me faz também querer ser uma mulher melhor. Então, eu vou te dar este tempo para pensar

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e ficar sozinho quando realmente não quero fazer isso, mas desde que você entenda que eu quero você. Tudo de você. Suas falhas. Seus erros. Suas realizações. Seus defeitos. Seu amor." Ele se vira para mim e o olhar em seus olhos me diz que ele entende. Ele me diz que Easton virá para casa e para mim. Ele me diz que Easton sabe que eu o amo. E ele me diz que me ama também.

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CAPÍTULO 29

“Oi, mamãe.” Deslizo na cabine ao lado dela. “Easton. Por que você está aqui?” Ela olha ao redor do bar escuro como um coelho assustado. “Será que Marty te ligou? Eu estou bem. Prometo que só bebi algumas doses esta noite.” Estendo a mão e lhe dou um abraço. Ela ainda usa o mesmo perfume que me lembro da minha infância e agora é reconfortante. Claro que há fumaça de cigarro agarrado a suas roupas e álcool em seu hálito, mas é aquele perfume que me faz sentir como se eu tivesse oito anos. Quando ela cuidou dos meus joelhos esfolados depois que tentei saltar com a minha bicicleta BMX na minha rampa caseira. Sempre que alguma coisa acontecia, ela me puxava contra ela, beijava o topo da minha cabeça e me dizia que tudo estaria bem. É por isso que eu vim aqui quando sai de campo da liga infantil? É por isso que eu dirigi uma hora com as palavras de despedida de Scout correndo pela minha mente e me fazendo questionar como eu mereço alguém como ela? Só para a minha mãe dizer que tudo vai de alguma forma dar certo no final. “Easton?”

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“Sim, eu estou bem,” digo quando a solto e sento olhando para ela. “Eu precisava dar uma volta para espairecer.” “Algo está errado? Aconteceu alguma coisa?” Olho para ela e sorrio, desejando que eu pudesse viver neste mundo alheio, induzido na maioria das vezes pelo álcool de faz-deconta que ela vive. As coisas seriam muito mais fáceis. “Não. Está tudo bem agora.” “Ah. Bom. Eu estava preocupada que talvez algo tenha acontecido com aquela moça simpática que você trouxe aqui no outro dia.” Ela toma um gole de sua bebida quando alguém muda a música no jukebox. Johnny Cash começa a cantar ‘Ring of fire’ e eu olho em volta para o estado triste do bar antes de retornar meu olhar para ela. “Não, ela está bem.” “Bem, isso é bom. Eu gosto dela.” Seu sorriso se alarga. “E com certeza ela é bonita.” “Eu gosto dela também. E ela é bonita.” Eu balanço minha cabeça. “Não há nenhuma maneira no inferno que eu a mereça.” “Eu discordo,” ela diz, inclinando um copo para mim e pergunta se eu quero. Eu recuso. “Todo mundo merece alguém.” “Mesmo?” Eu não sei por que esse comentário me comove. A mulher fala sobre merecimento de amor, mas ela está esperando por anos o dela regressar. “Será que o seu verdadeiro amor merece você, mãe? Porque ele te deixou sozinha por todo esse tempo, então eu realmente não acho que ele mereça.” “Shiuu. Não diga isso. Ele vai voltar. Ele prometeu consertar as coisas e então tudo seria melhor.” “Fazer o quê melhor? E se ele não voltou até agora, por que você ainda acha que ele voltará?” Exijo, atirando a minha frustração

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em sua devoção enlouquecedora por um amante que provavelmente nem sequer existe. “Porque ele é o único.” Ela dá de ombros como se fosse um fato comprovado e não há nenhuma outra maneira. “Quem é ele?” “Uma dama nunca beija e diz, Easton. Você deveria saber disso." “Você é frustrante como o inferno, você sabe disso? Você espera por um homem que não voltou e você ainda acha que ele é o único?” “Você vai entender na hora.” Ela aperta minha mão, um sorriso suave transformando seus lábios quando ela coloca um olhar distante em seus olhos como se estivesse lembrando algo. “Chegará um dia, filho, quando alguém vai amar as partes de você que ninguém mais sabe amar. É quando você sabe que eles são a única pessoa certa para você.” Depois de toda a merda que aconteceu hoje, eu não posso fazer nada, apenas olhar para ela e absorver a sabedoria que atinge muito próximo à verdade. “Você vai ficar comigo esta noite? Chegou hoje o novo forro do sofá que comprei no Home Shopping Network para você.” Esperança preenche a sua voz, mas não tem nada sobre a esperança que ela sem saber apenas deu ao meu coração. “Eu sinto muito. Preciso voltar.”

Chegará um dia, filho, quando alguém vai amar as partes de você que ninguém mais sabe amar. “Você ainda está acordada.”

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“Mm-hmm. Eu queria ter certeza de que você estava bem.” Sua voz está bêbada de sono e atrai cada parte do meu corpo. Eu preciso dela. O apartamento está escuro exceto pelas luzes da cozinha sob o armário e o brilho do horizonte. Eu deixo assim enquanto ando até a sua silhueta sentada em minha cadeira e olhando para o mundo lá fora. “Você está bem?” Ela pergunta enquanto eu passo por ela e vou até as janelas. Fico olhando para a cidade abaixo, o fantasma escurecido de um estádio. Outras pessoas estão enfrentando coisas muito piores do que eu e esse medo ainda está lá, me segurando como refém. Depois de um tempo, viro para encará-la. Scout está usa uma das minhas camisetas, suas pernas nuas estão enroladas debaixo dela e ela tem uma taça de vinho em sua mão. Não posso ver seus olhos, mas a compaixão em sua voz toca em meu ouvido — o som de alguém amar as partes de mim que ninguém mais sabe — e sei o quão sortudo eu sou que o Doc não apareceu para pegar o contrato do Aces há cinco meses. Posso ter pensado que ela era uma brincadeira, mas agora tenho a maldita certeza que a brincadeira foi para mim. Como poderia saber? “Tinha muita coisa para pensar, então fui dar uma volta para arejar a cabeça.” Digo enquanto encosto contra a parede. “Foi a qualquer lugar digno de nota?” Penso em minha mãe. Nos seus abraços. No seu conselho inesperado. “Na verdade não.” “Você teve sucesso em arejar sua cabeça?” “Sim e não.”

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Ela faz um som evasivo quando toma um gole de sua taça. Nós olhamos um para o outro através da escuridão por alguns minutos enquanto eu trabalho até ter coragem de dizer o que preciso dizer. “E se o meu ombro não sarar?” Pergunto e seu corpo se surpreende com a minha pergunta inesperada. “A cirurgia pode ter sido um sucesso e eu tenho a melhor fisioterapeuta do basebol ao meu lado, mas se meu ombro não cooperar? E se eu não conseguir voltar?” “Então nós saberemos lidar com isso, quando e se este momento chegar,” ela diz cautelosa. “Há um momento certo antes de um jogo começar. Às vezes é quando estou no abrigo colocando meu equipamento, outras vezes é o momento antes do primeiro arremesso quando o estádio silencia por aquela fração de segundo... é parte urgência, parte adrenalina... é indescritível...” Lutando com a forma de colocar algo tão real em palavras quando não existe nada de concreto, eu volto para olhar a sombra do estádio para tentar ajudar. “É a magia,” ela murmura enquanto para ao meu lado, deixando-me ter essa reação tardia porque mais uma vez ela entendeu — ela me entende — quando ninguém mais faz. “Lá vai você colocando palavras certas em meus pensamentos novamente.” “Acho que isso significa que somos uma boa equipe.” “Uma maldita boa equipe.” Engancho o meu dedo mindinho com o dela precisando de alguma coisa para me ancorar enquanto vamos atravessar uma sala cheia de palavras não ditas. Sinto como se pudesse respirar pela primeira vez desde que sai do avião esta manhã. “Eu senti isso ontem à noite.” Seu mindinho endurece no meu e eu sei que ela está seguindo minha linha de pensamento — porque é ela — mas ela deixa meu comentário assentar antes de falar. “Sentiu o quê?”

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Limpo minha garganta e duvido de mim mesmo, mas dou a mesma resposta sobre o que estava pensando enquanto voltava da casa da minha mãe. “Houve um momento antes das câmeras ligarem quando eu estava sentado naquela cabine olhando para o campo a minha frente. A energia no ar... e essa magia — o sentimento que pensei que fosse apenas isolado para quando eu estivesse em campo como um jogador esperando o jogo começar, eu senti, Scout.” “A magia,” ela sussurra quando se aproxima e desliza os braços em volta da minha cintura. E depois do dia que tive. Isso, ela, é o que eu preciso. O jeito que ela me entende. O jeito que ela não me pressiona, mas ainda assim faz. A tranquilidade silenciosa. Ficamos assim por um momento. Sinto seu cheiro, sua presença e chego a um acordo que de fato ela é uma mulher incrível e eu a mereço. “Há algo mais,” murmura e pressiona um beijo em meu ombro. “O que você não está me dizendo?” E lá vai ela de novo. Roubando meus pensamentos quando acreditei que era só meu coração que ela tinha roubado. “E se eu estraguei a minha única oportunidade, Scout? Eu nunca pensei na vida após basebol — ele sempre foi o foco de tudo — mas quando terminar, você sabe o que daria para ter uma carreira onde ainda posso sentir essa magia? Para ter a oportunidade de continuar a fazer parte do basebol? E se ser um comentarista esportivo era essa oportunidade e eu só acabei estragando tudo porque não consigo ler?” Frustrado por não estar me explicando muito bem, me afasto de Scout e ando para o outro lado da sala antes de virar e enfrentá-la. “Deus, isso soa patético, mas-” “Não, não,” ela diz enquanto dá um passo em minha direção. “Isso soa maduro e inteligente.” “Você está me fazendo soar como um velho.” Dou um sorriso, de repente desconfortável. É uma coisa para pensar sobre

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a vida depois de basebol, mas é outra coisa bem diferente a considerar ativamente. Quando não houver mais apresentações no estádio. Nada mais de papo furado de vestiário com os caras. Nada mais de correr para o campo com a sensação do ruído metálico do meu equipamento batendo juntos na altura dos meus joelhos. Nada mais de descobrir como conseguir meu oponente fora da base. “Eu acho que é brilhante na verdade.” Esse comentário para a mão correndo pelo meu cabelo. “O que você quer dizer?” “A Fox Sports ainda está à procura de seu comentarista póstemporada. E se você pedisse outra chance?” Desta vez a minha risada é longa e alta. “Você realmente acha que eles me darão outra chance? Você viu a repercussão nas mídias sociais, não é?” “Sim, eu vi. Mas, Finn pode ir até eles, explicar a verdade ou se você não ficar confortável como isso ele pode dar alguma desculpa razoável e então você recebe uma segunda chance.” O pensamento de ter que dizer a verdade para Finn, para não falar nos poderosos da Fox Sports, me faz querer engasgar com o ar que estou respirando. Eu posso estar em um estádio cheio com sessenta mil fãs e não recuar, mas isso — que as pessoas saibam a minha verdade — faz meu estômago revirar. “Você está perdendo o maior ponto de todos.” “E qual é?” “Eu ainda não consigo ler. Eu ainda não consigo decifrar tão rapidamente enquanto o teleprompter rola e que só terminaria...” Jesus Cristo. Somente esse pensamento me leva a entrar na cozinha e pegar uma cerveja na geladeira. “Então eu e Helen podemos passar o dobro do tempo ensinando você. Tentando treinar seu cérebro a ver as

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palavras em linha reta.” Ela me segue até a cozinha, sua voz insistente e tingida com otimismo. “Vamos treinar, basta pedir o script com antecedência e vamos fazer funcionar, Easton. Porque você estava escondendo isso antes, só estava estudando o mínimo, mas agora, com meu conhecimento e com você tendo tempo livre durante a sua recuperação, não precisa mais se esconder em sua própria casa. E, em seguida, uma vez que você agarrar isso — porque eu tenho fé que você vai — você pode escolher se quer explicar a verdade para as pessoas sobre o que aconteceu na sua primeira participação. Aquelas crianças, aquelas que estão morrendo de medo de serem ridicularizadas, perceberão que tudo vai ficar bem. Seu herói é exatamente como elas.” “Scout, eu não sei...” “Eu sei que não. E você pode não ver isso por um tempo... mas não consigo imaginar a pressão que você sente, ter que esconder isso tantas vezes. Você pode imaginar como seria se não tivesse que se esconder mais? A pressão para ser algo que você não é iria embora.” Eu odeio que a ideia tanto me excita quanto me assusta pra caralho. Aprecio sua fé inabalável em mim. Mas mais do que qualquer coisa que odeio é simplesmente ouvir a esperança em sua voz, quando eu sei que provavelmente irei decepcioná-la. Mas... ela ama partes minhas que ninguém mais conhece. Isso é suficiente? Olhando para seus olhos expectantes, o pânico que eu vivi em toda a minha vida ressurge com uma vingança. Posso dizer o minuto em que ela vê isso, porque Scout sorri suavemente e pressiona um beijo suave nos meus lábios. “Eu sinto muito. Sei como você é capaz e incrível. Eu sei que seus medos são reais e válidos, mas assim é a possibilidade. Isso é tudo que vou dizer. E não vou repetir novamente.” Deus, eu amo essa mulher e seus óculos cor-de-rosa. Mesmo no meu pior, ela ainda vê o melhor de mim.

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CAPÍTULO 30

Que porra ele está fazendo aqui? Alec interfona do lobby no térreo e assim que desligo, espero no meu hall de entrada o elevador subir e as suas portas se abrirem. E quando se abrem eu sou cumprimentado por uma figura imponente parada logo ali de pé. O homem pelo qual me intimidei como uma criança quando fui trabalhar com meu pai. O homem que aprendi a respeitar como um adulto jogando para sua equipe. “Sr. Boseman,” digo quando ele sai do elevador e dá um olhar superficial em torno antes de sacudir a minha mão estendida. “Easton. Bom te ver.” “Da mesma forma.” Detesto que minhas esperanças surgem momentaneamente pela sua visita sem precedentes, mas sei que não há nenhuma maneira no inferno que ele veio para me oferecer o meu emprego de volta. “A que devo este prazer?” “Posso entrar por um momento?” Pergunta, já andando no espaço aberto, um homem não acostumado à espera por outros. “Sim, por favor.” Sigo-o e me pergunto o que está acontecendo.

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Ele caminha em direção à parede de janelas de vidro e passa um momento observando à vista como a maioria faz. Suas mãos estão nos bolsos, o paletó bem ajustado sobre seus ombros e ele usa botas de cowboy. Ele representa bem o magnata do petróleo que é, menos pela ausência do chapéu de cowboy que deixou uma marca em seu cabelo grisalho, mas está longe de ser visto. “Uma bela vista,” ele diz com um aceno de cabeça, quando se vira e me enfrenta. Nós olhamos um para o outro por um momento antes de falar. “Eu fiz um monte de negócios na minha vida, Easton. Alguns de que me orgulho. Alguns em que fui extremamente bem sucedido. Alguns que não me agradaram.” “Ok.” Traço as palavras, sabendo que Ted Boseman gosta de definir o estágio quando ele está trabalhando para fazer um ponto. “Há quanto tempo o conheço?” Ele pergunta antes de responder ele mesmo. “A maior parte da sua vida?” “Praticamente.” “Penso em você como família. Penso em todos os meus jogadores como família, mas você especialmente. Ao dizer isso, espero que você me escute quando digo que o que Tillman fez com você está entre uma dessas coisas que não me agradam.” “Obrigado, senhor.” O que mais eu posso dizer? “Enquanto eu estava fora fingindo sobreviver na Amazônia e tentando evitar uma segunda crise de meia idade, ele estava aqui tentando estragar minha organização.” Ele limpa a garganta e olha para trás em direção ao estádio abaixo. “Eu o contratei por causa de sua reputação. Estive preocupado com os negócios nos últimos dois anos e as coisas ficaram um pouco fora de mão no escritório. Conversei com alguns proprietários e ouvi sobre Cory Tillman e como ele foi capaz de cortar custos e racionalizar outras organizações. Removendo a gordura, se preferir, como é necessário de vez em quando na execução de um negócio. Ignorei os jogadores

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irritados que ele tinha negociado — a conversa sobre ele ser antiético — e atribui isso ao fato de eles estarem com raiva por terem sidos dispensados.” “Compreensível,” digo o que sinto que preciso para participar desta conversa unilateral. “Como você sabe, eu o contratei. Dei-lhe um orçamento onde eu queria que ele estivesse abaixo e a autoridade para cortar onde ele achava que as coisas precisavam ser cortadas para atingir esse orçamento. Eu até balancei um bônus do tamanho do Texas para ele se por acaso ele conseguisse atingir o meu orçamento até o fim da temporada. Mas veja isso, foi onde eu exatamente estava míope e preocupado em outro lugar. Você não dá a um homem carta branca e depois espera que ele não vá cortar o seu jogador de franquia para tornar mais fácil atingir esse orçamento em um só golpe. Seu salário é... foi um dos nossos maiores. Nossos bolsos não estão tão profundos quanto os Yankees dizem. E então negociar você e trazer um apanhador pela metade do preço, o orçamento logicamente se torna menor e o bônus muito mais atingível para Tillman.” “Obrigada por me contar,” digo, mas não entendo por que ele está revelando e dizendo tudo isso agora. O que mudou? “Após o meu regresso e ouvir inúmeras mensagens do seu agente, eu fui esclarecido sobre muitas coisas que Tillman tinha feito na minha ausência. Coisas que meus outros gestores deveriam ter barrado, mas não fizeram. Coisas eticamente questionáveis. Eu liguei para as outras organizações em que ele trabalhou, falei com os jogadores que haviam sido negociados e as suas respostas — aquelas que eu deveria ter escutado originalmente — me irritou.” Ele passa a mão pelo cabelo antes de sentar na borda do sofá. “Por que você não veio falar comigo depois que ele fez você assinar esses adendos durante a sua primeira lesão?” Desconfortável, troco o peso dos meus pés. Posso contar toda a verdade para ele? Admitir a minha dificuldade de ler

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qualquer merda e então explicar que impedir o Finn de procurá-lo? Que exatamente não me faz parecer muito brilhante. “Você o contratou, então achei que sabia o que estava acontecendo. Não parecia exatamente profissional ir reclamar com o proprietário, quando você não gosta do novo chefe.” Quando me viro, seus lábios estão franzidos e ele está sentado com os cotovelos apoiados em seus joelhos e suas mãos entrelaçadas. “Eu demiti Tillman hoje. Tive que pagar um bom dinheiro para rescindir o seu contrato, mas eu não podia deixá-lo arruinar a minha organização mais do que ele já fez.” Sua admissão pode me balançar, mas é tarde demais. Para mim, de qualquer maneira. “Eu não posso dizer que discordo da sua decisão,” digo finalmente. Sua risada rompe enquanto ele balança a cabeça. “Não achei que você discordaria, filho. Eu sei que isso não muda o fato de que você ainda é um Wrangler.” Ele cospe a palavra como se fosse quase difícil para ele mencionar o nosso rival. “E peço desculpas a você por isso. Mas é importante para mim que você saiba que se eu tiver a chance de corrigir essa bagunça e de te trazer de volta para casa, eu vou.” Ele se levanta e dá um passo em minha direção e sua mão segura firme. Eu sacudo. “Obrigado.” “O que eu não daria para ter você de volta e Santiago fora,” ele murmura enquanto caminha até a porta, “mas contratos são contratos e eu não posso forçar outras equipes a negar o deles também. Não acho que os Wranglers encarariam muito gentilmente se eu tentasse roubar você de volta, mas Deus sabe que eu tentarei no futuro.” Ele se vira para olhar para mim uma última vez. “Desculpe pela visita inesperada, mas penso que você merecia este pedido de desculpas pessoalmente.”

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Já lhe agradeci tantas vezes que me sinto como um disco arranhado, por isso não digo nada. Em vez disso, aceno com a cabeça e aceito um pedido de desculpas que eu nunca esperava conseguir. É preciso muito para um homem enfrentar seus erros de cabeça erguida. Eu deveria saber.

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CAPÍTULO 31

Puta merda. Boseman realmente fez isso. Esse é o meu pensamento recorrente quando encosto contra a parede de fora do vestiário para organizar meus pensamentos depois da ligação que recebi. Claro que preciso falar com Easton — deixá-lo saber que Boseman voltou a si — mas primeiro eu preciso de alguns segundos para processar os acontecimentos. O que isso pode significar para mim e o que isso significa para Easton. Um clube lotado não é exatamente o lugar onde posso fazer isso. E como se na sugestão, vaias e gritos atravessam a porta fechada, uma vez que ela abre e fecha sem parar. O som me desperta. Eu preciso pegar minhas coisas e voltar para casa para assim comemorar o fim desta maldita má sorte com ele. Bem quando pego a maçaneta para abrir a porta do vestiário, fico surpresa ao ver dois ombros curvados, falando sobre algo em tom abafado. Cal e Santiago. O quê? Cal me vê primeiro — seus olhos arregalados e a boca chocada em um O — e antes que ele possa dizer uma coisa, eu saio do vestiário, desconfortável e confusa sobre o que eles estão falando. Novamente.

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Não é da sua conta. Basta pegar sua bolsa e telefone e ir para casa. Mas eu não posso parar de pensar sobre eles e o que eles podem estar discutindo. Então, novamente, Cal trabalha para os Aces. Ele pode estar falando para Santiago a mesma notícia que acabei de receber. Tillman se foi, então é melhor que ele se cuide. Mas o pensamento não me convence. Cal não esperaria e deixaria Santiago descobrir uma vez que Boseman fizesse um anúncio oficial? “Rapazes, vamos esperar como o inferno que a pontuação de Tampa fique onde está, porque então é um negócio feito.” JP brada, recebendo a atenção dos caras e me despertando que isto provavelmente não é nada em primeiro lugar. Saber com quem Santiago fala não merece mais um segundo do meu tempo. “Playoffs, aqui vamos nós,” Riddell grita para um conjunto estridente dos aplausos. “Grande jogo esta noite, rapazes,” eu acrescento à conversa enquanto entro em meu escritório, pego minha mochila e saio tão rapidamente quanto entrei. “Você vai assistir o resto do jogo de Tampa com a gente no Sluggers? Vamos chamar o East para nos encontrar lá e podemos comemorar.” “Não sei quais são os planos dele,” embora eu saiba muito bem que ele ainda não está pronto para enfrentar o público após o fiasco na Fox. Então, pensando bem, talvez ele vá querer comemorar com seus ex-colegas de equipe depois que eu lhe contar a boa notícia. “Vou ver quando chegar em casa.”

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“Você sabe que quando ela diz isso assim,” Drew brinca “significa tempo para bow chicka wow wow15.” “Oh, por favor.” Rolo meus olhos e sorrio. “Não. Eu duvido.” A voz de Santiago soa alta e clara. Ele deve ter vindo para o vestiário quando eu estava no meu escritório. Continuo caminhando para a saída, determinada a não deixá-lo arruinar meu bom humor. “Easton está muito ocupado lambendo suas feridas depois de se fazer de idiota na TV durante a outra noite. Uh. Uh. Duh. Uh,” ele gagueja, zombando de Easton. Idiota. Meus pés vacilam. Minha raiva comanda. “Vá se foder, Santiago.” Acho que é Tino. Ou talvez JP. Eu não tenho certeza porque estou muito ocupada vendo vermelho. “Você não pode esconder o estúpido.” Ele segue o comentário com uma risada sarcástica que irrita cada uma das minhas terminações nervosas. “Isso diz muito sobre seus padrões, Scout.” “Não,” eu grito para Drew e seus punhos cerrados. A última coisa que ele precisa, com a possibilidade iminente dos playoffs, é uma suspensão de equipe por bater a merda fora de Santiago. Mas estou farta. Então, estou na porra do fim do meu limite com os comentários de merda de Santiago. Coisa boa que a advertência de suspensão não se aplica a mim. “Ei, Santiago,” eu digo alto o suficiente para chamar a atenção e choca como a merda os caras. Toalhas param de secar e camisas são puxadas sobre as cabeças quando eu subo no banco. “Esse truque realmente funciona para você? Continuar falando mal do cara que estava aqui antes de você para distrair os outros do fato de que seus números nunca se igualarão aos dele? Você só pode desejar manter suas estatísticas. Quero dizer, há uma razão para o seu contrato ser metade do valor do contrato de Easton. Será que isso te 15Bow

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chickà wow wow e umà expressào verbàl pàrà referenciàr um encontro ou àçào sexuàl.

