A líder pelo exemplo

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Passeio Público Fátima de Sousa jornalista fs@storemagazine.net

Kristina Johansson, 41 anos, é country manager da Ikea em Portugal desde Abril de 2010. Veio para continuar a construir uma história de sucesso. Da Suécia trouxe uma experiência de sete anos daquilo que designa como walk to talk: anda pelas lojas, conhece os colaboradores, fala com todos. Envolve-os e envolve-se

A líder pelo exemplo Foi amor à primeira entrevista, por assim dizer. É que a relação de Kristina Johansson com a Ikea começou com uma inesperada entrevista de emprego. A agora country manager em Portugal acabava de regressar à sua Suécia natal depois de um MBA na parisiense Sorbonne. Trilhava o habitual caminho de quem, terminada a formação académica, procura 24

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ingressar no mundo profissional. Um caminho curto interrompido por uma história interessante, aqui contada na primeira pessoa: “O entrevistador olhou para o meu currículo e comentou ‘Ok, tem um MBA, fala inglês e francês’. Depois, colocou o CV de lado e disse ‘Agora estou interessado em si, no modo como se pode enquadrar na empresa e acrescentar valor.

Isso é o mais importante’. Pensei ‘Não pode ser verdade’. Noutra empresa a que me tinha candidatado até testes de inteligência fiz e na Ikea estavam interessados na minha personalidade!”. O modo como foi abordada nessa entrevista fê-la compreender de imediato os valores da empresa. E pensar que era ali que queria trabalhar. Assim aconteceu, efec-

tivamente: na Ikea apostaram na jovem Kristina, criaram uma posição em que tinha uma equipa de quatro pessoas para gerir. Foi um teste. Mas foi mais do que isso: foi a demonstração da filosofia da empresa, a prova de que proporciona aos colaboradores verdadeira oportunidade de crescer profissionalmente. Já lá vão dez anos. E a jovem, STORE MAGAZINE


hoje com 41, cresceu e rapidamente na família Ikea. Assumiu posições diferentes em quatro lojas no seu país e foi promovida a vice-country manager em França. Até que recebeu o telefonema que a faria mudar-se para Portugal: o ceo do grupo convidava-a assumir a responsabilidade máxima pela expansão de uma história de sucesso que começara muitos anos antes quando os portugueses, fascinados pelo mundo novo da Ikea, rumavam à loja de Madrid regressando de porta-bagagens a rebentar pelas costuras com móveis e utilidades. Kristina trouxe para Lisboa a experiência de sete anos em ambiente de loja: “Estar muito próximo da operação, estar nas lojas e conhecer os colaboradores influenciou muito o meu modo de gestão. É o que chamo walk to talk. Quando ando nas lojas não falo só com os gerentes, falo com todos os colaboradores aos diferentes níveis. Não posso dizer que os conheço todos, mas reconheço quase todos os rostos”. Kristina orgulha-se deste modelo de liderar pelo exemplo: “A diferença entre os países do Norte e os do Sul é que nós temos menos hierarquia. E isso é muito importante na forma como trabalhamos na Ikea. Quando digo aos gerentes para envolverem as pessoas é porque eu própria faço isso”. Estava há pouco tempo em França quando foi desafiada a mudar-se para Portugal. E aceitou: afinal, ofereciam-lhe uma “possibilidade única”, a de “ser parte da construção da Ikea” num país onde nunca tinha estado – “era uma questão de tempo” - mas de que tinha as melhores referências: “Para mim, Portugal era bom vinho, pessoas simpáticas e boas praias. Foi o suficiente para me interessar. Mas sabia que era uma história de sucesso desde o início. Vi os números das vendas, vi como os colaboradores gostavam de cá trabalhar, como os consumidores gostavam da marca. Tamanho sucesso, interno e externo, levou-me a querer fazer parte desta história”. Chegou em Abril de 2010. Ela, o marido e os dois filhos, hoje com quatro e nove anos. Uma família STORE MAGAZINE

“Sabia que era uma história de sucesso desde o início. Vi os números das vendas, vi como os colaboradores gostavam de cá trabalhar, como os consumidores gostavam da marca”

Kristina e a família procuram integrar-se. Tanto é que evitam ficar confinados aos horizontes da comunidade sueca em Lisboa, concentrada entre Carcavelos e Cascais. Optaram por fixar-se no Restelo e foi aí que procuraram âncoras para o dia-a-dia

habituada à mobilidade: Portugal é só mais uma paragem depois de França e, antes, de quatro cidades na Suécia. “Como família, funcionamos assim. Onde pousamos o chapéu é onde é a nossa casa. Não ficamos agarrados aos lugares. Na Suécia construímos duas casas e vendemo-las”. As pessoas são mais importantes: “A família e os amigos estão lá, não importa onde vivemos. E fazemos amigos onde quer que estejamos. Tenho amigos fantásticos em França e agora estou a fazer amigos aqui. Se decidirmos mudar, ficarei com amigos. É a vantagem deste modo de vida”. Kristina e a família procuram integrar-se. Tanto é que evitam ficar confinados aos horizontes da comunidade sueca em Lisboa, concentrada entre Carcavelos e Cascais. Optaram por fixar-se no Restelo e foi aí que procuraram âncoras para o dia-a-dia: a padaria, o talho, perceber a vizinhança, aprender a funcionar – “ser feliz”. Amigos portugueses são ainda poucos, alguns membros de casais de dupla nacionalidade, com quem trava conhecimento na Escola Sueca, frequentada pelo filho mais novo, e no Liceu Francês, onde anda o mais velho. A integração foi “suave”. Afinal, não há grandes diferenças entre os povos. Ainda que o clima tenha uma palavra a dizer: “Os portugueses são mais calorosos e extrovertidos, mas mesmo aqui vejo que no Inverno ficamos mais fechados, é para nos protegermos”. Porém, Kristina não valoriza estas diferenças: “´É como é. Gostei de viver em França, integrei-me muito bem e cá também. Temos de ser abertos e, como pessoas, temos de nos ajustar e perceber a cultura, os outros, o que está por trás de certos comportamentos”. O primeiro ano em Portugal foi para a família encontrar o seu lugar: “Foi para ficarmos confortáveis como família no novo ambiente”. Depois, sim, chegou o tempo de conhecer o País. E eleger o vale do Douro como a região preferida: “It’s breathtaking”. Mas a costa alentejana não lhe fica atrás – “It´s amazing”. “Quanto mais vejo mais admirada fico”. Há muito para ver. “Mas ainda cá estou…”.

“Como família, funcionamos assim. Onde pousamos o chapéu é onde é a nossa casa. Não ficamos agarrados aos lugares”

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