SUPLEMENTO COOLTURA

Page 1

BAURU, 02 DE FEVEREIRO DE 2016

Cooltura

A ARTE DE REGISTRAR MOMENTOS O PERFIL DE TRÊS FOTÓGRAFOS QUE ENCONTRARAM NA FOTO UM MEIO DE VIVER

A DELICADEZA DO MOVIMENTO NO ESPORTE: POLE DANCE, ACROBACIAS E GINÁSTICA RÍTMICA EM BAURU PÁG. 3

OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA PRO SER HUMANO: A IMPORTÂNCIA NO EMOCIONAL E NA SAÚDE

TATUAGEM, O OFÍCIO DE MARCAR O CORPO: CONFIRA COMO É A EXPERIÊNCIA DE TATUAR A PELE

PÁG. 9

PÁG. 8


COOLTURA

carta ao leitor Carta ao Leitor

TUDO É CULTURA

N

ão existe uma só definição de cultura: ela está em qualquer movimento artístico ou atividade social. Identifica-se a cultura no modo de agir do indivíduo sozinho ou em grupo. Também pode ser ferramenta de resistência e de luta de grupos considerados “minorias”. Por meio dela se apresentam novos caminhos para crian-

ças e adolescentes. Nessa primeira edição do “Cooltura”, com o objetivo de oferecer um panorama amplo do cenário cultural, é apresentada ao leitor uma cobertura do que aconteceu em Bauru e região no último mês. Nas doze páginas, o conteúdo visa mostrar que a cultura permeia vários segmentos sociais, e por meio dela, pessoas expressam sua visão

de mundo. Do pole dance ao hip hop, das expressões artisticas da tatuagem, grafite e fotografia até projetos que usam a arte para mudanças sociais. Também é possível conferir a agenda cultural para o período de carnaval e um artigo de opinião sobre a quebra de barreiras culturais. A equipe do Cooltura deseja a todos uma boa leitura!

Índice 3

ONDE A ARTE E O FÍSICO SE ENCONTRAM

4

Expediente

Universidade Estadual Paulista Reitor: Julio Cezar Durigan Vice Reitora: Marilza Vieira Cunha Rudge

Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Diretor: Prof. Dr. Nilson Ghirardello Vice-Diretor:Prof. Dr. Marcelo Carbone Carneiro

MAIS DO QUE UM ESPORTE

4

AS PINTURAS QUE MODIFICAM O ESPPAÇO

5

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

5

MÚSICA ERUDITA ATRÁI NOVOS MÚSICOS

6e7

Chefe: Profª. Drª. Maria Eugênia Porém Vice- Chefe: Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

PERFIL: PAULA MACHADO, WILIAN OLIVATO E GUILHERME COLOSSIO

Curso de Jornalismo Coordenador do Curso: Denis Porto Renó Vice Coordenaodor: Maximiliano Martin Vicente

8

VOCÊ VAI LEMBRAR DE MIM PARA SEMPRE

9

O TRIUNFO DO HIP HOP EM BAURU

Professor: Dr. Francisco Rolfsen Belda

9

Jornalismo Impresso II

MÚSICA TAMBÉM DISCIPLINA E ENSINA

Planejamento Gráfico Editorial II

10

A NOITE BAURUENSE GANHOU TONS GRAVES

10

Equipe Geral de Produção: Repórteres e Diagramadores:

PROJETO MOSTRA NOVOS CAMINHOS COM A ARTE

11

HORÓSCOPO & TIRINHAS

12

ARTIGO OPINATIVO E AGENDA CULTURAL Créditos das fotos Índice: Tatiana Santiago, Lucas Cinchetto, Juliana Oba de Oliveira, João Pedro Fávero, Talita Bombarde, Guilherme Colossio, Maria Beatris dos Reis, Nilo Vieira, Marina Kaiser, I hate Flash!, Talita Bombarde, João Pedro Fávero.

Professor e Jornalista Responsável: Dr. Angelo Sottovia Aranha (MTB: 12.870)

Bruna Hirano Camila Gallate João Pedro Fávero Lucas Cinchetto Maria Beatriz dos Reis Marina Kaiser Nilo Vieira Talita Bombarde 4° Termo de Jornalismo Noturno


COOLTURA

Onde a arte e o físico se encontram

A Casa do Circo e o Studio Fitness oferecem uma alternativa a academias e movimentos repetitivos

MARINA KAISER

“O

que mais me encanta na minha profissão é o contato que tenho com as pessoas, de crianças a adultos, e de poder mostrar que a gente é capaz de fazer as coisas de um modo diferente, de criar, de ter um mundo mais bonito através da arte”. É assim que Tatiana Santiago, arte-educadora que trabalha com arte circense desde 2006 em Bauru, define a Casa do Circo. O local, criado em janeiro de 2014, é voltado para este tipo de prática, como a própria aula de circo (malabares, trapézio, argolas, monociclo, equilibrismo com perna de pau, lira, etc), o tecido acrobático e o acrobalance. Fora estas, existem também modalidades de exercício mais conhecidas, como yoga e pilates e uma não tão conhecida, o kung fu. Devido à alta procura por atividades fora do ambiente de academia, Santiago mudou a Casa do Circo para outro local, mais espaçoso, localizado na rua Azarias Leite quadra 17. Deste modo, foi possível criar uma parceria com Daniele Luz e Adriana Ferreira, donas do Studio Fitness, espaço voltado para a prática do pole dance. As duas mulheres já haviam praticado esta modalidade e, por não existir nenhum ambiente que a ensinasse em Bauru, se juntaram e começaram a dar aulas particulares numa chácara afastada da cidade. Isto era um empecilho, pois as alunas tinham que percorrer uma longa distância para ir e voltar, de modo que dividir o lugar com a Casa do Circo acabou se tornando benéfico para as três, uma vez que Santiago tem com quem dividir os custos e Ferreira e Luz trouxeram seu negócio para uma região mais acessível, aumentando seu número de alunas. Assim sendo, as donas do Studio Fitness começaram a montar turmas, ao invés de darem

aulas particulares, para os três tipos de pole dance: exótico, fitness e flex. Apesar da semelhança, o primeiro possui coreografia e o segundo alguns exercícios mais puxados; já o terceiro é exclusivamente para treinar a flexibilidade (com e sem a barra). “A gente busca, além de ser uma atividade física, passar uma parte artística para os alunos. Somos muito procurados por pessoas cansadas de academias e repetições de movimentos”

Luz explica que esta é uma atividade física que envolve muita coisa: “O dançar, movimentos livres, de ginástica, inverções, giros e posições estáticas. Deste modo, as alunas desenvolvem força nos membros superiores, inferiores, nas costas e principalmente no abdômen. Além disso, trabalha a flexibilidade, definição muscular, consciência corporal, o sistema cardiorrespiratório e a postura. Isso faz com que as alunas ganhem cada vez mais auto estima e confiança”. O mesmo ocorre nas atividades fornecidas pela Casa do Circo, já que ambos os locais oferecerem atividades diferenciadas que necessitam (é possível começar sem e desenvolver no decorrer das aulas) que o aluno tenha força e elasticidade para conseguir executar melhor certos movimentos. “A gente busca, além de ser uma atividade física, passar uma parte artística para os alunos. Somos muito procurados por pessoas cansadas de academias e repetições de movimentos”, conta Santiago. As semelhanças não ficam só nos benefícios cor-