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consome? Você e seu gigantesco ego? Quanto tempo você acha isso vai durar? Você acha que uma vez que Boseman encontrar um novo gerente geral, ele vai suportar isto?” Amo o olhar chocado em seu rosto. Os rostos assustados dos caras ao meu redor. Acho que acabei de fazer o anúncio. “Oh, você não sabia disso? Foi mal. Eu pensei que era sobre isso que Cal estava te informando agora a pouco no corredor. Sim. Seu tempo é limitado aqui. Boseman demitiu Tillman. Sim. A única pessoa ao seu lado nesta organização se foi.” Meu sorriso é presumido enquanto eu balanço a cabeça em desgosto. “Então, se você quiser falar sobre ser estúpido, você pode querer olhar no espelho, considerando que você se esforçou muito para não fazer amigos aqui. E oops, o único amigo que você sugou se foi.” Ele dá alguns passos em minha direção, seus ombros orgulhosos, sua linguagem corporal defensiva, seu rosto uma máscara de indiferença. Eu sei muito bem que atingi na mosca ele e seu ego sensível. “Você é uma puta, sabia disso?” Os caras surgem ao meu redor com os punhos cerrados. Mas não preciso de golpes jogados aqui quando os repórteres estão logo ali à porta. Não em meu nome. Salto do banco e passo por ele. Claro que ele tem uns trinta centímetro e um fácil 20 quilos a mais que eu, mas estou tão cansada de sua merda, que não me importo. “Eu posso ser uma puta, mas você é um aspirante de merda sem sucesso em ser um herói,” Eu continuo firme. “Isso deve te matar, querer ser como o homem que você nunca vai chegar a maldita altura. Você já tentou tirá-lo do jogo, você já tentou tomar o seu lugar e eis que ele ainda é melhor que você. Isso deve realmente te devorar. O talento dele supera a sua mediocridade todos os dias.” O músculo em sua mandíbula trava e cada parte dele tensiona quando as minhas palavras atingem um pouco perto demais da realidade. Ele se aproxima, me ameaçando com o seu tamanho físico. Os caras dão um passo mais perto, mas não me mexo. Eu só olho

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para Santiago, recusando-me a recuar. Há vantagens em ser criada entre os homens, afinal de contas. “Toque-me. Por favorzinho. Eu desafio você experimentar fazer isso, porque eu aposto que Boseman perdoará todos e cada um deles por te espancar, caso você decida encostar a mão em mim, claro. Ele é esse tipo de cavalheiro.” Ele apenas me encara, seu pomo de adão se agita enquanto tenta controlar seu temperamento e os botões que eu propositadamente empurrei, antes de dar um passo para trás e recuar. “Covarde,” murmuro. Um último botão para pressionar. O imbecil merece. Ele arruinou meu bom humor.

“Scout?” Ele já sabe. A excitação e o tom despreocupado em sua voz me informam. “Você ouviu?” Ele me encontra com uma taça de vinho e me beija rápido quando entro na cozinha. Sorrio quando a sua mão boa tenta passar livremente sobre a minha bunda. “Eu sei. Recebi uma ligação bem antes de sair.” “O filho da puta merece.” “Ele merece.” Aceno a cabeça e tomo um gole, escondendo minhas próprias preocupações. “E aconteceu.” Estamos revendo os movimentos feitos pelo Sr. Tillman durante seu tempo na posição. Ele prejudicou um monte de pessoas e abriu o clube a processos judiciais, Srta. Dalton. Sua posição e contrato de estágio também serão analisados.

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“Boseman veio me ver.” “Ele veio aqui? Aqui em casa?” Pergunto surpresa por ele ter dado este passo a frente, mas, novamente, é Easton. E ele disse que temia ações judiciais. “Sim. Fiquei chocado pra caralho, mas ele explicou tudo. Como Tillman fez o que fez e depois me pediu desculpas pelo que ele fez para mim.” “Isso é bom, certo?” “Isso não muda absolutamente nada para mim. A negociação ainda está feita. Eu ainda sou um Wrangler. Ele mesmo disse que vai trabalhar para tentar me trazer de volta, mas o inferno se isso não tirou um pouco do peso.” “Estou feliz, então,” digo enquanto passo por ele e aceito o beijo de boas-vindas que ele me dá. Isto é muito melhor do que na noite passada. Sua risada. Seu clima de otimismo. O som de um homem recuperado. Eu prefiro isso todos os dias. E eu vou me preocupar como isso me afeta mais tarde. Como eu posso estar desempregada.

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CAPÍTULO 32

Pressiono os dedos em meus olhos por um momento e tomo uma respiração profunda antes de examinar a papelada da casa de repouso. O médico disse que era por precaução, mas após outra parada no hospital esta semana, ele me entregou o pacote com papéis da alta do meu pai e me orientou a dar uma olhada neles. A saúde do meu pai só vai piorar rapidamente, então preciso me preparar mentalmente para os próximos passos. Eu folheio as páginas e pondero sobre os prós e contras e de como saber quando será a hora certa em optar pela casa de repouso. Mas é demais para mim agora. Eu não quero aceitar isso ainda. Não devia ter de fazer isso. E, no entanto, o médico me deu essa opção. Fecho e afasto a pasta. Quem não é visto, não é lembrado. Eu realmente quero algum estranho lá com a gente em suas horas finais? Não seria melhor se fosse apenas Sally e eu? Por outro lado, a morte é uma coisa assustadora que não tenho certeza se posso enfrentar sozinha. Estou petrificada para admitir, mas quando chegar a hora, eu serei capaz de segurar sua mão e falar com ele enquanto ele dá o seu último suspiro ou então vou querer correr, me esconder e fingir que não está acontecendo?

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As duas possibilidades me aterrorizam. A risada de Easton soa através do apartamento. É um som de boas-vindas — o som da esperança cortando meu desespero silencioso — e um que eu ouvi ao longo das últimas horas desde que Helen está aqui trabalhando com Easton. “Estou saindo,” Helen fala comigo quando ela enfia a cabeça no meu escritório. “Já acabou seu tempo?” Verifico meu relógio e não posso acreditar que estive sentada aqui procrastinando por pouco mais de duas horas. “Sim.” Ela abaixa a voz, mas seu sorriso permanece. “Ele está diferente agora, com as sessões. Ele queria aprender antes, mas agora é como se ele tivesse algo a provar. Quando fica frustrado, ele insiste mais ao invés de querer encerrar o dia. Tenho certeza que é por sua causa.” “Obrigado por me dizer isso,” eu digo e ela assente e vai para a porta. É exatamente o que eu precisava ouvir. Lágrimas surgem em meus olhos e um nó se forma em minha garganta. Suas palavras significam mais para mim do que ela poderia imaginar. Passei horas lidando com algo que não tenho absolutamente nenhum controle ou não posso influenciar de qualquer forma — a saúde do meu pai — para ouvir que o meu apoio tem dado a Easton novas pernas para se sustentar. “Ei, você.” Seus braços deslizam em volta da minha cintura e me puxam contra o comprimento duro de seu corpo. “Uma boa aula?” “Mm-hmm,” ele murmura e pressiona um beijo para a parte de trás da minha cabeça. “Não vou te aborrecer com os detalhes, mas foi muito melhor do que eu esperava. Tipo um avanço impressionante.”

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A felicidade em sua voz aquece tantas partes de mim. “Que bom ouvir isso.” “Qualquer notícia de Boseman?” “Não.” Entrelaço meus dedos com os dele que estão ao redor da minha cintura e tento não pensar sobre a minha próxima reunião com o proprietário dos Aces. Atualmente eles estão revendo todos os contratos que Cory Tillman iniciou em uma tentativa de descobrir se querem manter ou cancelar. E, claro, que isso inclui o meu. “Ei.” Ele vira os meus ombros para que eu seja forçada a enfrentá-lo. “Boseman é um bom homem. Um bom exemplo disso foi sua decisão em demitir o filho da puta do Tillman assim que soube de suas ações, mesmo ele possuindo um contrato sólido. Estou certo de que lhe custou uma fortuna, mas ele sabia que era a coisa certa a fazer... assim como tenho certeza que ele saberá que conceder o contrato entre você e a equipe é a coisa certa a fazer.” “Eu sei. Eu só sinto que a terra está mudando continuamente sob meus pés por esses dias e só vai piorar com tudo o que está por vir.” Penso em meu pai, na papelada da casa de repouso sobre a mesa e detesto o fato de saber que esta sensação perturbadora nem se compara ao que sentirei mais cedo do que gostaria. “Vá buscar algumas roupas extravagantes,” ele diz e eu olho surpresa para cima. Então encontro um sorriso largo e olhos maliciosos. “Vamos sair.” “Mas eu pensei que você ainda estava...” “Dane-se a imprensa,” ele diz acenando com a mão em indiferença. “Sempre haverá um idiota em algum lugar com uma boca grande me chamando de atleta estúpido. Eu sou um menino grande. Sei me cuidar. Além disso, uma vez que os Aces alcançaram os playoffs, a atenção mudou de marcha.”

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Eu amo como esta pequena confiança que ele ganhou hoje o fez se importar menos. “Para onde iremos?” “Eu não sei, Scout, mas vamos ter algum divertimento.” E na hora que me contamino com o seu humor e viro para ir me vestir, a campainha da porta toca. “Estraga prazeres,” ele diz com uma risada enquanto se dirige até lá. “Vá se vestir. Vou me livrar de quem quer que seja rapidamente.” Mas por alguma razão, eu não me movo. Há um grupo seleto que tem acesso ao elevador para a cobertura. A segurança não interfonou avisando sobre o visitante, portanto tem que ser alguém da lista. “Pai. Muito tempo sem te ver, Derek. Há quanto tempo, cara? O que vocês estão fazendo aqui?” Cal sai do elevador e dá em Easton um tapinha na parte de trás de seu ombro bom e saudações são dadas por toda parte entre os três. Olho de onde estou, de pé na cozinha, para a lenda do basebol, Derek Penbrooke. O homem conhecido por seu bastão em situações complicadas, seus três mil pontos rebatidos na carreira e seus dez prêmios Gold Awards. “Derek estava na cidade, então tivemos um longo almoço juntos para por a conversa em dia. Nós conversamos sobre o clube, sobre aquele idiota do Tillman e então ele perguntou como andava o seu braço, logo pensei em passar aqui para verificar.” Cal parece cada parte um pai orgulhoso. Eu me odeio por questionar se é um ato ou se é a verdade. Easton olha para mim, com um pedido de desculpas escrito em todo o rosto e simplesmente dou de ombros. Não é exatamente

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como eu pensei que a nossa noite se desdobraria, mas o sorriso no rosto de Easton é sincero e eu adoro vê-lo lá. “Oh, Scout, eu não vi você aí.” Cal caminha até mim, sua voz aumentando, peito estufado. “Derek, você conhece o Dr. Dalton?” “Muito.” Ele sorri. É quente e genuíno e me chama para dar um passo em direção a ele. “Ele trabalhou no meu ombro quando estava no meu processo de retorno.” “Você quer dizer retorno a Idade do Gelo?” Pergunta Cal. “Se eu estava jogando, então você também estava Wylder,” Derek diz com uma risada. “Esta é Scout,” interrompe Easton. “A filha do Doc.” Derek estreita seus olhos quando ele olha para mim por um momento estranho. “Bem, o que você lembra? Essa é você. Da última vez que te vi, você era desse tamanho,” ele diz segurando sua mão em cerca de 90 centímetros. “Você estava mastigando um chiclete grande demais para sua boca, tinha um monte de sardas no nariz e estava rindo enlouquecida com seu irmão. Scout Dalton. Como você cresceu.” “É bom ver você de novo, Derek,” digo com um sorriso e com agitação calorosa de sua mão. “Como anda o seu velho? Dizem que ele não tem trabalhado muito ultimamente. O bicho da aposentadoria conseguiu encontrálo?” “Algo parecido.” “Scout está assumindo o negócio enquanto ele decide sim ou não para isso,” Easton diz poupando-me de ter que acrescentar mais uma mentira branca para a montanha que eu estou dando. “Entrem senhores,” digo com um sorriso. “Posso pegar alguma bebida para vocês?”

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“Então, havia um propósito para sua parada.” Easton ri antes de trazer a garrafa de cerveja aos lábios. “Seu velho tinha segundas intenções,” Derek diz com um encolher de ombros. “Como isso deve surpreendê-lo. Duas cirurgias neste manguito, Easton, e a segunda recuperação foi definitivamente mais lenta, mas uma vez que me recuperei, uau, eu estava perfeitamente bem. Ganhei uma luva de ouro e bati quarenta ou mais home runs que na temporada anterior.” “É este o seu modo de tentar me dizer que tudo ficará bem, pai?” Easton pergunta com um rolar de seus olhos enquanto ele bate a sua cerveja contra a do Derek. “Só estou tentando te dar um pequeno reforço positivo. Deixar você ver que se fizer o que é esperado fazer, você voltará na próxima temporada e vai arrebentar.” “Intrometido insistente,” Easton diz, mas seus lábios são todo sorriso. “Alguém tem que ser.” Fico na cozinha e só escuto o zumbido da conversa. O riso é alto e constante, enquanto os três homens falam da política de basebol e dos clubes e sobre os próximos combates para os playoffs. É o mais à vontade que eu já vi Easton com seu pai e é o máximo que eu já o ouvi falar de basebol sem ser com os seus companheiros de equipe. Derramo mais vinho em minha taça e quando me viro, encontro Cal parado no outro lado da ilha com a cabeça inclinada para o lado e descaradamente me estudando.

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“Você precisa de mais uma cerveja?” Pergunto de repente nervosa sob o seu escrutínio. “Não. Obrigado.” Ele olha para onde Easton e Derek estão rindo de alguma coisa e em seguida de volta para mim. “Então, Scout, você está vivendo aqui agora?” Franzo meus lábios enquanto contemplo como responder, porque, por algum motivo, eu sinto que estou sendo julgada. “Eu ainda tenho meu próprio lugar, se é isso que você está perguntando.” “Mas essa coisa entre vocês dois é séria, então?” O que há com as cinquenta perguntas? “Eu diria que sim.” Observo e espero por uma reação, mas sua expressão permanece impassível. “Isso é bom. Estou muito feliz que ele tem alguém como você para ajudá-lo através deste momento difícil. Entre o ombro lesionado e o erro durante a maldita transmissão, ele precisa de alguém que o apoie ao seu lado.” Exatamente. Não é como se Easton pudesse contar com você, Cal, para ser isso para ele. Olho para ele por um instante, ouvindo suas palavras. No entanto, tenho a sensação que ele quer dizer outra coisa. “Easton é um bom homem,” finalmente respondo seguindo o olhar de Cal para a sala onde Easton ouve atentamente uma história que Derek está lhe dizendo. Cada parte do sorriso de Easton agora vale a pena pela nossa noite perdida. “Eu sei que os próximos meses serão difíceis. Ele está ansioso para começar a reabilitação. Preparando-se mentalmente para evitar o medo de sofrer uma nova lesão.” Cal toma um gole de cerveja. “E o que mais a vida jogar para ele.”

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Murmuro um som evasivo, perguntando o que isso significa. Não pode, eventualmente, a vida atirar mais nada em seu caminho que ainda possa chocá-lo depois do ano terrível que ele teve.

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CAPÍTULO 33

“Desculpe novamente.” “Não precisa.” Levanto meu olhar de onde estou na cama usando meu iPad e olho para Easton. Ele acabou de sair do chuveiro, sua calça moletom tem seu cós preso bem baixo em seu quadril — como ele deve-ser-ilegal por baixo — e o seu cabelo ainda goteja molhado. Definitivamente não se desculpe se esta é a vista que recebo como um prêmio de consolação. “Eu sou a única que deveria pedir desculpas. Sei que tem sido difícil para você — tudo isso — mas só até ouvir vocês três conversando hoje à noite, que percebi exatamente o quão difícil é.” Esfrego meu rosto porque eu sei que soa estúpido. “Quero dizer, é claro que percebi isso, mas depois de ouvir Derek descrever suas lesões e recuperação eu continuei pensando em como você deve se sentir passando por isso pela segunda vez em menos de um ano. Deve ser enlouquecedor.” “Para dizer o mínimo,” ele diz e torce seus lábios em pensamento. “Desta vez é diferente embora. Eu não me sinto tão isolado quanto me senti na primeira lesão.”

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“Por que isso?” Eu acho que seria exatamente o oposto. A temporada seguiu em frente. Equipes mudaram. Os playoffs estão aí. E ele basicamente perdeu tudo isso. “Claro, eu me senti abandonado. É como se eu estivesse com as crianças legais e então, subitamente, estou do lado de fora olhando para uma vida que eu costumava ter.” “Você estará de volta na próxima temporada, apesar de tudo.” Ele dá de ombros. “Esperançosamente. Mas como eu disse, é diferente desta vez.” “Como assim?” “Eu tenho você.” As palavras por si só faz meu coração saltar uma batida, mas a maneira verdadeira como ele diz me faz derreter de uma maneira que eu nunca imaginei ser possível. Fico olhando para ele, nossos olhos fixos um no outro e eu gaguejo sobre como responder adequadamente a um comentário como esse e não soar como uma idiota, porque é assim que me sinto agora. Ele disse que me ama — e nada pode tirar o que essas palavras significam para mim — e ainda por alguma razão estas três significam mais para mim. Talvez seja a situação, talvez o momento, mas independente disso eu não acho que o amei mais do que faço agora. “Obrigado,” digo finalmente, indo além das palavras. “Não precisa me agradecer quando é verdade.” Aquele sorriso convencido está de volta. “Diga-me o que mais você aprendeu esta noite.” “O quanto você realmente ama o jogo.” Ele estreita a sobrancelha e ri. “Eu pensei que você tinha entendido esta parte.”

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“Eu entendo... mas esta noite. Eu não sei, ouvir você falar... eu pude ouvir na sua voz. Em sua risada. Seu amor por todas as coisas do basebol era mais do que óbvio.” “Falamos de basebol o tempo todo.” Ele dá de ombros. “Verdade, mas não assim.” Balanço minha cabeça e olho para fora da janela por um instante antes de olhar de volta para ele. “Sua voz esta noite, a paixão pelo jogo nela... você teve a mesma devoção naquela noite na cabine de imprensa antes de tudo acontecer.” “Hmm.” Ele anda alguns passos e para em frente a mim, as mãos na cintura e olhos vivos. “Não me lembro da última vez que o meu pai parou só para falar. Não houve críticas. Não havia intenções ocultas. E então Derek. Há muito a aprender com sua experiência. Tanta coisa que posso aprender com ele.” Eu sorrio. “Deixei essa simples conversa acontecer para que você transforme tudo em uma grande oportunidade de se tornar um jogador melhor.” “No momento em que você começa a ficar satisfeito, é o momento em que você perde sua habilidade.” “Será que isso diz respeito a todas as coisas, Sr. Wylder?” Meu tom é sugestivo, meu sorriso tímido. Ele observa meu dedo arrastar por minha coxa. Sua língua desliza molhando seu lábio inferior. “Você está me dizendo que estou perdendo minha habilidade Kitty?” “Mmm.” Olho para baixo, onde o seu pau está endurecendo contra o tecido solto de suas calças e traço meus olhos até seu físico de dar água na boca. A visão nunca perde a graça. Quando encontro a diversão em seus olhos, me esforço muito para jogar de sedutora quando a minha paciência é quase inexistente. “Não tenho certeza. Posso precisar que você demonstre seu conjunto de habilidades para que eu possa julgar por mim mesma.”

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“Eu tenho um bom conjunto de habilidades.” “Isso precisa ser checado, Sr. Wylder.” Sua risada rola sobre a minha pele e me faz pensar em como sua língua faz exatamente a mesma coisa. Ele dá mais um passo para frente e sem aviso deixa cair sua calça no chão. Seu pau vem à vida e a visão dele — e o conhecimento do que pode fazer comigo — provoca arrepios que percorrem minha pele. “Mostre-me seus seios, Kitty.” Sua voz é um afrodisíaco. Eu propositadamente faço uma demonstração mordendo meu lábio inferior enquanto pego a bainha da camisa dele que estou usando e puxo sobre a minha cabeça. O gemido é tudo que eu preciso ouvir para saber que ele aprecia a ausência do sutiã e o fato da minha calcinha ser nada mais do que cordas segurando um pedaço de renda no lugar. “Isso aí deveria ser ilegal,” ele diz. “Eu?” Pergunto, fingindo inocência enquanto abro mais minhas pernas. “Ou a minha calcinha?” “Tudo isso,” ele murmura enquanto fica entre elas e corre um dedo sempre tão suavemente sobre o calor do meu sexo. O meu suspiro é audível, a sensação de seu toque viciante enquanto olho para ele. “Você está tentando ser preso, então?” “Qualquer homem que se preze não hesitaria em ser preso se isso significa provar você.” “Devo tomar isso como um aviso, então?” Dou um gemido enquanto ele desliza um dedo sob minha calcinha e desliza para cima e para baixo em minha entrada antes escorregar dentro de mim. “Pode tomar isso de qualquer maneira, desde que você entenda quando digo qualquer homem, quero dizer eu.” Ele adiciona outro dedo e trabalha os dois em mim, os move e então retira. Ele pega a

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minha excitação e a esfrega ao longo do comprimento do seu pau e continua acariciando o comprimento total da sua ereção. “Somente eu.” Deus, ele é sexy. Sua cabeça está baixa, seu bíceps saltado enquanto ele bombeia a mão sobre seu pau e geme de prazer. “Ei, Easton. Você precisa foder comigo para mostrar seu conjunto de habilidades. Não a sua mão.” E tão rápido quanto eu digo, ele agarra meus tornozelos, me puxa para ele e, em seguida, faz algum movimento complicado, onde me vira sobre o meu estômago na borda da cama antes mesmo que eu possa gritar em surpresa. É só quando a palma da sua mão pousa firmemente na minha bunda que eu faço um som. E dessa vez é um grito, enquanto a emoção do prazer combate a dor e corre através do meu sangue inflamando cada parte em meu íntimo. Sua mão em punho agarra o meu cabelo enquanto a sua barba arranha o meu ombro. “Você quer ser fodida?” “Deus, sim.” Minha resposta é um apelo sem fôlego. Este seu lado dominante é tão diferente do que estou acostumada. É tão quente. Ele esfrega a cabeça de seu pau para cima e para baixo em minha buceta e pressiono nele para deixá-lo saber o quanto o quero. E oh, como eu quero. Seu riso é profundo e soa através da sala antes que ele desista da sua contenção testada e lentamente penetre deliciosamente em mim. “Assim está bom?” Ele murmura com o calor do seu hálito em meu ouvido, uma vez que ele está totalmente dentro de mim. “Mm-hmm.” Ele ri outra vez. “Bom, porque essa é a última vez que eu vou perguntar. Esta noite não estou no clima para suave e lento, Scout. Eu quero você. Claro e simples. E vou te levar. Você entendeu isso?”

