O poder de um sorriso

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Raquel Rio jornalista

A advocacia é “uma camisola que assenta bem” a Rita Júdice. Aos 37 anos, a advogada da PLMJ apresenta-se como uma mulher realizada e dedicada a uma profissão que lhe permite desenvolver o gosto de contactar com pessoas, que privilegia também fora do trabalho. Assume-se como uma pessoa “atenta aos outros” e acredita que um sorriso pode mudar o dia de quem está à sua volta

Ramon de Melo

O poder de um sorriso

A vida de Rita começa, de forma atribulada, em Coimbra, a 8 de Dezembro de 1973. Apesar de ser Inverno, vive-se ainda o calor dos tempos de revolução e o nome Júdice não é dos mais populares. O pai, o conhecido advogado José Miguel Júdice, é preso e a família exila-se em Espanha durante cerca de um ano, optando depois 26

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O curso acaba por se revelar uma boa surpresa: “Foi um caminho natural, foi uma camisola que me assentou bem. Acho que tomei a decisão correcta”

por se instalar definitivamente em Lisboa, na zona da Estrela, onde a advogada vive ainda hoje. Porque era demasiado jovem, Rita Júdice não tem recordações desses primeiros tempos agitados, mas sente que esse período foi “marcante”: “É quase como se me lembrasse, tenho muitas memórias construídas com o que me O agregador da advocacia


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contavam”. A cidade do Mondego, onde mantém ligações familiares, fica, porém, para sempre no seu “espólio afectivo”. Já em Lisboa, Rita Júdice frequenta os Maristas e depara-se mais tarde com a necessidade de fazer escolhas. Indecisa entre fazer carreira no jornalismo e o mundo da advocacia, a herança familiar pesou mais forte e acabou por ingressar no curso de Direito da Universidade Católica. “O meu pai sempre foi um apaixonado pela sua profissão. Foi-me conduzindo para essa opção, se calhar porque achava que eu tinha queda, mas também porque, imagino, tal como a maior parte dos pais, gostava de ter alguém que continuasse o nome”, conta. O curso acaba por se revelar uma boa surpresa. “Foi um caminho natural, foi uma camisola que me assentou bem. Acho que tomei a decisão correcta”, reforça, destacando o gosto pelo “contacto com as pessoas” como um dos lados mais positivos da sua profissão. Mal saiu da faculdade, iniciou um estágio na PLMJ e por lá ficou. As preferências pelo Direito privado levam-na, pouco e pouco, às suas

actuais áreas de especialidade: imobiliário, construção e turismo. A estruturação de um fundo de investimento árabe foi uma das su-as experiências mais desafiantes, pelo contacto com “uma realidade completamente diferente do habitual”, em que a esfera da religião toca nos negócios. “Há limitações ao investimento. Por exemplo, não podem pagar juros sobre o capital porque é contrário à religião que professam, ou seja, ganhar dinheiro só pelo decurso do tempo não é considerado legítimo. Portanto, tivemos de encontrar mecanismos que se adequassem à realidade portuguesa e que fossem compatíveis com esses limites”, explica. Entre a vida “stressante” de advogada e os três filhos, com sete, cinco e 1,5 anos, não sobra muito tempo para aproveitar os tempos livres e a família é sempre prioritária nos momentos de lazer: “Tento fazer tudo com eles, acho que têm direito”. Nessas alturas, aproveita o ar livre, onde as crianças preferem estar. A propósito, desvenda um projecto que pretende concretizar em breve: comprar uma bicicleta. “No

“Preocupo-me com os outros. Acho que posso fazer a diferença nalguns momentos. Fazer um sorriso pode marcar o dia da outra pessoa”

outro dia experimentei a bicicleta da minha filha e andei um bocadinho. Não andava de bicicleta há anos, tive umas saudades…”. Além do tempo em família, a advogada gosta também de se rodear dos amigos e descreve-se como “uma pessoa atenta aos outros”. “Preocupo-me com os outros. Acho que posso fazer a diferença nalguns momentos. Fazer um sorriso pode marcar o dia da outra pessoa. Faço isso, tento perceber se as pessoas estão com algum problema e se posso ajudar, com um conselho, com uma palavra, com uma atitude qualquer. Gosto muito de pessoas e gosto muito de as perceber. É preciso termos disponibilidade para ouvir os outros”. Rita Júdice assume a importância da religião na sua vida e envolve-se nas vivências cristãs. Faz parte das Equipas de Nossa Senhora, vocacionadas para a espiritualidade conjugal, e dedicou-se mais recentemente a um projecto juvenil, “uma experiência muito interessante” que a ajuda a quebrar a monotonia dos dias. “Recebo os jovens lá em casa uma vez por mês. São jovens de 16 e 17 anos >>>

