O jornalista convicto

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Passeio Público

Ana Duarte

Francisco Teixeira é um jornalista convicto. Com uma experiência diversificada nos diversos meios, começou na rádio e num semanário ao mesmo tempo, transitou depois para um diário. Conhece agora, no Económico TV, a magia da televisão. Com o director do Advocatus, faz semanalmente o retrato dos temas mais actuais da Justiça portuguesa

Ramon de Melo

O jornalista convicto

Pai, jornalista e sportinguista “ferrenho” – estas são, provavelmente, as palavras que melhor definem Francisco Teixeira. Filho de um madeirense, passou toda a infância em Sintra. Mas o gosto pelas viagens manifestou-se cedo e levou-o, aos 14 anos, até ao Canadá, para melhorar o inglês e trabalhar. 16

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Esta foi a primeira grande experiência fora de casa. Rapidamente outra se sucedeu. Aos 17, decorria o ano de 1996, Francisco participou no programa American Field Service (AFS, em Portugal gerido pela Intercultura): mudou-se para Albuquerque, no Novo México, nos EUA, onde viveu durante um ano com uma família de acolhi-

“Eu sabia que queria tentar ser jornalista, ainda que soubesse que é uma profissão de desgaste rápido”

mento e terminou o secundário. Em muitos casos, estas famílias são mais do que de acolhimento e foi o que aconteceu com Francisco, que mantém contacto com a sua “família americana”. Ainda recentemente lá regressou. Recorda que foi uma experiência “muito rica”, principalmente do ponto de vista pessoal, pois, aos O agregador da advocacia


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A primeira vez que Francisco foi ao Parlamento tinha nove anos

17 anos, teve de entrar “num país novo, com uma língua nova, uma escola nova e um sistema completamente diferente”. O gosto pelas viagens levou-o novamente a partir aos 18 anos: na companhia de um amigo, colocou a mochila às costas e embarcou à aventura num interrail pela Europa. “Foi uma excelente experiência, muito concentrada na Europa Central e na Europa do Sul”. Durante um mês viajou mais de 150 horas em comboios. Foi, sem dúvida, “um mês muito intenso”. Mas como experiência mais marcante elege, sem hesitar, o ano que passou nos Estados Unidos. Ainda ponderou por lá ficar, mas acabou por regressar a Portugal. Tinha terminado o 12.º ano e tinha de decidir que área seguir. Pensou em Direito, mas optou por jornalismo: “Eu sabia que queria tentar ser jornalista, ainda que soubesse que é uma profissão de desgaste rápido”. Francisco sempre viveu muito próximo do “frenesim” das redacções. O facto de ter dois tios jornalistas permitiu que conhecesse bem o ambiente de uma redacção e que assistisse de perto ao nas-

Durante o ano de Erasmus, na neve, em Espanha

cimento de projectos jornalísticos como o Público. Ingressou então no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em Lisboa, onde cursou Comunicação Social. No final do 3.º ano decidiu que gostava de fazer o último ano da licenciatura fora do País, desta feita em Madrid, na Universidade Complutense. Na altura, estava cada vez mais interessado pela ciência política e foi precisamente nessa área que cumpriu o último ano do curso. Quando regressou a Lisboa, estava pronto a entrar no mundo do trabalho. No entanto, o País atravessava “uma espécie de mini-crise”, tinha-se dado a bolha das “.com”, o que resultou na queda dos níveis de publicidade e numa diminuição no número de contratações. Ainda assim, Francisco conseguiu um estágio na Rádio Renascença (RR) e posteriormente outro no semanário Independente. Acabou por aceitar os dois. No final de ambos foi convidado a ficar e acumulou os dois empregos. O dia começava bem cedo. Entrava na rádio entre as 5h00 e as 6h00 e fazia os noticiários na Mega FM, RR e na RFM informa-

No dia da graduação com os colegas em Albuquerque – Novo México, EUA

A advocacia é “um sector distinto face aos sectores médios do País”, um sector de uma “competência extraordinária, bastante dinâmico e que conseguiu aceder a grandes negócios”