Créditos:Tatiana Santiago, Adriana Ferreira e Marina Kaiser

porais. O tecido acrobático e o pole dance possuem alguns movimentos iguais ou muito parecidos e alunas que já praticavam o primeiro na Casa do Circo não tiveram muitas dificuldades com o segundo. A principal diferença, segundo Gabriela Carvalho, que treina ambas as modalidades, é que o tecido, por ser mole, não machuca tanto quanto a barra, mas afirma que as duas formas de exercício podem deixar roxos e queimaduras pelo corpo. Apesar de se parecerem em diversos aspectos, existe uma grande diferença entre os dois ambientes de exercício: o pole dance ainda tem muita associação com dançarinas de boate e, por causa disso, muitas pessoas tendem a não considerar esta modalidade como opção de atividade física ou então descriminam quem pratica. Tanto Ferreira quanto Luz disseram nunca ter sofrido nenhum tipo de preconceito, até porque, devido à falta de algo do tipo em Bauru, sempre houve procura, mas afirmam que muitas mulheres que se interessam pelas aulas chegam com alguns receios. Na maioria das vezes, eles acabam sumindo com o tempo, já que o contato com a atividade faz com que elas vão conhecendo melhor a modalidade e conversem com as profissionais sobre o assunto. O compartilhamento do espaço fez bem tanto para a Casa do Circo quanto para o Studio Fitness. Santiago abriu turmas de iniciantes, pois as antigas estavam ficando muito cheias, e também pensa em criar um horário para ensinar somente aéreos (tecido acrobático, lira, trapézio e argolas). O mesmo aconteceu com o ambiente do pole dance: existe tanta procura que novos horários foram abertos e para ajudar ainda mais a suprir a demanda por aulas, uma nova professora, que era anteriormente aluna, Junia Kimura, estudante de design da Unesp, foi contrada.

3


COOLTURA

Mais do que um esporte LUCAS O. CINCHETTO

A

ginástica rítmica, também conhecida como GRD, é um esporte com cunho artístico, onde os atletas se apresentam com diferentes instrumentos - maça, bola, arco, fita, corda - no ritmo de músicas. Considerado recente na história esportiva, a prática teve inicio no século 20 e se tornou olímpica no ano de 1984. É uma modalidade reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) como sendo exclusivamente feminina. Em Bauru, a GRD tem seu espaço através de academias dedicadas a ensinar adultos e crianças o exercício tão peculiar. A professora de ginástica rítmica e ex-atleta Deborah Lanzzetti, da associação luso de Bauru, explica como o pro-

cesso de misturar o esporte com a música influência nas habilidades das esportistas: “O principal da ginástica rítmica são as expressões corporais, a ginasta aprende isso durante os treinos. Vários ritmos são apresentados as atletas e isso ajuda no repertorio motor de cada uma. Todo tipo de ritmo é favorável, desde samba até a valsa”. Embora tenha todos os atributos para ser uma dança, a Ginástica Rítmica não deixa de ser um esporte, e como tal, os torneios se mostram essenciais na vida das pra- ticantes, como frisou Lanzzetti: “Elas levam o atleta a ter confiança, segurança e fazer sempre o melhor. Querer ser melhor faz com que se dediquem cada vez mais aos treinos e com isso superam seus medos e se superam”. A ex-esportista Karen da Silva, contou um pouco sobre sua experiência com o esporte:

“Treinava todos os dias em torno de 6 horas por dia quando se aproximava de campeonatos”. Começar a pratica da ginástica desde pequena é muito comum para formar atletas no futuro. A estudante Livia Correa da Silva, de treze anos de idade, conta que se exercita com a GRD há dois anos e tem altas expectativas: “Eu comecei porque tinha uma grande flexibilidade e agora eu continuo porque posso me dar bem como ginasta”. Da mesma maneira que a arte influência a ginástica rítmica, Lanzzetti acredita que a ginástica também inspira performances artísticas: “As acrobatas e contorcionistas de circo, utilizam da elasticidade da GRD para se apresentar e isso é muito legal, é um ganho de ambas as partes”.

Crédito: Lucas Cinchetto

Quando uma modalidade olímpica influência a arte. Ou vice-versa.

Ginastas Mirins da Associação Luso Brasileira praticando a GRD

As pinturas que modificam o espaço Como a arte do grafite ganhou terreno e passou a atuar na vida de diversas pessoas

C

ada vez mais a chamada street art ganha adeptos nos grandes centros urbanos. O Grafite, uma de suas principais vertentes, se torna responsável por servir como uma forma de protesto para a população marginalizada, além de dar cor e vida aos cinzas da cidade. Para o professor de artes e também grafiteiro Davi Calleja, as artes nos muros afetam o redor: “As pessoas andam sempre no automático e o grafite atrai a atenção delas e as fazem parar e refletir sobre aquilo que está pintado ou escrito”. Em Bauru a cena do grafite se mostra presente em todos os cantos. Atualmente a Casa do Hip-Hop, a pinacoteca e o Ins- tituto Graffitti Shop são res-ponsáveis por ministrar workshops que buscam apresentar o grafite aos jovens, e dessa maneira tentar acabar com o preconceito existente.

4

Crédito: Lucas Cinchetto

LUCAS O. CINCHETTO

Os grafiteiros preferem espaços mais vistosos para realizarem suas obras

Calleja acredita que a desconfiança ainda é muito frequente no meio, principalmente entre os grafiteiros da rua, que acabam marginalizados por criarem suas obras sem autorização. Os artistas porém, tentam viver da arte, como conta o grafiteiro Gabril Hune: “Não

são todos que conseguem, até porque levar seu oficio pra as ruas no começo é meio complicado. Em geral, eu pinto nas ruas cerca de 3 a 4 vezes por mês, e quando não estou nos muros, estou em casa pintando telas”. O aumento na demanda de pessoas interessadas em tra-

balhar com o grafite, ou apenas deixar sua marca, acarretou no aumento da procura por materias de produção. Foi visando este tipo de mercado, que surgiu o Instituto Cultural. O Instituto é um coletivo com diversos tipos de artes. No local opera a Graffitti

Shop, especializada em produtos para grafite. Segundo Celleja, também funcionario da loja, os interessados nos artigos se encontram por toda região, devido a falta de locais especializados como esse. Para Calleja, a facilidade que o espaço oferece, motiva as pessoas a praticarem a arte: “Sempre apreciei o grafite, porém nunca havia pensado em ser grafiteiro. Por morar com o dono da Instituto quando a loja era em sua casa, acabava tendo acesso a latas de spray, nisso surgiu o interesse que fez com que eu grafitasse”. Citando referências no meio do grafite, Calleja acredita que jovens artistas possam ascender, mudando o rumo de suas vidas. Sem citar nomes, conta sobre um artista de Bauru: “Ele começou pichando e hoje é renomado, está expondo fora da Brasil e ele era aqui da periferia .Então acredito que o grafite tem esse potencial de modificar”.