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Esfrego a minha bunda contra ele em conscientemente acendo o pavio para seu descontrole.

resposta

e

E quando ele se move, não há nada gentil sobre isso. Ele define um ritmo intenso que não consigo acompanhar mesmo se eu quisesse. Estou tão perdida na felicidade do seu pau e o que ele faz comigo que tento a todo custo evitar que as minhas pernas se transformem em gelatina. Graças a Deus, tenho a cama abaixo de mim ou eu entraria em colapso. Ele me leva ao orgasmo e em vez de sentir isso — e abrandar para que eu possa aproveitar a sensação — ele continua indo, continua empurrando, então antes que eu saiba já estou preparada para outro. Deslizo os dedos entre as minhas pernas e esfrego meu clitóris para acelerar o meu orgasmo. Eu sei que ele está perto demais. Easton move a mão do meu cabelo para meu ombro me mantendo no lugar para que possa bater em mim por trás. Realiza um assalto completo em meus sentidos. O som do seu gemido. O som da nossa pele se conectando. Meus gemidos de prazer. Sinto-me tão bem que beira a dor. A sensação do seu pau. Sua cabeça enquanto ele desliza sobre cada ponto dentro de mim exatamente onde preciso. O aperto possessivo de sua mão. O cheiro do seu xampu. O cheiro de sexo. Ele me envolve e me consome. Meu nome está em repetição em cada golpe que dá. Cada vez soa mais tenso, mais como se seu controle está prestes a quebrar. E quando isso acontece, eu estou pronta para isso. Para ele. Easton empurra os quadris e os seus dedos marcam a minha pele em seu aperto.

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“Jesus Cristo,” ele diz, enquanto se inclina para frente e coloca seu peito em cima das minhas costas, com o queixo no meu ombro, sua boca na minha orelha. “Scout... você... Droga...” Ele arqueja e pressiona um beijo em minha nuca. “Mmm.” Deleito-me com o calor do seu corpo e a sensação da sua pele na minha. “Viu? Mesmo com apenas um braço bom, eu não perdi a minha habilidade,” ele diz com uma risada enquanto recupera seu fôlego. “Um conjunto de habilidades como essa tem que ser ilegal,” brinco. “Bem, se estamos a caminho da cadeia, podemos muito bem quebrar a lei de novo e de novo para que o valor da nossa fiança valha a pena.” “Isso significa que da próxima vez começaremos a usar algemas?” “Eu gosto do jeito que você pensa Kitty.” Eu grito quando ele me movimenta e dá uma palmada em minha bunda. “O bom trabalho de equipe no seu melhor.”

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CAPÍTULO 34

Olho em volta do meu apartamento pela última vez. Nada aqui me faz sentir em casa. Nem a cama. Nem o sofá. Nem mesmo os meus produtos no banheiro. Não do jeito que o apartamento de Easton faz de qualquer maneira. Então está na hora. Para fugir desse — ambiente formal que nunca realmente me senti confortável — e pela primeira vez saltar de cabeça com o que vem a seguir. Viver oficialmente juntos. Eu ri. Não é como se já não estivéssemos fazendo isso, mas este próximo passo vai torná-lo oficial. Eu vim para Austin — para este apartamento mobiliado — para fazer nada mais do que cumprir os desejos do meu pai antes de passar para a próxima cidade. O próximo clube. Para manter viva a vida transitória em que cresci acostumada. Olho para a última caixa que resta levar ao meu carro. Não há nada de significativo nela. Sem lembranças para guardar. Sem

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memórias para me lembrar de uma ocasião especial. Tudo o que tenho que é significativo já está em Easton ou na casa do meu pai. É engraçado como me mudei para cá há seis meses, contente com a minha vida. Com as viagens constantes. Com a falta de permanência. E agora, tudo o que posso pensar é ficar em Austin por um longo prazo. Ganhar o contrato para satisfazer o desejo do meu pai durante todo o tempo que me permite e permanecer no único lugar além da minha casa de infância que eu realmente sinto que pertenço: a casa de Easton. Preciso de um segundo para retirar a chave do meu chaveiro antes de colocá-la sobre o balcão da cozinha e seguir para a porta. Eu vim aqui fechada para o mundo e sairei totalmente aberta ao futuro. Dou uma última olhada ao redor. Dou um adeus indiferente à vida de solteira antes de bom grado fechar a porta sobre ela. Estou abrindo uma porta diferente agora. Uma em direção a uma nova vida. Para chances. Para possibilidades. Para Easton.

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CAPÍTULO 35

“Então, o que tem a dizer doutor?” Meu nervosismo só aumenta, enquanto o Dr. Kimble continua a manipular meu ombro sem falar nada. Os pequenos ruídos que ele faz para si mesmo enquanto o movimenta adiciona ainda mais ansiedade ao meu estado. Após o exame feito, ele toma um assento à minha frente. E que se foda essa merda se de repente eu não senti essa necessidade de vomitar. Um médico que te encara nunca é bom. Toda a necessidade de ficar ao nível dos olhos para quebrar a má notícia é besteira. “Eu não tenho certeza, Easton.” “O que isso significa?” Meu coração parece que vai bater fora do meu peito. “A cicatrização está em conformidade com o que é esperado e com a quantidade de dias que você está afastado desde a data da cirurgia... mas seria negligente se eu não falar que seu ombro sofreu danos significativos.” “Pensei que tinha sido reparado durante a cirurgia.”

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“Eu fiz, mas às vezes o que acontece na cirurgia nem sempre é como o corpo quer curar.” Há um zumbido nos meus ouvidos. Minha cabeça fica tonta. “O que você está dizendo, Doutor?” “Estou dizendo que ele está reparado, Easton. Estou dizendo que com a reabilitação adequada, você pode se apresentar para o treinamento na Primavera do próximo ano e manter seu próprio ritmo. Mas cada bola que você jogar, você vai arriscar danos permanentes.” “Eu não —” “Deixe-me terminar.” Dou aceno de cabeça e tento engolir a sensação de uma bola de basebol atravessada em minha garganta. “Como eu disse, você pode retornar. Você pode ter uma temporada assassina... mas a questão é quanto tempo ele vai aguentar? Você precisa pensar em longo prazo sobre sua saúde e sua vida.” “O basebol é minha vida.” Posso ouvir o desespero em minha voz. Ele balança a cabeça e a prudência dele me diz que é um movimento rotineiro. Paciência. “Eu entendo isso, filho. Mas você precisa pensar em dez anos a partir de agora. Você vai ter trinta em poucos anos. Então, você precisa se perguntar agora se você está bem vivendo com um braço que não faz o que você quer. Segurar sua esposa. Brincar com seus filhos. Carregar as compras. Isso é o bom dos quarenta anos e você teria que lidar com um ombro danificado.” “Isso é besteira.” Rejeito suas palavras imediatamente e levanto da maca, ando para o outro lado do pequeno consultório e, em seguida, de volta. “Você está dizendo isso para me assustar. Para ter certeza que estou cauteloso. Agora parece tudo exatamente igual como depois que eu fiz a primeira cirurgia.” “E olha o que aconteceu depois disso.”

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“Vai ficar tudo bem.” Eu tenho que ficar. E mesmo que eu diga as palavras, a ruptura na minha voz trai a convicção em meu tom. “Não estou tentando te assustar. Eu estou deixando você saber as verdadeiras consequências de um ombro que foi lesionado duas vezes.” “Mas não é um definitivo.” “Não.” Ele reforça com a palavra. “Mas é meu trabalho que você saiba as possibilidades quando você joga em uma posição que usa seu braço mais do que qualquer outra posição em campo. Você joga um jogo completo. Lança a bola de volta após cada arremesso e mesmo que os arremessadores sejam trocados, três possivelmente quatro vezes por jogo, você permanece atrás do home plate. Seu ombro é sempre mais exigido do que o de qualquer outro jogador em campo.” “Então e se eu trocar de posição?” O simples pensamento causa pânico fechando minha garganta. É a única posição que já conheci. É a minha posição. É a única que controla o jogo. “E se eu jogar na primeira base para que eu não tenha que jogar o máximo?” “Isso dependerá de você.” Seu tom apaziguador é como ouvir unhas em um quadro-negro. Quero tapar os ouvidos e apagá-lo. “Eu ainda poderia jogar por dez anos e meu braço podia estar perfeitamente bem.” “Você pode e ele possivelmente poderia.” No entanto, seus olhos dizem muito mais do que a sua boca. “Então por que está me dizendo isso?” “Porque é meu trabalho dizer a verdade.” Fico olhando para ele com descrença e raiva dentro de mim enquanto rejeito cada coisa que ele está me dizendo.

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“Isso que se foda, Doutor. Vou voltar a jogar. Eu não arranhei meu caminho de volta com unhas e dentes ao longo de duas cirurgias no meu manguito para apenas me acomodar sem dar a isso tudo uma boa luta.” “Ok.” Ele sopra a palavra servindo apenas para me irritar ainda mais. “Você tem uma grande decisão a tomar ao longo dos próximos meses.” “Já terminamos aqui?” "Aparentemente."

Que se foda. Ele que vá se foder. Vou voltar a jogar. Nenhum médico vai determinar um limite para o meu braço quando sou o único a jogar com ele toda a minha vida. Eu conheço o meu corpo melhor do que ninguém. Sou o melhor juiz para avaliar se posso ou não jogar. Mas a cada passo, cada ponto gira enquanto eu caminho pela cidade para clarear minha cabeça, a raiva se transforma em descrença. Eu ando por todo o complexo desportivo, ao redor do campo da Liga infantil. Equipes de todas as idades diferentes estão praticando no calor da tarde. Há o tilintar do bastão de alumínio. O riso de crianças. As reprimendas severas dos treinadores. A descrença começa a mudar para a compreensão. E eu não quero isso. Meus pés desaceleram e começo a absorver tudo a minha volta. Eu estive aqui dezenas de vezes. Sentei na colina gramada

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do campo esquerdo e assisti jogos e treinos, enquanto tentava limpar a minha cabeça, mas pela primeira vez, eu realmente presto atenção. À minha esquerda um pai faz algum tipo de dança boba para fazer sua filha rir antes de jogar a bola para ela. Ela falha, depois fica embaraçada e então, quando tenta rebater a bola novamente, ela enfim acerta e envia a bola longe dele. Mas, enquanto ele corre atrás dela, repetindo elogios em seus lábios, sobre como o seu abraço é forte, como ela será uma ótima terceira base um dia com esse tipo de força. Não há nenhuma pressão. Não há expectativas para estar à altura. Apenas um pai e uma filha jogando bola. Criando laços. Passando um tempo juntos. À minha direita tem uma equipe de meninos mais velhos do ensino médio. Três pais praticam. Suas instruções são um pouco mais duras do que o pai da menina, mas cada palavra é positiva. Continuo a observá-los enquanto eles praticam jogadas duplas. Mais e mais. Meus pés param de se mover. Não quero me sentar no campo externo hoje. Eu quero sentar aqui mesmo, no meio disso. Coisas que eu não me lembro de experimentar com o meu pai, mas sei que quero experimentar com os meus filhos um dia. Crianças? O que diabos eu estou pensando? Eu nunca quis ter filhos. Você nunca quis Scout, também. Mas quanto mais eu fico no ponto central dos quatro campos em torno de mim, mais eu percebo que há vida depois de jogar basebol. Há coisas que eu quero ser capaz de fazer. Ao fim da nona entrada. Fim do jogo.

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“Você tem uma grande decisão a tomar ao longo dos próximos meses, Sr. Wylder.” Contagem completa. Eu quero arriscar? As bases estão ocupadas. Ou quero um futuro onde eu possa participar plenamente? Jogar os meus filhos ao ar. Fazer amor com minha esposa em qualquer posição que eu queira com dois braços saudáveis. Trabalhar no quintal. Jogar bola com meu filho. Ou filha. O arremesso é lançado. Olho para tudo ao meu redor. Tantas coisas que estavam fora de foco antes, agora estão se tornando claras como a porra de um cristal. O que você vai fazer, Easton? Estou assustado. Eu tenho meses para decidir. Nada é concreto. O amor da minha vida pode ter mudado de um esporte para uma sugestão de possibilidades. Falhar completamente? Estou apenas sendo um covarde? Rebater com tudo e além da cerca? Pensando bem, eu posso não voltar. E acertar um home run. Puxo meu boné mais baixo e olho em volta novamente. Assimilo tudo. A amargura que senti antes quando estava com o Dr. Kimble ainda está lá. A sensação apavorante ainda é uma constante fazendo cócegas em minha nuca. Pego meu telefone e olho para ele por alguns minutos, morrendo de medo fazer a porra da chamada.

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Eu aperto o ligar.

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CAPÍTULO 36

“Easton. O que você está fazendo aqui?” Fecho o arquivo do paciente Adler — um joelho arruinado — e estou tão surpresa de ver Easton aqui, no vestiário, quando jamais imaginei que ele ia pisar aqui novamente. “Eu queria levar minha namorada para almoçar.” Olho para ele com desconfiança, porque isso não soa como o homem que eu conheço. “Isso é um disfarce para alguma brincadeira que você está aprontando para algum dos caras, para quando eles retornarem de viagem?” “Quem eu?” Ele pisca inocentemente e ainda assim há sempre aquele menino travesso embaixo que eu não confio, mas amo saber que ainda está lá. “Sério, eu sei que você já terminou com a reabilitação por hoje — acabei de falar com Adler enquanto ele saia — então vamos lá. Vamos.”

“Onde no mundo você está me levando?” Saboreio o meu milkshake de chocolate enquanto ele balança nossas mãos

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unidas. O sol está brilhando, a umidade não está tão horrível e eu tenho uma barriga cheia de todo tipo de comida muito ruim à saúde que Easton insistiu que devorássemos. “Então você é um tipo de garota de pistas, hein? Você simplesmente não pode pular diretamente em uma surpresa, você tem que se preparar para isso?” “Não há nada de errado com isso. Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.” “Isso não é o objetivo de toda surpresa? O não saber o que vai acontecer?” Ele pergunta e se inclina beijando a minha têmpora. “Sim, mas você me disse que havia uma, então agora eu sei o que vai acontecer.” Eu ri. Esta linha de conversa é ridícula e divertida. “E se eu te falar que não existe mais espera, porque estamos aqui?” Assustada, olho para a vegetação exuberante que nos rodeia e preenche uma fileira de paredes de concreto coberta com pichações. Grafite bonito, artístico, mas ainda assim é uma pichação. “São estranhamente bonitos.” Digo enquanto ando em direção aos murais. Eles são incríveis e profundos em toda a sua singularidade colorida. Enquanto caminho por eles, eu não resisto a toco alguns e, em seguida, me afasto um pouco tentando descobrir o que significam. Easton me segue e sua observação silenciosa me deixa nervosa. “É chamado de galeria da esperança ao ar livre.” “ESPERANÇA?” “Ajudando outras pessoas em toda parte.” “Mas é grafite. Como é que isso ajuda as pessoas?”

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“Ele começou como um movimento para aumentar a conscientização e sensibilização sobre questões socialmente conscientes. Na realidade, é apenas um monte de artistas e músicos que se reúnem para serem ativos e doar seus lucros para determinadas causas.” Eu ando alguns pés enquanto penso sobre a sua explicação, mas não entendo o que isso tem a ver com esses grafites nas paredes. Ele deve ler a minha expressão, porque começa a explicar. “Estes são murais feitos por alguns dos artistas. Todos eles lidam com diferentes questões perto de seus corações.” “Eles são fascinantes.” “Você está pronta para adicionar sua marca a um deles?” “O quê?” Viro minha cabeça para ele, os olhos estreitos, e o nariz enrugado. “Temos uma pequena seção aqui que é nossa para fazer o que quisermos.” Ele começa a caminhar para a parte de trás de uma parede. “Mas espere — como — eu não sou capaz de pintar merda nenhuma.” Sua risada ressoa e ecoa nas paredes ao nosso redor. “É arte. Não é subjetivo?” “Subjetivo, minha bunda.” Eu estou com minhas mãos em meus quadris tentando descobrir isso. “Mas eu não entendo...” “Fiz um evento com o fundador alguns anos atrás. Eu pensei que este lugar era muito legal e desde então tenho sido um colaborador silencioso para algumas de suas causas. Então, por sua vez, eu tenho uma pequena seção que eu posso usar para fazer asneira. Na parte de trás de uma parede. No canto —” “Então ninguém vê,” eu termino para ele com uma risada. “Exatamente. Portanto não importa quão horrível faremos isso, só importa simplesmente fazer isso,” Easton diz enquanto

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pega um balde cheio de tinta spray que parece se materializar do nada. “Eles sabiam que vínhamos pra cá.” Ele pisca e eu apenas balanço a cabeça e me mantenho quieta. Olho para as muitas paredes em volta de mim. Eu me envolvo em sua beleza e criatividade e sinto como se pudesse estudá-los por horas e ainda não decifrei todos os seus significados ocultos. E ainda quando olho para trás, para Easton, tudo sobre ele comanda minha atenção. Ele está na grama alta em meio a paredes pintadas em todas as cores imagináveis e ainda são suas verdadeiras cores que brilham mais — e mais uma vez — rouba cada pedaço maldito do meu coração. Ele sorri aquele sorriso torto que é só seu e segura uma lata de tinta para mim. “Vamos, Scout, você sabe que quer experimentar.” “Eu quero,” digo com os meus dedos ansiosos, “mas minhas habilidades estão faltando no departamento de criatividade.” “Estamos mais uma vez de volta a prova de habilidades, agora somos assim?” Rolo meus olhos e tiro a lata dele. “Então podemos pintar qualquer coisa que quisermos?” “Qualquer coisa.” “Desafio aceito.”

“Parece horrível.” Minhas bochechas doem de tanto rir e os meus dedos estão doloridos e revestidos em uma vasta gama de cores de tinta spray. “Horrível é colocá-lo gentilmente.”

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“Ei, seja agradável.” Dou uma palmada nele, mas Easton pega a minha mão e me puxa contra ele. Seus lábios estão nos meus sem hesitação. A brisa sopra em torno de nós. A grama faz cócegas em minhas pernas nuas. Nós cheiramos ao aroma distinto de tinta spray. Mas o gosto de seu beijo é a cereja no topo deste dia perfeito. “Isso é bom o suficiente?” Ele pergunta quando termina o beijo. “Definitivamente. Eu gosto, é agradável. Talvez possamos ser ainda mais agradáveis mais tarde.” Ele revira os olhos e balança a cabeça. “Pervertida.” “E seu ponto é?” Pergunto timidamente. “Nenhum. Você é perfeita como você é.” Seu sorriso é largo quando seus olhos deixam o meu e olha por cima do ombro para o nosso grafite em conjunto. “Assim como aquilo é.” Viro-me para enfrentar o nosso muro. É bruto na melhor comparação com os outros murais qualificados ao nosso redor, mas ele é totalmente sobre nós. ‘Tenha um dia’ está escrito na parte superior da parede. Gotas de tinta, onde eu segurei a lata muito perto fazem linhas abaixo da rotulação. Há um livro aberto na parede. Uma página cheia de letras embaralhadas e em diferentes direções. A outra página preenchida com a imagem de um campo de basebol. Há uma bolha horrível marrom, que foi a tentativa de Easton em um biscoito da sorte. Só de olhar para ele, eu sorrio pensando em como nós rimos tanto quando tentamos fazer parecer melhor, mas só resultou em fazer parecer pior. O mesmo acontece com a minha tentativa de esboçar um cão. Pelo menos as orelhas e cauda podem ser decifradas. Então há uma gatinha Kitty toscamente pintada em um canto com um número quarenta e quatro como nossa assinatura. É horrível na melhor das hipóteses, mas cada coisa nele — tudo até os círculos redondos que deveriam ser pastilhas de menta — reflete algo significativo para nós.

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Eu me aproximo e entrelaço os nossos dedos, muito grata por esta mudança de ritmo e um lembrete de que mais importa. “Obrigado por me trazer aqui.” “Não foi nada.” Ele olha para mim por um instante antes de olhar de volta para a parede, hesitando em dizer às palavras que eu posso afirmar que estão em seus lábios. “Eu liguei para Finn mais cedo.” “Ok.” Solto a palavra. Ele sempre chama o Finn. Qual é o grande negócio? “Pedi que ele me conseguisse uma segunda chance para a transmissão da Série Mundial.” “Você o quê?” Assustada, viro para olhar em seu rosto, mas ele continua olhando para a imagem em nossa frente. Aperto os seus dedos para que ele saiba que entendo quão assustador é isto para ele. Como ele está se abrindo para tudo o que mais teme... E fazendo isso publicamente. “Eu estou orgulhosa de você, Easton.”

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CAPÍTULO 37

“Os caras estão na primeira e terceira,” Easton murmura para si mesmo enquanto olha pela da janela para o estádio abaixo. As luzes do estádio iluminam o céu, bem como os Aces, que estão nos playoffs, trouxeram a cidade à vida. Eu olho para a televisão, vejo que Easton está certo e sabe que Tino é o mais rápido na equipe. Uma bola voa muito tempo e ele pode marcar para a equipe do Aces neste jogo de pontuação. “Nós ainda podemos descer e ver o jogo, você sabe,” eu digo, verificando meu celular para me certificar de que não têm mensagens da equipe. Depois de trabalhar sem parar nos últimos oito dias, eu decidi deixar Scott tomar a liderança hoje à noite para que eu pudesse tomar um fôlego antes de ficar mais e mais ocupada com os Aces passando para a Série Mundial. “Eu sei, mas preciso disso para ter certeza,” ele diz quando deixa a janela e se senta à mesa cheia de papéis. Papéis que Finn conseguiu pegar com antecedência da Fox para que assim Easton possa se preparar antes da transmissão. As informações de patrocínio. O comentário ensaiado. Tudo o que precisa ser lido em um teleprompter. “Só estava dando um tempo. Meus olhos estão queimando de tanto olhar para isso.”

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Ele olha para a TV quando JP rebate e eu sei que ele daria tudo para estar jogando agora. Para fazer parte da sua antiga equipe e conquistar com eles o título da Liga Nacional. E talvez seja por isso que ele não quer ver o jogo do estádio. É uma pílula difícil o suficiente para engolir em geral, mas quando as vistas e os cheiros o cercam, faz a sua realidade mais difícil de aceitar. “Você e Helen tem trabalhado sem parar durante toda a semana. Eu sei que você tem isso muito bem coberto, mas se você quer passar por isso mais uma vez, eu ficaria mais do que feliz em ajudar.” Ele inclina a cabeça para o lado e apenas olha para mim. Ele parece cansado — seus olhos estão vermelhos, seu cabelo está uma bagunça, sua camisa favorita já viu dias melhores — mas eu estou tão orgulhosa pelo esforço que ele está fazendo. Por estudar como um louco e derrotar seus demônios. “O quê?” Pergunto incapaz de ler o que ele está dizendo em seu olhar. “E se eu não pudesse mais jogar?” Bem, não é isso que eu estava esperando, por isso me leva alguns segundos para limpar o olhar surpreso do meu rosto e lhe responder. “Então você não joga mais basebol.” “Se eu não pudesse mais, isso te incomodaria?” “Que tipo de pergunta é essa?” Onde ele está indo com isso? “Você está obviamente atraída por esse meu lado — o físico, o competidor, tudo sobre o jogo — por isso, se eu não estiver jogando mais, isso mudaria as coisas entre nós?” Eu encontro seus olhos e meu coração parte com a incerteza que vejo neles. “Easton, eu te amo por você. Claro que todas essas coisas são uma parte de você, mas para mim, há muito mais

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que compõe a medida de um homem. Mais do que tudo, eu ficaria triste vendo você dizer adeus a algo que você ama. Mas isso de não querer mais você?” Pergunto enquanto levanto e caminho ao redor da mesa e coloco meus quadris contra sua borda para que eu possa olhar para ele. “Não há uma maldita chance.” Um sorriso tímido desliza em seu rosto e ilumina seus olhos enquanto eles percorrem toda a extensão do meu corpo. O top fino da minha camisola não esconde muito e meus shortinhos do pijama não cobrem muito mais. “Obrigado por acreditar em mim.” “Não há agradecimentos necessários.” Digo quando ele olha para cima, para os meus mamilos duros debaixo do meu top, e molha o seu lábio inferior. “Você quer revisar isso novamente?” Eu pergunto, tentando distraí-lo — com pouca convicção — pelo olhar em seu rosto sei o que ele quer realmente. “Já te contei que eu sempre tive um fraquinho por professoras?” Ele pergunta enquanto puxa a camisa sobre a cabeça e atira para o lado tendo cuidado com seu ombro lesionado. “Você tem, não é?” “Oh sim. Seu cabelo puxado para cima toda formal e adequada. A saia lápis justa e a blusa abotoada até o topo, que olho e imagino o que deve estar por baixo daqueles botões e sonho que um deles pode abrir enquanto ela debruça sobre a mesa bem em minha frente.” “Professora quente, hein?” “Seu cabelo está puxado para cima,” ele murmura enquanto usa seu braço bom para deslizar minha bunda em direção a ele, assim estou agora sentada na mesa diretamente em sua frente. “E eu posso fingir que o seu top tem botões nele.”