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“Quando era criança cheguei a pensar que queria ser antiquária, imaginava assim uma profissão ligada às artes”

que partilham as suas experiências e os seus problemas, às vezes sobre assuntos de que não conseguem falar em casa”. E se para estes jovens é importante o aconselhamento dos mais velhos, a verdade é que também eles ajudam a impor uma pausa na vida atarefada da advogada. “Às vezes esquecemo-nos da percepção do tempo naquelas idades, quando tudo era mais calmo, tudo passava mais devagar e um mês era imenso tempo. Agora acontece tudo ao mesmo tempo, temos sempre aquela rotina dos dias sempre iguais e às vezes nem percebemos que o tempo está a passar. Estes encontros ajudam-me a relembrar outra forma de viver o tempo sem ter de o ocupar necessariamente. Sabe bem não sermos tão monótonos na nossa vida e deixar entrar um bocadinho de confusão que é o que acontece quando eles entram lá em casa”, diz, entre risos. Os pequenos prazeres que apreciava quando era mais jovem ficaram para segundo plano na idade adulta porque as horas nunca sobram, mas Rita admite que, se tivesse mais tempo livre, gostaria de desenvolver a sua veia artística

“O meu pai sempre foi um apaixonado pela sua profissão. Foi-me conduzindo para essa opção, se calhar porque achava que eu tinha queda, mas também porque, imagino, tal como a maior parte dos pais, gostava de ter alguém que continuasse o nome”

na área da fotografia, desenho e pintura. “Quando era criança cheguei a pensar que queria ser antiquária, imaginava assim uma profissão ligada às artes”, confessa, com um sorriso. Nas férias, elege a praia como destino, mas também aprecia a calma do campo “para recarregar as baterias”. “Este ano estive na costa alentejana e consegui conciliar as duas coisas. Foi maravilhoso…”, relembra. Gosta de viajar e deslumbra-se com paisagens avassaladoras, como as dos glaciares de Perito Moreno, na Patagónia Argentina ou o parque nacional de Torres del Paine, no Chile, que destaca entre os sítios mais bonitos do mundo. “Não se consegue imaginar sem ver ao vivo. É um azul inacreditável. Olho para aquelas paisagens e sinto a presença de algo. São alturas em que tenho a certeza que há algo maior do que nós”, relata, com emoção. Entre os sonhos adiados inclui-se … uma volta ao mundo: “Gostava de poder sair daqui, pegar na minha família e dar a volta ao mundo, sem regresso marcado. Gostava de mostrar aos meus filhos o mundo, as outras realidades, outras culturas”.

VIAGEM

Uma aventura de costa a costa A viagem da vida de Rita Júdice aconteceu nos EUA, num cinematográfico coast to coast que a levou de Nova Iorque a São Francisco, ainda nos tempos da faculdade. Durante quase um mês viveu “uma aventura”, acompanhada do namorado, que se tornaria o futuro marido. Sem GPS, e confiando apenas na ajuda dos mapas, foram inevitáveis alguns enganos pelo caminho, num percurso marcado pela beleza esmagadora do Grand Canyon, mas também pelo bulício citadino e fervilhante de Chicago, onde regressou posteriormente.

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O contacto com os locais também revelou algumas surpresas: “O que mais me espantou foi que a maior parte dos americanos, que conhecem pouco sobre a Europa, ficavam maravilhados quando sabiam que estávamos a fazer aquela viagem no país deles. Muitos deles também nunca tinham sido saído da sua zona e queriam falar connosco, saber como estava a correr a viagem, onde tínhamos ido”. Gostava de poder repetir a experiência na Austrália, “por ser longe, por ser diferente, pela uma beleza natural”. Mas, como é preciso ter tempo, “precisava de ter uma nova lua-de-mel”, brinca.

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