COOLTURA

A nostalgia contra a tecnologia Muita gente não abre mão de se concentrar e ouvir um bom disco de vinil

Pode até parecer contraditório, mas os dois formatos de mídias musicais que mais cresceram em vendas, no último ano, foram o streaming e o vinil. Foram vendidas quase 12 milhões de cópias de vinil, enquanto o acesso ao streaming cresceu x%. Foram x acessos, e o streaming é considerado o futuro da música. O problema, para quem compra discos de vinil em Bauru, parece girar em torno do preço e da pouca disponibilidade de discos nesse formato à venda. Para o colecionador de vinis João Victor Penteado, de 23 anos, a cidade conta com poucas lojas que vendem LPs, além dos sebos que comercializam vinis usados. “Em Bauru, encontrase mais lançamentos nacionais, os quais, salvo algumas

Crédito: João Pedro Fávero

JOÃO PEDRO FÁVERO

A coleção de João Victor com suas bandas preferidas

exceções, têm qualidade inferior à dos vinis importados. O bom é que você consegue achar algumas raridades”, conta João Victor, que considera uma opção viável para comprar vinis os contatos virtuais outros colecionadores pela internet. No entanto, para lançamentos, ele conta que ainda é melhor importar, apesar dos preços

exorbitantes: “Recentemente, comprei um disco que custava 16 dólares, mas, somando todas as outras taxas, quando o vinil chegou em Bauru tive que pagar 160 reais”. Valdir Rodrigues, de 51 anos, não compra mais vinis para colecionar, mas guarda os que colecionou quando garoto. Gostava tanto que montou

uma loja de discos, nos anos 80, que durou pouco tempo, mas ele guardou os discos que não vendeu: “Eu guardo por pura nostalgia, é legal mostrar para os meus filhos como se ouvia música antigamente”. Sobre a música digitalizada, João Victor diz que parece ser um crime, para os saudosistas, pois não se tem a mídia física

e o material real na mão, mas reconhece que a digitalizada se encaixa na rotina diária: “Pensando no dia a dia, como tudo hoje é uma correria, o serviço de streaming acaba satisfazendo o desejo de escutar música onde você quiser”. E ele explica a diferença: “ Escutar um disco de vinil chega a ser algo ritualístico. Você coloca o disco no prato e você tem que ficar ali presente, ao lado do aparelho, pois você tem que colocar a agulha no disco, virar o lado quando terminar... É muito diferente da música via streaming, que apenas complementa uma outra atividade sua”. Valdir, embora curta seus LPs, já se acostumou com o novo modo de se ouvir música “Não me surpreende esse novo modo. Depois do vinil vieram as fitas cassete, depois das fitas, os CDs, e agora as músicas estão na internet. Tudo vai mudando”.

Música erudita próxima à população As formações musicais estão próximas da sociedade local, tanto nos ensaios, concertos como na admissão de novos ingressantes

TALITA BOMBARDE

Crédito: Talita Bombarde

A

música erudita ainda carrega o esteriótipo de ser elitista. Porém a Banda Sinfônica e Orquestra de Bauru mostram que o acesso a esse estilo musical é cada vez maior e que crescem os números de pessoas que se interessam em aprender algum tipo de instrumento ou simplesmente de apreciar a melodia desse tipo de música. Os pedestres que caminham perto do Automóvel Clube, localizado em frente a praça Rui Barbosa, no centro da cidade, podem todos os dias presenciar os ensaios dos membros da banda como da orquestra. O maestro da Banda Sinfônica, André de Souza Pinto, afirma que a formação da mesma foi em 2001 para 2002 e da Orquestra dois anos depois e que a faixa etária dos membros varia entre 11 a 30 anos. A maioria dos membros entram

À esquerda: momentos distintos da rotina da Banda Sinfônica. À direita: o local de aula e ensaios

como bolsistas mas há alguns voluntários em ambas. De acordo com o maestro,para ingressar na Banda Sinfônica o interessado entra no cursinho preparatório para aprender a teoria musical. Depois o aluno passa por todas as salas instrumentais: cordas, sopro madeiras, sopros metais

e percussão. Após essas experiências, o estudante escolhe seu instrumento e consequentemente para qual formação musical irá participar. Por ultimo, ele passa por inúmeras avaliações e se obter a nota mínima, tornase apto a consegui uma vaga como bolsista. Quem ingressa

no cursinho preparatório já com algum conhecimento instrumental, realiza outro tipo de teste para pleitear uma vaga de uma forma mais direta. Os alunos são oriundos de diversos bairros da cidade e de classes sociais diferentes. André afirma que a música, em modo geral, é democrática:

“Não importa para a música da onde você vem mas importa como você encara a música. Aqui tenta dar para todos os jovens de qualquer tipo de classe social, as mesmas possibilidades. A mesma aula que um aluno recebe, que é de uma classe social mais alta, um aluno de classe inferior (sic) ou mais pobre recebe também. “ André imagina que o fato dos ensaios ocorrerem no centro de Bauru, pode dar uma maior visibilidade aos projetos. Porém também acredita que a abertura já foi maior, já que logo que a Banda e a Orquestra começaram a utilizar o espaço, há seis anos, as apresentações eram lá. Entretanto, devido a problemas de acessibilidade e de reforma inacabada, o local hoje é só utilizado para as aulas e ensaios. Os concertos da Banda são gratuitos e ocorrem em diversos locais da cidade, como Teatro Municipal,Centrinho, escolas, faculdades e praças.

5


COOLTURA

PERFIL

PAULA MACHADO, WILIAN OLIVATO E GUILHERME COLOSSIO BRUNA HIRANO E CAMILA GALLATE

É

PAULA

com um sorriso no rosto que a goiana Paula Machado abre a porta de sua casa, onde ministra também suas aulas de cursos de fotografia e assessorias para amantes da foto, e conta um pouco de sua trajetória. Em uma conversa amigável, ela recorda os primeiros momentos em contato com o aparelho que, hoje, é o seu principal instrumento de trabalho. “Eu lembro que, quando eu era mais nova, nos meus 12 ou 13 anos, meu pai tinha uma câmera digital, era uma novidade e eu comecei a brincar como se fosse um brinquedo”. Ela conta que a brincadeira era ir ao estúdio de um amigo no fim de semana e explorar. Era tudo uma grande brincadeira, desde o processo de obter as imagens, até o momento de impressão e revelação. Os álbuns de família também marcaram a infância e demonstraram a importância da fotografia através do tempo. Sobre a profissão, a fotógrafa acredita que não houve um momento decisivo: foi através de um curso e trabalho voluntário que ela foi descobrindo e se encantando pelo ofício. A primeira oportunidade para fotografar eventos também apareceu de forma inusitada. Ela conta que foi de porta em porta com seu cartão e sem experiência pedindo emprego em buffets. Conseguiu apenas como monitora e lá ficou por três meses. Depois surgiu a oportunidade para fotografar um evento infantil: “Fui clara com a mãe da criança, disse que não sabia e estava aprendendo. E ela foi muito compreensiva, me deu um feedback depois, tanto é que eu trabalhei com ela até pouco tempo atrás. Fotografei quatro anos seguidos” relembra. Hoje, ela é formada em jornalismo, mantém um site e junto com sua sócia Glaucia Magri, mantém o estúdio D’amelie, especializado em casamentos.

