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17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
O vírus que abalou o mundo moderno NadécadaseguinteàdescobertadoHIV,10milhõesdepessoasforamdiagnosticadascom Aids.Trintaanosdepois,omicro-organismoaindaintrigamédicos,cientistasepacientes.Série do Correio mostraospercalçoseasvitóriasvividosporquembatalhacontraoinvisívelinimigo » BRUNA SENSÊVE
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ouco mais de três décadas atrás, um surto de infecções oportunistas e de um tipo de câncer conhecido como sarcoma de Kaposi foi relatado em um pequeno número de homens homossexuais na Califórnia e em Nova York. As primeiras doenças são nomeadas oportunistas por se aproveitarem da fraqueza do sistema imunológico do paciente para se instalar. A segunda é um tumor raro em indivíduos com as defesas do organismo íntegras, mas comum entre pacientes diagnosticados com a síndrome da imunodeficiência adquirida — ainda uma incógnita para os médicos da época. Em poucos anos, a enfermidade desconhecida tornou-se temida ao redor do mundo e amplamente conhecida pela breve sigla: Aids. Segundo o infectologista e imunologista Esper Kallás, do Hospital Sírio-Libanês, assim que os primeiros casos da doença foram identificados, as vítimas chamaram a atenção por algumas características em comum. “A primeira delas é que a grande maioria era homem homossexual com doenças infecciosas características de pessoas que tinham deficiências graves no sistema de defesa, mas que eram previamente saudáveis”, descreve. A busca por essas convergências entre os diagnosticados com a misteriosa doença foi intensa até a descoberta de que havia um defeito na resposta imune celular desses pacientes. “Viram que uma célula do sistema de defesa conhecida como linfócito T CD4 estava muito baixa. Com essas características comuns, passaram a definir uma síndrome.” O termo é usado para um conjunto de sinais e sintomas agrupados em torno de uma doença.“Chamaram de síndrome de imunodeficiência adquirida porque todas essas pessoas não tinham no passado qualquer histórico que evidenciasse essa deficiência no sistema de defesa”, explica Kallás. Pouco antes, em 1982, o problema foi temporariamente chamado de doençados5Hporqueeradiagnosticadaemhomossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers (nome em inglês dado aos profissionais do sexo).
HIV se espalha Em um ano, porém, uma epidemia heterossexual foi descrita na África Central, vitimando preferencialmente as mulheres. “Mal sabíamos na época que esse pequeno número de casos eclodiria em dezenas de milhões, resultando em uma das maiores pandemias dos tempos modernos”, mensura Peter Piot, ex-diretor executivo do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e atual diretor da London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido. Em 1984, o início de uma disputa entre pesquisadores franceses e norte-americanos revelou, pela primeira vez, o agente causador do mal (veja Para saber mais). O retrovírus mais tarde chamado de vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi identificado em testes de diagnóstico da Aids implementados para proteger o fornecimento de sangue e apontar as pessoas infectadas.
“Foram adotadas medidas adicionais de prevenção, incluindo programas de redução de risco, aconselhamento e testagem, distribuição de preservativos e programas de troca de agulhas. No entanto, o HIV continuou a se espalhar, contaminando 10 milhões de pessoas na primeira década após a identificação dele”, narra Piot. A década seguinte foi marcada pela intensificação da epidemia em diversas áreas do mundo, como o cone sul africano, que inclui África do Sul, Angola, Moçambique, entre outras nações. Todos viram uma epidemia explosiva da infecção pelo HIV. Países da Ásia e da União Soviética também relataram um aumento expressivo da propagação do vírus. Na década de 1990, áreas foram quase dizimadas com drásticas quedas nas taxas de expectativa de vida. “Se antes chegavam aos 60 anos de idade ou mais, de repente, esse índice foi reduzido para 30”, estima o médico Edgar Hamann, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, muitos países, como Burundi, Malawi e Zimbábue, perderam boa parte da população. Alguns tiveram mais de 30% dos habitantes infectados. “Era uma situação limite. O vírus atingiu as nações em ondas e o Brasil foi afetado logo na primeira delas com os Estados Unidos e países da Europa.”
