LISBOA
TURISMO DE
N.º 109 janeiro 2013
CarlOS CARREIRAS
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAIS
PROPOSTA DE LEI SOBRE REGIÕES DE TURISMO É INCOMPREENSÍVEL APHORT ACUSA GOVERNO DE INCOERÊNCIA E APOIA POSIÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE TURISMO DE LISBOA E PORTO AVENIDA DA LIBERDADE
EM CONTRACICLO
OBSERVATÓRIO DO TURISMO Dezembro DE LISBOA Índice LISBOA
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No Interior
2012
ENTREVISTA carlOS CARREIRAS
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAIS
Nuno Coimbra
Conferências do Estoril O grande evento de 2013
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Há um bilião de turistas no mundo e Portugal tem sabido estar nesse mercado, mas podemos e devemos elevar o nosso perfil. Isso faz-se não com um Turismo de pronto-a-vestir em que um tamanho serve todos, mas fazendo o fato à medida dos potenciais clientes, afirma o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, que, em entrevista à RTL, fala ainda do regresso das famosas Conferências do Estoril como o grande evento em 2013
Estoril é uma marca turística internacional com história, Cascais um destino turístico privilegiado. Que balanço faz da intervenção da autarquia a que preside para potenciar estes recursos? Disse bem: Cascais e Estoril são marcas com tradição, com história e peso turístico. E são-no, precisamente, porque mantêm a ligação à sua génese, à sua identidade. Recordo o seguinte: qualquer cascalense que, no início do século XIX, apostasse que Cascais e o Estoril viriam a ser uma referência turística seria, no mínimo, considerado delirante. Era altamente improvável que um concelho de pedreiras e vastas zonas agrícolas se transformasse, ainda nesse mesmo século – e que os séculos subsequentes viriam a confirmar – uma das mais afamadas zonas balneares da Europa. Contra todas as probabilidades, esse caminho foi feito graças a dois impulsos históricos: o primeiro deve-se ao facto de D. Luís, e principalmente o seu filho, o Rei D. Carlos, ter feito de Cascais a estância de veraneio da corte; o segundo, à visão de Fausto Figueiredo, o ideólogo do Estoril cosmopolita, tolerante e aberto ao mundo. É esta a filosofia de que somos herdeiros e é este o património que queremos manter estando cientes de que o mundo mudou do dia para a noite e, é hoje, radicalmente competitivo e radicalmente novo. Há, contudo, algo que não mudou: as pessoas continuam a valorizar a diferença e a qualidade. E estão dispostas a pagar por ela. Isso tem-nos levado a procurar, sem revoluções, uma terceiro impulso que permita reafirmar o papel de Cascais e do Estoril no contexto turístico nacional e internacional.
Centro de Mar Atlântico é vocação
Como é que o fizeram? Dividimos a nossa acção em planos de curto e longo prazo. Mas antes disso, fizemos um diagnóstico da situação e percebemos que Cascais continuava a ter todos os bons condimentos para uma excelente receita: palácios, museus, património natural irrepetível, serra e mar, pessoas que sabem receber como ninguém e, muito relevante, percebemos logo que temos os parceiros certos que, sabemos, são capazes de dar as respostas que precisamos. Garantido isso, optámos numa primeira fase por colocar Cascais sempre no radar turístico internacional com grandes eventos. Falo da America’s Cup World Series, da Concentração Europeia de Proprietários de Harley Davidson, das Conferências do Estoril, do CSI 5*… a lista é longa e não quero ser exaustivo. Isto foi a estratégia de curto prazo – e chamo-lhe cur-
Dada a reconhecida linha de costa que Cascais possui para a prática de desportos náuticos, quais são as principais iniciativas previstas para desenvolver esta oferta? O Atlântico não é apenas parte da nossa identidade e do nosso património. É a nossa vocação. Temos um plano vasto para tratar dos assuntos ligados ao Mar e que está a cargo da SAER. Foi a esta reconhecida empresa de planeamento estratégico que encomendámos um estudo sobre a viabilidade de um grande Centro de Mar em Cascais. O estudo está feito e o Turismo ligado à náutica é, de facto, um dos seus pilares. Vamos, no futuro muito próximo, e porque o Centro de Mar vai ser uma realidade, divulgar tudo o que está incluído nesse pilar estratégico. Digo apenas que, por exemplo, na Europa, as actividades turísticas ligadas ao Mar –