ção. Por volta das 13h00 trocava a rádio pelo jornal, onde trabalhava até às 21h00. Durante três anos e meio esta foi a sua rotina diária. Reconhece que foram anos muito desgastantes, mas também muito ricos, pois conseguia trabalhar em “dois mundos completamente distintos”. Em 2005 decidiu frequentar a pós-graduação em Marketing Político, também no ISCSP, e saiu do Independente, pois muito dificilmente conseguiria conciliar as três tarefas. Mas continuou na RR. No ano seguinte resolveu dar mais um passo na carreira e integrou o Diário Económico, onde assumiu o cargo de coordenador de política. Posteriormente, ascendeu a editor, funções que desempenhou durante quatro anos, época em que acompanhou de perto a actualidade sobre políticas públicas, educação, saúde, justiça, entre outras áreas. Foram quatro anos muito intensos, mas também muito enriquecedores. Para Francisco, “um jornal diário dá de facto muita pica, é uma coisa muito envolvente porque as notícias são vividas naquela lógica diária, embora seja desgas>>>

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Ser pai é “a única coisa na vida que repetida mil vezes não perde importância”

tante é um trabalho muito rico”. Foi exactamente enquanto editor de política que se aproximou da área da Justiça, mais especificamente da advocacia. O Diário Económico produzia um suplemento sobre advogados, cuja elaboração lhe abriu a porta ao conhecimento das principais tendências do mundo da advocacia. E que lhe permitiu concluir que a advocacia é “um sector distinto face aos sectores médios do País”, um sector de uma “competência extraordinária, bastante dinâmico e que conseguiu aceder a grandes negócios.” Quanto à Justiça, é, em sua opinião, dos sectores onde há mais tempo se houve falar de reformas, principalmente depois do pacto de Justiça, que foi inclusive negociado pela actual ministra, Paula Teixeira da Cruz. No entanto, “se recuarmos a 2006, chegamos à conclusão de que os problemas persistem e são exactamente os mesmos, as terapias vão mudando, mas não têm sido conseguidos grandes resultados”… Francisco Teixeira não tem a certeza se será jornalista até ao res-

“Se recuarmos a 2006, chegamos à conclusão de que os problemas persistem e são exactamente os mesmos, as terapias vão mudando, mas não têm sido conseguidos grandes resultados”

to da vida, mas por agora é a sua profissão e sente-se feliz com ela. “Não sei se me vejo jornalista para sempre. Mas tenho muito orgulho tanto de ter sido, como de continuar a ser jornalista”. O que não o impede de reconhecer que a profissão é muito desgastante, principalmente nos dias de hoje, em que há um imediatismo noticioso. Cada vez mais – comenta - “se sente que o indivíduo não se pode cingir, do ponto de vista tanto técnico como prático, ao meio”. Mas, além do trabalho, Francisco tem outra “profissão”, que é a mais importante - ser pai. De Pilar, dois anos, e de Vicente, três anos. É com eles que tenta passar o tempo livre. Diz que é “facílimo gerir o tempo”, mas confessa que tem algumas ajudas. O facto de as crianças destas idades terem de dormir a sesta dá-lhe alguma “margem de manobra” quando necessita de trabalhar, por exemplo, na tese de mestrado que está a terminar. E afirma, com convicção, que ser pai é “a única coisa na vida que repetida mil vezes não perde importância”.

DESAFIO

No ETV com o Advocatus Francisco enfrenta neste momento um novo desafio profissional no Económico TV, onde conduz o programa “Direito a Falar”. Semanalmente, juntamente com o director do Advocatus, João Teives, recebe convidados para comentarem as questões mais actuais do Direito e da Justiça. Esta é a primeira vez que Francisco tem uma experiência televisiva, apesar de ter feito um curso no CENJOR depois de terminada a faculdade. Mas é um meio que lhe agrada bastante e que lhe suscitava alguma curiosidade. O programa, com cerca de dois meses, tem sido

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um êxito. A ideia central é “dar direito a falar a quem fala sobre Direito” e, com o auxílio de especialistas, perceber e analisar o que acontece nos grandes escritórios de advogados, na advocacia em si, nas magistraturas, no Governo e em todo o sistema judicial, mas, principalmente, perceber qual a realidade da Justiça nos dias que correm. Até agora, Francisco crê que a missão tem sido cumprida. O programa tem sabido conquistar. As propostas de temas e convidados têm sido constantes, a dificuldade que se coloca é a de escolher entre tantas propostas…

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