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“Você pode, não é?” Minha risada enche a sala acima do barulho abafado da multidão lá embaixo que ecoa até o nosso apartamento. “Definitivamente.” “Mas eu não estou vestindo uma saia.” “Uma vez que você tirar, realmente importa o que você estava usando?” “Bom ponto.” Eu sigo o deslizar lento e sexy suas mãos dos meus joelhos até o comprimento das minhas coxas. “Mas eu não te ensinei nada.” É a sua vez de rir. “Não se preocupe, eu acho que vou deixar você me ensinar, agora.” Eu me inclino para frente e pressiono meus lábios nos dele, encorajando os seus dedos a encontrar o seu caminho sob meu short. Nós fazemos amor. Através luzes do estádio que ele jogou por toda a sua carreira. Com o rugido da multidão lembrando-o do jogo ele devia estar jogando. Sob os holofotes que ele viveu toda a sua vida. Nós criamos algo que é exclusivamente nosso. Nossa própria magia.

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CAPÍTULO 38

As palavras de Boseman soam em meus ouvidos. “Contrato de estágio, minha bunda. Os caras te respeitam. Seu trabalho fala por si. Você é um bom reforço para o clube. Eu providenciarei seu contrato com a equipe para a próxima temporada amanhã logo pela manhã. Isso se você ainda quiser o trabalho com os Aces após a besteira e ladainha que Tillman inventou.” Eu tenho o contrato. Quero gritar embaixo nos túneis. Deixar ecoar pelas paredes de concreto e flutuar por todo o caminho até o meu pai, então ele saberia que eu fiz isso. Consegui o seu último desejo. Doc Dalton foi oficialmente contratado por cada clube da Liga Principal. Meu coração está acelerado e meu pulso bate em meus ouvidos enquanto corro pelos corredores, meu tênis rangendo sobre o concreto, para o meu escritório. Ainda é cedo e não tem nada agendado além do nosso voo amanhã pela manhã rumo a Los Angeles para o primeiro jogo da Série Mundial. Então isso significa que tenho um dia de folga. Um dia com Easton. Minha calmaria no meio desta loucura. E mais importante, significa que tenho tempo para ir ao meu pai e contar a boa notícia, cara a cara.

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Num estado de euforia, eu digo oi para alguns jogadores que estão treinando ou trabalham alguma deficiência tática com seu treinador — o seu balanço, sua rebatida, o que imaginarem — mas estou desligada depois do peso que foi tirado dos meus ombros por não sei por quanto tempo. Desligada, até eu virar uma esquina e encontrar ali em uma conversa que eu não deveria tomar conhecimento. “Um Wylder é um Wylder, certo? Fui ferrado fora disso a minha vida inteira —” Santiago para de falar no momento em que ele me vê. Cal vira a cabeça em minha direção, seu rosto fica pálido enquanto eu começo a recuar. E quando topo com uma parede atrás de mim, viro apesar dos protestos de Cal e corro para a saída. Não ouvi o que pensei ter ouvido. Não pode ser verdade. Não há como. Minhas mãos tremem e meu coração dispara, mas desta vez não tem nada a ver com a conquista do contrato. Não. É por causa de algo que eu gostaria de nunca ter ouvido. “Scout espere. Não é o que você pensa.” Mas eu continuo correndo até chegar às portas que abrem para o estacionamento. Quando abro, a luz do sol me cega momentaneamente antes de ver Easton. Ele está encostado em sua caminhonete, previamente me esperando para receber a boa notícia sobre o contrato O enorme sorriso em seu rosto desliza lentamente em preocupação quando ele me vê sem fôlego e um pouco agitada. “Scout? O que aconteceu? Você está bem?” Eu luto com as palavras quando as portas se abrem atrás de mim e Cal aparece.

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“Pai?” Easton dá alguns passos à frente, os olhos girando de mim para Cal e, em seguida, de volta. “O que está acontecendo?” É tempo de lutar ou fugir, Scout. Diga toda a verdade a ele e inviabilize a transmissão do programa ou feche a boca e conte tudo depois. O. Que. Você. Faria. Scout? Nada de bom vem de uma mentira, Scouty-girl. Ouço a voz do meu pai dizendo isso, mas há tanto Easton na minha frente quanto Cal atrás de mim esperando por uma resposta. “Nada. Eu estou bem,” digo quando puxo uma respiração. “Eu tenho o contrato.” “Você conseguiu!” Ele grita enquanto me puxa para um abraço e me aperta firmemente contra ele. Eu sei que Cal está lá. Assistindo. Esperando. Mas me recuso a procurar o seu olhar. Recuso-me a reconhecer que menti por ele. Porque eu só fiz isso por causa do seu filho. Alguém tem que protegê-lo e com certeza esse alguém não será Cal.

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CAPÍTULO 39

A culpa é uma cadela miserável. Especialmente quando a culpa é por mentir para o homem sentado ao seu lado. Tento racionalizar o que ouvi. Eu tento me enganar pensando que realmente não ouvi o que eles disseram. Eu me convenci de que interpretei mal seu significado. E ainda, quando adiciono tudo — as várias vezes que eu vi Santiago — inimigo de Easton com Cal, o pai de Easton — dois mais dois é definitivamente igual a quatro. Então me bate — O aviso de Cal na noite em que o Derek veio — quando ele me agradeceu por apoiar Easton em sua reabilitação física e qualquer outra coisa que a vida jogar em seu caminho. Ele estava me dizendo que a merda bateria no ventilador? Ele estava me avisando? Olho para a Easton e ele aperta meu joelho. Se a minha suposição é verdadeira, se Santiago é meio-irmão de Easton, isso vai abalar o seu mundo e eu não posso deixar isso acontecer já com tanta pressão sobre ele para esta transmissão com a Fox Sports. “Não fique nervosa,” ele diz enquanto para no estacionamento.

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Mas eu estou nervosa, apenas por coisas completamente diferentes do que ele pensa. “Eu não estou. Só me preocupo em não ser capaz de esconder a minha reação quando encontrá-lo. E se ele parecer frágil ou não for mais o homem que conheço? Eu tenho medo que ele veja através de mim o quanto ruim ele parece.” Easton me segura e me olha direto nos olhos. “Primeiro de tudo, ele já sabe o estado ruim em que está, Scout. Basta ser você com ele. E segundo você está trazendo uma grande notícia, de modo que isso vai ofuscar tudo o que te preocupa.” Ele se inclina e pressiona um beijo carinhoso em meus lábios que combate os demônios da traição à distância. Por agora, ele me aquece até chegar à porta da frente. Apresento Easton para Sally, em seguida, me preparo para ver o meu pai. “Você está escondendo algo, Sally. Ouço vozes e elas não são você falando sozinha.” “Um rapaz tão teimoso,” Sally murmura, mas o calor em seus olhos me diz que ela ama que ele ainda tem energia para ser um teimoso. “Sou eu,” digo me preparando para vê-lo antes de entrar na sala, “e eu venho trazendo presentes.” “Presentes, hein?” Ele pergunta quando muda em sua cadeira para me encarar. Ele está bem mais magro, quase esquelético, e a sua palidez é quase um amarelo acinzentado. Seus olhos estão ainda mais fundos, mas o sorriso quando ele me vê é cem por cento o velho Doc Dalton. “Será que eles pertencem ao tipo de presente que inclui uísque e chocolate, desde que Sally aqui tem me feito comer todos os tipos de merda orgânica que tem gosto de papelão em vez da porcaria que eu realmente quero? Deixe o homem moribundo comer as coisas boas, já.” Ele diz alto o suficiente para Sally ouvir.

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Lágrimas enchem os meus olhos quando eu me inclino para abraçá-lo. É tão bom vê-lo. Olhar em olhos tão semelhantes aos meus e ouvir a sua voz em pessoa e lidar com seus comentários teimosos. “Nada chocolate. Sem uísque,” eu digo quando pressiono um beijo em sua testa, sento ao seu lado e mantendo a sua mão na minha. “Eu pensei que era o seu favorito,” ele brinca. "Você é meu favorito. Sempre será.” Minha voz falha. “Não vá chorar em mim, Scouty-girl,” ele me adverte. Aperto a mão dele. “Se eu choro é porque estou muito feliz em te ver, então calado, meu velho e me deixe ser feliz, tá?” Seu sorriso está de volta quando ele pega e enxuga uma lágrima do meu rosto. Eu choro de novo, me sinto com seis anos de idade, quando chorava sentido a falta da minha mãe. Ele sempre se sentava ao meu lado na minha cama, enxugava minhas lágrimas e então me contava alguma história boba até que eu ria e a tristeza era ofuscada por um tempo. “É bom ver você, papai,” eu sussurro. “É bom te ver, Scouty.” Descanso minha cabeça em seu ombro por um segundo e apenas respiro o momento — o cheiro do seu xampu, a paz que ele me traz — fico agradecida a Easton por me deixar ter alguns minutos com o meu pai antes de apresentá-lo. É tão estranho sentar aqui com meu pai e sentir como se ele fosse tão inteiro e saudável, mas sei que abaixo da superfície, seu coração é uma bomba pronta para explodir a qualquer momento. Ele limpa a garganta e interrompe o silêncio. “Chega dessa merda mole. Eu quero saber o que são os meus presentes,” ele diz e para quando ele vê algo sobre o meu ombro. “Scout?”

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Eu me viro para ver Easton ali, seu corpo enchendo a porta. Ele esfrega as mãos na calça e olha para mim como se ele estivesse perguntando se está tudo bem por interromper. “Pai, este é Easton Wylder. Easton, este é o meu pai, Doc.” “O jogador,” meu pai murmura baixinho enquanto ele puxa a mão da minha e senta um pouco mais reto enquanto Easton atravessa a distância e estende a mão para ele. “É um prazer conhecê-lo, senhor. Eu ouvi tanto sobre você de Scout e por toda a liga... é um prazer finalmente começar a apertar sua mão.” Meu pai olha para a mão de Easton e, em seguida, aperta os olhos enquanto o estuda. E por um breve segundo meus nervos se agitam, perguntando se isso foi um grande erro. Trazer para casa um homem para conhecer meu pai pela primeira com ele nestas condições. Mas eu tinha que fazer. Eu quero que meu pai conheça o homem que amo. Meu pai estende lentamente sua mão e sacode a de Easton, mas não cede ao escrutínio. “Olá, Easton. Prazer em conhecê-lo também. Eu acho. Por favor, me diga que fugir e casar com minha filha não é o presente que você vem trazendo. Se for esse o caso, acho que devemos ir para a garagem onde posso mostrar meu cofre cheio de armas.” Ele engessa o sorriso mais audacioso na face enquanto os olhos de Easton se alargam e ele balança sobre seus pés. “Grande.” “Você vai relaxar e ser legal? Ele não é o presente.” E aperto suavemente em sua perna. “Sei que está brincando, pai. Ele não sabe. Sente-se, Easton e ignore meu pai.” “Há um cofre cheio de armas, porém,” meu pai diz com uma piscadela.

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Easton ri nervosamente e toma um assento quando eu volto para o meu pai. “Eu me encontrei com Boseman hoje.” “O pobre bastardo provavelmente tem todos os advogados em sua robusta folha de pagamento vasculhando todo o escritório para cobrir seu traseiro depois de tudo Tillman fez. Esse é o problema com o basebol hoje em dia. Muita besteira corporativa envolvida quando deveria ser sobre um homem e seu amor pelo jogo.” Ele fecha brevemente os olhos e sorri como se estivesse se lembrando de algo. “Sem ofensa, Wylder, mas os contratos estão fora de controle. Nenhum homem merece vinte e um milhões para jogar uma temporada. A pureza do jogo se foi. A simplicidade de um pai e filho —” eu bato meu joelho contra o dele e ele limpa a garganta — “ou filha, indo para um jogo. Os jogadores estão se tornando moles com contagem de arremessos que governam seu tempo de jogo. É uma merda. Não me faça começar.” “Você já começou —” Eu dou uma risada. “Como você pode ver, meu pai é um retrocesso. Ele acha que o negócio arruinou o esporte.” “Ele tem razão,” Easton concorda e pelo sobressalto na cabeça do meu pai, o surpreende. “O problema é que nunca será capaz de voltar ao que era antes — o jogo que eu me lembro de assistir quando era uma criança — e isso é uma vergonha.” Meu pai olha para ele por um momento e acena como se já estivesse julgando se Easton está tentando impressioná-lo ou se ele realmente quer dizer que ele está dizendo. Eu sei que ele acredita nele quando deixa o comentário passar e se vira para mim. “Então? Boseman? O que houve?” “Ele queria dizer que está encerrando o contrato probatório com a gente. Ele disse que os contratos probatórios são uma merda e um Gerente deve saber se ele quer alguém em sua equipe ou não.” Eu não posso esconder meu sorriso por mais tempo. “Temos o contrato, pai. Boseman disse que ele vai redigi-lo imediatamente.”

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Meu pai apenas olha para mim por um momento, mandíbula apertada e os olhos duros, antes de me agarrar e puxar para ele. Ele me segura enquanto seu fraco corpo sacode com as lágrimas que ele está lutando. Não tenho certeza do que eu esperava que acontecesse quando lhe dissesse a boa notícia, mas definitivamente não era isso — afeto. Após alguns momentos, ele se inclina para trás e encara os meus olhos. “Muito obrigado,” ele sussurra. Duas palavras. Elas são apenas duas palavras, mas a gratidão e o amor embalados por trás delas apagam qualquer estresse interminável e ansiedade que tive que aguentar para fazer isso acontecer. “Easton, por que não me deixa te mostrar lá fora?” Sally pergunta da entrada, salvando Easton de sentir estranho e lhe dando a chance de sair. “Eu estarei com Sally,” ele diz me dando um leve sorriso antes de sair. Meu pai e eu olhamos ele sair da sala, ouço a porta de tela se fechar e continuo assistindo Sally apontar as coisas para Easton através da sacada grande da janela. Embora existam tantas coisas a dizer, nós nos sentamos em silêncio por alguns minutos. “Eu estou orgulhoso de você, Scout.” Ele faz uma pausa e mantém olhando para o campo de grama longa onde Easton está de pé. “Mas você não tem que assinar o contrato se você não quiser.” “O quê?” A palavra é uma lufada de ar chocado quando eu olho para ele, mas ele continua olhando em frente. Confusão e perplexidade tumultuam dentro de mim. “Do que você está falando? É o que você queria! O último limite em sua carreira. Pai, fale comigo. Por favor, me diga que isso não foi tudo por nada.” “Não, tudo por nada, não. Às vezes, realizar algo é o próprio sucesso,” ele diz estendendo a mão para pegar a minha mão.

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“Que diabos isso significa?” “Significa que eu precisava que você amasse algo mais do que a mim. Eu precisava que você tivesse sucesso em algo que inicialmente parecia impossível, com isso você saberia que pode fazer qualquer coisa por conta própria. E assim teria certeza que você ficaria bem quando eu já não estiver mais aqui.” Balanço minha cabeça enquanto tento entender o que ele está me dizendo. “Eu sinto muito por ter te afastando, Scouty, mas toda a sua vida você olhou para mim em busca de ajuda e aprovação sempre que as coisas ficavam difíceis. E não há nada de errado com isso.” Sua voz quebra bem junto com meu coração. “Mas eu queria que você soubesse que não precisava de mim para consertar nada. Você é forte, capaz e tem as ferramentas para consertar tudo sozinha. Precisava que você percebesse que não precisa de mim.” “Mas eu preciso de você, pai.” Minha voz falha enquanto tento segurar os soluços ameaçadores. Ele olha para mim pela primeira vez e eu assisto a uma lágrima deslizar pelo seu rosto. “Você tem alguma ideia de como foi difícil te manter afastada? Posso ser um osso duro de roer, mas empurrar a minha menina pra longe foi à coisa mais difícil que eu já tive que fazer. Eu queria ser egoísta. Puxar você para perto e te manter nessa nossa bolha e nunca deixá-la ir... mas eu não posso. Eu empurrei você — numa situação difícil — para o contrato, porque se você pudesse lidar com esses cabeças-duras, machistas, teimosos, então eu teria a certeza que você vai prosperar em tudo o que você queira fazer. Eu não ligo para o contrato, Scout. Não me importo se você vai continuar o negócio ou não. Eu só preciso saber antes de ir que você ficará bem. Que você acredita em si mesma o suficiente para saber que você ficará bem também.” Coloco meus braços em volta do meu pai e ele me segura enquanto eu choro. “Sinto muito ter que te deixar.”

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Eu não posso parar os soluços enormes e arfantes. “Estou muito orgulhoso de você. Nunca duvide disso.” Eu me recuso a deixar ir enquanto ele acaricia a mão sobre o meu cabelo de novo e de novo e me diz coisas que eu preciso ouvir, mas gostaria que ele não tivesse que dizer. “Você é meu coração, Scouty. Eu te amo mais do que qualquer coisa neste mundo e eu não quero que você esqueça nunca disso.” Depois de algum tempo, quando as lágrimas são abrandadas e o vazio foi preenchido com seu amor inquestionável, inclino minha cabeça em seu ombro como eu costumava fazer quando era pequena e vejo o mundo lá fora. A grama movendo-se com a brisa. As nuvens deslizando pelo céu. A grande árvore que Ford e eu costumávamos subir — onde meu pai já escolheu como seu lugar de descanso final. “Eu digo para irmos sentar na varanda e aproveitar este bom tempo. O que você diz?” Minha respiração ainda está presa — a precipitação dos meus soluços — eu tenho certeza que meus olhos estão inchados, mas parece que é a melhor ideia do mundo. Como fazíamos quando era pequena. “Eu adoraria.” “Pode me ajudar a chegar lá fora?” Pergunta ele. “Claro.” Eu envolvo meu braço em volta de sua cintura e o ajudo a levantar. Ele está tão leve. O homem desmedido da minha infância foi reduzido à pele e ossos. “Você está bem?" “Eu ficaria muitíssimo melhor se você escorregar um pouco desse uísque do armário logo ali em cima da geladeira aqui no meu copo. Sally nunca saberia.” Eu ri. “Verei o que posso fazer.”

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“Essa é a minha garota.”

O céu está roxo e laranja, quando o sol se põe e meu pai e Easton falam todas as coisas imagináveis — minha infância, seu ombro, basebol — mesmo sobre o cofre de armas na garagem. Sally e eu conversamos pela primeira vez em muito tempo sobre temas que não têm nada a ver com a doença do meu pai e ele parece se sentir tão bem. Eu ouso dizer, quase normal. “Tem certeza de que precisa ir embora?” Sally pergunta. “Infelizmente. Eu tenho um voo para Los Angeles pela manhã,” digo olhando para meu pai novamente e as olheiras de cansaço sob os olhos. “O primeiro jogo da Série Mundial,” meu pai murmura e eu amo que ainda há aquele olhar nostálgico em seus olhos quando se trata do jogo. Sou grata que a sua doença não tomou isso dele. “Sim.” Eu aceno. “A única coisa que o tornaria melhor é se Easton estivesse jogando nele.” Eu olho para ele e sorrio, sabendo que ele se sente da mesma maneira. “Lembre o que lhe disse Easton,” meu pai diz com um aceno de cabeça. “Seu corpo sabe suas limitações. Ouça o que ele diz e você vai tomar a decisão certa.” “Sim, senhor,” Easton responde e eu quero saber o que exatamente eles estavam falando enquanto Sally e eu entramos para encher nossas bebidas. Isso foi meu pai dando conselho para Easton sobre o seu ombro? “Foi um prazer conhecer vocês.” Ele dá um passo à frente e dá um grande abraço em Sally e, em seguida, aperta a mão do meu pai. Meu pai se inclina para frente e diz algo no ouvido de Easton que eu não posso ouvir. Easton encontra seus olhos em uma

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troca de palavras não ditas. Ele encara um pouco mais que o normal e sorri com um aceno de cabeça como se estivesse agradecendo por coisas que só eles entendem. “Talvez possamos fazer isso novamente em breve. Nos encontrar. Uma vez que a série acabar e vocês terão mais tempo.” “Eu adoraria.” Digo com o meu coração, esperando que eu vá ter muito mais desses momentos com eles, agora que tudo está tão claro. “Vocês podem me dar um minuto com Scout?” Meu pai pergunta. “Deixe eu te acompanhar até o carro, Easton. Você pode ter perdido o seu caminho, Considerando que está bem na sua frente,” Sally brinca enquanto eu me viro para o meu pai. “Só queria lembrá-la que você pode pegar ou largar o contrato. Esse contrato era meu sonho e meu objetivo e eu quero que você tenha o seu próprio.” Ele aperta minha mão. “E se os meus são os mesmos que os seus? E se eu quiser continuar o seu legado?” “Eu gostaria disso,” ele diz com um sorriso suave enquanto seus olhos fecham momentaneamente. Quando ele os abre, há uma claridade que não espero. “Obrigado pelos meus presentes.” “Presentes? Eu só tinha um.” “Não, você me deu dois dos maiores presentes que eu poderia ter pedido: saber que você vai ficar bem... e te ver amando.” Dou um abraço nele mais apertado que eu posso para que ele saiba que essas palavras são o maior presente que ele jamais poderia ter me dado em troca. Saber que ele sabe que vou ficar bem. “Amo você, papai.”

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“Mente limpa. coração cheio, Scouty-girl. Nunca se esqueça disso.” “Nunca.”

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CAPÍTULO 40

Quando eu entro na cabine de imprensa do estádio, Easton está com a cabeça baixa estudando os papéis espalhados por todo o balcão em sua frente. Não querendo perturbá-lo e arruinar sua concentração, encosto no batente da porta e espero ele me notar. “Você terminou seu trabalho?” ele pergunta sem olhar em minha direção. “Sim. Adler está ficando melhor e eu completei meus relatórios para Griswold,” refiro-me ao gerente geral interino até que Boseman encontre um novo. “Está indo para casa? Você esteve aqui o dia todo, deve estar exausta.” “Eu estou, mas pensei em sentar aqui com você por algum tempo, se você não se importa.” “Você não precisa.” “Eu sei,” digo quando fecho a porta e me aproximo dele. Ele continua focado no que está trabalhando, então eu tomo um tempo para olhar o campo de nossa posição no nível do clube. A grama está na forma mais perfeita e os logos da Série Mundial foram pintados no campo interno e cordas com bandeiras de plástico foram

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penduradas ao longo das linhas do campo esquerdo e direito. Existem alguns jogadores no campo — parece que JP, Guzman e Santiago, estão recebendo algumas orientações extras ou alguma prática adicional antes do jogo de amanhã. Os Aces estão empatados com os Anaheim Angels, apenas um jogo, por isso a cidade está alvoroçada com a presença da sua equipe pelos próximos três jogos. “Você não poderia ter pedido um lugar melhor para fazer sua transmissão, hein?” Coloco uma mão em suas costas e a arranho suavemente. “A segunda melhor coisa depois de jogar pela série é fazer uma transmissão.” Ouço a amargura e sarcasmo em sua voz e prefiro não fazer qualquer comentário. Eu me sentiria da mesma forma se estivesse no lugar dele. “Desculpa.” “Não precisa. Eu entendi. Tudo o que quis dizer foi que, pelo menos, você está familiarizado com o layout da cabine já que fez outras transmissões aqui antes. Além disso, este estádio é a sua segunda casa e isso pode ajudar a combater um pouco o nervosismo.” Há uma rebatida do bastão logo abaixo. Alguns gritos quando a bola bate na cobertura superior além do muro do campo à direita. Mas é Easton que exige a minha atenção quando ele estende a mão para me puxar para ele. Quando passo por entre seus joelhos separados, ele põe seus braços em volta dos meus quadris, me puxa para ele e repousa a cabeça no meu abdômen. Minhas mãos automaticamente passam através do seu cabelo para tranquilizá-lo que estou aqui, ainda torcendo por ele, ainda aquela que quer o melhor para ele. “Estou nervoso,” Ele admite após alguns minutos silenciosos, o calor da sua respiração escoa através do tecido da minha camisa e aquece minha pele.

