Entrevista com Ricardo Parreira

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Filipe Santa Bárbara jornalista

“Nós gostamos de estar sempre à frente, de ser os primeiros a encontrar as soluções. Somos uma empresa que dá prioridade total à inovação” afirma Ricardo Parreira, 44 anos, presidente do conselho de administração da PHC Software, a empresa que fundou há 20 anos, em parceria com colegas de faculdade, e que tem os seus produtos em mais de 25 mil empresas

Ricardo Parreira, presidente da PHC Software

Ramon de Melo

“Gostamos de estar à frente”

Fibra | A PHC é um projecto de colegas de faculdade. Porque é que se focaram no software de gestão? Ricardo Parreira | Na altura gostávamos de computadores e sentimos que podíamos fazer uma grande diferença no software. Era 6

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um negócio, mas podíamos criar. Começámos por fazer software à medida do que nos pediam e era um prazer incrível porque, na altura, éramos todos estudantes diurnos e trabalhávamos durante a noite. Correu muito bem! Claro que depois sentimos que ven-

der software “um para um” não era rentável, o melhor era ter um software que desse para vender a vários. Começámos então a fazer módulos standard e módulos genéricos que se adaptassem às empresas todas. Foi assim que começou a PHC. O novo agregador das comunicações


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Fibra | Como foi a entrada no mercado? RP | Foi difícil, éramos muito miúdos na altura. Éramos entusiastas e isso ajudou-nos bastante. A partir do momento em que começámos a dar provas, passámos a ter uma série de clientes satisfeitos e esse é o melhor cartão-de-visita que existe. Conseguimos que os nossos primeiros clientes ficassem satisfeitos ao ponto de já termos referências quando começámos a fazer software standard.

“Estamos num mercado altamente competitivo. Temos de tratar os clientes como se fossem o único e ter um produto altamente inovador que lhes resolva os problemas”

Fibra | Como descreve a actuação da PHC no mercado? RP | É uma pergunta complicada. Nós gostamos de estar sempre à frente, de ser os primeiros a lançar os produtos e os primeiros a encontrar as soluções para os problemas dos clientes. Acima de tudo, promovemos imenso a inovação. Eu vejo a PHC como uma empresa que dá prioridade total à inovação. Muitas vezes, lançamos produtos muito antes do seu tempo. Em 2000, já tínhamos o software todo para a web. Em 1994, já tínhamos o software todo para Windows. Basicamente, o que tentamos fazer constantemente é: esta tecnologia resolve algum problema do cliente? Se resolver, adoptamos antes de todos! Até mesmo a nível internacional. Já recebemos prémios da Microsoft.

Fibra | Em que áreas actua a PHC? RP | Somos especialistas na gestão das empresas. Na gestão, seja de que empresa for, e dentro da empresa, seja em que área for. Sejam produtos a que chamamos mais genéricos — como de facturação, contabilidade, gestão de vencimentos e de pessoas –, sejam produtos mais específicos para mercados verticais. Temos também um software para nano e microempresas, que, em vez de ser vendido, é alojado e vendido na cloud. Começámos a desenvolver esse software há quatro anos, quando ainda não havia cloud! Mas já sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, a cloud ia ser vital, portanto, fizemos este produto para as microempresas. Temos produtos mais simples mas com funcionalidades muito avançadas para as microempresas e, depois, temos produtos completos e sofisticadíssimos para as empresas maiores. Fibra | Tendo em conta essa gama de produtos, qual é a área mais frutífera? RP | Nós acreditamos que o cliente quer, cada vez mais, um “fato à medida” mas pagando o preço de “um fato standard”. O cliente quer um software que tenha sido feito para a sua área, mas não quer pagar por alguém que o faça porque isso é caríssimo. Nós temos estes produtos a que chamamos verticais: por exemplo, um produto para gestão de cadeias de lojas — quando uma pessoa compra esse produto também precisa da O novo agregador das comunicações

contabilidade, da facturação, entre outros. O que acaba por vender mais são estes produtos genéricos. Mas temos uma coisa que faz a diferença: construímos frameworks que permitem aos nossos parceiros adaptarem os produtos ao que o cliente precisa. Ou seja, o nosso parceiro, que é quem vende, pode alterar o software todo de modo a adaptá-lo, ainda mais ao detalhe, ao que o cliente precisa.