6

Como você enxerga a relação do jornalismo com a fotografia? Eu acho que a foto tem um peso muito grande dentro do processo de produção de formação. Tanto é que hoje, a maior parte do layout de um jornal é ocupado por ela, compete muito com o texto. E a fotografia tem não só um peso muito grande, mas de certa forma ela condensa uma linha editorial de uma forma que não é explícita, tem muita informação que não é legível. Eu acho que isso é muito interessante, mas de certa forma a gente também não tem um desenvolvimento dessa cultura visual e acaba sendo muito guiado por coisas que a gente não sabe muito bem o que é. Eu acho que a fotografia conduz, ela induz, ela manipula. Eu acho interessante, mas da forma como os jornais usam, ou até a própria televisão com os recortes que ela faz, eu acho perigoso. Porque é uma ferramenta que as pessoas acreditam que é um recorte fiel da realidade e não é bem assim. Você já trabalhou em jornal? Eu fiz um estágio no Estadão e foi o primeiro contato, que foi interessante, mas essa questão de linha editorial me incomoda. É um contato muito rápido com as pessoas, com a informação e eu acho que eu não me identifico muito com este tipo de trabalho. A gente quer ter tempo, conhecer as pessoas e não simplesmente chegar, saber que a minha linha editorial vai pra um lado e pronto. Então, não tive vivência, posso mudar de ideia, mas a experiência que eu tive lá no Estadão foi que toda a imagem que eles colocam no jornal é muito bem pensada. A responsabilidade do editor é muito grande, não só pra vender o jornal, mas pra passar uma ideia. Isso me incomodou porque uma coisa que eu prezo muito na minha vida, não só no profissional, é a liberdade. E tudo que me prende eu não sei lidar muito bem. Que dica você dá para alguém que está começando a trabalhar com a fotografia agora? Se preocupem, mas não tanto. Eu acho importante sim se preocupar com ganhar dinheiro, é ótimo viver bem, mas não busque a sua profissão com essa finalidade. Porque quando você vai buscando o que você sente, o que mexe com você, e estuda o que você gosta, nada é tempo

perdido. Procure informações nos lugares menos óbvios que você puder, aprendi muita coisa conversando com gente que você não imagina. Seja um pouco mais sem julgamento, um pouco mais aberto para ver, pra perguntar. Acho que o jornalista é um pouco curioso por natureza, então as coisas vão surgindo e essas relações que a gente faz na vida são muito importantes. Pros estudantes hoje de uma universidade pública, eu diria pra focar um pouco mais em solução, acho que uma palavra do momento é o empreendedorismo. É importante o estudante não deixar de ser curioso nunca. Eles questionam, mas depois que saem da universidade e trabalham em um ambiente que não gostam, para quem não gostam, esse questionamento some. Então tente buscar um ambiente que preencha suas lacunas, esteja sempre em movimento. Aproveite o melhor de cada pessoa e cada momento.

WILIAN

Atualmente como fotógrafo da “Casa Lume”, especializada em fotografias de casamento, Wilian Olivato, também jornalista pela Unesp Bauru, conta que seu primeiro contato com a foto foi quando trabalhou na redação de um pequeno jornal em sua cidade natal, chamado Folha do Vale. “Ali tive um contato maior com a fotografia, rotina do fotógrafo”, explica. A sua escolha entretanto, se deu em meados de 2004, quando trabalhava em uma ONG junto a uma equipe de comunicação onde havia necessidade de trabalhos fotográficos. “Comecei com essa demanda interna e pouco a pouco outras coisas foram surgindo” relembra. Sobre a relação do jornalismo com a foto, ele diz acreditar no poder da imagem, da parte da história que, segundo

ele, ganha mais sentido quando as pessoas podem enxergar pelo menos uma parte do que está sendo dito. “Essa relação é cheia de crises na verdade. Sobre ética e estética também. Existem inúmeras maneiras de fotografar a mesma coisa, mas com o recorte que sua própria cultura vai determinar. É preciso muito cuidado para não fazer disso um instrumento de injustiça” ressalta. Em que âmbito do jornalismo você acha que a fotografia se encaixa? Nós vivemos a era da imagens. O instagram está pra provar isso. Mais do que isso, hoje temos essa facilidade pra produzir conteúdo, o que muda tudo no jornalismo, essa é a verdade. A fotografia sempre vai estar presente seja em qual âmbito for. É preciso se adaptar aos novos meios e demandas. Como é sua rotina de trabalho? Eu tenho duas carreiras dentro da fotografia. Uma como fotógrafo documental e comercial (www.wilianolivato.com) e outra como fotógrafo de casamentos (www.casalume.com. br). Hoje, o mercado de casamento está muito aquecido para nós, o que faz com que minha rotina esteja muito ligada à esse universo. Mas basicamente a maior parte do trabalho é no escritório. Entre atender/ responder pedidos de orçamento, contato com fornecedores, alimentar redes sociais e claro, editar fotos, diagramar álbuns, cuidar de backups e tudo mais. Como é mercado para um fotógrafo em Bauru? Acho que existem muitas oportunidades em Bauru. Nós temos vários fotográfos já estabelecidos em vários segmentos, como publicidade, produtos ou mesmo casamentos. E sempre têm novos talentos despontando. No jornalismo o mercado se restringe um pouco aos jornais locais. Recentemente surgem novos portais de notícias web, o que mostra que sempre existe espaço para novas iniciativas.


COOLTURA

A fotografia é uma arte que já percorreu séculos. A primeira registrada oficialmente é datada em 1826 e o autor é o francês Joseph Nicéphore Niépce. Ao decorrer de sua história, a foto traz diversos significados: De Bouas escreve em “Da verossimilhança ao índice” as diversas funções que lhe foram atribuídas. Seriam elas: espelho do real, transformação do real e traço do real. Em tempos de selfie e altas tecnologias, ela encontra um novo espaço e exerce uma diferente função dentro do jornalismo. Confira o perfil de dois fotógrafos formados em jornalismo – Paula Machado e Wilian Olivato – que apresentam suas vivências e visões em relação ao mundo fotográfico.

guilherme

Fotografias de produtos, de diferentes objetos, retratos expressivos de pessoas ou de formas geométricas da arquitetura. Guilherme Colossio gosta de fotografar tudo ao seu redor, mas seu coração bate mais forte com os cliques de paisagens. “Me identifico mais com o silêncio, com o momento, e gosto bastante de conhecer lugares novos que podem ser explorados”, comenta. Sua paixão por paisagens faz com que ele se aventure em busca de novos lugares para serem explorados e clicados. Chegou a ir com seu pai a um rio perto de sua cidade natal, Bebedouro, no interior do estado de São Paulo, para fazer uma fotografia noturna, em contato real com a natureza. Nesse passeio, foi muito forte o assédio das moscas e de insetos noturnos, não foi fácil a missão, mas o importante era a foto. Hoje, a fotografia está impressa na mesa de seu pai.