to prazo porque os seus resultados vêem-se no imediato apesar de nos ajudarem a lançar as bases para o longo prazo. A segunda fase, que não vive sem a primeira, passa por dotarmos Cascais dos motores de crescimento turístico de longo prazo: Turismo de Saúde e Bem-Estar, Turismo de Congressos, cluster do Surf e Desportos Náuticos e, não deve ser esquecido, o input dado por uma universidade de referência mundial que em breve se pode instalar em Cascais, vivendo sobretudo do mercado externo. Resumindo: crescemos mais depressa do que os principais destinos nacionais, consolidamos a marca Estoril/Cascais dando-lhe dimensão global e os números provam-no. Ainda não temos fechado os números de 2012 mas 2011 foi um dos melhores anos turísticos de sempre para a nossa região. Tivemos mais 16,8 por cento de novas visitas e que corresponderam a mais de 1,1 milhões de dormidas. Repare-se, igualmente, como a nossa aposta na qualidade tem reflexo no perfil de turista que recebemos: 75 por cento do total de dormidas no concelho têm lugar em unidades de 4 ou 5 estrelas. Apesar do contexto de transformação, e de não estar ainda satisfeito porque conheço o potencial de crescimento da nossa marca, posso dizer que o balanço é positivo. Fundamentalmente porque a marca Cascais/ Estoril continua a ser, para nós e para os outros, aquilo que sempre foi: um desejo, uma aspiração e um modo de vida.
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Prioridades turísticas Quanto a este tema, a fórmula é conhecida e a estratégia está definida: continuação dos grandes eventos (que no curto prazo acrescentam valor e postos de trabalho à economia local ao mesmo tempo que ajudam a difundir a marca Cascais pelo mundo) e reforço da aposta nos motores de crescimento turístico que, pela sua natureza estrutural, demoram mais tempo a produzir resultados. “Ainda assim, diria que para o próximo ano podemos conhecer desenvolvimentos muito significativos na instalação, em Carcavelos, da Nova School of Business and Economics (recorde-se que é, tão só, uma das melhores escolas mundiais na lista do Financial Times), que será responsável por um grande influxo de visitas (permanentes e não só)”, afirma Carlos Carreiras, acrescentando que a este podem ainda vir a somar-se outros estabelecimentos de ensino. “2013 é ainda um ano decisivo na nossa estratégia de Diplomacia Económica de base local. A este propósito, digo-lhe o seguinte: Cascais tem uma rede de 14 cidades geminadas, em quatro continentes e em países de grande potencial como China, Brasil e Turquia, e noutros consolidados como o Japão e os Estados Unidos. Estamos a trabalhar com todas elas para, reforçando as relações bilaterais, abrir novos mercados emissores de turistas. Dou-lhe um exemplo: a cidade geminada de Wuxi, na China, representa um mercado de pelo menos seis milhões de pessoas. Isto é apenas uma cidade de uma importante província chinesa onde estão muitos turistas e muitos potenciais investidores. A nossa aposta é que, para todos os que estão em Wuxi, Cascais seja a porta natural de entrada na Europa. E por falar em negócios, acrescento que os grandes eventos têm um papel essencial na atracção de investidores que, por terem vindo a Cascais assistir a uma prova de Hipismo ou de Vela, têm realizado investimentos consideráveis no concelho e no país.
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cruzeiros, náutica de recreio, marinas – valem 72 mil milhões de euros; e dois em cada três europeus preferem passar férias junto ao mar. São números que temos presentes que não vamos deixar de potenciar. Do calendário de iniciativas, quais são as que destaca e qual a sua importância para o reforço da presença de Cascais como um hotspot nos calendários desportivos internacionais? Das iniciativas que já estão fechadas para 2013, destacaria a recentemente apresentada Maratona de Lisboa Rock’n’Roll Series que, decididamente, vai pôr Cascais, Oeiras e Lisboa no mapa das grandes maratonas mundiais com uma corrida ao longo de uma das mais sedutoras linhas de costa do mundo. Para além disso, teremos novamente grandes provas de Vela, como o regresso do circuito MOD 70 e do RC 44. E sobre o Surf em particular? Em 2013 teremos boas e grandes novidades sobre o Surf. Repare: Há um bilião de turistas no mundo. Portugal tem sabido estar, com alguma notoriedade, nesse mercado. Mas podemos e devemos elevar o nosso perfil. Isso faz-se não com um Turismo de
pronto-a-vestir em que um tamanho serve todos. Identificados os sectores onde somos bons, temos de fazer o fato à medida dos nossos potenciais clientes: e os surfistas são-no. Há pelo menos 25 milhões de surfistas no mundo e só este número representa, na prática, o dobro da entrada anual de turistas em Portugal. Por isso, e mais uma vez na lógica de complementaridade curto prazo-longo prazo, apostaremos tanto nos grandes eventos como nas políticas estruturais.