“Sempre fomos muito orgulhosos do país e, nestas nossas saídas internacionais, chegámos à conclusão de que temos muita tecnologia muito à frente do que se faz lá fora. Só às vezes, quando temos estes choques, é que vemos isto”

“Temos também um software para nano e microempresas que, em vez de ser vendido, é alojado e vendido na cloud. Começámos a desenvolvê-lo há quatro anos, quando ainda não havia cloud”

Fibra | A concorrência é forte? RP | É muito forte. Como estamos em vários mercados, temos vários concorrentes. A concorrência mais forte é a estrangeira como a SAP e a Microsoft. A Microsoft, além de nossa parceira, é também nossa concorrente. E a SAP é a líder em software de gestão, portanto é muito forte. Depois, temos em Portugal, conforme as regiões e os produtos, centenas de concorrentes. É um mercado altamente competitivo, onde a única solução é tratar os clientes como se fossem o único e ter um produto altamente inovador que lhes resolva os problemas. Fibra | Onde é que estão a focar as energias? RP | No desenvolvimento de software. Entenda-se desenvolvimento

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“Tantos advogados, não são precisos! Tantos formados em Sociologia, não são precisos! Tantos formados em Psicologia, não são precisos! Mas, formados em Informática de Gestão, formados em Tecnologia são precisos”

como inventá-lo e depois criar condições para que seja bem usado. Nos últimos anos temos tido um crescendo de investimento na capacidade dos parceiros. Hoje em dia, grande parte da PHC produz conteúdos para os parceiros para que eles estejam sempre em cima do acontecimento. Para terem formação e-learning, presencial, via web… Temos uma fortíssima preocupação com a capacidade dos parceiros, porque, para a satisfação do cliente, faz toda a diferença quem lá está com eles. Esse tem sido o grande investimento. Criámos recentemente uma equipa de consultores para, in loco, ajudar os parceiros quando eles precisam. Temos feito este duplo investimento: em software nestas frentes todas e na capacidade dos nossos parceiros. É o que é crítico!

“As crises acabam. Quando esta acabar, as empresas vão estar em duas posições: ou investiram e estão na crista da onda para aproveitar o crescimento, ou não investiram e vão ter de recuperar”

Fibra | Quais são os pilares da vossa estratégia de internacionalização? RP | Há 11 anos que iniciámos a internacionalização, com um escritório em Moçambique, que já está totalmente consolidado, e alguns anos depois abrimos outro em Angola. Neste momento, estamos a entrar em Espanha e optámos por entrar, não pelo país inteiro, mas por regiões. Começámos pela Galiza que é a região mais próxima de Portugal, até em termos de língua

e tudo. No ano passado, fizemos a nossa entrada na Andaluzia. Este ano estamos a consolidar estas áreas e vamos para outras regiões que ainda estamos a estudar. Fibra | Tem sido difícil? RP | Nada é fácil neste mercado, mas tem sido um prazer porque, de facto, os portugueses deitam muito abaixo o país e nós não! Sempre fomos muito orgulhosos do país e, nestas nossas saídas internacionais, chegámos à conclusão de que temos muita tecnologia muito à frente do que se faz lá fora. Só às vezes, quando temos estes choques, é que vemos isto. Vemos que a modernização do Estado em Portugal está muito à frente do espanhol… Em determinadas áreas, as próprias empresas, e a sua forma de gestão em Portugal, estão à frente de Espanha. Tem sido com prazer que, tecnologicamente, sentimos que estamos completamente à vontade. Claro que a Espanha está a passar uma crise tão grave como a nossa e, em épocas de crise, o investimento é mais conservador. É mais difícil, por causa disso, do que pelo produto em si. Fibra | Que investimentos estão a fazer? RP | No ano passado tivemos um grande crescimento de estrutura.

PERFIL

Adepto da blogosfera… mas não escreve! Com 44 anos e natural da freguesia lisboeta de S. Domingos de Benfica, Ricardo Parreira fez o seu percurso académico na Universidade Católica: primeiro a licenciatura em Gestão, depois um MBA em Marketing. Envolvido na PHC desde o início, ainda tem tempo para três hobbies. O que lhe consome mais tempo são os filhos – quatro. Ler e jogar golfe são os outros. Nas leituras, elege três grandes temas: tecnologia, marketing e desenvolvimento pessoal e, por isso, confessa que lê “alguns 80 ou 90 blogues”. Mas não escreve: “Já senti essa tentação, mas não. Escrevo muito,

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mas são conteúdos PHC”. Não resiste a gadgets e tem “quase tudo o que há!”. Sem ser o telemóvel Android que tem lá dentro o software PHC, o que mais utiliza é o iPad porque descobriu que “é uma ferramenta fantástica para ler e seguir os blogues”. Tem também um iPhone no qual os filhos jogam até porque “já sentem brutalmente o bicho da tecnologia”. Um dos filhos, com cinco anos, joga no iPad e nem sequer sabe ler: “Ele consegue lá chegar, anda para trás e para a frente. Eu nem faço muita força para eles ficarem viciados na tecnologia, mas é natural. Aquilo nasce com eles!”