Aos 26 anos, Guilherme já mostra um portfólio artístico bastante rico, e faz parte do coletivo Tertúlia Fotografia. Adquiriu sua primeira câmera Nikon D90 com um dinheiro ganho fazendo estágio, quando ainda cursava Design Gráfico na Unesp, em Bauru. Seu interesse por fotografia, aliás, surgiu durante o curso, havia uma disciplina sobre fotografia na grade curricular. O jovem, então com 21 anos, percebeu que as duas áreas (design e fotografia) têm muito em comum e que uma complementa a outra. “O design está ligado a praticamente tudo o que nos rodeia, e (X) o mesmo acontece com a fotografia. Tanto que minhas prés e pós produções, como o tratamento que faço nas imagens, só são possíveis por causa dos conhecimentos apreendidos na faculdade”, explica Guilherme. Percebe-se, pelos seus trabalhos, que ele é o resultado do casamento entre a fotografia e o design. “O design pode ser aplicado em todas as áreas, e na fotografia é bem visível quando esses conhecimentos são aplicados. Sem contar o tratamento de imagens que, por mais que seja uma “ferramenta”, nos permite desenvolver muita coisa quando se sabe utilizá-la. Estudar todos esses anos de faculdade me trouxe bastante conhecimento nessa área também”, comenta. Como fotógrafo profissional, faz parte do coletivo Tertúlia Fotografia, que conta com três colegas seus da Unesp-Bauru. O coletivo foi forma-

do em 2014 com base no Grupo de Estudos de Fotografia (GEF) criado para estudos na área por ele e alguns alunos da sua turma (2009). “Depois de muitos encontros, percebemos que parte do pessoal que coordenava o grupo gostaria de trabalhar com fotografia. Unimos forças e começamos a conversar sobre o assunto”, lembra Guilherme. Meses depois, o grupo estava formado e começava a refinar suas propostas mês a mês, até alcançar o “profissionalismo de hoje”. Ao perceberem que “trabalhar com fotografia” era algo que interessava a alguns membros, “unir e colocar a ideia em prática foi uma consequência”, conta. Os jovens trabalham profissionalmente com fotografia, não importando se os cliques serão em eventos sociais ou corporativos, gastronômicos, publicitários ou se farão retratos de pessoas ou animais. Mas, apesar de tanta experiência e tantos trabalhos impressionantes, Guilherme ainda se considera um fotógrafo iniciante, por ainda estar entrando na parte do mercado de

trabalho. Ainda assim, ele consegue aconselhar os mais novos que têm interesse em trabalhar nessa área: “o que posso adiantar é que, por conta própria ou não, nada é fácil. Esforço, trabalho duro e persistência têm sido os meus melhores amigos há algum tempo (risos). O que me ajudou bastante, no início, foi procurar colocar no papel se aquilo era o que eu realmente gostaria para minha vida. Depois desse passo, é estudar muito e treinar mais ainda, pois é colocando em prática que você aprende melhor e, quanto mais você pratica, melhor você fica. E, por último, a persistência, pois é com ela que você chega onde quer chegar”, aconselha. Ele considera muito difícil conceituar fotografia, mas gosta de considerá-las “memórias congeladas, nas quais, só ao rever uma cena, já se consegue lembrar do dia, do lugar, das pessoas e de uma série de outros detalhes”. Seus trabalhos podem ser vistos no endereço http:// tertuliafotografia.com.

Nome completo: Guilherme Rodrigues Colosio Data de aniversário: 19 de Setembro Formação: Design Hobbys: Cozinhar, Assistir filmes e Tocar violão Ídolo: Confúcio Fotógrafo preferido: Sebastião Salgado Um sonho: Dar a volta ao mundo. Um filme: Os Miseráveis Um CD que marcou: Eddie Vedder – Into the Wild Felicidade para você é... Estar em plena consciência da vida.

Créditos: Paula Machado, Wilian Olivato, Casa Lume, Tertúlia Fotografia e Guilherme Colossio

7


COOLTURA

PERFIL

O RAPAZ DO SONHO

Tatuagens de uma vida Quandos as mãos de uma mulher conduzem a agulha Jonas Pescatore, 33, é tatuador há 16 anos e começou nessa profissão seguindo os passos do pai. Durante sua trajetória, conheceu Angelita e se casou com ela.

H

MARIA BEATRIZ DOS REIS á algum tempo, contemplei uma mulher tatuando em um estúdio dentro do shopping próximo à minha casa. Alguns meses depois, por sorte, destino ou acaso, eu tive a chance de me sentar em frente à ela com um gravador e fazer todas as perguntas que me inundaram naquela primeira vez em que a vi. De raízes baririences e oriunda de uma família tradicional e católica, Angelita Prado Pescatore, 35, trabalha com tatuagem há oito anos. “A arte sempre foi uma coisa muito presente na minha vida, porque minha mãe era costureira. Eu estava envolvida em tudo que era referente à artesanato, bijuteria, pintura e desenho, então só foi uma adaptação para pele”, contou a tatuadora. Aos 23, ela decidiu sair de casa e caminhar ao lado do tatuador Jonas Pescatore, de quem, alguns anos depois, tornaria-se esposa. “Com 15 anos, eu tive um sonho com um rapaz, no qual eu abria uma porta e ele saía, parava na escada, olhava para mim e sorria, era como se eu estivesse abrindo a porta para alguém que ia trabalhar. E, o dia que eu conheci o Jonas, por incrível que pareça, era o homem do meu sonho”, confidenciou. Com um ar suave e entre risos, ela revelou que se sentiu estranha: “Meu pai sempre falou ‘não aparece com um cabeludo em casa!’, desde pequena, e eu sempre fui apaixonada por cabeludos afins, sabe? Eu pensei que meu pai não iria aceitar nunca. Ele era cabeludo, tatuado, com brinco na orelha... Tudo que eu mais amava e meu pai odiava. Meu pai já falou muita coisa pro Jonas, e, hoje, ele abraça e chama de filho.” Sobre o tabu que ronda o universo no qual a tatuagem se encontra inserida, Angelita comenta: “Precisamos mostrar que nós temos tatuagem, trabalhamos, estudamos e fazemos nossa vida. Eles começam a ver que você passa a conseguir suas coisas, que você é reconhecida, que seu trabalho tem valor, que você tá crescendo, que eu deixei de ser menina para me tornar uma mulher tatuadora, isso acaba modificando a maneira como as pessoas enxergam tudo.” Assim como em muitos outros contextos, o preconceito com a mulher - tatuada ou tatuadora - também está presente. “Na última convenção que eu fui, um tatuador aqui de Bauru falou para mim que eu ‘até tatuava bem para uma mulher’ , acho que foi muito nítido o que eu pensei, por que logo em seguida ele falou ‘não, não estou dizendo que mulher não é capaz, é que você é muito boa’. Um dia eu estava indo visitar um neném de uma amiga minha, e um senhor de idade, colocou a cabeça para fora do carro e gritou que ele ia ‘quebrar a tatuada inteira’. Aquele dia, eu tive um choque, por que, até então, nunca tinha acontecido nada disso comigo”. Quando a questionei sobre a responsabillidade de tatuar alguém, ela se vestiu do olhar mais terno até então e me disse: “Eu acredito que nós criamos vínculos. Se eu fizer uma tatuagem em você, ainda mais se for a sua pri-