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“Eu sei que você está,” digo tentando imaginar o que ele está passando — a pressão que colocou sobre si mesmo e o medo do escrutínio público, caso ele cometa algum erro. Tão logo Easton foi anunciado como parte da programação da transmissão para o jogo de amanhã, os idiotas por trás de seus teclados começaram suas besteiras. Ele espera durante alguns minutos quando os sons do basebol ecoam bem abaixo, então eu tenho uma ideia. Algo que o deixará um pouco mais à vontade. Algo para ele lembrar quando estiver nervoso durante seus comentários. “Ei, você sabe o que eles orientam fazer quando se fica nervoso, não é?” Eu pergunto, me afastando dele e caminhando em direção à porta. O estádio está longe de estar desocupado com o jogo amanhã e a preparação para a pós-temporada, mas vou correr o risco e torcer que ninguém aparecerá e baterá na porta da cabine de imprensa justo agora. “Imaginar que todos estão nus,” ele diz. Eu giro a fechadura da porta e viro o rosto para ele, um sorriso mais do que tímido nos lábios. “Você pode fazer isso.” Dou um passo em direção a ele e levanto uma das minhas sobrancelhas. “Ou você pode imaginar que estou aqui e nua.” Um canto de sua boca se levanta em descrença enquanto seus olhos se estreitam, a curiosidade possuindo sua expressão. E assim mantenho meu comentário. Puxo minha blusa e sutiã esportivo por cima da minha cabeça, sinto o peso dos meus seios quando eles estão livres do tecido restritivo. Seus olhos se arregalam. “Ah, porra.” “Exatamente. Ah, porra.” Atiro meus tênis e me remexo para tirar minhas calças de exercício até estar de pé na cabine de transmissão dos Austin Aces,

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completamente nua, com uma audiência de apenas um espectador. Ele molha os lábios e remexe em sua cadeira. “Você sabe o que é ainda melhor do que me imaginar nua?” “O que seria isso?” Eu amo que ele não consegue tirar os olhos do meu corpo como se fosse um mapa do tesouro que ele não pode esperar para explorar. “Imaginar eu te chupando exatamente na mesma cadeira que você vai transmitir.” “Imaginando ou me lembrando de você fazendo isso em primeira mão?” Ele pergunta enquanto ele se mexe novamente em seu assento, sua ereção fazendo uma tenda em sua calça. “Isso depende,” eu murmuro quando passo entre suas coxas novamente, inclino-me e pressiono meus lábios nos dele. Eu dou um beijo suave e lento, de modo que quando me afasto, ele se senta em frente para tentar pegar um pouco mais. “Depende do quê?” Ele ri. “Da sua calça que ainda está aí.” Em um movimento rápido, ele tem a sua calça de treino embolada em seus tornozelos e tem um pé já fora das pernas da calça. Com os meus olhos nos seus, caio de joelhos, abaixo a cabeça e muito lentamente deslizo seu pau em minha boca. Vou passando minha língua pela parte inferior e lentamente os meus lábios sugam em volta dele e sou recompensada com um gemido gutural quando ele atinge o fundo da minha garganta. Seus olhos rompem o nosso olhar quando eles se fecham e sua cabeça cai para trás. Eu tomo meu tempo, deixando o calor da minha boca, a sucção dos meus lábios e a pressão da minha língua trabalhar nele até a escalada do êxtase.

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“Puta que pariu,” ele geme. Música para meus ouvidos. O seguro tão fundo quanto posso levar, e trago minhas mãos para a mistura. Primeiro com unhas arranhando suavemente sobre suas bolas. Suas coxas endurecem. Seus pés flexionam E então, quando o deslizo para fora da minha boca, a liberação da sucção faz um som de estalo que enche a cabine. Agarro seu pau com a outra mão e acaricio suavemente quando começo a trabalhar em seu comprimento, enquanto minha boca se delicia nos prazeres do seu pau. As mãos de Easton estão por toda parte. Primeiro em meus braços. Em seguida, em suas coxas. Então em um punho na parte de trás do meu cabelo e segurando minha cabeça enquanto ele levanta seus quadris e fode minha boca. É erótico como inferno. O som do seu gemido. O estalo da sucção quando ele escapa dos meus lábios. A batida dos bastões abaixo. Saber que as pessoas estão ali enquanto estamos fazendo isso aqui. Intoxicante. O gemido que ele emite. A posse em seu aperto. Seu louvor afetado entre respirações ofegantes. Incapacitante. Sabendo que posso dar isso a ele. Não apenas o orgasmo, mas algo para recordar e o deixar à vontade quando ele estiver aqui amanhã à noite. Um pequeno momento privado para fazê-lo sorrir antes que o nervosismo assuma assim que o teleprompter começar a rolar “Scout.” É um gemido sujo quando ele empurra seus quadris para cima e eu chupo mais forte. “Scout.” Seu pau incha e seus

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músculos enrijecem. “Scout.” E então ele goza enquanto eu chupo e engulo tudo o que ele tem para me dar. “Oh. Deus. Scout.” Seu aperto afrouxa em meu cabelo, quando ele me puxa e afasta para que eu possa olhar para ele. Levanto a mão para limpar meus lábios quando ele escorrega da minha boca. Seu sorriso incrédulo reafirma que o risco definitivamente valeu a pena. “Você é tão má.” “Você prefere que eu seja boa?” “O inferno, porra, não.” Sua risada enche a cabine quando Easton me ajuda a ficar de pé. “Olhe para você. Eu nem sequer cheguei a tirar proveito de tudo isso.” Ele corre as mãos para cima e para baixo nos lados da minha cintura e murmura em apreço. Eu bato nas mãos dele. “Você pode tirar proveito disso mais tarde. Eu tenho que me vestir antes que alguém nos pegue aqui.” Amo o som da sua risada. “Não tão corajosa agora, não é?” “Você conseguiu o que queria, não é?” Pergunto quando começamos a colocar as nossas roupas de volta. “Claro que sim.” Ele se parece com o gato que comeu o canário agora. Presunçoso como o inferno. “Nunca diga que não sou uma jogadora do time,” eu provoco. “Certeza como o inferno que você se tornou a melhor do time.” Ele balança a cabeça e olha para os muitos papéis em sua frente antes de olhar para mim de volta. “E estou mais do que certo que sua generosidade para o time ajudará a aliviar meu nervosismo amanhã à noite.” “Bom saber.”

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O amor em seus olhos é esmagador e me faz inesperadamente desconfortável. Desvio meus olhos e me concentro em amarrar meus tênis, mas quando olho para trás, ele ainda está lá, ainda olhando para mim. “Você terminou?” Pergunto. “Não. Quero repassar isso mais algumas vezes. Você vai voltar para casa?” “Você se importa se eu ficar aqui com você em vez disso? Eu tenho um livro para ler, então prometo que não vou incomodá-lo.” Seu sorriso é suave. “Gostaria muito disso.”

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CAPÍTULO 41

“A Helen vai voltar hoje à noite?” Scout pergunta enquanto seca seu cabelo com uma toalha. “Não,” eu olho para o relógio da cozinha e depois de volta para os papéis que estou mexendo. “Acabamos por hoje.” Porcaria. Onde estão minhas anotações? “Você deve estar esgotado. Você praticou durante todo o dia na cabine.” “Não o dia todo.” Deus. Droga. Ela me chupar mais cedo foi inesperado, mas foi a porra da perfeição. “Não vamos falar sobre isso.” Quando olho em sua direção novamente, suas bochechas estão coradas com embaraço. “Não mesmo...” Eu rolo meus olhos. “Conheço você, Scout Dalton. Você não pode agir toda tímida quando eu sei a mulher sexy que existe no privado.” Ela ri e a imagem do topo de sua cabeça, o calor de sua boca, a sucção de seus lábios... Sou a porra de um cara sortudo. “O que você está procurando?” Pergunta ela, propositadamente mudando de assunto e me atraindo de volta para o assunto em

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questão — encontrar minha montanha de anotações para a transmissão de amanhã. “Eu acho que deixei no estádio.” “Deixou o quê?” “Minhas anotações. Tenho que voltar correndo para pegá-las.” “Ah... justo quando eu ia deixar você aproveitar o resto de mim.” “Você ia?” Música para meus ouvidos. “Vou ficar na cama.” Seu sorriso me diz que ela está falando muito sério. “Nua. E esperando.” “Vou me apressar.” Sim. Sou um filho da mãe sortudo.

Com minhas anotações em mãos e com mil pensamentos em mente do que exatamente pretendo fazer com Scout assim que chegar em casa, corro pelos corredores do clube me sentindo muito bem com a vida em geral. As coisas com Scout estão incríveis. Estou mais que preparado para amanhã. Meu ombro está melhorando. Os Aces estão nas finais. E, porra, eu tecnicamente posso ser um Wrangler, mas meu coração estará sempre com os Aces. Pelo menos posso transmitir o jogo. Não estarei jogando, mas é melhor do que nada. No fim do corredor.

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Olho fixamente. Que porra é essa? “Você tem que parar de falar sobre isso aqui. As pessoas começarão a perceber.” “Deixe que falem.” Santiago joga as mãos para cima. “Veja se eu me importo. É a sua imagem que você está tentando preservar, mantendo tudo isso em segredo. Não a minha.” “Fale baixo, está bem?” Meu pai diz com uma passividade que nunca ouvi antes. Não consigo me mover, embora no íntimo eu saiba que posso não querer saber sobre o que eles estão falando. “Onde você quer discutir isso, então, Cal? Você se recusa a falar comigo em sua casa. Você não vai me encontrar em qualquer outro lugar, porque Deus me livre se alguém nos ver em público juntos — o pai e o vilão — e comecem a fazer perguntas. Pelo menos aqui se espera que falemos um com o outro. Aqui o seu filho de merda precioso pode não questionar isso.” Meus sapatos rangem e os dois estalam a sua atenção em minha direção. Balanço minha cabeça enquanto eu olho para Santiago, em seguida, para o meu pai. Oh meu Deus. “Você está brincando comigo?” Acho que disse isso. Não tenho certeza porque a minha cabeça está agora tão cheia com tanto ruído branco que eu não posso mesmo... Como diabos eu nunca vi... Porra. Santiago é o filho do meu pai? Meu meio-irmão?

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“Eu posso explicar.” Meu pai dá passo à frente, mas dou a volta, minha cabeça ainda balançando e minha mente ainda querendo não acreditar. “Não. Somente...” Pisco os olhos várias vezes tentando ignorar o que estou vendo. A mesma forma dos olhos, o mesmo queixo. É quase imperceptível com a diferença em suas cores de pele, mas eu posso enxergar. E agora eu não posso não enxergar isso. “É verdade?” Eu pergunto com a minha voz em um resmungo sussurrado. A boca do meu pai aperta quando ele encontra meus olhos. E acena concordando. “Easton me deixe apenas —” “Que se foda.” Eu me viro para escapar quando ele chama atrás de mim. Começo caminhando e logo faço uma corrida completa. Qualquer coisa para sair deste labirinto de concreto que me faz sentir como se areia movediça me puxasse para baixo. Preciso de ar fresco. Não consigo respirar. Não consigo pensar. Empurro a porta para o estacionamento. Minhas mãos estão em meus joelhos enquanto eu puxo o ar. Scout. Eu preciso Scout. Corro para casa. Entro inquieto no elevador e pressiono impacientemente o botão C várias vezes como se isso fosse fazê-lo subir mais rápido. A porta se abre. “Scout! Scout!” Ela sai correndo do quarto e para quando me vê. “Easton.” Sua voz é calma, seus olhos são cautelosos. “Seu pai acabou de ligar. O que aconteceu?”

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“O que ele disse?” Ela dá um passo em minha direção e eu me afasto dando uma volta. “Eu só... Eu preciso... O que esta acontecendo aqui?” “Oh merda,” ela diz com a voz embargada. Respira fundo e olha para mim. "Você sabia?" “Não, com certeza. Ainda não sei,” ela gagueja em seu argumento. Meu peito contrai a partir de suas palavras. “Encontrei o seu pai e o Santiago outro dia —” “O quê? Quando? Onde? Cristo.” Então percebo: Scout de olhos arregalados e sem fôlego quando ela abriu as portas para o estacionamento. “Foi quando o meu pai te seguiu para fora do estádio?” Ela balança a cabeça. Puta que pariu. Por que ela esconderia de mim se pensou... A raiva se arrasta lentamente e se infiltra por todo meu corpo. “Você sabia e não me contou?” Ela segura as mãos para cima. “Eu ouvi os dois sussurrando algumas palavras e tirei minhas próprias conclusões, mas não sei ao certo. E com certeza não perguntei.” “Por que você não me contou?” Quero gritar com ela, agitá-la, obter algum tipo de reação porque eu tenho tanta raiva e confusão me corroendo por dentro que não sei o que fazer ou dizer, ou como me sinto. Mas não posso. Isto não é culpa dela. Nem uma maldita coisa. Não, Santiago não é culpa dela. Ele culpa do meu pai. “Eu ia te contar —” “Mas não o fez... você ia mesmo?”

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“Depois de amanhã à noite.” A voz dela é tão macia comparada aos meus gritos. O dia para minha noite. Luz para o meu escuro. A minha merda fodida. “Eu não queria prejudicar você e a sua transmissão. Você tem estudado tanto e eu queria que você estivesse com a cabeça clara e —” “Sim, bem, isso foi por água abaixo agora, não é?” “Não tem de ser.” Meu pai tem outro filho. Há quanto tempo ele sabe dele? Há quanto tempo ele o mantém em segredo? Será que a minha mãe... Merda. Minha mãe. “Santi-fodido-ago.” Trago as duas mãos para os lados da minha cabeça e ando de um lado para o outro pela sala. Tantos pensamentos. Tantas perguntas. “Easton.” Ela estende a mão para mim e tanto quanto quero me afastar, e encolher num buraco e fingir que isso não está acontecendo, eu não posso. Ela é a única pessoa em quem confio, agora quando sinto que não posso confiar em ninguém. Nem em mim mesmo. “Sinto que estou me afogando. É como se eu não pudesse respirar. Eu tenho que sair. Pensar. Para... eu não sei o quê.” Pego as chaves do carro da cesta e aperto o botão do elevador. “Fique. Fale comigo. Por favor.” A ruptura em sua voz quase me mata. Implora-me para ficar aqui quando eu sei que agora não posso. Fecho os olhos, respiro fundo e desejo afastar tudo. Quando abro meus olhos novamente, porém, nada mudou. Ela ainda está aqui e ele ainda é meu meio-irmão. As duas coisas que eu sei com certeza.

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“Eu não vou fazer nada estúpido,” digo enquanto uma lágrima desliza em sua bochecha. “Eu só preciso de algum tempo para pensar.” Ela balança a cabeça. Ela me entende. Ela compreende. E ainda assim eu não entendo nada.

“Abra.” A porta treme enquanto eu bato nela. “Vamos, mãe, abra.” Mentiras sobre mentiras. Tantas mentiras. Raiva. Confusão. Lesão. Traição. Quatro desastres batendo em meu íntimo. “Mamãe. Eu preciso que você atenda a porta.” Bang. Bang. Bang. Meu pai é a razão pela qual minha mãe está quebrada. Suas mentiras a quebraram. “Easton? Easton, você está bem?” Sua voz está arrastada, ainda silenciada através da porta antes do som distinto da abertura de bloqueios possa ser ouvido. “Sim. Não. Eu não sei porra nenhuma,” digo quando ela abre a porta, seu rosto é a imagem da preocupação confusa. “O que está errado?" Passo por ela e entro na sua casa deprimente — sinto-me preso de volta no tempo com mais garrafas vazias bagunçando o balcão do que eu já notei antes — e tento conter a minha raiva que ela não merece. Isto não é culpa dela.

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“Mãe...” Eu nem sei como dizer isso. “Eu sei a verdade. Eu sei o motivo de você e do meu terem se separado.” Seu rosto empalidece e suas mãos ficam instáveis enquanto ela anda cambaleante para a cozinha e assumidamente sorve um enorme gole do seu copo. Ela fica de costas para mim, mas posso ver seus ombros subir e descer enquanto ela toma uma respiração profunda. Quando se vira para me enfrentar, ela de repente se parece com vinte anos a mais. “Por que nós nos separamos, East?” “Não. Não.” Eu ando e seguro o copo em sua mão e o jogo na pia. Ela chora pela perda, mas estou tão farto do seu vício que nem me importo. Agora eu preciso dela mais do que ela precisa do álcool e não acho que ela vê isso. Ela nunca enxerga. Eu me pergunto se ela nunca verá. “Nós éramos jovens.” “Besteira. Todo mundo era jovem naquela época.” Corro uma mão através do meu cabelo e olho para uma fotografia de nós três na parede e luto contra a vontade de esmagar o meu punho contra ela. “Ele te traiu, não foi?” Ele estava em cidades diferentes todas as noites com a equipe e ele foi tão egoísta pensando apenas em si mesmo, em vez da sua família que nem se quer conseguiu manter seu zíper fechado. Seu queixo treme enquanto ela se apoia sobre o balcão e lentamente vai sentando em uma cadeira. Vejo suas lágrimas. Observo suas mãos tremendo. Ouço quando ela sussurra, ‘Oh Deus.’ “E então ele engravidou alguém.” “Não. Pare.” Minha mãe cobre seus ouvidos e um soluço violento escapa do fundo do seu peito. Ela balança a cabeça para trás e para frente, repetindo a palavra não uma e outra vez. Ela

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está desequilibrada, muito como me sinto agora, mas eu preciso desesperadamente chegar até ela. Preciso da confirmação. Eu preciso ouvi-la dizer isso. “Foi isso que aconteceu? É isso o que você escondeu de mim? Você me levou a acreditar que ele é um bom homem quando na realidade ele é um pedaço de merda que amou a si mesmo mais do que ele nos amou?” Ela começa a balançar para trás e para frente, seus olhos passando na garrafa meio vazia fora do seu alcance de distância e ela chora mais. “Não. Ele era... Ele vai —” “Não dê desculpas por ele. Você nunca faz —” Minhas palavras caem por terra quando meus pensamentos finalmente se alinham e caem no lugar. Ele vai... Tempo presente. Estou num instante do outro lado da sala e sacudo os seus ombros, para que ela se vire. Preciso ver a cara dela quando fizer a próxima pergunta. Aquela que está atualmente me embrulhando o estômago. “Quem é o amor de sua vida, mãe?” O pânico é tudo o que vejo em seu rosto. “Quem? Meu pai é o verdadeiro amor que você está esperando?” Ela não responde. Seus lábios se abrem e fecham. Ela olha para a garrafa novamente e, em seguida, volta para mim. Necessidade versus dever. Vício contra o amor. Tudo faz sentido agora.

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“É por isso que mantém essas imagens de nós três nas paredes, não é? Achei que você fazia isso para que eu pudesse ver que a nossa família nem sempre foi quebrada. Para que eu soubesse que era amado por dois pais mesmo depois de ter apenas um dos dois a cada vez.” “Você foi amado.” “Mas não era nada disso, não é? Você os deixou aí porque ainda o ama. Porque ele amava as partes de você que ninguém mais amava.” Seus olhos injetados de sangue estão vidrados e seu sorriso torto, apesar de seu rosto manchado de lágrimas. “Ele disse que ia fazer tudo certo e voltar para mim.” Olho para ela. Descrença possui cada parte da minha alma quando pensei que já estava chocado o suficiente por um dia. E pela primeira vez na vida, eu gostaria de ser ela. Viciado em algo que tem tal poder sobre você que te faz viver no passado. Acreditar em coisas que não são verdadeiras. Segurar as mentiras que você diz a si mesmo e só assim suportar o próximo segundo. O minuto seguinte. O dia seguinte. A próxima garrafa.

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CAPÍTULO 42

“Ele não está aqui.” Cal fica no hall de entrada, um homem derrotado. “Você sabe para onde ele foi? Eu preciso falar com ele." “Acho que suas ações têm falado alto o suficiente.” Ele cometeu um erro em seu passado? Obviamente. Eu sinto pena dele? No nível eu-sou-um-ser-humano, sim. No nível eu-amo-equero-proteger-Easton, absolutamente não. “O que você quer que eu diga Scout?” Ele esfrega uma mão sobre seu rosto. “Você sabe o quê? Ele tentou fazer jus à sua perfeição, toda sua vida. Ele tentou e falhou e se odiava porque ele ficou aquém em mais maneiras do que você jamais poderia imaginar... e você o deixou acreditar nisso. Você o deixa pensar que ele é menos que sua imagem imaculada.” “Eu não fiz isso.” Ele diz as palavras, mas não há nenhuma convicção lá. Um homem orgulhoso incerto sobre como ser humilde. “Você não tem onde se apoiar, Cal.” Agitada e preocupada com Easton, eu puxo minha nuca com as minhas mãos tentando me

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acalmar. “Você acha que esse seu segredinho nunca escaparia?” Ele abaixa a cabeça por um instante antes de olhar para mim. “Você sabe as chances de que alguém que teve um caso no caminho de volta para casa teria um filho que também se tornaria um grande jogador de basebol? As probabilidades são tão mínimas de acontecer, muito menos dois filhos do mesmo pai.” “Há quanto tempo você sabe?” Pergunto. “Anos? Meses? Quanto tempo você tem escondido isto de Easton?” “Santiago nunca soube que eu era seu pai.” Ele balança a cabeça, como se ainda estivesse tentando compreender tudo isso. “Depois que sua mãe morreu no ano passado, ele encontrou alguns recortes de jornais que ela tinha guardado sobre mim. Ele ligou os pontos e se aproximou de mim em Março.” Oito meses. “Você teve meses. Você não ia contar para Easton, não é?” O meu tom não é de longe tão amargo quanto eu me sinto. “Eu não sei.” Ele faz uma pausa. “Sim. Eventualmente.” Não tenho certeza se acredito nele ou não. “Então, nesse meio tempo você ia fazer o quê? Ficar à margem e assistir Santiago continuar a sabotar a carreira de Easton?” Cal gagueja. As palavras que ele quer dizer e não consegue fazer passar por seus lábios. “Estou — estou ainda em choque.” “Choque ou não, Cal, é ele,” eu grito incapaz de obter as palavras o mais rápido possível. “O cara que machucou seu filho deliberadamente. A pessoa que arruinou sua carreira. Você não se importa? Não pensou em protegê-lo de —” “Você não tem ideia do que —” “Você sabia antes dele machucar Easton?” Meu estômago se agita com o pensamento.