Saúde é pilar estratégico O Turismo de Saúde é também uma das apostas de Cascais em termos de Turismo. O que tem sido feito neste domínio e quais os projectos a desenvolver no futuro próximo? Diz bem: a Saúde é uma das apostas, mas não apenas no sector do Turismo. É um dos nossos pilares estratégicos. Por isso, assinámos recentemente um protocolo com o Health Cluster Portugal (HCP). A assinatura do protocolo enquadra-se na perspectiva de trabalharmos com os melhores para identificar as melhores oportunidades de mercado. E sa-
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bemos bem que este é um mercado com um potencial de centenas de milhões de euros. Por outro lado, este protocolo surge da constatação de que em Cascais temos todas as condições – boa prestação de cuidados de saúde, profissionais competentes, bons acessos, boas praias, bons equipamentos hoteleiros, uma história rica e uma cultura vincada – para, no exterior, divulgar Cascais como destino de referência no Turismo de Saúde e Bem-Estar. Acrescentaria ainda um último ponto: se a nossa aposta no Turismo de Saúde for crescente, estamos também a aumentar a prestação de serviços de Saúde e a alavancar a qualidade e a diversidade de opções para os nossos munícipes.
Regiões de Turismo Proposta de lei é incompreensível Concorda com a proposta de lei sobre a reorganização das Regiões de Turismo anunciada pelo Governo, e em particular sobre o impacto na Região de Lisboa? Discordo em absoluto da proposta do Governo. É uma daquelas medidas incompreensíveis. Diria que é uma reforma de três d’s: dispersa meios, desperdiça oportunidades e que, na verdade, disforma.
Mantém a opinião de que “peca por excesso de intervenção”? Claramente, porque parte de um mau princípio: o Estado mete-se onde não é chamado e, para piorar as coisas, num sector que funciona com um sucesso assinalável para o país. Deixe-me que lhe diga que vivemos num tempo em que o tempo é precioso. A proposta é um erro estratégico também porque falha clamorosamente na interpretação do princípio da igualdade. Equipara, na estrutura da futura Entidade Regional de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, os votos de concelhos com grande expressão turística nacional, como Lisboa e Cascais, a concelhos como os de Vila Franca, Arruda dos Vinhos e Alpiarça. Apesar de ter um melão famoso e de merecer todo o nosso respeito, o voto de Alpiarça não pode valer o mesmo que o de Lisboa ou Cascais. Igualdade não significa tratar tudo pela mesma medida: significa, isso sim, tratar de forma igual o que é igual e diferente o que é diferente. Quais são as principais consequências que antevê decorrentes deste processo? Temo que o gigantismo da futura estrutura, a sua desconexão com o terreno, e o princípio de “um tamanho serve todos”, sejam os principais inimigos de uma promoção eficaz das nossas regiões que, dentro das suas diferenças, se complementam de forma notável.
Conferências do Estoril O grande evento de 2013 Cascais tem a tradição de manter um interessante programa anual de espectáculos e organizações culturais, o que acontecerá uma vez mais este ano e nos seguintes, salienta Carlos Carreiras. Temos as tradicionais Festas do Mar – que se assumiram como a maior festa da música portuguesa e que movem dezenas de milhares de pessoas diariamente, na Baía de Cascais, em Agosto. Teremos uma programação permanente e de grande qualidade na Casa das Histórias Paula Rego e no Centro Cultural de Cascais. “E temos, talvez como o grande evento de 2013, as Conferências do Estoril. Pela terceira vez, o Estoril volta a assumir-se como grande palco para ouvirmos os maiores nomes da Política, da Cultura e do Jornalismo internacional. Foi uma aposta nossa, em 2009, que resultou de forma extraordinária. As Conferências do Estoril estão a fazer o seu caminho, posicionando-se ideologicamente entre Davos e Portalegre, e são hoje um fórum de ideias altamente reconhecido como prova, aliás, o recente painel de conferencistas apresentados onde estão Mikhail Gorbatchev e outros grandes nomes”, destaca.
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