8

COOLTURA: Como é ter uma esposa que exerce a mesma função que você? JONAS: Para mim, é maravilhoso, é ótimo. Eu vi a construção, vi ela começar a se dedicar a essa área. Quando eu a conheci, ela ainda não era tatuadora, mas sempre trabalhou com o segmento artistico. Meu pai já tatuava, então pra mim foi natural me tornar um tatuador... Como ela começou quando nós já estavamos juntos, acho que foi natural para ela também. É legal ver a delicadeza dela tatuando, a maneira dela conversar com os clientes, ela me ensinou bastante e eu tenho muito orgulho disso. meira tatuagem, você vai lembrar de mim para sempre. Tem o cuidado também, por que eu sei que você vai sentir e que eu tenho que fazer. Mas, naquela hora, naquele contato, a gente vê a sensibilidade que aflora, a confiança. Muitas vezes os clientes me contam coisas que nem mesmo a família sabe. É uma relação tão íntima, fora de um contexto sexualizado, mas de você estar ali, fazendo uma coisa permanente, que vai ser pra vida toda.” Além de tatuar, Angelita trabalha com um procedimento chamado micropigmentação paramédica, que consiste na introdução de pigmentos não-alergênicos na pele com o intuito de devolver a cor original a um local traumatizado. Entre esses traumas, ela se dedica à reconstrução das auréolas em seios de mulheres que sofreram com o câncer de mama. “É um trabalho incrível. Eu sou uma pessoa que permito me emocionar com algumas coisas, entre elas estão minhas clientes, que são muito especiais. Quando eu fiz a primeira micropigmentação, que eu vi aquele seio tão fragilizado, aquilo não demonstrava só uma estética, mas tudo o que aquela mulher tinha passado.” Nesse momento, ficou evidente, nos olhos marejados e na voz trêmula, que ela acreditava incondicionalmente naquele trabalho e que, sem dúvidas, isso trazia uma felicidade profissional e pessoal imensa. “A parte que mais me emociona e que me motiva a continuar é quando ela se olha no espelho... Eu não tenho palavras pra descrever esse momento, por que aí eu vejo que elas retornaram, é muito gratificante. São guerreiras, a gente não sabe metade do que elas passaram, e estão vivas, estão sorrindo, continuando a vida. É o melhor trabalho”, revela a tatuadora. Ao fim, percebi que, à medida em que as perguntas ganhavam uma maior profundidade, a entrevista deixava de ser apenas sobre tatuagem, ou sobre a diferença de gêneros no mercado de trabalho. Acima de tudo, eu estava na presença de alguém que amava verdadeiramente o que fazia e não tinha receio algum de me olhar nos olhos. Ela se indignou, franziu a testa, chorou e sorriu enquanto me contava um pouco sobre sua história, sem se policiar ou tentar transparecer alguém que ela não é. Posso dizer que a sensação que tive foi a de que Angelita – filha, mulher, esposa e tatuadora é capaz de abraçar o mundo e compreender, de forma única, cada nuance que o compõe.

COOLTURA: Sobre a aceitação, como foi a experiência de entrar para uma família mais conservadora como a da Angelita? JONAS: Eu nunca tinha passado por situações como essa, pode ser que até acontecia a minha volta, mas eu não ligava, nunca liguei para o que os outros falavam ou para o que, socialmente, as pessoas achavam certo ou errado, bastava eu seguir o caminho certo, um caminho que eu gostasse. Para mim, foi uma experiência diferente. De início, não foi boa, mas agora, depois de passar por ela, eu vejo que foi saudável, porque me ajudou a passar muitas barreiras. O que eu precisava mostrar era o meu caráter, independente de como eu me vestia ou do que eu gostava. Eles tinham que ver e eu tinha que dar chance para que eles vissem como eu era por dentro. COOLTURA: Você acredita que existe diferença na maneira como a sociedade enxerga uma mulher tatuada e um homem tatuado? JONAS: Pode ser que sim. Eu não consigo ter uma noção completa disso, por que procuro não ver esse tipo de situação. Mas eu tento estar ao lado da minha esposa, porque ela já passou por situações não muito legais. Eu acho que se for um homem tatuado na rua, mesmo que a pessoa tenha preconceito, ela não vai mexer. Já uma mulher tatuada, mexem, xingam, ela fica mais vulnerável nesse sentido. Na questão de tatuar, tem muita gente que ainda confia mais em homem do que em mulher, talvez isso aconteça por que o público está começando a ouvir sobre tatuadoras agora e a confiança esteja vindo junto, aos poucos. Angelita e Jonas trabalham no Johnny Tattoo Studio, dentro do Bauru Shopping, localizado na Rua Henrique Savi, 15-55 - Vila Nova Cidade Universitária - Bauru – SP, e atendem pelos telefones (14)3313-7901 e (14) 99137-2645 ou pelo e-mail j ohnn y tat to o s t u d io @ hotm a il . c o m


COOLTURA

O triunfo do hip hop em Bauru Movimento ganhou ainda mais força com a inauguração da Casa do Hip Hop

D

esde sua gênese, a cultura hip hop (que envolve rap, dança, grafite, DJs e moda) é um importante instrumento para a periferia ganhar voz e conhecimento. Em Bauru, um circuito forte de rappers existe há anos e a Semana Municipal do Hip Hop (de realização anual) foi decretada como lei em 2013. No entanto, faltava na cidade um espaço próprio para centralizar as atividades e dar ao hip hop o reconhecimento merecido. Essa conquista veio ano passado, após décadas de luta, com a inauguração da Casa do Hip Hop. Tiago Oliveira, que pratica dança break no local, conta que a Casa teve grande impacto social: “via muita gente

ficando de bobeira na rua, agora ao menos tem a opção de vir aqui, fazer algo legal, somar com a comunidade” - além das atividades culturais, a Casa oferece um curso pré-vestibular. Reconhece, porém, que ainda faltam recursos: “precisava dar uma reformada aqui, ao menos fazer um faxinão pra poder usar tudo”, comenta Oliveira, em tom sonhador. Todavia, é inegável que a Casa do Hip Hop trouxe severos avanços para a cidade. Isso pôde ser conferido na V Semana do Hip Hop, realizada entre os dias 6 e 15 de novembro de 2015. Com várias oficinas, debates, lançamento de estampas de roupas criadas por membros da Casa (com direito à desfile de moda) e shows

de artistas consagrados em âmbito nacional - tais como o veterano Thaíde e o prodígio Emicida, cujo show encerrou as atividades da Semana -, a quinta edição foi a maior já vista na cidade de Bauru. “E ano que vem vai ser maior”, declarou Renato Magu, organizador do evento, discursando no palco erguido na praça Vitória Régia. Na mesma fala apaixonada, Magu ainda exaltou que a Semana bauruense é a maior do país. Se isso é ou não verdade, pouco importa: com a inauguração da Casa em Bauru, a cultura hip hop ganhou força e legitimidade, e passa de um estilo marginalizado para traço cultural enraizado na cidade, dando voz e vez para os habitantes da periferia.