Surge o coquetel A corrida por uma terapia eficaz, capaz de frear essa avalanche acelerada de infectados, movimentou centenas de milhões de dólares, investidos na pesquisa científica e no desenvolvimento de medicamentos. No entanto, somente em 1996, a ciência apresentou uma resposta efetiva ao devastador inimigo. Sob a abreviação de HAART (em inglês) e a alcunha, no Brasil, de coquetel, a terapia antirretroviral altamente ativa impactou a qualidade de vida e aumentou o tempo de sobrevivência dos pacientes. O sucesso está na associação de um novo medicamento à época, o inibidor de protease. Nos poucos anos que se seguiram, foi possível notar uma queda significativa nos óbitos por Aids no mundo. Se em 1996 foram mais de 15 mil mortes no Brasil, já no ano seguinte, o índice caiu para 12.078 e para 10.770 em 1998. “Isso mudou a história da epidemia. Em vez de ser uma enfermidade que matava todo mundo, passou a ser uma doença controlada com os remédios”, define Kallás. Segundo o infectologista, hoje, nos casos dos pacientes que fazem o tratamento adequado e seguem as orientações médicas, a Aids pode ser considerada um mal crônico controlável. “Mas, nos parâmetros de saúde pública, estamos longe de ter a doença sob controle porque tem muita gente ainda que não tem acesso ao remédio e que não o toma direito.” Para Kallás, apesar dos esforços, ainda é alto e crescente o número de óbitos por Aids no Brasil. De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 12.044 mortes pela doença em 2011. A taxa está entre as 10 mais altas desde o primeiro caso no país, em 1980.
Exército de defesa Os linfócitos T ou células T pertencem a um grupo de glóbulos brancos do sangue e são os principais atores da imunidade. Contêm o receptor de células T que lhes permite uma grande variedade de reconhecimento a antígenos. Há vários subgrupos, entre eles os CD4+, que coordena a defesa imunológica contra micro-organismos principalmente pela produção e pela liberação de substâncias chamadas citocinas. Na Aids, a destruição do CD4+ pelo vírus HIV dá início à deficiência imunológica.
Leia amanhã: o HIV no Brasil.
Para saber mais
Disputa acadêmica A autoria da descoberta do HIV é cercada de controvérsias entre dois grupos de cientistas. De um lado,o de Luc Montagnier,do Instituto Pasteur,na França;e,do outro, o de Robert Gallo, do National Cancer Institute, nos EUA. Ao surgirem os primeiros casos de Aids em São Francisco e NovaYork, Gallo suspeitou que um retrovírus fosse o responsável pela infecção, mesma opinião de Montagnier. Os dois chegaram a trocar amostras dos experimentos.Gallo anunciou, em abril de 1984, que havia descoberto o vírus causador da Aids, que seria diferente do identificado pelos pesquisadores franceses. Depois, soube-se que Gallo trabalhava com uma amostra contaminada no laboratório de Montagnier,e, só anos depois, as duas instituições concordaram em dividir o mérito da descoberta. Ainda assim, o Prêmio Nobel de Medicina de 2008 foi dado aos cientistas franceses Luc Montagnier e Françoise Barre-Sinoussi pela descoberta do HIV.
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17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
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Ao mesmo tempo em que registra um aumento no número de infectados, o Brasil adota tratamentos considerados de ponta por especialistas e impulsiona o combate à Aids em países da América Latina
Batalha mutante contra o HIV Quase 6 mil alunos de 12 a 17 anos de 64 escolas de todo o país participaram da pesquisa Este jovem brasileiro entre 16 de abril e 30 de agosto. Ao comparar os dados de anos anteriores, os pesquisadores perceberam um aumentou do número de jovens que não usam preservativo. Em 2006, 78% dos que responderam ao questionário on-line tinham usado camisinha na primeira relação sexual e 61% diziam usála sempre. Em 2013, as proporções caíram para 71% e 54%, respectivamente.
