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Hermínio Santos jornalista hs@briefing.pt
Já andou em sentido contrário numa auto-estrada por causa de um directo, teve ataques de riso em estúdio e ficou impressionada com alguns convidados que entrevistou, desde Paulo Teixeira Pinto a Urbano Tavares Rodrigues. Ana Lourenço, 38 anos, apaixonou-se pelo jornalismo na rádio e hoje é um dos símbolos da SIC Notícias
Ramon de Melo
No princípio era a rádio
Cândida Cortes, realizadora de programas literários para crianças na Antena 2, estava aflita para encontrar uma criancinha para uma locução. A única que estava ali à mão era uma miúda de 11 anos, filha de um funcionário da rádio, e que nesse dia estava em Lisboa para fazer uma radiografia a uma perna, que tinha partido. Foi ela a escolhida para ler um poema aos microfones. Foi este episódio que marcou a estreia oficial de Ana Lourenço no mundo da comunicação. Desde essa altura passou a gravar e fazer programas de rádio “lá em casa e só para mim”, conta. Longe estavam ainda os tempos da TSF, da TVI e da SIC Notícias. 22
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Os olhos voltam a brilhar quando revê a sua vida e pára no ano 2000. Foi nessa altura que apareceu o convite para a SIC Notícias. “Isso soube-me a TSF”, diz
Na altura em que as “piratas” começaram a aparecer, ela queria fazer parte dessa história e passou a ser presença assídua nas rádios de Almada, cidade onde nasceu, cresceu e adolesceu. Dizia à mãe que ia para a biblioteca estudar, mas o seu destino eram os estúdios e os microfones. Escolhe Antropologia para tirar um curso superior mas sabe que o seu futuro não passará por aí. É que, quando entra para a faculdade, já está “contaminada” pela febre da TSF, cujo curso de formação frequentou e que era dirigida por Emídio Rangel. A sua primeira reportagem foi no dia 1 de Abril de 1991, numa
conferência de imprensa do então secretário de Estado da Energia, Nuno Ribeiro da Silva, sobre apoios para quem quisesse investir em energia fotovoltaica. Com o nervoso miudinho à flor da pele confessa que teve de “treinar um bocadinho para dizer fotovoltaica” aos microfones. Os olhos brilham quando recorda os tempos da TSF. Havia tempo para acompanhar a gente nova que se estreava então no jornalismo. “Fui muito amparada naquela fase. Éramos muito vigiados, corrigidos, ensinados”, recorda Ana Lourenço. Um processo de reestruturação que teve lugar em 1994 foi o princípio do fim da sua relação com a rádio. Ela esO agregador do marketing.
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tava no lote das pessoas a sair mas acabou por ficar, embora não tenha esquecido o episódio. Numa quintafeira, por volta da uma e meia da manhã, telefonou para Artur Albarran, que já a tinha sondado para a TVI, a dizer que estava com vontade de fazer televisão. Na segunda-feira seguinte, estava a trabalhar na estação que hoje é controlada pela Prisa e por Miguel Pais do Amaral. Estreou-se no Novo Jornal, uma “coisa experimental” feita com freelancers e onde também estavam Bárbara Guimarães e Sofia Carvalho. Os olhos voltam a brilhar quando revê a sua vida e pára no ano 2000. Foi nessa altura que apareceu o convite para a SIC Notícias. “Isso soube-me a TSF”, diz. O projecto era um desafio superior e pioneiro em Portugal: fazer parte de uma equipa que lançaria uma estação de televisão com 24 horas de informação. Por entre sorrisos e alguma surpresa recorda algumas das provas de fogo porque passou na SIC Notícias. Por exemplo, durante um bloqueio de camionistas em Espanha ela e o repórter de imagem foram a correr para o local da reportagem. Havia pouco tempo e as estradas estavam bloqueadas. Tiveram que fazer 30 quilómetros em sentido contrário numa auto-estrada. Chegaram ao local do directo três minutos antes, com o repórter de imagem a fazer planos debaixo de uma chuva de pedras da calçada. “Senti que estava à prova e soube bem receber alguns telefonemas depois da reportagem a elogiar o meu trabalho”, recorda. Outro grande teste foi a queda da ponte de Entre-os-Rios, quer em termos pessoais quer para a própria SIC Notícias. As cenas de riso com Mário Bettencourt Resendes, antigo director do Diário de Notícias (DN) e comentador da SIC Notícias recentemente falecido, a dupla com João Adelino Faria e as entrevistas com pessoas como Paulo Teixeira Pinto, Urbano Tavares Rodrigues e Frei Fernando Ventura são alguns dos capítulos que recorda com agrado. Com o antigo director do DN, tivemos um “ataque de riso que não conseguíamos controlar”. Tudo por causa de um “pontapé na gramática” dado por uma convidada O agregador do marketing.
