Cecília Meireles: “vender, vender, vender”

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ENTREVISTA CECÍLIA MEIRELES

SECRETÁRIA DE ESTADO DO TURISMO

A PRIORIDADE É VENDER 16

| TURISMO DE LISBOA


NUM CONTEXTO DE INSTABILIDADE GLOBAL, O TURISMO EM PORTUGAL ADAPTA-SE ÀS NOVAS REALIDADES. O CAMINHO QUE ESTÁ A SER TOMADO APOSTA NO FORTALECIMENTOS DAS VENDAS E NO INCENTIVO DA REQUALIFICAÇÃO. CECÍLIA MEIRELES, SECRETÁRIA DE ESTADO DO TURISMO, EXPLICA AS GRANDES MUDANÇAS.

Nota do Editor: A entrevista, por escrito, foi concedida antes de aprovada em Conselho de Ministros a proposta de lei sobre as novas Regiões de Turismo

Qual o balanço que faz desde que tomou posse? O que foi feito e o que ainda há a fazer para dinamizar o Turismo, o maior exportador de serviços do país? Ao longo deste ano, muito foi feito. No que diz respeito à Promoção, houve necessidade de implementar uma mudança de paradigma, nomeadamente no que concerne o enfoque, que anteriormente estava concentrado na oferta e que, agora, está focado na procura. Neste sentido, toda a Promoção Externa do Turismo de Portugal sofreu uma adaptação. Hoje, a operação prende-se mais com acções de comercialização e venda, acções mais tácticas e mais assertivas junto dos nossos públicos-alvo. Do ponto de vista do Investimento houve também uma enorme mudança de orientação política. Todos os esforços estão dirigidos para a reabilitação e requalificação, em detrimento de uma aposta excessiva em novos investimentos que trouxe, ao país e ao sector, problemas muito sérios e que houve a necessidade de corrigir, problemas que eram, e continuam a ser, urgentes resolver. Para o futuro, temos a implementação e operacionalização do PENT e a simplificação da legislação. Para o futuro temos a Reforma Regional processo que está a decorrer e que creio estar terminado a muito curto prazo; Promoção e concentração de recursos; Implementação e operacionalização do PENT e Simplificação de Legislação. Para além disso, as prioridades passam por continuar a dar todo o apoio que nos compete às empresas, quer através dos instrumentos que temos disponibilizado, quer através de acções, como o roadshow que o Turismo de Portugal está neste momento a fazer por todo o país. Quais serão as principais linhas orientadoras para o Turismo, considerado o sector que mais contribui para o desenvolvimento da Economia portuguesa? Na primeira linha, “vender, vender, vender!”. A nossa aposta tem que ser na captação de turistas para Portugal e rentabilizar o investimento que já foi feito. Se não houver um trabalho muito profundo sobre esta questão não conseguiremos recuperar este investimento, portanto, essa tem que ser a primeira prioridade. Em segundo lugar, novos investimentos: reabilitação, requalificação e restruturação do sector.

De que forma o Turismo interno deverá ser dinamizado, tendo em conta que os portugueses vão ter menos dinheiro disponível para gastar? Primeiro, explicando o papel do Turismo que, muitas vezes, ainda passa ao lado de muitos portugueses. Quer isto dizer que, para quem pode fazer férias em Portugal, entenda que ao fazê-lo em detrimento de fazer férias no estrangeiro é substituir uma importação e apostar num sector eminentemente exportador. É passar uma mensagem quase patriótica, explicando que isto representa a manutenção, por exemplo, de muitos postos de trabalho. Por outro lado, apostar cada vez mais na diversificação do produto. Muitas vezes os turistas, incluindo o turista português, estão muito focados no produto Sol & Mar, esquecendo que temos, para além disso, uma oferta agregadora mas também autónoma de outros produtos, que conferem ao país a sua diversidade concentrada e o seu enorme potencial de “país resort”. Aqui, importa também sublinhar e aprofundar a função das Regiões de Turismo nesta matéria. Por muito que a Promoção Externa possa parecer atraente e aliciante, a verdade é que as Regiões, no Turismo Interno, têm um papel que é muitíssimo mais insubstituível do que aquele que têm na Promoção Externa, e isso tem que ser dito sem complexos.