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ais de 35 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV no mundo, anunciou, neste ano, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O número de novos casos caiu 33% nos últimos anos, de 3,4 milhões em 2001 para 2,3 milhões em 2012. Na mesma direção, o número de mortes reduziu de 2,3 milhões em 2005 para 1,6 milhão no ano passado. Na contramão dessas taxas, o Brasil amarga um aumento no número de infectados. Em 2011, foram registrados 38.776 casos, o maior desde a descoberta da doença, segundo o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. A perigosa estabilidade é observada nos três anos anteriores: 37.359, 38.188 e 38.529, respectivamente. O número de óbitos também encontrou ameaçador equilíbrio, com cerca de 12 mil mortes pela doença desde 2009. A taxa só é menor que a registrada em meados da década de 1990, antes do coquetel de antirretrovirais ser oferecido no atendimento público de saúde. Os dados não chegam a anunciar uma segunda epidemia da doença, apesar de se aproximarem dos números que causaram tanta comoção na época em que a Aids eclodiu no mundo ocidental. “Em alguns meios artísticos, por exemplo, as pessoas perdiam alguém conhecido praticamente de três em três meses”, conta Edgar Hamann, professor e médico do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Mas o especialista desconfia que haja, no Brasil, um processo de banalização da doença, fenômeno também observado em países europeus. “As pessoas pensam: ‘Agora estão sobrevivendo, estão bem’. Então, acham que a Aids é curável, o que não é verdade.” A mudança de mentalidade é vista como um retrocesso pelo médico, pois pode ter motivado uma queda no uso do preservativos, já constatada em pesquisas com jovens. “A gente não pode ver isso como um fenômeno individual. A pessoa está se descuidando por que não sabe, por que não procura se interar ou por que não está entendendo bem? Não é nenhuma dessas respostas. Normalmente, são atitudes que por baixo têm uma partilha, uma concessão de um grupo”, analisa o professor.
Epidemia concentrada Diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita considera a “nova interpretação” sobre a Aids controversa. “Precisamos ter um mecanismo de esclarecimento de que o medicamento é bom, tem eficiência e pode tornar a doença uma condição crônica controlável, mas o melhor é não tê-la.” Segundo Mesquita, o Brasil
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Já na primeira vez
nunca esteve sob uma epidemia da doença que fosse considerada generalizada. Entre as três gradações usadas para a classificação internacional, o país sempre esteve em um estágio intermediário, chamado de epidemia concentrada. “Ela é associada principalmente à população de alto risco, mas não só”, explica. A epidemia generalizada é vista em regiões como a África Subsaariana, onde mais de 1% da população tem o HIV (leia Para saber mais). “O Brasil nunca teve esse perfil da epidemia. Embora tivesse avançando bastante, (a doença) nunca tomou essa dimensão”, garante. O mundo também observa um ressurgimento da infecção causado por comportamentos de risco, aumentado entre homens que fazem sexo com homens em vários cidades europeias. Em Amsterdã, por exemplo, foi relatado um aumento de 68% no comportamento sexual de risco entre esses homens — apesar das altas taxas de testes de HIV e acesso à terapia antirretroviral. Esse fenômeno mostra sinais em terras brasileiras desde 2008, ano em que o número de homens infectados expostos por relação com outros homens era de 3.120. Nos três anos seguintes, subiu para 3.386, 3.678 e 3.709, respectivamente. Ainda assim, as maiores taxas de infecção desde os anos 2000 permanece entre a população heterossexual, especialmente mulheres. Essa é a forma de exposição que mais levou brasileiras a adquirirem o HIV — uma média de 90% das infecções no sexo feminino desde que o vírus surgiu no país.
Esforço regional Apesar dos números intrigantes, o Brasil tem posição de destaque na América Latina e no Caribe quanto à garantia de acesso ao tratamento contra a Aids. O país está entre as sete nações que alcançaram uma cobertura universal (maior de 80%). As outras são Argentina, Barbados, Chile, Cuba, Guiana e México, de acordo a Organização Mundial da Saúde e Organização Panamericana de Saúde (OMS/OPAS). Segundo Monica Alonso, conselheira da OMS/OPAS para HIV e Doenças Sexualmente Transmissíveis, o Brasil é um dos líderes da região quanto ao acesso e à medicação antirretroviral, e caminha para políticas que permitirão a intervenção mais precoce contra o vírus. “Melhorias no Brasil têm um impacto nas figuras regionais, sim, no entanto, há uma direção comum de todos os países da região.” Para Alonso, a América Latina e o Caribe contam com um forte apoio político para o HIV, bem como as redes da sociedade civil. “Um exemplo disso é o Grupo de Cooperação Técnico Horizontal, em que os chefes dos programas nacionais de HIV trocam informações e discutem ações para uma resposta mais articulada na região.” Os números referentes a 2012 representam uma melhoria de 10% em comparação aos coletados dois anos antes pela instituição. Em dezembro de 2012, 725 mil pessoas recebiam antirretrovirais na região, ou 75% do total estimado com necessidade de tratamento.