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A cumplicidade com João Adelino Faria era de tal modo intensa que os dois já adivinhavam o que ia na alma de cada um quando estavam em directo, no estúdio. “Eu e o João criámos uma entidade que era exterior a nós”, recorda
que tinha sido entrevistada antes da entrada de Resendes em estúdio. É que, em vez de hecatombe, passou a entrevista a dizer “hetacombe”. O comentador entrou e a primeira frase que disse foi: “a sua entrevistada foi uma “hetacombe”. Risada geral, a um minuto e meio de entrarem em directo… A cumplicidade com João Adelino Faria era de tal modo intensa que os dois já adivinhavam o que ia na alma de cada um quando estavam em directo. “Eu e o João criámos uma entidade que era exterior a nós”, recorda. Chegou a ser abordada sozinha na rua por pessoas que queriam dar recados aos dois. Das entrevistas difíceis ou surpreendentes que já fez até hoje, destaca três: Paulo Teixeira Pinto, Urbano Tavares Rodrigues e Frei Fernando Ventura. Com o antigo presidente do Banco Comercial Português (BCP) sentiu uma “pressão tremenda, não por causa de ser um entrevistado difícil mas para estar à altura dele”. Ficou com as “pilhas no fim” devido à qualidade retórica e pensamento filosófico de Teixeira Pinto.
A sensação foi diferente com Urbano Tavares Rodrigues. Tratou-se de uma “entrevista de vida, que teve uma audiência brutal”, contrariando as expectativas que existiam. Das últimas que fez, refere a de Frei Fernando Ventura sobre a visão que um padre tem das mudanças de comportamento que serão necessárias para as pessoas se adaptarem à crise. A reacção das pessoas foi notável e até se constituíram grupos no Facebook sobre as teses do entrevistado. Sobre rituais antes de entrar em estúdio, não é uma mulher de complicações. Bastam-lhe meia dúzia de minutos ao ar livre para calibrar os níveis de cafeína e nicotina, enviar um beijo à filha por telefone e dar uma vista de olhos no alinhamento, que, por vezes, é todo mudado nessa altura. Não perde tempo com reflexões sobre o seu futuro. “Nesse aspecto sou preguiçosa”, confessa. Os desafios que a SIC lhe coloca também são tão grandes que não sente a necessidade de procurar uma mudança.
Percurso
Ligada ao mundo com o iPhone
Não perde tempo com reflexões sobre o seu futuro. “Nesse aspecto sou preguiçosa”, confessa. Os desafios que a SIC lhe coloca também são tão grandes que não sente a necessidade de procurar uma mudança
Ao fim-de-semana é através do seu iPhone que se liga ao mundo. Vê os sites das principais estações de televisão do mundo e confere a actualização de “três ou quatro blogues” aos quais está atenta. Tem dúvidas sobre se a televisão – o aparelho em si – continuará a ser o centro do mundo e dá o seu exemplo: quando está na redacção já segue muito mais os sites das televisões do que as emissões que passam nos ecrãs. Não teme o futuro do jornalismo e dos jornalistas, apesar do crescente protagonismo das redes sociais. “Mais tarde ou mais cedo as pessoas vão acabar por perceber que, apesar de haver um espaço de liberdade, o tratamento da informação tem de ser feito por profissionais”, explica enquanto refere que as redes sociais têm “problemas gravíssimos de credibilidade”. Para ela, o Facebook é apenas mais uma fonte de informação. Fora da sua vida profissional a filha é a sua grande paixão. Ambas partilham uma outra paixão da jornalista da SIC: os cavalos. Cinema e passeios também fazem parte do programa de mãe e filha. Um dos últimos filmes que viram juntas foi “O Discurso do Rei”. Lida mal com a cusquice e fica incomodada quando a sua vida pessoal é escrutinada e exposta nos media. Mas não leva nada a mal quando é abordada na rua por pessoas que só a querem cumprimentar ou incentivar. “Sabe-me bem porque normalmente são elogios à SIC Notícias”, remata, sorridente.
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