Créditos: Nilo Vieira

NILO VIEIRA

Emicida encerra a V Semana Municipal do Hip Hop

Música também disciplina e ensina Tocando ou cantando se pode aprender valores morais e melhorar a saúde

TALITA BOMBARDE Crédito: Talita Bombarde

A

música é vista como atividade natural ao homem. Até mesmo o modo de falar de cada pessoa tem sua própria melodia. Por isso, a música tem merecido a atenção de profissionais de todas as áreas, que estudam como ela pode auxiliar no desenvolvimento físico, moral e social das pessoas. André de Souza Pinto acredita que a formação musical muda a vida das pessoas, principalmente a dos jovens. Ele é maestro da Orquestra Sinfônica de Bauru desde 2011, e observa que, “na música coletiva, todos precisam ser muito solícitos, precisam ser muito generosos um com os outros, porque há o momento certo para tocar, o momento certo para ouvir o outro tocando e você acompanhar, o momento certo para se estudar sozinho, e o momento de estudar em

Contato com música ajuda na recuperação e apredizado das crianças

conjunto, por exemplo”. Para André, os músicos vivem situações em conjunto que eles não viveriam no dia a dia, e isso “acaba mudando suas vidas no que se refere ao respeito aos outros, ao respeito à hierarquia e à forma de encarar os estudos”. Essa necessidade de sintonia

e harmonia faz com que a música contribua para o amadurecimento de quem toca ou canta, considera o músico Marcos Vinícius, professor de trompete da Orquestra Sinfônica. “Eu aprendi muito com a música, a música me deixou bem mais maduro,

mais centrado, me ensinou a respeitar mais as pessoas, penso que a música ensina qualquer tipo de pessoa”, afirma. Em tratamentos médicos, a música também tem auxiliado na recuperação de doenças e deficiências físicas. Kátia Fugimara de Oliveira,

pedagoga do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, o Centrinho, conta com a música nas atividades com crianças deficientes auditivas. “A música promove o enriquecimento do vocabulário, ajuda na percepção da entonação, da melodia e do ritmo e assim ajuda para que eles aprendam ao ouvir e a falar”. Para Kátia, mesmo que a música erudita não seja comum, no dia a dia das crianças, é importante que elas tenham contato com esse tipo de melodia, como aconteceu no dia 26 de novembro, na apresentação da Banda Sinfônica no Centrinho. “Por que, não? São os instrumentos. Faz um tempinho que estou aqui, tenho ex-crianças, expacientes que hoje tocam violino, tocam violão, piano, teclado, bateria, porque o conhecer desperta o gosto”, avalia a pedagoga.

9


COOLTURA

A noite bauruense ganha tons graves Coletivo TrEs-4 realiza eventos semanais e acessíveis para os fãs de música eletrônica

F

ormado pelos DJs akaaka(Lucas Fernandes)e Radchild (Guilherme Vazzoler) e colaboradores, o coletivo TrEs-4 surgiu em 2015 com o intuito de divulgar artistas de Bauru e região tanto músicos como criadores visuais. Após ganharem residência no Exílio ArtPub, local conhecido na cidade por sediar eventos diferenciados, começaram a realizar festas temáticas todas as quartasfeiras à noite, com a entrada ao preço de módicos R$3. Com 17 eventos totalizados no ano passado, akaaka se mostra satisfeito: “Não chegou a lotar sempre, mas não houve uma única madrugada que o Exílio estivesse vazio”. O retorno financeiro também parece ter

vindo de maneira suficiente, pois logo no primeiro mês em atividades já foi possível a compra de um projetor de vídeo com o dinheiro arrecadado. “A gente não vai ficar rico, mas ao menos dá pra se divertir fazendo música boa”, comenta Radchild, descontraído. . A dupla de DJs lembra que nem todos que atuaram nas festas eram artistas profissionais. Em especial, cita o duo NILECCOJAMZ, composto por dois estudantes de jornalismo fanáticos por música e chamados de última hora para tocar em uma festa. “Vieram por diversão, o pagamento foi em (cervejas) Brahma”, brinca Radchild. Fora de seu nicho alternativo, a TrEs-4 marcou presença durante as ocupações de

escolas estaduais em Bauru, oferecendo workshops de programas virtuais para a composição de música eletrônica. Segundo akaaka, ele mesmo foi até Escola Estadual Stela Machado oferecer a oportunidade. Após um breve hiato de férias, o coletivo já retornou às atividades em 2016, e com novidades: a primeira festa do ano contou também com uma exposição de artes plásticas no andar superior do Exílio ArtPub, com obras assinadas por Sophia Bortoletto como de praxe, uma artista local. Andreza Garcia, coordenadora e fotógrafa da TrEs-4, já adianta que existem planos para eventos maiores: “ainda estamos procurando atrações, mas será algo à tarde”, afirma.

Crédito: Andreza Garcia

NILO VIEIRA

Os DJs akaaka e Radchild em ação

Eventos TrEs-4 Onde? Exílio ArtPub (Avenida Duque de Caxias, n° 10-26) Quando? Todas as quartas-feiras às 23h00 Quanto? A entrada tem o valor mínimo de R$3,00

Projeto mostra novos caminhos com a arte Iniciativa de amigos artistas torna-se ONG e atende centenas de crianças e adolescentes

TALITA BOMBARDE

10

Crédito: Marina Kaiser

A

creditar que suas escolhas podem ser sábias nas loucuras da vida. Com essa “filosofia” de vida e de trabalho foi criada a Wise Madness, em 2006, quando um grupo de artistas decidiu levar uma mensagem diferente aos jovens. A ideia era mostrar, aos que participassem das oficinas artísticas, que uma vida intensa é possível sem o envolvimento com álcool, drogas e qualquer tipo de violência. Danny Pagani, responsável pelos planos de comunicação e pelo setor administrativo financeiro da Wise Madness, lembra que não se pensava em ONG, inicialmente. Porém, com o aumento do número de crianças e adolescentes atendidos e a necessidade de um espaço adequado para os ensaios e oficina, a Wise Madness