Precisamos ter um mecanismo de esclarecimento de que o medicamento é bom, tem eficiência e pode tornar a doença uma condição crônica controlável, mas o melhor é não tê-la” Fábio Mesquita, Diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde
Para saber mais
Diversidade infecciosa A África Subsaariana continua a ser o continente mais afetado pelo HIV, com uma prevalência geral entre os adultos de até 31% na Suazilândia, 25% em Botsuana e 17% na África do Sul, onde a infecção se tornou hiperendêmica. Mas, mesmo dentro de um país, a prevalência da infecção pelo vírus varia conforme o local e grupo de risco. Na Suazilândia, por exemplo, 54% das mulheres com 30 a 34 anos têm a doença. Em 2010, a prevalência de infecção prénatal por HIV na África do Sul variou de 18,4% na província de Northern Cape para 39,5 % em KwaZulu Natal. Homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, caminhoneiros, pescadores e militares são mais afetados proporcionalmente em todo o mundo.
Leia amanhã:
quem são os brasileiros soropositivos.
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17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 28 de dezembro de 2013
Os antirretrovirais aumentaram a longevidade de quem tem Aids, mas, além de degenerativos, ainda podem surpreender médicos e pacientes. Ninguém sabe quais efeitos provocarão em soropositivos quando consumidos por mais de 30 anos
A doença que beira o caos » BRUNA SENSÊVE
Consequência estética
meu tesão agora é risco de vida, meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll”, escreveu Cazuza em Ideologia, música lançada em 1988, dois anos antes de o cantor não resistir às complicações decorrentes da doença desenvolvida a partir da temida infecção pelo HIV. A mutante Rita Lee escolheu chamar o micro-organismo de vírus do amor, no título da canção de 1985. “Dentro da gente, beira o caos”, descreveu a roqueira. A poesia em torno da doença tenta definir a angústia e as limitações que a infecção traz para a vida do soropositivo não só no fim da década de 1980 — quando o tratamento era quase inexistente —, mas ainda hoje. Os avanços tecnológicos e científicos foram capazes de aumentar a qualidade de vida da pessoa infectada e tornar a doença fatal próxima de uma condição crônica controlável. Mesmo assim, os dramas sociais e as dúvidas permanecem. A professora aposentada Mara Moreira, 37 anos, tem o vírus há 19. A infecção aconteceu com o primeiro parceiro sexual dela, o marido. Aos 18, ela se casou“na igreja, virgem e evangélica”. “Achei que a Aids estava bem longe da minha realidade”, completa. Todos os exames pré-nupciais foram feitos, mas, como ela mesma diz, “por puro preconceito e ignorância médica”, menos o anti-HIV. Três meses após o casamento, o esposo adoeceu com uma pneumonia insistente. Depois da hospitalização, veio o diagnóstico da infecção viral. “Eu não o culpo porque ele não sabia que estava infectado. Várias pessoas não usam camisinha e acham que a outra pessoa é a culpada. Cada um é responsável por si. Ele tinha que ter solicitado o preservativo, e eu também”, diz. Hoje, o Ministério da Saúde estima que existam pelo menos 150 mil pessoas no Brasil que não sabem estar infectadas pelo vírus. Em 7 de abril de 1996, Mara ficou viúva. Casou-se novamente com parceiro sorodiscordante. O preconceito sofrido por ambos durante a relação, que dura sete anos entre idas e vindas, é rasgado: ele foi demitido duas vezes após a condição da mulher ter se tornado pública.
Trata-se de uma anormal distribuição de gordura corporal. Pode ocorrer aumento de gordura na região do abdômen, entre os ombros, em volta do pescoço ou no tórax. Também é registrada perda de gordura da pele, mais aparente nos braços, nas pernas, nas nádegas e no rosto, resultando em enfraquecimento da face, no atrofiamento das nádegas e em veias aparentes nas pernas e nos braços. Somente esse tipo específico de perda de gordura está diretamente relacionado ao HIV.