DIVERSIFICAR PRODUTOS Sendo a sazonalidade característica de alguns destinos nacionais, de que forma deverá ser combatida? De duas formas fundamentais: primeiro, na diversificação de produtos e/ou complementaridade de produtos – o Golfe, o Turismo de Saúde, o Turismo Residencial e o Turismo de Natureza, são bons exemplos de produtos que complementam, por exemplo, o tão desejado Sol & Mar – e, em segundo lugar, a aposta muito forte naquilo que é o transporte aéreo, porque sem combater a disparidade de acessos e de rotas que há entre a época alta e a época baixa, também não é possível corrigir o problema. Em termos de Promoção Externa, o que irá ser feito? Estamos, neste momento, a preparar a promoção de 2013, muito baseada, como já foi

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Por muito que a Promoção Externa possa parecer atraente e aliciante, a verdade é que as Regiões, no Turismo Interno, têm um papel que é muitíssimo mais insubstituível do que aquele que têm na Promoção Externa, e isso tem que ser dito sem complexos

referido, em acções tácticas que comuniquem de forma assertiva com os nossos mercados, e que têm como objectivos a venda da nossa oferta e o ganho de escala de Portugal enquanto destino turístico. Para os mercados emergentes continuaremos a fomentar missões comerciais, que permitam quer uma aproximação institucional entre Portugal e esses países quer, simultaneamente, apoiar as empresas portuguesas do sector no início de relações com esses mercados. Quais serão os principais mercados dessa promoção? Há mercados novos? Quais e porquê? Os mercados-alvo serão os mercados tradicionais e em crescimento. Os novos mercados são, essencialmente, China, Rússia e Índia, sendo que a abordagem promocional é naturalmente diferente para cada um deles.

MONITORIZAR O PENT

Terminal de Passageiros de Santa Apolónia 18

| TURISMO DE LISBOA

Quais são as principais alterações do actual PENT em relação ao anterior? Esta revisão do PENT é caracterizada por ter objectivos bastante mais realistas e mais adequados à actual realidade. O diagnóstico do anterior documento confirmou que os objectivos que haviam sido estabelecidos ficaram completamente aquém dos resultados. Sendo este um documento de referência e orientação, essas metas acabaram por criar ilusões que resultaram num excessivo investimento da oferta, que reflecte hoje a difícil situação económica e financeira de muitas empresas do sector.


E ntrevista

Se o Governo assume que a sua prioridade, em matéria de Turismo, é vender, é evidente que não há maiores interessados na venda do que os privados, portanto o papel deles terá que ser crescente e cada vez mais importante, e é nesse sentido que vão todas as reformas anunciadas Por outro lado, pretende-se que este plano seja monitorizado, antecipando assim quer a concretização e o alcance dos objectivos propostos, quer a sua correcção face a alterações conjunturais. O facto de contemplar 38 projectos, com fundamentos e actividades específicos, permitirá ainda que este seja um plano de implementação e não apenas estratégico. Este é, no entanto, um documento que não está completamente fechado, uma vez que estamos neste momento a recolher contributos do sector, essenciais para que o mesmo seja, não direi unânime, mas o mais consensual possível. E no que diz respeito a apoios? Quais as áreas determinantes? Os Planos de Comercialização e Venda (PCV).

Qual a sua opinião sobre o modelo de gestão das parcerias público-privadas, de que é exemplo a Região de Lisboa? Eu não lhe chamaria uma parceria público-privada. Chamar-lhe-ia uma agência regional. Se o Governo assume que a sua prioridade, em matéria de Turismo, é vender, é evidente que não há maiores interessados na venda do que os privados, portanto o papel deles terá que ser crescente e cada vez mais importante, e é nesse sentido que vão todas as reformas anunciadas. Eu não confundo isso com algumas experiências – muito más aliás – e que muito lesaram o país. Acho que não é bom para o Turismo que tal seja confundido. Prevê fazer uma avaliação anual dos resultados atingidos face aos objectivos, a

realizar pelo Turismo de Portugal? Haverá penalização junto das Regiões que não atingirem os objectivos? Só faz sentido estabelecer objectivos se houver penalizações associadas ao seu incumprimento e incentivos associados ao seu cumprimento. Tendo em conta o facto de haver cada vez mais potenciais destinos turísticos concorrentes, o que será necessário fazer para que Portugal continue a ser competitivo? Em primeiro lugar, preservar a nossa qualidade enquanto destino. Segundo, ganhar escala na Promoção e Distribuição. Terceiro, um grande esforço de simplificação e desburocratização, bem como diminuição dos custos de contexto das empresas do sector. Quais são as principais características diferenciadoras de Portugal face a destinos turísticos concorrenciais? Diversidade concentrada, clima e hospitalidade. TURISMO DE LISBOA

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