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Joana Rebelo Morais redaccaofibra@briefing.pt
“Há empresas que foram muito importantes e deixaram de o ser, porque não acompanharam a evolução”. O que a IBM quer, segundo José Manuel Paraíso, 50 anos, director de global technology services da IBM Portugal, é estar à frente, “provocar essa transformação”. O responsável considera Portugal, onde a empresa está desde 1938, um país importante para a IBM Corporation
José Manuel Paraíso, director de global technology services da IBM Portugal
Ramon de Melo
“Queremos estar à frente”
Fibra | O que faz um director de global technology services na IBM em Portugal? José Manuel Paraíso | O meu primeiro objectivo é estar atento, perceber o funcionamento e entender o que tenho de fazer para que as coisas funcionem melhor. Outra das minhas funções é a transformação perma6
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“No outsourcing de processo distinguimo-nos dos nossos concorrentes, porque o fazemos com o objectivo de prestar o serviço com a tecnologia”
nente. Diria que a minha função de facto é estar junto dos meus clientes, ouvi-los. É aquilo que de mais nobre eu tenho a fazer. Tenho também o meu management system a cumprir, com reuniões semanais onde as minhas pessoas reportam aquilo que têm que reportar, sobre os negócios e a qualidade dos serviços O novo agregador das comunicações
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que estamos a prestar e tenho reuniões com os meus chefes para fazer o meu próprio reporting. Este management system é exigente, já vem de há muito tempo, mas é permanentemente alterado, muito suportado por ferramentas, porque nada se faz sem sistemas de informação de suporte. Tenho uma outra função: falar com as minhas equipas periodicamente, estar junto delas, ouvi-las. Fibra | Em termos de áreas de negócio, como está dividida a IBM? JMP | Uma das áreas que reporta directamente a mim é o outsourcing, que tem crescido muito em Portugal. Outsourcing de TecnoIogias de Informação (TI) é, no fundo, gerir as áreas de TI dos clientes que nos atribuem todos os seus data centers. Temos outra área que, por sua vez, se divide em várias, que são serviços de tecnologia, como a segurança, arquitecturas tecnológicas (estudo de arquitecturas, optimizações, no sentido das consolidações e virtualizações), implementações de cloud computing e outros serviços mais tradicionais, como a administração e gestão dos equipamentos e consultoria tecnológica, no sentido de fazer o roadmap futuro da evolução das TI dos clientes. Temos uma outra área, também muito importante, relacionada com o outsourcing de processos de negócio, não de tecnologias. As empresas começam a olhar para esta área com algum interesse e, nesse sentido, fazemos gestão de recursos humanos, gestão financeira e administrativa ou a gestão de resposta de um call centre, por exemplo. No outsourcing de processo distinguimo-nos dos nossos concorrentes, porque o fazemos com o objectivo de prestar o serviço com a tecnologia. Não é apenas agarrar num processo, é ficar com ele, juntar-lhe a tecnologia e fazer uma transformação contínua, com ganhos sucessivos de melhoria de serviço e de custo. O novo agregador das comunicações
“A IBM Portugal é extremamente madura, tem aqui toda a oferta da IBM Corporation e a nossa estratégia não diverge da estratégia global. Em Portugal, até temos mais serviços do que aquilo que é a média geral dos países”
Fibra | Como define a cultura IBM? JMP | Defino fundamentalmente como uma cultura muito madura. Uma cultura de nos reinventarmos constantemente. Se for ver, há 50 anos a IBM era provavelmente a única que fazia parte do top de empresas cotadas em Wall Street e hoje continua a sê-lo. É uma cultura de inquietação permanente que nos é incutida a todos e que nós, executivos, temos a função de incutir a toda a gente. Fibra | Em relação à estratégia da empresa, o que é preciso fazer para ter uma posição relevante no mercado português? JMP | Muitas coisas, porque a gestão é das coisas mais simples, mas, ao mesmo tempo, mais difíceis. É preciso ter esta cultura de reinvenção. Há vários exemplos de empresas que foram muito importantes e que deixaram de o ser, justamente porque não acompanharam a evolução. Não é só acompanhar, aliás, nem é isso que a IBM quer. O que queremos é estar à frente, provocar essa transformação para poder beneficiar dela e também os nossos clientes. Para se ser importante é preciso esta cultura, antecipar o que vem aí. É preciso, obviamente, toda a tecnologia, os serviços, as metodologias, os processos. A IBM Corporation dá-nos tudo isso.
“Diria que a minha função de facto é estar junto dos meus clientes, ouvi-los. É aquilo que de mais nobre eu tenho a fazer”
“No CAS (a sigla em inglês para Centro de Estudos Avançados), criado em parceria com a Faculdade de Engenharia do Porto, estamos a desenvolver soluções específicas de negócio”
Fibra | Mas o mercado português tem certas particularidades, há que definir uma estratégica específica… JMP | A IBM Portugal é extremamente madura, tem aqui toda a oferta da IBM Corporation e a nossa estratégia não diverge da estratégia global. Em Portugal, até temos mais serviços do que aquilo que é a média geral dos países. Porquê? Porque começámos aqui um mercado de outsourcing, há 10 anos, que aderiu muito bem e por isso temos um peso maior do que é normal. A nossa estratégia é disponibilizar >>> Outubro 2011
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a oferta da IBM Corporation, sempre numa perspectiva de conseguir estar à frente, abrangendo todos os sectores do mercado. Não temos soluções para o mercado doméstico, só para empresas, de qualquer dimensão, embora sejamos mais fortes nas maiores.