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Danos imprevisíveis Entre os efeitos colaterais adquiridos com as duas décadas de tratamento, Mara relata uma alta taxa de triglicerídeos, a lipodistrofia e a impossibilidade de ter filhos. “A minha taxa de células imunes CD4 está baixa e minha carga viral, muito alta. Para começar uma gestação, precisa ser o inverso, não pode ter nenhuma DST e tem que usar a medicação que eu já não posso usar.” Ao longo dos anos, ela trocou de tratamento algumas vezes. Quando utilizada a terapia, o organismo pode desenvolver resistência à droga antirretroviral, que não pode ser novamente ministrada. Mara acredita que as pessoas precisam saber que se trata de uma doença crônica e degenerativa. “A Aids degenera seu sistema imunológico e até o tecido neuroconectivo. Leva a sua memória e traz o envelhecimento precoce”, relata. É possível que os efeitos colaterais
vividos pela professora aposentada ainda possam surpreender a comunidade médica. Somente agora, extensas pesquisas puderam acompanhar pacientes que utilizam a medicação por mais de duas décadas. Não se sabe, por exemplo, qual o resultado do uso contínuo por 30 anos ou mais, já que ela começou a ser prescrita em 1987. “O desenho que fazem da epidemia com remédio gratuito, acesso a exames e médicos não é real. A Aids não é cor-de-rosa. As pessoas comparam com o diabetes, mas não é nada disso”, diz a professora. O conceito de grupo de risco já não existe. Não se pode dizer que a infecção se concentra em um perfil social específico. Pelo contrário, hoje a Aids acomete indivíduos com características majoritárias na população, como Mara. Um levantamento divulgado neste ano pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, da Secretaria de Saúde de São Paulo, revelou que 68% dos pacientes com HIV e Aids que se tratam no hospital são heterossexuais, sendo 25% mulheres. A maioria tem entre 30 e 40 anos.
Mais pobres Para o ativista e coordenador do Grupo pela VIDDA do Rio de Janeiro (GPV-RJ), Márcio Villard, o perfil das pessoas atualmente infectadas se difere em alguns aspectos dos soropositivos dos anos 1990. O grupo foi fundado em 24 de maio de 1989 e é o primeiro do Brasil formado por pessoas com HIV e Aids, amigos e familiares. Naquela época, a doença atingiu pessoas de poder aquisitivo maior. “No momento, começa a acometer mais as pessoas de classes menos favorecidas e de nível de escolaridade baixo. Elas começam a sentir o impacto de uma epidemia que não tem mais fronteiras.” Villard também identifica um crescente grupo de jovens soropositivos. “Se estamos falando de informação, como os mais jovens são mais infectados? Eles têm mais acesso à internet, estão estudando.” A raiz do problema, segundo ele, pode estar nos mitos e na banalização em torno da doença. “Para os jovens, a Aids ainda está ligada a segmentos. É a falta de uma cultura de prevenção.” Segundo o ativista, pesquisas do Ministério da Saúde mostram que, entre os mais jovens, o uso da camisinha no início da relação atinge até 60%. A partir de um certo envolvimento emocional, esse índice cai drasticamente. “Sou da filosofia de que, por mais que o casal converse, aborde e tenha total segurança um no outro, hoje é preciso bancar um receio, uma dúvida.”
Falsa segurança Seis a cada 10 brasileiras podem ter o contato com o HIV exclusivamente por meio de um parceiro estável, descreve pesquisa da Fundação Perseu Abramo e do Sesc, publicada, neste ano, no livro Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. Pouco mais de 90% delas iniciaram a vida sexual a partir de 15 anos, e, em geral, se caracterizam como parceiras afetivas estáveis. Porém, na última relação sexual, o uso do preservativo foi de 28%. O perfil das mulheres que não usam a camisinha é de 45 anos ou mais (82%), com escolaridade até o ensino fundamental (81%), renda familiar de até um salário (80%), casadas (86%) e com filhos (79%). Um percentual gritante teve a última relação com parceiro estável (78%) e usou outro método contraceptivo (64%). O estudo entrevistou 2.365 mulheres e 1.181 homens maiores de 15 anos, de áreas urbanas e rurais de 25 unidades da Federação. Segundo Dulce Ferraz, analista de gestão em saúde da Fiocruz Brasília e pesquisadora do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids, desde os primeiros estudos, é observada a associação entre a pessoa infectada e a relação estável. Ela reforça que nunca houve evidência de que as infectadas tinham vários parceiros. “Tanto os homens quanto as mulheres sempre mostraram que o menor uso da camisinha acontece nas relações estáveis. Há um percentual maior de uso se a relação for casual.” A maioria dos casos de mulheres infectadas com o HIV no Brasil (87,9%, em 2011), de acordo com o Ministério da Saúde, acontece por meio de relações heterossexuais, sendo a idade de maior vulnerabilidade dos 13 aos 19 anos. Somente nessa faixa etária, o número de infecção no sexo feminino é maior que entre o sexo masculino. Para Ferraz, a vulnerabilidade está entremeada com fatores de ordem social e cultural. A pesquisa mostra que quatro a cada 10 mulheres viveram uma situação de violênciae,em93%dasvezes,oagressor era o parceiro afetivo. “As mulheres que sofreram humilhação ou violência psicológica têm dificuldade em negociar o uso da camisinha.” Outra questão que surpreende é que, apesar de a maioria das mulheres associar o sexo ao prazer, 11% veem como um dever. “Elas fazem sexo obrigadas, inclusive nas relações estáveis. É uma limitação da autonomia.” (BS)
Leia amanhã: a evolução dos tratamentos no Brasil e no mundo.