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“Não. Eu juro. Eu não sabia. Santiago estava sofrendo. Sua mãe tinha acabado de morrer, pelo amor de Deus, e ele passou a vida sem um pai. Então, ele estava sozinho e percebeu que o cara cuja carreira ele invejava era nada mais nada menos que o seu meioirmão.” Ele estava sofrendo. A sentença fica na minha cabeça. A familiaridade em seu tom. A desculpa para o indesculpável. Bem, Easton também se machucou — naquela época e agora — mais do que eu acho que Cal jamais entenderá. Fico olhando para ele, com a boca aberta e balançando a cabeça como se eu estivesse tentando acreditar no que estou ouvindo. “Por favor, me diga que você não está desculpando Santiago por machucar Easton.” Minha voz é fria. “Eu não estou. É só que... Jesus Cristo.” Ele caminha de um lado para o outro da casa. Ele tem que saber que e está em uma situação sem vitória aqui. “Não há nada que você possa dizer para dignificar o que Santiago fez. Como você pode mesmo deixá-lo em sua vida sabendo o que ele fez com Easton?” “Mas ele é meu filho.” Sua voz é sussurrada em descrença. “Durante os últimos vinte e cinco anos, Easton foi o seu único filho. O engraçado é que eu ainda não vi você ser tolerante ou lhe mostrar qualquer compreensão, coisa que você com certeza têm mostrado Santiago.” Lágrimas enchem seus olhos. Eu posso ver sua dor. Sua incerteza sobre o que fazer. O caos dentro de sua alma. E uma parte muito pequena de mim sente pena dele. A outra parte de mim o despreza por destruir tantas vidas. Sua esposa com sua infidelidade e, em seguida, condenar seu filho a cuidar dela ano após ano — assistindo-a sofrer e tropeçar. E

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constantemente fazer seu filho se sentir menos do que deveria, em seguida, esfrega seu filho bastardo na sua cara como se para zombar dele.

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CAPÍTULO 43

Está tarde. O lugar é uma cidade fantasma. Eu não sei há quanto tempo estou sentado na caminhonete olhando para as paredes de concreto cinza da garagem do meu prédio, mas não quero subir ainda. Tantas malditas mentiras que eu não posso entender todas. Em que acreditar. O que não acreditar. Como minha mãe pode ser tão fodida que ainda acha que meu pai vai voltar para ela. Como posso compartilhar o mesmo sangue com Santiago quando eu o desprezo como a porra. Saio da caminhonete. Os olhares nos rostos do meu pai e de Santiago gravados na minha mente. E então minha mãe. Seu amor lamentável por um homem que nunca voltará para ela. E minha esperança patética de que tudo isso é um sonho. “Easton.” Estou na metade do caminho para o elevador. Eu fico lá na terra de ninguém — tão perto de casa — e cerro os dentes. Eu não quero fazer isso agora.

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Não quero vê-lo. Não quero enfrentar isso. “Easton.” Eu estalo. “Você não poderia manter seu pau em suas calças, não é? Grande, mau, o jogador no-topo-do-mundo do basebol tinha que foder qualquer coisa com duas mamas, um buraco e um batimento cardíaco para manter o seu complexo de Deus a toda a velocidade.” “Não foi nada disso. Podemos ir lá pra cima? Para algum lugar privado?” “Ah, claro. Você quer manter isso em segredo para que não arruíne a imagem que você tem de ser o fodido Mr. Perfeito... Bem, você não é assim tão perfeito, afinal, não é?” Ele dá um passo em minha direção. “Nós precisamos conversar, filho.” “Você não me chame de filho!” Viro para enfrentá-lo pela primeira vez e igual a minha mãe, ele parece que envelheceu cem anos esta noite. Ele parece velho. Cansado. Quebrado. E o fato de que eu me importo só me irrita mais e alimenta o meu fogo. “Quantos outros irmãos eu tenho, pai? Talvez eu tenha uma irmã em Dallas. E outro irmão em Nova York. Inferno, talvez haja uma em cada cidade em que você já tenha jogado. Sorte minha.” “Não foi assim, Easton. A mãe dele nunca me disse nada além de que ela estava grávida. Eu nem sabia se ele existia para começar.” “Deixe-me adivinhar. Ela disse que estava grávida e você queria se livrar do ‘pequeno problema’, então você descascou algum dinheiro para comprar seu silêncio e para que ela fizesse um aborto. Qualquer coisa para evitar arruinar sua reputação. E, eis que ela não fez o que ela disse.”

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“Easton.” Seus olhos endurecem quando ele dá um passo em minha direção. “Quem diabos você acha que eu sou?” “Eu não sei mais.” As palavras são as mais calmas que eu falei, mas por sua careta, eu sei que elas cortaram mais profundo. “Não foi nada disso. Eu prometo a você que não foi.” Ele passa a mão pelo cabelo e olha em volta para se certificar de que ainda estamos sozinhos. “Ela me disse que estava grávida, mas não queria que eu tivesse qualquer parte da vida do bebê. Que não era justo para a minha família e não era justo para ela e para o bebê. Para cada um de vocês conseguir apenas metade de mim.” “Que conveniente.” “Estou falando sério. Eu nem sabia sobre ele até que ele me procurou no início deste ano.” Ele o conheceu por meses e não me contou porra nenhuma? “E daí? Você disse para a minha mãe que tinha uma mãe por aí com seu bebê e arruinou a nossa família, afinal?” “Não foi assim,” ele repete pelo que parece ser a centésima vez. “Então como foi? Esclareça. Por que você não diz como foi jogar fora uma vida normal com o seu filho porque você era muito egoísta para colocá-lo antes de si mesmo.” “Eu não me orgulho do que fiz, mas —” “Que nobreza a sua assumir alguma responsabilidade, Cal.” “Eu tentei esconder de você o alcoolismo da sua mãe,” ele diz, falando bem sobre o meu sarcasmo. “Ela não bebia até depois que você nos deixou.” “Você não sabia que ela bebia até então porque eu te protegi disso. Escondi de você.”

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“Isso tudo é a porra de um pretexto de merda e você sabe disso,” eu grito no topo dos meus pulmões. Ele vai culpar a minha mãe? Ele que vá se foder. “Pense nisso, Easton. Pense para trás quando você era uma criança, mas olhe para o passado através dos olhos de um adulto.” Fico olhando para ele e rejeito as palavras que ele está dizendo, apesar das memórias aleatórias que desencadeiam coisas que nunca faziam sentido. Chegadas de surpresa na escola onde ele e eu passaríamos a noite em um hotel embora fosse uma noite de escola. A lata de lixo que tilintava com garrafas de vidro quando eu tive que ajudar a arrastá-la até a borda da calçada para a coleta de lixo. Sua única explicação era que elas eram garrafas de cerveja que os caras haviam bebido enquanto jogavam pôquer, exceto que eu nunca me lembrava de qualquer jogo. Algumas viagens com a equipe quando eu deveria ficar em casa porque já havia faltado muita a escola. Eu não quero acreditar em qualquer uma das memórias, porque isso significaria que ele está dizendo a verdade e agora, a sua verdade não é algo que eu confio. “Sua mãe tinha dois amores. Você e seu álcool. Ela ficou casada com a garrafa e não tinha espaço para mim.” Há mágoa em seus olhos que me recuso a reconhecer. “Talvez eu seja o único que causou isso. Talvez as minhas viagens ou ficar sozinha com um menino jovem e cheio de energia foi demais para ela lidar. Eu nunca vou saber Easton. Mas em um período de seis anos, a nossa casa deixou de ser um lar amoroso para se tornar um lar onde ela excluiu minha existência. Não é desculpa, mas eu estava sozinho. Meu caso tinha muito mais a ver com isso do que sexo. Tinha a ver com a companhia. Foi sobre ter alguém para conversar no final do dia. Foi errado? Sim. Havia melhores maneiras de lidar com isso? Definitivamente. Mas eu agarrei a nossa família por tanto tempo quanto possível e, em seguida, Maria ficou grávida.”

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Então, ela tem um nome. “Maria,” eu sussurro, odiando a maneira que soa na minha cabeça. “Sim,” ele concorda. “Sua mãe encontrou a carta que Maria tinha escrito para me dizer adeus e que ela não queria que eu entrasse em contato com ela novamente ou com o bebê depois que ele nascesse. Sua mãe e eu brigamos por isso. Eu disse a ela que eu faria as coisas direito e ganharia a confiança dela novamente e ela concordou em ficar limpa. Nós concordamos em passar algum tempo separados, mas eu prometi que voltaria para ela. Lutaria por ela. Quando eu fiz isso, foi óbvio que a nossa separação só serviu para fortalecer seu amor pelo álcool.” “Mas ela te amava. Ela ainda ama.” “E eu vou sempre amar a mulher que ela era. A que eu escolhi ver quando ia buscá-lo nos meus dias programados. Aquela mulher sóbria que ficava toda arrumada e com o seu batom vermelho para me deixar saber que ela ainda estava interessada. E eu retornei algumas noites depois que você tinha adormecido. Eu implorei que ela fosse para a reabilitação. Para começar o tratamento — e ela tentou — naquele verão que você viajou comigo e com a equipe por dois meses — Mas no final o vício ganhou.” Eu tento digerir tudo o que ele está me dizendo. “E quanto a Maria? Você simplesmente deixou que ela fosse embora sem uma luta?” “Não. Tentei encontrá-la, mas ela tinha desaparecido. Mudou e sumiu sem deixar um endereço de contato.” Estou sem saber o que fazer aqui. Meu estômago se agita e meu peito dói por toda a raiva me devorando. Há muito mais que eu preciso saber, mas estou com muito medo de perguntar. O tempo que levei vindo da casa de merda da minha mãe, tanta coisa passou pela minha cabeça.

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“Eu tenho uma tonelada de perguntas de merda. Então, são tantas que todas estão fodendo a minha cabeça, mas eu preciso de respostas. Você pode me dar isso? Você pode ser o homem que todo mundo pensa que você é e respondê-las?” Ele se encolhe na minha provocação, mas que se foda a decência. “Sim.” Sua voz é quase um sussurro e sei que ele teme o que eu vou perguntar em seguida. “Você sabia que Santiago era o seu filho antes dele me lesionar?” Aperto minha mandíbula e espero pela resposta. “Não.” Ele começa a dizer algo e eu levanto minha mão para detê-lo. Preciso passar por isso para manter a calma e revidar a raiva. “Ele está chantageando você?” Os olhos dele piscam para o meu, a pergunta o assusta. “Não realmente.” “Sim ou não, Cal. Você não pode classificar mais ou menos uma chantagem de alguém.” “Ele estava perturbado com a morte de sua mãe. Zangado com o mundo porque viveu uma vida tentando sobreviver sem um pai. Tudo foi uma luta para ele e então descobriu que era meu filho. E enquanto ele lutava dia-a-dia, o cara que ele perseguiu as estatísticas por anos, tinha tudo. Santiago se sentiu roubado. Ele questionou por que você levou uma vida de privilégio quando ele viveu uma de pobreza... ainda que os dois partilhem o meu sangue.” “Isso não é a porra da minha culpa.” “Você está certo. Não, não é. E eu tentei dizer-lhe isso, mas o ressentimento é uma coisa difícil de deixar de ir.”

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Não é desculpa. Isso é tudo o que penso mais e mais enquanto meu pai fala. Nada disto é uma desculpa válida para foder a minha carreira. “Chantagem, pai. Sim ou não?” “Tudo o que ele queria era os mesmos privilégios e oportunidades que você teve.” “E tudo o que você queria era manter seu pequeno segredo sujo tranquilo, certo?” O sarcasmo cai segundo para a descrença quando ele pendura a cabeça momentaneamente, olhos mirando para seus pés. Quem diabos é esse homem? Eu nem o conheço mais. Quantas outras mentiras houve? “O que eu deveria fazer Easton? O quê? Negar para ele que eu não tinha controle sobre toda a sua vida? Você não pensaria menos de mim se eu me afastasse dele? Estou lutando para descobrir como vamos a partir daqui.” “Nós? Não há nós, aqui.” Ele acena. “Eu quis dizer eu e Mateo.” Mateo? Eu não quero pensar sobre ele ter a intimidade do primeiro nome com ele. E foda-se se essa correção não era o que eu queria, mas ao mesmo tempo só faz a picada um pouco mais forte. “Você teve alguma influência, desempenhou algum papel, para trazê-lo ao Aces?” A queda repentina de seus ombros me faz dar um passo para longe dele. “Não era para ser assim.” Cada parte de mim implora para ele dizer não. Mas ele não fala. “Sim ou não?” Eu grito.

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“Sim.” Mal posso ouvir a palavra quando ela alcança meus ouvidos. Ele sabia. Ele organizou para o idiota que arruinou minha carreira jogar para os Aces. Com seu filho, porra. Sua porra de primeiro filho. “Você nunca deveria ser negociado. Eu não tenho ideia do que Tillman tinha na manga. Nem uma porra de pista.” “Conveniente.” Eu rosno. “Você achou que o Aces poderia dar para ele a mesma coisa que eu tinha? O que ele queria? Só para aliviar sua culpa? E quanto a mim?” “Eu sei que você não tem nenhuma razão para acreditar em mim agora, mas... Por favor, acredite, não foi intencional. Tillman estava procurando um apanhador reserva — pelo menos é o que ele disse a todos. Ele disse que queria trazer alguém a bordo para ajudar a aliviar a sua transição de retorno. De todos os apanhadores disponíveis, Santiago tinha as melhores estatísticas.” “Você pode cobrir com açúcar de qualquer maneira que você queira para tornar isso mais fácil para você engolir, mas vamos enfrentar a verdade, você falou com o idiota do gerente para trazer o cara que fodeu o braço do seu filho para o clube que ele joga, somente para aliviar a sua culpa.” “Sim. Não. Eu estava desesperado, Easton.” Minha risada é tudo menos bem-humorada quando eu tento envolver entender tudo isso. Quando tento me colocar no lugar do meu pai, mas sabendo que tudo fede a besteira. “Tudo o que ele queria era o meu tempo, Easton. Uma oportunidade para conhecer o pai que ele nunca conheceu —” “Ele conseguiu um contrato que dobrou o maldito salário dele. Você não pode me dizer que o dinheiro não foi um fator motivador aqui, Papai.”

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“Ele só quer mais —” “Poupe-me de suas desculpas, pai.” Nós olhamos um para o outro. A fúria correndo em minhas veias torna impossível ouvir mais qualquer coisa. “Quando você foi negociado,” ele diz depois de um momento. “Eu fui para Boseman e disse tudo o que Tillman fez. Eu disse sobre os rumores sobre o que ele fez com outros jogadores. Eu sou o único que ajudou a fazê-lo ser demitido —” “Você espera que eu agradeça por isso?” Jesus porra Cristo. “Ele é um Ace. E eu não sou. Ele pegou minha posição. Meu time. Então foda-se isso, pai. Vá se foder. Que se foda toda esta situação do caralho.” “Foi uma tempestade perfeita de coincidências entre Tillman e Santiago —” “Ele foi o único que fodeu o meu ombro,” eu grito a plenos pulmões para romper a neblina que parece encobri-lo. A picada da traição real, crua e indesejada. “Por que você não pode reconhecer isso? Santiago propositadamente me lesionou e sozinho arruinou a porra da minha carreira.” “A sua carreira está longe de ser arruinada, Easton.” “Não se atreva a defendê-lo.” Meu grito troveja através do espaço concreto e ecoa de volta para nós. “Ele queria o que eu tinha e você lhe deu as chaves e abriu a porta para que ele tomasse.” Eu rio com condescendência. Ele pode ter parado de jogar basebol anos atrás, mas ele ainda está jogando um jogo, só que agora é com a vida das pessoas. “Vocês dois se merecem.” “Easton...” Ele dá um passo em minha direção. “Não faça isso. Só não.” Seus olhos suplicam para eu entendêlo, enquanto meu coração se revolta de raiva com a sua traição.

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Por que eu sempre quis ser como ele? Que se foda. Que se foda tudo sobre ele. Eu preciso ir para casa. Eu preciso de Scout.

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CAPÍTULO 44

“Easton? É você?" Está tarde. O quarto está escuro. “Shh.” Os lençóis levantam. A cama cede. Ele desliza atrás de mim e me puxa para a curva do seu corpo. “Você está bem?” “Apenas me deixe segurar você, ok?” Eu odeio a dor em sua voz. A dor. Quebra meu coração. “Eu serei o que você precisa que eu seja.” Sussurro e deslizo minhas mãos sobre a dele, descansando-as em meu abdômen. “Você já é.”

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CAPÍTULO 45

Estou assustada quando acordo com uma cama vazia. O céu está cinza nesta hora da madrugada, onde não está nem claro e nem escuro... Apenas cinza. Ouço o barulho de chaves. Sinto o cheiro de café. E me pergunto o que ele está fazendo. “Easton?” “Aqui.” Eu o encontro na cozinha, sem os tênis, usando um short de ginástica escurecido pelo suor e a pele corada pelo exercício. Ele está concentrado fazendo ovos mexidos. “Ei.” Minha voz é cautelosa, incerta com o seu estado depois de ontem e o que juro eram soluços silenciosos enquanto ele me abraçava apertado na noite passada. “Bom dia.” Sua voz está alegre, aparentemente não afetada e o seu corpo ainda está virado para o fogão. “Acabei de descobrir que este edifício tem um canil oficial lá em baixo. Um lugar real onde, se você tiver um cachorro, você pode levá-lo lá como uma creche — creche doggy eles chamam — assim, aqueles que como nós querem um cão pode ter um.”

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“Eu não sabia.” “Estive pensando, já que estou lesionado e nós estamos a ponto de estar oficialmente fora da temporada... que poderia ser um bom momento para pegar aquele vira-lata que você estava pensando. O que você acha?” Ele se vira para mim pela primeira vez desde que eu entrei na cozinha. Estudo seu rosto antes que ele se volte para os ovos. Não há nada lá que sugere o drama da noite passada. “Easton...” “Nós podemos olhar na próxima semana, se quiser. Após o final da série. Podemos adotar um do Pet Haven ou podemos ir para outro lugar. Você deve começar a pensar sobre que tipo de cão você quer.” “Você quer falar sobre a noite passada?” Vejo pela primeira vez uma pausa em seu comportamento alegre, mas isso é só um endurecimento momentâneo em seus ombros. “E eu acho que nós deveríamos fazer uma viagem. Para algum lugar tropical. Ou para a Europa. Eu tive minha vida dedicada por tanto tempo ao basebol que preciso parar de ser um escravo disso e começar a viver, você não acha? Eu estava falando com seu pai esta manhã e —” “Meu pai? Esta manhã? Não são nem sete horas.” Sinto-me como se tivesse pisando em um universo alternativo. “Mandei uma mensagem para ele sobre certo assunto — precisava da opinião dele sobre o que viu ao longo de seus anos — e ele respondeu. Então eu liguei e...” Ele dá de ombros. “Nós conversamos.” “Ok.” Eu atiro a palavra. “Tem alguma coisa a ver com o que ele sussurrou para você antes de sairmos naquela noite?” “Não.” Senhor Tagarela.

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O observo colocar os ovos em dois pratos e dispor um deles na minha frente. “Obrigado.” “Por nada,” ele diz andando em volta de mim e pressionando um beijo no topo da minha cabeça antes de se sentar ao meu lado com seu próprio prato. “Easton,” repito. “você quer falar sobre o que aconteceu na noite passada?” Ele fica quieto enquanto mastiga sua comida e me pergunto se ele dirá algo profundo. “Não.” “Não?” Pergunto. “Mas —” “Que horas você vai para o estádio hoje? Não preciso chegar até as cinco, mas provavelmente vou chegar lá às quatro e meia para mais um ensaio. Podemos ir juntos, se quiser.” Meu garfo está suspenso, ovos presos precariamente nas suas pontas, mas tudo o que posso fazer é olhá-lo e me perguntar se ele está em negação. Uma fuga clássica no seu melhor exemplo. “Acho que devemos falar tudo...” Seus ombros caem e ele fecha os olhos momentaneamente. Easton puxa uma respiração como se eu o estivesse frustrando. “Eu não quero. Agora não. Eu só posso lidar com uma coisa de cada vez, Scout. E hoje eu lidarei com a transmissão. Depois disso, e vou cuidar de adotar um cão com você. Você se mudou para minha casa e isso tudo aqui é apenas sobre mim... então, se tivermos um cão seria como criar algo juntos. Talvez isso faça você sentir que agora aqui é tudo seu também.” Eu não tenho certeza se acompanhar a sua fuga é saudável ou se forçá-lo a falar sobre tudo seria o melhor. Mas pelo menos a cabeça dele está onde precisa, na transmissão de hoje à noite. Isso é metade da batalha.

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E depois de vencer essa batalha, parece que teremos um cรฃo. Juntos. Daremos o prรณximo passo.

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CAPÍTULO 46

É dia de jogo. Eu posso sentir isto em meu sangue mesmo não tocando o campo. Há entusiasmo, energia e magia. Scout ao meu lado conversa sobre quem ela deve começar a alongar primeiro e como ela está preocupada com o cotovelo de Dungey. “Tudo bem Easy E?” “Manny-Man.” Eu me viro para encontrar o rosto que vi mais vezes na minha carreira, além do meu pai, e agarro o velho filho da puta e lhe dou um abraço. “Você ainda é bonito.” Ele sorri. “E você ainda é feio,” eu respondo com um levantar de minhas sobrancelhas. E assim, o pouco do nervosismo que andou comigo por esses túneis desaparece. “Alguém tem que ser.” Ele dá um passo para trás e olha para mim. “Estou orgulhoso de você por tentar outra vez esta

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noite. Tenho certeza que eles têm esses teleprompter em perfeitas condições de funcionamento.” Ele olha por cima, para Scout, e sorri com um aceno de cabeça antes de olhar de volta para mim. Engulo o nó em minha garganta, odiando por mentir para o Manny entre todas as pessoas — um cara que provavelmente não me julgaria — mas não é o momento nem o lugar para explicar. “Tenho certeza de que eles estão.” Ergo minha pasta cheia de notas. “E mesmo que não funcione, eu pedi a programação com antecedência, então já sei o que dizer.” “Eu sempre soube que você era inteligente.” “Sim, sim.” Eu ri. “Você vai ficar por aqui para assistir o jogo?” Ele me olha por um segundo. “Sim, acho que sim.” “Sério? Qual dos grandes nomes você está esperando assistir hoje à noite?” “Você.” Olho para ele por um instante, muitas emoções girando ao redor depois de toda a merda da noite passada. Eu não confio em minha voz para responder, então apenas aceno. Scout se aproxima e lhe dá um abraço. Ele está assustado com isso, mas quando ela diz algo em seu ouvido, seu sorriso se alarga e ele ri quando ela recua. “Vejo você depois do jogo, Manny-Man.” “Não se eu te ver primeiro,” ele grita enquanto andamos pelo corredor em direção ao vestiário. “Você não tem que entrar,” Scout diz quando se vira para mim. Eu sei que ela está nervosa porque verei Santiago. “Besteira. Ele não existe para mim, Scout.”

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Entramos no vestiário e eles estão todos lá falando suas merdas relaxantes para que possam entrar na área. A calmaria antes da tempestade. Eu bato o punho com alguns caras, desejo sorte e perturbo um pouco enquanto Scout vai para seu escritório. E eu até poderia escorregar um par de pacotes de chicletes especiais no estoque de Drew. Eu sinto falta disso. E quanto mais tempo fico aqui, mais difícil é saber que talvez nunca tenha isto novamente. Muita merda de uma vez só. “Ei,” chamo Scout da porta do seu escritório. “Estou subindo.” Seu sorriso é amplo enquanto seus olhos vagam sobre meu ombro para onde eu tenho certeza que todos os filhos da puta intrometidos estão nos observando para ver se devem fazer barulhos de beijos, como crianças de oito anos antes que eu verifique minhas costas. “Tenha um jogo, Wylder.” Seu sorriso diz que tudo o que seu beijo teria dito. “Você também, Kitty.” Quando viro, ele está lá. Em pé na minha frente. Sem sorrisos. Nenhuma arrogância. Só ele. Uma dúzia de pares de olhos espera por um confronto. Eles não têm ideia do quanto essa situação mudou. Vá embora, Wylder. Eles sabem que ele me ferrou, mas não têm ideia do tamanho. Você tem um jogo para transmitir. Eu fico olhando para o filho da puta, de pé no meu vestiário com meu uniforme.

