Entrevista a António Costa e Pedro Santos Guerreiro

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Entrevista

Jorge Fiel Jornalista jf@briefing.pt

António Costa, director do Diário Económico Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios

Ramon de Melo

As surpreendentes contas dos diários de Economia: 1+1=4

Os directores dos dois diários económicos estão de acordo. A existência dos dois jornais aumentou o mercado. “O Diário Económico vende mais do que vendia, quando o Jornal de Negócios passou para diário. E o Jornal de Negócios vende mais do que o Diário Económico vendia naquela altura. O mercado mais do que duplicou”, afirma Pedro Santos Guerreiro, director do Negócios. “Obviamente beneficiamos de alguma desorientação editorial em jornais como o Diário de Notícias, que chegou a ter um suplemento económico diário que concorria connosco e depois abandonou esse projecto”, acrescenta António Costa, director do Económico O novo agregador do marketing.

Julho de 2010

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Entrevista

Conversas no Tivoli

Briefing | Quanto pior está a economia, maior é a procura dos jornais económicos. Será que o jornalismo económico ganha com a desgraça? António Costa | O jornalismo económico ganha com a desgraça e com a euforia económica. Não é apenas com a desgraça. Ganha sobretudo com os extremos. Lucra quando há momentos de dificuldade, como o que estamos a viver agora, mas também quando há momentos de crescimento económico, que infelizmente têm sido poucos. Quando há um período de euforia na bolsa ou quando há linhas de crédito do Governo ou da Banca, ou quando há QREN, temos obviamente uma vantagem competitiva que tem sido bem utilizada. Pedro Santos Guerreiro | O jornalismo económico é muito consumido por decisores e é nos momentos de decisão que ele é mais procurado. Desse ponto de vista, o pior de tudo é o momento da apatia económica em que vivemos, entre Abril de 2009 e o final do ano. Não se passou nada. Não havia negócios. A única coisa que houve, do ponto de vista mediático, foi a política, casos de justiça e pouco mais. Esse período de apatia é mau para nós. Nos períodos de euforia, do crescimento ou da desgraça de uma crise financeira, nós ganhamos muitos leitores. Sendo que é preferível a prosperidade do que a desgraça. Não apenas por altruísmo, mas também egoísmo, porque no momento da desgraça sofremos um ataque muito forte a uma grande fonte de receitas, que é a publicidade. No período de euforia temos o melhor dos dois mundos, que é a procura por negócios, investimento, mais emprego, oportunidades, também mais investimento publicitário. Briefing | Qual é a racionalidade de dois países com mercados financeiros mais desenvolvidos só haver um diário económico (Wall Street Journal, nos States, e Financial Times, em Inglaterra), enquanto em Portugal há dois? AC | Há várias explicações. O WSJ e o FT não são exactamente de países, mas jornais internacionais 32

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António Costa

“A racionalidade é ditada pelo mercado. Se o mercado vai consumindo, os jornais existem”

Pedro Santos Guerreiro

“Os dois diários de economia são ambos lucrativos. Essa é a prova cabal de que há espaço para os dois. São jornais muito diferentes um do outro, portanto não se sobrepõem — complementam-se. Temos um nível de duplicação de leitores muito grande, se olharmos para os dados da Marktest. Há muita gente que lê os dois”

económicos de todo o mundo. E se esses exemplos são verdadeiros, temos que em vários países da Europa há mais do que um diário a concorrer no segmento económico. Em Espanha até há três. A racionalidade é ditada pelo mercado. Se o mercado vai consumindo, os jornais existem. A comparação justa para a realidade do mercado português do jornalismo económico é com a espanhola, a francesa, a italiana, e aí a realidade é mais ou menos semelhante. PSG | Sim, há racionalidade, por três razões. Primeira: os dois diários de economia são ambos lucrativos. Essa é a prova cabal de que há espaço para os dois. Segundo, são jornais muito diferentes um do outro, portanto não se sobrepõem — complementam-se. Aliás, nós temos um nível de duplicação de leitores muito grande, se olharmos para os dados da Marktest. Há muita gente que lê os dois. E os dois são diferentes não porque noticiem factos diferentes, a actualidade é a actualidade, mas é raro vermos uma primeira página do Jornal de Negócios com os mesmos temas do Diário Económico, embora lá dentro os assuntos estejam, porque as opções editoriais são quase todos os dias diferentes. A terceira explicação é que a existência dos dois aumentou o mercado. O Diário Económico vende mais do que vendia quando o Jornal de Negócios passou para diário. E o Jornal de Negócios vende mais do que o Diário Económico vendia naquela altura. Portanto, o mercado mais do que duplicou por uma questão complexa. Os dois diários de economia concentram o que antes estava disperso por outros subprodutos ou mesmo produtos. A nossa concorrência é muito forte, agressiva e diária, e isso polarizou muito o consumo de informação económica nestes dois produtos. Porque havia a Valor, o Semanário Económico, os suplementos económicos do Público e do Diário de Notícias. Tudo isto desapareceu. A própria Exame hoje é uma revista diferente do que era, muito mais magazine e menos de actualidade. A actualidade económica concentrou-se nos nossos dois jornais.

Briefing | Concluo que afinal são menos concorrentes do que pode parecer? AC | De facto, somos menos concorrentes do que parece à primeira vista. Por opções deliberadas, pelo menos no nosso caso. Desde que sou director, há dois anos que se completam em Agosto, que o Diário Económico se orienta no sentido de ser um jornal alternativo aos generalistas e não apenas complementar. O meu objectivo foi transformar o que era um diário especializado em economia num jornal que tem uma matriz económica que vai mais para lá do que é considerado um jornal de segmento. Para os segmentos onde eu quero estar, acho que um leitor fica suficientemente bem informado sobre o que ocorre em Portugal e no mundo. O Diário Económico nunca deixou de apostar na Política como uma área tão central como outras,e recentemente apostou no reforço da informação desportiva . E talvez esteja aqui também a explicação para que o mercado tenha crescido sem haver uma canibalização. Eu acho que obviamente beneficiamos de alguma desorientação editorial em jornais como o Diário de Notícias, que chegou a ter um suplemento de Economia diário que concorria connosco e depois abandonou esse projecto. PSG | Somos jornais muito diferentes e isso obedece a um posicionamento claro e estratégico. Nós queremos ser o melhor jornal na Economia, nos mercados financeiros, nos negócios e na visão económica do mundo. Por exemplo, a visão que nós temos da Política é uma visão mais das políticas – das políticas sociais, económicas, etc. - do que da política politiquice. Há uma tendência global de queda da imprensa generalista, muito mais pronunciada do que na especializada. Provavelmente isso tem a ver com o facto de a imprensa generalista ser mais indiferenciada e estar disponível gratuitamente em todo o lado - televisão, rádio, internet. Briefing | A nível internacional, qual é o vosso jornal de referência? AC | Por estranho que possa pareO novo agregador do marketing.


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