As crianças atendidas tem a oportunidade de praticar várias atividades

(“Sabia Loucura”, em inglês) tornou-se uma organização não governamental. Com a ajuda do promotor de justiça Enilson Komono, que hoje também coordena o projeto, foi adquirido um galpão na Vila Aviação e foram seguidos todos trâmites legais para a criação

da ONG em 2011. Cerca de 250 crianças e adolescentes participam das atividades oferecidas no galpão, moradores de bairros como Otávio Rasi, Parque das Nações, Jardim Nicéia e Jardim Europa. Sem contar as crianças acolhidas no abrigo,

localizado na vila Noemy, as que participam das oficinas culturais noturnas realizadas no Nova Esperança e nem as que frequentam a escolinha de skate dois dias por semana. De acordo com a Danny, além das aulas de skate são oferecidas oficinas de

breaking, street dance, hip hop, malabares e de pirofagia, circo e teatro. Não há prérequisitos para participar das atividades, porém, os responsáveis tomam alguns cuidados: “ nas oficinas, a gente não determina idade, mas algumas só podem ser feitas se a estrutura da pessoa se adequar. Não é qualquer um que consegue dançar um breaking. A street dance, a gente divide em turmas, porque não se pode dar os mesmos passos para uma criança de 5, 6 anos e para um adolescente de 17 anos. Já o teatro não é dividido, porque dá para trabalhar com oficina e jogos teatrais com todo mundo junto”. Um dos objetivos do projeto é dar esperança e oportunidades às crianças atendidas, e mostrar a elas que podem seguir um caminho diferente, mesmo que a vida seja cheia de infortúnios.


COOLTURA

Bauru e a quebra de barreiras culturais

AGENDA CULTURAL CARNAVAL l Datas Nos 6 e 8 de fevereiro, em Bauru, acontecem os desfiles dos bloco e escolas no Sambódromo. Confira a ordem de apresentação: 6/02 – SÁBADO

8/02- DOMINGO

19h15 - Desfile Rei Momo e Rainha e Rainha da Diversidade 19h30 - Bloco Só Vai Quem Bébi – categoria originalidade 20h00 – Bloco Bonde do Consulado – categoria especial 20h50 – Bloco Pérola Negra – categoria especial 21h40 – Bloco Esquadra da Indepa – categoria especial 22h30 – Bloco Ouro Verde 100% Arte - categoria especial 23h20 - Escola de Samba Águia de Ouro 00h30 – Escola Acadêmicos da Cartola 01h40 - Escola Mocidade Unida da Vila Falcão 02h50 - Escola Imperatriz da Grande Bauru

19h15 - Desfile Rei Momo e Rainha e Rainha da Diversidade 19h30 - Bloco Unidos do Jardim Petrópolis – categoria originalidade 20h00 - Bloco Pé de Varsa – Categoria especial 20h50 - Bloco Estrela do Samba de Tibiriçá – categoria especial 21h40 - Bloco Império da Lagoa do Sapo – categoria especial 22h30 - Escola de Samba Azulão do Morro 23h40 - Escola de Samba Tradição da Zona Leste 00h50 - Escola de Samba Coroa Imperial da Grande Cidade 02h00- Escola de Samba Tradição da Bela Vista *Nesse dia o desfile terminará mais cedo. Crédito: Jcnet

CINEMA l Programação Cinepólis Nações Bauru

Cine Araújo Bauru Shopping

A Quinta Onda

O Bom Dinossauro

O Bom Dinossauro

Snoopy & Charlie Brown Peanuts, O Filme

Dublado em português Padrão14:00 18:55 19:30 Legendado em português Padrão18:55 19:30 22:15 Dublado em português Padrão11:30 16:40 Dublado em português Digital 3D 12:30 14:45 17:00

Reza a Lenda

Dublado em português Padrão 13:30 15:00 17:30 Dublado em português Digital 3D 15:30 19:30

Dublado em português Padrão14:0015:0017:30 Dublado em português 3D 15:4519:15

Padrão15:4518:1520:3022:30

Até Que a Sorte nos Creed - Nascido para Lutar Separe 3 Dublado em português Padrão13:1519:00

Padrão 17:00

Joy: O Nome do Sucesso

Alvin e os Esquilos 4 - Na Estrada

Legendado em português Padrão17:1521:55 Legendado em português Padrão17:1521:55

12

Dublado em português Padrão15:00

O Skate Park recentemente aberto em Bauru

JOÃO PEDRO FÁVERO

H

á pouco tempo atrás, pra muito tempo para ser aberto. A quem não era morador da cidade há pouco tempo não oferecia cidade, Bauru não parecia um espaço grande e à vista do público oferecer muito entretenimento. Os para que os artistas pudessem destinos certos para a visitação e mostrar as suas produções. Daí apreciação se constituíam basica- a importância da utilização da mente entre o zoológico da cidade, anEstação Ferroviária como vitrine o Jardim Botânico e uma visita ao para artistas dos mais diferentes parque Vitória Régia. Para quem mídias, como artes plásticas e reside na cidade, as atrações a música, principalmente para aqueles grande vista, também não vari- que ainda são marginalizados, como avam muito. Assim, apesar de artistas grafiteiros e tatuadores. ser o município mais populoso do Com as redes sociais, fica mais fáCentro-Oeste Paulista, Bauru apa- cil uma divulgação maior, além do renta ser uma cidade monótona. boca a boca e da indicação pessoal A prefeitura da cidade parece se de cada um, para que as manifesdispor à aumentar o númetações culturais na cidade ro de atrações para se tornem menos de o público. A antiga nicho, coletivizando e estação ferroviária, aumentando o núme“A realidade é que que estava abanro de pessoas sofram o público muitas donada há muiimpacto pelas mais vezes desmerece as tos anos e que o diferentes formas atividades atual governo da de entretenimento. oferecidas pela cidade adquiriu A Secretaria de cidade” responsabilidade Cultura de Bauru de administração no tem o Programa de ano de 2011, foi transEstímulo à Cultura formada, mas ainda não que visa promover a reformada, em um centro produção cultural e artísticultural que recebe exposições com ca da cidade com a ajuda financeivários temas durante a semana e ra de pessoas físicas ou jurídicas. que aos fins de semana se transfor- No saldo final, um fator parece ma na Casa do Hip Hop, mostrada alimentar o outro, criando um ciclo. nesta edição. O parque Vitória Régia Um evento fechado para um certo constantemente é palco de shows público não sente a necessidade de organizados tanto por residentes uma maior promoção, pois sempre há da cidade ou pela prefeitura da ci- sua audiência garantida, enquanto dade, como a anual Virada Cultural. muitas pessoas nem procuram por A realidade é que o público muitas algo novo pois não chegam a ficar vezes desmerece as atividades sabendo de tal evento cultural. Logo, oferecidas pela cidade ou não as este ciclo precisa ser quebrado, conhece. O Skate Park recentemente tanto com as medidas tomadas pela aberto na cidade, em menos de dois própria cidade, quanto pelo público meses já foi invadido por carros por de cada segmento cultural, para que duas vezes, depredando um espaço o interesse em novas experiências que, além de servir para a prática cresça na população e para que novos esportiva, é local para pequenos lados de Bauru sejam descobertos shows com DJs e bandas, e que levou por seus moradores e visitantes.


Cooltura


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.