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Contratámos muita gente, apesar da crise, aumentámos em 20 o número de colaboradores. O nosso maior investimento está em duas frentes. Está acima de tudo na internacionalização, a par do investimento em software. Temos contratado imensas pessoas para o controlo de qualidade e para o desenvolvimento para conseguirmos pôr em prática todas as ideias que temos.

“A nossa missão passa muito por aumentar a rentabilidade do cliente. Se conseguirmos que o software faça mais coisas que eram as pessoas a fazer, já estamos a aumentar a rentabilidade”

Fibra | O futuro da PHC passa por… RP |…Continuar na linha da inovação. Todos os anos ter software novo que resolva problemas novos, ter software que, de uma forma melhor, resolva problemas que já existem. A nossa missão passa muito por aumentar a rentabilidade do cliente. Se conseguirmos que o software faça mais coisas que O novo agregador das comunicações

Fibra | Quantas empresas usam o vosso software? RP | O número do ano passado é cerca de 25 mil empresas. São cento e poucos mil utilizadores diários. Fibra | Quantos colaboradores têm? RP | Actualmente, a PHC tem 131 colaboradores, a crescer. Com o investimento na área internacional e, com estes produtos novos com outras tecnologias, precisamos de mais pessoas e queremos contratá-las cá, e não fora de Portugal.

Fibra | Faz sentido essa expansão na actual conjuntura económica? RP | É a altura em que faz mais sentido, porque as crises acabam e, quando esta acabar, as empresas vão estar em duas posições: ou investiram e estão na crista da onda para aproveitar o crescimento, ou não investiram e vão ter de recuperar. Nós investimos e estamos convencidos de que, quando a crise acabar, estaremos na melhor posição para aproveitar o crescimento. Fibra | Qual é o possível impacto que esta crise tem no sector do software? RP | O sector do software depende muito da propensão ao investimento. Ou seja, se as empresas estão confiantes no futuro investem para crescer e crescem. Quando não estão confiantes no futuro, não investem. Excepto as que têm uma visão como a nossa. Felizmente há empresas com visão em quantidade suficiente para fazer com que o mercado do software se mantenha à tona de água. Achamos que vai ser difícil porque, mesmo assim, há muito investimento em stand by, mas também acreditamos que há muitas empresas que têm visão e nós estamos cá para as servir.

eram as pessoas a fazer, já estamos a aumentar a rentabilidade. Se conseguirmos que o software dê melhor informação para que elas consigam decidir mais depressa, já estamos a melhorar a rentabilidade.

Fibra | E conseguem? RP | É difícil, chegámos a ter anúncios durante seis meses sem conseguir recrutar pessoas. É muito difícil encontrar um programador, é muito difícil encontrar um técnico de controlo de qualidade. Há claramente um problema de desemprego em Portugal mas, em determinadas funções, é muito difícil encontrar pessoas.

“Chegamos a ter anúncios durante seis meses sem conseguir recrutar pessoas. É muito difícil encontrar um programador, é muito difícil encontrar um técnico de controlo de qualidade. Há claramente um problema de desemprego em Portugal mas, em determinadas funções, é muito difícil encontrar pessoas”

“Felizmente há empresas com visão em quantidade suficiente para fazer com que o mercado do software se mantenha à tona de água”

Fibra | O que está a falhar? RP | Está a falhar, de certeza, a orientação que dão aos miúdos para escolherem o curso, porque, se eu puser um anúncio para administrativo ou comercial, recebo centenas de respostas com pessoas de cursos que não arranjaram emprego. Mas se puser um anúncio para controlo de qualidade, como temos agora dois, há dois meses, vamos recebendo currículos, mas muito poucos. Há um problema de comunicação e de preparação de juventude para escolher um curso que vá ter emprego. Tantos advogados, não são precisos! Tantos formados em Sociologia, não são precisos! Tantos formados em Psicologia, não são precisos! Mas, formados em Informática de Gestão, formados em Tecnologia são precisos. Fibra | A aposta devia ser onde? RP | No choque tecnológico que começou mas não acabou. Junho de 2011

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