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clima e materialidade
analise comparativa ‘
clima e materialidade
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Fig. 25: Vista lateral da escola Noor-e-Nobin onde pode ser vista a vegetação do rasteira típica e as montanhas Alborz (ao fundo). Autor: Ali Daghigh. Como dito anteriormente, a escola Noor e Mobin se localiza em Shahrud, na província iraniana de Semnan. Como características climáticas mais marcantes, a região apresenta baixa umidade do ar, grande amplitude térmica (ao longo do dia e ao longo do ano) e fortes ventos, vindos majoritariamente do Norte no verão e do Sul no inverno. Dadas as características climáticas desfavoráveis para a ocupação humana, desenvolveu-se no Irã ao longo de séculos maneiras de se construir casas e cidades que amenizassem o efeito de tais intempéries. Em locais com maior concentração de habitantes (cidades ou vilarejos), as edificações, majoritariamente térreas, são extremamente próximas umas das outras, sendo os recuos praticamente inexistentes. Essa aglo-
meração de construções se torna uma barreira contra o vento constante, protegendo as fachadas e as ruas, além de servir como um mecanismo de manutenção de temperatura interna das habitações (A’ZAMI; YASREBI; SALEHIPOOR, 2005). As áreas abertas mais amplas, como pátios e jardins, costumam ficar no interior das edificações. Além de estarem mais protegidas dos ventos, servem como ferramenta de ventilação e controle térmico da casa, que possui mais aberturas voltadas para esse espaço do que na fachada externa. Também são comuns terraços sobre as lajes das casas, espaços mais ocupados nas noites quentes de verão. Os módulos apresentam uma quantidade generosa de janelas (aproximadamente uma a cada face) e portas de vidro translúcido na mesma caixilharia, demonstrando a intenção de integração com o exterior, dentro das possibilidades restringidas pelas condições climáticas. Todas as superfícies internas são revestidas: as paredes, diferentemente das superfícies externas, são revestidas com massa; as janelas possuem cortinas
Fig. 26: Fotografia aérea da cidade de Yazd. Fonte: A’ZAMI, YASREBI, SALEHIPOOR (2005).
de tecido colorido; o piso é acarpetado, e em alguns momentos recebe também tapeçarias; e o teto apresentam placas de tratamento acústico nas salas - demonstrando uma possível qualidade acústica nos ambientes. A partir da análise das aberturas de janelas e portas e levando em conta a intensa radiação solar incidente na região seria possível inferir que a iluminação interna é satisfatória, apesar de algumas fotografias indicarem o uso de iluminação artificial durante o dia, mesmo com as janelas abertas. Outra característica marcante da arquitetura iraniana é a utilização de tijolo ou adobe, os quais são comumente utilizados há milênios. O uso se dá, primeiramente, pela larga disponibilidade da matéria prima, visto que boa parte do país é coberta por terra, areia e rochas. Além disso, as paredes de tijolo apresentam grande inércia térmica, poupando o interior da edificação do forte calor durante o dia, garantindo parte seu armazenamento no período da noite (A’ZAMI; YASREBI; SALEHIPOOR, 2005). Ademais, destaca-se também o uso de pedra e cimento, utilizado no piso da área externa, degraus, terraços e lajes planas. A vegetação é escassa, condizente com o entorno desértico. Observa-se a presença de alguns canteiros de árvores decíduas e o cultivo de arbustos florais em canteiros associados aos volumes da escola.
Fig. 27: Fotografia do interior de uma sala de aula da escola Noor-e-Mobin. Fonte: Dezeen.
Fig. 28: Fotografia do interior de um dos ateliês. Fonte: Dezeen.
Fig. 29: A fotografia mostra o canteiro de flores no primeiro plano e, ao fundo, a vegetação típica da paisagem. Fonte: Dezeen.