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Não deixe que ele pegue mais de você do que ele já tem. Ele merece o que está por vir. Cada. Fodida. Coisa. Vá. Embora. E eu faço. Dou dois passos. Isso é tudo que eu consigo. Que se foda ignorá-lo. Que se foda. Ele. Faço tudo o que disse que não faria. Meu punho está inclinado para trás e logo voa à frente antes mesmo de ter a chance de pensar. Eu ouço o grito Scout. Ouço um dos rapazes dizer para nos deixarem. “Seu babaca fodido,” eu cerro a mão ainda em punhos quando ele tropeça contra a parede atrás dele. “Você conseguiu exatamente o que queria, não foi? Meu trabalho? Minha cidade? Tudo porra. O que eu fiz para você? Nem uma maldita coisa. Se você quiser ficar chateado com o mundo e estragar a vida de alguém em seguida, faça com a sua. Ele é a razão de tudo isso ter acontecido, não eu.” Santiago olha para mim com um olhar muito diferente do que eu já vi antes. Suas mãos estão em punhos e seu sorriso me insulta. “Por que você deve ficar com tudo isso?” Meu sangue ruge na minha cabeça e bloqueia toda a razão. Há uma sala cheia de caras nos ouvindo agora. Assumindo. Concluindo. E eu não me importo. Meu punho voa novamente e olho para o seu rosto. Sua risada enche meus ouvidos e inflama uma raiva que eu nunca senti antes. “Você é um pedaço de merda covarde,” eu grito. “Como se me importasse o que você acha de mim.”

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“Você deveria, seu filho da puta.” Minhas mãos estão em punhos em sua camisa e eu o bato de volta contra a parede. “O quê? Não vai lutar agora?” Torço minhas mãos apertadas em sua camisa e bato novamente. Os caras fecham em torno de nós. Minhas mãos coçam para socá-lo mais uma vez. Minha fúria trava dentro de mim. “Não é preciso. Eu já consegui o que eu queria.” “Sim. Você fez. Nosso pai certo como a merda notou você. Em primeiro lugar, me atacando e fodendo meu ombro. Que jogada idiota. E então pela merda que você puxou quando você veio aqui.” Eu me inclino mais perto. “Eu não deveria esperar menos de um bastardo, porém, eu deveria?” “Seu filho da puta,” ele cerra enquanto joga um punho. Ele mal me bate porque os caras estão sobre ele, segurando-o de volta antes que ele possa chega por trás para fazer um estrago. Eu olho para ele, mãos trêmulas e corpo tenso quando cada parte de mim implora para socá-lo novamente. Idiota. “Você não vale a pena.” Ele não vale. Tenho que sair daqui. Eu olho para Scout na saída, mas não paro. Os caras acenam enquanto passo por eles. Parecendo mais do que chocados. O segredo está em aberto. Não posso dizer que eu me importo. Não dou à mínima.

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CAPÍTULO 47

Os sons do jogo soam em volta de mim. O último jogador entra correndo com um olho preto. Manny pegou o lixo deixado para trás. A voz do treinador ecoa pelo túnel e para o vestiário. Mas estou colada à tela do meu computador onde tenho o aplicativo da Fox Sports para que eu possa assistir a transmissão do jogo em tempo real. Meu joelho corre para cima e para baixo enquanto espero a música da abertura acabar enquanto rezo para Easton se sair bem. Depois do confronto com Santiago, eu preciso saber se ele está bem, mas nas vezes que fui até a cabine de imprensa, ele estava sempre cercado por outros e eu não queria interromper. Mas ele parecia bem. E depois da tempestade durante as últimas vinte e quatro horas, isso é o que me preocupa mais do que qualquer coisa. “Boa noite, fãs de basebol. Você está em uma incrível noite de basebol aqui no jogo três da Série Mundial. O Austin Aces contra os Anaheim Angels. A batalha das equipes A. As duas equipes acumulam uma vitória para cada lado antes do jogo desta noite, mas isso pode mudar, pode os Aces embrulhar isso enquanto joga aqui em casa durante os próximos três jogos ou teremos que voltar para

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Anaheim sem um vencedor? O homem ao meu lado pode ter algo a dizer sobre isso. Jogador de longa data pelo Austin Aces, Easton Wylder, senta ao meu lado na cabine hoje à noite pronto para ajudar a transmitir esse jogo.” “Boa noite, Bud. Obrigado a todos por se juntarem a nós. Você pode sentir a energia no ar esta noite? Essa é a magia do basebol, pessoal e estamos prestes a assistir isso ganhar vida com o primeiro arremesso sendo lançado em breve.” Eu solto a respiração que estou segurando e sinto que o comentário pouco acrescentou, mas a magia do basebol, é o seu jeitinho de me dizer que ele tem tudo sob controle. E ele tem. Ele faz isso através da formação inicial sem sequer uma gagueira. Easton termina o bloco com uma explanação dos patrocínios antes dos comerciais. Tudo o que ele temia parece ser inexistente desta vez. Bud e Easton brincam um pouco sobre os pontos fortes e fracos de cada equipe. “Drew Minski está com seu bastão em chamas no momento,” diz Easton. “Ele está rebatendo quinhentos para os dois primeiros jogos e quatrocentos para toda a pós-temporada. Olhem para as tentativas de arremessos longos esta noite na esperança de que ele perseguirá o corredor e atacará em vez de lançar por cima da cerca, adicionando assim outro RBI16 para seu registro.” Bud ri quando a câmera focaliza em Drew terminando seu aquecimento no campo externo. Seu rosto está cerrado e ele está 16RBI - Runs Bàtted In - Quàntidàde de corridàs impulsionàdàs por um jogàdor. Situàçào: Hà um corredor nà terceirà bàse e o bàtedor rebàte umà bolà, o corredor completà umà corridà. O rebàtedor recebe umà RBI. Éx: 4 RBI.

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puxando o que parece ser um grande cuspe preto de chiclete em sua boca. Seus dentes, língua e parte de seus lábios estão também manchados de preto. “Parece que alguém caiu numa pegadinha hoje.” “Nada como um pouco de diversão para aliviar a tensão.” Easton ri enquanto Drew, ainda em foco na câmera, agita o punho em direção à cabine de imprensa. E eu sei. Easton ataca novamente. “Você não sabe nada sobre pegadinhas agora, não é, Easton?” “Nem. Uma. Única. Coisa,” ele diz, mas aqueles que o conhecem, também conhecem esse tom de voz. E que ele está mentindo. A brincadeira boba não é nada no grande esquema das coisas, mas a mim faz maravilhas. Ele ficará bem. Ele lutou com seus demônios e vai ficar bem. Não sei como ele está dividindo tudo, mas ele está. E eu o aplaudo por isso. No momento em que o primeiro arremesso é lançado, Easton mais do que se redimiu pelo o que aconteceu na outra transmissão e provou que ele tem um dom natural em adicionar comentários brilhantes.

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CAPÍTULO 48

Luto contra a multidão enquanto me dirijo para a cabine de imprensa. O caos está instalado — com estranhos dando high fives, pessoas assobiando, bêbados aos tropeços, as crianças nos braços dos pais lutando para se manter acordadas — enquanto as pessoas saem do campo para celebrar a vitória decisiva do Aces sobre os Angels. Estou animada pelo Aces também, mas estou mais ansiosa para comemorar com Easton o seu incrível sucesso esta noite. Ele foi impecável, engraçado, carismático e envolvente. Eu não poderia estar mais orgulhosa. Ao entrar na cabine de imprensa, dou uma risada, mas não estou surpresa em ver todos os holofotes virados para Easton. Ele parece que não consegue escapar. Pelo menos desta vez, porém, é em uma perspectiva positiva. Câmeras estão anguladas em sua direção e um repórter esportivo está segurando um microfone bem próximo a ele. “Estamos tão emocionados em participar deste momento com você, Easton. Qual é a sensação em estar de volta em um novo projeto na cidade de Austin?” O repórter pergunta.

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“Austin será sempre a minha casa, Chris, então é claro que é ótimo estar aqui contribuindo de alguma forma para essa excitação. Uma vez um Ace, sempre um Ace.” “Você pode nos dizer como o seu ombro está evoluindo?” “Está ficando melhor, pouco a pouco, dia a dia. A paciência não é exatamente o meu ponto forte.” “Compreensível. É por isso que aceitou participar da transmissão?” “Algo assim.” Easton pisca seu sorriso megawatt. “Odeio ter que falar, mas o que te fez fazer isso de novo? Sua tentativa no mês passado resultou em um monte de comentários depreciativos. Será que quis trabalhar o nervosismo e pegar outra chance? Por conscientemente atrair possíveis críticas novamente?” Easton parece distante de Chris por um segundo e de alguma forma, em meio a brilhante luz da câmera, ele me encontra. Há uma confiança em seus olhos que eu não tenha visto em algum tempo. Há também orgulho. Ele acena com a cabeça sutilmente antes de olhar de volta para o repórter. “Essa é uma boa pergunta, Chris, e uma que eu lutei contra por um bom tempo. A maioria das pessoas não sabe isso sobre mim, mas eu sou disléxico e até este último mês, eu me esforcei muito para ler qualquer coisa. Um bom exemplo disso foi o meu desempenho em minha primeira transmissão pela Fox.” Ele sopra para fora uma respiração, enquanto Chris apenas olha para ele atordoado e mais do que disposto a deixá-lo falar, uma vez que esta confissão surpresa vai acabar provavelmente como pauta e audiência em todos os esportes e canais de mídia social. Tudo o que posso fazer é olhar para Easton, sentir um imenso orgulho e manter a mão sobre o meu coração para enviar-lhe apoio silencioso. “Eu patinei toda a minha vida fingindo, dando desculpas, o que for... até a transmissão ser um toque de despertar para mim. O teleprompter funcionou muito bem

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naquela noite. A culpa foi minha, não com o técnico. Eu tinha vergonha de pedir ajuda, mas aquela noite foi a dose de realidade que precisava para procurar ajuda. Então, eu tive o meu agente abordando o pessoal da Fox e solicitando mais uma oportunidade para eles. Compreensivelmente, eles estavam relutantes, mas no final eles concordaram em me dar outra chance.” “O que fez a diferença desta vez?” “Assumir o meu problema em vez de fugir dele. Com o apoio da minha tutora e da minha namorada, eu estudei como o inferno para provar a mim mesmo que eu poderia fazer isso. Que posso superar a única coisa que eu tive vergonha por toda a minha vida.” “Bem, isso definitivamente não é a resposta que eu estava esperando quando fiz essa pergunta,” diz Chris. “Você e eu.” Easton ri nervosamente. Posso dizer que ele está subitamente desconfortável e eu o amo ainda mais por isso. “Não é preciso dizer que você fez um ótimo trabalho hoje à noite.” “Obrigado. Foi muito divertido. Quem não gosta de falar de basebol?” “Verdade. Então, isso é algo que você gostaria de perseguir em algum momento depois que seus dias de jogador acabar?” “Com meu ombro este ano, tenho certeza que para alguns parece que já é o caso.” “Mas você está pensando em voltar, não é?” “Você nunca sabe o que o futuro reserva. Obrigado, Chris.” Easton termina a entrevista. Mas nunca deu uma resposta concreta para a pergunta.

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CAPÍTULO 49

“Por que você não me contou?” A voz do Finn procura por respostas. Há um traço de mágoa lá também. “Não é exatamente algo que você quer se gabar.” “Sou eu, East. Aquele que te conhece melhor que a maioria.” E ele está certo, Finn conhece. “Eu poderia ter... eu não sei.” “Não há nada a dizer. Assinar aquele adendo e foder tudo isso foi um enorme despertar com consequências graves. Quero dizer, ele é o que é, por isso, só sei que eu ainda sou um trabalho em andamento.” “Você é sempre um trabalho em andamento,” ele brinca. “Sai fora, vá se danar. Eu sou o melhor cliente que você já teve.” “Falando em ser meu cliente... Porque você foi à televisão e fez alusão ao fato de que você pode pendurar suas chuteiras quando você não disse nada ao seu agente?” Dou de ombros, embora ele não possa ver e sorrio sobre quão diferente essa mesma conversa foi ontem à noite com Scout, logo depois que a nossa comemoração terminou e ela fez uma pergunta muito semelhante.

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“Há algo que você não está me dizendo, Easton?” “Não, nada foi escrito no concreto.” “E quanto a escrever no barro?” O jeito que ela olha para mim. Com os olhos apertados e uma inclinação de sua cabeça, me diz que ela sabe que eu estou pensando em me afastar do jogo. Minha única resposta é rir baixinho, puxá-la mais perto contra mim e beijar seus lábios perfeitos. “Isso é o que eu pensei,” ela responde a minha não resposta. “Há algo a ser dito sobre sair por cima.” “Easton. Você está aí?” Finn pergunta me arrancando da lembrança do que aconteceu depois. Risos. Beijos. E então estou em cima. Dela. “Seu silêncio está me dizendo que você está realmente considerando isso.” “As pessoas ouvirão o que eles querem ouvir, Finn. Você sabe disso.” “Bem, a Fox ouviu isso muito bem,” ele diz. “Espero que sim, uma vez que foi o seu repórter fazendo a pergunta.” “Não seja um espertinho.” “Eu não estou tentando ser um.” Digo, mas não falo muito mais. Eu vi os jornais desta manhã. As manchetes. A próxima maior história no mundo do basebol além do Aces ganhar um jogo sobre os Angels pela Série é a possibilidade ou não de Easton Wylder se aposentar. “Como eu disse, você com certeza fez uma declaração sem dizer merda nenhuma. E a Fox ouviu alto e claro, mas eles não foram os únicos.”

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“O que você quer dizer?” “Eu recebi dois telefonemas esta manhã. Um da Fox Sports, oferecendo-lhe um contrato como comentarista esportivo regular nas suas transmissões. O outro foi do próprio Boseman. Pedindo que você volte para casa e para o Aces, onde você pertence — suas palavras, não minhas — mas desta vez como seu comentarista permanente no ar para todos os seus jogos.” “O quê?” Minha cabeça gira com a notícia. “Você me ouviu. Para um homem que nem sequer anunciou sua aposentadoria, no entanto, você tem duas ofertas incríveis se quiser colocar em prática. O que ninguém no seu juízo perfeito negaria.” “Uau.” É parte um suspiro, parte puta que pariu. “Parece que você tem uma reflexão séria para fazer durante o período de entressafra.” “Eu tenho.” Sinto que pensar no meu futuro é tudo o que tenho feito ultimamente. É tudo diversão e jogos para pensar em me aposentar, mas quando isso pode ser uma realidade é assustador pra caralho. Mas agora tenho opções. Aquelas que me deixam ficar no jogo que eu amo. Manter essa magia em minha vida. E me oferecem as outras oportunidades que ainda quero da vida. Eu acho que volto para aquela menina brincando com seu pai no campo. Isso é o que eu quero. Com Scout. Eu definitivamente quero isso, ela sentada no banco com um menino chamado Ford em seus braços.

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Uma família. Nossa família. Uma que eu posso estar por perto. Ser uma parte dela. Não perder porque eu estou sempre na estrada. Este jogo pode ser gratificante. Eu sei disso melhor que a maioria. Mas não tem nada haver com ter uma família. Eu desligo e olho o mundo lá fora através das janelas e pela primeira vez, desde que conheci Scout, eu sei exatamente o que quero. Engraçado como a minha decisão estava lá o tempo todo. Eu só estava procurando no lugar errado.

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CAPÍTULO 50

Easton usa o controle remoto para desligar a TV. O quarto está banhado na escuridão exceto para a luz solitária do hall. Chamei isso de ambiente perfeito para a comédia romântica que acabamos de ver. Easton chamou de ambiente perfeito para vamos-fazer-amorno-escuro. “Devíamos ir para a cama,” murmuro, mas não faço nenhuma tentativa para me deslocar de onde estou aconchegada perfeitamente em seus braços. Ele não responde e ainda assim eu sei que ele não está dormindo, porque seu dedo está traçando sem rumo de cima e para baixo em meu bíceps. “Ei. Você está bem?” Pergunto curiosa sobre onde seus pensamentos estão. “Sim. Estou bem.” “Tem certeza?” “Mm-hmm.” Caímos em silêncio enquanto minha mente corre milhões de quilômetros por hora tentando descobrir o que o deixou tão

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preocupado. Posso enumerar várias coisas — seu pai, sua mãe, Santiago, se ele deve se aposentar ou não — mas permaneço em silêncio, embalada lentamente por sua respiração e por seus braços quentes. “Eu não sei como consertar isso.” “Consertar o quê?” “Minha família fodida.” “Oh.” Ele evitou falar sobre isso por mais de uma semana e apenas quando eu desisto de tentar fazê-lo não manter isso guardado, Easton diz isso. “O filme era tudo sobre a família e como ela faz você ficar louco, mas você meio que tem que ir com o fluxo ou no final você vai acabar sozinho.” Ele faz uma pausa enquanto entrelaça seus dedos nos meus. “E isso me fez pensar sobre as coisas. Sobre como você está levando tudo com calma em relação ao seu pai. Eu sei que é duro e sei que em algum momento você vai quebrar enquanto eu estarei lá para segurar todos os seus pedaços, mas você aproveita cada segundo do tempo que tem com ele. Você tem um pai que vai embora em breve e eu estou aqui sentado com dois pais que nem sequer converso, porque não sei como avançar e seguir em frente.” “São duas circunstâncias totalmente diferentes, Easton.” Digo para tentar redirecionar a discórdia em sua voz. “Você não pode compará-las.” “Eu sei, mas ao mesmo tempo, sinto-me egoísta... e não sei para onde ir a partir daqui.” “Você teve uma enorme quantidade de coisas jogadas em você nas últimas semanas. Infelizmente, não há nenhum guia sobre como lidar com isso ou quais passos dar agora.” “Eu sei.” Ele suspira e dá um beijo no topo da minha cabeça.

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“Sua mãe,” incito na esperança de que possa o ajudar de alguma maneira. Embora esteja muito longe de ser uma terapeuta, enfrento o mais fácil primeiro. Não há nenhuma esperança para qualquer tipo de relacionamento com Santiago — como não deve haver — e seu pai é uma pergunta difícil, eu não tenho certeza se ele está pronto para lidar com isso ainda... Assim, a sua mãe, é o mais fácil. “O quê sobre ela?” “O que mudou para você em relação a ela?” “Nada realmente, eu acho. Minha mãe ainda é minha mãe. Ela ainda está apaixonada por sua garrafa e está mais convencida do que nunca que meu pai voltará para ela.” “Então você não a ama menos do que você fez antes, certo?” Easton fica em silêncio enquanto pondera sobre a minha pergunta. “Não... mas estou zangado com ela. De acordo com meu pai, seu vício foi o motivo dele ter ido embora. Foi o catalisador para ele olhar fora do casamento e finalmente, fragmentá-lo. Ela é uma alcoólatra — isso nunca vai mudar. Eu tenho um monte de ressentimento pelos dois agora e não sei como lidar com isso.” “Se ela te chamasse agora mesmo e precisasse da sua ajuda, você iria?” Eu sinto seu corpo tenso e sei que ele está tentando descobrir onde estou indo com isso. Ele está hesitante em responder, mas finalmente o faz. “Sim. É claro.” “Então, nada mudou realmente. Ela é sua mãe, Easton. É ela que você ama e o seu vício que você odeia. Dê algum tempo. Você acabou de descobrir um monte de coisas, mas isso não muda nada entre vocês.” “O sangue é mais grosso do que o álcool,” ele murmura com um suspiro seguido de uma risada incrédula.

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“Além disso,” eu digo, grata que ele ainda tem o seu senso de humor. “Minha mãe é a mais fácil. As coisas ficam um pouco mais complicadas a partir daí.” É a minha vez de rir, sabendo que ele está falando de seu pai. “Isso é uma pancada de coisas complicadas.” “Você tem esse direito.” Ele suspira profundamente. “Como posso perdoá-lo?” “Ninguém disse que você tem que fazê-lo.” “Mas isso não é a única maneira de seguir em frente?” “Eu não sabia que você queria,” eu digo enquanto lhe dou esperança. “Eu não sei o que quero. Posso perdoá-lo parcialmente? Posso simpatizar com o marido solitário que tinha uma esposa alcoólatra? Nos últimos anos, tenho sido aquele que tem cuidado dela, assim como ele já teve que fazer um tempo. Eu sei em primeira mão que é um lugar solitário para ocupar.” “Isso é um grande primeiro passo,” murmuro. “É muito maduro de sua parte pensar dessa forma.” “Bem, mantenha esse pensamento porque o meu lado imaturo sairá agora. Eu não sei como conviver com o fato dele ser tão cego pela sua necessidade de manter sua reputação intacta, que ele trouxe o seu problema para minha porta.” “Verdade, mas —” “Melhor ainda, não vamos mais falar sobre isso,” ele diz enquanto suas mãos correm até as minhas costelas, seus polegares estrategicamente colocados para passar sobre os meus mamilos. “Mm. Às vezes, falar é um exagero,” murmuro, apreciando seu talento especial para mudar de assunto. É a sua maneira

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de me dizer que ele ainda não está pronto para descobrir o que fazer com seu pai. E isso é perfeitamente normal. “Com certeza é,” ele diz logo antes de seus lábios encontrarem a curva do meu pescoço. “Então sugiro que você coloque esses seus lábios em um bom uso, Sr. Wylder.” “Eu tenho muito mais para colocar em bom uso do que apenas os meus lábios.” Easton mordisca a minha orelha. “Mas eles certamente são um bom começo.”

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CAPÍTULO 51

“Essa é tão feia. Você está falando sério?” Eu acho que ela perdeu a cabeça. Fico olhando para a imagem no computador e apenas balanço a cabeça. A cadela é uma bagunça. Uma pitbull resgatada e que foi utilizada em combates como cão isca 17 . Uma orelha está rasgada pela metade, a outra quase teve o mesmo destino; seu focinho está coberto de cicatrizes e tem um olho permanentemente fechado. Ela é tão feia que chega a ser adorável. “Nós fomos agredidos e machucados nesta vida, mas isso não significa que não somos dignos de amor, não é?” Scout pergunta com lágrimas nos olhos; reforçando cada palavra que acabou de dizer. Coloco meu braço em volta da sua cintura e a puxo para mim. Ela precisará disso nos próximos meses. Algo para confortar e segurar. Para se aconchegar enquanto observa seu pai lentamente escapar. Eu planto um beijo na ponta do seu nariz. “Ela é perfeita,” digo, sabendo que eu nunca serei capaz de resistir a dar a Scout tudo o que ela quiser. “Qual é o nome dela?” “Daisy.”

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Càes utilizàdos em ‘rinhàs’ pàrà àtiçàr/enfurecer os càes que lutàrào.

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“Daisy?” Eu rio. “Ela não se parece com uma flor18.” “Todo mundo merece algo bonito em sua vida, independente das cicatrizes que eles carregam.” Maldita mulher. “É Daisy, então.” Ela grita e pula em meus braços. Suas pernas em volta da minha cintura. Beijos em meus lábios. Deus, esta mulher vai ser minha ruína. O alarme soa e nós dois gememos. “Basta ignorá-lo,” eu digo, em seguida, começo a beijá-la novamente. “E se for algo importante? E se for Finn com os contratos para examinar, então você será capaz de tomar a sua decisão final?” “Ele teria ligado.” Volto para outro beijo, mas ela deixa cair suas pernas dos meus quadris e começa a se afastar, apesar do meu braço bom tentar segurá-la perto. “Você não atende, não temos sexo. Você atende, temos sexo.” Meus braços caem. “Sexo bom. Sexo professora-quente.” Agora, ela está falando. “Sexo rede-gaiola-basebol.” Definitivamente falando muito e me fodendo com essas palavras. “Ou talvez a gente possa inventar um novo tipo de sexo.” “Como que tipo?” Pergunto enquanto dou um passo em direção ao elevador. “Hmm. Eu posso ser a sua garota bastão e me certificar de lidar de forma perfeita com suas bolas.” Jogo minha cabeça para trás e gargalho. “Oh, Kitty...” Minhas palavras desaparecem assim como o seu riso quando a porta abre e o meu pai aparece. 18

Dàisy – o nome dàdo à flor màrgàridà em ingles.

