Melhorar a informação sobre a formação de preços O Observatório foi criado para explicar por que existem diferenças entre os preços agrícolas e alimentares, diz Philippe Boyer, secretário-geral daquele organismo
Store | O que justificou a criação do Observatório dos Preços e das Margens dos Produtos Alimentares ? Philippe Boyer | Dois fenómenos estão na origem do observatório. O primeiro é um fenómeno antigo, estrutural: os produtos alimentares são cada vez mais elaborados, incorporam cada vez mais serviços (segurança alimentar, embalagem, características de conservação…), pelo que o peso da matéria-prima agrícola no produto final diminui. Além de que os preços agrícolas aumentam a um ritmo inferior aos preços dos serviços incorporados nos produtos alimentares. O segundo fenómeno é mais recente, mas poderá também tornar-se estrutural: os preços de numerosas matérias-primas de origem agrícola conhecem desde 2007 uma instabilidade importante, com repercussões mais ou menos directas nos preços alimentares. O observatório actual, como os seus antecessores, foi criado para explicar aos consumidores e aos produtores agrícolas por que existe uma diferença por vezes tão importante entre o nível dos preços agrícolas e o dos preços alimentares, mas também para fornecer aos profissionais dados objectivos sobre a formação dos preços, de modo a contribuir para melhorar a concertação interprofissional e o clima das negociações comerciais. É, antes de mais, um dispositivo de produção de informação económica, com base em dados estatísticos existentes e em dados especificamente recolhidos para o observatório e validados pelo STORE MAGAZINE
conjunto dos representantes das fileiras. Não é um organismo de controlo de preços nem um serviço encarregado de regular as questões comerciais. Store | O observatório trabalha com dados. Como garante que são dados fiáveis e independentes? PB | O observatório utiliza muito os dados estatísticos oficiais : preços agrícolas, preços alimentares, contas sectoriais da indústria e do comércio, entre outros. Estes dados são produzidos pelos serviços estatísticos nacionais e apresentam, por isso, garantias de representatividade e de fiabilidade. Além disso, o observatório solicita informação económica suplementar às empresas, por exemplo, os preços à saída de certas indústrias. Os dados assim recolhidos são apresentados (de forma anónima) e discutidos nas reuniões de trabalho, que juntam os representantes de todas as fileiras, bem como peritos. Store | Que problemas foram identificados na formação dos preços e das margens ? PB | As principais questões sobre as quais o observatório deve fornecer elementos de análise são: • Como se opera a transmissão, nos preços agrícolas e no preço em geral, da alta dos preços das matérias-primas da alimentação animal? • Quais são os custos da indústria e do comércio que podem explicar a diferença entre os preços agrícolas e os preços
alimentares e como evoluem esses custos? • Quais são os custos e os benefícios por sector alimentar na grande distribuição? • Como evoluem os custos de produção na agricultura, face ao preço? Store | Qual era a situação das fileiras agroalimentares, que relação mantinham entre si as empresas do sector ? PB | As fileiras agroalimentares em França caracterizam-se desde logo pela diversidade das estruturas industriais, na medida em que um elevado número de pequenas e médias empresas coexiste com alguns grandes grupos nacionais e multinacionais. Outra característica é o peso da grande distribuição no comércio do retalho alimentar – cerca de 75 por cento do mercado. Há também uma concentração da grande distribuição, sobretudo na compra, mas com forte concorrência entre si no que respeita à venda. Quanto aos produtores agrícolas apresentam níveis de organização variáveis segundo os produtos, mas em geral insuficientes para pesar fortemente na formação dos preços. A organização económica dos produtores é, além disso, muito enquadrada pelo direito comunitário, nomeadamente em matéria de concorrência. Quanto às empresas, verifica-se que existe pouco poder de mercado em geral para os produtores agrícolas, submetidos a preços cada vez mais influenciados pelos mercados mundiais. As negociações de tarifas entre industriais
e a grande distribuição são, por vezes, difíceis. Existe uma forte concorrência entre os agentes da grande distribuição num contexto de quebra do consumo de certos produtos (como a carne de vaca), de crise e de baixa de poder de compra, bem como de desenvolvimento de novas formas de comércio, como o hard discount. Store | O que mudou com a constituição do observatório ? PB | O observatório existe há pouco mais de um ano. Este primeiro ano foi dedicado sobretudo à construção do dispositivo, à pesquisa dos dados pertinentes e à construção das ferramentas de difusão de informação. Além disso, o observatório não tem a vocação de produzir mudanças no funcionamento da economia agroalimentar: esse é o papel da lei e das negociações interprofissionais. O observatório contribui para uma melhor informação económica dos actores. Em particular, começa a tornar mais compreensível que as diferenças de preços entre o montante e o jusante estão relacionadas com a criação de valor e de empregos. Maio/Junho de 2012
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