“As empresas de TI, sobretudo as de software, vão continuar a aparecer e espero que rapidamente, porque um sector onde Portugal pode ter uma palavra a dizer”
Fibra | Quais são os principais desafios do mercado português para a área das tecnologias? JMP | O momento que estamos a viver é de incerteza e os desafios são imensos. A redução de custos merece destaque porque os nossos clientes precisam de aumentar a eficiência e esse desafio é muito grande. Temos que conseguir, em cada momento e com um sentido de urgência muito grande, ajudar os nossos clientes a ser progressivamente mais eficientes. Aumentar a eficiência é mais do que reduzir o custo, porque este tem limites, chega uma altura em que reduzir mais é parar as operações e isso não pode acontecer. As empresas em geral, e também o Governo, não podem ter apenas redução de custos, têm que ter
“Portugal é pequeno e periférico, mas considero-o um País rico, cujo mercado de TI espelha isso. Não há nenhuma razão para pensarmos que este mercado não é interessante”
uma estratégia, que, na minha opinião, passa por ser diferente dos outros. Com a nossa tecnologia temos de os ajudar a fazer as coisas de uma forma diferente. A concorrência também é um desafio para nós, mas faz parte do mercado. Temos que ser mais rápidos, ágeis e melhores, para estar no mercado com os concorrentes. Fibra | Como é a relação da IBM com as universidades portuguesas? JMP | Fazemos um grande trabalho e até temos uma equipa permanentemente dedicada a isso. No CAS (a sigla em inglês para Centro de Estudos Avançados), criado em parceria com a Faculdade de Engenharia do Porto, estamos a desenvolver soluções específicas de negócio. Não há muitos centros destes por aí e conseguimos que ele fosse feito em Portugal. É extremamente importante e temos a expectativa de conseguir criar soluções na área da saúde, por exemplo. Além disso, há uma relação muito antiga com as universidades atra-vés do Prémio Científico IBM,
PERFIL
Há mais de uma década na IBM O ténis e os romances históricos são as distracções de José Manuel Paraíso quando não está a pensar em tecnologia, clientes e soluções. Pratica a modalidade há 30 anos e o último romance histórico que leu foi o de Catarina de Bragança, a rainha portuguesa de Inglaterra. Paraíso estudou Economia na Universidade Católica Portuguesa e especializou-se, posteriormente, em Gestão de Empresas na mesma universidade. A actividade profissional teve início na GTI, onde foi gestor de projecto. Também foi responsável pela direcção comercial da Prodstar Portugal e, mais tarde, da CGI Portugal. Entre 1995 a 1997, foi director-
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-geral da CGI/Prodstar Portugal. A carreira dentro da IBM Portugal começou em 1999, quando foi nomeado director para a área de consultoria e integração de sistemas, na divisão IBM global services. Mais tarde passou a reportar ao presidente da IBM Portugal, quando foi director da divisão de FSS (sector de banca e seguros). De 2006 a 2009 integrou a IBM SPGIT (Spain, Portugal, Greece, Israel and Turkey) com a responsabilidade do sector de banca e seguros, experiência que recorda com “orgulho”. Voltou à IBM Portugal há dois anos, já como director executivo de global technology services.
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“Portugal é um conjunto de clientes, alguns deles com uma dimensão muito apreciável, e todos eles são muito importantes”
que entregamos já há 21 anos. É importante porque estimula a capacidade imaginativa e inventiva dos estudantes. Fibra | Qual é o valor do mercado português para a IBM Corporation? JMP | É imenso. Porquê? Há várias razões e uma delas é saber que o mercado é constituído por clientes e estes são muito importantes para a IBM. Essa é a primeira razão: Portugal é um conjunto de clientes, alguns deles com uma dimensão muito apreciável, e todos eles são muito importantes. Em segundo lugar, a IBM anuncia os seus objectivos, extremamente ambiciosos, e para os conseguir precisa de todos os clientes de todos os países. Portugal é pequeno e O novo agregador das comunicações
“Portugal tem muito boa capacidade de produzir profissionais em algumas das suas universidades”
periférico, mas considero-o um País rico, cujo mercado de TI espelha isso. Não há nenhuma razão para pensarmos que este mercado não é interessante. É verdade que estamos em crise, mas não somos os únicos. Fibra | Nos últimos anos o mercado português de TI tem evoluído, com novas empresas de software que criam soluções próprias. Como olha para este mercado? JMP | Vejo de uma forma muito positiva este fenómeno do aparecimento de empresas que vão criando software. É interessantíssimo para o nosso mercado, porque os benefícios, dos quais podemos tirar partido também, são muito superiores à questão da concorrência. As empresas
de TI, sobretudo as de software, vão continuar a aparecer e espero que rapidamente, porque é um sector onde Portugal pode ter uma palavra a dizer. Portugal tem muito boa capacidade de produzir profissionais em algumas das suas universidades. Na área do software a área da segurança é, para mim, uma das que mais precisa de evoluir.
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