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Oh, como os poderosos caíram. “Cal,” Scout diz com um aceno de cabeça em reconhecimento. Não sei bem como me sinto ao vê-lo aqui. “Eu vou deixar vocês dois conversarem.” Escuto os pés de Scout batendo pelo corredor e odeio que eu não sei o que fazer ou dizer, ou mesmo como agir. A dor retorna imediatamente. A confusão segue de perto. O sentimento de ser sacrificado para livrar sua cara. “Posso entrar?” Ele pergunta. “Claro.” Dou um passo atrás, mas não o convido para entrar em minha casa. Nós ficamos parados e olhando um para o outro. Ele parece cansado. Velho. “Eu vim aqui quase todos os dias durante as duas últimas semanas. Andei pelo lobby, me questionando — se você já queria me ver e conversar sobre tudo — e então ia embora. Hoje, eu disse a mim mesmo que falaria com você, você querendo me ver ou não.” “Você está me vendo agora. Está satisfeito?” Seu rosto cai com o desinteresse em minha voz. E detesto por ainda me importar. Além de falar brevemente sobre isso com Scout, eu afastei com sucesso esse assunto da minha mente por boa parte das duas últimas semanas. Eu tentei de qualquer maneira, mas o inferno se minhas corridas diárias pela cidade não se transformaram em corridas de curta distância completas para amenizar tudo o que está corroendo as minhas entranhas. “Você vai para a parada da vitória hoje?” Ele pergunta. O deslocamento nervoso de seus pés me diz que ele está enrolando, precisando de algo simples para falar antes de mergulhar na merda profunda.

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“Sim. Scout é uma parte da equipe, então ela estará lá. Irei apenas assistir da bancada na lateral do campo.” Sim. Isso é uma direta para você. Um pequeno lembrete do por que estou fora do campo. “Eu nunca soube sobre o seu problema de leitura, East. Por que você não me contou?” Eu não deveria precisar. “Porque você não estava muito por perto quando eu precisava de você.” Ele balança a cabeça, aceitando o meu comentário. “Mereço isso. Eu poderia te dar mais explicações para o porquê e que seu bem-estar foi minha maior preocupação, mas isso não importa. Elas não têm importância. Sou seu pai e deveria saber. Eu deveria estar lá para você. Sinto muito, filho.” Tudo o que faço é olhar para ele e sentir raiva e a sensação da minha garganta se fechando. Palavras que nunca pensei que ouviria dele, apenas acabaram de ser ditas. “Como você... ensino médio, faculdade, sabe, não importa por que ou como,” ele diz “tudo o que importa é que você fez. Estou orgulhoso de você por trabalhar nisso, por tentar consertá-lo, mas também estou orgulhoso de você por admitir publicamente. As pessoas ainda falam sobre isso. Boseman propôs que eu liderasse junto à comunidade alguns projetos de conscientização entre os Aces e sua entidade de caridade para —” “Basta, pai. Já é o suficiente.” Chega de conversa fiada. Chega desse papo de eu estou orgulhoso de você. Será que ele não enxerga que antes eu costumava implorar a sua aprovação e agora não dou a mínima para o que ele pensa de mim? Deveria convidá-lo para entrar, lhe oferecer um assento, mas eu não posso. Ainda não. Então, nós estamos como dois estranhos, cara a cara, alguns pés de distância, na entrada da minha casa.

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“E você se saiu muito bem na cabine. Há boatos de que eles podem oferecer para você uma vaga de convidado especial para a próxima temporada.” “Não é uma vaga de convidado especial.” “Não?” “Não. Um lugar permanente com a equipe ao vivo.” Espero por sua reação e me corrói que uma pequena parte em mim espera que ele esteja orgulhoso. Ainda. A outra parte espera o momento que enfim ele vá ligar os pontos. “Então os rumores são verdadeiros?” Ele parece surpreso. “Eu não decidi nada ainda.” “Bem, é sempre bom ter opções. Bom para você. Você será grande em tudo que você —” “Não foi para falar sobre isso que você veio aqui, não é pai?” “Não.” Ele olha para baixo por um instante e toma um grande fôlego antes de olhar para cima. “Eu não posso mudar o passado, filho. Não posso desfazer as coisas que fiz e não espero que você me perdoe por eles, mas espero que com o tempo, talvez possamos ficar bem novamente.” Há lágrimas nos olhos dele e não me lembro de vê-lo chorar Me faz sentir como uma criança, se debatendo em um mundo adulto quando não tenho ideia do que fazer lá. Quando eu não falo nada, ele continua. “Fui visitar sua mãe outro dia.” “O quê? Por quê?” Porra. Será que ela vai se afogar em álcool agora que o amor de sua vida ressurgiu apenas para acabar deixando-a outra vez? “Eu senti que devia isso a ela, para lhe dizer cara a cara. Sobre Santiago me encontrar. Sobre toda a dor que foi causada a

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você. Para me desculpar novamente com ela.” Ele olha para fora da janela e, em seguida, volta para mim. “Ela ainda é bonita.” “Ela sempre foi.” A minha voz é irreconciliável porque embora eu possa lhe desculpar pelas razões porque a deixou, eu não posso perdoá-lo por me deixar. Velhas feridas são difíceis de curar uma vez que já foram escancaradas. Ele olha por cima do ombro, para onde Scout saiu. Ela não vai te salvar. “Eu não sei como consertar isso, East. Fale o que você precisa de mim e eu faço,” ele implora com o desespero possuindo sua voz. Durante as minhas corridas eu pensei sobre o que dizer a ele. Como eu gritaria, berraria e o culparia por tudo, mas ao vê-lo aqui, desse jeito, o fogo queimou. “As coisas que você me disse, sobre a minha mãe estar doente naquela época, eu jamais imaginei. E mesmo sabendo disso, ainda o culpo pai, mas ao mesmo tempo eu não posso te culpar. Eu sei com é amá-la e ficar desapontado por ela amar mais o álcool. É muito solitário às vezes. Eu sei a sensação e essa é a parte mais difícil.” “Compreendo.” “Não, na verdade não. Eu não pude dar o fora como você fez. Fiquei para trás para lidar com tudo isso, enquanto você continuou sendo você. E agora... agora estou sendo obrigado a lidar com um tipo diferente de conflito que mais uma vez eu não tenho nenhum controle e ainda assim controla completamente a minha vida. E mais uma vez, você vai continuar sendo você.” “Não há nada mais que eu possa dizer do que me desculpe. Estraguei tudo.” “Sim. Você estragou. Isso não pode ser corrigido com um pedido de desculpas. Você ainda não consegue perceber? Ele arruinou minha carreira, pai.” Minha voz aumenta de tom com cada

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palavra. “Ele rasgou o meu ombro em pedaços porque me odeia por algo que eu não tive nada a ver. Porque nós compartilhamos o mesmo sangue. Ele não ganhou este tratamento injusto por minha causa. Ele é um pedaço de merda, pelo que me diz respeito, no entanto, por mais que me esforce eu ainda não consigo entender por que você deu a ele a oportunidade de me fazer mais danos. Você abriu a porta. Você viu em primeira mão o dano que ele causou e ainda assim você o deixou entrar. E... deseja conhecê-lo. Este filho que me ferrou sem retorno. Não sei como você pode me amar e pode estar bem com ele, sabendo o que ele fez. Fale sobre torcer a faca nas minhas costas. Então, tenha um relacionamento com ele se você acha que isso deve aliviar sua culpa e curiosidade. Descubra se existe nele alguma coisa redentora. Só nunca fale comigo ou Scout porra nenhuma sobre ele.” Sua expressão é conformada, mas seus olhos refletem uma devastação resignada. “Quanto a você e a mim, vai levar tempo. Então sim...” Circulo pelo espaço para trabalhar a raiva dentro de mim. “Preciso de tempo.” “Ok.” Ele acena novamente de forma complacente quando ele nunca foi isso em toda a sua vida “Sei que não parece agora, mas eu te amo, filho.” Sem outra palavra, meu pai caminha para o elevador e entra. Quando a porta se fecha, leva tudo o que tenho para não ir atrás dele quando os sentimentos familiares retornam. Amor e aversão. Lado a lado. Eu também te amo, pai, mas agora, parece que te odeio. Amor e ódio. Agora é só em uma escala diferente.

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CAPÍTULO 52

“Olhe para ela. Ela se encaixa perfeitamente.” Fico olhando para Daisy sentada entre nós no assento da caminhonete de Easton; as janelas estão abertas e o que sobrou de suas orelhas cicatrizadas está agora balançando ao vento. “Depois da vida que ela teve, tenho certeza que um assento macio sob sua cauda, os mimos que você está dando a ela sem parar e sua mão constantemente a acariciando é como acertar na loteria.” “Verdade. Eu pensei que ela sentiria falta do Pet Haven, mas ela está indo muito bem.” “Só se passaram 30 minutos.” Ele ri, mas passa uma mão sobre suas costas e repousa em cima da minha que já está lá. “Não está tão longe da casa do seu pai, acho que devemos parar e deixar que ela corra um pouco.” “Mesmo?” “Mesmo.”

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“O que vocês dois — três estão fazendo aqui?” Sally ri quando ela sai da casa e fecha a porta atrás dela antes de se agachar para dar a Daisy — que está sentada tão pacientemente — um pouco de amor. “Quem é ela?" “Esta é Daisy. Nós acabamos de adotar e estávamos indo para casa. Easton sugeriu parar aqui para que eu pudesse ver o papai e deixá-la correr um pouquinho antes de voltar para a cidade.” “Eu gosto dela,” diz Sally. “Parece que teve uma vida difícil. Tenho certeza que irá devorar toda a sua atenção.” “Ela já está.” Easton me cutuca. “Scout já lhe deu uma caixa de ossos de leite.” “E daí?” Eu ri. “Ela merece por sobreviver a tudo o que ela passou.” Eu olho por cima do ombro para a porta e, em seguida, volto para Sally. “Podemos vê-lo?” “Ele está dormindo agora.” Ela torce seus lábios enquanto coloca as mãos nos quadris. “Vocês já almoçaram? Deixe-me preparar um lanche e vocês podem comer lá no campo. Tenho certeza que ele estará acordado quando vocês terminarem.” “Sally, isso é tão generoso, mas não podemos te importunar.” “Bobagem. Dê-me alguns minutos, eu trarei algo aqui para vocês.”

Easton coloca uma flor atrás da minha orelha para adicionar mais uma a dúzia que ele vem irritantemente metendo no meu cabelo. “Acho que Sally sabe como mimar você,” ele diz. “Eu acho que sim.” Eu ri quando olho para a cesta de piquenique que ela nos entregou com mais comida do que podemos

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comer. “Ela está tão acostumada a alimentar meu pai que come tão pouquinho hoje em dia que deve ter ficado feliz por alimentar um homem grande e robusto.” “Homem grande e robusto?” Easton pergunta quando se inclina para frente e pressiona um beijo na minha testa. “Sim, eu não tenho certeza quando ele chegará, mas podemos sentar aqui por um tempo e esperar por ele. Tenho certeza que Daisy não vai se importar.” E antes que eu possa terminar as últimas palavras, Easton me puxa para ele, então me faz sentar entre suas pernas, seus braços em volta do meu peito me segurando contra ele. “Vamos esperar por ele?” Ele rosna de brincadeira. “Sim.” Eu tento me mexer. “Você tem todo o homem que você precisa bem aqui.” “Oh, por favor.” Rolo meus olhos. “Você está discordando?” Eu paro de lutar. “Não. Eu tenho tudo que eu preciso bem aqui.” Seus braços que me seguram amolecem e Easton me abraça carinhosamente. “Aqui é lindo,” ele murmura. “É digno de um romance romântico.” “Digno de um romance romântico?” Rolo novamente os meus olhos e balanço a cabeça. “Não pode culpar um homem por tentar.” Ele ri. “Falando sério, eu posso ver por que você gosta tanto.” “É um dos meus lugares favoritos em todo o mundo. Eu ainda posso ver Ford correndo por aí pensando que poderia ser um espantalho humano, mas falhando miseravelmente desde que ele não

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podia ficar parado por mais de um minuto. Ou meu pai me ensinando a rebater uma bola de basebol bem ali.” Aponto para nossa esquerda, onde Daisy está perseguindo uma borboleta que parece estar brincando com ela. “Então, aqui tem muitas memórias. Tanta coisa boa aconteceu aqui.” “Eu amo o fato de você ter tido isso.” “Eu também.” A grama alta agita quando a brisa sopra por todo o campo, enquanto as memórias de felicidade continuam a passar em minha mente. E então eu me lembro de algo. “Você nunca vai me dizer o que meu pai te falou lá na varanda quando saímos naquele dia?” “Curiosa. Curiosa. Dois caras não podem manter um segredo?” Ele provoca quando me vira para que ele possa ver o meu rosto. “Não. Não de mim.” “Vamos ver sobre isso,” ele murmura enquanto dou um aperto em seu braço. Ele pega a minha mão e em um movimento inesperado, pressiona um beijo no meio da palma da minha mão. Quando ele olha para mim, há uma intensidade em seus olhos que faz as palavras divertidas em meus lábios morrerem. “Seu pai me disse para cuidar de sua garotinha. Para deixá-la ser teimosa, mas saber como dobrar sua vontade. Para deixá-la ser feminina, mas ter certeza que ela coloque seus pés na lama de vez em quando. Para deixá-la correr através de um campo com flores em seu cabelo com tanta paixão quanto ela dedica a cura dos seus pacientes. E o mais importante, para deixá-la com uma mente clara e um coração cheio amor.” Eu sou uma bagunça chorosa. Nem sequer consigo soluçar um som quando Easton se inclina e beija as lágrimas do meu

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rosto enquanto cada emoção dentro de mim é uma confusão de contradições. “Prometi a ele que eu vou, Scout. Eu quero todas essas coisas para você. As flores em seu cabelo, a lama em seus pés, a teimosia que me coloca no lugar, o doce, o sexy e tudo mais. A primeira vez que fomos a minha casa, você prendeu um marcador em meu coração e então fugiu. E eu acho que é o momento perfeito para passar para o próximo capítulo e começar uma vida juntos. Eu te amo, Scout Dalton. Eu amo partes suas que ninguém mais sabe como amar, assim como você faz comigo. Então tenho uma pergunta que eu quero muito perguntar.” Meu coração está batendo e minhas lágrimas estão caindo e as minhas mãos estão tremendo, mas posso ouvir suas palavras. Eu posso ver a caixa que ele abre com um anel de diamantes que é absolutamente perfeito. “Você quer se casar comigo?” “Sim,” eu sussurro quando trago minhas mãos para suas bochechas e pressiono meus lábios nos dele uma e outra vez entre dizer cada sim. Ele envolve seus braços em volta de mim e me prende firmemente antes de gritar, “Ela disse sim!” Estou espantada com o som de aplausos vindo da casa. Olho para Easton e depois para o pátio, onde meu pai e Sally estão olhando ansiosamente em nossa direção. “Não tinha certeza se ele aguardaria até o casamento, então queria muito que ele estivesse aqui para a segunda melhor coisa. A proposta. Era importante para ele ter a paz de espírito sabendo que vou cuidar de você quando ele não puder mais.” E então eu entendi. Ele planejou isso.

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Meu pai não estava dormindo. O cesto de piquenique estava pronto e esperando. Eu olho para ele enquanto as lágrimas caem novamente. “Obrigado.” Ele não tem ideia do quanto esse simples gesto significa para mim. Eu acho que ele nunca saberá. Mas eu levanto e corro em direção a casa. Daisy late atrás de mim. Através do campo de grama. Com o coração cheio. E flores no meu cabelo. Para abraçar o meu pai.

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EPÍLOGO Cinco anos depois.

“Fazendo o arremesso inicial desta noite, temos um dos nossos favoritos da cidade, Easton Wylder.” Estou assistindo bem de perto ao lado do banco de reservas quando Easton caminha em direção ao monte do arremessador com Ford e Fenway em cada um de seus braços. Os assobios e aplausos ecoam da multidão enquanto ele cruza o campo interno, seu sorriso é o reflexo do amor que está sendo despejado sobre ele. O amor que ele merece e muito mais. Quando Easton chega ao monte, se agacha para colocar Ford com o seu mini uniforme do Aces e Fenway com sua roupa de líder de torcida do Aces no chão, e beija o topo de suas cabeças e então pega a bola. “Ok, senhoras e senhores, vamos ver se Easton ainda tem o toque mágico.” Quando ele joga com uma precisão perfeita para o apanhador, a multidão vai à loucura e isso me faz pensar se isto é doloroso para ele. “E ele faz. Esse foi um arremesso válido. Mas oh, espere. Parece que o pequeno Ford quer lançar um arremesso também.” Realmente percebo logo o que está acontecendo e desde que ele está acostumado a ser o apanhador oficial do papai, Ford corre em

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direção ao apanhador para pegar a bola. O apanhador, Wingar, entrega a bola para ele, que em seguida, joga para Easton, a bola salta algumas vezes antes que ele a pegue. “E isso foi um grande lance do pequeno homem. E oh —” o locutor ri junto com a multidão. “— aí vem a Fenway cobrando a sua vez e pela aparência de suas mãos nos quadris, ela não vai a lugar nenhum até receber.” Wingar agacha de volta atrás do home plate enquanto Easton coloca Fenny mais perto. Ela joga a bola e mesmo que a bola pare bem antes do home plate, ela levanta seus braçinhos no ar em vitória antes de sacudir animadamente em excitação para todas as pessoas que estão a observando. “Grande trabalho, Wylders. Parece que pode haver outro futuro Hall da fama — ou dois — na família.” Easton começa a voltar para mim, Fenny em uma mão e Ford já correndo em minha direção. Meu pai teria adorado ver isso. Seus dois netos — um nome em homenagem ao seu filho e outro nome em homenagem ao seu estádio favorito — assumindo o comando no campo do estádio dos Aces. Sufocando as lágrimas, penso em como ele ficaria orgulhoso. Eu olho para o banco e o imagino sentando lá, um enorme sorriso em seu rosto e apontando o polegar para cima como ele costumava fazer quando eu era uma garotinha. E quando olho para Fenny e Ford e depois para Easton, eu não poderia estar mais orgulhosa dos três, mesmo que seja também um momento doloroso para mim. Quatro anos e meio. Cinquenta e quatro meses desde que o perdi e ainda sinto sua falta todos os dias. Percebo Easton olhando em direção as arquibancadas para onde Cal senta no espaço oficial para a equipe. Seus olhos se encontram brevemente, um reconhecimento rápido do outro, antes de ele olhar para um assento acima do abrigo oposto onde

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sua mãe se senta nervosamente em um raro passeio fora do seu trailer. Foi preciso muito trabalho para convencê-la a vir e se sentar junto à multidão, mas o esforço valeu a pena, porque Easton merece tê-la aqui esta noite. Ter seus pais aqui, independentemente da posição de suas relações em progresso. “Espere um segundo, Easton,” Boseman diz enquanto se dirige para o campo interno. Há um olhar curioso no rosto de Easton. “Vamos aproveitar que você está aqui e fazer uma pequena coisa para você.” Easton olha para mim, olhos pesquisando para ver se eu sei o que está acontecendo. Tudo o que eu faço é dar de ombros e um grande sorriso. Ford alcança e segura a minha mão enquanto Boseman continua a falar. “Nós o tivemos durante a maior parte de sua carreira. Mesmo quando você nos deixou por um curto período, ainda o considerávamos como um Austin Aces. E então você voltou para jogar sua temporada final com a gente e não poderíamos ter sido mais felizes de ter você encerrando onde você começou há tanto tempo. Quando você se aposentou, sabíamos que o fez por uma boa razão, então dessa forma você não perderia um dia sequer na vida dos seus gêmeos, mas a cidade de Austin ainda odiou vê-lo parar. E agora que você é o principal analista de basebol da Fox Sports, não poderíamos estar mais orgulhosos. E assim, para lembrá-lo que você sempre terá uma casa aqui, que você sempre será um Aces, nós gostaríamos de aposentar oficialmente o número da sua camisa.” Eu amo o olhar chocado no rosto de Easton. Os olhos arregalados e o sorriso tão grande que é contagiante. Adoro saber que Ford e Fenny estão aqui fazendo parte disso, mesmo que eles futuramente nem se lembrem desse dia.

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E então uma faixa verde na parede do campo externo é puxada e ali, ao lado do número de seu pai, vinte e dois, está o número de Easton quarenta e quatro. “Vamos dar uma olhada na sua incrível carreira. Parabéns, Easton.” Boseman aperta a mão de Easton com os aplausos eufóricos da multidão e logo após ele aponta para o telão onde passa os melhores momentos da carreira de Easton. Mas não me viro para assistir. Em vez disso eu assisto meu marido enquanto ele olha para o telão com lágrimas em seus olhos, verdadeiramente tocado pelo gesto de Boseman. O ponto alto vai para Fenny batendo palmas de forma descoordenada como é típico para uma criança de dois anos antes de plantar um beijo na bochecha do seu pai. Boseman entrega a Easton o microfone e, em seguida, dá um passo atrás. “Obrigado. Isso foi totalmente inesperado. Estou um pouco sem palavras para ser honesto.” Ele balança a cabeça e dá um grande suspiro. “Só existe uma coisa que eu amo mais do que basebol e ser um Austin Ace e isto é a minha família. Scout, Fen e Ford. Eu sabia que seria difícil deixar o jogo. Eu sabia que estava abusando dos limites do meu ombro. E então, quando essas pessoinhas nasceram, eu só queria ter certeza de que estaria presente em cada parte da infância delas. Eu queria estar em casa para aconchegá-las todas as noites em vez de viajar de jogo para jogo. Isso foi importante para mim. Então eu lutei com a decisão de sair precocemente do jogo que amo, deixar para trás as marcas que vinha perseguindo e decidi ir embora enquanto estava no meu auge no jogo, para ser a única coisa que eu queria e estava destinado, além de um jogador de basebol, ser um pai. Achei que me arrependeria por ter parado. Eu pensei que meus dias de jogador seriam esquecidos... então isso realmente é uma surpresa. Estou honrado por ter jogado a maior parte da minha carreira aqui e agora eu serei sempre uma parte dos Aces

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como eles sempre serão uma parte de mim. Obrigado a todos por seu amor e apoio ao longo dos anos. Obrigado.” Os fãs começam a levantar um por um. Os gritos cada vez mais altos. Mais pessoas se levantam. E antes que você perceba, o estádio inteiro está de pé e prestando homenagem a Easton. Eu fico arrepiada e com o coração transbordando quando Easton tira o seu boné e aponta para a multidão antes de colocar sobre a cabeça de Fenny. Seu rosto desaparece sob a aba e tudo que você pode ver são seus cachinhos saindo pela parte de trás. Com a mesma graça que ele tinha quando era jogador, Easton anda fora do campo, mais uma vez. E quando ele me alcança, há lágrimas em seus olhos que ele se esforça para conter. “Surpresa.” “Você sabia?” “Claro que sim. Parabéns, Espertinho.” Ele coloca Fenway no chão e me puxa para um abraço. “Obrigado,” ele sussurra um pouco acima do barulho da multidão. “É tudo por sua causa, Scout. Por causa de você eu não me arrependo de nada.” E quando eu me inclino para trás, seus lábios estão nos meus. Ele não se importa com os milhares de espectadores ao nosso redor. Ou com as crianças agarradas em nossas pernas querendo atenção. Ou com as câmeras clicando sobre nossos ombros. Ele me beija como se eu fosse à única pessoa no mundo. Ele me beija com uma mente clara e um coração cheio.

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