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19 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 29 de dezembro de 2013
O tratamento contra o HIV tem ação limitada no corpo. Uma das opções para combatê-lo com mais eficiência é iniciar o uso de remédios o quanto antes. A medida, pouco aplicada no mundo, entrou no SUS neste ano
Coquetéis paliativos » BRUNA SENSÊVE
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á 26 medicamentos antirretrovirais licenciados no mundo para o tratamento da infecção pelo HIV. O surgimento da terapia combinada com esses remédios, no fim da década de 1990, levou a reduções imediatas na mortalidade, que foram seguidas de uma série de medidas que ampliaram o acesso ao tratamento, como a disponibilidade de genéricos e o aumento da ajuda financeira internacional. Hoje, o Brasil ganha posição de destaque ao ser o primeiro país em desenvolvimento a fornecer tratamento público e gratuito a qualquer cidadão diagnosticado com infecção pelo vírus. O início imediato do uso de antirretrovirais é a principal forma de combate ao mal em pessoas que já têm o HIV instalado no organismo. Segundo o diretor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, na maioria dos países, a fim de que o tratamento com a terapiaantirretroviralaltamenteativa(Haart, em inglês) seja iniciado, é preciso obedecer a um critério sobre a resposta imunológica do paciente. Para isso, é feito um teste de contagem de linfócitos T CD4 — células do sistema de defesa alvo do HIV. “Elas são uma espécie de general do exército de defesa. Com o ataque do vírus, é como se todos os glóbulos brancos estivessem preparados para a batalha, mas o general foi morto”, explica Mesquita. Por isso, o mecanismo de defesa do organismo não funciona. O antirretroviral recupera as células T CD4, impedindo que o paciente desenvolva infecções oportunistas, seja hospitalizado, entre outros agravos. “Até então, só eram inclusos no tratamento público gratuito pacientes com a contagem de CD4 em 500 células/mm³ de sangue. A partir de agora, podemos incluir no tratamento todo mundo que é HIV positivo, independentemente do nível de CD4 ou de ter desenvolvido a Aids”, resume Mesquita. Isso porque foi provado que o medicamento também mata o vírus circulante, diminuindo a carga viral do paciente e, principalmente, de fluidos corporais como esperma, secreção vaginal e sangue que transmitem o HIV. Com isso, além de o tratamento ser altamente efetivo, pois derruba a carga a
níveis indetectáveis se realizado já no começo da infecção, reduz substancialmente o poder de transmissão do soropositivo.
Perigosos reservatórios A carga viral se torna indetectável, mas não quer dizer que o tratamento possa ser interrompido ou que o paciente esteja curado da infecção. Os medicamentos atuam no sangue, que pode ser chamado de seção periférica do organismo. “O HIV também está no compartimento que didaticamente podemos chamar de central, localizado basicamente no tecido linfoide”, explica Artur Timmerman, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Os dois compartimentos estão associados e um dos maiores reservatórios de HIV do organismo está no tecido linfoide do trato gastrointestinal, onde a combinação de antirretrovirais não atua. “O coquetel age basicamente onde o vírus está se replicando ativamente. Nessa parte central, eles estão em estado latente. Não quer dizer que estão absolutamente sem se replicar, mas que fazem isso a uma velocidade muito menor do que o vírus periférico.” Se o tratamento for interrompido numa situação em que, por exemplo, a carga viral está indetectável, as células em replicação latente são jogadas na corrente sanguínea, o processo é acelerado e a infecção volta com mais força. “Vira uma bola de neve. Ao fazer o exame uma semana depois, já existem muitas partículas virais no sangue, mostrando que não houve interferência do coquetel sobre esse compartimento central.” Segundo Timmerman, alguns trabalhos mostram que, se os antirretrovirais forem usados durante 50 anos, é possível que os reservatórios se esgotem e os pacientes fiquem curados. “Mas tomar um remédio desses por 50 anos com risco de efeitos colaterais sérios é complicado demais. Então, começaram a estudar a possibilidade de extirpar esse reservatório”, diz. A purge (purgar, em tradução livre) é uma estratégia ainda em teste, mas bem difundida. Propõe o uso de drogas que estimulem a capacidade replicativa do vírus latente, tornando possível o coquetel atuar sobre ele.
