Telúricas e
sábias Texto BRUNA CASTELO BRANCO brunacastelob10@gmail.com Foto MILA CORDEIRO mila.fotografia@gmail.com
Mesmo depois de séculos de discriminação e perseguição, tradições pagãs politeístas continuam vivas e são praticadas por bruxas na Bahia
O Sacerdotisa, Graça Azevedo fundou um templo há 42 anos
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SALVADOR DOMINGO 1/4/2018
pentagrama no alto do portão azul do Templo Casa Telucama, em Lauro de Freitas, chama a atenção dos curiosos e repele os dogmáticos, que o consideram um símbolo amaldiçoado. Nas culturas pagãs, a figura pode significar desde a união dos quatro elementos – água, terra, fogo e ar – ao espírito, ou apenas “o ser humano de braços abertos ocupando um lugar no espaço, como O Homem Vitruviano de Da Vinci”, explica Graça Azevedo, 70 anos, bruxa suma sacerdotisa da tradição Telucama. “A nossa linguagem é muito simbólica, e isso sempre incomodou muita gente”. Professora de história da arte, artista plástica e terapeuta holística, Graça passou por 19 anos de formação sacerdotal até fundar o templo, há 42 anos. Na família, é a primeira bruxa a se tornar sacerdotisa. “A minha avó era uma mulher sábia de origem celta portuguesa. Eu sabia que existia a bruxaria e fui buscar esse conhecimento em Portugal. É uma busca extremamente natural”. Ao entrar na Casa Telucama, que, além do lar de Graça, é uma aldeia, o visitante é surpreendido por imagens de deusas, altares, bosques e animais, entre cães e gatos de todas as cores, não apenas os pretos. O calendário, contado de forma diferente, marca o ano de 5747. Na entrada, quem chega é recebido por Deméter, a deusa-mãe grega, dona da casa. Próximas ao lago, uma em frente à outra, estão outras divindades: a filha, representada pela caçadora Ártemis, e a avó, Hécate, a deusa dos caminhos. Nas religiões pagãs, essa é a trindade sagrada, que traduz o ciclo da vida. “Nós entendemos a vida como a jovem, a mãe e a avó. Elas podem ser representadas por
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