Fig. 30: Fotografia aérea da implantação da escola em relação ao entorno pouco habitado. Autor: Soroosh Riazi O projeto da escola primária Noor-e-Mobin G2 se apropriou de boa parte desses elementos da arquitetura vernacular. Os espaços entre os blocos se assemelham ora às estreitas ruas iranianas, ora aos típicos pátios internos. No caso da escola, estes são de tamanhos e níveis variados, sendo alguns rebaixados. É interessante observar que a distribuição dos blocos parece destoar da lógica construtiva que impera no Irã, conforme mencionado anteriormente, que suprime recuos e aproxima as construções. Apesar de aplicar na escola a lógica urbana – ou seja, a concepção da escola como vizinhança – o raciocínio de implantação tradicional não é aplicado de maneira tão literal. Dado que a escola está localizada em meio a um deserto, o desafio foi conciliar uma concepção moderna de escola, aberta, sem corredores, com diversificados espaços de aprendizagem e brincadeira ao ar livre e em contato com a natureza e o entorno, às condições climáticas adversas e especialmente ao vento, que amplificam a
sensação de amplitude térmica ao favorecer a perda de calor. Nesse sentido, observamos que a disposição dos blocos foi pensada de tal maneira que impede a passagem do vento através da escola por meio de um escalonamento dos volumes. Conforme esquematizado na figura 31, para passar pela escola, o vento faz curvas e passa por frestas, o que causa desaceleração e perda de energia, além de tornar improvável a formação de uma corrente interna. Atenuado o vento, atenua-se também o efeito de resfriamento na construção. O projeto do Club de Niños y Niñas também possui grande influência da arquitetura local. Situado na zona metropolitana da cidade do México, foi implantado em uma região onde a grande maioria dos edifícios foram erguidos através da autoconstrução. Blocos de alvenaria de concreto são largamente utilizados, ficando expostos muitas vezes devido à falta de recursos dos moradores para aplicar o revestimento.
Fig. 31: Esquema dos ventos. Em vermelho, ventos norte-sul; em azul, ventos leste-oeste. Edição dos autores sobre a fotografia de Soroosh Riazi
Fig. 32: Foto de uma rua nas proximidades do Club de Niños y Niñas. Fonte: Google Maps. Estabelecendo um diálogo com seus arredores, o Club de Niños y Niñas foi construído principalmente com concreto armado e alvenaria de concreto. Apesar de possivelmente ter havido algum tratamento, não foi aplicado revestimento em nenhuma superfície, deixando o concreto em exposição nos ambientes internos e externos. A escolha do material se deu por duas razões principais: a primeira é de estabelecer uma relação com o local onde o projeto seria implantado; a segunda foi a disponibilidade e o custo, visto que a continuidade da construção dependeu de doações de recursos e materiais para a ONG Club de Niños y Niñas. Todavia, a austeridade e solidez do concreto são transgredidos por detalhes lúdicos, como uma cabeça de dragão no corrimão, um banco de madeira colorido
ou uma abertura inusitada. Rasgos na cobertura executados de diferentes maneiras - no bloco de aulas são aberturas por onde as árvores nos canteiros centrais crescem, no ginásio a cobertura dentada tem faces translúcidas voltadas para nordeste - possibilitam a entrada de luz em ambientes que seriam naturalmente escuros, criando sombras, feixes solares e jogos de luz. De estética brutalista, os edifícios assumem formas e referências distintas: os blocos de aula, atividades e administração são pesados prismas de concreto, as passagens são arcadas que remontam à arquitetura regional mexicana, o ginásio um galpão de cobertura dentada remete a uma indústria, e entre eles, os pátios abertos interagem com a topografia pré-existente por meio de níveis variados na forma de escadas, arquibancadas e pátios rebaixados. A escadaria do pátio principal merece um destaque especial, dada sua forte semelhança com as escadarias dos templos maias e astecas, elementos marcantes da cultura mexicana.
Fig. 34: Foto da Pirâmide do Sol, em Teotihuacan. Fonte: Mario Roberto Durán Ortiz/CC/WikiCommons.
Fig. 35: Foto do corredor das salas. Autor: Jaime Navarro.
Fig. 36: Foto da escadariaarquibancada, ao lado das arcadas. Autor: Arturo Arrieta.
Fig. 37: Foto noturna das escadarias do pátio. Autor: Jaime Navarro.