Leia amanhã / Cientistas buscam novas abordagens contra o vírus.
Bebê curado Cientistas do Hospital Universitário Johns Hopkins (EUA) conseguiram, no primeiro semestre deste ano, curar funcionalmente um bebê infectado pelo HIV. O feito único, porém, dependeu de circunstâncias extremamente particulares, como o diagnóstico da infecção em menos de 24 horas após o nascimento da criança e o início do tratamento nas seis horas seguintes. Especialistas na área supõem que a intervenção imediata com antirretrovirais não permitiu que o vírus formasse reservatórios latentes.
Palavra de especialista
Atendimento caótico “Quanto mais pessoas conseguirem ter o diagnóstico, o acesso ao teste e ao tratamento, maior será o impacto na transmissibilidade do HIV, já que hoje há uma convergência entre o tratamento e a prevenção. Existe um avanço constante da terapia com medicamentos cada vez mais potentes e com menos efeitos adversos. Essa evolução dá mais qualidade de vida para quem segue corretamente o tratamento, mas é ainda um avanço internacional. No Brasil, temos problemas que nos impedem de nos beneficiarmos dessas novas possibilidades. O SUS está sobrecarregado, com a qualidade e a capacidade de atendimento diminuídas. A política de tratamento para todas as pessoas diagnosticadas nos coloca de frente com uma rede caótica, que precisa urgentemente de uma política de readequação. Mesmo com o diagnóstico, a primeira consulta só acontece muito tempo depois. Isso é um grave sintoma desse problema.” Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP
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15 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Para fechar o cerco à Aids, especialistas defendem a ampliação do uso do coquetel preventivo e se debruçam sobre diversas pesquisas. Brasileiros testarão vacina anti-HIV em primatas até julho
Só a camisinha não é suficiente » BRUNA SENSÊVE
O
americano Timothy Brown pode ser visto como um homem de muito azar e de muita sorte. Conhecido como o paciente de Berlim, ele protagonizou o primeiro relato de cura total do HIV. Soropositivo, tomava o coquetel contra o vírus quando foi diagnosticado com uma leucemia não relacionada à primeira doença. Brown foi submetido a dois transplantes experimentais de células-tronco, em que o doador foi escolhido pela compatibilidade genética e por apresentar uma mutação que faz com que as células não exprimam o conector CCR5, usado pelo HIV para se infiltrar e se propagar no organismo. Depois da cirurgia, realizada na capital alemã, o vírus não voltou a se replicar em Brown. A história tornou-se o primeiro sinal de uma possível cura. Desde então, centenas de estratégias são testadas em centros de pesquisa, onde é cada vez mais forte a máxima de que a erradicação desse mal passa primeiramente pela interrupção da transmissão. A redução na incidência de infecção pelo HIV tem sido uma prioridade para o controle da Aids em todo o mundo com uma estratégia inicial de prevenção baseada na mudança de comportamento, como a fidelidade a um único parceiro, o uso de preservativo e o acesso a equipamento de injeção esterilizado. Os especialistas, porém, defendem novas abordagens para frear o número de novos casos. “Chamamos a atenção para métodos que possam ir além da camisinha. Ela continua extremamente importante, mas deve haver alternativas”, frisa Dulce Ferraz, coordenadora do Núcleo de Apoio a Gestão de Projetos da Fiocruz Brasília (NUGP) e pesquisadora do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (Nepaids/USP). Segundo a também analista de gestão em saúde, mais de 80% das brasileiras infectadas por ano tiveram contato com o vírus por meio de relação heterossexual. “Precisamos encontrar maneiras de combinar esse método de barreira com outros. A
camisinha é segura e sem riscos de reações adversas, mas, eventualmente, pode ser mais viável na vida de algumas pessoas usar outra forma de prevenção que negociar o uso do preservativo com o parceiro”, analisa. Entre as opções citadas pela especialista, está a profilaxia pós-exposição (PEP). No caso, os medicamentos antirretrovirais são usados de forma emergencial para evitar a infecção quando há uma exposição acidental, voltada para pessoas que correm algum risco direto por ter um parceiro sorodiscordante ou com sorologia desconhecida, por exemplo. “Corro para o serviço de saúde e tenho a possibilidade de usar durante 28 dias a combinação de antirretrovirais que pode evitar a instalação de uma infecção pelo vírus circulante. É mais ou menos a lógica da pílula do dia seguinte”, explica. A estratégia está implantada no Brasil e é usada, há décadas, no mundo para evitar a transmissão da mãe para o bebê durante a gestação, o parto e a amamentação, além da exposição ao vírus por profissionais de saúde. Um desdobramento desse método é a profilaxia pré-exposição (PrPE). Pessoas em condição de exposição ou vulnerabilidade, como homens que fazem sexo com outros homens, travestis, transexuais, usuários de drogas e indivíduos em situação de rua, tomariam a combinação de antirretrovirais previamente. “É a lógica do outro contraceptivo, a pílula hormonal oral. Eu tomo porque eu
Teste nacional Como forma de reduzir a incidência da enfermidade, um estudo inédito no país será iniciado em 2014 para testar a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). O trabalho visará a população vulnerável e mais exposta ao risco de infecção pelo HIV. A pesquisa demorará cerca de três anos para ser concluída, mas, durante o primeiro um ano e meio, será feita em quatro centros: dois no Rio Grande do Sul, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
Esperança renovada Os resultados divulgados em 2009 do maior teste de vacina contra o HIV apresentaram nível de eficácia de 31% em uma combinação de duas vacinas. O experimento, chamado RV144, foi realizado com mais de 16 mil participantes na Tailândia. Ainda com dados animadores, o trabalho não atingiu a eficácia necessária para garantir seu uso fora de testes clínicos.
sei que vivo situações de exposição em que nem sempre consigo usar camisinha. Então, opto por ter essa proteção medicamentosa.” Ferraz cita estudos que também mostram a eficácia da circuncisão para a proteção dos homens, mas considera distante da realidade brasileira, já que recomendada para situações epidemiológicas muito diferentes. “E não existe evidência segura de que a circuncisão seja protetora nesse tipo de relação.”
Interferindo na replicação No início, achava-se que os princípios de proteção para o HIV seriam semelhantes aos de proteção contra outras doenças virais, como a hepatite B e a poliomielite. Bastaria estimular a formação de anticorpos que o problema estaria resolvido. Diversos estudos, desde o começo da infecção, mostraram que os cientistas subestimavam o inimigo. O HIV tem habilidades extraordinárias para escapar das defesas do corpo muito além do imaginado. Dois grupos de pesquisa brasileiros estão debruçados sobre a tarefa de impedir a replicação do vírus em humanos, desenvolvendo estratégias promissoras. Neste ano, foi anunciado o início dos testes em macacos rhesus de uma das frentes brasileiras para a imunização contra o HIV. A abordagem, desenvolvida pela equipe liderada por Edecio Cunha-Neto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e
pesquisador do Instituto de Investigação em Imunologia, difere-se de tudo que foi feito no exterior. O projeto foi patenteado como HIVBr18 e reúne outros dois pesquisadores, Jorge Kalil e Simone Fonseca. Tem como principal diferencial o enfoque nas regiões do vírus que são comuns às variações sofridas por ele. Cunha-Neto explica que o HIV tem uma alta taxa de mutação, fazendo com que cada soropositivo carregue micro-organismos diferentes. Segundo o cientista, esse fator é um dos principais entraves para o desenvolvimento de uma vacina universal contra o micro-organismo. Por isso, o interesse por pesquisá-lo. O imunizante desenvolvido por Cunha-Neto mira as células do paciente e busca desencadear respostas imunes com o estímulo dos linfócitos T CD4 — células do sistema imune que são alvo do HIV. Já foram feitos testes bem-sucedidos em camundongos e, no primeiro semestre de 2014, quatro primatas do Instituto Butantan passarão pelas primeiras verificações que levarão ao vetor que disparará a melhor resposta imune. Já Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), participa, com mais quatro brasileiros, do trabalho do pesquisador norte-americano David Watkins, da Universidade de Miami. A equipe internacional usa como foco as células T CD8, associadas ao processo de controle da carga viral que se dá nos chamados “controladores de elite”. Esse grupo é formado por indivíduos que naturalmente conseguem limitar a replicação do HIV no organismo. Com essa restrição, a infecção não evolui para a Aids, mesmo com a presença do vírus. As células T CD8, no processo imunológico, matam as T CD4 infectadas para prevenir que as últimas repliquem o HIV. Myrna suspeita que esse é o mecanismo encontrado nos controladores de elite, e o desafio está em entender como essas células citotóxicas podem impedir o desenvolvimento da doença.
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